LUIZ GONZAGA: O CARNAVAL E O PRIMEIRO FORRÓ TRIOLETRIZADO

Nos ano 80 Luiz Gonzaga gravou o primeiro forró trio eletrizado. A gravação consta no LP disco Instrumento Bom. Na época Luiz Gonzaga conversa com Osmar e diz: até no trio elétrico eu tô. Viva a Bahia.

Por tudo isto Luiz Gonzaga continua atual. Quando a Dragões da Real entrou na avenida anos passado fez  o Nordeste brilhar. A escola de samba homenageou o povo nordestino através de um dos seus maiores ícones - a música Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Isto foi no carnaval de São Paulo 2017.  

O enredo (Dragões canta Asa Branca) é uma espécie de releitura da música. "De tanto "oiá" o sol "queima" a terra / Feito fogueira de São João / Puxei o fole, embalado me inspirei / Aperreado coração aliviei / De joelhos para o pai, pedi / Com os olhos marejados, senti / Quanta tristeza brota desse chão rachado / Perdi meu gado, "farta" água para danar / "Eta" seca que castiga meu lugar / Vou me embora... seguir meu destino / Sou nordestino arretado, sim "sinhô", diz a letra. 

A Escola Unidos da Tijuca do Rio de Janeiro, ganhou  o título de campeã no Carnaval carioca de 2012, com o samba-enredo O Dia em Que Toda a Realeza Desembarcou na Avenida para Coroar o Rei Luiz do Sertão. A composição falava da paisagem, solo e vegetação do Sertão. O título fez o nome de Luiz Gonzaga ter destaque  nos meios de comunicação devido os 100 anos de nascimento.

Todavia o tema Luiz Gonzaga deve ser sempre pauta. Na década dos anos 80 Luiz Gonzaga foi homenageado pela Escola de Samba Vermelho e Ouro. No samba-enredo ele participou da gravação cantando e puxando sanfona. Isto tudo chama atenção e lamentamos as porcarias que hoje são produzidas e que as emissoras de Rádio e televisão divulgam colocando-as em primeiro lugar e salientadas como as mais ouvidas, dançadas e cantadas. A maioria possui letras pobres e vazias de arte.

Usando riqueza de ritmo, harmonia e melodia Luiz Gonzaga no início de sua trajetória musical, poucos sabem, divulgou e cantou o ritmo musical Frevo. Em 1946 gravou "Cai no Frevo". Detalhe: usou sua majestosa sanfona. Puxou a sanfona também no Frevo "Quer Ir mais Eu?", este regravado várias vezes até os dias de hoje e executado pelas orquestras de frevos nas ruas e bailes. "Quer ir mais eu vambora, vambora vambora...

Luiz Gonzaga ainda gravou "Bia no Frevo" e "Forrobodó Cigano". Homenageou o genial Capiba-Lourenço Fonseca Barbosa, tocando o frevo "Ao mestre com carinho" , este genial pernambucano criador da canção "Maria Betânia".

Luiz Gonzaga em parceria com João Silva, já no final da carreira,  mistura sanfona e instrumentos metais. Grava "Arrasta Frevo". Ainda Na seara do carnaval o Rei do Baião  participou do primeiro forró trioeletrizado junto com Dôdo e Osmar, Instrumento Bom. Viva a Bahia.

Toda esta trajetória faz Luiz Gonzaga atual...basta ouvir a letra de "Eu quero dinheiro, saúde e mulher. É isto mesmo e vice e versa Mulher Saúde e Dinheiro e o resto é conversa. Eu quero ser deputado, senador, vereador. Eu quero ser um troço qualquer para mais fácil arranjar Dinheiro Saúde e Mulher"...Impressionante ele gravou essa façanha em marcha-frevo no ano de 1947.

Viva Luiz Gonzaga, Viva a Bahia, o frevo, o trio elétrico, Pernambuco. Viva o Carnaval.
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JURANDY DA FEIRA: DE PÉ NA ESTRADA, TERRA VIDA ESPERANÇA, CANTO DO POVO, FRUTOS DA TERRA

Jurandy estará se apresentando em Ouricuri, Pernambuco, no sábado 27, no tradicional Forró do Poeirão, evento organizado pelo compositor e cantor Tacyo Carvalho, que também contará com a presença de Joquinha Gonzaga. Jurandy na vida e obra de Luiz Gonzaga é presente e futuro. É tese e síntese de talento e dedicação ao melhor da música brasileira.

Em dezembro de 2017, as festividades dos 105 anos de Luiz Gonzaga, em Exu, Pernambuco, contou com a presença de Jurandy da Feira. A voz de Jurandy e seus versos provocaram um turbilhão de Felicidade/Encontro aos gonzagueanos de
toda parte do Brasil, que visitam Exu, neste período do ano, na esperança de colher os bons frutos da música e memória de privilegiados que conviveram com o Rei do Baião.

Morador do Rio de Janeiro há mais de 40 anos, Jurandy mantém a sua essência e nunca deixa de estar bem perto do Nordeste, ao tomar em consideração suas escolhas estéticas e de repertório. Em Exu, o cantor reviveu as emoções ao falar de Luiz Gonzaga e da cultura brasileira. 

Jurandy é o compositor entre outros sucessos das músicas Frutos da Terra, Nos Cafundó de Bodocó, Canto do Povo, além de Terra Vida Esperança. Para Jurandy, a resistência é o que faz sentido para seguir no meio musical, pois somente o talento não basta. 

A história conta que Luiz Gonzaga costumava acolher em casa compositores, em quem descobrisse afinidades, e acreditasse, obviamente, no talento. Depois de avisar que seriam gravados por ele, vinha o convite para ir ao Rio de Janeiro.

Jurandy Ferreira Gomes, é conhecido como Jurandy da Feira, o “da Feira” foi praticamente imposto por Luiz Gonzaga. Quando começou a aparecer como artista em sua cidade natal, Tucano, no sertão da Bahia, ele era chamado de Jurandy da Viola, por causa do violão, seu instrumento desde a adolescência.

“Quando Luiz Gonzaga gravou a primeira música minha, quando fui olhar no selo do disco. Estava lá Jurandy da Feira. Fui conversar com ele. Disse que aquilo não ia pegar bem na minha cidade, porque iam pensar que eu queria ser de Feira de Santana. Ele disse que não era de Feira de Santana, mas da feira, a feira do povo, do cantador. Acabei concordando, mas até hoje eu tenho que me explicar ao povo de lá”, conta Jurandy, em visita a Petrolina. 

Luiz Gonzaga em vida, sorria e se divertia com esta história e explicava: "Eu botei assim, para lembrar o lado de cantador, de poeta de cordel em feiras livres do Interior. O talento de Jurandy é de uma riqueza muito grande, igual a dia de feira."

Para o ano de 2018, Jurandy da Feira, está repleto de poesia, música e um novo CD.

O compositor tinha 24 anos quando conheceu o Rei do Baião. Foi levado a ele por José Malta, um jornalista, e produtor dos shows de Gonzagão. “Fomos para Exu, para a casa de Luiz Gonzaga. Passei uma semana lá. Mas era aquela coisa. Ninguém chegava a Gonzaga. Ele é que chegava às pessoas. Era fechado, meio cismado. Foi ele que se chegou pra mim, e perguntou sobre o violão que eu havia levado comigo. Se eu tinha um violão, por que não tocava? Quis saber se eu fazia músicas. Pediu para cantar para ele. Depois me disse que queria uma música que falasse de Bodocó”. 

Passou algum tempo e eu fiz Nos cafundó de Bodocó. O cafundó, foi porque eu achei que a cidade ficava longe de tudo. Naquela época ainda estavam asfaltando as estradas, e fui da Bahia até lá de Karmann-Ghia (carro esportivo, de dois lugares, saído de linha em 1971), a maior poeira, foi um sofrimento a viagem até o sertão pernambucano”.

