DISCURSO ONALDO QUEIROGA NA POSSE ACADEMIA DE LETRAS JURÍDICAS DA PARAÍBA

Onaldo Rocha de Queiroga é natural de Pombal, Paraíba formou-se em Direito em 1987, ocupando diversos cargos na área, em várias cidades paraibanas. Atualmente é juiz na capital da Paraíba.
Ingressou na literatura com o livro Esquinas da Vida e prosseguiu com Baião em Crônicas, Reflexões, Por Amor ao Forró, Crônicas de um Viajante, Meditações, Monólogos do meu Tempo; Efeitos, Homíneos e Naturais, entre outros.

Confira discurso posse na Academia de Letras Jurídicas da Paraíba:

Ilustríssimo Senhor Presidente da ACADEMIA DE LETRAS JURÍDICAS DA PARAÍBA, DR. Alberto Jorge, meu amigo e irmão. 

Senhores Acadêmicos, Senhoras Acadêmicas. Autoridades, familiares e amigos presentes nesta solenidade. 

Recebam todos o meu carinhoso Boa noite...!

“Jamais nos é dado ter um desejo sem que nos seja dado também o poder de torná-lo realidade. Contudo, é possível que tenhamos que lutar para alcançá-lo.” 

Desse pensamento do inovidável Richard Bach, aflora a certeza de que quando lutamos com fé sempre é possível transformar o sonho em realidade.

Hoje é uma noite especial. Embevecido e enternecido, vislumbro a imensa responsabilidade que, agora, assumo. 

PARA TANTO, Inicialmente, passo a promover alguns agradecimentos. Primeiro a Deus. Segundo a minha família, minha amada esposa Márcia Queiroga, meus filhos, minhas noras, genro e minhas netas Isabela e Laura. Aos meus pais Antônio Elias de Queiroga e Onélia Setúbal Rocha de Queiroga.

Agradeço a todos os confrades e confreiras desta Academia, que através de eleição escolheram-me para ocupar a Cadeira, cujo Patrono é o Ministro Djaci Alves Falcão, paraibana da cidade Monteiro, nascido em 4 de agosto de 1919, filho de Francisco Cândido de Melo Falcão e de Inês Alves Falcão, o qual bacharelou-se em Direito na tradicional Faculdade de Direito de Recife-PE no ano de 1943. 

Registre-se que esse notável paraibano no ano de 1943 ingressou na carreira da magistratura como Juiz de Direito do Estado de Pernambuco, tendo sido promovido ao Cargo de Desembargador do Egrégio Tribunal de Justiça de Pernambuco no ano de 1957, integrando, ainda, naquele estado o Colendo Tribunal Regional Eleitoral de 1965 a 1967. 

Saliente-se, ainda, que o Ministro Djaci Falcão, assumiu a cátedra de Direito Civil, quando foi fundado o Curso de Direito da Universidade Católica de Pernambuco em 1959. 

No ano de 1967 foi indicado para o Cargo de Ministro do Colendo Supremo Tribunal Federal, tendo presidido o aludido Pretório de 1975 a 1977. O Eminente Djaci Falcão passou 22 anos como Ministro do STF, tendo se aposentado em 1989.  

Casado com a senhora Maria do Carmo Araújo Falcão, com quem teve 3 filhos,  o atual Ministro Francisco Falcão do STJ, a senhora Conceição e senhor Luciano, além de 9 netos e um bisneto. No ano de 2012, o Ministro Djaci Falcão rompe os umbrais da eternidade, deixando um legado vultuoso não só na seara jurídica, mas também no campo acadêmico, pois dentre as inúmeras de suas publicações, destaca-se:

Da responsabilidade civil, extensão da responsabilidade do proposto ao proponente; Do mandado de segurança contra decisão judicial; Da igualdade perante a lei; Alguns aspectos do poder do juiz na direção do processo; O Poder Judiciário e a conjuntura nacional; Reforma do Poder Judiciário 

É importante também destacar láureas de um paraibano tão homenageado e, aqui, cito algumas condecorações recebidas pelo Ministro Djaci Falcão:

•Medalha do Mérito de Pernambuco; Medalha do Mérito da Cidade do Recife; Medalha do Mérito Judiciário - Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo; Medalha da Ordem do Mérito Eleitoral Frei Caneca - Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Pernambuco; Título de Cidadão do Estado de Pernambuco; Título de Cidadão do Estado de Goiás; Grã-Cruz da Ordem do Mérito do Rio Branco; Ordem do Mérito da República de Portugal; Ordem do Mérito da República da Romênia; Em 1995, o edifício-sede do Tribunal Regional Federal da 5ª Região passou a ser nominado em sua homenagem, como reconhecimento aos relevantes serviços por ele prestados durante quase quarenta e cinco anos dedicados à magistratura brasileira.

Meus confrades e confreiras.

Diante de um grandioso curriculum do Patrono da Cadeira que ora assumo, não tenho dúvida da responsabilidade que pesa sobre os meus ombros a partir deste instante. Mas, a vida é feita de sonhos e de desafios, por isso, sem temor e com Deus no coração, ao tomar posse, dou o primeiro passo pela nova estrada que a existência me reservou. 

