BISPO DE JUAZEIRO ENVIA MENSAGEM EM DEFESA DAS FAMÍLIAS ATINGIDAS E AMEAÇADAS POR MINERADORAS

O Bispo da Diocese de Juazeiro/BA, Dom Beto Breis, tornou pública nesta quinta-feira (02) uma Mensagem em defesa das populações atingidas e ameaçadas por mineradoras na região. No texto, nosso bispo diocesano se solidariza com o sofrimento das comunidades e, recordando os episódios de Mariana e Brumadinho, alerta para o risco de uma morte "a conta-gotas" semeada e cultivada pelos que "colocam no centro o lucro e seus interesses".

Duas situações em especial são citadas. A primeira delas é comunidade de Angico dos Dias em Campo Alegre de Lourdes/BA, atingida por mineradora que explora as riquezas naturais da região, em prejuízo da saúde e da paz da população local, afligida pelo ar poluído com poeira tóxica, a contaminação do lago local e impactada por explosões constantes.

Dom Beto em sua mensagem lembrou ainda as diversas comunidades ao redor da Serra da Bicuda, no interior de Sento Sé/BA, que se encontram ameaçadas pela vinda de mineradoras que se instalam na região. A vinda "foi autorizada e anunciada por órgãos competentes sem que fossem ouvidos aqueles que sofrerão seus impactos em suas vidas e na natureza com a qual tem uma relação de interdependência, a começar pelas águas do Velho Chico", diz a mensagem.

No texto o Bispo ressalta o trabalho das Pastorais sociais que buscam dar voz às comunidades. “Deus está ao nosso lado, pois ele é o dono de tudo”, com esta frase de uma jovem senhora, moradora do interior de Sento Sé, Dom Beto relembrou ainda às autoridades públicas sua "tarefa de ouvir as populações em questão e tomarem a defesa dos seus interesses".

Confira na integra mensagem:

“Naquele dia, nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o Espírito do Senhor: trará justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos… Não haverá danos nem mortes por todo o meu santo monte” (Isaías 11,1.4.9).

Movido pela Esperança celebrada e reavivada pela Liturgia nestes dias de Advento e comovido pela dor de tantos irmãos atingidos e ameaçados por empresas ligadas à mineração nestas terras da Bahia, escrevo estas palavras para que, ao grito das vítimas de Mariana e Brumadinho, ressoe também o clamor de tantas pessoas e comunidades atingidas e ameaçadas por tais empreendimentos e suas ilusórias promessas de progresso. Nem sempre a morte semeada e cultivada pelos que colocam no centro o lucro e seus interesses se manifesta abrupta, como nas Minas Gerais, mas muitas vezes vem em conta-gotas, aos poucos, gerando não menos dor e indignação.

Na segunda metade do século XVII, as populações indígenas nativas destas margens do São Francisco viviam e sobreviviam ameaçadas por ávidos exploradores e aventureiros de toda espécie em busca de ouro e pelos que se diziam proprietários das terras, “doadas” como sesmarias. Passados mais de três séculos, a situação de injustiça e de desrespeito aos direitos e à vida das populações locais nestas terras sãofranciscanas persiste, com vestes imorais de legalidade que cobrem os gananciosos por minérios e terras. Mineradoras e pretensos proprietários (grileiros) ferem a qualidade de vida e ameaçam famílias que há gerações convivem com o semiárido e aproveitam das benesses de um rio generoso e perene.

Moradores de diversas comunidades, não apenas no âmbito de nossa Igreja Particular de Juazeiro, vem sofrendo os efeitos da presença de mineradoras e da chegada de outras dessas empresas. Trago aqui, por exemplo, o drama vivido desde 2005 pelas mais de trezentas famílias que formam a população de Angico dos Dias, no município de Campo Alegre de Lourdes. O ar poluído pela poeira tóxica expelida no processamento de fosfato em uma pequena serra junto à comunidade (por vezes formando densas nuvens) tem gerado enfermidades respiratórias e dermatológicas das mais diversas. 

A lagoa, até então portadora da irmã água “útil, preciosa e casta” (como decantava São Francisco), está morta. Em visita recente à comunidade pude ouvir os lamentos de habitantes, muitos deles idosos, que sofrem também com os impactos de explosões provocadas por empresa mineradora (comprometendo estruturas de casas e de indispensáveis cisternas) e as ameaças de grileiros que chegam com “documentos” negando o direito à terra de quem vive em espaços sacralizados pelos firmes passos dos seus antepassados.

