CONFERÊNCIA DA ONU PARA BIODIVERSIDADE COMEÇA NESTA SEGUNDA (13)

COP. Uma sigla com a qual a maioria das pessoas já está familiarizada devido às discussões sobre o aquecimento global. Porém, a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas não é o único evento internacional realizado pela ONU com objetivo de tentar salvar o planeta de catástrofes ambientais. Na segunda-feira (11/10) tem início a COP-15, Conferência sobre Diversidade Biológica, com o desafiador objetivo de estabelecer metas de conservação da vida animal e vegetal para a próxima década.

A primeira parte da COP-15, que ocorre, virtualmente, até sexta-feira, vai abordar questões-chave, como perdas recordes de habitats, degradação de áreas protegidas, ameaça e extinção de espécies animais, entre outras. A segunda etapa da conferência, que acontece no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, será realizada na China, de 25 de abril a 8 de maio do próximo ano. Essa última sessão é considerada a mais decisiva, pois é dela que sairá o documento a ser acordado pelos países e Estados-membros das Nações Unidas. Atualmente, 195 nações ratificaram a convenção, que nasceu no Brasil, em 1992, na Cúpula da Terra do Rio de Janeiro. 

A cada dois anos, governos de todo o mundo são convocados pela convenção a participar da Conferência sobre Diversidade Biológica, a COP, e discutir políticas de conservação. A edição atual ocorre em um momento de declínio da biodiversidade a uma taxa sem precedentes na história. De acordo com relatórios da ONU, 1 milhão de plantas e animais estão em risco de extinção por causas antropogênicas — ou seja, devido à ação do homem. Além disso, do evento deve sair o acordo sobre novas metas para a próxima década, por meio do Marco 

O documento pretende estabelecer um plano para implementar ações e garantir que, até 2050, a convivência do homem com o meio ambiente seja mais harmoniosa. Um grande desafio, visto que as 20 metas acordadas em 2010, no Japão, e que deveriam ter sido cumpridas nos últimos 10 anos, não saíram do papel. Nenhuma delas.

“Contamos com a biodiversidade para regular o meio ambiente, para manter um planeta habitável. Nossos sistemas alimentares requerem rica biodiversidade e ecossistemas para produzir os alimentos que comemos. Embora essa reunião seja em grande parte cerimonial, é quando os líderes estabelecem metas e fundos para a ação para a próxima década”, destaca Morgan Gillespy, do Instituto de Recursos Mundiais (WRI), organização não governamental com sede na Inglaterra. Ela se refere ao fato de o descumprimento das metas não acarretarem sanções aos países. Porém, Gillespy, que participou de uma coletiva de imprensa on-line sobre o evento, destaca que o sucesso de políticas sobre diversidade biológica é crucial para o desfecho positivo da COP-26, do clima, que acontecerá no próximo mês, em Glasgow.

O clima e a biodiversidade dependem um do outro e não podem ser encarados separadamente, sustentam pesquisadores e especialistas em políticas ambientais. Destruição de florestas levam à perda da biodiversidade e contribuem significativamente para o aumento de temperatura; esta, por sua vez, é responsável por alterar biomas, colocando em risco espécies vegetais e animais. 

“São duas crises mescladas que precisam ser resolvidas juntas. Ecossistemas saudáveis, como florestas e oceanos, armazenam melhor o carbono. E limitar o aquecimento global reduz o risco de desaparecimento de espécies”, disse à agência France-Presse de notícias (AFP) Elizabeth Maruma, secretária-executiva da Convenção de Diversidade Biológica da ONU. “Contamos com a biodiversidade para regular o meio ambiente, para manter um planeta habitável”, lembrou Li Shuo, oficial sênior de políticas públicas sobre o clima do Greenpeace China, em uma entrevista on-line.

PONTOS CHAVES: As metas a serem discutidas concentram-se em três objetivos: conservação da biodiversidade, uso sustentável da biodiversidade e participação justa e equitativa dos benefícios resultantes da utilização dos recursos genéticos. O texto que será discutido agora e no próximo ano trata de 21 ações (veja quadro), que deverão ser colocadas em prática até 2030. 

Entre elas, a conservação efetiva de pelo menos 30% das terras emergidas e marítimas, a redução de pelo menos metade dos fertilizantes liberados no meio ambiente e de dois terços de pesticidas no mínimo, a eliminação de todos os resíduos do plástico, e a redução de subsídios prejudiciais ao meio ambiente (como o de boa parte do setor agropecuário, segundo relatório da ONU) em pelo menos US$ 500 bilhões.