Ciente de que foram longas as esquinas e veredas que tive que percorrer até chegar este momento, mas sempre movido pela fé em Deus e a coragem que Ele nos revela a cada nascer do sol, aqui estou imbuído do espírito de congregar e somar esforços para o engradecimento da Academia de Letras Jurídicas da Paraíba. 

O menino de Antônio e Onélia, em seu âmago sempre trouxe o interesse pela leitura e pela escrita. Essa inspiração corre na veia, é da genética, seja da parte do meu pai, como também da minha mãe. 

Os horizontes educacionais nos direcionaram para beber na fonte do saber, inicialmente, da professora Maria Betânia Salvino, em Catolé do Rocha. Depois bebi da inesgotável fonte do saber, precisamente, do Professor Luiz Mendes, sim, recebi a base educacional, curso primário e ginasial, no Instituto Rio Branco na Cidade de João Pessoa. Dali segui para o Colégio 2001 – CEPRUNI, do Professor Roberson e da saudosa professora Bergalice, de onde em 1984 após lograr êxito no vestibular do Curso de Direito do UNIPÊ, passei ali dois anos e meio, todavia, em seguida, fui para a UFPB, haja vista que por meio de novo vestibular passei a cursar o Curso Direito daquela instituição federal.

Colei Grau no Curso de Direito no final do ano de 1987. Advoguei de 1988 ao início do ano de 1991, oportunidade em que após lograr êxito no Concurso de Promotor de Justiça do Estado da Paraíba, fui nomeado para a Comarca de Belém de Caiçara. Logo depois fui promovido para a Comarca de Conceição, ocasião em que também substituí a Comarca de Itaporanga. 

No início do ano de 1992, tendo sido aprovado no Concurso de Juiz de Direito da Paraíba, fui nomeado para a Comarca de Pirpirituba. Posteriormente fui promovido para a Comarca de Sousa, passando depois pela Comarca de Campina Grande e por fim, aportei na Comarca de João Pessoa, onde tenho exercício funcional desde 1998 na 5ª Vara Cível. Ocupei, ainda, por 4 anos a Direção do Fórum Cível da Capital, o Cargo de Corregedor Auxiliar de 2007 a 2009 e  o Cargo de Auxiliar da Presidência de 2013 a 2015.

Durante esse longo período exerci algumas vezes a função de Juiz Eleitoral, seja em Zonas Eleitorais, bem como membro do TRE-PB, no período específico de 2001 a 2003. Já perfaço mais 29 anos de magistratura. 

Durante todo esse tempo também me dediquei a escrita compilando livros na seara de crônicas literárias, de biografias, de poesia e do campo jurídico. Em 2012 lancei o Livro intitulado Desjudicialização dos Litígios, pela Editora Renovar, do Rio de Janeiro. Desde 1996 sou membro da Academia de Letras de Pombal, minha terra. 

Meus senhores e minhas senhoras. A vida acadêmica proporciona estudos e aprimoramentos que, sem dúvida, amadurece a visão do homem sobre a longa, mas, ao mesmo tempo, efêmera caminhada da vida. Na seara específica do direito, a academia possibilita se estudar e também ensinar com mais detalhamento e percuciência não só sobre a letra fria da lei, mas também interpretá-la numa construção de pensamentos, muitas vezes com o alcance de conjunturas e aspectos que emergem de um olhar mais humano. 

A vida acadêmica jamais deve ser alheia aos assuntos que se entrelacem com os dilemas e com os proveitos do povo, pois é inegável a importância do fator histórico-social que uma Academia exerce no fortalecimento de uma sociedade. Seu papel é, inquestionável, no sentido de que com sua densidade cultural proporciona impacto e tem influência, decisiva, no seio da comunidade, precipuamente, em termos de disseminação de princípios jurídicos, como também de valores morais, éticos, existenciais, educacional etc…

Não podemos permitir que o significado originário da palavra “Academia” se perca no tempo, pois como sabemos ela surgiu historicamente do herói grego Academo. E contam os livros que o seu túmulo emprestava o nome ao um lindo bosque, onde posteriormente fora dedicado à deusa Atenas e, que depois veio a receber a construção da Academia de Platão, discípulo de Sócrates, conhecida como Academia Platônica, ou mesmo, Academia de Atenas, considerada como a primeira escola de filosofia do mundo. E foi nela que o grande Aristóteles, com apenas 16 anos de idade, ingressou e entregou ao mundo, grandes contributos, que até hoje servem de lição para a humanidade.

Vejo a nossa Academia com uma atuação bem dinâmica, com múltiplas iniciativas que levam atividades diversas, no campo que lhe compete, para um público muito amplo, inclusive, alcançando estudantes de direito e também aberto para os inúmeros profissionais da seara do direito. Isso me apaixona. Esse dinamismo me contagia. E por isso, repito, vim para me aglutinar, somar, unir e, como diz o matuto lá da minha terra, vim me ajuntar a todos os amigos confrades e amigas confreiras para reforçar, fortalecer, intensificar os trabalhos dessa Academia em prol da nossa sociedade. 

