Dominguinhos, o discípulo que inovou a arte do Mestre Luiz Gonzaga

No Nordeste a tradição das 18h é a família escutar a hora do Angelus. E foi nesta hora Divina que Dominguinhos morreu! Um descanso para quem lutou mais de 6 anos para sobreviver a um câncer no pulmão.

Neste Brasil de memória curta e por vezes muito injusta escrevo aqui que Dominguinhos foi o discipulo de Luiz Gonzaga que superou o Mestre.

Dominguinhos, nascido em Garanhuns,  dia 12 de fevereiro, no  agreste de Pernambuco continuará sendo um dos mais importantes e completos músicos, instrumentistas, tocador de sanfona. É imortal em discos, DVD e milhares de entrevistas por este Brasil afora.

Filho de Chicão, afinador de sanfona de 8 baixos e de Dona Maria soube também guardar a honra e gratidão de ter “aprendido umas lições” de Luiz Gonzaga, Rei do Baião, que um dia anunciou ser o Dominguinhos o seu mais legitimo seguidor, o verdadeiro herdeiro musical.
Dominguinhos e seu talento de tocar sanfona agradava as mais variadas plateias, indo do jazz aos dançadores do forró pé de serra. Dominguinhos sempre um sorriso para os amigos e humildade, genialidade ao tocar  sanfona respeitando os 8 baixos de Januário, pai de Luiz Gonzaga e de seu pai Chicão.

Dominguinhos sempre teve o compromisso com nossas raízes. Saudade da fala cadenciada como a toada do aboiador. Saudade do olhar triste, de um carinho e atenção que conquistava a todos no primeiro aperto de mão e da voz quente quando tocava e cantava. Dominguinhos tornou-se um cantador que melhor soube interpretar a alma brasileira e vive na boca do povo, no puxado da sanfona em todos os recantos desse Brasil.

Visitei recentemente Garanhuns, lugar onde nasceu Dominguinhos e numa  conversa com o prefeito Izaias Regis, a Secretaria de Comunicação Jaqueline Menezes e professor Antonio Vilela, ouvi deles o compromisso da realização do II Festival Viva Dominguinhos, dia 30 de abril, 01 e 02 de Maio.

O Festival é importante para reunir jornalistas, pesquisadores, professores,  estudantes, crianças, jovens e adultos  para discutir a Política Cultural no mundo globalizado e mais uma oportunidade de Garanhuns atrair desenvolvimento econômico e social.
Garanhuns nesse sentido vai consolidar um calendário que será um dos principais acontecimentos do Nordeste.  Garanhuns firma com o Festival Viva Dominguinhos o incentivo e valorização da cultura e arte, um festival ancorado na alma e no profissionalismo do filho mais ilustre da música brasileira.

Garanhuns abastecerá todo o Brasil, Estado, através da impressionante riqueza de ritmos e artes, do cordel aos cantadores de viola, do aboio ao frevo, do armorial ao maracatu, do baião ao xote e xaxado,  as múltiplas variações da música nordestina/brasileira presentes na sanfona, triangulo e zabumba, “uma autêntica orquestra”, na definição de Luiz Gonzaga.

O professor paraibano, radicado no Rio de Janeiro, Aderaldo Luciano, sempre me lembrou que Luiz Gonzaga foi pedra angular, referência -mor do forró, mas o Rei do Baião, não trilhava sozinho. Havia por trás de si, uma constelação de compositores, músicos, além de profícuos conhecedores do seu trabalho, amigos talhados de sol, nascidos do barro vermelho, com almas tatuadas por xique-xiques e mandacarus.

E por isto Garanhuns é o local apropriado para ser o palco capaz de reunir milhares de admiradores, com sede e fome de ouvir, cantar, silenciar, transformar e aplaudir em noites e nuances do céu estrelado sanfonado do mestre Dominguinhos, o discípulo que inovou a arte do mestre Luiz Gonzaga.

Garanhuns vai proporcionar com o Festival Viva Dominguinhos a oportunidade de conhecermos e ampliar o debate sobre compositores, músicos, artistas que sabem divisar o Cruzeiro do Sul do Sete Estrelo e muito além disso discutir e como lidar com a máquina capitalista avassaladora dominante hoje da “indústria musical”.