Outro ponto a ser debatido — e esse costuma ser polêmico nas reuniões tanto de biodiversidade quanto climáticas — é a necessidade de criar mecanismos de financiamento e de acompanhamento efetivo das medidas adotadas, para que não se tornem letra morta, como aconteceu com as metas de Aichi, acordadas no Japão, há uma década.

 “Para que a COP-15 seja um sucesso, ela deve incluir um acordo global para proteger e conservar pelo menos 30% das terras, da água doce e dos oceanos do mundo até 2030, promover os direitos dos povos indígenas sobre seus territórios e mobilizar pelo menos US$ 80 bilhões em novos financiamentos para nações em desenvolvimento e comunidades locais para proteger a natureza”, aponta Brian O’Donnel, diretor da ONG Campanha para a Natureza.

Assim como ocorre nas conferências do clima, é difícil chegar a um acordo sobre a responsabilidade de países desenvolvidos, em desenvolvimento e pobres na conservação e na mitigação de danos à biodiversidade. Georgina Chandler, oficial sênior de política internacional da Royal Society for the Protection of Birds (RSPB), no Reino Unido, defende que países-chave para a biodiversidade, como Brasil, Índia e China, sejam incluídos no grupo de alta ambição, mesmo sendo nações em desenvolvimento.

 “Sabemos que a reunião da próxima semana é o tiro de partida dos próximos seis meses. Ainda temos muitos obstáculos a superar nessa corrida, e precisamos superá-los se quisermos cruzar a linha de chegada e alcançar uma estrutura de biodiversidade ambiciosa.”

Realizada em duas etapas — a primeira, começando na próxima segunda-feira, e a segunda, de abril a maio de 2022 —, a Conferência das Partes sobre a Biodiversidade (COP-15) vai, entre outras coisas, discutir 21 metas para 2030. Entre elas:

 Pelo menos 30% das áreas terrestres e marítimas globais (especialmente as de particular importância para a biodiversidade e suas contribuições para as pessoas) conservadas por meio de sistemas de áreas protegidas, ecologicamente representativos e bem conectados, além de outras medidas eficazes de conservação com base em cada região;

 Redução 50% maior na taxa de introdução de espécies exóticas invasoras, controles ou erradicação de tais espécies para eliminar ou reduzir seus impactos;

Redução dos nutrientes perdidos em pelo menos metade, e do uso de pesticidas em pelo menos dois terços, além da eliminação dos resíduos de plástico;

Contribuições baseadas na natureza para os esforços de mitigação das mudanças climáticas globais de pelo menos 10 bilhões de toneladas métricas de CO2 por ano, e que todos os esforços de mitigação e adaptação evitem impactos negativos sobre a biodiversidade;

 Redirecionar, reaproveitar, reformar ou eliminar incentivos prejudiciais para a biodiversidade, em uma forma justa e equitativa, reduzindo-os em pelo menos US $ 500 bilhões por ano;

DESMATAMENTO EM ALTA: O Brasil, que não atingiu nenhuma das metas de Aichi, é citado pelo relatório Panorama da Biodiversidade Global, divulgado neste ano pela Convenção de Diversidade Biológica, pelo papel que desempenha na conservação da maior floresta tropical do mundo, a Amazônica. O documento destaca que, de 2004 a 2012, o desmatamento caiu 84% devido a políticas de prevenção e combate. Também ressalta que, nos últimos anos, essa tendência se inverteu, sendo que, em 2019, a destruição florestal alcançou 10.129 quilômetros quadrados.

De nada adianta traçar metas de conservação da biodiversidade caso as políticas de enfrentamento às mudanças climáticas não sejam efetivadas, sustenta um estudo da Universidade de Montana, nos EUA. Os cientistas investigaram como ecorregiões e biomas nas áreas de conservação afetadas pelo aquecimento global podem se transformar — florestas virando cerrado, por exemplo —, ainda que protegidas formalmente.

Os cientistas dividiram as áreas não oceânicas da Terra em cerca de 800 ecorregiões — um ecossistema definido por geografia e biota distintas. Essas combinações de plantas e animais representam a biodiversidade do planeta. “As mudanças climáticas provavelmente afetarão os ecossistemas representados em áreas protegidas. Mas ainda não está claro como isso ocorrerá”, afirma Solomon Dobrowski, principal autor do artigo e professor da ecologia da paisagem florestal da universidade.

Também não se sabe como isso poderia afetar a eficácia das estratégias de conservação que dependem de áreas protegidas — como o esboço do Quadro de Diversidade Global Pós-2020, mais conhecido como 30 por 30, que prevê a proteção permanente de 30% da Terra até 2030 por meio da expansão da rede de unidades de conservação, entre outras iniciativas. Essa proposta será uma das mais importantes a serem Debatidas na COP-15.

