MEMÓRIAS DE FÉ NA TERRA DA LUZ RETRATA OFÍCIO DAS REZADEIRAS NO CEARÁ

Mestra da cultura pelo Governo do Estado do Ceará por seu ofício de rezadeira, Francisca Galdino de Oliveira – conhecida como Francisquinha Félix, vive no município de Alto Santo e recebe o povo da região em sua casa, onde planta ervas que utiliza em suas rezas. Assim como as rezadeiras, rezadores e benzedeiras que atuam em todo o Ceará, ela mantém viva a tradição que se tornou patrimônio imaterial da cultura.  Essa é a inspiração do diretor e roteirista Augusto Cesar dos Santos, para realizar o documentário Memórias de Fé na Terra da Luz.

"Estamos trabalhando em cima de um tema de visceral importância para a alma cearense e cultura nordestina. Não obstante, existem poucas fontes que tratem do assunto", destaca o cineasta. Decidiu, então, registrar in loco a atuação das rezadeiras no Ceará. O projeto conta com o apoio cultural do Governo do Estado do Ceará, por meio da Secretaria de Cultura (SECULT), e é produzido pela Argumento Produções em parceria com a Promova e RDT. Atualmente em fase de edição, o lançamento do filme está previsto para o primeiro semestre de 2021.

As filmagens começaram ainda em 2019 por diversas cidades cearenses, captando os depoimentos e as vivências de rezadeiras, rezadores e benzedeiras. Entre eles: José Jacinto (Pe. Linhares, Massapê); Dona Maria Alves de Lima, conhecida como Dona Zilma (Anil, Meruoca); Francisco Evandro, conhecido como Duca (Quixadá); Raimunda Elisabete Félix de Sousa, chamada por Dona Beta (Canindé); Antônia da Silva e Alice da Silva Andrade (Maranguape); Maria Helena da Silva e Maria Isabel dos Santos, da casa de Mãe Dodô (Juazeiro do Norte).

"Cada personagem encerra sua própria complexidade e modos de fazer. Alguns alegam não poder revelar o conteúdo das palavras utilizadas, outros não veem problema em rezar em voz alta e inteligível", conta o diretor. E complementa: "Suas preces possuem uma linguagem peculiar e uma força capaz de transformar a realidade das pessoas, que, contagiadas pela crença, depositam nas rezadeiras e em suas práticas a solução de males", destaca o diretor e roteirista.

Também foram entrevistadas pessoas que relatam suas histórias de cura, médicos, agentes de saúde e coordenadores de projetos que buscam integrar o serviço público de saúde ao atendimento das rezadeiras, além da vice-governadora do Ceará, Izolda Cela.

Na produção do longa-metragem documental que se propõe a levar para as telas as vivências das rezadeiras, o diretor conta com uma equipe formada pela produtora Raylane Neres, os fotógrafos Alex Meira e Ronaldo Roger, o captador de som direto Rozalvo Barbosa, o assistente de som Jardel Tomaz, a fotógrafa Still Gerlene Tomaz e pelos produtores de set, Renato Teles e Ronis Tomaz.

 O plano inicial de distribuição prevê o lançamento da obra na cidade de cada rezador e rezadeira, antes da entrada nos circuitos de festivais e outras janelas de distribuição. "Os filmes cearenses raramente são conhecidos pelo grande público e queremos que cada município reúna uma grande plateia para prestigiar os personagens de seu corpo cultural", destaca a produtora.

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CANTOR GENIVAL LACERDA APRESENTA PIORA E QUADRO SAÚDE É GRAVÍSSIMO

Internado desde o dia 30 de novembro após contrair o novo coronavírus, Genival Lacerda, 89, apresentou piora e seu estado de saúde é gravíssimo, segundo informou a assessora do cantor por meio das redes sociais.

"Conforme boletim médico (do dia 15), o quadro clínico do artista teve uma piora, sendo considerado gravíssimo, com comprometimento do pulmão devido a infecção", disse ela. Lacerda está internado em um hospital do Recife.