Dominguinhos Vive. Garanhuns é agora um pedaço de terra de todos nós brasileiros. Dominguinhos, qual Luiz Gonzaga tornou-se uma estrela luminosa a brilhar. Como disse Fernando Pessoa, “quem, morrendo, deixa escrito um belo verso, deixou mais ricos os céus e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente”.

Viva Garanhuns. Viva o Nordeste. Viva Petrucio Amorim, Xico Bizerra, Três do Nordeste, Jorge de Altinho, Elba Ramalho, Anastácia, Paulo Vanderley, Luiz Ceará,  Quinteto Violado, Flávio Leandro, Cezinha, Flávio José, Viva o Fole de Oito Baixos, Targino Gondim... Viva o Festival Dominguinhos.
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Raymundo Mello: Cipó, Magá e Irandi

O Governo do Estado anuncia a reinauguração do Estádio Lourival Baptista, o famoso “Batistão”, para o próximo dia 4 de fevereiro, com um jogo entre Confiança e Vitória-BA pela Copa do Nordeste. Ótimo! Esse retorno de atividades esportivas na agora “Arena Lourival Baptista” está sendo esperado com tanto interesse e expectativa, ou mais, talvez, do que na ocasião de inauguração do “Batistão”, em 09/07/1969.

Pena que desta vez não teremos a Seleção Brasileira, aquela que ganhou o tricampeonato mundial em 1970, nem Luiz Gonzaga e Hugo Costa, homenageando com um hino especial o estádio, onde, “enquanto os craques jogavam bola as crianças davam lição... nosso estádio tinha escola...”

Já escrevi e publiquei algumas memórias falando sobre o estádio, seu bravo Administrador (José Carvalho), à época, e outras lembranças dignas de nota.

Para não perder a oportunidade que o fato está nos oferecendo, e lembrando alguns eventos ali ocorridos e personagens de sua história, recorri a meus modestos arquivos-registro e localizei no Tabloide do “Portuga” n.º 01, edição de 27/09/2012, o texto que adiante reproduzo.

Um registro-memória, a meu ver, de grande valor, bem escrito, pois seu autor é mais competente do que eu, é Antropólogo, e usou uma linguagem de quem sabe o que escreve. Assim, com a licença de meu filho, Ray Mello, repasso o texto, memória inesquecível, inclusive, para nosso radialista esportivo maior, Carlos Magalhães (posso chamá-lo de Magá que ele não se incomoda), a quem abraço de coração, contando ouvi-lo na festa esportiva de 4 de fevereiro de 2015.

                                                                      * * * * *
O lance que eu não esqueço!
Acostumei-me, desde cedo, a gostar de futebol. Semanalmente ia aos estádios, aos domingos à tarde e às quartas à noite, em companhia do meu pai, Raymundo Mello; algumas vezes, minha mãe nos acompanhava, principalmente em jogos que íamos no interior – nos estádios “Presidente Médici” (Itabaiana), “da Vila Operária” e “do Cruzeiro” (Estância), “Paulo Barreto” (Lagarto), “José Neto” e “Constantino Tavares” (Propriá) e “Gonçalo Prado” (Maruim). 

Torcia, interagia com torcedores, comentava os lances e outras situações pertinentes aos jogos, comia alguns “petiscos” típicos dos campos de futebol, enfim, participava ativamente de tudo. E sempre de radinho “colado” no ouvido, acompanhando as narrações, os comentários e as reportagens dos jogos.
Certa noite de quarta – era eu ainda criança – o famoso “Alianza Lima”, clube peruano de grande porte, veio jogar em Aracaju, no Batistão, com o Club Sportivo Sergipe. Lá estávamos nós... uma partida imperdível.

Lembro que nos acomodamos no meio da parte coberta da arquibancada, mais ao sul. O Sergipe jogava bem, “tocava bem a bola”, enfrentava o Alianza de igual para igual. E eu ali, olhos fixos no gramado; a localização privilegiada me permitia ver o jogo com nitidez. E a audição atenta à narração.