Destarte, num outro contexto, vejo que o crescimento exagerado dos Cursos de Direito levando ano a ano um número, para muitos excessivos de Bacharéis em Direito, jamais terão o condão de desvalorizar a carreira jurídica, pois como já afirmara, certa vez, o Desembargador Antônio Elias de Queiroga: “A circunstância de haver no Brasil o que se  chama de " inflação de Bacharéis ", não desvaloriza a nobre carreira do jurista. Os valores espirituais não são como os materiais, que crescem ou decrescem, na razão inversa da sua quantidade. Maior quantidade de Bacharéis significa, pelo contrário, valorização da classe, se cada um representar uma unidade de cultura”. É o Bacharel em direito com sua alma inquietada pelas dores sociais que luta com sua eloquência e escrita na defesa de uma sociedade mais justa. 

Prometi ser breve. E serei. Peço licença neste momento, para tecer algumas palavras em relação ao amigo e confrade Rodrigo Toscano, dileto jovem que o conheço de longas datas. Dr. Rodrigo Azevedo Toscano de Brito, graduado em Direito pela UFPB, em 1996, possui mestrado de Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2000) e doutorado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004). Atualmente é professor de Direito Civil da UFPB, nos cursos de graduação e pós-graduação; professor direito civil da especialização da UFPE. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Civil, atuando principalmente nos temas: contratos, direito do consumidor, direito imobiliário, direito de família, responsabilidade civil e direito hereditário. Uma pessoa humana que contagia todos por onde passa, com sua alegria, sempre de bom humor, bom filho, esposo e pai, mas acima de tudo um amigo. Agradeço, imensamente, as palavras que me foram dirigidas, sei que frutos da bondade do seu coração. Muito obrigado amigo Rodrigo. 

Senhores confrades e Senhoras confreiras, peço licença para uma reflexão sobre o tempo que vivemos, o tempo em que assumo e passo a integrar esta Academia. Vivemos um tempo estranho, pois, de repente 2020 nos trouxe a pandemia da COVID-19. Acostumados com a frenética movimentação diária de carros e pessoas se misturando pelas ruas, nos vimos de pronto, guiando veículos por ruas desertas, sentindo o silêncio e o vazio da incerteza. Ao olhar o horizonte despovoado, com asfalto, calçadas e nenhum transeunte visível, a espada do medo tocou o homem. Realmente um tempo estranho, que ainda hoje nos deixa, confusos e vulneráveis. Os dias para muitos são iguais, muita vezes pensamos que sempre estamos no domingo. A rotina do isolamento mexeu com o labirinto da consciência.

De repente fomos forçados a nos transformar numa espécie de afinador do silêncio, diante do isolamento e, solitários, entregues ao infinito tempo. De repente fomos transformados em ilhas e a sensação era de que talvez o mundo tinha se ultimado, mesmo antes do aniquilamento deste próprio mundo. Aprisionados, nos lares, todos nós tínhamos que encontrar paciência, equilíbrio, compreensão e fé em Deus para não mergulharmos no rio do pavor. Se esse tempo era e é difícil para quem tinha e tem condições financeiras, imaginem para os carentes, onde de tudo falta.

A Pandemia nos fez viver uma rotina de guerra. Sim, apesar de não existirem soldados armados, aviões, tanques, navios e submarinos com suas munições destruindo seus alvos, vivíamos e, ainda, vivemos sob a mira invisível de um vírus mortal. Uma espécie de terceira guerra mundial? Não sei! É a tirania biológica que atacando e fazendo vítimas, sem pedir licença invadiu e, continua a invadir nossa existência e quando não mata, deixa traumas incalculáveis.

Veio uma esperança, uma luz no fim do túnel, a vacina, que de forma crescente vem contendo a força do maldito vírus. É preciso continuar com fé em Deus. E com Ele caminhar com o coração repleto de confiança no sentido de que o homem, de tanto sofrer, pode mudar um dia. Crente no Deus Misericordioso, sempre de joelhos orando, mas de pé, com coragem e fé para enfrentar os percalços da vida, continuamos nossa caminhada esperando que a vacina afaste-nos definitivamente da COVID-19, salvando assim, a humanidade dessa peste tão cruel. 

Chego, agora, ao raciocínio final. Tudo tem sua hora. A hora de Deus. Não nos compete atropelar o tempo. 

É por isso, que acredito que Deus colocou a simplicidade como uma das faces da natureza para demonstrar ao homem o caminho da felicidade. Encontramos nela as coisas simples da vida e, mesmo assim, são detentoras de belezas incomensuráveis. Se olharmos para uma cachoeira, logo perceberemos que as águas, apesar de caminharem para o precipício, assim mesmo, avançam com a cadência da simplicidade. E, quando se perfilam perante o paredão do precipício, com altivez se jogam em voo livre na direção de um solo, às vezes distante e pedregoso, porém, sempre pronto para abraçá-las e lançá-las no continuar do percurso. E as águas seguem rompendo desfiladeiros, trajetos outros até vislumbrarem o sonho a ser alcançado, justamente a imensidão do mar e, por isso, felizes se incorporam as de um rio ao oceano.  