Em maio, ele sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e ficou internado por três dias. O cantor tem mais de 60 anos de carreira. Dentre seus principais sucessos estão "Severina Xique Xique" (João Gonçalves) e "Radinho de Pilha".

Além de Lacerda, outros artistas também contraíram a Covid e seguem em tratamento. Nicette Bruno, 87, é um dos casos mais graves. Ela está internada na UTI da Casa de Saúde São José, no Rio, desde o dia 29 de novembro.

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MENSAGEM DO REI: MÚSICA DE ELIEZER SETTON E DIEGO ALENCAR ENCANTA O BRASIL

Eliezer Setton é compositor e cantor da melhor música brasileira e vem colhendo os melhores frutos. Poeta, é membro da Academia Maceioense de Letras e notório torcedor do CSA.

Da parceria com Oswaldinho do Acordeon, nasceu Na hora H, música que Elba Ramalho gravou em 1992 e foi indicada para o VI Prêmio SHARP. O casamento com o Forró estava sacramentado e o compositor passou a ser gravado pelos intérpretes do cancioneiro brasileiro. Uma das músicas mais conhecidas de Eliezer Setton é D"ESTAR gravada na voz de Elba Ramalho. Eliezer é um apaixonado por Maceió.

Este para homenagear os 108 anos do rei do Baião Luiz Gonzaga, Eliezer Setton em parceria com Diego Andrade preseteia mais uma vez a música brasileira. Confira:

A história da MENSAGEM DO REI começa com Diego Alencar na cidade de Exu-PE, terra natal de Luiz Lua Gonzaga do Nascimento.

O jovem sanfoneiro, que além de tocar canta e compõe, fez uma melodia que já nasceu com a cara das antigas músicas do começo da carreira do Rei do Baião.

Pra minha sorte, a gente já se conhecia através de amigos em comum e a inspirada melodia caiu em meu colo, via zap de Exu pra Maceió, permitindo que eu completasse a tarefa que nos fora destinada.

De quebra, estamos tendo a oportunidade de tornar pública nossa obra, justo num 13 de dezembro, dia do natalício de Gonzagão e Dia Nacional do Forró.

O videoclipe que ora estreia foi gravado em céus e terras do Sítio de Dona Yolanda na cidade pernambucana de Abreu e Lima, enquanto o áudio que norteia as imagens foi gravado no estúdio do amigo Vanutti pelos artistas que abaixo listamos. Acesse youTube eliezer setton

Mensagem do Rei (Diego Alencar e Eliezer Setton) Ficha técnica:

Eliezer Setton - voz

Cezzinha - sanfona e voz

Quartinha - zabumba, triângulo e agogô

Bozó - violão de 7 e cavaquinho

Toninho Tavares - baixo

Vanutti - mixagem e masterização

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DOMINIQUE DREYFUS, PAULO VANDERLEY E CLIMÉRIO DETALHAM LEGADO DE LUIZ GONZAGA EM WEBINÁRIO NO YOUTUBE DO CAIS DO SERTÃO

Se estivesse vivo, o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, teria completado 108 anos no último domingo, 13 de dezembro. Ele, que foi quem mais cantou o sertão e a vivência do povo nordestino, é o grande homenageado do museu. Para exaltar a sua vida e obra, o Centro Cultural Cais do Sertão dedica faixa semanal online à reflexão do legado do músico.

O webinário terá a participação do biógrafo Climério de Oliveira, da pesquisadora de música brasileira Dominique Dreyfus e do maior colecionador da obra de Gonzaga, Paulo Vanderley. Os três vão analisar aspectos da musicalidade e da narrativa sertaneja cantada pelo pernambucano. O seminário virtual  acontece nesta quarta (16),  ao vivo, a partir das 18h, pelo canal do Cais do Sertão no YouTube.

“Refletir sobre as nuances que permeiam a vida e obra do saudoso Luiz Gonzaga lança luz sobre a missão do Cais, cujo espaço está situado no coração do Recife: promover e integrar os visitantes e os admiradores do museu quanto à odisseia nordestina. O Cais do Sertão torna-se como equipamento cultural que incita a lembrança e importância de Gonzaga”, reflete a gestora do Cais, Maria Rosa Maia.

