JOQUINHA GONZAGA LANÇA EP 50 ANOS DE FORRÓ E TRADIÇÃO

Joquinha Gonzaga completou no dia (01) de abril, 73 anos, (né mentira não!) de nascimento. Ele é neto do tocador de oito baixos Januário e sobrinho de Luiz Gonzaga, Rei do Baião. João Januário Maciel, o Joquinha Gonzaga é hoje um dos poucos descendentes vivos da família. Dos nove filhos de Santana e Januário, todos eles, ja "partiram para o Sertão da Eternidade".

Nesta sexta-feira, 26 de setembro de 2025, a data se faz mais especial, Joquinha Gonzaga lança nas plataformas digitais o EP (com cinco músicas), 50 anos de Forró e Tradição. 

Joquinha Gonzaga além de tocar sanfona de 120 baixos,  é tocador de sanfona de 8 baixos, um instrumento quase em extinção no cenário cultural brasileiro. No repertório do cantor e sanfoneiro, ao lado do tio Luiz Gonzaga, o sanfoneiro Joquinha cantou em dueto a música "Dá licença prá mais um". Joquinha Gonzaga reside atualmente em Exu, Pernambuco. 

Não oficialmente, Joquinha Gonzaga é um Patrimônio Vivo da Cultura. Além de sobrinho do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, Joquinha é neto de Januário (tocador de 8 Baixos) e ainda tem como tios o Mestre da Sanfona, Zé Gonzaga, Chiquinha Gonzaga (tocadora de sanfona 8 Baixos), Severino Januário e primo do saudoso Gonzaguinha.

Contato para shows de Joquinha Gonzaga: (87) 9 99955829 e (87) 9 96770618-Sara Gonzaga.

TRAJETÓRIA: Em 1986, gravou o seu primeiro disco, “Forró cheiro e chamego”, pela gravadora Top Tape. Na sequência, foi convidado por seu tio, Luiz Gonzaga, a integrar uma turnê à França. 

Em 1988, participou do disco “Aí Tem…”, de Luiz Gonzaga, na faixa “Dá licença pra mais um”. 

Em 1989, gravou um disco com composições de seu tio, pela gravadora Copacabana. 

Em 1990, lançou mais um álbum, “É só remexer”, novamente pela Copacabana. 

No início dos anos 1990, atuou em shows e participou de eventos tradicionais como a Missa do Vaqueiro de Serrita, preservando a memória de Luiz Gonzaga. 

Em 1993, lançou o LP “Sobrinho de Gonzagão e neto de Januário”, pela Somari, obtendo divulgação nacional. 

Em 1996, lançou o álbum “Raiz e tradição”, que trouxe participações de Alcimar Monteiro, Joãozinho do Exu e Maída. 

No ano seguinte, lançou mais um disco, “Cara e coração”, pela Ingazeira Discos, e com produção de Alcymar Monteiro. O CD apresentou músicas de compositores como João Silva e Dijesus, além dele próprio.  

No mesmo ano, realizou participação especial em um álbum de Dominguinhos, cantando a música “Tacacá”. 

Em 1998, ao lado de Oswaldinho do Acordeon e Daniel Gonzaga, participou do evento “Tributo a Luiz Gonzaga”, realizado em Nova York, nos EUA, para um público de 10 mil pessoas.

Em 2000, lançou mais um disco de carreira, dessa vez de forma independente, “Mala e cuia”, que teve participação especial de Daniel Gonzaga na faixa “Espelhos das Águas do Itamaragy”. 

Em 2003, realizou participação especial no disco “Na varanda do Rei”, de Flavio Baião, na faixa “São João Tradição”. 

Em 2004, lançou o CD “Sanfoneiro da serra do Araripe”, também de forma independente. O disco trouxe uma gravação de Luiz Gonzaga de 1988, em que o apresentou como herdeiro musical da família e perpetuador do baião. 

Em 2005, realizou participação especial no disco “Forroboxote 4”, de Xico Bizerra, cantando a faixa “Toró de alegria”. 

Em 2006, lançou o disco “Contos e causos do Gonzagão”, em que apresentou três causos que presenciou nas viagens que realizou ao lado de seu tio. 

No mesmo ano, participou do disco de Chiquinha Gonzaga “Oito e oitenta”, interpretando a faixa “Sabino”. 

