VEREDAS DESAPARECEM E TRANSFORMAM REALIDADE DESCRITA POR GUIMARÃES ROSA

Entidade central na literatura e no sertão evocado pelo escritor João Guimarães Rosa (27/06/1908-19/11/1967), presente na obra prima do autor desde as primeiras menções, o ecossistema de vereda vem sendo dizimado desde as regiões Noroeste e Norte de Minas Gerais, também na chamada trijunção mineira com Goiás e Bahia. Imortalizada na literatura nacional sob o título Grande sertão: veredas, a paisagem vai definhando na vida real no mesmo compasso do bioma que a abriga, o Cerrado, o segundo mais devastado do Brasil, atrás apenas da Amazônia, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Nesse ritmo de destruição, avaliam especialistas, não haverá espaço para a sobrevivência do Cerrado natural e das veredas, o que aproxima essa paisagem do primeiro título pensado por Guimarães Rosa para o que se tornaria sua obra maior, mencionado há 70 anos na revista O Cruzeiro: em 17 de abril de 1954, a publicação revelava que o autor batizaria seu livro como Veredas mortas. O nome consagrado foi outro. Já o título abandonado soa, hoje, como premonição.

Os impactos, condições ambientais e climáticas em 55 municípios mineiros, baianos e goianos que têm registros literários e históricos deixados por Guimarães Rosa naquela época mostram uma brutal degradação, por meio da série de reportagens especiais Veredas mortas, produzida pelo Estado de Minas, que toma emprestado o título original da obra-prima — mais atual que nunca.

A destruição-Percorrer as paragens que inspiraram Grande sertão: veredas é lançar os olhos por uma paisagem cada vez mais devastada. É o que se avista também pelos caminhos por onde o autor cavalgou acompanhando sertanejos, em uma travessia de gado na qual se inspirou para o livro — descrita no diário A boiada. Situação tão mais preocupante quando se considera que ali está a "caixa d'água" que irriga afluentes do Rio São Francisco — e também as memórias de Rosa —, como o Urucuia, o Paracatu e o Rio das Velhas.

Irreconhecíveis a muitos desses registros literários, econômicos ou geográficos, as matas extensas e de vegetação tortuosa e os buritis imponentes característicos das veredas vão sucumbindo, tombando para dar lugar aos eucaliptos, plantações, pastagens e erosões em desertificação. O Cerrado arde em carvão; rios secam; veredas são soterradas; nascentes se retraem solo adentro. O calor, marca do sertão, torna-se mais e mais esturricante, agravando todo o processo. E se realimentando dele.

Dados compilados pela equipe do EM a partir do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) — órgão das Nações Unidas (ONU) — indicam que a média de temperaturas máximas no já bastante degradado sertão rosiano pode aumentar 1,4°C entre 2021 e 2040, e até 2,52°C, entre 2041 e 2060, simplesmente se nenhum impacto ambiental, emissão de carbono ou calor for refreado. Ou seja, nada precisaria piorar para a situação já crítica seguir se degradando, já que na última década a temperatura global se elevou 1,1°C, segundo as mesmas fontes.

O mesmo levantamento prevê para as áreas em nível mais avançado de desertificação do Brasil — Cabrobó (PE), Gilbués (PI), Inhamus (CE), Irauçuba (CE), Jaguaribe (CE) e Seridó (PB) — ampliações médias menos dramáticas, de 1,1°C e 2,05°C, respectivamente, nas mesmas condições.

Menos chuvas-Já as chuvas nos 55 municípios do sertão imortalizado por Rosa apresentariam no mesmo cenário de curto prazo (2021 a 2040) uma estiagem maior, com redução da precipitação anual de 1,81%. Por outro lado, as destrutivas chuvas com máximas de um dia — tempestades concentradas em pouco tempo, gerando grande estrago, erosões e pouca absorção de água pelo solo para recarga de nascentes — aumentariam em média 4,38%, segundo as modelagens do IPCC e análises de especialistas.

