FÓRUM POPULAR DA NATUREZA SERÁ REALIZADO ENTRE OS DIAS 1º A 10 DE JUNHO DE FORMA VIRTUAL

Mais uma vez, movimentos sociais, sindicatos, pesquisadores, artistas e ativistas se unem para juntos formarem o Fórum Popular da Natureza, que tem início na segunda-feira 1 e acontece até o dia 10 de junho. 

Durante estes dez dias, serão serão promovidas - de forma virtual, respeitando as recomendações do OMS (Organização Mundial da Saúde) para o enfrentamento da pandemia de coronavírus - oficinas, apresentações artísticas e mesas de debate sobre causas e efeitos da degradação ambiental, além do fortalecimento da resistência popular. Desde 2019, o Fórum Popular da Natureza conta com o apoio do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. 

O Fórum Popular da Natureza lançará ainda carta manifesto com ações de continuidade do evento, pensado como um processo contínuo, através da articulação, reflexão e enfrentamento da sociedade civil às questões de destruição da natureza e das mudanças climáticas.

“A proposta do Fórum Popular da Natureza - que o Sindicato, na sua atuação cidadã, tem muito orgulho em participar e apoiar - é a construção de um espaço onde grupos e indivíduos ligados aos movimentos sociais e populares, organizações da sociedade civil, entidades sindicais e de classe, cientistas, ecologistas, pesquisadores, coletivos ambientais, mulheres, jovens, LGBTQ+, partidos políticos, comunidades religiosas e todos aqueles que forem comprometidos com a luta pela preservação dos direitos e com a interrupção da destruição planetária possam se unir para, juntos, construírem alternativas para o enfrentamento da degradação do meio-ambiente e, ao mesmo tempo, alternativas econômicas, sociais e culturais ao modelo produtivista. Participe do Fórum e ajude a pensar e construir um novo modelo de sociedade”, conclama o diretor do Sindicato Ernesto Izumi. 

“Na atual conjuntura política brasileira - no qual o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, promove uma política anti-ambiental e chega ao ponto de querer se aproveitar de uma pandemia para 'passar uma boiada' no ministério que está sob o seu comando,  a união destes diferentes movimentos no Fórum Popular da Natureza se torna ainda mais importante. Sob o governo Bolsonaro, as lutas pelos direitos dos trabalhadores e na defesa do meio-ambiente se aproximaram ainda mais, uma vez que ambas são alvos de ataques constantes da sua política de destruição. Juntos somos mais fortes e, como diz o lema de uma recente campanha nacional dos bancários, só a luta nos garante”, conclui Ernesto.
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COMISSÃO PASTORAL DA TERRA ACUSA EMPRESAS DE NÃO ADOTAREM MEDIDAS DE SEGURANÇA E PROTEÇÃO DE SAÚDE DOS TRABALHADORES NAS COMUNIDADES RURAIS

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Juazeiro (BA), seguindo a sua missão de ser presença fraterna  junto aos povos do campo, vem a público denunciar e se solidarizar com a situação de trabalhadores e trabalhadoras do agronegócio e das linhas de transmissão de energia eólica, da região norte do estado da Bahia, que estão com suas vidas em risco diante da pandemia do novo coronavírus.

O Brasil é hoje o segundo país do mundo que tem mais casos confirmados da Covid-19, com mais de 28 mil mortes contabilizadas oficialmente. O coronavírus, que inicialmente atingiu as grandes metrópoles, já se espalha com rapidez pelo interior do país. As regiões Norte e Nordeste juntas, alcançaram, esta semana, a triste marca do maior número de diagnósticos e mortes pela Covid-19 no Brasil.

No Vale do São Francisco, o coronavírus já está presente nos pequenos municípios, de população compostas, em grande parte, por trabalhadores/as rurais, pescadores/as e povos de comunidades tradicionais de fundo de pasto e quilombolas. Percebemos que o avanço da Covid-19 no interior, se dá, principalmente, em locais em que os empreendimentos do capital continuam funcionando normalmente, na busca desenfreada pelo lucro, que passa por cima da garantia de nosso maior bem: a vida.

