PADRE CICERO, A FÉ E A ECOLOGIA

Cícero Romão Batista nasceu em Crato, Ceará no dia 24 de março de 1844. Foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870. Celebrou a sua primeira missa em Juazeiro em 1871. No dia 11 de abril de 1872 fixou residência em Juazeiro do Norte Ceará. Padre Cícero faleceu no dia 20 de julho de 1934.

A jornalista Camila Holanda escreveu que nas entranhas do Cariri do Ceará foi emergido uma versatilidade de ícones que, entrelaçados povoam o imaginário cultural que habita a região.

Nas terras do Ceará a reportagem da REDEGN, ouviu uma das mais belas histórias: o então, professor, teatrólogo, pesquisador cultural Oswaldo Barroso, ressaltava um dos mais valiosos símbolos, a vigorosa força mítica e religiosa presente na figura do Padre Cícero. 

O saudoso Oswaldo Barroso, cidadão honorário de Juazeiro do Norte, dizia que a primeira vez que esteve no Cariri foi nos anos 70 e a experiência fez com que suas crenças e certezas de ateu fossem desconstruídas e reconstruídas com bases nos sentimentos das novas experiências e epifanias vividas.

"Desde o início, não acreditava em nada de Deus. Mas quando fiz a primeira viagem ao Horto do Juazeiro do Norte, foi que eu compreendi o que era Deus. Isso mudou minha vida completamente", revelou Oswaldo.

Um outra narrativa importante encontrada na mitologia dos Indios Kariris. Nela a região é tratada como sagrada, centro do mundo, onde no final dos tempos, vai abrir um portal que ligará o Cariri  para a dimensão do divino.

A estátua do Padre Cícero encontra-se no topo da Colina. Muitos romeiros percorrem a Trilha do Santo Sepulcro. A pé eles percorrem às 14 estações trajeto marcado por frases e conselhos ambientais do Padre Cícero, que já alertava naquela época para os muitos desequilíbrios ambientais e impactos da agressão humana na natureza.

No ano de 2015 o Vaticano (Italia) reconciliou o padre Cícero Romão Batista com a igreja católica. Com a reconciliação, não há mais fatores impeditivos para que o "santo popular" do interior do interior do Ceará seja reabilitado, beatificado ou canonizado, segundo o chanceler da diocese do Crato, Armando Lopes Rafael. Leia o resumo da carta do Vaticano à diocese do Crato.

Padre Cícero morreu sem conciliação com a igreja católica. 

Padre Cicero descreveu os preceitos ecológicos:

1) Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau; 

2) Não toque fogo no roçado nem na caatinga;

3) Não cace mais e deixe os bichos viverem; 4) Não crie o Boi e nem o bode solto; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer; 

5) Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água de chuva;

6) Não plante em serra a cima, nem faça roçado em ladeira que seja muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca sua riqueza;

7) Represe os riachos de 100 em 100 metros, ainda que seja com pedra solta;

8) Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, ate que o sertão todo seja uma mata só;

9) Aprenda tirar proveito das plantas da caatinga a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca;

10) Se o sertanejo obedecer a estes preceitos a seca vai aos poucos se acabando o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer, mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.

Rezemos com Fé! . Os sorrisos são a alegria da alma.

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ARTIGO: JOÃO GILBERTO DIZIA: A VOZ É O VENTO

João Gilberto foi uma das pessoas mais gentis e generosas que conheci. Alegre, sincero, falante, intenso. Faro era amigo antigo de João. O diretor do programa Ensaio, da TV Cultura, já havia gravado dois programas com o artista: na TV Tupi, com Caetano e Gal, em 1972, e outro a partir de um show na Bahia, nos anos 1980. Não se viam há muitos anos. Fomos para o Rio, e João desmarcou o encontro dois dias seguidos, por causa de uma indisposição. Eu não acreditava muito que o encontro aconteceria e tinha receio que Faro ficasse desapontado. Até que fomos para a casa da escritora Edinha Diniz, amiga comum, em um final de tarde. Ali Edinha falou várias vezes com João no telefone, procurou me conhecer (conversamos muito sobre os grupos vocais brasileiros), e lá pelas nove da noite fomos enfim convidados para jantar no apartamento de João, no Leblon.