Luiz Gonzaga gostou de Nos cafundó de Bodocó. Veio o inevitável convite para ir ao Rio. A música foi aprovada pelos produtores de Gonzagão na época, coincidentemente dois pernambucanos, Rildo Hora e Luiz Bandeira. Nos cafundó de Bodocó entrou num dos melhores álbuns de Luiz Gonzaga nos anos 70, Capim novo (1976). Lula gravaria mais outras três composições de Jurandy, que sacramentariam uma amizade que durou até o final da vida de Lua. 

O baiano, portanto, testemunhou os bons e maus momentos de Luiz Gonzaga em suas duas últimas décadas de vida: “Ele passou uma época em baixa. Várias vezes assisti a apresentações suas numa churrascaria chamada Minuano, na estrada Rio/São Paulo. Era aquele barulho de churrascaria. Mas quando ele dava o boa noite., pra começar a cantar, menino ficava quieto. Os adultos se calavam. Ficava silêncio enquanto ele cantava”.

Foi Luiz Gonzaga que levou Jurandy para gravadora, e ajudou a suas músicas serem gravadas por nomes como Trio Nordestino, Terezinha de Jesus. Atualmente Jurandy da Feira é um dos artistas mais admirados no meio da cultura brasileira e gonzagueana.

“Ele, Luiz Gonzaga, chegou a me prestigiar num show num colégio de padres em Tucano, minha terra natal. Passou a me apelidar de “minha paz”, porque quando chegava sempre desejava a ele: “Uma paz, seu Luiz”, relembra emocionado Jurandy.

Jurandy traz a poesia do ritmo da cultura brasileira na alma. É fartura de dia de Feira.  Luiz Gonzaga sabia reconhecer um fiel discípulo...Tenho Dito...
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ABERTAS AS INSCRIÇÕES PARA A APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS NO CLISERTÃO 2018

Gestores, educadores e amantes da leitura já podem inscrever seus trabalhos científicos, até o dia 20 de fevereiro, no 4º Congresso Internacional do Livro, da Leitura e da Literatura no Sertão (Clisertão). O evento, promovido pela Universidade de Pernambuco (UPE), campus Petrolina, ocorrerá entre os dias 7 e 11 de maio, e vai abordar o tema ‘As Margens da/na Literatura, Linguagem e Leitura’.

Os interessados devem fazer suas inscrições através do email: clisertao4@yahoo.com.  É necessário o envio de um resumo do trabalho, contendo entre 15 e 25 linhas, o comprovante de pagamento e os dados do autor ou autores. O modelo com a ficha de inscrição está disponível no edital do congresso.

Segundo a coordenação do evento, os trabalhos serão avaliados por uma Comissão Científica, que dentre vários pontos, analisará a pertinência da obra junto ao Clisertão. A lista com os trabalhos aceitos será publicada no site da UPE (www.upe.br/petrolina) até o dia 10 de março.

Entre as linhas temáticas do evento, estão a ‘Leitura, Hibridismo e Desterritorialização’, ‘Literatura Popular’, ‘Cadeia Produtiva do Livro’, ‘Os discursos reinventados sobre o Sertão’ e ‘Aspectos sociais da leitura, do livro e/ou da literatura’.

Com a proposta de discutir a produção e circulação do livro em Petrolina e região, o 4º Clisertão será dividido por espaços de vivências e realizado em diversos locais da cidade. Na UPE, vão ser apresentados, entre outras coisas, conferências, minicursos, saraus, teatros e mesas redondas. Também haverá espaço para a ecoleitura, que ocorrerá em vinícolas, ilhas e sítios arqueológicos. O congresso ainda incluirá escolas, praças e barquinhas na programação, com o objetivo de promover troca de saberes.

Este ano, o Clisertão, que já se consolidou como um dos principais eventos socioculturais da região, trará para o município personalidades como o linguista e escritor, Marcos Bagno (UnB); o poeta Jessier Quirino; o crítico literário Flavio Kothe (UnB); e o jornalista Eric Nepomuceno. Além deles, estarão presentes os convidados internacionais Elicura Chiuhailaf (um dos mais importantes escritores do Chile); Pablo Montoya (Colômbia, vencedor do Prêmio Casa de las Americas); Alejandro Reyes (México); Abdulbaset Jarour (Síria) e Keto Kebongo (República do Congo).





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ELIAS LOURENÇO, O PROGRAMA ALÔ NORDESTE, UMA PAIXÃO PELO RÁDIO E LUIZ GONZAGA

Lá na Paraíba, nas palavras do amigo e  professor Aderaldo Luciano, "durante todo o tempo em que me entendo por gente vi surgir e consolidar-se dentro de mim o amor e o respeito pelo Rádio. Ainda criança, botei os olhos num rádio Semp à válvula e certa vez meu pai, Francisco Assis Guedes, me levou a Campina Grande, para conhecer os estúdios da Rádio Borborema. Ali vi os mistérios que envolvem o Rádio".

Nos anos 80 e 90 não havia a facilidade da tecnologia e por isto, "tornei-me notívago, navegando no dial, buscando emissores de longe, locutores que me falariam de cidades e acontecimentos que eu planejava vivenciar. Durante o dia me via rodeado pelas rádios locais, pelas ondas que vinham de Campina Grande e suas três rádios AM: Caturité, Cariri e Borborema. Nomes fortes, direto de nossas raízes".

Foi na programação das rádios que aprendi a viver a brasilidade. Retalhos do Sertão, Bom dia Nordeste (com Zé Bezerra) cuja abertura era um jingle sensacional de João Gonçalves. José Lira na Campina Grande FM. Ivan Ferraz, Wilson Maux. Todos mestres...

Mas, o meu encanto e aprendizado maior aconteceu quando um dia sintonizei a Rádio Clube de Pernambuco, Recife. A voz de ELIAS LOURENÇO. No clima da notícia. Alô Nordeste! Elias chamando prá cantar Jorge de Altinho, Flávio José, Petrúcio Amorim, Marinês, Elba Ramalho, Raimundo Fagner, Três do Nordeste, Assisão Trio Nordestino, cantadores de Viola, aboiadores e Luiz Gonzaga.

Uma madrugada, muito frio em Areia-Paraíba, através do Rádio ouvi Elias Lourenço anunciando numa quarta-feira, 02 de agosto de 1989: "Morreu Luiz Gonzaga". Chorei em silêncio! Não imaginava o traçava o destino. O silêncio foi "quebrado" pela som do Rádio,  a sanfona de Luiz Gonzaga, a voz de Elias Lourenço: "são quatro da manhã e trinta minutos no Nordeste"...

Ontem, através do amigo Edilson Gonzaga, lá de Gravatá-Pernambuco, revivi toda esta trajetória desde quando por décadas acompanho Elias Lourenço através do Rádio. Não o conheço pessoalmente, Elias Lourenço, mas trago nele um sentimento de gratidão. Gratidão pela minha formação profissional...Sou grato porque com Elias Lourenço aprendi amar ainda mais meu Nordeste, a cultura brasileira e os estudos, afinal, só a Educação Liberta.

Atualmente Elias Lourenço faz o programa Alô Nordeste na Rádio Folha em Recife de segunda a sexta - 2h às 5h e no Sábado - 2h às 6h. No último dia 12 de janeiro ele completou 79 anos. Veterano profissional do rádio, Elias Lourenço percorreu uma longa carreira para chegar hoje a ser considerado um dos radialistas mais queridos e respeitados perante os ouvintes. 

Seu trabalho sempre é voltado para a divulgação da cultura brasileira e em seus programas tem procurado ressaltar o talento do artista regional, particularmente aqueles que se dedicam aos ritmos mais típicos da região, como o forró. 

Elias Lorenço é pernambucano de Arcoverde. Já trabalhou na comunicação das Rádios Atual, de São Paulo; Poty, de Paulo Afonso: e em Pernambuco percorreu quase todos os prefixos radiofônicos – Olinda, Globo, Relógio, Capibaribe, Continental, Jornal, Clube e agora na Folha FM.

Um dia, me vi do lado de dentro na Rádio Serrana de Araruna-Paraíba com os amigo Aderaldo Luciano que me fez o convite em 1999, para participar da produção e apresentação de um programa de Rádio. E então até hoje, jornalista, empresto minha homenagem e gratidão, valorização pela cultura a Aderaldo e a você, até hoje minha referência de apresentador de Rádio.