Em 2007, realizou participação especial no disco “Forroboxote 7”, de Xico Bizerra, cantando a música “Jorge da Lua”. 

No mesmo ano, realizou participação especial no disco “Achando bom!!!”, de Targino Gondim, cantando a música “Começo de namoro”. 

Em 2012, realizou participação na coleção tripla de CDs “Pernambuco forrozando para o mundo – Viva Dominguinhos!!!”, produzida por Fábio Cabral, cantando, ao lado de Dominguinhos,  a música “Retrato do nordeste”, de sua autoria com Zé Peixoto e Dijesus. 

A coletânea trouxe forrós diversos, interpretados por 48 artistas, e que fazem referência aos 50 anos de carreira do seu inspirador, Dominguinhos. Interpretando músicas de compositores em sua grande maioria pernambucanos, fizeram parte do projeto também artistas como Acioly Neto, Adelzon Viana, Dudu do Acordeon, Elba Ramalho, Jorge de Altinho, Irah Caldeira, Liv Moraes, Petrúcio Amorim, Geraldo Maia, Sandro Haick, Spok, Jefferson Gonçalves, Chambinho, Hebert Lucena, Maciel Melo, Luizinho Calixto, Silvério Pessoa, Walmir Silva, entre outros, além do próprio Dominguinhos.

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PESQUISA MOSTRA AVANÇO EM SALAS DE AULA COM PROIBIÇÃO DE CELULARES

Uma pesquisa realizada pela Frente Parlamentar Mista da Educação, em parceria com o Equidade.info, iniciativa do Lemann Center da Stanford Graduate School of Education, revelou que 83% dos estudantes brasileiros têm prestado mais atenção nas aulas depois da restrição ao uso de celulares em salas de aula.

A percepção de impacto positivo é maior nos anos iniciais do Ensino Fundamental I, com 88% afirmando prestar mais atenção nas aulas. No Ensino Médio, 70% disseram perceber mudanças para melhor sem os celulares.

O estudo mostra, também, que 77% dos gestores e 65% dos professores relataram diminuição do bullying virtual dentro das escolas. Entre os alunos, entretanto, apenas 41% afirmaram sentir essa mudança, o que sugere que parte dos conflitos pode não estar sendo reportado pelos estudantes ou percebido por professores e gestores escolares.

Segundo os dados do levantamento, 44% dos alunos disseram sentir mais tédio durante os intervalos e os recreios. Esses números são mais elevados entre estudantes do Ensino Fundamental I (47%) e do período matutino (46%). Além disso, 49% dos professores relataram aumento de ansiedade entre os alunos com a ausência do uso do celular.

Em relação ao comportamento dos estudantes, o Nordeste aparece como destaque positivo, representando 87% dos avanços. O Centro-Oeste e o Sudeste são as regiões com o menor índice de melhora no ambiente escolar, com 82% indicando que a eficácia das medidas tende a variar segundo fatores regionais.

“Proteger nossos estudantes do uso do celular em sala de aula é garantir um ambiente mais saudável e focado no aprendizado. O resultado que vemos hoje é a confirmação de que a educação precisa ser prioridade, com políticas que cuidem do presente e preparem o futuro dos nossos jovens”, disse o presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, deputado Rafael Brito.

A presidente do Equidade.info, Claudia Costin, ressaltou que a pesquisa mostra avanços positivos no foco e na atenção dos alunos, mas as questões como tédio, ansiedade e bullying, ainda muito presentes entre os estudantes, indicam que ainda há desafios a serem enfrentados.

“Houve uma queda significativa no bullying virtual na visão dos gestores, mas é crucial ouvirmos os estudantes que ainda sentem o problema. Ou seja, a conclusão é que a restrição foi positiva, mas sozinha não basta: as escolas precisam criar alternativas de interação e estratégias específicas para cada idade", avalia.

Estratégias-Segundo o coordenador do Equidade.info e docente da Stanford Graduate School of Education, responsável pela pesquisa, Guilherme Lichand, os dados reforçam a necessidade de estratégias diferenciadas por faixa etária e rede de ensino, além do desenvolvimento de práticas pedagógicas que mantenham os estudantes engajados e promovam seu bem-estar mesmo sem o celular em sala de aula.