No elevador eu entendi o que estava acontecendo e disse “não acredito que vou conhecer João Gilberto”. Edinha me alertou dizendo que João era muito reservado e não gostava de reações efusivas nem que o chamassem de gênio.

Esperava encontrar alguém sério e calado, quando abriu a porta de serviço do apartamento um homem grande, muito branco, e com o sorriso maior e mais sincero que já vi, dizendo “Farinho…”, com um abraço. Antes que ele pensasse como me cumprimentar dei um beijo em seu rosto.

Foi uma noite encantada, com muita música, conversa, lagostins, chocolate e hospitalidade.

Ouvindo a voz de João sem os fios e os microfones pensei que tinha mais graves, era mais encorpada e ainda mais aveludada e agradável. Ficaria ouvindo por horas, e ficamos, mesmo. Efusivo, ligou para Miúcha para convidá-la, mas ela não podia ir. Ficou imediatamente contrariado, mas logo retomou o semblante sorridente. Faro sugeriu que fizessem um programa sobre Marino Pinto, João adorou a ideia. Com o violão no colo, João passeava por vários assuntos, lembranças, indignações, histórias engraçadas. Ouvimos CDs dos Namorados da Lua e Anjos do Inferno, João falou com carinho de São Paulo, da Rita Lee e de Roberto, da Gracinha, do Vavá, de seu irmão, de futebol, dos EUA e do Brasil, do Lúcio Alves e do Tonzinho. Disse que era uma pena a cortina ter de ficar fechada porque da janela dava pra ver o mar. Eu perguntei “posso olhar um pouquinho?”. Ele disse, educadamente, “Selminha, se quiser abrir pode abrir, mas se eu fosse você não abriria… as pessoas são muito curiosas…”.

O vinho, os licores e os lustres japoneses completavam a sensação de aconchego. Fomos embora às quatro da madrugada; estava clareando quando chegamos em Guaratiba, flutuantes e musicais.

O cochilo do João-Na primeira visita que fiz a João levei o CD do grupo vocal Arirê, de que fazia parte, para dar a ele de presente. Era um CD em homenagem aos grupos vocais antigos, produzido por Faro, e como João sabia tudo sobre os grupos vocais brasileiros achei que poderia se interessar. Certa altura, muito gentilmente, ele colocou o CD para tocar, queria ouvir um pedacinho. Faro ia explicando sobre as versões que fizemos para os arranjos dos Namorados da Lua, entre outros.

João ia ouvindo, Baixinho escolhendo algumas faixas… então disse “mostra o Lamento sertanejo pra ele”, que não era versão de grupo nenhum, era um arranjo meu, solo meu. Muito envergonhada lá fui eu escolher a faixa. João encostou a cabeça no sofá e fechou os olhos. A música era muito delicada, só com viola, acordeon e quatro vozes femininas. Na repetição da música notamos, eu, Faro e Edinha, que João havia cochilado. Eram três da manhã e achei que pudesse estar com sono. Mas morri de vergonha e constrangimento por estar talvez entediando o genial artista… Baixo fechou a cara, um pouco ofendido. Quando acabou a faixa João acordou e disse “eu dormi no meio da música? Isso é muito difícil… bom sinal”.

Aula de música-Então João começou a falar sobre a prática: cantar é fácil. Mas é um músculo, tem que treinar.

Ele dizia, voz é vento. Sobre as divisões, disse que a gente deve experimentar várias, diferentes, em cada frase, procurando deixar natural e facilitar o entendimento da letra. Deu exemplos, cantou uma frase com uma divisão (infelizmente não me lembro a música), depois fez outra divisão bem diferente para a mesma frase e disse, essa não ficou boa, fez de outro e outro jeito, e disse até gostar, então você escolhe.