Para minha alegria e compromisso profissional, hoje estou na Rádio Emissora Rural, apresento o programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga, todos os domingos ás 7hs da manhã. 

'O rádio está vivo, a faixa AM está viva, querem matá-la no Brasil, mas ela ainda representa uma enorme atividade pelo interior dos Brasis. Amo o Rádio, Sinto-me parte dele, Sou um guardião, embora tanta coisa ruim aconteça aos seus microfones. Mas uma coisa é o Rádio, a outra, seus donos e vozes".
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FORRÓ DO POEIRÃO EM OURICURI TERÁ TÁCYO CARVALHO, JOQUINHA GONZAGA E JANDUY DA FEIRA

Tacyo Carvalho, Joquinha Gonzaga, Dijesus, Jurandy da Feira se apresentam no sábado (27), no Forró do Poeirão, a partir das 13h, em Ouricuri-Pernambuco, na Churrascaria Chico Guilherme. O evento será um Tributo a Luiz Gonzaga e tem o objetivo de valorizar a passagem do Dia Nacional do Forró, comemorado no dia 13 de dezembro – data de nascimento do Rei do Baião –, e também uma homenagem a todos os seguidores de Luiz Gonzaga

Segundo Tacyo Carvalho, cantor e compositor, organizador do Forró do Poeirão, o Tributo acontece e dá visibilidade aos músicos e ao próprio forró. “O projeto amplia o espaço para os artistas divulgarem seus trabalhos. O compromisso é o legado deixado por Luiz Gonzaga”.

Tácyo ganhou o apelido de Luiz Gonzaga: o garotão de Ouricuri. Isto aconteceu devido a popularidade que Tácyo atingiu apresentando programas de Rádio no Rio de Janeiro e sendo um dos responsáveis em divulgar a vida e obra de Luiz Gonzaga nos meios de comunicação no sudeste. Tácyo é o autor de Trem do Sertão, uma das mais belas músicas do cancioneiro brasileiro. 

"O forró do poeirão é uma oportunidade de fazermos um grande encontro, confraternização de amigos e amantes da boa música e valorizar nosso forró, xote e baião".

As camisas custam R$ 25 e darão direito a entrada do evento. Contatos: 71 994066714
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JURANI CLEMENTINO, VÁRZEA ALEGRE E A CULTURA QUE TRANSFORMA

Recebi a notícia de que uma crônica, escrita por mim, foi vencedora de um concurso cultural realizado em São Paulo. A competição literária faz parte das comemorações dos 70 anos da Livraria Cultura e tem como tema a seguinte pergunta: Como a cultura te transforma?  A história vencedora garante uma viagem para Nova Iorque nos Estados Unidos. Compartilho com vocês o conteúdo da minha crônica que narra a experiência comum a muitos nordestinos que saem de suas terras rumo à cidade grande…

**Nasci numa família simples, do interior do Ceará, que tinha pouco acesso à cultura escrita. Cresci ouvindo histórias narradas apaixonadamente pelos mais velhos. Aos vinte anos segui o destino irremediável a todos aqueles jovens que ali moravam. Peguei a estrada rumo à cidade de São Paulo em busca de emprego. Como eles mesmos diziam: atrás de uma vida melhor. Mas eu não fazia a menor ideia do que seria uma vida melhor. Minha vida podia não ser muito boa, mas descobri que trabalhar em São Paulo nem sempre significava melhorar a vida. Até que um dia, deixei a zona sul, onde morava na casa de uma tia, e fui a Avenida Paulista. Não recordo exatamente qual o dia da semana. Provavelmente um sábado. Dia de folga. E lá me deparei com algo que se se aproximava da minha concepção de melhorar de vida. Vou explicar.

Sempre gostei de ler. Na escola, conheci autores clássicos de nossa literatura como: Rachel de Queiroz, Machado de Assis, Vinicius de Moraes, José de Alencar, Clarice Lispector… Desejava ser igual a eles. Queria ser escritor também. Aquela viagem ao centro de São Paulo mudaria a minha vida. Não queria dizer que acidentalmente entrei naquela galeria de lojas onde estava instalada a Livraria Cultura, mas o fato é que não fui ali de propósito. Acho que, como muita coisa na minha vida, encontrar aquele espaço, foi mais um dos acasos que me aconteceram. Ali eu me reencontrei. Ali eu percebia o significado de uma vida melhor. Uma vida melhor pra mim era ter uma livraria em casa.

Quantos livros, meu Deus! Parei por alguns instantes e contemplei o espaço como se admira um belo pôr do sol no sertão. Eu era a própria tradução da felicidade. Desejei morar ali. E como sabia que aquele desejo não passava de um devaneio particular, fiquei durante horas circulando por entre as prateleiras. Como não podia comprar aqueles livros que tanto desejava, tocava neles, abria, lia a orelha, sentia-os em minhas mãos, abraçava-os e colocava lentamente no lugar. Eu cuidava deles como se fossem meus. Fiquei ali sem pressa. Não vi as horas passar. Não senti fome. Não me deu sede porque toda a sede que eu tinha parecia saciada. Tinha sede de leitura.

Como foi difícil sair dali. Eu não fazia ideia de quando aquele momento ia se repetir. E por isso protelava tanto a minha despedida. Queria que aquele dia não acabasse. Tudo que eu desejava podia encontrar ali. Meses depois abandonei o emprego de metalúrgico e voltei pra o Nordeste. Investi no estudo. Conclui minha graduação em Jornalismo numa universidade pública e fiz Mestrado e Doutorado em Ciências Sociais. Nesse período também escrevi um livro biográfico sobre um importante compositor de Luiz Gonzaga. Sempre que volto a São Paulo faço questão de ir a paulista. Não sei exatamente se busco novidades literárias, tenho certeza que vou, em vão, atrás daquela primeira sensação. Foi uma sensação agradável que me deu coragem para correr atrás dos meus objetivos e ser o que sou hoje.
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COM RIMAS E SONHOS, POESIA AINDA MUDA CONTIDIANO E DEFINE VIDAS EM SÃO JOSÉ DO EGITO

Há dezenas (talvez centenas) de anos, uma viola foi enterrada no leito do Rio Pajeú. Desde então, quem bebeu de sua água, virou poeta. A lenda sertaneja pode até não ser verdade, mas foi a forma
que o povo encontrou para explicar porque existe tanto talento para a poesia em um só lugar. “Bom dia, poeta”, diz um. “Bom dia, poeta”, responde o outro. Vendedor, professor, farmacêutico… Seja no improviso ou munido de violas, há uma população inteira de cantadores poetas em São José do Egito, a 404 km do Recife. Considerada berço imortal da poesia, a cidade preserva, há gerações, a tradicional cultura que floresceu às margens do rio.

A relação da cidade com as palavras começou na colonização do Brasil pelos portugueses: “Os portugueses trouxeram a sonoridade do baião de viola e as influências dos mouros, muçulmanos que invadiram a Península Ibérica. Digamos que os cantadores são uma evolução dos trovadores”, afirma Fábio Renato Lima, professor de história na cidade e coordenador da banda Vozes e Versos. Talvez por isso o vocativo esteja presente em qualquer cumprimento na cidade. É uma populaçaõ de “poetas”.

A história do local está ligada a duas cidades vizinhas. Eles acreditam que as pessoas tenham seguido o percurso do rio no período da colonização, passando primeiro pelo “ventre da poesia”, Itapetim (PE) e por Teixeira (PB), considerada local de troca cultural entre os ibéricos e o povo da região. São José do Egito é a mais próxima do rio e o maior entre os três municípios, terminando por acolher os poetas da região e ganhando a alcunha de berço.

“Podemos comparar o processo que aconteceu em São José do Egito com o que aconteceu na Grécia. O país fabricou muitos filósofos e a cidade pernambucana conseguiu dar sequência aos seus poetas. É impressionante como eles têm orgulho de suas raízes”, explica Lourival Holanda, professor de letras e entusiasta da cultura popular.