Da simplicidade contida no mecanismo natural das águas que passam pelas cachoeiras emergem alguns ensinamentos. Pode-se dizer que a natureza demonstra que a vida não é feita só de flores, pois é preciso vencer obstáculos, os quais, se enfrentados com humildade e simplicidade, serão transpostos e logo o sonho será realidade. Deus deu tudo ao homem. A vida. A natureza, suas belas árvores. Os pássaros e os seus cantos matinais. A lua para iluminar e inspirar os poetas e os enamorados. O sol, a chuva, o mar e os rios.  Vamos viver. Deixemos de devastar, de interferir e de criar o artificial, pois temos tudo na natureza.

Mas mesmo assim, o homem se isola e desconfia de tudo e de todos, esquecendo de procurar o amor, o contato com o seu semelhante e com Deus. Frederick Langbridge ensina: “Duas pessoas olham da mesma janela: uma vê a lama; a outra, as estrelas.” Apesar de todas as catástrofes que rotineiramente abalam esse planeta, devemos sempre olhar pela janela das estrelas. Por isso, é que temos que nos conscientizar de que possuímos a capacidade interior de suplantar qualquer dificuldade e até de começar um novo mundo.  

Eu sou daqueles que acredita que o ser humano deve compreender que está no seu íntimo o caminho da felicidade, comungando com o ensinamento de Mahatma Gandhi de que: “Você deve ser a própria mudança que deseja ver no mundo”. Por isso, finalizo dizendo que é com imenso regozijo e entusiasmo que passo a integrar a Academia de Letras Jurídicas da Paraíba. Que Deus esteja sempre conosco. OBRIGADO!

  

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SEM ATOS PÚBLICOS, EX-PRESIDENTE LULA VISITA SEIS ESTADOS DO NORDESTE

De malas prontas para visitar os estados brasileiros, o ex-presidente Lula (PT) terá o Nordeste como sua próxima parada. Reduto eleitoral fortemente identificado com o líder petista, a Região é uma das prioridades do Partido dos Trabalhadores nas eleições de 2022. Para ampliar sua influencia,o presidenciável passará por seis estados e terá como primeira parada Pernambuco, no próximo domingo (15). Na agenda do líder também constam Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia.

Estão previstos encontros com governadores, movimentos sociais e sindicais e lideranças regionais. Por causa das restrições da pandemia, não haverá ato público de massa em nenhum dos estados. Em Pernambuco, Lula deverá ter um encontro com o governador de Pernambuco, Paulo Camara (PSB), e com a ex-primeira dama do Estado Renata Campos. A expectativa é de que a conversa sirva para aproximar as siglas em um projeto nacional no próximo pleito. Na segunda, ele se encontra com movimentos sociais do estado.

O ex-presidente viaja no domingo para Pernambuco, quando irá se encontrar com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara. 

Nos dias 17 e 18 Lula estará em Teresina (Piauí). Ainda no dia 18, Lula chega a São Luis (Maranhão), onde fica até sexta-feira, quando vai para Fortaleza (Ceará). Na terça (24), Lula tem agenda em Natal com a governadora Fátima Bezerra. E quarta e quinta-feira Lula estará em Salvador (BA) Foto: Ricardo Stuckert


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MINISTÉRIO PÚBLICO E SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE RECEBEM DENÚNCIAS DE DESCARACTERIZAÇÕES NO PRÉDIO DA ANTIGA FRANAVE

O Conselho Municipal de Cultura enviou ofício denúncias à Secretaria de Meio Ambiente e Ordenamento Urbano (SEMAURB), Juazeiro, Bahia, com cópia para o Ministério Público da Bahia, o que segundo eles, são "danos gravíssimos ao prédio das Antigas OFicinas da Franave, localizado na Orla.

Confira:

Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Ordenamento Urbano (SEMAURB)

Exmo. Sr. Rubens Torres-Secretário Municipal

C/c Ao-Ministério Público do Estado da Bahia

Exmo. Sr. Alexandre Lamas da Costa-Promotor de Justiça Titular

Assunto: Danos gravíssimos ao prédio das Antigas Oficinas da FRANAVE (Centro Gastronômico) Sr. Secretário.

Tendo por objetivo promover a participação autônoma e organizada de todos os segmentos da sociedade integrante da ação cultural do Município, o CMC vem, por intermédio da sua Comissão Permanente de Patrimônio e Memória, informar sobre a intervenção que, neste momento, está ocorrendo no prédio do Galpão da Antiga FRANAVE, bem imóvel identificado como patrimônio municipal pela Lei nº. 1.667, de 3 de junho de 2002, e que traz gravíssimas consequências para o monumento, que mais uma vez sofre com recorrentes descaracterizações.

Conselho Municipal de Cultura – CMC | Juazeiro – Ba

Comissão Permanente de Patrimônio e Memória

Conforme pode ser verificado nas imagens a seguir (feitas hoje, pela manhã), está sendo construída, sobre a coberta original da edificação, estrutura metálica para a instalação de células fotovoltaicas para geração de energia, segundo foi informado a esta Comissão.