No município de Casa Nova (BA), o primeiro caso de coronavírus foi de um trabalhador rural do distrito de Santana do Sobrado, registrado no dia 19 de maio. Na última terça-feira (26), o número de pessoas infectadas pela Covid-19, que são trabalhadoras das fazendas do agronegócio de Santana, já havia subido para seis. Familiares desses trabalhadores/as rurais também contraíram a doença. Santana do Sobrado é um polo da fruticultura irrigada, que concentra cerca de 30 mil trabalhadores de diversos municípios do Vale do São Francisco. Os/as trabalhadores/as das fazendas estão mais expostos ao coronavírus, pois continuam presentes em locais de aglomeração, como os transportes de ida e volta ao trabalho e os refeitórios nas empresas. 

Em Pilão Arcado (BA), o povoado de Nova Holanda registrou 38 casos do coronavírus e uma morte provocada pela doença. Dos casos diagnosticados, 34 deles são de funcionários do Consórcio Linhão BAPI, obra de construção de linha de transmissão da energia eólica, executada pela Equatorial Transmissão, que atravessa comunidades rurais, entre elas tradicionais de fundo de pasto, dos municípios de Pilão Arcado e Campo Alegre de Lourdes. No último domingo (24), um operador de máquinas da empresa Andrade Gutierrez (integrante do Consórcio) que trabalhava em Nova Holanda morreu por Covid-19 em um hospital de Buritirama (BA). 

O descaso da construtora com os trabalhadores foi além da exposição ao contágio do vírus. As 34 pessoas testadas positivos para Covid-19 foram levadas para um galpão do canteiro de obras no povoado de Angico, em Campo Alegre de Lourdes, e não para um hospital ou local com infraestrutura de saúde adequada para tratamento da doença. A empresa tratou de forma desumana os seus trabalhadores e colocou em risco a vida da população de todas as comunidades do entorno.

A gravidade desses fatos exige providências urgentes das prefeituras, do Ministério Público Estadual, Ministério Público do Trabalho no sentido de obrigarem as empresas a adotarem medidas de segurança e proteção de saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, bem como evitar a disseminação do vírus nas comunidades rurais situadas no entorno das citadas fazendas e na região onde está sendo instalada a rede de transmissão.

Comissão Pastoral da Terra de Juazeiro (BA), 30 de maio de 2020.
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"É IMPORTANTE RESSALTAR TEMOS ACOMPANHADO CASOS DE PESSOAS QUE NÃO APRESENTAM NENHUM FATOR DE RISCO. EM BOM ESTADO DE SAÚDE E CHEGARAM A TER COMPLICAÇÕES. NINGUÉM ESTÁ RESISTENTE AO VÍRUS", DIZ PROFESSOR

“É importante ressaltar que a gente tem acompanhado casos de pessoas que não apresentam nenhum fator de risco, estão em bom estado de saúde, mas chegaram a ter complicações, ir para a UTI e ainda, em alguns casos, chegaram a óbito. Ninguém está resistente ao vírus", diz 

Um estudo da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP mostra que manter a prática de atividades físicas se tornou ainda mais importante neste período de isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus. Além de fortalecer o sistema imunológico, exercícios físicos fortalecem a saúde mental. 

A pesquisa, realizada em parceria com professores e universidades de países da América Latina e Europa, mostra que pessoas com estilo de vida mais saudável, que já realizavam atividades físicas antes da pandemia ou que aderiram à prática neste período, conseguem suportar melhor a ansiedade e o estresse provocados neste momento. 

“Nós temos uma indicação de que as pessoas que, antes da pandemia, eram ativas fisicamente têm apresentado respostas psicológicas mais leves em relação à ansiedade, estresse e estado de humor. E quem está realizando as atividades durante a pandemia também tem apresentado resultados melhores”, afirma o professor da EEFERP, Átila Alexandre Trapé, que participou do estudo. 

Mas os benefícios não estão só na parte imunológica e mental. Realizar atividades físicas durante este período pode evitar problemas de mobilidade no futuro, principalmente para aqueles que, agora, passam mais tempo sentados ou deitados. 

“A partir do momento que a pessoa está se movimentando menos, há um estímulo menor para o corpo, e isso pode acarretar uma perda de massa muscular e de massa óssea. Então, quem já tem algum tipo de problema, precisa ter ainda mais cuidado. E quem ainda não tem, é o momento de prevenir. As pessoas estão passando boa parte do dia deitadas ou sentadas, é importante fazer algum tipo de movimento”, explica. 