ANÁLAGOS CHIPS: Os cientistas, então, usaram análogos do clima espacial — locais atuais que compartilham climas semelhantes aos projetados para uma região no futuro — para examinar como um aumento de 2°C nas temperaturas globais poderia alterar a distribuição das ecorregiões. Em seguida, analisaram como essas mudanças afetariam a estrutura 30 por 30. 

A equipe descobriu que cerca de metade da área terrestre do planeta passará por condições climáticas que correspondem a diferentes ecorregiões. Ou seja, 50% do planeta, tirando os oceanos, terá uma configuração diversa da de agora. “A mudança climática tem o potencial de mudar drasticamente os ecossistemas do planeta”, diz Dobrowski. 

“Olhamos para o mundo ao nosso redor e vemos ecossistemas que estamos acostumados a ver. Achamos que são estáveis, mas não são. E esses tipos de mudanças vão desafiar nossa capacidade de conservar a biodiversidade globalmente. ”

O grupo criou uma ferramenta on-line, Analog Atlas (https://plus2c.org/), para informar o público sobre as maneiras pelas quais as mudanças climáticas podem alterar os ecossistemas onde vivem. “Os análogos do clima contextualizam as mudanças climáticas fazendo uma pergunta simples: Onde posso encontrar o clima do meu futuro, hoje?”, resume o pesquisador. (PO)


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PROFESSOR E ESCRITOR JURANI CLEMENTINO: DIA DO NORDESTINO

Hoje é comemorado do dia do Nordestino. Mas o que é ser nordestino? Talvez a gente nunca se faça essa pergunta. Apenas somos. Nascemos na região denominada de Nordeste e por isso nos autointitulamos ou nos chamam de nordestinos. Mas, quais seriam as características comuns desse povo? Os símbolos? Os hábitos, os aspectos culturais etc... Talvez a minha condição de professor, pesquisador e sociólogo tenha me feito, algumas vezes, parado para refletir ou tentado entender o significado de ser nordestino.

Para o historiador Durval Muniz de Albuquerque Jr, autor de um importante trabalho de pesquisa sobre essa região, a ideia de Nordeste não passa de uma invenção. Uma criação humana. O livro dele, resultado de uma tese de doutorado, se chama, inclusive: A invenção do Nordeste e outras artes. E diz que a criação dessa região atendeu aos interesses das oligarquias políticas e das classes economicamente bem sucedidas que dominavam essas terras no final do século XIX e início do século XX. Esses grupos contaram com o apoio de artistas e intelectuais como escritores, poetas, romancistas, cantores e todas as suas manifestações artísticas como a música, a literatura, a artes plásticas, o cinema etc. 

Vejamos por exemplo o que fazem autores regionais como Graciliano Ramos (de Alagoas), Rachel de Queiroz (Ceará), José Lins do Rêgo e Ariano Suassuna (paraibanos), e Jorge Amado (baiano). São todos escritores e pensadores nordestinos que reforçam, através de seus textos, uma ideia do que seja o Nordeste e, portanto, o seu povo. Da literatura para a música. Quase que cem por cento da obra do nosso maior nome representativo do Nordeste, o pernambucano de Exu, Luiz Gonzaga, trata do cotidiano do nordestino. Seus dramas, suas alegrias, suas paixões, seus hábitos alimentares, suas crenças, suas as dores, seus amores... 

Ainda falando sobre musica, existe uma composição de autoria dos poetas repentistas Ivanildo Vila Nova e Bráulio Tavares, interpretada por Elba Ramalho, que pedia uma espécie de Nordeste independente do Brasil. Dizem os versos: Dividindo a partir de Salvador, O Nordeste seria outro país, Vigoroso, leal, rico e feliz, Sem dever a ninguém no exterior, Jangadeiro seria o senador, O cassaco de roça era o suplente, Cantador de viola, o presidente, O vaqueiro era o líder do partido, Imagina o Brasil ser dividido, E o Nordeste ficar independente.

Nas artes plásticas, a obra prima mais representativa sobre o Nordeste, talvez seja “Os Retirantes”, de Candido Portinari, pintada em 1944 que retrata o movimento migratório do povo nordestino. Migrante que também se faz presente nos textos de Zé Lins do Rego, nos romances de Rachel de Queiroz, que aparece nas músicas de Luiz Gonzaga. Hoje longe, muitas légua, Numa triste solidão, Espero a chuva cair de novo, Pra mim vortar' pro meu sertão. Dizem os versos de “Asa Branca” de Humberto Teixeira, cearense de Iguatu.

