GILBERTO GIL, MÚSICA PROCISSÃO E O DIA DA CONFERÊNCIA

O Teatro Popular do Nordeste – TP N funcionava na Av. Conde da Boa Vista, vizinho à Cantina Boa Vista, ambos redutos dos estudantes. Além de teatro, nos fundos do prédio funcionava um bar com petiscos. Foi lá que conheci Gilberto Gil após um show do baiano, quando Dedé Aureliano, grande figura nos apresentou. A empatia foi recíproca e Gil integrou-se ao nosso convívio em suas repetidas viagens ao Recife nos anos de 1966 a 1968.

Numa de nossas conversas, com vários estudantes da Unicap, inclusive Zé Paulo Cavalcanti, Gil comentou a presença maciça de músicas estrangeiras em nossas rádios, com suas letras incompreensíveis para a maioria dos ouvintes. Lembro que comparou um belo verso de sua música Procissão com outro da música ObLa Di, ObLa Da dos Beatles, uma das mais tocadas. Sugeri ao cantor fazer uma conferência na Unicap sobre MPB. O convite foi feito pelo Diretório Acadêmico de Direito e de pronto aceito. O ano era 1967. Combinamos a data.

Tínhamos saído de uma experiência magnífica quando o D.A. de Direito, um ano antes, organizara no pátio da Unicap a 1ª Semana de Arte Popular do Nordeste, o maior evento cultural promovido na Católica de todos os tempos, com exibição de cantorias, venda de livros e literatura de cordel, números circenses, bandas de pífanos, repentistas, exposição do pintor Bajado, o que lhe conferiu justa notoriedade, além de comidas, bebidas e danças típicas, o sucesso foi estonteante. O Diretório de Direito comandava tudo e sua sede servia como Diretório Central dos Estudantes da Unicap.

Gilberto Gil já não era um iniciante, tinha 26 anos e vários sucessos no mercado nacional, destacando-se Procissão, Samba de Roda, Eu Vim da Bahia, Domingo no Parque. Também suas apresentações no Recife lhe deram popularidade e aceitação. A Avenida Conde da Boa Vista com suas cantinas, bares e o TPN era um sítio da juventude.

Acertada a data com o cantor, passou-se a tratar com a Direção da Unicap. O diretor da Faculdade de Direito. Algumas restrições foram colocadas pela Reitoria, que estranhava cantor fazer conferência em universidade. O grau de Administrador de Empresa de Gil informado por mim superou as falsas restrições.! Concluídos os preparativos, ficamos na expectativa do evento, marcado para as 19h30 de um dia que não lembro e só recordo.

 Pedidos de informações choviam no DA e na Secretaria da Faculdade, prenúncio de grande audiência. Desde as 17 horas preocupações me tomaram. A grande sala onde seria proferida a conferência seria pequena. Começamos a selecionar, dando prioridade aos alunos de Direito. 18h30 não cabia uma mosca na grande sala o que me causou preocupação sobre eventual tumulto. Algumas providências foram tomadas, garantindo o ingresso do conferencista ao local. A conferência iniciada pontualmente prolongou-se até as 23h num sucesso retumbante.

Gilberto Gil pontificou com sua arte, seu conhecimento do mercado musical e explanações sobre as dificuldades aos artistas iniciantes impostas pelas grandes gravadoras. Quando anunciei o fim da aula-espetáculo, Gil foi aplaudido de pé por longos minutos. O evento entrou para a história da Escola de Direito embevecendo sua Direção e hoje o ex-presidente do Diretório Acadêmico José Paulo Cavalcanti Filho é confrade do então cantor conferencista na Academia Brasileira de Letras para nossa glória e deleite.

Esses episódios por mim vividos por suas recordações cinquentenárias invadiram minha alma com alegrias renovadas e ampliadas ao ver Zé Paulo e Gil trajando seus fardões em solenidade de posse na ABL, me fazendo navegar onde era preciso, no mar da magia existente nas histórias da Unicap, do TPN e dos barzinhos de então, que já conferiam imortalidade e confraria a José Paulo, escritor e jurista do sempre, e a Gilberto Gil poeta e cantor de nascença, a quem parabenizo pelos 80 anos. 