O professor ainda destaca que muitos profissionais de educação física estão disponibilizando aulas e treinos on-line para contribuir com quem quer realizar atividades físicas durante a pandemia. Mas alerta sobre alguns cuidados que se devem tomar. 

“Tem muitos profissionais de educação física promovendo treinos ao vivo, gravando vídeos e divulgando e isso é muito bacana; tem sido muito importante para as pessoas se manterem ativas dentro de casa. Mas é importante ter cuidado, respeitar os seus próprios limites. Se a pessoa não treinava, tem que começar com muita cautela, respeitando suas limitações, o seu nível de condicionamento físico. É preciso ter uma consciência muito boa, avaliar aquilo que tem condições de fazer e tentar se adaptar”, destaca. 

Mas algumas pessoas têm dificuldades em manter o ânimo e a motivação para fazer os treinos em casa. Segundo o professor, o primeiro passo para se motivar é “reconhecer a importância que as atividades físicas vão proporcionar para a própria saúde da pessoa”. Trapé aponta ainda que “é importante buscar atividades que ofereçam algum tipo de motivação”. 

Apesar de a prática de atividades físicas ter vários benefícios, isso não significa imunidade à doença. “É importante ressaltar que a gente tem acompanhado casos de pessoas que não apresentam nenhum fator de risco, estão em bom estado de saúde, mas chegaram a ter complicações, ir para a UTI e ainda, em alguns casos, chegaram a óbito. Então, ninguém está resistente ao vírus. Todos estão suscetíveis a se contaminar”, conclui o professor. (Fonte: Jornal USP)
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CAMPO GERAL É UM CAMINHO SEM VOLTA PARA O LEITOR DE GUIMARÃES ROSA

“Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Vereda-do-Frango-d'Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais, mas num covoão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos.”

Campo Geral começa assim, no aconchego familiar. Guimarães Rosa vai guiando o leitor pelo cenário encantado das matas. E, se o leitor se deixar levar pelas descobertas de Miguilim, vai esquecer que a leitura não é apenas uma mera obrigação para o vestibular da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), que dá acesso aos cursos da USP, mas uma oportunidade para conhecer o melhor da literatura brasileira.

“O que mais recomendo para o leitor de Guimarães Rosa é atenção, como todos livros dele. Essa novela deve ser lida com todo cuidado, sem pressa e, junto ao entendimento, com a imaginação aberta”, orienta o professor Luiz Dagobert de Aguirra Roncari, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “Por isso ela parece mágica. É que muitos sentidos outros, inesperados, se revelam com aqueles dados à primeira vista, como se abríssemos uma caixa de bolachas e ela nos trouxesse bombons e outras surpresas que satisfazem muito a nossa inteligência. É esse o milagre.”

O professor explica que, em Guimarães Rosa, cada palavra é pensada e tem a sua devida importância. “O autor usa as palavras e as explora em todas as suas possíveis conotações, étimos perdidos e outros possíveis ainda não explorados. Ele é um escritor culto e recusa a escrita fácil, aquela que pretende só passar um recado; para ele a escrita tem também que ser saboreada, como uma fruta. É um momento de gosto, reflexão e descobertas.”

Se o vestibulando sentir dificuldade na leitura do texto, o professor observa que é preciso deixar a escrita aparentemente obscura se revelar no seu tempo e com os caprichos que o autor lhe embutiu. “Quando a sua escrita parece obscura, se temos o cuidado de deixar que se nos revele no seu tempo e com todos os caprichos que o autor lhe embutiu, ela se torna uma coisa viva, que pode nos dar muita alegria intelectual e satisfação.”

A leitura de 'Campo Geral' nos permite apreciar nos seus liames mais cerrados os afetos e as agonias da família média brasileira, que procura imitar o modelo, com seus preconceitos e vícios, da nossa família patriarcal.”"

Importante lembrar que Campo Geral, segundo análise de Roncari, é a primeira das novelas incluídas em Corpo de Baile, um dos livros mais importantes de Guimarães Rosa e da literatura brasileira, daí justificar a sua leitura para o vestibular da Fuvest. “Na primeira edição, de 1956, em dois volumes, o autor as chamava ainda de poemas, e depois passou a considerá-las todas novelas. Cada uma delas, ao mesmo tempo em que tem a sua autonomia, pode ser lida separadamente e não depende das demais para o seu entendimento, compõe com as outras um todo com certa organicidade. 