“Os resultados confirmam que a regulação do uso de celulares trouxe ganhos importantes para o aprendizado. Mais do que limitar o uso do telefone celular, a lei abre espaço para repensarmos como a escola se conecta com os alunos. O próximo passo é garantir que a aplicação da lei seja efetiva em todas as etapas, respeitando as particularidades de cada contexto escolar. Assim, conseguiremos transformar a medida em uma política duradoura, que una foco acadêmico e bem-estar dos estudantes”, enfatiza.

A lei que proíbe o uso de celular dentro das escolas pelos alunos foi sancionada em janeiro de 2025 após aprovação no Congresso Nacional.

O estudo ouviu 2.840 alunos, 348 professores e 201 gestores em escolas públicas municipais, estaduais e privadas de todas as regiões do país, entre maio e julho de 2025.

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GONZAGUINHA 80 ANOS. POR PAULO VANDERLEY

Gonzaguinha chega aos 80 anos neste 22 de setembro. Um dos artistas mais intensos da nossa música. Transformou sentimento em poesia, inquietude em contestação. Filho do Rei do Baião, sim. Mas também filho do morro, da luta, da palavra certeira, do afeto profundo. Viveu com coragem. Cantou o Brasil com firmeza e doçura. Fez da música um jeito de cuidar da gente.

Lembro dele chegando lá em casa, sentando no alpendre para conversar com painho sobre o sonho que carregava como missão: inaugurar o Museu do Gonzagão, em 1989. Eu tinha 9 anos. A gente morava em Exu, cidade natal de Gonzagão, numa época em que a infância seguia o destino do meu pai, gerente do Banco do Brasil.

Depois da partida de seu Luiz, Gonzaguinha vinha sempre a Exu. Se reunia com a comunidade, com a Maçonaria, com a prefeitura. Era toda uma articulação pra tocar o projeto pra frente. E de vez em quando aparecia lá em casa, ou encontrava meu pai no BB, pra conversar, ouvir, construir junto.

Até hoje mainha comenta: “quem me dera se naquele tempo já existisse celular”. Teríamos uma ruma de retratos.

Meses depois, na manhã de 13 de dezembro de 89, o museu foi inaugurado no Parque Aza Branca, ao lado da casa de seu Luiz. Na véspera teve forró arretado, com Dominguinhos, Elba, Fagner, Joquinha, Waldonys menino. O parabéns anunciado por Gonzaguinha foi emocionante. E o único registro em vídeo desse momento foi feito com a filmadora do meu pai, Paulo Marconi, que também gravou a inauguração.

Em 91 ele se foi. Foi muito duro pra todos nós. Cresci mergulhado nas suas canções. Na adolescência, trancado no quarto, ouvia suas lições de cidadania, coragem e afeto.

Em 1997, criei o site gonzaguinha.com.br. Um dos primeiros do Brasil dedicados a um artista. Feito no meu quarto, com todo carinho. Quase 30 anos depois, continuamos cuidando de uma influência que ajudou a formar tantos brasileiros.

Hoje seguimos trabalhando no livro que ele tanto merece, ajudando a manter viva sua memória.

“Eu acredito é na rapaziada, que segue em frente e segura o rojão.”

É mais que lembrar. É reconhecer o que se tornou parte do que sou.

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DIA DO NORDESTINO SERÁ COMEMORADA COM CANÇÕES DE LUIZ GONZAGA

No mês em que é celebrado nacionalmente o Dia do Nordestino (08 de outubro), Salvador ganha uma exposição gratuita inspirada nas canções de Luiz Gonzaga. "Sertão de Fé — a Fé Sertaneja nas Canções de Luiz Gonzaga" reúne gravuras produzidas pelo artista plástico Bi Morais, unindo ilustrações acompanhadas por textos em cordel, em cartaz entre 04 de outubro e 04 de novembro, no Espaço Uno (Rua da Ordem Terceira, 1, Pelourinho). 