"Essa situação de a temperatura até superar o aumento nas regiões com maior índice de desertificação no Brasil, bem como uma redução da chuva anual e ampliação de eventos extremos de tempestades, acredito serem diretamente ligadas ao uso e à ocupação do solo, em práticas como desmatamentos e queimadas", indica o professor Antoniel Fernandes, dos departamentos de Geografia e Biologia da PUC Minas. (Correio Braziliense)

Nenhum comentário

CRATO: EXPOSIÇÃO DEBAIXO DO BARRO DO CHÃO HOMENAGEIA GILBERTO GIL

O Cariri sempre esteve presente na vida e na obra de Gilberto Gil, em especial na sua relação com o cancioneiro de Luiz Gonzaga, filho de Exu, terra pernambucana que faz fronteira com o Crato, cidade onde está localizado o Centro Cultural do Cariri. Nesse cenário, será aberta a exposição Debaixo do Barro do Chão com obras que se conectam com a musicalidade de Gil. A mostra estará disponível para visitação do público a partir do dia 11 de julho.

Com obras de Corrinha Mão na Massa, da cidade de Missão Velha, da Mestra Fanca e das Irmãs Cândido, de Juazeiro do Norte e do Mestre Jaime, da Barbalha, a instalação apresentará peças construídas a partir da música De onde vem o baião e outras que se relacionam com a vida e obra do homenageado, e da materialidade imantada da terra. Além das obras, a exposição será composta por registros fotográficos e depoimentos em vídeo.

As “Marias” Cândido Monteiro traz nas peças a identidade do estilo herdado pela mãe, a Mestra Maria de Lourdes Candido. A argila é preparada pela família, incluindo os homens, que preparam o material e se responsabilizam pelo forno, onde as peças são cozidas. Trabalhando a partir de temas retirados do cotidiano, narram histórias pessoais e coletivas, celebrações religiosas e festas tradicionais modeladas no barro.

Mestra Fanca conta a história do Cariri através de seus bordados em tecido, intitulados de “panôs”. Com imagens e textos de sua criação, tece a identidade cultural e salvaguarda em sua arte a memória oral da cultura da região, e de fatos históricos do país. Já Mestre Jaime, mantém viva a cultura da fabricação de ladrilhos hidráulicos, há mais de 60 anos, quando herdou de seu ex-gestor a fábrica onde mora até hoje com seus onze filhos e esposa. Atualmente, o trabalho é conduzido pelo seu filho Cícero José e seu neto, João Paulo.

Estátuas, potes, peças decorativas de barro compõem a arte da mestra ceramista Maria do Socorro Nascimento, a Corrinha Mão na Massa, conhecida por sua inventividade e habilidade com as mãos que a tornaram empreendedora e uma referência de empoderamento feminino

Debaixo do barro do chão tem curadoria de Fabiano Piúba e apresenta a cultura como meio de se chegar e atravessar, como a origem que vem da terra e compõe melodia com a trajetória de Gilberto Gil, exemplo que nos apresenta a cultura como horizonte para a transformação, assim como um bem comum, como a natureza que está inerente em nós.

Nenhum comentário

ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2024 E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

 O aquecimento global é uma consequência direta do modo de vida que os seres humanos impuseram ao planeta. O modo de produzir e o modo/hábitos perdulários de consumo provocam, com maior intensidade e frequência, catástrofes e eventos climáticos extremos em várias partes do mundo, com ondas de calor e frio, chuvas torrenciais (desmoronamentos e inundações), secas, incêndios florestais de grande magnitude e aumento do nível do mar.

Do ponto de vista científico, não existem mais dúvidas que tais fenômenos ocorrem devido à ação humana, elevando o aumento médio da temperatura do planeta. Principalmente pelo uso de fontes energéticas fósseis (petróleo e derivados, carvão mineral e gás natural), desmatamento desenfreado e da agropecuária extensiva.

Se não evitarmos as causas do aquecimento nos próximos anos, as mudanças no clima continuarão a causar catástrofes, colocando em risco a própria sobrevivência da vida na Terra. Banir os combustíveis fósseis e conter o desmatamento são tarefas prioritárias. A natureza nunca foi inimiga, e sem ela não existirá vida em nossa Casa Comum.