Migração é um fenômeno típico dessa região que aparece também nas dezenas de versos de “A triste partida” de Patativa do Assaré. Eu vendo meu burro, Meu jegue e o cavalo, Nós vamo' a São Paulo, Viver ou morrer, Nós vamo' a São Paulo, Que a coisa 'tá feia, Por terras alheias, Nós vamo' vagar. O mesmo Patativa que, politizado, não culpa apenas a seca, um Deus punitivo ou os fenômenos naturais pelo problema da migração, mas também as ações humanas e políticas (ou a falta delas). Vejam esses versos do poema “Nordestino Sim, Nordestinado não” Mas não é o Pai Celeste. Que faz sair do Nordeste. Legiões de retirantes. Os grandes martírios seus. Não é permissão de Deus. É culpa dos governantes.

A ideia de Nordeste e de nordestino está espalhada por toda parte. Nas comidas, nos hábitos, nos costumes, nos aspectos culturais e mesmo sendo uma região formada por nove estados e com uma imensa diversidade climática, ainda perdura um conceito de Nordeste bastante associado ao atraso, seja ele, econômico, político, social.  O nordestino também é visto como aquelas figuras folclóricas do teatro de Ariano Suassuna, que depois foram para o cinema e a televisão a exemplo de João Grilo e Chicó. Há ainda quem associe a ideia de nordestino aquela figura que possui força e resistência. Euclides da Cunha afirmou, em “Os Sertões”, que o sertanejo é “antes de tudo um forte”.  E o sertão está dentro do Nordeste também, ou seria o nordeste que está dentro do sertão? Nos versos do poema “Sertão”, Patativa do Assaré ainda se refere às dores e os sabores de viver por aqui: Desta gente eu vivo perto. Sou sertanejo da gema. O sertão é o livro aberto. Onde lemos o poema. Da mais rica inspiração. Vivo dentro do sertão. E o sertão dentro de mim. Adoro as suas belezas. Que valem mais que as riquezas. Dos reinados de Aladim.

Talvez inspirado por Patativa, eu também escrevi uns versos, entre 1998 e 1999 do século passado, cheios de nostalgia, de afeto, de uma relação de pertencimento ao lugar. Uma poesia repleta de pureza, mas também construída com base naquelas verdades sentidas e vividas pelo povo nordestino e pelo povo sertanejo... Minha terra onde nasci, Guardo no meu coração, Lugar onde eu cresci, O meu pedaço de chão. Ali ficou minha infância, Dali veio a juventude. Ali passaram meus dias. Naquela terra fui rude. Lutando para viver. Vivendo a conhecer. Minha própria inquietude. Agradeço ao Deus pai. Por aqui me encontrar. Falando da minha terra. Admirando o luar. Com toda sua beleza. Da força da natureza. Que brota nesse lugar.

Então o Nordeste é um pouco isso e muito mais. É sentimento, é poesia, é alegria, tristeza, força, coragem, migração. Mas também é beleza, criatividade, é inovação. O nordestino é uma maneira de ser, de sentir e de pertencer a uma região. Nordestino é acima de tudo um maravilhoso estado de espírito.

**Jurani Clementino-Jornalista, Doutor em Ciências Sociais, Escritor e Professor Universitário. Autor de: Forró no Sítio (Crônicas, 2018) e Zé Clementino: o ´matuto que devolveu o trono ao rei. (biografia).

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DIA NORDESTINO: MANOEL PAIXÃO, O VALOR DA CULTURA, A ARTE DE AFINAR SANFONAS

No Dia dedicado ao Nordestino, o BLOG NEY VITAL destaca o sanfoneiro, Manoel Rodrigues Paixão, 49 anos. Ele nasceu em Afrânio, Pernambuco. Mora em Petrolina. 

Apaixonado por sanfonas é tocador desde os 12 anos. Possui o dom cada vez mais raro no Brasil e em especial no Nordeste: conserta e afina sanfonas.

Manoel Paixão herdou do pai os ensinamentos sobre o instrumento, que já veio do avô e irmãos. "O importante é ter um ouvido afinado para a música. É só para quem tem paciência", diz.

Afinar sanfona é assunto tão complexo e especial que até o Rei do Baião Luiz Gonzaga, tinha seus afinadores de sanfona escolhido. Um deles era Arlindo dos Oito Baixos, já falecido.

Manoel explica que para afinar sanfona é preciso paciência. "Existe casos mais simples outros consertos mais complexos. A gente faz tudo, limpeza, tira a ferrugem, faz conserto, restauração, manda fazer fole, pintura e reencapamento. Em alguns casos a restauração tem que ser completa numa sanfona", conta.