Como pode-se verificar, a intervenção agride fortemente o monumento, em termos visuais e de ambiência, tanto em termos da edificação em si, quanto em termos da paisagem na qual está inserido. Além disto, pode estar causando também danos estruturais à edificação, assim como em seu manto de cobertura e ornamentos. Portanto, tal intervenção desconsidera todos os aspectos que justificam o reconhecimento do edifício como bem patrimonial, desvalorizando-o de maneira desrespeitosa e injustificável.

Mais uma vez, o responsável pelo empreendimento desconsidera não apenas os valores da edificação isolada e ao conjunto arquitetônico e paisagem da qual faz parte, mas também a própria comunidade local que é a verdadeira detentora dos bens e, ainda, os poderes públicos constituídos, no seu papel incontornável de zelar pelo patrimônio do povo.

É preciso registrar que muitas foram as situações de desrespeito ao valor patrimonial do conjunto, à legislação municipal de patrimônio e até a determinações do contrato de cessão do espaço, sempre com a explícita manifestação formal desta Comissão (através de ofícios e relatórios técnicos que estão disponíveis na Casa dos Conselhos), e raramente resultando em respeito às questões técnicas da conservação e do restauro, o que ocasionou várias perdas na materialidade do bem e na ambiência do conjunto e paisagem. É mister ainda registrar as perdas geradas ao espaço público naquela zona, através da privatização de vias públicas, das calçadas e ciclovias, que explicitamente se reproduzem cotidianamente.

Sendo assim, diante de iminência de mais uma perda irreparável ao patrimônio cultural de Juazeiro, vimos solicitar a esta Secretaria:

a) Embargo imediato da referida obra;

b) Verificação dos atos de autorização e projetos técnicos da obra em questão, na Secretaria, que demonstrem a regularidade da obra;

c) Apresentação dos referidos documentos ao Conselho Municipal de Cultura, na sua condição legal de órgão colegiado de caráter consultivo e fiscalizador quanto às questões culturais do Município.

Em tempo, reafirmamos a responsabilidade desta Comissão na preservação deste bem patrimonial, e esperamos que a Municipalidade, através da SEMAURB, atue urgente e exemplarmente a favor de políticas públicas para a proteção do nosso patrimônio cultural.

Informamos ainda que este documento segue em cópia para o Ministério Público do Estado da Bahia em Juazeiro, para ciência e colaboração nesta importante questão.

Assinado Conselho Municipal de Cultura-Comissão Permanente de Patrimônio e Memória.


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ESTUDANTE DE PETROLINA CONQUISTA PRÊMIO LITERÁRIO EM CONCURSO NACIONAL

"E da janela, eu paro, eu olho e suspiro. Me encontro diante das minhas inseguranças, frente a minha intensidade..." Estes são os versos iniciais do poema 'Canetas Permanentes', de autoria da estudante petrolinense Cecília Arrunátegui Miranda (16 anos), que conquistou a terceira colocação na categoria Juvenil do I Concurso de Poesias da Biblioteca Pública Castro Alves, promovido pela Prefeitura de Bento Gonçalves – RS.

Selecionada entre 765 inscritos de todos os estados do Brasil, a aluna do 2° ano do Plenus Colégio e Curso, recebeu como prêmio um pack de livros, três meses de acesso gratuito à biblioteca digital, através da Árvore de Livros, que possui mais de 30 mil livros; certificado de Honra ao Mérito; e publicação do poema em livro digital no formato e-book, que será lançado durante a 36ª Feira do Livro que vai acontecer de 6 a 17 de outubro em Bento Gonçalves.

Para Cecília, que adora ler poesia, tem Carlos Drummond de Andrade como referência, escreve desde os 8 anos e participou pela primeira vez de um concurso literário, a conquista representa um grande ganho pessoal e também inspiração para os estudantes de todo Nordeste. 

"Ter minha poesia, escrita durante a pandemia, escolhida entre as três melhores, representa a força de expressão das emoções humanas, que tantas pessoas tem medo de expor. E acima de tudo, é um caminho que muito mais gente pode seguir, então fico feliz por saber que de alguma forma, por mais que pequena, posso servir de inspiração para alguém", pontuou.

A diretora Pedagógica do Plenus, Sílvia Santos, comemorou a conquista, lembrando que o estímulo à leitura e à escrita já é uma marca da escola. "Criamos há 12 anos os clubes de leitura Leia e Leia Mais, nos quais desenvolvemos projetos de publicações literárias, feiras de livros, metas de leitura e concursos literários, além de programas como o 'Fuscateca', que distribui livros nas comunidades carentes do município", ressaltou.

O I Concurso de Poesias da Biblioteca Pública Castro Alves é voltado para publicações inéditas em todo País e tem como objetivo fomentar a produção literária através das categorias adulto, juvenil e infantil. A Biblioteca pública de Castro Alves, entre outras missões, tem o objetivo de fomentar a produção artística e intelectual. (Fonte: Class Comunicação e Marketing)


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NÚCLEO DE ESTUDOS DEBATE COVID-19, JORNALISMO CIENTÍFICO, NEGACIONISMO E DEMOCRACIA

No dia 18 de agosto, o Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) discutirá o tema Covid-19, jornalismo científico, negacionismo e democracia. 