Sobre o violão dizia que os acordes são como vozes de um grupo vocal: as movimentações têm de ser sutis, e cada voz é uma melodia, poderia ser cantada, deve ter sua independência, seu sentido. Ele pensava as harmonias como vozes. Dava exemplo de mudanças de acordes bruscos ou com saltos e dizia, isso não soa, não ficaria bom uma voz cantar esse salto. E a mão direita era o tamborim e o surdo… e tinha grande prazer em transformar músicas que não eram samba em samba, por exemplo A valsa de quem não tem amor, que teve que sofrer um ajuste para ser tocada em dois, porque, claro, era ternária, era uma valsa.

Lembro agora de outras que viraram samba, Besame mucho, Ave maria no morro, You do something to me, Málaga, Guacira…

Outra fala de João Gilberto que me encantou. Não lembro as palavras exatas, mas disse que antes mudava as linhas melódicas das músicas, como um coautor. Deu como exemplo a música Segredo, de Herivelto Martins… “Quando o infortúnio nos bate à porta”… e cantava “porta” com outra melodia, diferente da original, como está na gravação pirata na casa de Chico Pereira, e como cantou na primeira estrofe, no CD João (na repetição canta a original). E então, com o tempo, concluiu que não deve mudar as melodias. As harmonias sim, ele mudava, criava novas, e mudava outra vez… dava exemplos, isto pode ser assim mas assim também, antes tocava isso deste jeito, agora toco deste… Falou sobre o cuidado que tinha para comunicar com clareza a letra e a melodia destes antigos compositores, considerados por ele grandes mestres.

Nesses encontros quase que só tocava este repertório antigo: Vicente Paiva, Marino Pinto, Herivelto Martins, Caymmi, Janet de Almeida, Orestes Barbosa, Lúcio Alves… Pouco ouvi Tom Jobim, Triste, Wave, Corcovado, uma vez… Lembro mais de É preciso perdoar, Eu sambo mesmo, Siga, Treze de ouro, Rosinha e Hino ao sol, de Billy Blanco e Jobim: “Quero morrer em um dia de sol…”

Por Selma Boragian, orientadora de técnica vocal do Coralusp 

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PROJETO PRETENDE FORNECER LEITE DE JUMENTA PARA HOSPITAIS NEONATAIS EM PERNAMBUCO

Um projeto da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape), em Garanhuns, pretende fornecer leite de jumenta para abastecer bancos de leite em hospitais neonatais, responsáveis por atender bebês e crianças. Em fase de testes, a iniciativa acadêmica já faz planos de virar startup e também desponta como uma possível solução para salvar os animais, atualmente em risco de extinção, ao reinseri-los no sistema produtivo do Brasil.

Intitulado “Caracterização do potencial produtivo leiteiro de fêmeas asininas do ecótipo Nordestino”, o projeto de extensão foi criado em 2018, depois que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) procurou a universidade em busca de uma destinação para jumentos abandonados nas estradas.

“As pessoas perderam interesse econômico nesses animais e, naquele momento, um grande número de acidentes estava sendo registrado”, afirma Jorge Lucena, professor do curso de Zootecnia da Ufape e um dos coordenadores da atividade.

Segundo a ONG Internacional The Donkey Sanctuary, a população de jumentos no Brasil sofreu uma redução de 94% no Brasil, entre os anos de 1999 e 2024. Além das mudanças na dinâmica de trabalho no campo, a espécie tem sofrido com extrativismo do colágeno, encontrado sob a pele dos asininos.

Da substância, deriva o elijao, produto utilizado pela medicina tradicional chinesa há cerca de 5 mil anos para tratar problemas de saúde como menstruação irregular, anemia, insônia e impotência sexual. Sem comprovação científica, o produto tem motivado a atividade de abatedouros de asininos no Brasil.