(Fonte: João Bosco Tenório Galvão-Advogado)



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MORTE DE JACKSON DO PANDEIRO COMPLETA 40 ANOS

À parte da efeméride de datas, discorrer sobre Jackson do Pandeiro é/deveria ser compromisso afeito a qualquer roda de conversa, papo de esquina ou mesa de bar, em prosas que, por óbvio, passariam longe de ser comum, haja vida o quão singular ele era.

A 'conversa' destas linhas se justifica pela ausência há quatro décadas do maior ritmista da música popular brasileira, completada no último dia 10. Era julho de 1982 e àquela altura, com discografia vasta, três décadas de carreira e um Nordeste nacionalizado a partir de sua musicalidade, aos 62 anos de vida a missão do “Rei do Ritmo” se fazia cumprida, perpetuada e inconfundível.

Não é exagero afirmar que outro José Gomes da Silva Filho – nome de batismo do paraibano de Alagoa Grande, que depois surgiria como Zé Jackson, por causa do ator Jack Perrin, para então enveredar a alcunha de “do Pandeiro” - não se faria mais, desde então.

Ao lado de Luiz Gonzaga, embora sem a mesma reverência direcionada ao “Rei do Baião” talvez pela maior popularidade que tinha Seu Luiz - Jackson, cuja figura franzina, tomada por um chapéu de abas curtas usado sempre de lado, segue como nome insubstituível ou como bem disse Silvério Pessoa, “continua sendo uma prateleira indispensável e inesgotável na MPB”. 

“Versátil como compositor e instrumentista, grande percussionista, versátil como letrista, um cara que foi responsável por uma narrativa contemporânea de um Sertão, um Agreste, uma Zona da Mata, uma Metrópole pós Luiz Gonzaga – considero este o pai de tudo e Jackson o que praticamente redimensionou todo esse universo do que a gente chama de forró”, complementou Silvério em conversa com a Folha de Pernambuco.

Silvério, que bebeu da fonte de Jackson em 2015 com “Cabeça Feita”, projeto em que o artista paraibano é aclamado em quinze faixas que contemplam a discografia do ritmista e traz à tona com fidelidade melodias em meio à versatilidade típica que lhe era inerente.

“Ele enfatizou a indumentária, a culinária, trabalhou no cinema, na dança e no imaginário, na mística e na religiosidade popular a partir do que hoje chamamos de forró. Quarenta anos de sua ida e presença inesgotável, infinita sempre para todo o Brasil”, reforçou Silvério, influenciado por Jackson tal qual foram/são, entre outros, Elba Ramalho, Lenine, Nação Zumbi, Zé Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo – dupla que cantou no Festival Internacional da Canção de 1972 a embolada “Papagaio do Futuro”. Alceu, tempos depois, chegaria com “Coração Bobo” inspirado pelas estripulias musicais do artista paraibano.

RITMOS: Foi misturando xaxado, embolada, coco, samba, frevo e marchinhas de Carnaval, levados por ele, também, no reco-reco, na gaita, na sanfona e na zabumba, que Jackson do Pandeiro ritmou o mundo, a partir do seu jeito de falar, inclusive.

Com “Sebastiana”, de autoria do compositor pernambucano Rosil Cavalcanti, ele ganhou os holofotes como cantor. Coco – que segundo o próprio, em entrevista à TV Cultura na década de 1980, tudo se resumia ao ritmo “(...) tudo é coco. Se não é coco, é samba” - dotado de ineditismos que posteriormente iriam ditar o futuro de outros ritmos Nordeste afora.  “O Canto da Ema” e “Chiclete com Banana” também integraram as interpretações de Jackson.

“Falar de Jackson é falar de alegria, de ritmo, é o Rei do Ritmo que levou a música da gente para o mundo inteiro, com simplicidade. A arte dele é muito forte no ritmo (...) eu me inspiro nele, pela simplicidade que ele tinha e que eu também carrego. Sou muito fã dele, ele influenciou muito no meu samba de latada”, enalteceu Josildo Sá, outro nome forte da cultura pernambucana que bebeu da fonte de Jackson do Pandeiro, nome que segue como o maior, em se tratando da verve nordestina e ligeira. (FONTE: Folha Pernambuco-Germana Macambira)

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PROJETO DE IRRIGAÇÃO SENADOR NILO COELHO, N 7 RECEBE NESTE DOMINGO (17) O ESPETÁCULO SACRO PAIXÃO E MORTE DE CRISTO

O Grupo de Teatro Amador do N7 (GRUTANS) e a Melodia Produções apresentam, o espetáculo sacro PAIXÃO E MORTE DE CRISTO, baseado nos momentos finais da vida de Jesus Cristo. A apresentação será realizada no dia 17 de julho, domingo, a partir das 20h, no pátio de eventos da agrovila, do projeto de irrigação Senador Nilo Coelho, N-7, na Zona Rural, da cidade de Petrolina-PE, o evento será totalmente gratuito, aberto ao público.