No Brasil, um dos mais ricos países em abundância de fauna e flora, avançamos na geração de energia elétrica com fontes renováveis (sol, vento, biomassa), mas infelizmente ainda não adotamos as medidas necessárias para conter o desmatamento em todos os biomas. A ganância incentivada pelo capitalismo, pelos meros interesses econômicos, tem reduzido drasticamente a vegetação e as florestas.

Logo mais teremos eleições que vão escolher novos prefeitos (as) e parlamentares, para compor os legislativos municipais em mais de 5.000 municípios. É um momento propício para a reflexão acerca das questões ambientais e para debater propostas de como enfrentar os desafios da crise climática. Sem a consciência das pessoas sobre a importância da conservação e da preservação ambiental, estamos fadados à derrota.

A Constituição Cidadã de 1988 estabelece que todas as esferas do Poder Público – federal, estadual, municipal - devem promover o equilíbrio ambiental como garantia para as gerações futuras. O papel dos municípios é fundamental no desenvolvimento e implementação de políticas públicas ambientais de enfrentamento às causas e efeitos das mudanças climáticas.

Ninguém mora na União, nos Estados. As pessoas moram nos municípios. É neles, que os serviços são prestados, as crianças estudam, os adultos trabalham, os alimentos são produzidos, a vida acontece. Daí a importância de comprometer as autoridades executivas e legislativas com a defesa da Mãe Terra. Já os munícipes, precisam fazer a escolha certa dos homens e mulheres que governarão pelos próximos 4 anos.

O Nordeste semiárido, o mais populoso do mundo, com 30 milhões de moradores, é um dos locais mais vulneráveis às mudanças climáticas. Estudos, com o uso de satélites, indicam a redução drástica da vegetação no bioma Caatinga, que diminui de tamanho, ano a ano, favorecendo a redução das chuvas, com diminuição da produção de alimentos e aumento das temperaturas. Isto afeta diretamente seus habitantes.

Logo, nas eleições municipais é fundamental que o debate também seja pautado na questão ambiental, pois a realidade do dia a dia ocorre na esfera municipal. Um dos aspectos mais importantes para tornar uma cidade saudável, sustentável, e assim melhorar a qualidade de vida das pessoas, na área urbana e rural, é a participação social, que se dá também nas eleições.

A pergunta que não quer calar é "Até quando esperar para começar as mudanças tão necessárias?

Escolher prefeitos (as) vereadores (as) comprometidos em mudar a atual realidade contribuirá para melhorar a qualidade de vida nos municípios, cujo papel é fundamental no enfrentamento da crise climática e ambiental. Daí você eleitor (a):

- Procure conhecer o passado e a biografia do candidato (a) e a trajetória de seu partido na defesa do meio ambiente e das causas populares.

- Investigue as alianças do partido do candidato (a) e seus projetos, quais os interesses que defende e quem financia.

- Confronte o discurso e a prática do candidato (a). Não vote nos negacionistas que negam a crise climática. Nem naqueles que usam as redes sociais para mentir e propagar o ódio. Não vote em mentirosos, demagogos e postulantes burgueses, ou apadrinhados por bancos e latifundiários.

- Não se venda por nada. Analise a campanha do candidato, não confie em palavras vazias. Olho nos oportunistas que fazem da política trampolim para enriquecerem. Vote em candidatos a prefeito (a) e vereador (a) comprometidos com as lutas populares.

- Fuja do cabresto. Não vote em quem o padre, patrão, pastor manda votar.

- Não vote em quem ataca os grupos, associações, sindicatos, organizações não governamentais que defendem os pobres.

- Procure conhecer as propostas. Se são factíveis, ou meras promessas. No passado fez o que pelos pobres e vulneráveis/ Como propõem estimular maior participação social no seu governo?

- Discuta com seu candidato (a) algumas propostas que devem estar presentes no processo eleitoral e integrar o programa de governo, sua atuação parlamentar. Sugestão:

· Promover ações de prevenção, proteção e recuperação ambiental, como a criação e incentivo a viveiros com distribuição de mudas nativas e frutíferas para a população.