Nela, o artista baiano convida o público a olhar para as gravuras que são ilustradas poeticamente pelos cordéis, retratando de forma visual e literária o diálogo entre fé e cultura nordestina sertaneja, notadamente existente nas canções de Luiz Gonzaga. As gravuras foram inspiradas no traço das xilogravuras e nas letras de canções de Gonzagão, onde a religiosidade do catolicismo popular é um tema comum. Através do cordel, são narradas as histórias e causos presentes nas gravuras, dando à mostra um caráter multiartístico. Para isso, o cordelista e músico Rodrigo Chianca foi convidado para compor esse projeto, que parte de uma pesquisa de Bi Morais, que é também músico forrozeiro, sobre a cultura sertaneja, as canções do Rei do Baião e a religiosidade popular. 

"Percebi a recorrência de alguns temas sempre presentes na obra de Gonzagão e uma deles é a religiosidade sertaneja. Através disso, eu comecei a criar desenhos baseados nas xilogravuras nordestinas, desenvolvendo e estudando um novo traço que remetesse às características presentes nas xilogravuras e ao mesmo tempo, tivesse uma identidade minha", destaca Bi, que recorreu às suas memórias afetivas com a vivência no sertão baiano, mais precisamente na cidade de Xique-Xique, na Bahia.

A abertura oficial acontece em uma vernissage gratuita no dia 04 de outubro, às 19h00, dia de São Francisco de Assis, santo que dá nome ao rio mais famoso da região. Este projeto foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar no 195, de 8 de julho de 2022.

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" A ARTE DE SER VAQUEIRO" É TEMA DO SHOW DE ALDY CARVALHO EM PETROLINA

Nos 130 anos de Petrolina, o cantador, poeta e violeiro ALDY CARVALHO, preparou um show memorável a ser realizado nesta quinta-feira,  dia 18 de setembro, às 20h, no CASARÃO - Centro de Petrolina, onde fará, também, o lançamento do seu livro A ARTE DE SER VAQUEIRO - um cordel ilustrado que exalta a bravura, a fé e a tradição nordestina.

A obra homenageia ZÉ DO MESTRE- vaqueiro de Salgueiro.

ALDY, que é petrolinense e radicado em São Paulo há várias décadas, não vê a hora de chegar quinta-feira, dia 18, para realizar essa proposta em Concerto Litéro Musical para amigos, convidados e povo em geral. " Estar em Petrolina é  gratidão e rever pessoas que marcaram minha trajetória artística, além do desenvolvimento dessa belíssima cidade, a quem tanto amo, é estar em transe constante. Me aguarde pois estou chegando!"

Além de ALDY CARVALHO, teremos a participação de vários artistas que comungam com a idéia do cantador nesse show/encontro imperdível!

Lembrando que ALDY CARVALHO tem mais um trunfo para comemorar. Ele foi indicado pela segunda vez a receber PRÊMIO DE RECONHECIMENTO ARTÍSTICO na Câmara Municipal de São Paulo, em cerimônia a ser realizada dia 24 de setembro.

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PADRE CICERO, A FÉ E A ECOLOGIA

Cícero Romão Batista nasceu em Crato, Ceará no dia 24 de março de 1844. Foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870. Celebrou a sua primeira missa em Juazeiro em 1871. No dia 11 de abril de 1872 fixou residência em Juazeiro do Norte Ceará. Padre Cícero faleceu no dia 20 de julho de 1934.

A jornalista Camila Holanda escreveu que nas entranhas do Cariri do Ceará foi emergido uma versatilidade de ícones que, entrelaçados povoam o imaginário cultural que habita a região.

Nas terras do Ceará a reportagem da REDEGN, ouviu uma das mais belas histórias: o então, professor, teatrólogo, pesquisador cultural Oswaldo Barroso, ressaltava um dos mais valiosos símbolos, a vigorosa força mítica e religiosa presente na figura do Padre Cícero. 

O saudoso Oswaldo Barroso, cidadão honorário de Juazeiro do Norte, dizia que a primeira vez que esteve no Cariri foi nos anos 70 e a experiência fez com que suas crenças e certezas de ateu fossem desconstruídas e reconstruídas com bases nos sentimentos das novas experiências e epifanias vividas.

"Desde o início, não acreditava em nada de Deus. Mas quando fiz a primeira viagem ao Horto do Juazeiro do Norte, foi que eu compreendi o que era Deus. Isso mudou minha vida completamente", revelou Oswaldo.

Um outra narrativa importante encontrada na mitologia dos Indios Kariris. Nela a região é tratada como sagrada, centro do mundo, onde no final dos tempos, vai abrir um portal que ligará o Cariri  para a dimensão do divino.