No seu 31º ano de apresentações, a PAIXÃO E MORTE DE CRISTO, tornou-se um espetáculo tradicional, com apresentações anuais, sempre no período da Semana Santa, que mobiliza toda a comunidade do N-7. Excepcionalmente, por consequências da pandemia – COVID, o espetáculo deste ano está sendo realizado fora do período e só está sendo possível realizá-lo devido a aprovação do seu projeto no XIII EDITAL PERNAMBUCO DE TODAS AS PAIXÕES, incentivado pelo Governo do Estado de Pernambuco, Fundarpe, Secretaria de Cultura de Pernambuco SECULT-PE e conta com o apoio da Prefeitura de Petrolina. A elaboração do projeto e a produção executiva contou com a expertise da MELODIA PRODUÇÕES.

O espetáculo, foi encenado pela primeira vez em 1989, com o título de Paixão de Cristo e começou sendo realizado pelo grupo de jovens da comunidade, o JOVE, grupo este que amadureceu e se tornou o Grupo de Teatro Amador do Núcleo Sete – GRUTANS. Assim, há mais de 30 anos o grupo vem realizando o maior e mais belo espetáculo sacro ao ar livre, na zona rural, de Petrolina, no Sertão do São Francisco. Este ano, serão montados 11 cenários, sendo 5 destes construídos e 6 naturais, o espetáculo contará ainda com o recurso de acessibilidade (LIBRAS). 

Com duas horas de encenação o espetáculo narra os momentos decisivos da vida de Jesus Cristo, começando com a cena do Batismo. Na sequência, as cenas de Herodes, com dançarinas e onde Salomé pede a cabeça de João Batista; o sermão da montanha e a convocação dos apóstolos; a ressureição de Lázaro; a última ceia; Agonia no jardim das oliveiras; a Prisão, Jesus Perante Caifás e Sacerdotes; Fórum de Pôncio Pilatos; a Caminhada para o Calvário; o Encontros de Maria, Madalena, João e Verônica que enxuga o rosto de Cristo; Culminando o espetáculo teremos a Crucificação, realizada em um moro de barro construído especificamente para a cena da crucificação e ressureição de Cristo; a retirada de Cristo de cruz.
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VI ENCONTRO SABERES DA CAATINGA TERMINA NESTE DOMINGO (17)

Prossegue até domingo (17) o VI Encontro de Saberes da Caatinga, realizado no município de Exu, Pernambuco. O encontro reúne raizeiras, benzedeiras, rezadores e parteiras na Chapada do Araripe (dos estados de Pernambuco, Ceará e Piauí), além de pesquisadores e estudantes de todo o país e até do exterior. 

O objetivo é promover a troca de conhecimentos entre os adeptos de práticas e culturas milenares e os acadêmicos, bem como estimular a interiorização da residência em saúde.

As pesquisadoras do Departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz Pernambuco Islândia Carvalho e Camila Pimentel participam do evento. Além de ser uma das idealizadoras e colaboradora do Encontro desde a sua primeira edição, Islândia coordena o projeto “Saberes e práticas da Caatinga e Modelos de Saúde”. Esse projeto desenvolve a sistematização do Encontro e contribui na construção de um banco de dados com a história do evento e na devolução à população local dos resultados das diversas pesquisas elaboradas a partir dessa experiência.

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LUIZ GONZAGA: A ALMA DA CULTURA MUSICAL BRASILEIRA

O Nordeste continuaria existindo caso Luiz Gonzaga não tivesse aterrissado por lá há cem anos. Teria a mesma paisagem, os mesmos problemas. Seria o mesmo complexo de gentes e regiões. Comportaria os mesmos cenários de pedras e areias, plantas e rios, mares e florestas, caatingas e sertões. Mas faltaria muito para adornar-lhe a alma. Sem Gonzaga quase seríamos sonâmbulos.