Alternativa de preservação-Lucena acredita que a produção de leite de jumenta pode representar tanto uma alternativa sustentável para a sobrevivência da espécie quanto uma fonte de renda para famílias camponesas. “Em termos bioquímicos, o leite de jumenta é o mais próximo ao leite materno humano. Como os aminoácidos estão livres, em moléculas menores, eles são mais fáceis de digerir e causam menos alergia”, explica.

Os pesquisadores esperam fornecer leite de asininos para unidades de saúde neonatais do estado já no primeiro semestre do ano de 2026. “Estamos na fase de avaliação microbiológica do leite, para ver se há contaminação de alguma bactéria nociva, além de aspectos como o teor das proteínas”, conta Victor Netto, professor da Ufape e colaborador do projeto.

Atualmente, os pesquisadores trabalham com plantel próprio, constituído por animais doados e resgatados. A equipe tem atuado para induzir geneticamente a produção de mais fêmeas, a exemplo do que já acontece com as vacas.

A gestação das jumentas leva entre 11 e 12 meses. Após esse período, a fêmea pode produzir leite entre 4 e 8 meses, a depender do manejo. “Esperamos que a quantidade de leite produzido aumente ainda neste ano, permitindo que a gente inicie a produção desse leite em pó. Nessa forma, ele é mais seguro por causa do tempo de prateleira, facilitando a utilização em UTI’s”, ressalta Netto.

A produção do leite em pó acontece através do liofilizador, máquina a vácuo responsável por aquecer e desidratar o líquido. “O nosso é capaz de liofilizar entre 8 e 12 litros de leite por dia. Estamos com um projeto-modelo de startup, para buscar investimentos para a melhoria do equipamento e dos processos, desde a melhoria genética, até a rotulagem dos produtos”, diz Netto.

O projeto inclui a produção de outros produtos derivados do leite de jumenta, como cosméticos, sabonetes e queijos. “Todo animal que dá retorno financeiro é bem tratado pelo produtor. A cadeia de bem estar deles está muito ligada à produção, pois um animal bem cuidado produz mais. A gente espera que o aumento do valor agregado de jumento também melhore a qualidade de vida deles”, completa.

Bastante consumido no Oriente Médio, o queijo de leite de jumenta pode custar até 80 vezes mais caro do que o convencional leite de vaca. “A jumenta não produz leite durante todo o dia, como a vaca. Além disso, devido à qualidade nutricional desse leite, precisamos de muitos mais litros para produzir um quilo de queijo”, explica Gerla Chinelate, professora Associada do curso de Engenharia de Alimentos da UFAPE.

Com alto potencial nutritivo, o queijo de jumenta possui sabor mais adocicado, em razão do alto teor de lactose, o açúcar natural do leite. Seu aroma, contudo, pouco difere do já conhecido cheiro do queijo tradicional.

“Quanto ao sabor, a gente não trata da modificação sensorial para melhor aceitação do consumidor. Pelo contrário, mantemos as características naturais para que as pessoas se acostumem com o leite de jumenta e derivados”, acrescenta Chinelate.

A professora destaca a diversidade da produção de derivados de leite de jumenta no âmbito da pesquisa. A partir de processos de pasteurização, sua equipe vem fabricando, além de queijo, coalhada, iogurte e até sorvete com o leite asinino.

“Muitas pessoas ainda não têm o conhecimento da capacidade dos jumentos de produzir materiais de alto valor agregado e nutricional. A gente espera que essa iniciativa mostre o potencial desses animais aos produtores”, conclui Chinelate.







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MÚSICA É UM DOS FATORES QUE IMPULSIONAM O TURISMO

O ato de viajar para outras localidades é associado a diversas motivações, como descanso, saúde, cultura, sustentabilidade ou visitar parentes. Eventos do ramo musical também se apresentam como catalisadores turísticos e são vistos como tendência pelo Ministério do Turismo, em uma prática conhecida como gig tripping. A gíria em inglês gig faz referência a “show” ou “apresentação musical”; já tripping remete a “viajar”. 