Uma restauração completa pode chegar a R$ 3.000. A afinação de uma sanfona profissional custa de R$ 800,00 a R$ 1.000, e o valor para as sanfonas intermediárias varia de R$ 400 a R$ 500.

"É um trabalho cada vez mais raro. Pois são poucos os sanfoneiros que consertam e afinam. É um trabalho diferenciado".

Em Fortaleza, o técnico em acordeon há 39 anos, Irineu Araújo diz que o tempo necessário para realizar a afinação de uma única sanfona varia de dois a quatro dias, segundo Araújo, depende do estado do instrumento. 

Uma sanfona profissional tem cerca de 41 teclas, com 164 'vozes' apenas no teclado. "Indo e voltando, são 328 vozes só no teclado, juntando com as vozes do baixo, são quase 448 vozes a serem afinadas ao todo", diz o afinador.

Em casos em que a sanfona não está tão desafinada, o técnico leva menos tempo, cerca de um dia. "Nem muito, nem tão pouco. Se você tocar muito, vai desafinar. Mas você também não pode ter um instrumento pra ficar sem usar", explica.

 "Meus clientes cativos são Ítalo e Renno, Waldonys, bandas como Mastruz com Leite, Aviões do Forró, Forró Real... Esses eu já conheço há muito tempo, e a afinação acaba sendo mais rápida, porque eles tocam bastante", diz o afinador.

O afinador explica que para aprender a técnica há caminhos diferentes. Em conversas com afinadores mais antigos, foi aprendendo a sequência certa para realizar o trabalho. 

"A primeira pessoa a me passar uma lição, foi meu irmão, que aprendeu com meu pai. Só que eu conversando com um antigo afinador, Hermínio Rocha, tive minhas primeiras lições da sequência certa. Luis Bandeira, também me deu instruções em conversas, tirando dúvidas", comenta. 

Irineu afirma que a afinação de um acordeon é temperada, ou seja, nunca é completamente perfeita, para ser harmônica. "Tem que ter uma diferença de uma gaita pra outra até chegar na harmonia. O ouvido tem que funcionar muito bem", completa.

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RESGATANDO MEMÓRIAS, FAZENDO HISTÓRIAS ACONTECE EM CURAÇÁ NESTA SEXTA

RESGATANDO MEMÓRIAS, FAZENDO HISTÓRIAS. 10 anos de desfiles cívicos da Escola Municipal Santo Antônio. Juazeiro-BA - Itamotinga - NH3.

Dia: 08/10/2021. Horário:  14 horas Local: Escola Municipal Santo Antônio. Abertura: 14 horas.

Atrações: Stands com exposição sobre os 10 anos de realização de desfiles cívicos da Escola Municipal Santo Antônio, abertos à visitação.

Coletivo Cultural Galeota das Artes. Show Musical, Bloco Afro-percussivo, Teatro de Bonecos, Reisado Mirim.

Grupo de Capoeira: Redimidos de Curaçá-BA /Juazeiro- BA.

Idealização e Realização: Escola Municipal Santo Antônio ( Adalgisa e equipe).

Apoio e parcerias: Prefeitura Municipal de Juazeiro-BA.

Secretaria Municipal de Educação  de Juazeiro-BA. Entre tantos, foram temas dos 10 anos de desfile cívicos na Escola Municipal Santo Antônio: Juazeiro da Bahia, terra da alegria.

As cores traduzindo vida, sentimentos e emoções.

CAATINGA !!!

Celebrar a vida.

30 anos de história.

A força da mulher na construção do mundo.

Valores humanos.

De um grande sonho nasce um futuro.

A arte como expressão de comunicação, sentimento e conhecimento. (Fonte: Demis Santana)

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ESCRITOR ITAMAR JR ABORDA UM BRASIL QUASE ESQUECIDO

Um dos palestrantes de abertura da 13ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, aos 42 anos, Itamar Vieira Jr. é um dos nomes mais importantes da literatura brasileira na atualidade. 

O escritor soteropolitano, de voz tranquila e texto profundo, colhe os frutos do reconhecimento pelo seu primeiro romance, “Torto Arado”, da editora Todavia, lançado em 2019, sem deixar de lado a inquietação criativa para trabalhos futuros. Sua produção segue a premissa da crítica social, com forte olhar sobre as minorias no Brasil.

Mesmo sem data para concluir o segundo romance, o autor prevê o desdobramento das relações do homem com a terra, que não se esgotaram nas linhas de “Torto Arado”. Um desafio e tanto após o envolvimento do público com o enredo marcante de Bibiana e Belonísia, duas irmãs do Sertão baiano unidas após o acidente em que uma delas perde a voz.