Ele, mais que ninguém, brindou-nos com uma moldura indelével, uma corrente sonora diferente, recheada de suspiros, ritmos coronários, estalidos metálicos. A isso resolveu chamar de BAIÃO.

Luiz Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz. Dentro do seu matulão convivemos, bichos e coisas, aves e paisagens. Pela manhã, do seu chapéu, saltaram galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.

O olhar de Gonzaga furou o ventre de todas as coisas e seres, escaneou suas vísceras, revirou seus mistérios, escrutinou suas entranhas. A mão do homem deslizou pelas teclas sensíveis da concertina, seus dedos pressionaram os pinos, procurando os sons baixos e harmônicos. Os pés do homem organizavam o primeiro passo, sentindo o caminho, testando o equilíbrio. A cabeça erguida, o queixo pra frente, a barriga desforrada e o pulmão vertendo cem mil libras de oxigênio, vibrando as cordas vocais: era Lua nascendo.

O peito de Gonzaga abrigava o canto dolente e retorno dos vaqueiros mortos e a pabulagem dos boiadeiros vivos. As ladainhas e os benditos aninhavam-se por ali buscando eternidade. Viva Luiz Gonzaga do Nascimento, sempre na mira de nossos corações. 

(Fonte: professor doutor em Ciências da Literatura Aderaldo Luciano)

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LUIZ GONZAGA, MESTRE DA SANFONA E VOZ: 33 ANOS DA MORTE E 110 ANOS DO NASCIMENTO

O Brasil vai celebrar no dia, 02 de agosto de 2022, os 33 anos da morte do cantor e compositor Luiz Gonzaga, o rei do baião. Lua, como também era conhecido, foi essencialmente um telúrico. Ele soube como ninguém cantar o Nordeste e seus problemas. Pernambucano, nordestino ou simplesmente brasileiro, Luiz Gonzaga encantou o Brasil com sua música, tornando-se um daqueles que melhor souberam interpretar sua alma.

Nascido em Exu, no alto sertão de Pernambuco, na chapada do Araripe, ele ganhou o Brasil e o mundo, mas nunca se esqueceu de sua origem. Sua música, precursora da música popular brasileira, é algo que, embora não possa ser classificada como "de protesto", ou engajada, é, contudo, politicamente comprometida com a busca de solução para a questão regional nordestina, com o desafio de um desenvolvimento nacional mais homogêneo, mais orgânico e menos injusto, portanto.

Telúrico sem ser provinciano, Luiz Gonzaga sabia manter-se preso às circunstâncias regionais sem perder de vista o universal. Sua sensibilidade para com os problemas sociais, sobretudo nas músicas em parceria com Zé Dantas, era evidente: prenhe de inconformismo, denúncia do abandono a que ainda hoje está sujeito pelo menos um terço da população brasileira, mormente a que vive no chamado semi-árido.

Em dezembro, dia 13, será a vez de festejar o nascimento do Mestre da Voz e Sanfona: serão 110 anos se vivo fosse fisicamente.

Não estaria exagerando se dissesse que Luiz Gonzaga, embora não tivesse exercido atividade política ou partidária, foi um político na acepção ampla do termo. Política, bem o sabemos, é a realização de objetivos coletivos e não se efetua apenas por meio do exercício de cargos públicos, que ele nunca teve. Política é sobretudo ação a serviço da comunidade. Como afirma Alceu Amoroso Lima, é saber, virtude e arte do bem comum.

Outro aspecto político da presença de Luiz Gonzaga foi no resgate da música popular brasileira. O vigor de suas toadas e cantorias tonificou a nossa música, retirando-a do empobrecimento cultural em que se encontrava. Sua música teve um viés nacionalista, ou melhor, brasileiríssimo, que impediu que lavrasse um processo de perda de nossa identidade cultural. 

Não foi uma música apenas nordestina, mas genuinamente nacional, posto que de defesa de nossas tradições e evocação de nossos valores.

Luiz Gonzaga interpretou o sofrimento e também as poucas alegrias de sua gente em quase 200 canções, em ritmos até então desconhecidos, como o baião, o forró, o xaxado, as marchinhas juninas e tantos outros. Mas foi por meio de "Asa Branca" que Lua elevou à condição de epopéia a questão nordestina. Certa feita, Gilberto Freyre afirmou que o frevo "Vassourinhas" era nossa marselhesa. Poderíamos dizer, parafraseando Gilberto Freyre, que "Asa Branca" é o hino do Nordeste: o Nordeste na sua visão mais significativamente dramática, o Nordeste na aguda crise da seca.