Com espaço dedicado ao Sertão cantado por Gonzaga, o Cais do Sertão é um equipamento turístico e cultural situado no coração do Recife. Gerido pela Secretaria de Turismo e Lazer e a Empetur, tem funcionado, atualmente, nos seguintes horários: quintas e sextas-feiras, das 10h às 16h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h.

Serviço: Webinário sobre o centenário de Luiz Gonzaga, às 18h. Quarta (16) | 18h Transmissão no canal do YouTube do Cais do Sertão

Visitação ao museu: Quintas e sextas-feiras, das 10h às 16h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)

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FORRÓ ELETRÔNICO COMPLETA 30 ANOS

O Forró eletrônico faz 30 anos. A vertente que modificou o "forró tradicional", eternizado por vozes como Luiz Gonzaga, Elba Ramalho e Dominguinhos atinge três décadas. A Mastruz com Leite e as outras bandas do começo dos anos 90 incorporaram elementos que não faziam parte do jeito tradicional em que se tocava forró.

As bandas trouxeram letras mais urbanas, deixaram a bateria mais programada e, inicialmente, parecem ter inovado ao trazer novos instrumentos, mas não é bem assim. Quem explica é Climério Oliveira dos Santos, músico, professor e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco.

"Eles enfatizaram instrumentos como guitarra, bateria e metais, mas não criaram isso. O Jorge do Altinho já tinha usado isso nos anos 80 e Jackson de Pandeiro já tinha feito bem antes.

"A Mastruz com Leite usava só um sax, e depois, na segunda geração de bandas, os metais viram um naipe que vão praticamente substituir, ou melhor, vão fazer mais o papel dos interlúdios, dos solos, do que a própria sanfona", explica o pesquisador.

O pesquisador divide o movimento que ficou conhecido também como Oxente Music ou New Forró, em duas gerações. A primeira geração com bandas como Mastruz Com Leite, Magníficos e Limão Com Mel e a segunda, com Calcinha Preta, Aviões do Forró,  Saia Rodada e Garota Safada, criadas do meio dos anos 90 até o começo dos 2000.

Santos percebe que o movimento no forró foi natural e fez parte da tendência pop que estava em alta na indústria da música no mundo inteiro.

"Já tinha no mundo globalizado da indústria transnacional do disco artistas como Michael Jackson e Madonna. Eles já tinham engendrado esse fluxo de música pop, dos grandes espetáculos, dos clipes grandiosos, muita luz, muito som", explica o pesquisador.

Ele cita a axé music como outro exemplo de tendência pop. O que não era natural era a estrutura 360 graus que Emanoel Gurgel, o empresário construiu em Fortaleza.

"Era uma nova gestão empresarial de banda-empresa. Houve uma sobreposição de atividades às quais as gravadoras estavam fazendo exatamente o contrário. Ao terceirizar o papel da rádio na divulgação, o papel do estúdio de gravação, as empresas ficavam mais com a distribuição e o marketing. O Emanoel Gurgel vai inverter esses papéis e retomar a sobreposição dessas atividades".

Batista Lima, ex-vocalista da Limão com Mel, acredita que o forró ganharia muito se os artistas fossem mais unidos. A "divisão" de alguns artistas tradicionais, as bandas famosas no anos 90 e os artistas que vieram depois prejudica o crescimento e a força do gênero, segundo ele.

O cantor pernambucano foi a voz da banda Limão com Mel por 22 anos. Além de vocalista, foi diretor musical de 2000 até 2014, quando saiu em carreira solo.

São dele sucessos como "Toma Conta de Mim", "E Tome Amor", "Um Amor de Novela", "Vivendo de Solidão", "Minha Vida sem Você". Essas músicas trouxeram exposição nacional nos anos 90 e começo dos 2000. Ouça história no podcast abaixo.

Nesta semana, o G1 publica uma série de reportagens sobre artistas e produtores que viveram o auge do forró nos anos 90.