Os poetas do Pajeú são comparados com os trovadores porque a poesia feita por eles não é tão simples como você pode imaginar. A mais tradicional é feita de improviso e ela não é formada apenas por quaisquer palavras que vêm à mente, mas possuem rima e métrica, como explica o historiador Fábio Renato: “Ela já surgiu metrificada, não é uma poesia livre”, explica.

A métrica é feita pela contagem das sílabas tônicas em um verso. Por exemplo, se a primeira linha do verso tiver sete sílabas tônicas, as demais linhas precisam ter a mesma quantidade.

á a rima é considerada por eles um pouco mais simples. “Se for, por exemplo, uma quadra (quatro linhas), as linhas pares precisam rimar”, explica Fábio sobre o que forma a sonoridade poética e a declamação cantada e arrastada dos poetas da região.

A dificuldade de adequação não impede que novos poetas surjam na cidade, porque essa é a forma natural de expressão que os filhos do município encontram. Vinícius Gregório, começou nessa aventura aos 14 anos para descrever a saudade originada com a mudança para o Recife.

“Eu comecei a relatar as fases da minha vida e a temática varia entre a saudade, amor, amizade e questões sociais”, conta.

Um dos poetas mais famosos do Sertão pernambucano, Lourival Batista assinava suas obras com o próprio nome, mas era reconhecido mesmo como Louro do Pajeú. Precursor da “escola” da poesia de São José do Egito, teve o talento reconhecido por nomes políticos e artísticos de expressão nacional, com reconhecimento que o fez famoso em todo o país. 

Entre os nomes que o reverenciaram estavam Gilberto Gil – que, na época da Tropicália, visitou sua casa no Sertão pernambucano – ou Luiz Gonzaga, que não escondia admiração ao sertanejo. Tanto clamor o ajudou a ir além da poesia aos olhos da população local.

“A casa do meu avô era aberta para quem quisesse entrar. As pessoas se sentiam à vontade nela”, conta o neto Antônio Marinho, sobre as lembranças de sua infância. “Toda as noites, minha avó fazia uma sopa. Não me lembro de ter sentado uma única vez e não ter encontrado, além da minha família, ao menos uma pessoa desconhecida para o jantar. Meu avô não julgava ninguém. Já vi sentar com a gente prostitutas, bêbados e homossexuais, pessoas bastante discriminadas pelo povo da época”, completa. Após a ceia, era o momento reservado para a poesia, declamada se sobremesa fosse.

Tamanha popularidade fez com que o aniversário (6 de janeiro) de Louro do Pajeú virasse evento oficial da cidade. Poetas e cantadores de viola da região de diferentes gerações uniam-se na grande casa na cidade, mesmo depois da morte do poeta, em dezembro de 1992. “A festa sempre foi muito forte. Mas em 2005, minha avó, Helena, faleceu e a casa ficou fechada”, diz Marinho. Cansados de ver a receptiva casa fechada, desde 2011 a comemoração foi retomada, com direito a trio de forró pé-de-serra em frente à residência. No ano seguinte, virou festival municipal, com palcos e oficinas.

A marca de Lourival Batista continua exposta. “Criamos o Instituto Lourival Batista, a Casa do Repente. Na entrada, tem uma placa de 1989 que Miguel Arraes levou para meu avô homenageando o repente”, explica Marinho. 

Fonte: Mayra Couto-Jornalista
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TRIO SINHÁ FLOR MENINAS INSPIRADAS NA SANFONA GONZAGUEANA

Fui apresentado ao Trio Sinha Flor pelo pesquisador Higino Canuto. Daí em diante foi amor pela música e voz dessas três meninas nascidas em Belo Horizonte, mas que vivem em São Paulo, dão uma visão bem sofisticada ao autêntico forró pé-de-serra. 

As mineiras mesclam o ritmo baião com suavidade e profissionalismo e o melhor sem se afastar das raizes fincadas em Luiz Gonzaga. Não é muito comum vermos bandas femininas de forró, ainda mais que, além de tocar e cantar, ainda compõem suas letras. 

O Trio Sinhá Flor, formado por Carol Bahiense (triângulo, sanfona e voz), Cimara Fróis (sanfona e voz) e Talita del Collado (zabumba, violão, flautas, percussão e voz), residentes em São Paulo, levam a rica e tradicional cultura nordestina aos setes cantos do país, propondo uma nova formação do gênero, mostrando que zabumba, sanfona e triângulo também são instrumentos para as mulheres.

Além do forró, o trio mescla outros estilos e arranjos a suas composições, dando uma cara própria ao grupo, em um repertório que vai de Luiz Gonzaga à MPB moderna, além de buscar inspiração em grupos vocais e expoentes de outros gêneros, como Quatro Ases e Um Coringa, Demônios da Garoa, Trio Esperança e Quarteto em Cy, apresentando um forró com uma roupagem mais contemporânea, flertando com o jazz até.

As artistas têm uma performance única e peculiar no palco, nascida das experiências e conhecimentos pessoais de cada integrante, contribuindo para que cada apresentação seja única e especial, não apenas para dançar, mas também ao assistir.

As meninas têm três projetos realizados: “Uma Homenagem ao Rei do Baião”, “Histórias Cantadas do Sertão Brasileiro” e “Forró Floreado”, todos enfatizando a cultura brasileira.
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II ENCONTRO DE SABERES DA CAATINGA SERÁ REALIZADO EM EXU, PERNAMBUCO

Parteiras, rezadores, raizeiros e estudiosos de práticas de curas ligadas à natureza, estarão, de 19 a 28 de janeiro de 2018, na Chácara Paraíso da Serra, no município de Exu (sertão de Pernambuco), para realização do II Encontro Saberes da Caatinga.

Realizado pela Rede de Agricultores Experimentadores do Araripe, com apoio de instituições como a Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e o Ibama, entre outras, o Encontro tem como um dos principais objetivos incentivar e manter vivas práticas de cura (algumas milenares) que não dependem do sistema biomédico. Nesta segunda edição do evento, serão oferecidos vários serviços, oficinas de agrofloresta, extração de óleos vegetais, primeiros socorros usando óleos essenciais, arteterapia, shiatsu, cromoterapia, aromaterapia e bioenergética.

Na opinião da pesquisadora do departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz Pernambuco Islândia Carvalho, ao apoiar o Encontro, a Fiocruz PE cumpre o seu papel social de valorização da cultura local no que tange á saúde. “Além disso, a instituição vem desenvolvendo várias pesquisas para elucidar a efetividade dessas práticas e sua potencial contribuição para a saúde da população. Para tal, residentes e mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Fundação, participarão do evento com o objetivo de sistematizar conhecimentos e produzir informações científicas sobre o tema”, afirmou.

Desde 2006, o Sistema Único de Saúde – SUS, conta com a Política de Práticas Integrativas e Complementares. Essas práticas são caracterizadas pela Organização Mundial de Saúde como Medicina Tradicional ou Medicina Complementar. Esse termo significa um conjunto diversificado de ações terapêuticas que difere da biomedicina ocidental, incluindo práticas manuais e espirituais, com ervas, partes animais e minerais, sem uso de medicamentos quimicamente purificados, além de atividades corporais, como tai chi chuan, yoga, lian gong. Outros exemplos de PICs são: acupuntura, reiki, florais e quiropraxia.

O primeiro Encontro, realizado há um ano, contou com mais de 100 benzedeiros, parteiras, raizeiros, pesquisadores e professores dos estados de Pernambuco, Ceará e Piauí. Para esta edição esse número já foi superado, tendo as inscrições sido encerradas em apenas duas semanas. A organização do evento está analisando a possibilidade de transmiti-lo via internet. 
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LUIZ GONZAGA E FAZENDA ARARIPE-150 ANOS

Em 2018, o povoado do Araripe vai completar 150 anos. A professora e escritora Thereza Oldam é conhecedora dos episódios e sentimentos que nortearam a criação, o desenvolvimento e a consolidação do território exuense. Desde a época da colonização, quando a região ainda era habitada pelos índios Ançus, do tronco da nação Cariri. Passando pela chegada de seu fundador Leonel de Alencar Rego, até os dias atuais.