Certa altura do jogo, não me lembro o tempo exato (penso que já passava dos 30 minutos do 1.º tempo), um lance precioso do ataque do Sergipe... era 1 a 0 para o “Vermelhinho”; o estádio ficou uma vibração só. Eu, de pé, braços erguidos, festejei fervorosamente o lance, pulando e abraçando o meu pai.

Mas, além da beleza da jogada que resultou no gol, a narrativa me chamou a atenção, aliás, me chama até hoje. E olha que ouço futebol pelo rádio praticamente durante toda a minha vida. Fiquei impressionado com a “complementação do lance”, na linguagem radiofônica, uma sucinta descrição da jogada, após o grito de gol do narrador, comumente feita por um radialista postado próximo ao gramado que, à época, era chamado de “fundo de gol”.

“Preparou, vai marcar, chuuutaa! Gooooooooool !!! Um gol da maestria brasileira! Cipó! Com afeto e com carinho, com açúcar para completar... o Sergipe inaugura o marcador!” – vibrou Carlos Magalhães com voz forte e palavras poéticas, marcas indeléveis de sua locução.

Logo após, o momento mágico, o complemento do lance. À época, na equipe da Rádio Cultura, o “fundo de gol” do lado do placar do Batistão era sempre Irandi Santos.
“Jogada sensacional de Rocha que lançou a Cipó. Cipó fechou, levou o jogo todo para o meio de campo... Gonzalez foi na jogada, ele abriu, e quando Salinas descobriu o ângulo, ele, de pé direito, a meia altura fulminou, vencendo, assim, a perícia do ‘goalkeeper’ peruano. 1 para o Sergipe, zero para o Alianza. Cipó!”.

O Sergipe perdeu o jogo. No segundo tempo, o Alianza, time mais bem preparado, voltou mais forte, acabou fazendo um gol logo no início e depois virou o placar – 2 a 1. Magalhães e Irandi lembram do jogo mas não das palavras com que narraram o lance que eu, tanto tempo depois, “narrei” pra eles. Magalhães, há uns 10 anos, no Bar do Geraldo (ao lado do Ginásio de Esportes Constâncio Vieira); Irandi, encontrei há uns 2 anos, rapidamente, em Itabaiana. Ele ouviu, sorriu, ficou emocionado, me abraçou com seu jeito sempre educado, voz suave de tom moderado. Irandi, por muitos anos, muitos, animava as tardes na Rádio Cultura, a partir das 14 horas, com um programa musical recheado de variedades, por ele produzido e apresentado.

 Das 17 em diante, o estilo era o cancioneiro mais romântico e o clichê “Ao cair da tarde” soava macio na sua voz; fechava magistralmente a tarde apresentando, às 18, “a Hora da Ave Maria”, anunciada como “uma página da Professora Lindalva Cardoso Dantas, na voz de Irandi Santos”. Uma voz, sem dúvida, inconfundível. Anos depois, Irandi parou de fazer o “fundo de gol”, depois saiu da Cultura, foi trabalhar em Itabaiana, onde está até hoje.

Eu continuo ouvindo futebol no rádio. Vez por outra, lembro-me daquele lance. Um lance que, com certeza, não vou esquecer, pelo que representou para a criança torcedora que eu era e pela plasticidade da complementação de Irandi – um jogo de palavras que se harmonizaram, uma construção rápida de sentenças que me permitem, hoje, fechar os olhos, transladar-me mentalmente para aquela noite enluarada no Batistão e conseguir “ver” aquele gol belíssimo do Cipó, tão bem descrito por Irandi Santos, o melhor “fundo de gol” que já ouvi. 

É certo que o leitor não conseguirá, por estas palavras, sentir a mesma emoção. Sensação é algo inerente a cada ser, próprio das experiências vividas. Mas, enfim, este é o lance que eu não esqueço...

                                                                 * * * * *
P.S. – O competente Radialista e Professor Vilder Santos, leitor do Jornal do Dia, vai aplaudir este registro. Tenho certeza que em suas anotações constam dados precisos sobre esta partida e que ele lembra bem a narração vibrante do Magá.