Esses deslocamentos podem envolver trajetos pequenos, como ir a uma cidade vizinha para um show de uma banda local, ou viagens internacionais para acompanhar turnês. De acordo com a revista Tendências do Turismo 2025, a influência musical na área continuará em expansão e o mercado pode atingir US$ 13,8 bilhões até 2032. 

A imersão na cultura e a visita a locais icônicos — como o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, o Atomium, na Bélgica, e o Píer de Santa Mônica, nos Estados Unidos — fazem parte do turismo musical. Destinos conhecidos por sua tradição em festivais e grandes shows se beneficiam, mas cidades e vilarejos também veem suas economias aquecidas por hospedagens e visitas. 

No Brasil, algumas cidades têm eventos fixos em seus calendários anuais ou bienais. Eduardo Silva Sant’Anna, doutorando em Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, revela: “Fãs de gêneros diversos, do pop e rock ao pagode e MPB, viajam pelo País para assistir seus artistas preferidos”. Acontecimentos como Lollapalooza, Rock in Rio, The Town — que teve início no dia 6 de setembro e acabará no dia 14 deste mês —  e o Festival de Verão de Salvador são destaques que incentivam um número considerável de pessoas para suas regiões. 

O projeto Todo Mundo no Rio, o qual teve sua primeira edição em 2024, é outro exemplo da força dos eventos para uma localidade. Sem cobrar ingressos e realizado na praia de Copacabana, o evento reuniu 2,1 milhões de pessoas — segundo a Riotur, empresa de turismo do município do Rio de Janeiro — em maio para assistir ao show da cantora Lady Gaga. No ano passado, Madonna movimentou 1,6 milhão de fãs para festejar sua performance. 

Turnês internacionais, como a The Eras Tour, de Taylor Swift, e dominATE, do grupo sul-coreano Stray Kids, também são elencadas pelo pesquisador como fenômenos que lotam estádios e movimentam hotéis, restaurantes e o comércio local. 

Megaeventos musicais são estratégias para atrair visitantes em diferentes épocas do ano, segundo Sant’Anna. “Do ponto de vista do planejamento, são fundamentais para enfrentar a sazonalidade típica do turismo, que concentra grande parte do fluxo em períodos específicos, como férias escolares e temporadas de verão”, explica. O projeto Todo Mundo no Rio, por exemplo, está previsto para ocorrer anualmente em maio, no outono. 

O turismo musical, entretanto, pode estar restrito a públicos com maior poder aquisitivo, devidos aos custos altos de ingressos, viagens e hospedagens. Além disso, as emissões de carbono em deslocamento longos e a produção de resíduos pelos viajantes e artistas têm levado o meio a buscar alternativas mais sustentáveis, como compensação de carbono e turnês mais concentradas, do ponto de vista geográfico.

Eduardo Silva Sant’Anna chama atenção aos impactos para as comunidades locais, como a interrupção da rotina dos moradores e interferências no ambiente. Ele cita algumas formas de evitar conflitos: comunicar de forma clara os riscos e adaptar suas estratégias, valorizar os benefícios coletivos e planejar a localização das estruturas para minimizar incômodos em áreas residenciais.

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LULA SANCIONA LEI QUE DECLARA LUPICINÍNIO RODRIGUES E PIXINGUINHA PATRONOS DA MÚSICA BRASILEIRA

Ícones da cultura nacional, Pixinguinha e Lupicínio Rodrigues são oficialmente agora patronos da Música Popular Brasileira. A Lei nº 15.204 , que oficializa a homenagem, foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada na edição desta sexta-feira, 12 de setembro, do Diário Oficial da União. O texto também é assinado pelas ministras Margareth Menezes (Cultura) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos e Cidadania).

O título de Patrono é atribuído a brasileiros mortos há pelo menos 10 anos que tenham se destacado por excepcional contribuição ou especial dedicação ao segmento homenageado.

Nascido em Porto Alegre, em 16 de setembro de 1914, Lupicínio Rodrigues é considerado o criador do estilo “dor-de-cotovelo”, caracterizado por canções que expressam desilusões amorosas com profundidade poética. Obras suas, como “Felicidade” e “Nervos de Aço”, foram interpretadas por grandes nomes da música brasileira e seguem vivas na memória afetiva dos brasileiros.