Em Sento Sé, comunidades às margens do Velho Chico, ainda com feridas não cicatrizadas desde os tempos da construção da Barragem de Sobradinho (nos anos 70), afirmam serem desrespeitadas por empresas mineradoras, que se instalam na proximidade da Serra da Bicuda como se toda a área vizinha fosse “terra de ninguém”. E aí moram aproximadamente mil e trezentas famílias! Afirmam peremptoriamente que a instalação da mineradora foi autorizada e anunciada por órgãos competentes sem que fossem ouvidos aqueles que sofrerão seus impactos em suas vidas e na natureza com a qual tem uma relação de interdependência, a começar pelas águas do Velho Chico. 

Em encontro há algumas semanas com moradores dessas comunidades saí impressionado com seus relatos angustiantes e com sua indignação. Certa moradora, relembrando as dores persistentes desde os anos 70, fala do progresso prometido com a Barragem de Sobradinho, que “ainda não chegou”, e se pergunta: “o que fizemos para merecer tanto castigo?”. Outra jovem senhora, por sua vez, porta também os sentimentos dos demais afirmando que “Deus está ao nosso lado, pois ele é o dono de tudo”. 

Alegramo-nos, por outro lado, com a presença da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) junto às populações, que assim se sentem fortalecidas e apoiadas em sua luta e na defesa dos seus direitos inalienáveis. A CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – já compôs uma Comissão Episcopal Pastoral Especial sobre Ecologia Integral e Mineração (CEEM), para focar atenção especial nos graves e preocupantes reflexos da mineração em todo o território nacional.

Cremos firmemente que as autoridades constituídas em todas as esferas, no seu dever de atuarem no “campo da caridade mais ampla, a caridade política” (Papa Pio XI, em 1927) têm a tarefa de ouvir as populações em questão e tomarem a defesa dos seus interesses. Bem afirma o Papa Francisco em sua mais recente Encíclica: “além de reabilitar uma política saudável que não esteja sujeita aos ditames das finanças, devemos voltar a pôr a dignidade humana no centro e sobre este pilar devem ser construídas as estruturas sociais alternativas de que precisamos” ( Fratelli Tutti, 168).

Neste dia em que finalizo este texto, recordamos o Beato Charles de Foucauld (+ 1916), o “Irmão Universal”, que em correspondência ao bispo Monsenhor Guérin, escreveu: “Eu aprendi a mesma coisa, a defender os inocentes, os fracos, desde que sejam atacados… e isto é um dever evidente da caridade fraterna”. Faço minhas as suas palavras, pedindo ao Senhor que sustente essas populações em suas lutas e anseios. 

Que o tempo novo que Ele anunciou pelo Profeta Isaías, tempo que “trará justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos”, logo se faça plenamente presente entre nós.

*Dom frei Beto Breis Pereira

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RIO SÃO FRANCISCO: VAZÃO DA BARRAGEM DE SOBRADINHO SERÁ REDUZIDA A PARTIR DESTA QUARTA (2)

Na manhã de hoje (01), o diretor de Operação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), João Henrique Franklin, em entrevista à Rádio Jornal de Petrolina, afirmou que haverá redução da vazão de Sobradinho a partir de amanhã (2 de dezembro), inicialmente para 1.400 m³/s, chegando ao patamar de 1.100 m³/s, no dia 3, e permanecendo assim até nova avaliação.

O diretor destacou o cenário favorável do Reservatório de Sobradinho que está, neste dia 1º, com aproximadamente 51% de sua capacidade, o que é considerado bom para aguardar as próximas chuvas. “É um cenário diferente daquele que atravessamos em 2015, quando chegamos a 1% à época”, disse.

Diante disso, João Franklin ressaltou que, hoje, “o Nordeste está exportando energia elétrica para as regiões Sul e Sudeste, assim como essas regiões nos ajudaram no período de seca dos anos anteriores”. Ele explicou que como a geração eólica da Região está em alta, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) pode tomar essa decisão de reduzir a produção de energia pelas hidrelétricas.

João Henrique Franklin acrescentou que a situação, entretanto, é variável e poderá haver novo aumento de vazão dentro dos patamares operativos regulares, a depender do nível das chuvas – que têm boas perspectivas segundo os institutos de meteorologia. “Passamos muitos anos com o rio seco, agora o Rio São Francisco está reocupando sua calha”.