 Incentivar a agricultura familiar no município, com distribuição de insumos necessários no contexto de práticas agroecológicas.

 Combater o desmatamento regional.

· Atender às melhorias reivindicadas pelas populações rurais, incentivando a permanência no campo (iluminação, recuperação de estradas, transporte, internet, saneamento, ...).

· Fortalecer e potencializar os Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente.

· Criar os Conselhos Municipais de Educação Ambiental, instituindo nas escolas (urbanas e rurais) temas relacionados às mudanças climáticas, à preservação e importância da natureza na vida das pessoas.

· Combater as "fake news", o negacionismo ambiental, com estratégias institucionais de checagem, além de informação direta em sites institucionais sobre a situação climática e seus impactos.

 Fortalecer a governança e a gestão dos bens comuns da natureza, do financiamento, proteção e recuperação dos mananciais.

· Garantir recursos no planejamento orçamentário para a gestão hídrica e do meio ambiente, com ampla participação e controle social.

Recente pesquisa, promovida pela Confederação Nacional dos Municípios, registrou que só 2 em cada 10 municípios estão preparados para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. Esta situação impõe a intensificação de estratégias e ações urgentes para evitar que a população sofra mais.

Devemos aproveitar o processo eleitoral em curso como um momento auspicioso para a discussão, conscientização e proposição de políticas públicas sociais, rumo a conquista de municípios sustentáveis e resilientes diante do aquecimento global, maior desafio já enfrentado pela humanidade!

Heitor Scalambrini Costa-Professor associado aposentado da Universidade Federal de Pernambuco. Graduado em Física, Mestrado em Ciências e Tecnologias Nucleares e Doutorado em Energética. Membro da Articulação Antinuclear Brasileira.


Nenhum comentário

ARTIGO: DO SEMIÁRIDO A AMAZONIA

É sina da população do Semiárido a de migrar. Com efeito, a região não tem como sustentar uma população que cresce. As pessoas migram a procura de melhores condições de vida. Arriscam-se até. E, nesse processo, podem acontecer muitas coisas.

O caso das migrações do Semiárido para a Amazônia já é muito conhecido. As pessoas foram empurradas pelas crises de secas, especialmente a de 1877-79, e atraídas pela promessa de eldorado. Lá, na Amazônia, os problemas de cada um seriam resolvidos. Se tinham fome, só precisava ir ao rio, sempre bem próximo, pegar um peixe, e comer. Trabalho não faltava, os seringais se espalhavam.

Estudamos o assunto quando da realização da primeira ICID – Conferência Internacional sobre Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável de Regiões Semiáridas. O tema ainda é atual, para todas as regiões. Lá, na ICID, tivemos uma apresentação sobre as migrações do Nordeste para a Amazônia, feita por Tania Bacelar e Jean Bittoun. Ver o artigo publicado no livro da ICID chamado “Climate Variability, Climate Change and Social Vulnerability in the Semi-arid Tropics”, editado por Jesse Ribot, Antonio Magalhães e Stahis Panagides, publicado pela Universidade de Cambridge.

Na década de 1950, o então jovem escritor paraense chamado Leandro Tocantins escreveu o livro “Um Rio Comanda a Vida”. Segundo esse escritor, esse livro foi a raiz dos seus livros posteriores, já que foi muito prolífico na sua vida. Ele escreveu, em um dos capítulos do “Rio Comanda a Vida”, que o estado do Acre basicamente foi anexado ao território brasileiro por causa dos nordestinos do Semiárido que foram expulsos pela seca de 1877, especialmente pelos cearenses. Em qualquer comunidade do Acre onde se chegasse se poderia fazer o teste. Todos eram nordestinos, a maioria era do Ceará. Com isso, eles conseguiram ocupar um espaço vazio para tirar seringa e aumentar o território brasileiro em cerca de 150.000 km2.

Hoje a situação está mudada, mas nem tanto. Nas solenidades no Acre, ainda se canta o hino do Ceará. Os cearenses chegaram ao Acre, encontraram uma esposa indígena, procriaram, muitos morreram, muitos ficaram dependentes do dono do seringal por toda a vida, alguns enriqueceram e puderam mostrar a pujança de Manaus e de Belém durante o ciclo da borracha. Nessa labuta, o rio era sempre o meio de transporte, o canal de riqueza e de pobreza. As cidades foram se estabelecendo nas margens do rio, que comandava tudo.