Gilberto Amado disse a propósito da morte de sua mãe: "Apagou-se aquela luz no meio de todos nós". Para o Nordeste, e tenho certeza para todo o país, a morte de Luiz Gonzaga foi o apagar de um grande clarão. Mas com seu desaparecimento não cessou de florescer a mensagem que deixou, por meio da poesia, da música e da divulgação da cultura do Nordeste.

Em sua obra ele está vivo e vive no sertão, no pampa, na cidade grande, na boca do povo, no gemer da sanfona, no coração e na alma da gente brasileira, pois, como disse Fernando Pessoa, "quem, morrendo, deixa escrito um belo verso, deixou mais ricos os céus e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente".

Fonte: Site Senador Marco Maciel foi vice-presidente da República. Foi governador do Estado de Pernambuco (1979-82), senador pelo PFL-PE (1982-94) e ministro da Educação (governo Sarney).

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MENSAGEM DE ANIVERSARIO PARA O AMIGO E IRMÃO PADRE ANTÔNIO DE JESUS MORENO PINTO

Professor Francisco José Pinto envia mensagem pela data de aniversário, 70 anos do Padre Antônio Moreno comemorado nesta sexta, 15 de de julho. Francisco é formado em Filosofia pela Faculdade de Ciência e Letras de Cajazeiras, Paraíba e bacharel em Teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza, Ceará. Mestre em Ciências do Matrimônio e da Família (Espanha).

Confira carta:

MENSAGEM DE ANIVERSARIO PARA O AMIGO E IRMÃO PE. ANTÔNIO DE JESUS MORENO PINTO

“Agora que a velhice começa, preciso aprender com o vinho a melhorar envelhecendo e, sobretudo, a escapar do terrível perigo de, envelhecendo virar vinagre “. Dom Helder Câmara

Hoje dia 15 de Julho é o seu aniversário e quero como sempre tenho feito lhe dirigir algumas palavras mesmo sabendo que as palavras são limitadas e em muitas situações da nossa existência impotentes. Sempre gosto de recordar a advertência de Santo Agostinho “as palavras são um parto de necessidade “. A linguagem é o instrumento que nos permite expressar os sentimentos sobre as pessoas mas de modo algum elas expressam tudo o que a pessoa é. Neste sentido, a melhor definição para o ser humano é mistério. 

Sim! Somos um mistério para nós mesmos. Não possuímos em nós mesmos a justificação da nossa existência. Vir a este mundo é uma atitude de generosidade e bondade da parte de Deus. Deus não joga dados. Cada pessoa é fruto de um pensamento amoroso da parte de Deus. Não somos fruto da acaso ou destino. Apesar do drama que a existência comporta a luz da nossa fé acreditamos que a nossa vida tem um sentido que transcende os limites da pura razão. Somente uma razão aberta ao mistério é capaz de voar em direção a verdade que é Deus.

Amigo eu creio que a verdade mais revolucionária de todos os tempos é somente uma: Deus é Amor! Deus nos ama e somos chamados a amar como Ele nos amou. É só isso que importa nesta vida: somos amados por Deus e assumidos de verdade como filhos de Deus. Não existe maior dignidade do que esta. Tudo o mais: ser padre, bispo, papa se torna insignificante. Para Deus somos filhos e não funcionários de uma empresa. Para Deus o ser tem a primazia. O capitalismo conseguiu envenenar as pessoas de que somos o que temos ou os cargos que ocupamos. Que triste ilusão do demônio! 

O capitalismo penetrou nas veias da própria Igreja. Mas devemos crer na Igreja apesar de homens tiranos e perversos que a governam. O amor e a verdade estão condenados a vencer sempre. Só o amor constrói e dá sentido a nossa existência. O inferno é a ausência de amor. Quem não amam frustra a sua existência. Como muito bem nos recorda a carta encíclica redemptor hominis:

“O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se o não experimenta e se o não torna algo seu próprio, se nele não participa vivamente “.