Enquanto tal é que esse livro precisa ainda ser mais estudado, no seu todo. Existem muitos trabalhos sobre cada uma das estórias, mas ainda ficam muitas dúvidas sobre as suas articulações, do que temos só algumas pistas.”

Para integrar o estudante na literatura de Guimarães, o professor faz uma breve síntese de outras estórias. “É possível ver no livro um movimento que reproduz o ciclo de um dia, da manhã à noite. Campo Geral faria parte das estórias matinais, que teriam seu ápice com outras mais solares, como A Estória de Lélio e Lina, que seria o pico do meio-dia, e fecharia com a noturna, Buriti, a novela das noites eróticas entre Lalinha e Iô Liodoro, passando pelas crepusculares Lão-dalalão (Dão-lalalão) e Cara-de-Bronze. 

Os fios tênues que amarram o conjunto delas são algumas personagens de Campo Geral que voltam a aparecer em outras, como a principal delas, o menino Miguilim, que ressurge na última, Buriti, agora já adulto, como Miguel, para dar-lhe um final radioso, simbolizando o ressurgimento de uma família que havia se desagregado e traz a promessa de ressurreição.”

Na avaliação de Roncari, “a leitura de Campo Geral permite apreciar nos seus liames mais cerrados os afetos e as agonias da família média brasileira, que procura imitar o modelo, com seus preconceitos e vícios, da nossa família patriarcal”.

“O autor, falando de uma família particular, a de Miguilim, no ninho de afetos e rancores do Mutum, capta as ameaças e riscos que, de certa forma, ela vive na sua generalidade”, observa o professor.

 O narrador acompanha muito de perto o menino Miguilim, as suas dores, alegrias e descobertas do mundo.”

Campo Geral revela para o leitor muitas emoções sensíveis e intelectuais. “O narrador acompanha muito de perto o menino Miguilim, as suas dores, alegrias e descobertas do mundo. Por isso ela é também uma novela de formação, de um menino vivendo, sofrendo e descobrindo o mundo e os homens, mas também reagindo a eles”, esclarece Roncari.

Apesar da inocência, da ingenuidade, Miguilim não é passivo. “Por isso, o final da novela tem um sentido alegórico: quando o médico percebe que ele é míope e lhe empresta os seus óculos e o herói descobre um outro mundo, mais claro e definido do que tinha percebido até o momento, o vê agora nas suas verdades ou pelo menos que ele era muito diferente do que tinha visto. Significa que ele mudou, cresceu ou houve para ele um ganho na percepção do mundo. Esse esclarecimento da visão tem também o significado de que ele aprendeu, não apenas sofreu o mundo, mas deu um passo além no seu conhecimento do que viveu.”

Difícil resumir Campo Geral para uma rápida leitura. O leitor, como bem diz Roncari, terá que ser atencioso. “De uma literatura como a de Guimarães, por tudo o que já disse, é muito difícil de fazer uma síntese. Seria quase a sua negação, já que a sua verdade maior está mais, como ele próprio diz, na sua travessia, quer dizer, na passagem de cada uma das suas palavras, frases e acontecimentos, do que na chegada ao final. Este é quase nada sem passar por elas, o como é tão ou mais importante do que disse. Isso já é um lugar comum sobre a escrita do autor.”

“O sítio era um ninho de afetos e recalques familiares vivendo as suas ameaças: externas, simbolizadas pela selvageria dos macacos e antas; e internas, simbolizadas pelos porcos do Patori.”

Certo é que o leitor vai se deixar envolver pela imaginação infantil. “A estória é sobre uma família camponesa média, de pequenos arrendatários de terras, endividados, sendo eles próprios que trabalhavam com alguns ajudantes, no Mutum. Ele ficava na fronteira entre o conhecido e o desconhecido, tanto que os lugares próximos ainda não eram nem nominados”, conta o professor. “O sítio era um ninho de afetos e recalques familiares vivendo as suas ameaças: externas, simbolizadas pela selvageria dos macacos e antas; e internas, simbolizadas pelos porcos do Patori.