A Limão com Mel foi criada em Salgueiro, em Pernambuco, em 1993, acompanhando o movimento do forró eletrônico de bandas como Mastruz com Leite, Cavalo de Pau, Eliane, a Rainha do Forró e Magníficos.

Para Batista, o mesmo momento de auge do movimento "Oxente Music" ou "New Forró" foi também a hora em que os artistas começaram a se dividir.

"Não por discussões, mas houve uma barreira a respeito de 'o forró verdadeiro é esse' e começou uma discussão entre classes, entre movimentos", diz.

"Acho que isso prejudicou bastante o crescimento do forró, que eu acredito até como a frase do próprio Jesus diz: "Todo reino dividido contra si mesmo não prospera".

O cantor cita com admiração a relação de artistas baianos, como Ivete Sangalo e Luiz Caldas e Gilberto Gil, e dos cantores de sertanejo de diferentes gerações.

"Artistas do forró tradicional, às vezes, não dividem o palco com a gente e, eu conheço bandas de forró romântico que não querem dividir com Wesley ou com bandas do movimento atual de hoje, esse estilo mais dançante, mais balada".

Batista percebe dois motivos como principais para essa suposta divisão entre movimentos, e defende a união de todo mundo.

A primeira queixa é a musicalidade: "Mexeu muito, mudou muito na essência do forró no que era no que começou".A segunda tem mais a ver com o ego: "De achar que o meu movimento é o melhor, é o verdadeiro e o outro não é. Enfim a gente começa a Viver essa divisão, não de todos, mas às vezes até do próprio fã, de quem encabeça o movimento que diz que 'o meu movimento é o verdadeiro'".

Batista vê com naturalidade que o forró dos anos 90/2000 não esteja no auge das paradas hoje em dia. A banda chegou a fazer 366 shows por ano de 2003 a 2006, mas, antes da pandemia, a agenda era preenchida apenas nos finais de semana."Agora é o momento de outros movimentos e a gente tem que respeitar sim, eles passaram muitos anos esperando por essa oportunidade", diz o ex-vocalista da Limão com Mel.

"Todo ano vai surgir um produto novo, vai acontecer e a gente tem que ter muita maturidade para saber que nós temos o nosso público, que a gente tem respeito", completa.

Batista, no entanto, critica a estrutura das rádios: "Você tocava [antes] porque as rádios faziam questão de colocar seu sucesso, mas agora elas fazem questão de saber quanto você tem para tocar o seu sucesso".

"É uma disputa muito difícil, é uma luta desonesta", diz. "Eu acredito que o Nordeste está fazendo como aquela pessoa que tira os membros da sua casa, coloca na rua e coloca os de fora para dentro".

"Então está acontecendo assim, por isso que, infelizmente, a gente não está tão em evidência. Se você der um passeio aqui no Nordeste e ligar as rádios, vai perceber que pouquíssimas tocam o forró, a não ser os grandes que estão em evidência. Para os artistas independentes, realmente é um pouco mais difícil".

A Limão com Mel chegou a fazer turnê pelo Brasil com uma grande equipe no palco e nos bastidores. Todos eram funcionários do escritório com carteira assinada.

As ideias mirabolantes de sair de um limão na abertura do show ou de sentar em uma lua cenográfica são do próprio Batista, por exemplo.

"Eu cresci na frente de uma televisão, sou cinéfilo, apaixonado por filmes, shows, documentários. Eu ficava sempre me atualizando e chegava com as minhas maluquices...", lembra.

Outro destaque que Batista faz questão de citar é o DVD Acústico In Concert, gravado no teatro da Universidade Federal de Pernambuco, com 45 integrantes da Orquestra Sinfônica do Recife em 2006.

"Foram várias ousadias: orquestra sinfônica no forró, solos de piano no forró, músicas que passavam 1:40, 1:45 sem entrar o forró, começava totalmente romântica e instrumental", explica.

O cantor justifica que a estrutura não se mantém hoje por uma questão de mercado: "Não que a gente não faça sucesso, mas nós não estamos em evidência, então fica difícil levar uma mega estrutura onde o cachê é menos da metade daquele valor que a gente recebia antigamente".