A estátua do Padre Cícero encontra-se no topo da Colina. Muitos romeiros percorrem a Trilha do Santo Sepulcro. A pé eles percorrem às 14 estações trajeto marcado por frases e conselhos ambientais do Padre Cícero, que já alertava naquela época para os muitos desequilíbrios ambientais e impactos da agressão humana na natureza.

No ano de 2015 o Vaticano (Italia) reconciliou o padre Cícero Romão Batista com a igreja católica. Com a reconciliação, não há mais fatores impeditivos para que o "santo popular" do interior do interior do Ceará seja reabilitado, beatificado ou canonizado, segundo o chanceler da diocese do Crato, Armando Lopes Rafael. Leia o resumo da carta do Vaticano à diocese do Crato.

Padre Cícero morreu sem conciliação com a igreja católica. 

Padre Cicero descreveu os preceitos ecológicos:

1) Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau; 

2) Não toque fogo no roçado nem na caatinga;

3) Não cace mais e deixe os bichos viverem; 4) Não crie o Boi e nem o bode solto; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer; 

5) Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água de chuva;

6) Não plante em serra a cima, nem faça roçado em ladeira que seja muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca sua riqueza;

7) Represe os riachos de 100 em 100 metros, ainda que seja com pedra solta;

8) Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, ate que o sertão todo seja uma mata só;

9) Aprenda tirar proveito das plantas da caatinga a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca;

10) Se o sertanejo obedecer a estes preceitos a seca vai aos poucos se acabando o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer, mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.

Rezemos com Fé! . Os sorrisos são a alegria da alma.

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ARTIGO: JOÃO GILBERTO DIZIA: A VOZ É O VENTO

João Gilberto foi uma das pessoas mais gentis e generosas que conheci. Alegre, sincero, falante, intenso. Faro era amigo antigo de João. O diretor do programa Ensaio, da TV Cultura, já havia gravado dois programas com o artista: na TV Tupi, com Caetano e Gal, em 1972, e outro a partir de um show na Bahia, nos anos 1980. Não se viam há muitos anos. Fomos para o Rio, e João desmarcou o encontro dois dias seguidos, por causa de uma indisposição. Eu não acreditava muito que o encontro aconteceria e tinha receio que Faro ficasse desapontado. Até que fomos para a casa da escritora Edinha Diniz, amiga comum, em um final de tarde. Ali Edinha falou várias vezes com João no telefone, procurou me conhecer (conversamos muito sobre os grupos vocais brasileiros), e lá pelas nove da noite fomos enfim convidados para jantar no apartamento de João, no Leblon.

No elevador eu entendi o que estava acontecendo e disse “não acredito que vou conhecer João Gilberto”. Edinha me alertou dizendo que João era muito reservado e não gostava de reações efusivas nem que o chamassem de gênio.

Esperava encontrar alguém sério e calado, quando abriu a porta de serviço do apartamento um homem grande, muito branco, e com o sorriso maior e mais sincero que já vi, dizendo “Farinho…”, com um abraço. Antes que ele pensasse como me cumprimentar dei um beijo em seu rosto.

Foi uma noite encantada, com muita música, conversa, lagostins, chocolate e hospitalidade.

Ouvindo a voz de João sem os fios e os microfones pensei que tinha mais graves, era mais encorpada e ainda mais aveludada e agradável. Ficaria ouvindo por horas, e ficamos, mesmo. Efusivo, ligou para Miúcha para convidá-la, mas ela não podia ir. Ficou imediatamente contrariado, mas logo retomou o semblante sorridente. Faro sugeriu que fizessem um programa sobre Marino Pinto, João adorou a ideia. Com o violão no colo, João passeava por vários assuntos, lembranças, indignações, histórias engraçadas. Ouvimos CDs dos Namorados da Lua e Anjos do Inferno, João falou com carinho de São Paulo, da Rita Lee e de Roberto, da Gracinha, do Vavá, de seu irmão, de futebol, dos EUA e do Brasil, do Lúcio Alves e do Tonzinho. Disse que era uma pena a cortina ter de ficar fechada porque da janela dava pra ver o mar. Eu perguntei “posso olhar um pouquinho?”. Ele disse, educadamente, “Selminha, se quiser abrir pode abrir, mas se eu fosse você não abriria… as pessoas são muito curiosas…”.