* Raymundo Mello é Memorialista
raymundopmello@yahoo.com.br
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Iguatu, Ceará: Janeiro 100 anos do Doutor do Baião, Humberto Teixeira





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Pedro Bial e Aderaldo Luciano abrem edição 2015 do Projeto Mar de Culturas

A primeira edição de 2015 do Mar de Culturas  ̶̶  projeto que abre espaço para temas relacionados ao cotidiano do Rio e do Grande Rio  ̶̶  mergulha na literatura com o tema “A poesia popular: verso ou reverso?”. Os convidados Pedro Bial e Aderaldo Luciano discutem o assunto na quinta-feira, dia 15 de janeiro, no Quiosque da Globo, em Copacabana.

Jornalista, apresentador de TV, escritor e cineasta, Pedro Bial vai debater a difusão da poesia e a valorização da literatura popular com o professor,  músico e poeta Aderaldo Luciano, também pesquisador da literatura de cordel e de manifestações poéticas populares do Brasil, e autor do livro “Apontamentos para uma história crítica do Cordel brasileiro”.

 Mar de Culturas
Data: 15 de janeiro (quinta-feira)
Local: Quiosque da Globo – Praia de Copacabana (altura da Rua Miguel Lemos)
Horário: 19h às 20h
Convidados: Pedro Bial e Aderaldo Luciano
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As mais duras tiranias e toda forma de fundamentalismo combate primeiramente o humor, a alegria

Fonte: Jornal do Commercio/Facebook Adriano de Leon
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Show Humbertos será apresentado em Iguatu, dia 25 de janeiro

No próximo dia 25 de janeiro, a cidade de Iguatu, Ceará, receberá o show musical Humbertos. O espetáculo faz uma homenagem ao compositor cearense Humberto Teixeira, nascido em 5 de janeiro de 1915, considerado  principal compositor de Luiz Gonzaga.

O show Humbertos é apresentado pela Caravana Cearense do Baião. Os músicos levam os encantos e a beleza do baião, ritmo que assumiu caráter de movimento cultural brasileiro e se destacou no mundo inteiro na década de 40. A proposta além de apresentar as canções com arranjos originais o grupo resolveu ousar e reinventar as canções tão famosas no mundo inteiro.

"Algumas canções vêm em ritmos mais contemporâneos é uma forma que buscarmos assimilar as novas gerações que a música se renova e se reinventa, essa circulação por meio do projeto Caravana Cearense do Baião é uma forma de remontar o projeto que o próprio Humberto desenvolveu enquanto Deputado Federal de levar músicos para fora do Brasil", diz Michel Prudêncio idealizador do projeto.

As canções de protesto e de saudade presentes no show são apresentadas em reggae, rock, blues, valsas e xote e baião, a pesquisa do projeto foi feita a partir de documentos iconográficos e áudios presentes no Museu da Imagem e do Som em Iguatu.

O projeto de circulação tem o apoio cultural do Governo do Estado do Ceará por meio do Edital Incentivo as Artes 2014 da Secretaria Estadual da Cultura, com entrada gratuita.

Fonte: Facebook/Michel Prudencio
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Diário do Nordeste: Ano 2015 começa com a lembrança dos 100 anos de nascimento de Humberto Teixeira, o doutor do Baião

O ano de 2015 começa com uma lembrança singular para a cultura cearense: esta segunda, 5 de janeiro, é marcada pela recordação dos 100 anos de nascimento do poeta e compositor Humberto Teixeira. Nascido em Iguatu (Centro-Sul do estado), em 1915, o parceiro mais célebre de Luiz Gonzaga viveu 64 anos, falecendo na cidade do Rio de Janeiro no dia 3 de outubro de 1979. Seu corpo está sepultado no cemitério São João Batista, em Botafogo (zona sul carioca).

No passo da trajetória de vida do cearense que também fora advogado e deputado federal, o Diário do Nordeste apurou um olhar local sobre a memória de Humberto. Compositores e pesquisadores abordam a sagacidade intelectual daquele que ficara reconhecido internacionalmente como o "Doutor do Baião". E segundo a cinebiografia "O Homem que engarrafava nuvens" (2009), daquele que em vida fora um "estranho" para a própria filha, Denise Dummont - algo que revela as multifacetas de seu centenário.