Depois de 22 anos, Batista Lima deixou a Limão com Mel para seguir em carreira solo em 2014. A decisão foi tranquila e em harmonia com a banda, segundo ele.

Para o primeiro semestre de 2021, Batista deve lançar um EP com seis parcerias com participações de cantoras amigas. Até lá, vai fazendo shows reduzidos para atender aos protocolos de segurança por conta da pandemia.

"Aquela casa que cabiam 1000 pessoas, só vai caber 200, 300 pessoas. É a forma da gente tentar faturar alguma coisa, mesmo pouco, para  tentar sobreviver na pandemia", finaliza. (Fonte: Texto: Gabriela Sarmento, G1)

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ZÉ CALIXTO, O ARTESÃO DA SANFONA

José Calixto da Silva (13 de dezembro de 2020), o acordeonista e compositor paraibano que fez nome como Zé Calixto no festivo universo do forró, foi um gigante no toque dos oito baixos da sanfona.

Pelo talento referencial no manuseio da sanfona, Calixto ganhou a vida e o respeito dos colegas de ofício, deixando de ser mais um Silva anônimo entre tantos bravos cidadãos do Brasil ou um mais um valente Zé da Paraíba, estado onde nasceu há 87 anos.

Por capricho premonitório do destino, Zé Calixto – caracterizado como “artesão da sanfona” por Sivuca (1930 – 2006), outro ás do instrumento – nasceu na terra que alardeia fazer “o maior São João do mundo”. Mesmo que tenha residido a maior parte da vida na cidade do Rio de Janeiro (RJ), para onde migrou em 1959, Calixto sai de cena associado ao forró junino, tendo sido presença assídua nos eventos do calendário de São João da cidade natal.

Por outro capricho do destino, o artista morreu no domingo, 13 de dezembro, Dia Nacional do Forró. A causa da morte – ocorrida em hospital do Rio de Janeiro, após dias de internação – foi complicações decorrentes do Mal de Alzheimer.

Vai-se o homem, fica a obra, construída por Calixto a partir de fins dos anos 1950, no rastro da explosão nacional de Luiz Gonzaga (1912 – 1989) e Jackson do Pandeiro (1919 – 1982), pilares da música nordestina. A partir de 1960, ano em que lançou o primeiro álbum solo, Zé Calixto e sua sanfona de oito baixos pela gravadora Philips, o instrumentista construiu carreira fonográfica, gravando com regularidade até o fim dos anos 1970.

Os títulos de alguns álbuns do artista – Forró em oito baixos (1962), Sanfoneiro pai d'égua (1964), Sanfoneiro bom é Zé Calixto (1968) e Uma sanfona de respeito (1968), entre outros de obra que totalizou 30 álbuns, quase todos editados em LP – já evidenciaram o talento sobressalente do sanfoneiro no toque dos oito baixos.

Tal habilidade começou a se manifestar ainda na infância. Diz a lenda que Calixto começou a tocar sanfona aos oito anos, influenciado pelo pai, também acordeonista. Aos 12 anos, sozinho, já animava bailes no circuito paraibano.

No Rio de Janeiro, o talento de sanfoneiro foi desenvolvido paralelamente ao dom para compor. Parceiro de Jackson do Pandeiro em A pisada é essa (1963), Zé Calixto deixa composições como Arrodeando a fogueira (1961), Bodocongó (1960), Bossa nova em oito baixos (1960), Milho verde na fogueira (1962, em parceria com Aquilino Quintanilha), Oito baixos no frevo (1960, com Bastinho Calixto) e Pro povo dançar (1978), entre outras músicas de clima abrasivo.

Pela obra alicerçada nos anos 1960 e 1970, Zé Calixto se tornou um ídolo para sanfoneiros mais jovens, uma referência para quem quis seguir o caminho festivo desse artesão dos oito baixos. Sanfoneiro bom foi Zé Calixto!