 No livro, a riqueza de detalhes transporta o leitor a um cenário rural ainda alimentado por injustiças sociais. Tão imagético que, segundo Itamar, o diretor pernambucano Heitor Dhalia adquiriu os direitos da obra para uma produção audiovisual voltada para streaming.

Até então, o romance vem ganhando notoriedade pela conquista de prêmios como o Leya de Literatura, em Portugal, - País onde o livro foi lançado primeiro - além de Jabuti e Oceanos (ambos em 2020). Não à toa, a narrativa já bateu os 100 mil exemplares vendidos no País.

“O curioso é que a gente não escreve pensando em prêmios. Eu achava que, quando concluído, ia querer lançar, mas eu não tinha editora e, por isso, o livro acabou sendo publicado por uma editora em Portugal. Mas a história e os prêmios não mudam como a gente se relaciona com a literatura. É uma chancela que diz que você tem um valor literário, sem modificar os sentimentos mais simples”, analisa o autor.

O BRASIL PROFUNDO: Graduado em Geografia e servidor do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Itamar conhece de perto muitas das questões levantadas em seus textos, em que é possível identificar a complexidade social do País em toda sua desigualdade de valores e gênero - vale lembrar a força das suas protagonistas femininas. 

“Mas, como leitor, eu me interesso por literaturas diversificadas e a gente está em construção, com novos interesses para acrescentar. Nossa vida é muito dinâmica, e hoje se aborda questões que são caras para a nossa formação enquanto pais e que, daqui a cinco anos, a gente fale, por exemplo, de outras coisas mais urgentes”, destaca.

Embora o autor levante temas que o próprio Brasil ainda não se reconhece, ele acredita conseguir a empatia do leitor - inclusive não-brasileiros - a partir de sentimentos universais. “Mesmo não vivendo algumas realidades, o desejo de não ser explorado e de equidade é para todos. Sem contar que o Brasil é um país de urbanização relativamente recente, se formos comparar com outros países desenvolvidos. A nossa memória afetiva do campo ainda está muito ligada às lembranças familiares”, completa.

INFLUÊNCIAS: Entre 1995 e 1998 seu pai trabalhava no Porto de Suape e a família inteira residiu em Jaboatão dos Guarapes. “Lembro do impacto de ter lido “Morte e Vida Severina”, do pernambucano João Cabral de Melo Neto, na minha adolescência, além de compreender a relevância de Ariano Suassuna, que era paraibano, mas residiu em Pernambuco”, diz, completando a lista com outros escritores brasileiros importantes, a exemplo de Graciliano Ramos, Jorge Amado e Rachel de Queiroz.

“Embora eu fale de autores do passado, que leio hoje com o mesmo interesse, o mundo tem um ritmo muito acelerado, e é inevitável que a literatura seja influenciada por tantos fatos por aí afora. Ainda assim, acho que, quando escrevemos, a gente subverte, porque o tempo da literatura é um tempo de convite para parar e refletir", observa.

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PETROLINA SERÁ PALCO DIGITAL PARA O I FESTIVAL DE CANTORIA E CANTADORES DE 26 A 29 DE OUTUBRO

Mais de 12 artistas, entre nomes nacionais e talentos nordestinos, vão se encontrar virtualmente, de 26 a 29 de outubro, em Petrolina – PE, durante o I Festival de Cantoria e Cantadores. 

O projeto, com transmissão pelo canal do Youtube da Sincronia Filmes, a partir das 19h30, além das apresentações musicais e poéticas gratuitas, também vai movimentar os alunos das escolas públicas do município com bate-papos musicados e palestras em formato híbrido.

Com participações confirmadas de Maciel Melo (Iguaraci-PE), Ceumar (São Paulo-SP) e Camila Yasmine (Petrolina-PE), o festival, segundo seus curadores Maviael e Marcone Melo, é uma iniciativa de celebração da música autoral e da diversidade de estilos e ritmos. "Durante quatro dias iremos promover a troca de vivências e experiências de apreciação estética e formação, promovendo ricos diálogos e intercâmbios culturais, visando contribuir significativamente para o desenvolvimento da cadeia produtiva da música", pontuou Marcone Melo, idealizador e produtor do Festival.

 Fazem parte ainda da grade de programação nomes como: Nilton Freitas (Uauá-BA), Mariano Carvalho (Salgueiro-PE), Paulinho Pedra Azul (Pedra Azul-MG), Álisson Menezes (Vitória da Conquista-BA), João Sereno (Juazeiro-BA), Gean Ramos (Jatobá-PE), Ivan Greg (Petrolina-PE) e Marcone Melo (Petrolina-PE).