 Elas eram as possibilidades de traição, como as da mãe com o tio Terêz e o Luisaltino, e do incesto, como a inclinação de Miguilim, que dizia a si mesmo que ‘era ele quem ia se casar com a Drelina’, uma de suas irmãs. Era contra essas ameaças que a Vovó Izidra, na verdade uma tia-avó da mãe, uma espécie de portadora da ordem familiar patriarcal, como Hera, irmã de Zeus, praguejava e lutava. Ela temia que a mãe, Nhanina, seguisse os impulsos desorganizadores da sua mãe, Vó Benvinda, que tinha sido, como dizia um vaqueiro, ‘quando moça mulher-à-toa’.

 O curso da novela são os episódios vividos por Miguilim, das suas perdas, como a expulsão do lugar de tio Terêz, a da cachorrinha Pingo-de-ouro, a morte do irmão mais próximo, Dito, que ele ouvia muito, lhe ensinava coisas sábias sobre a vida e de quem ele gostava tanto, o assassinato de Luisaltino pelo pai e o seu suicídio.”

Segundo o professor, “tudo se passa a partir do ângulo de visão de Miguilim, que o narrador acompanha de muito perto, como pelas costas, mas todos têm também um significado extra, mítico-simbólico – tio Terêz, vó Izidra, Mãetina, Nhanina, Dito, o Patori, seo Aristeu –, acrescido pelo autor, que faz o narrador combiná-lo com as percepções agudas dos sentimentos do menino. Por isso, cada personagem tem um composto empírico, dado pela sua experiência com o herói, Miguilim, e um elemento simbólico, que só o autor com sua intervenção poderia acrescentar à exposição do narrador, aquele sujeito invisível que nos conta a estória”.

O professor afirma que “é importante o leitor saber distinguir o que é da experiência do herói, o menino no seu embate com o mundo e os homens, o que é do autor, senhor de um conhecimento que só um sujeito muito culto poderia ter e sutilmente acrescentar, e o que é do narrador, aquele que reúne os saberes dos mais diferentes campos, coisas do sertão e dos livros, e conta tudo para nós”.

Para os interessados em saber mais detalhes ou pesquisar a obra de Guimarães Rosa, há dois livros escritos pelo professor Luiz Roncari: O Brasil de Rosa: o Amor e o Poder e Lutas e Auroras: os Avessos do Grande Sertão: Veredas, ambos publicados pela Editora da Unesp.

O livro Campo Geral, de Guimarães Rosa, está em domínio público e pode ser baixado em pdf em vários endereços. Um deles é este: https://rl.art.br/arquivos/6338307.pdf (Fonte: Jornal USP Leila Kiyomura)
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BARBALHA: TRADICIONAL FESTA DE SANTO ANTÔNIO É TRANSMITIDA PELOS APLICATIVOS DIGITAIS

Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, cantou que a Festa de Santo Antonio de Barbalha, Ceará, era um dos mais bonitos encontros de religiosidade. Este ano a festa não vai envolver a multidão. As sanfonas e as bandas de pife quase em silêncio.

De forma inédita, a SerTão TV transmitirá a Festa de Santo Antônio de Barbalha em 2020. A parceria foi firmada entre a Paróquia do município e a emissora. Serão 13 dias de celebrações transmitidas direto de Barbalha, no Cariri do Ceará, pelo canal 180, redes sociais, plataforma e aplicativos.

O público da região já acostumou-se com a alegria do momento de junho na companhia das celebrações ao Santo Antonio casamenteiro. Devido à pandemia, Barbalha e o Ceará esperam um momento de vivência com a festa online, o que será amplamente mostrado pelos canais digitais.

Em 2018, o Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural do Ceará (Coepa) considerou a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha como Patrimônio Cultural do Estado do Ceará. Já o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu a festa como Patrimônio Imaterial Brasileiro.

Misto de cultura popular e fé católica, a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha, município do Sul cearense, entrou desde 2015 para a lista das celebrações registradas como patrimônio imaterial brasileiro.

Os festejos de Santo Antônio remontam ao fim do século XVIII e se relacionam à própria origem da cidade de Barbalha, com a construção de uma capela em devoção ao santo. Atualmente, as celebrações duram 13 dias, terminando no dia 13 de junho, Dia de Santo Antônio.

