DAUDETH BANDEIRA - Manuel Bandeira de Caldas nasceu em 09/06/1945, em São José de Piranhas - Paraíba. Poeta, repentista, compositor e advogado. Neto do imortal cantador Manuel Galdino Bandeira e irmão dos cantadores Pedro, Francisco e João Bandeira. Tem participado de cantorias e festivais de repentistas e conquistado vários prêmios e troféus.
Tem CDs e DVDs. Autor de canções e poemas: Conversando com as Águas; Capim Verdão; O Preço do Nosso Amor; O Pai, o Filho e o Carro; Adeus do Nordestino; O Plantador de Milho; Sonhos de Leandro, Nordestinação; A Manicure; Sorte de Vaqueiro; Pássaro Rural; Ladeira Tambuá; O Homem da Quarta Ronda, Ferruada de Amor, A Árvore Genealógica da Arte da Cantoria, entre outros, alcançando verdadeiros sucessos no cenário da música brasileira.
Autor do livro Vale dos Versos e coautor de Nas Águas da Poesia, Dias D’Versos, Atrativos Turísticos da Paraíba, Invenções e Descobertas, e vários cordéis, em parceria com José Dantas. Contatos: (83) 98880-9915, daudethbandeira@hotmail.com
Confira cordel da autoria de Daudeth Bandeira, homenagem ao seu irmão poeta Pedro Bandeira. A SAGA DE PEDRO BANDEIRA
1 - Primeiro quero pedir
Inspiração ao divino
Para escrever a história
De um poeta nordestino
Pedro Bandeira Pereira
Filho de Lica Bandeira
Neto de Manoel Galdino.
2 - Filho do simples casal:
Seu pai Tobias Pereira,
Sua mãe Maria Lica,
Seu avô Manoel Bandeira,
Repentista universal,
Um sabiá magistral
Da floresta brasileira.
3 - Nasceu no sítio chamado
Riacho da Boa Vista,
Vizinho à propriedade
De Agnelino Batista,
Velha "Várzea de Guiné",
Mandaçaia, Cacaré,
Uma zona ruralista.
4 - Se criou matando peba,
Preá, tatu e mocó
Comendo feijão com pão
Tripa, orelha e mocotó,
Tirando mel de cupira,
Capuchu e Jandaíra,
E armando fôjo e quixó.
5 - Chupando manga madura
Na sombra do mangueiral,
Almoçando arroz da terra
Com manteiga natural,
Cuscuz de milho moído,
E bebendo leite mungido
Na porteira do curral.
6 - Amansando burro brabo,
Cavalo, jumento e boi,
Ouvindo a rã dizer ai
E o sapo dizendo oi,
São retalhos de memória
Mostrados na sua história
Só pra dizer como foi.
7 - Nunca gostou de baralho,
Dominó, peteca e bola,
Gostava muito de livro,
Lápis, caderno e escola,
De folheto de cordel,
E era ouvinte fiel
De cantador de viola...
8 - Esse manejo de vida
Lhe deixava satisfeito,
Mas um dia a Natureza
Quis mudar-lhe esse conceito,
Fez o dom do improviso
Aflorar no seu juízo
E retumbar dentro do peito!
9 - A partir daquele dia
A sua vida mudou,
Só falava em cantadores,
O que cada um cantou,
E principalmente os versos,
Trocadilhos e reversos
Que Galdino improvisou!
10 - Vendeu algodão na folha
E comprou um violão,
Não sabia tocar nada,
Pediu a Chico Simão,
Um velho violonista,
Amigo de repentista
Que lhe ensinou o baião!
1 - E começou fazer tratos
Por aquela vizinhança:
Do Zé Pedro ao Batedor,
Cuncas a Boa Esperança,
Barros e Santa Luzia.
Foi fazendo freguesia
E ganhando confiança!
12 - Começou com Chico Inácio,
Daniel e Zé Vicente,
Gerson Carlos, Zé Bandeira,
Que não era seu parente,
Biu Pereira, João Andreza,
Esse último, com certeza,
Era mais experiente!
13 - Manoel Galdino morreu
No ano cinquenta e cinco,
E Pedro no mesmo ano
Começou com todo afinco
Pois achou aberto o guia
E o portão da cantoria
Sem taramela e sem trinco!
14 - Do citadino pracista
Ao matuto camponês
Manoel Galdino Bandeira
Tinha tiete e freguês,
Pedro inicia a estrada
Fazendo a mesma jornada
Que Manoel Galdino fez.
15 - Nos sertões da Paraíba
E Rio Grande do Norte,
Ceará e Pernambuco
Manoel Galdino era forte,
Para substituí-lo
Precisaria de estilo,
Coragem, talento e sorte.
16 - Nas casas que todo ano
Tinha uma cantoria
O povo estava tristonho,
Pedro levou alegria
Com mocidade e com arte
Fazendo uma grande parte
Do que Galdino fazia.