A professora escreveu no ano de 1968, uma apresentação para o disco Luiz Gonzaga-São João do Araripe. Escreveu Thereza Oldam: "O Povoado do Araripe, tantas vezes cantado pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, é o desdobramento da Antiga Fazenda do Barão de Exu. Domina-o até os dias atuais, a Casa Grande. de estilo Colonial e a Capela de São João Batista. O Povoado do Araripe, está situado à margem esquerda do Rio Brígida, próximo da Fazenda Caiçara, berço de Barbara de Alencar.

Para os descendentes direto dos primeiros povoadores, o São João do Araripe é único. É o culto das suas melhores tradições. Anualmente, os festejos juninos são um pretexto para a confraternização, pois no calor da fogueira, comendo milho assado, discutem política, exaltam os seus herois, choram seus mortos e pedem aos céus a oportunidade de voltar sempre, sempre ao Araripe.

Ali, no Araripe aprenderam a venerar São João Batista, ouvindo vozez de Sinhazinha e Nora, ecoando o coro da Capela. Quem dos seus desconhece o Barão do Exu, Sinhô Aires, Neném de João Moreira, Santana de Januário, Dona de Seu Sete. Qual dos seus meninos não sentiu o irresistível desejo de puxar a corda do sino da igreja?

O Povoado do Araripe é um santuário de fraternidade do presente com o passado. Seu fundador deu-lhe a fidalguia e tradição e um seu filho deu-lhe a melodia do baião, este filho é Luiz Gonzaga.

Luiz Gonzaga nasceu no Araripe e ai sempre viveu! Ninguém melhor do que ele preservou as suas tradições e podemos afirmar que Luiz Gonzaga é a encarnação do Araripe, no amor que dedica á sua terra, na exaltação de sua gente. 

Ainda menino, Luiz Gonzaga, correu por aqueles patamares, gritando o bode ou tocando forró, crepitava em seu peito a ternura do Araripe, sem saber porque. Era a voz de um pássaro, os costumes do sertão, a beleza das coisas...e fugiu...fugiu porque seu coração não comportaria aquele grito da alma. Era a voz da terra. Era a arte. 

E a arte explodiu: surgiu o artista, o Rei do Baião, o filho de Januário e Santana, o cantor do Araripe. E hoje (1968), ocasião de seu Centenário, o Povoado do Araripe recebe comovido a homenagem de Luiz Gonzaga. É uma mensagem de arte e de amor: da arte que nasceu dele e não cabe nele, do amor que o torna maior fazendo os outros felizes.

O Araripe pede a Deus para seu filho a eternidade da arte que o persegue.

Fonte: Professora e escritora Thereza Oldam, Exu, Pernambuco, 20 de fevereiro de 1968

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RANGEL ALVES DA COSTA: CARIRI CANGAÇO POÇO REDONDO 2018 TODO MUNDO CONVIDADO

Severo mandou convidar gente de todo lugar. Por aqui estarão Lili, Ivanildo e Kydelmir. Abraçar com cortesia Quirino e Célia Maria. Aplaudir em alto som Pedro Lucas, Pedro Popoff e Cecília do Acordeon. Vem gente de baixo de cima, Edivaldo, Aninha e João de Souza Lima. Levantando a poeira, Ingrid, Juliana e Professor Pereira. Desfolhando a quixabeira, chegando Coló de Arneiroz e Aderbal Nogueira. Cortando pelo estradão, avista-se Oleone, Múcio e José Bezerra Irmão. Pra ler a poesia que fiz, vem o poeta Assis. Vem Júnior Almeida e Ranaise, Franci Mary e Ana Lúcia, mas ninguém de mais astúcia neste mundo tão pequeno que o Tássio Sereno. 

Vilma Ferreira Leite arrume a mala e se ajeite pra festança ser deleite. Despontando na cancela, vem no passo o Vilela, correndo pra ser primeiro lá vem o Kiko Monteiro. Jorge Remígio, Narciso Dias, Archimedes e Elane, pra tudo correr sem pane. Luiz Ruben, Leandro Cardoso, Emanuel Arruda e Meneleu e o belo mundo tabaréu. Aline e Noádia Costa, um povo que a gente gosta. E vem Ricardo Ferraz, Luiz Augusto e muito mais. Vem Marcos de Carmelita, chega a caatinga se agita. Celsinho Rodrigues e Inácio, Jairo e o amigo Afrânio, todo mundo vai chegar para Poço Redondo abraçar. Bismarck e Paulo Gastão, o cangaço em coroação. 

Robério, Louro Teles e Divanildo, Ney Vital e Custódio, tudo paz sem ter ódio, além de Aretuza Simonetta, que carregando beleza desarma a baioneta. Camilo traz violão e Léo Cangaceiro um gibão, enquanto Verluce Ferraz de cantar será capaz. Irari vem por aqui, isso eu sei, até senti, anunciando Geovane e o poeta Verí. Sandro Alencar vai chegar e um xaxado dançar, com Lili a se rebolar até a lua brilhar. Coronel Fudenço matreiro, talvez chegue logo primeiro, assim imagino e penso. Mas Stelinha Lobão, que não é brinquedo não, já se diz com pé no sertão. Westerland também irá e todo mundo a esperar. Toda família Pandini junto ao Sertão Nordestino, desde velho a menino lá nas terras de Alcino.

E mais gente e mais nome, tendo no sertão sobrenome, na festa de zuada e estrondo: Cangaço em Poço Redondo!
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BANDA ACÚSTICO LIVE FARÁ TRIBUTO À LEGIÃO URBANA NO SÁBADO 13 DE JANEIRO

Segundo Tributo à Legião Urbana será apresentado com a Banda Acústico Live durante o show que fará uma homenagem a uma das bandas mais consagradas no Brasil do rock pop e ao vocalista Renato Russo (1960-1996). A apresentação será no próximo sábado dia 13 de janeiro, no Centro Cultural João Gilberto, a partir das 21hs.A abertura  será com o cantor Temir Santos.

A Acústico Live é uma banda de Pop rock fundada em meados dos anos 90 por Charles Eluran, Jonatas Marcelo, Marcio Alexandre, Paulo Cabral, Paulo Cesar Ribeiro na cidade de Juazeiro (BA). A banda tem um trabalho reconhecido na região, por realizar tributos homenageando grandes bandas do cenário nacional e internacional, e por tocar em bares e casas de festas.

A banda foi uma das precursoras a tocar pop rock nos bares de juazeiro e Petrolina, lotando por onde passava, a juventude da época queria algo novo, e a acústico Live se encaixava neste perfil.  

A banda foi mudando durante o tempo, com a entrada e saída de integrantes. ate encerrar as suas atividades no inicio de 2002. Passado 15 anos, Marcio reencontrou Charles na rua e disse que queria fazer um tributo a Legião Urbana, e Charles prontamente aceitou. 

Após a primeira apresentação, a Banda recebeu vários convites para fazer shows em outras cidades, mostrando que a boa musica do vale do são Francisco ainda pode ser ouvida.

Em 2018 a banda entrara em studio para gravar o seu primeiro cd.     

Acústico Live é formada porDamásio Moser-Baterista, Jonathas Marcelo– violão, F. Junior – Contra baixo, Marcio Alexandre- Vocal, violão, e Charles Eluran - Violão, Vocal.
  

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RIO SÃO FRANCISCO: SUA IMPORTÂNCIA CULTURAL, ECONÔMICA E SOCIAL ESTÃO SOB AMEAÇA

É necessário e urgente refletir sobre a relação do rio São Francisco com o conjunto de bacias hidrográficas que contribuem para a sua grandeza cultural, econômica e social.

O “Velho Chico” é um dos mais importantes rios do Brasil. Da sua nascente, em Minas Gerais, até o encontro com o mar, ele passa compondo a paisagem de diversas regiões dos estados da Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, serpenteando por mais de 500 municípios e comunidades e beneficiando 14,2 milhões de pessoas. Daí a sua denominação de rio da integração nacional.