Leandro Tapajós fala dos batelões, os barcos comandados por árabes (sírios e libaneses) que dominavam o comércio nos recantos dos rios na Amazônia. Era a civilização aquática, a união entre o semiárido e a Amazônia, o seco e o úmido, as secas do Nordeste e as cheias dos rios amazônicos. Mas a mesma pobreza, a mesma população sobre quem se baseava o bem-estar de uma pequena minoria.

Nesse quadro, o Rio Amazonas despontava como o Deus de todas as águas, o rei que comandava tudo. Ainda é assim, embora a Amazônia esteja cada vez mais devastada para suprir a fome do mundo em novas madeiras, em soja e em gado.

Por Antonio Rocha Magalhães

armagalhaes@gmail.com

Nenhum comentário

A SINA DE CANTADOR DO POETA ALDY CARVALHO

O cantador e poeta petrolinense Aldy Carvalho é  um artista completo, nascido no sertão de Pernambuco, cuja obra reflete o rico universo nordestino. Como poeta, cantador, escritor, compositor e violonista, sua arte é um verdadeiro mosaico de sons e histórias.                     

Recentemente Aldy lançou  nas redes o single "É  Preciso Amar" (Arnaldo Carvalho e José  Verismar dos Santos), um xote envolvente e de mensagem positiva da vida, onde Aldy imprime seu estilo através  da excelente interpretação  e dos arranjos que concebeu para a música,  não  obstante isso esse poeta, cantador das barrancos do São  Francisco, não  para. Aldy segue autografando sua mais recente obra literária "O Menino Iluminado". O livro, no gênero codel, traz ilustrações  de Anna B. Gonzalez, que com sensibilidade artística primorosa enriquece mais ainda a obra do autor cantador.                                                     

Lançado  pela Companhia do Cordel Edições " O Menino Iluminado", conforme Ely Verissimo, é  um convite  a nos tornarmos crianças com tudo no que isso implica, sobretudo, que sejamos capazes de ver, novamente, o que se tornou invisível  aos nossos olhos, isto é, o divino que nos cerca e que está,  como sempre esteve, em nós  mesmos. Desde a infância, Aldy  encantava amigos e familiares com suas narrativas e causos. Hoje sua discografia e bibliografia são testemunhos vívidos desse talento. Com álbuns como Redemoinho, Alforje, Cantos d'Algibeira, SerTão Andante e o mais recente Tempo Menino além de obras literárias como *Memórias de Alforje, Via-Sacra: o caminho da luz, A Preá  e a Cobra e O Cavaleiro das Léguas, Aldy Carvalho se consolida como um dos grandes cantadores, contadores de histórias do Brasil, imortalizando o lirismo do sertão em suas criações.   

 Aldy estará  presente com seu "O Menino Iluminado" na FLAE (Feira Literária  de Associados Escritores) da AFPESP em São  Paulo de 22 a 26 de julho de 2024 e confirma sua presença como autor convidado na 27ª  Bienal Internacional do Livro de São  Paulo de 06 a 13 de setembro de 2024.                                                                   O livro "O Menino Iluminado" bem como outras obras literárias e musicais deste poeta e cantador podem ser adquiridos através dos contatos: 

www.companhiadocordel.com.br

Nenhum comentário

MORRE AOS 75 ANOS O FORROZEIRO BILIU DE CAMPINA


Severino Xavier de Souza, de 75 anos, mais conhecido como Biliu de Campina, morreu na tarde desta segunda-feira (8) no Hospital de Trauma de Campina Grande. Nascido em 1º de março de 1949, Biliu foi um compositor, cantor e advogado paraibano.

Biliu de Campina estava internado no Hospital de Trauma de Campina Grande desde o último dia 24 de junho, em virtude de uma queda que provocou um sangramento na cabeça. A situação de Biliu se agravou e ele precisou ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Por ter 75 anos e uma condição de comorbidades, como hipertensão e diabetes, ele apresentou dificuldades para respirar e ficou entubado na UTI.