**Por Mauro Ferreira--Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em 'O Globo' e 'Bizz'.

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SANFONA DE 8 BAIXOS: LEO RUGERO E ZÉ CALIXTO

Leonardo Rugero Peres (Léo Rugero), é mestre em etnomusicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Música da UFRJ. Confira texto em homenagem ao sanfoneiro mestre Zé Calixto, falecido na noite de domingo 13 dezembro de 2020: 

Sempre guardarei essa foto - assim como tantas outras ao lado do mestre e amigo Zé Calixto,  com muito carinho, saudade e gratidão. Se a memória não falha, essa fotografia foi realizada na Escola de Música Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, em evento idealizado por nossa amiga, a acordeonista Norma Nogueira, no ano de 2013. A foto foi tirada por Luzia de Mendonça, que estava presente no evento. 

Conheci Zé Calixto em 2007, quando escrevia um artigo sobre a sanfona de oito baixos no Brasil. Mediante o encantamento  diante seu trabalho artístico e ao descobrir que residia na cidade do Rio de Janeiro, senti o impulso de conhecê-lo. Zé do Gato, artesão e lojista da Feira de São Cristovão, intermediou nosso primeiro encontro. A descoberta de um amigo em comum, Guilherme Maravilhas, nosso querido Mará, seria um dos alicerces de nossa rede, que ainda mais nos aproximaria. 

O que seria somente uma entrevista para um artigo se fortaleceu em amizade verdadeira e sólida e se tornou um divisor de águas em minha vida: o fole de oito baixos, personificado pela figura idiossincrática do mestre e amigo. Desde então nos tornamos amigos próximos. Quantas idas à sua casa na Pavuna - depois em Santíssimo, quantas lições de vida memoráveis. Aos poucos, fui tornando-me alguém que já era "de casa". Em 2008, senti a necessidade de escrever uma dissertação de mestrado sobre o fole de 8 baixos da região Nordeste.

 Zé Calixto não apenas me apoiou, foi minha bússola, meu astrolábio, abriu as portas para que eu pudesse adentrar por esse mundo do qual faço parte hoje. Quanta gratidão...até mesmo tocar o fole era algo do qual eu fugia, tal a complexidade do instrumento, mas, um dia, ele me aconselhou: - se você quer falar sobre esse instrumento, trate de conhecê-lo profundamente. 

Quanta sabedoria estava presente em suas palavras, seus gestos, sua amizade sincera e sua maestria.

Zé Calixto mudou o curso de minha vida, redirecionando meu caminho na música.

 Sua maestria era reconhecida até mesmo por Hermeto Pascoal, que, certa vez, me disse que Zé Calixto era para ele tal como se fosse um irmão. Ou o mestre Oswaldinho do Acordeon, que admira a maneira como ele interpretava choros e complexos forrós no fole de oito baixos. Sivuca dizia que Zé Calixto era um mestre cavaleiro, que afinava suas próprias sanfonas. Hábil, perfeccionista, caprichosamente desenhando melodias que se espalhavam pelo ar...

Tenho a certeza de que Zé Calixto cumpriu seu trajeto e ascendeu envolto de luz, paz e som, fazendo sua passagem. Me emocionei com sua filha Janeide, que tanto zelou pelo pai, dizendo que ele havia saído para encontrar no céu com Dona Ritinha. Sim, este céu onde habitam nossas crenças mais profundas diante do mistério da vida e do planeta.

 Mas recordo de um verso antigo de algum poeta das Arábias que escreveu: "na vida, só levarás aquilo que tiveres deixado"...e Zé Calixto deixou conosco sua amizade, seu amor, sua arte, sua sabedoria, e seu bom humor. Sua discografia, um mar de música sem fim. Meu abraço espiritual e fraterno à toda a família Calixto, seus filhos Janeide, Janete, Carlinhos e Joselito, seus genros, noras, netos e bisnetos, seus irmãos e irmãs, primos e sobrinhos, família linda da qual me sinto tão irmanado. Meus sentimentos sinceros e profundos. E que esteja sempre presente a memória deste ser luminoso que continuará sendo nossa inspiração aqui, hoje e além adiante...

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