Seu percurso de quase três mil km é um caminho revelador de histórias, pelejas, causos, amores e das religiosidades dos povos ribeirinhos. Um rio de importância econômica, social e cultural para diversas comunidades, dentre elas indígenas e quilombolas. 

Suas águas maltratadas pelo intenso processo de degradação, onde esgotos desaguam em seu leito, o desmatamento constante de suas matas ciliares, provocando o assoreamento, são expressões concretas do abuso indiscriminado sofrido pelo rio. Esse é o reflexo da maneira como o estado brasileiro administra seus recursos naturais, na contramão do discurso que o rio São Francisco é considerado um dos principais fatores de desenvolvimento da região nordeste, devido a sua importância para a agricultura e o aproveitamento da sua força para a geração de energia.

Muitas são as narrativas em torno das águas do velho Chico: a mãe d’água, o mergulhão, o cumpade d’água e o negro d'água são alguns seres imaginários que moram nas profundezas de suas águas e que costumam aparecer para pescadores. Daí a sua importância para a cultura popular. As narrativas repassadas por gerações de barqueiros, pescadores/as e ribeirinhos/as; as cantigas e rezas nas procissões das romarias da terra e das águas, por homens e mulheres carregados de simbolismos, fazem dessas iniciativas expressões de resistência e fé, percorrendo caminhos em meio à vegetação que cresce no lugar onde já foi o seu leito, para oferecer-lhe um gole d’água. 

Se o rio morre, morre com ele a cultura de um povo.

O velho Chico é também núcleos de memórias. Em cada trecho, várias histórias de vida. Na contramão da velocidade do que já foi a sua correnteza e pela abundância de suas águas e profundidade de seu leito, hoje algumas embarcações estão fixadas nas areias de suas margens. Ali se ancora também lembranças e memórias de tempo de farturas de peixes e da vida movimentada no cais.

Da poética entre as memórias e a atual situação do rio, não pode deixar de falar das situações de tantos outros rios que o alimentam, dando-lhe água de beber. Considerado como uma caixa d’agua, o cerrado baiano compõe as importantes bacias hidrográficas do Rio Grande e Rio Corrente que são ameaçadas diariamente pela monocultura e desmatamento do cerrado, como plano de “desenvolvimento” adotado pelo estado brasileiro, desde os anos 70.

Do significado inicial “rio-mar” dado pela população indígena, talvez, na atualidade, essa alcunha não corresponda mais, pois, para navegá-lo encontram-se enormes dificuldades por ter se tornado estreito e assoreado. As suas vazantes já não são tão produtivas o que diminui a produção de alimentos para sua população ribeirinha.

Diante do processo cumulativo de degradação que vive o rio e suas bacias hidrográficas, a revitalização só se dará se as populações ribeirinhas de forma organizada e mobilizada forem efetivamente protagonistas para a mudança desta realidade.

Fonte: Allan Lustosa-CNBB
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JURANI CLEMENTINO: EITA VÁRZEA ALEGRE BOA, SÓ É LONGE

O município de Várzea Alegre sempre forneceu mão de obra para diversas partes do país. Não é de hoje que dezenas de trabalhadores anualmente se dirigem para outros estados em busca de trabalho. Talvez o que se tem de mais conhecido é a relação que se estabeleceu entre São Paulo, especialmente o município de São Bernardo do Campo com Várzea Alegre. Visto que milhares de varzealegrenses se instalaram por lá, ocuparam basicamente um bairro inteiro – O Ferrazópolis, e anualmente promovem uma festa de confraternização para reunir a comunidade ali instalada. 

Vale destacar que, dada a marcante presença dos filhos de Várzea Alegre na região do ABC paulista, o filme “Peões” de Eduardo Coutinho, um dos maiores documentaristas que esse país já teve, começa exatamente no bairro do Juremal com depoimentos de ex-metalúrgicos que, nos anos 70 e 80, participaram dos movimentos grevistas em São Paulo.

No entanto, de Várzea Alegre também saiu gente para trabalhar nos seringais do Acre, nas lojas de Fortaleza, no comércio do Recife, nas plantações de algodão do Paraná, na construção civil do Rio de Janeiro e Minas Gerais, nas fazendas de gado do Pará, Maranhão, Mato Grosso, Goiás… Esta semana fiquei sabendo que no final dos anos de 1950 familiares meus foram vítima de trabalho escravo na região de Goiás. Entre esses parentes estavam uma tia de minha mãe, de nome Cecília, que foi casada com Zé Leandro, e Santinha que é tia de meu pai e viúva de Augusto Grande, um dos homens mais valentes da região. Há relatos de que, num único dia, o Augusto, durante uma briga, cortou a orelha e a garganta do desafeto e como se não bastasse ainda castrou o jumento desse pobre coitado.

Bom, mas retomando a viagem desses trabalhadores para Goiás. O grupo de varzealgrense saiu do Sítio Queixada e tomou um caminhão pau de arara onde hoje fica a BR 230. Teriam sido agenciados por um conhecido, que já havia trabalhado naquela região, mas nenhum deles sabia as condições de trabalho que os esperava por lá. A realidade só foi revelada quando, alguns dias depois, ao entrarem na fazenda perceberam que dois jagunços armados ficavam vinte e quatro horas na porteira de acesso. Foi aí que a ficha caiu. Dali eles não sairiam com facilidade. A não ser fugindo. Tratava-se de uma cilada. Então, como fugir de um lugar distante de tudo. Uma fazenda perdida no meio do país. Sem contato com ninguém. Mesmo assim, meses depois, Augusto, Zé Leandro e outros companheiros, todos de Várzea Alegre, organizaram um plano de fuga. Dois dias antes de fugir a filha de Augusto adoeceu, então ele e Santinha levaram a criança ao hospital e nunca mais voltaram pra fazenda. Mesmo assim, Zé Leandro e os demais resolveram cair na mata, no meio da noite, debaixo de chuva sujeitos a serem devorados por onças selvagens.

Vinte e quatro horas, perdidos na floresta eis que chegaram a Goianésia, município situado a cento e setenta quilômetros de Goiânia, capital do estado de Goiás. Adoentados pediram ajuda. Um dos filhos de Zé Leandro, que o acompanhava na fuga dos pais não suportou e morreu pouco depois de dar entrada no hospital da cidade. Ali mesmo eles enterraram a criança. Sem dinheiro para retornar à terra natal foram trabalhar, numa localidade vizinha, juntando areia e enchendo caminhões que seguiam para a construção de Brasília.

Depois que conseguiram o dinheiro e compararam a passagem de volta pra o Ceará, essa família não parou. Morou em São Paulo, trabalhando na construção civil, depois catando algodão nas fazendas do Paraná e há quarenta anos reside no estado do Mato Grosso. Essa é apenas uma das muitas histórias de varzealegrenses perdidos por esse país a fora. Sofrendo, lutando e repetindo aquela clássica frase que tem mil significados: Eita várzea alegre boa, só é longe.

Fonte: Jurani Clementino- Jornalista, escritor, professor
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A ESTRELA DE LUIZ GONZAGA

A geografia musical brasileira tem alguns pólos bem definidos. O hegemônico sai da Bahia e se fixa no Rio de Janeiro a partir dos anos 20, em cima do samba, choro e derivações. Durante o século 20, aliás, Bahia e Minas forneceram contingentes de músicos fundamentais, mas não chegaram a produzir música típica local -apenas recentemente, a partir do Olodum, a Bahia retomou suas raízes. Há um segundo pólo, de música caipira/sertaneja que se formou no interior de São Paulo e se espraiou pelo Triângulo Mineiro e Goiás.

Um terceiro pólo bem definido é o gaúcho, da música pampeira com influência da Argentina e do Uruguai. Recentemente, cresceu muito o pólo da música pantaneira, com nítida influência da guarânia e da música paraguaia. Persiste, no Pará, a tradição da canção brasileira, herança ainda dos tempos da borracha.

Depois do Rio de Janeiro, o grande pólo da música brasileira é Pernambuco, com duas vertentes muito nítidas. Há uma de Recife/Olinda, com seus frevos orquestrados, cirandas e maracatus, e há a vertente dita nordestina -que abarca o sertão pernambucano e os Estados limítrofes, com destaque para Paraíba e Ceará. E é aí que surge a estrela luminosa de Luiz Gonzaga, o Lula, o grande nome da modernização da música brasileira nos anos 40, ao lado de Dorival Caymmi.