A informação da morte de Biliu foi confirmada inicialmente pela produção do artista. Segundo a produção, a morte do artista foi provocada por uma parada cardiorrespiratória. Por volta das 16h30 desta segunda (8), o Hospital de Trauma de Campina Grande confirmou a informação em uma nota (leia abaixo).

"O Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande informa, com profundo pesar, o falecimento do cantor e compositor, Severino Xavier de Souza, “Biliu de Campina”, de 75 anos, na tarde desta segunda-feira, às 14h55".

O velório de Biliu de Campina deve acontecer no Teatro Municipal Severino Cabral, no Centro de Campina Grande.

Forrozeiro formado em direito pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), trocou a advocacia pela música em 1978, quando iniciou a carreira artística, resgatando o forró de raiz, o cantor e compositor se auto-intitulava como o maior carrego de Campina Grande.

Na carreira musical, Biliu de Campina lançou três discos independentes: Tributo a Jackson e Rosil, Forró o Ano Inteiro e Matéria Paga, e lançou dois cds independentes: Do Jeito que o Diabo Gosta e Forrobodologia.

No ano de 2002, mantendo seu lado irreverente, lançou outro projeto, o cd 'Diga Sim a Biliu de Campina', trocadilho da campanha nacional do combate à pirataria, que dizia "Diga não a Pirataria".

Forrozeiro Nato-O forró de Biliu tem toda a essência dos forrós tradicionais, com um swing característico dos discípulos de Jackson do Pandeiro. Na sua história em Campina Grande, Biliu fez de tudo um pouco no meio da música, chegando a ser puxador de samba nos carnavais da Rainha da Borborema. Mas o que o artista fez por muitos anos foi subir no palco do Maior São João do Mundo, no Parque do Povo.

Carreira Artística-Biliu teve sua primeira composição gravada em 1984, "A Grande Herança", por Messias Holanda e criou a banda "Os ETs do Forró". Em seus três primeiros discos, incluiu, além de suas composições, outras já consagradas, como "O canto da ema", de João do Vale, Aires Viana e Alventino Cavalcanti, e "Sebastiana", de Rosil Cavalcanti. Gravou também "Galo I (trupizupe)" e Galo II (embalo geral) músicas do bloco Galo de Campina, com arranjos do maestro Gabymar Cavalcanti.

Em 1989, participou com Gilberto Gil de show realizado no Parque do Povo, em Campina Grande, no lançamento do movimento político-ecológico "Onda Azul" e que também serviu como homenagem aos 70 anos de Jackson do Pandeiro. Em 1999, foi homenageado durante o Forró Fest.

Foi essa mistura de ritmos, humor e tradição que levou o artista a ser homenageado com o troféu Ícone da Cultura do projeto Sesi Forró na empresa 2008. De lá pra cá, Biliu esteve presente em quase todas as edições do Maior São João do Mundo em Campina Grande.

No dia 30 de março de 2022, Biliu de Campina e outros artistas da região foram reconhecidos pelo estado como os novos mestres das artes, pela Lei Canhoto da Paraíba.

Biliu de Campina em uma de suas internações no Hospital Pedro I, em Campina Grande — Foto: SMS Campina Grande/Divulgação

Biliu de Campina em uma de suas internações no Hospital Pedro I, em Campina Grande — Foto: SMS Campina Grande/Divulgação

Estado de saúde debilitado-Em 2022, Biliu ficou internado no Hospital Municipal Pedro I, em Campina Grande, com um quadro de congestão pulmonar e precisou fazer sessões de diálise. Em julho do mesmo ano, ele deu entrada novamente em uma UPA da cidade e foi transferido para o Hospital Municipal Dr. Edgley, com edema agudo hipertensivo provocado por uma hipervolemia, que é o excesso de líquido nos pulmões em função de uma doença renal crônica. Após a recuperação, deixou o hospital no dia 6 de julho.

