E todo mundo canta o balão do Gonzagão com paz na consciência, diz colunista Levi Vasconcelos
Olha pro céu meu amor/ Vê como ele está lindo/ Olha pra aquele balão multicor/ Que lá no céu vai sumindo.
A letra aí é de Olha pro céu, um clássico do São João, composto por Luiz Gonzaga em parceria com José Fernandes em 1951, há 74anos. Era ela que o bom amigo Renato Pinheiro, jornalista que nos deixou em abril de 2021, evocava para dizer das belezas culturais que hoje seriam politicamente incorretas.
– Se fosse hoje ela jamais existiria dessa forma, com essa letra nem pensar. A partir de 1968 a lei passou a considerar soltar balão crime ambiental. Ele fazia uma ressalva:
– Muito culparam os balões por incêndios e em alguns casos talvez sim. Mas o fato é que os balões levaram a culpa de outros bichos.
Dizia ele que o caso de Olha pro céu é emblemático por ser uma poesia, não música de duplo sentido ou daquelas que já nascem de uma visão deformada, como Cremilda: ‘Eu não gosto de forró que não tem briga./ Forró que não tem briga não me diga que é forró’.
O papo com Renato foi pouco antes do São João de 2020. Ele morreria pouco antes do São João seguinte. Dizia que gostava de chamar a atenção sobre isso para lembrar que no caso a poesia venceu.
– Todos cantam ainda hoje celebrando o período junino, sem a sensação de fazer apologia ao crime. Gonzagão, o Rei do Baião, do xote e do xaxado também, interpretou centenas de músicas que integram o relicário da cultura nordestina.
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