Humberto Cavalcanti de Albuquerque Teixeira foi filho de João Euclides Teixeira e Lucíola Cavalcanti de Albuquerque Teixeira. Começou, cedo, a se interessar por música. "Eu toco um pianozinho pra mim, mas num me aventuro a mostrar nem nada, mas minha vontade de início em música era ter estudado piano. Depois da flauta eu estudei também bandolim. É um instrumento que cheguei a tocar lá em Iguatu", disse o próprio, em depoimento ao memorialista Nirez, quase dois anos antes de falecer.

Na década de 30, migrou para o Rio de Janeiro a fim de estudar Medicina e se profissionalizar na composição, mas acabou formando-se como advogado. Sua atuação jurídica estendeu-se à política, tornando-se deputado federal e defendendo a causa dos direitos autorais. Além de deputado, Humberto foi diretor da União Brasileira de Compositores (UBC).

 Em 1945, conheceu Luiz Gonzaga, procurado pelo sanfoneiro - que andava atrás de um parceiro hábil na composição das letras. A parceria despontou: a partir daí, o baião fez sucesso sintetizando vários ritmos regionais, através de canções como "Baião", "Asa Branca", "Juazeiro", "Assum Preto", "Que Nem Jiló" e "No meu pé-de-serra". Com Lauro Maia, de quem também foi cunhado, compôs "Deus me perdoe".

E ainda fez, sozinho, músicas como "Kalu" e a "Sinfonia do Café". "Pra mim, ele tornou natural se falar do universo nordestino com uma poesia tão elevada. Falava de objetos simples, mas de uma maneira muito sofisticada", resume o poeta e arquiteto Fausto Nilo que, a exemplo de Humberto, fez carreira musical tomando a responsabilidade de compor para parceiros instrumentistas. Para Fausto, a história do Doutor do Baião precisa ser explorada para além "do viés de Luiz Gonzaga". "Ele não era como eu, só letrista. Ele era letrista e músico, tocava piano. Aqui em Fortaleza ele tocou em banda de cinema. No Rio, ele já tinha várias músicas gravadas antes de conhecer Gonzaga", pontua.

Também adepto do viés "humbertiano", o produtor Calé Alencar conta mais da faceta musical do iguatuense. Em 2004, Calé fez um samba-enredo para o bloco Fuxico do Mexe-mexe, do Carnaval de Fortaleza, com o nome "Humberto Teixeira: o Doutor do Baião".

"Ele tocou como músico, de forma muito íntima. Não se projetou profissionalmente, mas usava todo esse cabedal pra compor. Pra você ter ideia, ele teve um desafio sobre o tema do café, e fez uma música super elaborada (Sinfonia do Café), impressionando Eleazar de Carvalho (também iguatuense), que foi um dos maestros mais brilhantes do mundo", conta.

Calé opina que Humberto Teixeira teria um patamar de relevância para a música mundial. "A visibilidade para Gonzaga foi realmente muito maior. Mas Humberto, como inventor do baião, é um dos maiores compositores do mundo", destaca. A envergadura posiciona Humberto Teixeira em uma situação que vai bem além da fama (atrelada, quase sempre, à figura de Gonzaga).

Parceiro de Cícero Nunes, Lauro Maia, entre outros, o iguatuense também influenciou a "poética" de figurões da MPB. "O Caetano Veloso gravou 'Kalu' no 'Totalmente Demais' (1986), disco que vendeu muito. Vejo muitas coisas na obra do Caetano que são humbertianas. Uma das estrofes de 'Terra' (de Caetano) foi inspirada em 'Paraíba' (de Humberto)", assegura Calé Alencar. Na memória do compositor Fausto Nilo, a atuação de Humberto Teixeira toma uma proporção de modo que o iguatuense chega às lembranças não só pela música.

"Pela década de 50, lá em Quixeramobim, o Humberto apareceu fazendo um pequeno discurso pela campanha dele (a deputado federal). Eles distribuíram um livreto, com as letras de grande parte dos sucessos da parceria com Luiz Gonzaga. Tinha foto dele em Iguatu. E eu nunca o tinha visto pessoalmente. Antes, tinha informação de autores porque na casa de meu avô tinha discos. Só conhecia Humberto Teixeira nesse sentido", revela.

Fonte: Diário do Nordeste/Felipe Gurgel
Especial para o Caderno 3
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