Deus é Amor. Dentre as mais sublimes formas de amor ocupa um lugar privilegiado a amizade. Me arrisco a dizer que a amizade é a forma suprema de amar porque inclusive o matrimonio e as relações familiares de modo geral podem fracassar se não existir amizade. A vida seria muito triste sem um amigo. Encontrar um amigo é como encontrar um grande tesouro.

 Os amigos embora, raros são como diz uma canção um pedaço do céu. Na minha vida quando o vento agitou as ondas do mar abaixo de Deus só restou você. Quando mudam as circunstancias é que se ver de verdade quem são os verdadeiros amigos. Agora estás exilado no lugar que deveria ser a sua família: a igreja. Não tenha medo! A solidão e o ostracismo que te condenaram injustamente e de maneira covarde quando povoadas pela presença de Cristo e uma consciência tranquila se torna escola de aprendizado e crescimento interior.

Querido amigo não tenha medo! Você participa do destino dos profetas. Todo profeta é perseguido, caluniado, difamado e considerado maldito. O destino de todo profeta é a solidão. A única certeza é contar com a graça de Deus. Como distinguir um verdadeiro profeta de um falso profeta? Os falsos sempre falavam e falam para agradar o rei. Os verdadeiros dizem que o rei está errado quando está errado. Os verdadeiros profetas são fieis a Deus. Importa mais obedecer a Deus do que aos homens. O grande Sócrates antes de Cristo já advertia: Mas vale sofrer uma injustiça do que cometê-la. Quando a praticamos revelamos o quanto nosso ser se encontra desfigurado.

Fostes golpeado com a pedra mais dura com a qual se pode golpear uma pessoa: a língua. No entanto, segues produzindo frutos de bondade e gratuidade. Se cortaram a árvore verde imagina o que não podem fazer com as árvores secas. Creio que o diabo se encarna em pessoas e estruturas. Infelizmente os homens religiosos sabem como fazer o mal e no final das contas ainda são canonizados. No entanto, somente uma coisa devemos temer: o juízo de Deus. Quem nos julga é o Senhor. Todo juízo humano é sempre superficial e limitado. Deus é o único e supremo juiz.

Sempre tive inveja do senhor pelo fato de não saber guardar ódio nem rancor contra ninguém. Isso é graça de Deus. Me faz lembrar outra vez mais o grande Dom Helder Câmara: Há criaturas como a cana: mesmo postas na moenda, esmagadas de todo, reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura. Na realidade não deveria caber ódio no coração de um cristão. Nunca vi em todo tempo que lhe conheço o senhor tramar o mal contra ninguém. Tens muitas vezes a dureza de uma pedra mas simultaneamente o coração de uma criança. Se o senhor fosse doente de vaidade era pra ser uma das pessoas em Petrolina das mais vaidosas pela inteligência e pela vasta formação que conquistou. Deus lhe protegeu do estrelismo. 

De fato, o senhor é uma pessoa simples, humilde, honesta, integra e sincera. Outro dia estava lendo sobre o significado da palavra sinceridade e descobri que sinceridade significa o mel puro sem cera. Perfeito somente Deus mais você é uma das pessoas mais transparentes que já conheci. Tenho medo das pessoas santas. A santidade supõe uma humanidade bem educada e trabalhada. Não existe santidade sem valores humanos fundamentais.

Nesta vida estamos todos em processo de gestação. O nosso eu verdadeiro ainda estar por nascer. Somos seres incompletos e sempre protestamos contra a nossa realidade efêmera e limitada. Não queremos viver muitos anos mas para sempre. Deus colocou em nós o desejo de plenitude e eternidade. Todo homem é uma saudade de Deus. Nunca estaremos satisfeitos neste mundo. Somos todos exilados neste mundo. A nossa pátria verdadeira é o céu. Maldito o homem que coloca sua esperança no dinheiro e no poder.  

Obrigado pela sua lealdade e amizade e sobretudo por saber promover as pessoas que estão a sua volta. A sua vida é um dom de Deus. Deus já trabalhou e continuará a trabalhar por meio da sua vida para ajudar a enxugar as lagrimas das pessoas. Deus sabe da sua história e dos teus sofrimentos. Obrigado por ser meu amigo. Se cometi algum exagero nesta singela mensagem reza pelo autor é sinal de que precisa amadurecer e se abrir mais a graça de Deus.

Parabéns pelo seu aniversário!

Nunca vou poder pagar o que fez por mim.

Seu amigo,

Professor Francisco José Pinto

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