O I Festival de Cantoria e Cantadores tem realização e produção executiva da Melodia Produções e conta com incentivo cultural da Fundarpe e da Secretaria de Cultura do Governo de Pernambuco (Secult-PE), através da sua aprovação no 3º Edital Funcultura de Música 2018/2019.

Mais informações: (87) 98866-7387 e (71) 99922-5842.
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DESMATAMENTO, QUEIMADAS E RETRAÇÃO DE ÁGUA AUMENTAM O RISCO DE DESERTIFICAÇÃO DA CAATINGA

Mudanças na cobertura de solo nas últimas três décadas estão agravando o risco de desertificação de partes da Caatinga. Esta é uma das conclusões da análise do MapBiomas feita a partir de imagens de satélite da região entre os anos de 1985 e 2020. 

Nesse período, 112 municípios da Caatinga (9%) classificados como Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD) com status Muito grave e Grave tiveram uma perda de 0,3 milhões de hectares de vegetação nativa.

Isso representa cerca de 3% de toda a vegetação nativa perdida entre 1985-2020 no bioma. Desse total, 0,28 milhões de hectares foram perdidos em 45 municípios da Paraíba classificados como ASD.

Ao mesmo tempo, houve um decréscimo de 8,27% (-79.346 ha) na superfície de água. De forma geral, a Caatinga ficou mais seca nos últimos 36 anos. Além da redução da superfície total de água, houve também uma retração de 40% na água natural entre 1985 e 2020. Essa categoria, que engloba os cursos de água que fluem livremente, respondia por menos de um terço (27,48%) da superfície de água da Caatinga em 2020. A maior parte estava retida em hidrelétricas (42,69%) ou reservatórios (29,61%).

 Na série histórica mapeada, a menor extensão de superfície de água (629.483 hectares) foi registrada recentemente, em 2017. A média de superfície de água mapeada nos 36 anos analisados é de 922 mil hectares.

A retração da superfície de água ocorreu concomitantemente à perda de 10% de áreas naturais (-5,9 milhões de hectares). Todas as regiões hidrográficas tiveram redução de cobertura vegetal natural entre os anos de 1985-2020. A região Atlântico Nordeste foi a que apresentou maior redução em termos de área com perda de 3 Mha. Em termos percentuais, a região Atlântico Leste lidera as perdas, com 19,52%, seguida por Atlântico Nordeste (-13,40%) e São Francisco (-8,87%).

 Dos 10 municípios que mais perderam vegetação natural na Caatinga entre 1985 e 2020, oito ficam na Bahia.

A perda de vegetação primária entre 1985 e 2020 totalizou 15 milhões de hectares, ou uma retração de 26,36%. Embora tenha ocorrido um crescimento de vegetação secundária de 10,7 milhões de hectares, o saldo geral é negativo - tanto em extensão de área, como na qualidade da cobertura vegetal. A Bahia é o estado com maior área de vegetação secundária: 37,521 Km² em 2019.

Entre os fatores que provocam a perda de vegetação nativa destaca-se o avanço da atividade agropecuária. Entre 1985 e 2020 mais de 10 milhões de hectares de savana e formações florestais foram convertidos em atividades associadas à agropecuária. Outros 1,26 milhões de hectares de vegetação não florestal foram convertidos para o mesmo uso no período.

 No total, a agropecuária avançou sobre 11,26 milhões de hectares da Caatinga e passou a responder por 35,2% da área do bioma em 2020. O total de vegetação nativa da Caatinga (ou seja, a soma das áreas ocupadas por savana, campo e floresta) ocupava 63% do bioma, respondendo por 9,8% da vegetação nativa do Brasil.

PASTAGENS, AGRICULTURA E QUEIMADAS: A área de pastagens teve um crescimento de 48%, ganhando 6,5 milhões de hectares em 36 anos - desse total, 4,612 milhões de hectares apenas nos estados da Bahia, Ceará e Pernambuco. A Bahia destaca-se como o estado onde as pastagens mais aumentaram: 2,34 milhões de hectares entre 1985 e 2020.

Em 1985, pastagens ocupavam 15,6% da Caatinga; em 2020, eram 23,1%. Mais da metade (53,6%) de toda a área de pastagem mapeada encontra-se na Bahia. Juntos, os estados da Bahia e Pernambuco representam cerca de 65,4% dos 20 milhões de hectares ocupados por pastagens em 2020.

Pouco mais de um terço (34,1%) de toda a área de Mosaico de Agricultura e Pastagem mapeada na Caatinga fica no Bahia que, junto com Ceará e Piauí, representam cerca de 64% dos 9 milhões de hectares identificados em 2020. Esse tipo de ocupação de solo cresceu apenas em Minas Gerais e Piauí no período avaliado, com uma área de 0,238 milhão de hectares. Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte tiveram uma diminuição de 0,854 milhão de hectares entre 1985 e 2020.