O vinho, os licores e os lustres japoneses completavam a sensação de aconchego. Fomos embora às quatro da madrugada; estava clareando quando chegamos em Guaratiba, flutuantes e musicais.

O cochilo do João-Na primeira visita que fiz a João levei o CD do grupo vocal Arirê, de que fazia parte, para dar a ele de presente. Era um CD em homenagem aos grupos vocais antigos, produzido por Faro, e como João sabia tudo sobre os grupos vocais brasileiros achei que poderia se interessar. Certa altura, muito gentilmente, ele colocou o CD para tocar, queria ouvir um pedacinho. Faro ia explicando sobre as versões que fizemos para os arranjos dos Namorados da Lua, entre outros.

João ia ouvindo, Baixinho escolhendo algumas faixas… então disse “mostra o Lamento sertanejo pra ele”, que não era versão de grupo nenhum, era um arranjo meu, solo meu. Muito envergonhada lá fui eu escolher a faixa. João encostou a cabeça no sofá e fechou os olhos. A música era muito delicada, só com viola, acordeon e quatro vozes femininas. Na repetição da música notamos, eu, Faro e Edinha, que João havia cochilado. Eram três da manhã e achei que pudesse estar com sono. Mas morri de vergonha e constrangimento por estar talvez entediando o genial artista… Baixo fechou a cara, um pouco ofendido. Quando acabou a faixa João acordou e disse “eu dormi no meio da música? Isso é muito difícil… bom sinal”.

Aula de música-Então João começou a falar sobre a prática: cantar é fácil. Mas é um músculo, tem que treinar.

Ele dizia, voz é vento. Sobre as divisões, disse que a gente deve experimentar várias, diferentes, em cada frase, procurando deixar natural e facilitar o entendimento da letra. Deu exemplos, cantou uma frase com uma divisão (infelizmente não me lembro a música), depois fez outra divisão bem diferente para a mesma frase e disse, essa não ficou boa, fez de outro e outro jeito, e disse até gostar, então você escolhe.

Sobre o violão dizia que os acordes são como vozes de um grupo vocal: as movimentações têm de ser sutis, e cada voz é uma melodia, poderia ser cantada, deve ter sua independência, seu sentido. Ele pensava as harmonias como vozes. Dava exemplo de mudanças de acordes bruscos ou com saltos e dizia, isso não soa, não ficaria bom uma voz cantar esse salto. E a mão direita era o tamborim e o surdo… e tinha grande prazer em transformar músicas que não eram samba em samba, por exemplo A valsa de quem não tem amor, que teve que sofrer um ajuste para ser tocada em dois, porque, claro, era ternária, era uma valsa.

Lembro agora de outras que viraram samba, Besame mucho, Ave maria no morro, You do something to me, Málaga, Guacira…

Outra fala de João Gilberto que me encantou. Não lembro as palavras exatas, mas disse que antes mudava as linhas melódicas das músicas, como um coautor. Deu como exemplo a música Segredo, de Herivelto Martins… “Quando o infortúnio nos bate à porta”… e cantava “porta” com outra melodia, diferente da original, como está na gravação pirata na casa de Chico Pereira, e como cantou na primeira estrofe, no CD João (na repetição canta a original). E então, com o tempo, concluiu que não deve mudar as melodias. As harmonias sim, ele mudava, criava novas, e mudava outra vez… dava exemplos, isto pode ser assim mas assim também, antes tocava isso deste jeito, agora toco deste… Falou sobre o cuidado que tinha para comunicar com clareza a letra e a melodia destes antigos compositores, considerados por ele grandes mestres.

Nesses encontros quase que só tocava este repertório antigo: Vicente Paiva, Marino Pinto, Herivelto Martins, Caymmi, Janet de Almeida, Orestes Barbosa, Lúcio Alves… Pouco ouvi Tom Jobim, Triste, Wave, Corcovado, uma vez… Lembro mais de É preciso perdoar, Eu sambo mesmo, Siga, Treze de ouro, Rosinha e Hino ao sol, de Billy Blanco e Jobim: “Quero morrer em um dia de sol…”

Por Selma Boragian, orientadora de técnica vocal do Coralusp 

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