A tradição do Pau da Bandeira começou em 1928. Trata-se do tronco de uma árvore previamente escolhida, simbolizando a promessa e a devoção ao santo casamenteiro. Os carregadores formam uma espécie de irmandade e centenas de homens se revezam para levar o pau sobre os ombros por cerca de 6 quilômetros até a frente da Igreja Matriz de Barbalha, onde é hasteado com a bandeira de Santo Antônio, numa demonstração de força e fé.
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VOLUME ÚTIL DA CAPACIDADE DE SOBRADINHO NESTE DOMINGO É DE 92,63%

O nível da capacidade do volume útil para este domingo 31, na Barragemd de Sobradinho é de 92,63%.A previsão para este domingo é de afluência (água que entra) de 1.460 m³/s, enquanto a defluência (água que sai) permanece em 1.400 m³/s.

Os pescadores da região do vale do São Francisco apontam o quanto o "homem domina a vazão do Rio São Francisco".  

A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) continua o acompanhamento das vazões e os níveis dos seus principais reservatórios. Neste sábado (29), a Companhia divulgou as previsões de cotas e vazões do Reservatório de Sobradinho (BA) para o período de 29 de maio a 13 de junho deste ano.

A barragem chegou a atingir 95% de sua capacidade útil, o nível alcançado pela primeira vez desde 2009, quando Sobradinho chegou a 100% de sua capacidade. A assessoria de imprensa da Chesf informa que " o cenário se dá por conta das chuvas, principalmente as ocorridas no estado de Minas Gerais, a partir da segunda quinzena de janeiro deste ano, que possibilitaram um aumento significativo do nível do reservatório, após oito anos de escassez hídrica.

A situação é de normalidade e bastante favorável com relação ao armazenamento de água em Sobradinho, que possibilitará o atendimento aos usos múltiplos, durante o próximo período seco, motivo de comemoração por parte de todos os usuários do Velho Chico.
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EX--PARCEIRA DE DOMINGUINHOS, A CANTORA E COMPOSITORA ANASTÁCIA COMPLETA 80 ANOS NESTE SÁBADO 30

Autora de quase mil músicas e regravada por artistas como Gal Costa, Gilberto Gil, Nana Caymmi e Luiz Gonzaga, que a apadrinhou, Anastácia compôs cerca de 250 canções com Dominguinhos, de quem foi esposa e parceira de toda uma vida. Da vida entre os dois, ela resgatou a inédita “Venceu A Solidão”, um bolero daqueles que pedem um trago de conhaque, que fecha o EP com Mariana Aydar e Mestrinho - que também dá o toque na sanfona - nos vocais.


“Já não consigo mais me encontrar/ Findou-se a calma, vou desesperar/ A solidão bateu mais uma vez/ E fez de mim seu lar”, diz o refrão. “Não
mostrei a ele em vida porque não houve oportunidade. Cantamos nós três como se fosse uma homenagem a Dominguinhos”, conta a aniversariante. Com o ex-companheiro, falecido em 2013, ela deu vida a clássicos do cancioneiro nacional, entre eles “Eu Só Quero Um Xodó”, cantada de norte a sul do país, e “Tenho Sede”, que ganhou linda versão de Gil. “Meu repertório com ele foi uma coisa maravilhosa para mim, para ele e para a música brasileira”, diz a compositora.

Aos 80 anos de vida e pouco mais de 60 de carreira na música, há de ser ter muitas histórias para contar. E quando se trata de resistir ao tempo para exaltar o cancioneiro nordestino e deixá-lo reluzente, o mérito da narrativa se torna ainda mais especial.

Ao menos para a cantora, compositora e forrozeira pernambucana Lucinete Ferreira, a Anastácia, como artisticamente é conhecida, essa tem sido a retórica de suas oito décadas de idade celebradas neste sábado (30), com comemorações abertas ontem no lançamento do EP “Anastácia 80 – Lado A”, compilação que reúne algumas de suas composições inéditas disponibilizadas nas plataformas digitais e apresentadas em duetos com artistas da Música Popular Brasileira.

“Tudo faz sentido, porque chegar aos 80 anos fazendo o que eu faço e com saúde, gostando e vivendo da música nordestina, levando alegria às pessoas. Eu não podia ter recebido presente melhor do que essa vida longa, embora espere mais e espero mesmo, viu?”, conta ela, em conversa com a Folha de Pernambuco e com empolgação de menina, provavelmente a mesma que a levou aos 14 anos de idade a escrever suas primeiras letras na música.