No caso da agricultura, houve crescimento - e significativo. O aumento da área ocupada foi de 1456%, com o acréscimo de 1,33 milhão de hectares entre 1985 e 2020. Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia representam cerca de 64,5 % de toda variação encontrada entre 1985 e 2020, com um aumento de 1,094 milhão de hectares.

O mapa das cicatrizes do fogo mostra uma maior ocorrência de queimadas na fronteira oeste da Caatinga, onde ela se encontra com o Cerrado, na fronteira agrícola denominada MATOPIBA (sigla dos estados qua a formam). Os estados do Piauí, Bahia e Ceará respondem por cerca de 87,28% do total de área queimada no bioma.

"Os impactos das mudanças de uso do solo são potencializados pela crise climática e o resultado é uma Caatinga ainda mais seca e vulnerável", explica Rodrigo Vasconcelos da UEFS e do MapBiomas.

Também chama a atenção o crescimento da área ocupada por infraestruturas urbanas, de 145% entre 1985 e 2020, ou 0,3 milhão de hectares da Caatinga. Ao todo, a área urbana ocupava 0,5 milhão de hectares em 2020. Desse total, cerca de um terço (30%) fica no Ceará, único estado da região situado inteiramente no bioma. Juntos, Ceará, Bahia e Pernambuco respondem por dois terços (66,4%) desse total. Esses três estados também respondem por dois terços (64,%) do aumento de área registrado nos últimos 36 anos, na regão metropolitana de Fortaleza e em cidades médias desses estados.

DESERTIFICAÇÃO: O município de Caturité (PB) apresenta perda da vegetação natural de 40%, associada à diminuição da superfície de água em 51,8% e uma média de 26 hectares de área queimada por ano entre 1985 e 2020.

O município de São José da Lagoa Tapada (PB) apresenta perda da vegetação natural de 16% e diminuição da superfície de água em 28%, com uma média de 411 hectares de área queimada por ano entre 1985 e 2020.

"Ambos os municípios, situados em áreas classificadas como de grave suscetibilidade aos processos de desertificação exemplificam o avanço desse processo na região", pontua o Prof. Washington Rocha, da UEFS e do Mapbiomas. Ainda segundo o professor, "nessa fase inicial, a desertificação é um processo quase invisível, somente detectado por sensores como aqueles usados pelo Mabiomas e seus efeitos deletérios somente se revelam nos estágios mais avançados quando não é mais possível realizar qualquer medida de controle.

A Bahia concentra pouco mais de um quinto (21,5%) de toda a área de savana da Caatinga mapeada em 2020, quando esse tipo de formação vegetal ocupava 44,2 milhões de hectares. Desse total, 84,2% ficam nos estados da Bahia, Ceará, Piauí e Pernambuco.

Entre 1985 e o ano passado, foram perdidos 10% de formações savânicas, ou cerca de 5 milhões de hectares. A maior redução ocorreu na Bahia: -2,096 milhões de hectares. Nesse período, dos 10 municípios da Caatinga que mais perderam savana, oito ficam na Bahia. Juntos, os estados da Bahia, Ceará e Pernambuco tiveram uma redução de 3,68 milhões de hectares de savana nos últimos 36 anos.

No Ceará ficam 37,34% dos 5,7 milhões de hectares de Formações Florestais mapeadas na Caatinga em 2020. A quase totalidade dessa área (90,1%) fica nos estados do Ceará, Bahia e Piauí. Mas o Ceará é também o estado que apresentou maior redução desse tipo de cobertura vegetal entre 1985 e 2020: -0,34 milhões de hectares. Dos 10 municípios que mais perderam Formações Florestais na Caatinga nesses 36 anos, oito pertencem ao Ceará. Juntos, os estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte perderam 0,55 milhões de hectares de formações florestais no período.

BAHIA: A Bahia é também o estado com maior área de Formações Campestres: mais da metade (57,2%) do total de 3,8 milhões de hectares mapeados em 2020. Quase três quartos (72,46%) dessa área ficam na Bahia e no Piauí. Porém, dos 10 municípios que mais perderam Formações Campestres na Caatinga entre 1985-2020, três pertencem ao estado da Bahia.

 Juntos, os estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba respondem pela redução de 0,2 milhão de hectares desse tipo de cobertura vegetal entre 1985-2020. Apenas o estado do Ceará apresentou aumento: +0,21 milhão de hectares. (Fonte: MapBiomas)

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