Sua primeira música, “Carnaval”, surgiu aos 14 anos. A fama veio com “Se acaso você chegasse”, igualmente eternizada por grandes intérpretes. O gaúcho era fiel à inspiração da vida real, compondo com base nas próprias histórias. Casou-se em 1949 e abriu uma churrascaria, unindo música e boemia. Autor do hino do Grêmio, deixou cerca de 150 canções. Faleceu aos 59 anos, vítima de complicações cardíacas.

Pixinguinha-Nascido no Rio de Janeiro, em 4 de maio de 1897, Pixinguinha foi maestro, flautista, saxofonista, compositor e arranjador carioca. É celebrado como um dos maiores expoentes da música brasileira. Foi responsável por consolidar o gênero choro e por influenciar profundamente a formação da música popular brasileira moderna. Entre suas obras mais conhecidas estão “Carinhoso”, “Rosa” e “Lamentos”. O Dia Nacional do Choro, comemorado em 23 de abril, homenageia seu legado.

Apelidado de Pixinguinha pela avó, Alfredo da Rocha Vianna Filho começou a trajetória musical sob a batuta do pai e, ainda jovem, integrou o grupo “Os Oito Batutas”, levando o choro a palcos nacionais e internacionais. Definiu o estilo do choro com suas melodias ricas e arranjos sofisticados. Trabalhou como arranjador na RCA Victor e criou trilhas para cinema, mantendo viva sua influência até falecer em 17  17 de fevereiro de 1974. 

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O ANO DE 2025 É O QUINTO COM MAIOR ÁREA QUEIMADA EM QUILOMETROS QUADRADOS

O ano de 2025 é o quinto com maior área queimada em quilômetros quadrados entre janeiro e agosto desde 2003, quando se iniciou o monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Foram 186.502 quilômetros quadrados (km²) atingidos, a maioria (119.243 ou 64%) em áreas de Cerrado. O bioma, que comemora seu dia nacional em 11 de setembro, é o mais atingido desde o começo da série histórica, registrou neste ano maior diferença em relação aos demais.

dado representa queda de cerca de 20% em relação a área atingida em 2024, que foi de 224.381 km², queda considerada discrepante em relação à diminuição de focos de queimada. Para esse dado houve recuo de 65% de 2024 para 2025, passando de 167.452 para 57.676 focos (período entre 1º de janeiro e 10 de setembro em ambos os anos), com queda de 47% em focos no Cerrado. Em relação à área queimada até agosto o Cerrado teve aumento entre 2024 e 2025: em 2024, um total de 106.677 km² havia sido atingido, frente aos mais de 119 mil km² neste ano. Apenas os anos de 2010, 2024, 2007 e 2005 tiveram maior área queimada registrada. 

A situação pode se agravar em setembro, com a permanência do clima seco. Áreas entre o Paraná e Tocantins estão com alerta de baixa umidade, indicado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e vigente até o começo da tarde de amanhã, coincidindo com a maior parte da incidência do bioma no país. Os alertas têm se repetido constantemente desde meados de agosto. Os atuais incluem estados de todas as regiões, com destaque para as áreas de Caatinga e Cerrado, onde as condições são mais severas.

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BANCOS DE SEMENTES REFORÇAM RESILIÊNCIA DO SEMIÁRIDO

Enquanto o mundo debate as metas climáticas e o colapso dos ecossistemas, no coração do Semiárido brasileiro pulsa uma rede silenciosa de resistência. São as casas e bancos comunitários de sementes crioulas, estruturas simples carregadas de história, saber e biodiversidade.

Ali, agricultores e agricultoras selecionam, guardam, multiplicam e trocam variedades de sementes adaptadas ao clima local, mantêm vivas práticas ancestrais e constroem, dia a dia, respostas concretas à crise ambiental.