Foram minhas primeiras três músicas, ainda quando eu vivia no Recife. Naquele tempo não se tinha muita noção das coisas, aos 14 anos não é? Eu só sei que ria, me divertia quando via o que eu escrevia sendo musicado por outras pessoas”, relembra ela citando Clóvis Pereira, compositor e arranjador pernambucano, entre os nomes que levaram adiante seus escritos da época. 

Em “Anastácia 80 – Lado A” a artista pernambucana, que mora em SP há pelo menos seis décadas, o forró ganha os brios enraizados do Nordeste, sem polimento nem maquiagem.

Com Chico César, Jorge de Altinho, Roberta Miranda, Amelinha, Mestrinho e Mariana Aydar, Anastácia impõe suas vontades de cantar o amor sob a batuta da sanfona, gênero que a consagrou também junto ao Mestre Dominguinhos (1941-2013) com quem dividiu anos de vida e de palco, assinando com ele mais de duzentas composições - entre elas "Eú Só Quero um Xodó" e "Tenho Sede". 

“Tenho uma pastas cheias de coisas (letras), separei uma relação e submeti à minha produção que também achou interessante. Tem músicas mais antigas, outras mais recentes, mas todas perfeitas para o momento que eu pensei para o disco”, conta.

O álbum, dividido em duas partes – na sequência de “Anastácia 80 – Lado A” virá o “Anastácia 80 – Lado B” com outros nomes da MPB e como se fosse “um disco de antigamente, o LP, que a gente virava e ouvia faixas de um lado e de outro”, como explicou a artista – tem a produção do maranhense Zeca Baleiro que o tanto quanto a pernambucana conserva raízes e exalta regionalidades. 

“Forró faz parte da memória afetiva, né? Ouvia no rádio e nos discos de meus pais, Gonzaga, Genival, Jackson (...). Isso impregna na alma. Hoje tenho um projeto de forró em São Paulo (Forró do Safadinho), em que toco clássicos do gênero e também de minha lavra. E sempre recebo convidados", revela Baleiro à Folha. E Anastácia foi um dos nomes que já passou por lá.

Ele adianta, inclusive, que “em breve vem um disco autoral de forró por aí”. Enquanto não chega, é com Anastácia que Zeca Baleiro se emparelha na produção e em duas faixas do disco “O Sertão Está Chorando” e “Venha Logo”. 

“Sou grande fã de Anastácia desde sempre. A conheci em umas gravações do Gilberto Gil e depois fui conhecer seu trabalho solo e sua parceria histórica com Dominguinhos. Ela é danada, criativa, irrequieta, compõe o tempo todo, fácil, letra e melodia, é daquelas artistas essenciais, que abrem caminhos, uma grande referência para todos nós”, complementa ele que assina o álbum junto ao maestro Adriano Magoo, co-produtor do trabalho.

Para Zeca, é de grande valia conhecer e se aprofundar na obra de Anastácia, “artista fundamental para o forró e para a música brasileira”, como ele mesmo pontua ao colocá-la como “pioneira destemida” assim como Marinês e Almira Castilho, esta, parceira de outro mestre, Jackson do Pandeiro. “Elas que foram abrindo caminho para garotas no forró. Eu sou suspeito porque sou muito fã, mas acho Anastácia imensa, vamos celebrá-la - em vida, de preferência”, conclui Baleiro.

Além das faixas já citadas, “Anastácia 80 – Lado A” chega com as faixas “A Saudade me Trouxe Pelo Braço”, “Contando as Estrelas” e “ Venceu a Solidão”, esta última tratada pela artista pernambucana de forma especial. “A melodia é dele (Dominguinhos) e a letra é minha. Quando comecei a compor músicas com ele eu tinha que ficar de olho para não comprometer as suas melodias, feitas de uma forma que não tinha como a gente não gostar. 

Foram quase onze anos de convivência. Divido minha vida antes e depois dele”, ressalta Anastácia que retorna mais adiante com o seu “Lado B” ao lado de Alceu Valença, Lenine e Flávio José entre outros nomes. (Fonte: Folha Pernambuco-Germana Macambira)
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