O evento vai homenagear Mauricio Tuffani, jornalista de ciência, saúde e meio ambiente, criador e editor do portal Direto da Ciência, que faleceu no dia 31 de maio, aos 63 anos. A sessão será transmitida a partir das 14h pelo canal do IOC no Youtube.

A sessão terá a participação da diretora do jornal El País no Brasil, Carla Jimenez; do repórter especial do Jornal da USP e colaborador da revista Science, Herton Escobar; da repórter do jornal O Estado de São Paulo e mestre em saúde pública pela Universidade de São Paulo (USP), Fabiana Cambricoli; do colunista do jornal Folha de São Paulo, Marcelo Leite; da pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), coordenadora do portal SciDev.Net para América Latina e Caribe e coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública em Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), Luisa Massarani; e do professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenador do curso de especialização em Comunicação Pública da Ciência e integrante do INCT-CPCT , Yuri Castelfranchi.

Iniciativa da Diretoria do IOC, o Núcleo de Estudos Avançados promove debates sobre temas interdisciplinares no campo da ciência, da política e da filosofia envolvendo a comunidade intra e extramuros. O evento é coordenado pelo pesquisador emérito da Fiocruz, Renato Cordeiro, e pela vice-diretora de Laboratórios de Referência, Ambulatórios e Coleções Biológicas do IOC, Maria de Lourdes Aguiar Oliveira.

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ESTUDO APONTA ASSOCIAÇÃO ENTRE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS E RISCO DE DOENÇAS

Celebrado este mês, o Dia Nacional de Prevenção e Controle do Colesterol acende alerta para o que é, atualmente, a principal causa de morte no Brasil e no mundo: as doenças cardiovasculares. Isso porque, quando em desequilíbrio no organismo, o colesterol se torna fator de risco vascular, aumentando a incidência de AVC, morte súbita e doença coronariana. 

Um estudo, desenvolvido a partir de um projeto de doutorado na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), revela um novo fator por trás do aumento dos níveis de colesterol no sangue e consequente risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Inédita no Brasil e realizada em 2020 com amostra de mais de 5 mil participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), a pesquisa mostra que o consumo de alimentos ultraprocessados está relacionado ao aumento do risco de hipertensão arterial (pressão alta) e de dislipidemias (alterações nas estruturas que carreiam colesterol através do sangue) em adultos. Os resultados apontam que o consumo de altas quantidades de produtos como nuggets, macarrão instantâneo, cereais matinais, barras de cereais e refrigerantes pode aumentar o risco de desenvolver hipertensão em 23%.

No que diz respeito às dislipidemias, cuja incidência é um dos principais fatores de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares, o risco aumentado ocorre mesmo em quantidades moderadas de consumo de alimentos ultraprocessados. Quanto maior a ingestão, mais alto é o risco, que pode chegar a até 29% para hipercolesterolemia isolada, 30% para hipertrigliceridemia isolada, 41% para hiperlipidemia mista e 24% para baixo-HDL, exemplos de dislipidemias. 

A pesquisa mostra também que 25% da energia diária consumida pelos participantes é proveniente de alimentos ultraprocessados. Considerando o peso em gramas, tais produtos contribuem com 17,6% do peso total em gramas da dieta. Os resultados evidenciam ainda um elevado consumo de sódio (4,6 g/dia), valor maior do que o dobro do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e maior ingestão de gorduras nocivas (como gordura saturada e trans) nos indivíduos com consumo mais elevado de ultraprocessados.

 “Esses alimentos contribuem com cerca de 80% de sódio dietético em países de alta renda e estão se tornando também proeminentes em países de baixa e média renda”, explica a autora do estudo, Patricia Scaranni.

Os dados também apontam a obesidade como importante condição relacionada ao consumo de alimentos ultraprocessados, à hipertensão arterial e às dislipidemias. Foram observadas ainda questões relacionadas diretamente ao processamento industrial, como o uso de aditivos artificiais (como corantes e adoçantes) e materiais plásticos utilizados em embalagens, também responsáveis por problemas na saúde. 

“Compostos neoformados, como acroleína e acrilamida, e uma infinidade de aditivos como conservantes, acidulantes, emulsificantes e plastificantes, como bisfenol A e ftalatos, têm sido reconhecidos como também vilões do ultraprocessamento industrial, que visa seduzir consumidores por meio de sua praticidade, conveniência, palatabilidade e tempo de prateleira”, esclarece Patrícia.

Segundo a pesquisadora, o estudo é de suma importância para a prevenção de doenças cardiovasculares, já que o consumo de alimentos ultraprocessados tem sido crescente, a ponto de substituir alimentos in natura (produtos frescos que não passam por alterações industriais) essenciais para a saúde. Patrícia lembra que os resultados são mais uma evidência sobre as consequências negativas na saúde associadas ao consumo de alimentos ultraprocessados. 

Segundo ela, a pesquisa também “traz à tona o impacto das grandes corporações, líderes do sistema alimentar global, sobre a sociedade, em busca da maximização do lucro a qualquer preço, muitas vezes financiando cientistas que realizam pesquisas acadêmicas em favor de seus produtos”. 