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FÓRUM DE DESENVOLVIMENTO DO SEMIÁRIDO 2020 ACONTECE EM MOSSORÓ, RIO GRANDE DO NORTE

 

O Fórum de Desenvolvimento do Semiárido 2020 acontece em Mossoró (RN) nos dias 3 a 5 de dezembro e mobiliza a região Nordeste. O evento vai promover um amplo debate que irá fomentar o Plano de Desenvolvimento do Semiárido (PDS).

A programação do evento conta com a participação de autoridades do país e palestrantes, especialistas e técnicos de todo o país. O vice-presidente, Hamilton Mourão, marcará presença na abertura do Fórum.

O desenvolvimento do PDS está em curso e, com a sua implementação, estima-se que 1 milhão de hectares poderão se beneficiar com a produção irrigada e alta tecnologia, principalmente com a ampliação de fruticultura irrigada podendo gerar anualmente um valor bruto de R$ 70 bilhões, injetando cerca de R$ 10,5 bilhões em impostos e pelo menos três milhões de empregos diretos. Se agregar alta tecnologia e grandes indústrias, a flutuação de mão de obra pode ser ainda maior.

Portanto, o Fórum irá promover dois dias de debates e discussões sobre os 13 Eixos Temáticos selecionados: Recursos Hídricos, Energia, Agronegócio, Mercado, Relações Exteriores (comércio), Recursos Minerais, Segurança – Jurídica e Fundiária, Educação – Capacitação, Turismo, Transporte e Logística, Novas tecnologias e Inovação, Comunicação -TI e Meio Ambiente

Além do Fórum, o evento oferece um pavilhão com Feira de Exposição aberto ao público e seguindo os protocolos de segurança devido a pandemia causada pela Covid-19. O espaço terá apresentação de tecnologias de aproveitamento de resíduos sólidos urbanos, produção eólica e solar, produção agrícola em ambiente protegido, dessalinização, serviços e produtos ligados ao desenvolvimento do semiárido e shows culturais.

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CANTOR GENIVAL LACERDA É INTERNADO COM COVID-19 EM UTI DE HOSPITAL NO RECIFE, DIZ FAMÍLIA

O cantor e compositor paraibano Genival Lacerda, de 89 anos, está internado no Hospital Unimed I, na Ilha do Leite, na região central do Recife. Segundo o filho dele, o cantor João Lacerda, o artista está com Covid-19 e recebe tratamento em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Por telefone na tarde desta terça (1º), João Lacerda informou que o pai deu entrada no centro de saúde, na segunda (30), sendo levado para a UTI.

“[Ele] fez um exame, que deu positivo para Covid-19. Ele está respirando com a ajuda de aparelhos”, disse João Lacerda.

A assessoria de comunicação da Unimed I informou, também por telefone, que Genival Lacerda deu entrada em uma de suas unidades no Recife.

No entanto, a rede afirmou que não repassaria informações nem boletins de saúde sobre o paciente. “Apenas para a família”, disse a assessoria.

Em 26 de maio deste ano, Genival Lacerda sofreu um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVC) e deu entrada no Hospital d’Ávila, na Zona Oeste da capital pernambucana. Recuperado, ele teve alta três dias depois de ser internado.

Genival Lacerda estava em sua casa, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul da capital pernambucana, quando passou mal.

Foi levado a princípio para o hospital da Unimed, mas por conta do risco de contrair Covid-19, foi transferido para o D'Ávila, ainda de acordo com o filho.

Natural de Campina Grande, Genival Lacerda reside no Recife há mais de 25 anos. Ele é interprete de músicas como "De quem é esse jegue?" e "Severina Xique-Xique", essa composta por João Gonçalves, um dos maiores sucessos do cancioneiro brasileiro.

Pernambuco teve, nesta terça-feira (1º), a confirmação de 1.853 diagnósticos da Covid-19. Também foram registrados mais 19 óbitos causados pela doença em todo o estado. Com isso, o número de casos subiu para 184.259; e o de mortes, para 9.056. A contagem teve início no dia 12 de março.