As famílias estão envolvidas profundamente nessa movimentação. Trazem até uma carga de emoção nos nomes de “batismo” das sementes, como: sementes da “liberdade”, “resistência” ou “paixão”.

Essas estruturas comunitárias fazem parte de um sistema de gestão coletivo, organizado pelas próprias famílias agricultoras. Muitas nasceram dentro do Programa Sementes do Semiárido, coordenado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), e hoje representam uma frente importante na luta contra a desertificação e o esvaziamento rural.

O mais recente mapeamento promovido pela ASA, o “Levantamento Avaliativo das Casas ou Bancos de Sementes no Semiárido” – lançado durante um seminário transmitido pelo YouTube – revela a abrangência e o impacto dessa rede. São 875 casas e bancos de sementes em 29 territórios, que beneficiam diretamente mais de 15 mil famílias. Ao todo, foram identificadas 262 variedades de feijão, 108 de milho, 75 de fava e dezenas de hortaliças, frutíferas e espécies florestais nativas.

É importante destacar o papel dessa linha de ação ao se considerar, no panorama nacional, o Boletim Temático Desertificação, lançado em julho de 2025. Ele mostra que cerca de 18% do território brasileiro está suscetível à desertificação.E que aproximadamente 39 milhões de pessoas vivem em Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD).

Essas regiões cresceram 170 mil km² entre 2000 e 2020, um território maior que os estados de Pernambuco, Paraíba e Alagoas somados. A desertificação, nessas áreas, compromete solos, água, biodiversidade e segurança alimentar.

Do território às negociações-A foto mostra uma pequena casa simples de alvenaria pintada de branco, com telhado de telhas de barro, no meio de uma área rural. Acima da porta, em letras verdes, está escrito: “Casa de Sementes da Fartura Lauro Chaves dos Santos”. Em frente ao prédio estão dois homens usando chapéus de palha, um deles vestido de preto e o outro de jaqueta amarela, ambos sorrindo. À esquerda, no primeiro plano, há flores cor-de-rosa. O céu está azul com nuvens brancas, e a casa é cercada por árvores e um cercado rústico de madeira

A cada safra, guardiãs e guardiões escolhem os grãos mais resistentes e adaptados às condições climáticas da região e com isso, alimentam o ciclo da agrobiodiversidade | Foto: Kléber Nunes / ASA

A cada safra, guardiãs e guardiões escolhem os grãos mais resistentes e adaptados às condições climáticas da região. Com isso, alimentam o ciclo da agrobiodiversidade e enfrentam os efeitos do aquecimento global com práticas sustentáveis, sem depender de pacotes tecnológicos externos.

“O uso de sementes adaptadas é extremamente importante porque garante, num primeiro momento, a autonomia e a soberania alimentar dessas famílias. Além disso, é um elemento fundamental para a manutenção da diversidade biológica, pois essas sementes estão adaptadas ao clima local”, explica o pesquisador Fernando Curado, da Embrapa Alimentos e Territórios.

Para a ASA, o fortalecimento desses bancos deve ser entendido como política climática e não apenas como ação agrícola. “As práticas desenvolvidas pelas famílias guardiãs em seus territórios servem como recomendações para a formulação de novas políticas públicas capazes de superar esses desafios revelados pelo estudo (Levantamento Avaliativo das Casas ou Bancos de Sementes no Semiárido). São medidas que precisam promover a agrobiodiversidade, entendendo esta como ferramenta para criar sistemas mais resilientes de produção e consumo de alimentos saudáveis, ao mesmo tempo preservando os biomas”, defende Claudio Ribeiro.

Esse protagonismo das comunidades é ainda mais relevante diante dos desafios ambientais enfrentados por territórios como o de Jucati (PE), onde vive o agricultor Givaldo Pimentel. O município está entre os 100 brasileiros com maior percentual de área em desertificação severa – níveis 4 e 5 -, segundo o Boletim Temático Desertificação. Diante desse cenário, a expectativa do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) é que a realização da COP30 no Brasil ajude a colocar o tema no centro das negociações globais e a atrair investimentos que fortaleçam soluções baseadas na natureza e no conhecimento dos povos do Semiárido.