A última aparição de Biliu foi em 29 de março de 2023, durante um evento particular em Campina Grande, em que ele era o homenageado. Em 30 de março, o cantor procurou uma unidade hospitalar com um pico hipertensivo, pressão arterial, pressão alta, dificuldade na fala e outros sintomas difusos, o que levantou suspeita de AVC.

Já em junho 2024, Biliu de Campina foi internado no Hospital de Trauma de Campina Grande dois dias depois de ter o show no Maior São João do Mundo cancelado. Dias depois, Zezé di Camargo e Luciano homenagearam Biliu no palco principal do Parque do Povo.


Nenhum comentário

INDUSTRIA DO GESSO ESTÁ DESTRUINDO O BIOMA CAATINGA

 No Brasil, a indústria do gesso está destruindo um bioma precioso do nosso país: a Caatinga. A produção depende da queima de madeira, e as empresas estão desmatando cada vez mais, indo cada vez mais longe em busca de lenha. As consequências podem ser irreversíveis e ameaçam transformar o sertão pernambucano em um deserto.

O desmatamento e a falta de energias alternativas podem levar ao colapso da maior região produtora de gesso no país. Milhares de toras de madeira alimentam os fornos do polo gesseiro de Pernambuco - o maior do país, a 700 km do Recife. De lá saem 97% da gipsita do Brasil. É a quarta maior reserva do mundo.

"Gera muito emprego, gera renda para região”, afirma o economista e consultor Werson Kaval.

Dia e noite, sete dias por semana: 20 mil pessoas dependem direta ou indiretamente do que é produzido pelas 500 mineradoras, calcinadoras, fábricas de pré-moldados. Desde a década de 1960 que a Caatinga está virando carvão. Mas, agora, a natureza parece estar no limite. E as indústrias do gesso se tornaram vítimas do desmatamento que causaram.

"O setor gesseiro hoje vive um colapso iminente”, afirma Jefferson Araújo Duarte, presidente do Sindicato das Indústrias do Gesso do Araripe.

Com a escassez de árvores, a lenha está vindo cada vez mais de longe.

"Hoje, grande parte das empresas conseguem trazer essa lenha com 650, 700 km de distância”, Jefferson Araújo Duarte.

Para se transformar em gesso, a pedra de gipsita precisa passar por um processo de calcinação, ou desidratação, que é a retirada da maior parte da água. E, para isso, é preciso queimar muita lenha.

Depois da explosão nas minas, o britador quebra a gipsita. É para facilitar o transporte. Caminhões lotados levam o mineral que vai ser usado na construção civil, em hospitais, e até na agricultura para correção do solo. Só depois de triturada, a pedra segue para os fornos das calcinadoras. Sob altas temperaturas, a gipsita se desidrata, fragmenta e vira pó.

Só que com a tonelada da lenha custando cerca de R$ 230 e a do gesso vendida a R$ 250, a conta está difícil de fechar.

O frete é outro problema. Muitos caminhões irregulares circulam à noite abarrotados de lenha. O Fantástico acompanhou uma blitz da Polícia Rodoviária Federal em Araripina. Em poucas horas, quatro caminhões foram apreendidos com várias infrações.

Devastação na Caatinga-A apreensão de lenha sem comprovação da origem aumentou em 500% em 2023.

O engenheiro florestal Ivan Ighour estudou a devastação na Caatinga no polo gesseiro. Ele comparou imagens de satélites ao longo de dez anos na região.

"A informação que a gente tem com esse estudo é que ao longo do ano se extrai 11 mil campos de futebol aqui da região do Araripe, de forma legal e ilegal”, diz Ivan Ighour Silva Sá.

A vegetação da Caatinga não existe em nenhum outro lugar do mundo. É um bioma que só o Brasil tem. E nem assim ele conseguiu escapar do desmatamento. A natureza paga um preço alto por esta destruição. Com a terra mais seca, sem a cobertura vegetal, o processo de desertificação se agrava.

Segundo levantamento do MapBiomas, restam pouco mais de 57% da vegetação nativa da Caatinga no Nordeste.

Nenhum comentário

← Postagens mais recentes Postagens mais antigas → Página inicial