Patrícia acredita que os resultados podem servir como suporte para a elaboração de novas políticas de Saúde Pública que visem desencorajar o consumo desses produtos e melhorar a saúde da população.

“Ao evidenciar a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a incidência de dislipidemias e de hipertensão, incentivamos novas políticas, voltadas para a educação do consumidor, que forneçam condições para que os indivíduos realizem escolhas alimentares adequadas, já que ‘o dever do Estado não exclui o das pessoas na garantia da saúde’ (Lei 8080), sobretudo por meio do fortalecimento da rotulagem nutricional”, conclui. (fonte: FIOCRUZ)

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MUDANÇA DE CLIMA ACELERA CRIAÇÃO DE DESERTO NO NORDESTE. UM DOS NÚCLEOS DE DESERTIFICAÇÃO É CABROBÓ, PERNAMBUCO

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em 9/8, reforça que o Brasil abriga uma das áreas do mundo onde a mudança do clima tem provocado efeitos mais drásticos: o Semiárido.

O relatório aponta que, por causa da mudança do clima, a região — que engloba boa parte do Nordeste e o norte de Minas Gerais — já tem enfrentado secas mais intensas e temperaturas mais altas que as habituais.

Essas condições, aliadas ao avanço do desmatamento na região, tendem a agravar a desertificação, que já engloba uma área equivalente à da Inglaterra.

Criado na ONU e integrado por 195 países, entre os quais o Brasil, o IPCC é o principal órgão global responsável por organizar o conhecimento científico sobre as mudanças do clima.

O documento apresentado nesta segunda (AR6) é o sexto relatório de avaliação produzido desde a fundação do órgão, em 1988. "O Nordeste brasileiro é a área seca mais densamente povoada do mundo e é recorrentemente afetado por extremos climáticos", diz o relatório.

O IPCC afirma que essas condições devem se agravar: se na década de 2030 o mundo deve atingir um aumento de 1,5°C em sua temperatura média, em boa parte do Brasil os dias mais quentes do ano terão um aumento da temperatura até duas vezes maior.

Em várias partes do Semiárido, isso significa verões com temperaturas frequentemente ultrapassando os 40°C.

Hoje, segundo o IPCC, o mundo já teve um aumento de 1,1°C na temperatura média em relação aos padrões pré-industriais.

Para limitar o grau do aquecimento, é preciso que os países reduzam drasticamente as emissões de gases causadores do efeito estufa — como o gás carbônico, produzido pelo desmatamento e pela queima de combustíveis fósseis, e o metano, emitido pelo sistema digestivo de bovinos.

MORTE E VIDA NO SOLO: Para o meteorologista e cientista do solo Humberto Barbosa, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), temperaturas extremas põem em xeque a sobrevivência no Semiárido de micro-organismos que vivem no solo e são cruciais para a existência das plantas.

Há dois anos, Barbosa diz ter encontrado temperaturas de até 48°C em solos degradados no interior de Alagoas.

"A vegetação não crescia mais ali, independentemente se chovesse 500 mm, 700 mm ou 800 mm. Não fazia mais diferença, pois toda a atividade biológica do solo não respondia mais", afirma.

Sem vida no solo, aquela região se tornou desértica, como tem ocorrido em várias outras partes do Semiárido.

Na Ufal, Barbosa coordena o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), que desde 2012 monitora a desertificação no Semiárido.

Em 2019, o laboratório revelou que 13% de toda a região estava em estágio avançado de desertificação. Essa área engloba cerca de 127 mil quilômetros quadrados.

"Na nossa região, naturalmente não haveria um deserto, só que a gente tem hoje um deserto", ele diz. Barbosa explica: segundo a ciência, climas desérticos (ou áridos) são aqueles onde o índice de chuvas é inferior a 250 mm por ano. Nessas condições, a sobrevivência de plantas e animais é bastante difícil — daí o aspecto vazio de boa parte das paisagens desérticas.

Mas essas condições climáticas não se aplicam a nenhuma região do Brasil, nem mesmo o Semiárido, que continua a receber entre 300 mm e 800 mm de chuvas ao ano.

Ainda assim, a mudança do clima e o desmatamento criaram paisagens desérticas na região.

"O solo dessas regiões foi perdendo a atividade biológica, embora as chuvas continuem acima do que se espera para uma região desértica. Esse é o paradoxo", diz Barbosa.

Ele afirma que, nesse estágio, é praticamente impossível reverter o fenômeno. "O custo da recuperação de áreas desertificadas é alto, e no Brasil não temos capacidade econômica para fazer esse tipo de investimento."

MAIOR SECA NA HISTÓRIA: Entre 2012 e 2017, o Semiárido enfrentou a maior seca desde que os níveis de chuva começaram a ser registrados, em 1850. Essa seca, que é atribuída às mudanças climáticas, ajudou a expandir as áreas desertificadas.

Barbosa diz que a pandemia dificultou a realização de viagens para medir o progresso da desertificação após 2019, mas tudo indica que o fenômeno segue avançando.