Patrimônio ameaçado-A imagem mostra de perto uma vagem de feijão aberta, segurada por uma mão. Dentro dela, estão três grãos de feijão ainda frescos, de cor branca com manchas e pintas rosadas, que dão um aspecto rajado. O fundo da foto está desfocado, mas é possível perceber outras vagens

A seca prolongada, a falta de apoio técnico, o avanço de transgênicos e o desinteresse das novas gerações ameaçam a continuidade do trabalho | Foto: Cláudio Ribeiro / ASA

Apesar da importância, os bancos de sementes enfrentam riscos reais. O estudo da ASA revela que pouco mais da metade das casas e bancos mapeados estão desativados ou extintos (50,4%). Dos 49% restantes, 42,6% estão funcionando e outros 7% não existem mais. As porcentagens correspondem a 441, 373 e 61, respectivamente. A seca prolongada, a falta de apoio técnico, o avanço de transgênicos e o desinteresse das novas gerações ameaçam a continuidade do trabalho.

“Muitas vezes o pessoal desanima da roça de sementes, principalmente pelo valor comercial da semente crioula”, relata Givaldo, que faz parte da Rede Municipal de Sementes de Jucati. O agricultor também afirma que existem questões financeiras que dificultam, principalmente na hora de realizar encontros e reuniões, “Isso é o nosso grande desafio para manter o banco de sementes”.

As dificuldades se agravam com o afastamento das novas gerações. “Nós temos dificuldades com os jovens. Tanto na sucessão rural, quanto no banco de sementes”, conta Givaldo. Ele explica que, mesmo dentro da própria família, o incentivo à educação formal acaba afastando os jovens do campo: “A gente mesmo costuma dizer que o filho ou o sobrinho tem que estudar para ter uma vida melhor”.

Apesar do êxodo rural ser uma realidade em muitas regiões, há movimentos que apontam para o caminho inverso. Em diversas comunidades, jovens que tiveram acesso à educação formal estão retornando ao campo com um novo olhar sobre a agricultura familiar. Combinam o saber acadêmico com os conhecimentos tradicionais.

Além das dificuldades de sucessão, outro risco preocupante é a contaminação por transgênicos. Segundo o pesquisador Fernando Curado, o problema atinge especialmente cultivos de polinização aberta, como o milho crioulo, que sofre contaminação cruzada por meio do pólen transportado por vento, água ou insetos.

Essa realidade tem gerado preocupação entre agricultores, que relatam a perda de variedades crioulas. Curado reforça que “as ações têm se voltado para o monitoramento dessa contaminação”, mas reconhece que isso ainda é insuficiente. Para ele, “os riscos principais estão exatamente na perda dessa agrobiodiversidade, a partir da erosão genética”.

Mesmo diante desse cenário, a ASA reforça que é possível reverter parte das perdas. “As que estão inativas podem voltar a operar com ações simples, como a recomposição dos estoques”, afirma Claudio Ribeiro, assessor de coordenação do Programa Sementes do Semiárido da ASA.

Ele ainda destaca que manter quase metade das casas ativas já é, por si só, um feito relevante: “Essa realidade de resistência das famílias agricultoras e guardiãs tem ainda mais valor se considerarmos que, em mais da metade desse tempo, vivemos sob os governos Temer e Bolsonaro, marcados por severos contingenciamentos de recursos públicos destinados aos programas sociais”.

A desmobilização, segundo ele, foi agravada pela pandemia de Covid-19, que paralisou ações em campo e enfraqueceu redes locais. “Essa conjuntura evidencia a importância de políticas públicas contínuas, investimento em assessoria técnica agroecológica e o fortalecimento de redes de cooperação entre as comunidades, como pilares fundamentais para garantir a sustentabilidade e a longevidade dessas iniciativas”, defende. (O ECO NORDESTE)


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