17 - Pedro foi inteligente,
Com fama não se empolgou,
Exaltou muito a Galdino
No que ele conquistou,
Foi para o pódio direto,
Depressa o nome do neto
Passou pelo do avô
18 - Atendia todo mundo
Não rejeitava contrato,
Fosse cidade ou fazenda,
Sítio, povoado, mato,
De classe pobre a elite,
Até que veio um convite
Pra um programa no Crato!
19 - Foi quando João Alexandre
Repentista violeiro,
Convidou Pedro Bandeira
Para ser seu companheiro,
Cantar na Educadora
A mais famosa emissora
Do nordeste brasileiro!!
20 - O programa se chamava
Violas e violeiros,
Às quatro e meia da tarde,
Os poetas altaneiros,
Com som, rima e melodia,
Despejavam poesia
Na alma dos brasileiros.
21 - Violas e violeiros
Foi um sucesso inconteste,
Falado em todas as partes
Norte, Sul, Leste e oeste,
Do pequeno ao maior:
Foi o programa melhor
Que já houve no nordeste!
22 - Pedro firmou residência
Em Juazeiro do Norte,
Com as características:
Novo, inteligente e forte,
Um cantador de "mão cheia",
Encontrou depressa a veia
Que leva à mina da sorte!
23 - Um devoto fervoroso
Do Padre Cícero Romão!
Foi como que Padre Cícero
Sustentou na sua mão,
Lhe disse: de hoje em diante
Você será um gigante
Na vida e na profissão!!
24 - Com as melhores famílias
Que havia na cidade
Relacionou-se bem,
Concretizou amizade,
Conquistou todos espaços
Vendo andar a largos passos
A sua prosperidade!
25 - Ao lado de Alexandre
Cantava toda semana
Em fazenda de matuto,
Em palácio de bacana,
E em cada cantoria
Muita coisa lhe rendia:
Sucesso, poder e grana...
26 - Pedro era admirado
Pelas melhores figuras,
Chegou ser vereador
Em duas legislaturas,
Com muita boa vontade,
Ingressou na faculdade
E conseguiu três formaturas!
27 - Formou-se em teologia,
Pedagogia e direito,
Na alta sociedade
Tinha prestígio e conceito,
Digo sem nenhuma crítica,
Se insistisse na política
Teria sido prefeito!!
28 - Foi casado com Helena
Da cidade de Icó,
Sobre mulher não quis ser
Nem Salomão nem Jacó,
Salomão, nem conta as suas,
Jacó foi dono de duas,
Mas Pedro quis uma só!
29 - Só concebeu duas filhas
Essa família ilustrada:
A Doutora Analica,
Médica bem conceituada,
E Íria sua irmã,
É terapeuta, xamã
E também advogada
30 - A flor da sociedade.
Do Crato e do Juazeiro:
Promotor, advogado
Padre, Juiz, fazendeiro,
Todos tinham atenção
Ao bardo campeão
Repentista violeiro!
31 - Com doutor Mauro Sampaio
Tinha acesso livre e certo,
O doutor Ivan Bezerra,
Orlando, Adauto e Humberto,
Políticos e coronéis
Gostavam dos menestréis
E os seguiam de perto!!
32 - Cantou para Presidentes
Sem reservar-se a segredo!
Marechal Castelo Branco,
Costa e Silva e Figueiredo,
Collor de Melo e Sarney,
Mas nunca lhe perguntei
Se ele cantou com medo!!
33 - Por Carlos Drumond de Andrade
Pedro foi elogiado,
Por Rogaciano Leite,
Zé Américo e Jorge Amado,
Luiz da Câmara Cascudo,
Até aqui já diz tudo
O quanto foi exaltado!!
34 - Pedro era inconformado
E sempre quis ir mais fundo,
Até que um dia chegou
A João Paulo Segundo,
Cantou para a Santidade,
A maior autoridade
Religiosa do mundo!!
35 - Construiu um auditório
Pra ser seu próprio celeiro,
Donde fazia o programa
Numa rádio em Juazeiro,
De uma das suas casas,
Botou no repente asas,
Voou pelo mundo inteiro!!
36 - Uma das obras famosas
Que pontuam sua SAGA:
Ao lado de João Câncio,
E Luiz Lua Gonzaga
Fez a Missa do Vaqueiro,
Grande evento brasileiro
Que só Deus no céu lhe paga!!
37 - Trabalhou mais de seis décadas
Com verso, rima e viola,
Livros, folhetos, poemas,
Tudo dentro da bitola,
Foi por Deus abençoado,
E deixou um grande legado
Pra nos servir de escola!!
38 - Enfrentou muitas doenças
E cada qual da mais forte,
Mas não deixou a viola
Nem Juazeiro do Norte,
Bravo que nem kamikaze,
Fez cantoria até quase
O dia de sua morte!!
39 - No ano de trinta e oito
Pedro Bandeira nasceu,
Trabalhou sessenta anos
Com setenta adoeceu,
No ano dois mil e vinte
Deu adeus a cada ouvinte
Deitou na rede e morreu!!