A área já desertificada equivale ao tamanho da Inglaterra, cerca de três vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro, ou a 23 vezes a área do Distrito Federal. Essas terras não são todas contíguas e ocupam diferentes partes do Semiárido. Enfrentam, ainda, diferentes graus de desertificação, embora em todas o fenômeno seja considerado praticamente irreversível.

Alguns dos principais núcleos de desertificação ficam em Gilbués (PI), Irauçuba (CE), Cabrobó (PE) e no Seridó (RN).

Imagens de satélite mostram como os núcleos têm crescido nas últimas décadas, enquanto as áreas verdes que os circundam vão rareando.

No núcleo de Cabrobó, que ocupa uma vasta área nas duas margens do Rio  São Francisco, as poucas manchas verdes na paisagem se devem a lavouras irrigadas com a água do rio.

Os Estados mais impactados pela desertificação são Alagoas (com 32,8% de sua área total afetada pelo fenômeno), Paraíba (27,7%), Rio Grande do Norte (27,6%), Pernambuco (20,8%), Bahia (16,3%), Sergipe (14,8%), Ceará (5,3%), Minas Gerais (2%) e Piauí (1,8%).

A desertificação no Semiárido brasileiro foi citada pelo IPCC em seu relatório anterior, de 2019, que teve o pesquisador Humberto Barbosa como coordenador de um capítulo sobre degradação ambiental.

O relatório apontou que 94% da região semiárida brasileira está sujeita à desertificação.

"A região semiárida é a mais impactada (pela mudança do clima) no Brasil, e é a região onde você tem os índices de desenvolvimento humano mais baixos do país", afirma Barbosa.

Com o agravamento das condições climáticas, diz ele, tende a se acelerar o êxodo de moradores rumo a outras partes do país.

DESMATAMENTO: Para os cientistas, está claro que a desertificação tem sido acentuada pelas mudanças climáticas e tende a aumentar se as alterações continuarem se intensificando.

Porém, a degradação dos solos do Semiárido também se deve a outra ação humana: o desmatamento na Caatinga, o ecossistema natural da região.

Segundo Humberto Barbosa, ainda não se sabe quanto da desertificação se deve ao desmatamento equanto se deve às mudanças climáticas. "É muito difícil separar os dois processos."

Quarto maior bioma do Brasil, abarcando 11% do território nacional, a Caatinga já perdeu 53,5% de sua cobertura original, segundo o MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no país.

O bioma vem sendo destruído desde os primeiros séculos da colonização do Brasil, quando grandes áreas de vegetação nativa passaram a ser derrubadas para dar lugar principalmente a pastagens para bovinos.

A pecuária, aliás, é apontada com uma das principais causas para a desertificação no Semiárido.

O pesquisador Humberto Barbosa explica que, muitas vezes, os bois são criados em áreas relativamente pequenas, compactando o solo ao pisoteá-lo repetidas vezes.

Com o tempo, nem mesmo o capim cresce mais ali, e a terra fica totalmente exposta à radiação do sol. A degradação se completa quando a chuva atinge a terra nua, levando embora os últimos nutrientes do solo.

Embora a destruição venha ocorrendo há séculos, mais de um quarto do desmatamento da Caatinga ocorreu após 1985, segundo o MapBiomas.

E neste ano, os índices de desmatamento deram um salto preocupante. Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), até 1° de agosto, houve na Caatinga 2.130 focos de queimadas— o maior número em nove anos e uma alta de 164% em relação ao mesmo período de 2020.

Os focos se concentram no oeste do bioma, onde a Caatinga se encontra com o Cerrado na região de fronteira agrícola conhecida como Matopiba (nome formado pelas iniciais dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

Como em outros biomas, o fogo é geralmente usado na Caatinga para "limpar" uma área antes do plantio. Mas as chamas acabam degradando o solo e limitam sua vida útil para a agricultura, estimulando a busca por novas áreas quando ele se esgota.

FALTA POLÍTICAS PÚBLICAS: Humberto Barbosa diz que, apesar da gravidade da situação enfrentada pelo Semiárido e da perspectiva de piora, não há qualquer plano governamental para mapear a desertificação e combatê-la.

A última iniciativa do governo federal nesse campo, afirma, foi o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN), lançado em 2006, mas descontinuado.

Tampouco há um sistema nacional para monitorar o desmatamento na Caatinga e orientar ações de fiscalização e controle — diferentemente do que ocorre na Amazônia, que conta com os sistemas Prodes e o Deter, baseados em imagens de satélite.

E O FUTURO: Segundo o relatório do IPCC, sem ações contundentes para conter a mudança do clima, a Caatinga e outras regiões semiáridas do mundo "vão muito provavelmente enfrentar um aquecimento em todos os cenários futuros e vão provavelmente enfrentar um aumento na duração, magnitude e frequência das ondas de calor".

"De forma geral, as secas se ampliaram em muitas regiões áridas e semiáridas nas últimas décadas e devem se intensificar no futuro", diz o texto.

Os maiores prejudicados pelas mudanças serão as populações locais: segundo o IPCC, elas tendem a enfrentar oscilações na quantidade e regularidade de água, o que impactará gravemente sua "segurança alimentar e prosperidade econômica". (fonte: João Fellet - BBC)

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