Dito assim, fica meio frio e impessoal. Mas você não sabe o que era Luiz Gonzaga nos anos 50, quando ele explodiu para o Brasil. Ele corria todo o interior, fazendo shows nas praças das cidades em cima de um caminhão, patrocinado por uma multinacional da qual não me recordo o nome.
Não se tratava de um fenômeno restrito às elites intelectuais, aos universitários, aos cultivadores da chamada "boa" música.
 Cada música lançada percorria todos os estratos sociais. Lembro-me, na farmácia do meu pai, eu, com meus oito anos, sendo provocado pelo Pedro e pelo Antônio (os dois boys) por conta da música "Respeita Januário" (Gonzaga e Humberto Teixeira), homenageando Severino Januário. Januário era também o balconista da Farmácia Central.

No dia em que ele foi se apresentar em Poços de Caldas, a cidade inteira desceu para a praça. Minha mãe também desceu, comigo e minha irmã Regina, eu com sete anos, ela com cinco. Gonzaga já era conhecido da cidade, para onde encaminhou a namorada tísica, com o filho Gonzaguinha, para uma temporada de tratamento. Acabamos assistimos ao show de dentro de uma Rural Wyllis, de uns parentes dele.

Antes de lançar o baião, Gonzaga passou pelo choro. Seu estouro ocorreu com a música cantada, não apenas pelo balanço, trazendo o xaxado, o xote, o baião, mas pela temática. Com seus parceiros Zé Dantas e Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga trouxe para a música brasileira a problemática do Nordeste, que aquela altura dominava as atenções de todos, de planejadores, como Celso Furtado, a poetas, escritores, estudantes.

Mesmo assim, o tom político de suas canções em nenhum momento se sobrepôs às qualidades musicais ou às características profundamente nordestinas. O balanço, a gozação, o uso dos termos regionais, tudo contribuiu para criar um modelo estético imbatível dentro da música brasileira, dos épicos nordestinos, como "Asa Branca", ao lirismo de "Estrada do Canindé" ("Ai, ai, que bom/ Que bom, que bom que é/ Uma estrada e uma cabocla/ Com a gente andando a pé"). Ou então o "Xote das Meninas", que fez o maior sucesso na voz de Ivon Cury, talvez o cantor de maior sucesso na segunda metade dos anos 50 -e que morreu fazendo bicos em programas humorísticos.

Pouco depois de lançada, "Asa Branca" já era um clássico. Lembro-me nos anos 60 o orgulho que nos dava o mero boato de que os Beatles iriam gravar a canção.
A relação de sucessos de Gonzaga é enorme. Há quem goste das todas, dos xotes, das músicas buliçosas. De minha parte a música que mais me tocou, meu hino nacional brasileiro do Nordeste é "Que nem jiló" (Gonzaga e Humberto Teixeira).

Fonte: Luiz Nassif-Folha São Paulo-2001
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IV ENCONTRO DE EX-ALUNOS DO COLÉGIO ESTADUAL DE PETROLINA ACONTECERÁ EM FEVEREIRO DIA 3

Vai acontecer no dia 03 de fevereiro de 2018, o quarto encontro dos ex-alunos  do Colégio Estadual de Petrolina. A programação consta de Missa de Ação de Graças e muita música. Detalhe: entre os ex-alunos estão Aldy Carvalho e Humberto Barbosa, Os dois são cantores e compositores. O cantor e compositor Maciel Melo também é um dos ex-alunos. 

Um dos organizadores do encontro, o gestor imobilário Aldizio Barbosa, diz que são esperados mais de 99 pessoas. "São amigos que moram em São Paulo, Salvador, Natal, Recife, Curitiba enfim de todos os lugares desse Brasil. O mais importante é confraternizar e marcar o próximo encontro, sempre para relembrar nossas boas histórias", diz Aldizio.

Outras informações e contatos 87 988333010. 
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TACYO CARVALHO E O FORRÓ DO POEIRÃO 2018 EM OURICURI

Tacyo Carvalho, Joquinha Gonzaga, Dijesus, Jurandy da Feira se apresentam no sábado (27), no Forró do Poeirão, a partir das 13h, em Ouricuri-Pernambuco, na Churrascaria Chico Guilherme. O evento será um Tributo a Luiz Gonzaga e tem o objetivo de valorizar a passagem do Dia Nacional do Forró, comemorado no dia 13 de dezembro – data de nascimento do Rei do Baião –, e também uma homenagem a todos os seguidores de Luiz Gonzaga

Segundo Tacyo Carvalho, cantor e compositor, organizador do Forró do Poeirão, o Tributo acontece e dá visibilidade aos músicos e ao próprio forró. “O projeto amplia o espaço para os artistas divulgarem seus trabalhos. O compromisso é o legado deixado por Luiz Gonzaga”.

Tácyo ganhou o apelido de Luiz Gonzaga: o garotão de Ouricuri. Isto aconteceu devido a popularidade que Tácyo atingiu apresentando programas de Rádio no Rio de Janeiro e sendo um dos responsáveis em divulgar a vida e obra de Luiz Gonzaga nos meios de comunicação no sudeste. Tácyo é o autor de Trem do Sertão, uma das mais belas músicas do cancioneiro brasileiro. 

"O forró do poeirão é uma oportunidade de fazermos um grande encontro, confraternização de amigos e amantes da boa música e valorizar nosso forró, xote e baião".

As camisas custam R$ 25 e darão direito a entrada do evento. Contatos: 71 994066714
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SUÍTE NORDESTINA. NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA

O IPHAN recebeu o pedido para transformar o Forró em Patrimônio Imaterial do Brasil. Mesmo que o órgão não consiga prosseguir, depois falarei sobre isso, independente de qualquer querer das elites, o forró é a música patrimonial do Brasil. E todos sabemos que o Brasil não é só samba, sertanejo, axé e funk. 

O Brasil é verdadeiramente uma grande sala de chão batido, uma sala de reboco, com folhas de eucalipto espalhadas e lá no canto da parede um trio tocando sanfona, triângulo e melê. Quem não souber o que é um melê, procure saber, forrozeiro não é.

A juventude forrozeira tem como base para seu gosto, geralmente, os acordes de Luiz Gonzaga, as sincopadas de Jackson, a genialidade de Dominguinhos e a leveza de Sivuca. De vez em quando adentram no universo dos trios e têm no Trio Nordestino a voz das vozes de Lindú; entram pelo swing de Os Três do Nordeste, com Parafuso rodopiando assustadoramente; entranham-se pelo Trio Mossoró, com a identidade mais sertaneja de João Mossoró; alguns distanciam-se um pouco mais no tempo e chegam ao Trio Nagô ou ao Trio Marayá.

Mas quero trazer para os amantes da arte forrozal quatro pilares para nossa sala. Não sei mais qual foi o ano no qual estreamos na Rádio Serrana de Araruna, ZYI 692, AM 590, aos domingos, entre 6 e 9 das manhãs paraibanas. Éramos três a escrever o Suíte Nordestina: Ney Vital Guedes, Pedro Freire e eu. Depois veio Ednaldo da Silva, o Dina. Procurávamos não ficar na mesmice e vivíamos a vasculhar as feiras do brejo em busca de discos de artistas anônimos e outros que não chegavam em nosso cidade. Os sebos de Campina Grande e João Pessoa eram vasculhados, visita a amigos da zona rural, era uma caçada épica. No repertório dos discos de vinil tocávamos não os carros chefes, mas músicas de boa qualidade escondidas nas 12 faixas tradicionais.

Nessas buscas encontramos o magnífico Azulão. A primeira canção do mestre de Caruaru que toquei no rádio foi Apanhadeira de Café, de Brito Lucena e Azulão. Uma marchinha que eu ouvia de Xuxu, um vizinho que, quando bebia, a cantava com uma emoção de doer o peito da gente. De Azulão a Jair Alves, cognominado O Barão do Baião, foi um pulo. 

Comprei o disco em Remígio e corri pra casa para ouvir. Chamou-me atenção o baião Aproveita a Maré, de Valdrido Silva e Humberto de Carvalho. Quando ouvi fiquei meio aéreo com um baião que não falava de seca, nem de amor perdido, mas do mar, das sereias e seus cantos. A eles, certa vez, juntou-se Assisão, que tempos depois viraria febre nas rádios com Eu Fiz Uma Fogueirinha. Mas Sebastião do Rojão foi quem surpreendeu-me com canções que iam entre o baião e o bolero, entre o rojão e a dor de cotovelo. Foram os quatro cavaleiros durante um bom tempo em minha radiola Aiko e nas ondas da Rádio Serrana, no Suíte Nordestina.

Fonte: Aderaldo Luciano-professor Doutor em Ciência da Literatura
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EXU, PERNAMBUCO: FAZENDA ARARIPE-150 ANOS

Em 2018, o povoado do Araripe vai completar 150 anos. A professora e escritora Thereza Oldam é conhecedora dos episódios e sentimentos que nortearam a criação, o desenvolvimento e a consolidação do território exuense. Desde a época da colonização, quando a região ainda era habitada pelos índios Ançus, do tronco da nação Cariri. Passando pela chegada de seu fundador Leonel de Alencar Rego, até os dias atuais.

A professora escreveu no ano de 1968, uma apresentação para o disco Luiz Gonzaga-São João do Araripe. Escreveu Thereza Oldam: "O Povoado do Araripe, tantas vezes cantado pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, é o desdobramento da Antiga Fazenda do Barão de Exu. Domina-o até os dias atuais, a Casa Grande. de estilo Colonial e a Capela de São João Batista. O Povoado do Araripe, está situado à margem esquerda do Rio Brígida, próximo da Fazenda Caiçara, berço de Barbara de Alencar.

Para os descendentes direto dos primeiros povoadores, o São João do Araripe é único. É o culto das suas melhores tradições. Anualmente, os festejos juninos são um pretexto para a confraternização, pois no calor da fogueira, comendo milho assado, discutem política, exaltam os seus herois, choram seus mortos e pedem aos céus a oportunidade de voltar sempre, sempre ao Araripe.

Ali, no Araripe aprenderam a venerar São João Batista, ouvindo vozez de Sinhazinha e Nora, ecoando o coro da Capela. Quem dos seus desconhece o Barão do Exu, Sinhô Aires, Neném de João Moreira, Santana de Januário, Dona de Seu Sete. Qual dos seus meninos não sentiu o irresistível desejo de puxar a corda do sino da igreja?

O Povoado do Araripe é um santuário de fraternidade do presente com o passado. Seu fundador deu-lhe a fidalguia e tradição e um seu filho deu-lhe a melodia do baião, este filho é Luiz Gonzaga.

Luiz Gonzaga nasceu no Araripe e ai sempre viveu! Ninguém melhor do que ele preservou as suas tradições e podemos afirmar que Luiz Gonzaga é a encarnação do Araripe, no amor que dedica á sua terra, na exaltação de sua gente. 

Ainda menino, Luiz Gonzaga, correu por aqueles patamares, gritando o bode ou tocando forró, crepitava em seu peito a ternura do Araripe, sem saber porque. Era a voz de um pássaro, os costumes do sertão, a beleza das coisas...e fugiu...fugiu porque seu coração não comportaria aquele grito da alma. Era a voz da terra. Era a arte. 

E a arte explodiu: surgiu o artista, o Rei do Baião, o filho de Januário e Santana, o cantor do Araripe. E hoje (1968), ocasião de seu Centenário, o Povoado do Araripe recebe comovido a homenagem de Luiz Gonzaga. É uma mensagem de arte e de amor: da arte que nasceu dele e não cabe nele, do amor que o torna maior fazendo os outros felizes.

O Araripe pede a Deus para seu filho a eternidade da arte que o persegue.

Fonte: Professora e escritora Thereza Oldam, Exu, Pernambuco, 20 de fevereiro de 1968
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EXU, PERNAMBUCO: FAZENDA ARARIPE MARCA A VIDA DE LUIZ GONZAGA

Carros do Mato Grosso do Sul, Tocantins, Piauí, Ceará, Maranhão, Goiás, São Paulo, Espírito Santo e vários outros cantos do Brasil se dirigiram, para uma fazenda emblemática em Exu, no Sertão de Pernambuco, a Araripe. É que ela ainda guarda construções que marcaram a vida de Luiz Gonzaga, como casas nas quais viveram os pais Januário e Santana, a Igreja de São João Batista, a residência do Barão de Exu. Um monumento ainda mostra o local onde nasceu a criança que se tornaria o Rei do Baião, há exatos 105 anos.

A Fazenda Araripe fica a 12 quilômetros de Exu. Envolta de caatinga seca, distante 800 metros da entrada do terreno, leva ao local onde Luiz Gonzaga nasceu, no dia 13 de dezembro de 1912. Era dia de Santa Luzia, mês do Natal, nascimento de Jesus. Daí a explicação do nome escolhido para o caboclinho, Luiz Gonzaga do Nascimento, segundo filho do sanfoneiro Januário e da agricultora Santana. O padre que batizou o menino sugeriu chamá-lo de Luiz por ter nascido no dia de Santa Luzia; Gonzaga porque o nome completo de São Luiz era Luiz Gonzaga; e nascimento, porque dezembro é o mês do nascimento de Jesus.

Ao entrar na única "rua" da Fazenda, com poucas casas em cada lado da via, uma de cor lilás chama atenção. O movimento é tão grande lá dentro quanto nas calçadas, cheias de turistas. Ali viveu Chiquinha Gonzaga, irmã do velho Lua. Hoje, é dona Raimunda de Souza, quem habita o lugar, mais duas filhas e dois netos.

Ela fala, bastante orgulhosa, que seu pai, Jesus de Souza, era primo de Januário. Naquela época, primo de pai era tido como tio. E Santana foi madrinha dela. "Se eles eram boas pessoas? Ave Maria, demais. Eles tinham muita consideração por nós, um povo bom mesmo", lembrou dona Raimunda, monstrando as fotos dos célebres parentes penduradas nas paredes de reboco.

Agora, a lembrança que não sai da mente dela é a da chegada de Gonzagão, em 1946, após anos no Rio de Janeiro. Prestes a completar 18 anos, Luiz fugiu de casa após desavença com a a mãe para o Crato, no Ceará, onde ingressou no Exército. Pulou de quartel em quartel pelo Brasil, até chegar na capital carioca, onde também iniciou sua carreira artística, tocando sanfona. Só quando ingressou na gravadora RCA e tocou no rádio, considerou-se um artista "de verdade". Então, achou que era hora de regressar a Exu.

"Eu lembro como se fosse hoje. Tinha uns 13 anos. Luiz chegou. Eu tava na roça e mãe me buscou, dizendo que era para eu me arrumar. Fui na casa dele, fui apresentada a ele, que tava todo vestido de branco, sentado em um banco de [madeira] bodocó e a sanfona. Foi festa o dia todinho. Só de pensar que ele morreu, encho os olhos de água. Apesar de ser rei, ele tratava todo mundo igual", contou dona Raimunda. 

A cena de Luiz Gonzaga voltando para Exu já era famosa por causa da abertura da música "Respeita Januário", onde o sanfoneiro descreve o retorno. Muita gente também conheceu essa passagem por meio do filme "Gonzaga - De Pai Para Filho", de Breno Silveira. A casa de Januário ainda está na Fazenda Araripe, pintada de amarelo. Muita gente posa para fotos lá.

Os visitantes também registram imagens do casarão do Barão de Exu, que era dono das terras onde a cidade nasceria, no século 19. Ele também construiu a Igreja de São João Bastista, onde os restos mortais dele estão enterrados. A Igreja, inclusive, inspirou Luiz Gonzaga na canção "São João do Carneirinho". No terreno, ainda é possível ver a casa construída para Januário viver a partir de 1951. Hoje, o local é um restaurante.
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