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EXCLUSIVO: SECRETÁRIO DE CULTURA DE EXU DIZ QUE A FESTA VIVA GONZAGÃO 2020 NÃO TERÁ FESTA NOS DOIS PALCOS PRINCIPAIS DA CIDADE

A tradicional Festa Viva Gonzagão 2020 este ano atípico devido a pandemia Covid-19 não terá festa nos dois principais palcos do evento: a festa que é realizada na Praça Central e Parque Aza Branca não terá festa para evitar aglomerações. O encontro de Sanfoneiros debaixo do pé da árvore juazeiro, Targino no Araripe e a Feijoada do Joquinha Gonzaga são as referências durante as festividades de nascimento de Luiz Gonzaga.

 No próximo dia 13 de dezembro de 2020 se vivo fosse Luiz Gonzaga completaria 108 anos de nascimento.

A informação de este ano não será promovida a festa nos palcos principais em Exu foi prestada pelo Secretário de Cultura e Turismo de Exu, Pernambuco, Rodrigo Honorato. Ele destacou que um novo formato está em estudos. As informações foram transmitidas durante a Live Gonzaguear promovida pelo escritor e produtor cultural, Rafael Lima, no instagram @rafaellima. 

"A festa Viva Gonzagão é mais que um evento, é na verdade um sentimento de perteRcimento cultural de Exu e do Brasil. Mas temos que compreender o momento difícil e que precisamos preservar vidas. Se puder fique em casa", disse Rodrigo Honorato.

O Secretário ressaltou que a data dia 13 dezembro, no município de Exu, no Sertão de Pernambuco, é o momento de homenagear seu filho mais ilustre, durante o Festival Viva Gonzagão. Rodrigo fez uma avaliação sobre "o aumento dos casos de Covid-19, em Exu e por isto a difícil decisão de não ter festa neste ano de 2020".

A única certeza é a realização de  da tradicional missa embaixo do pé de juazeiro.

O evento pela primeira vez será realizada de forma on line. Uma live ainda não confirmada a programação deve acontecer.

Pernambuco teve, nesta terça-feira (1º), a confirmação de 1.853 diagnósticos da Covid-19. Também foram registrados mais 19 óbitos causados pela doença em todo o estado. Com isso, o número de casos subiu para 184.259; e o de mortes, para 9.056. A contagem teve início no dia 12 de março.

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FUNDAÇÃO CASA JOSÉ AMÉRICO COMPLETA 40 ANOS COM EXTENSA PROGRAMAÇÃO

 

A Fundação Casa de José Américo, em João Pessoa, inicia as comemorações dos 40 anos de criação da instituição, em dezembro. Os eventos virtuais se estenderão pelo decorrer do ano de 2021, culminando em 10 de janeiro de 2022, data em que se comemora os 40 anos de inauguração do museu.

As atrações poderão ser acompanhadas pelo canal da FCJA, no YouTube, contemplando os mais diversos segmentos artístico-cultural: literatura, música, cinema, seminários, homenagens, inaugurações, entre outras atrações. Tudo isso conectado com o rico universo que compõe a vida e obra do escritor José Américo.

“Queremos destacar a importância da Fundação mas também colocá-la no caminho do futuro, realizando novas pesquisas, digitalizando e organizando o acervo, para disponibilizar ao público, planejando novas ações para os próximos anos. Tem o caráter da celebração, mas também o entrelaçamento da história da cultura paraibana e o legado de José Américo de Almeida”, detalhou o presidente da FCJA, Fernando Moura.

A criação da Fundação Casa de José Américo aconteceu no dia 10 de dezembro de 1980, com a Lei 4.195, assinada pelo então governador Tarcísio Burity, determinando como sede a casa onde o ilustre imortal paraibano viveu os últimos 22 anos de sua existência, situada na orla do Cabo Branco.

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PARA COMBATER O EXCESSO DE RUÍDO E ACELERAÇÃO TECNOLÓGICA LIVRO INDICA O SILÊNCIO COMO UMA FORMA DE EXISTÊNCIA

A viralização de notícias falsas, ou fake news, em inglês, é um dos grandes problemas dos últimos anos. A professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) e jornalista especializada em Comunicação Digital Pollyana Ferrari faz uma reflexão sobre os fenômenos das bolhas de informação e da rapidez com que informações falsas são compartilhadas sem checagem pelas redes sociais no livro "Como Sair das Bolhas", das editoras Educ e Armazém da Cultura, lançado na semana passada.

Para combater essa aceleração tecnológica, Pollyana propõe, em seu livro, uma relação diferente com o excesso de ruído e o silêncio como uma forma de existência. Ela recomenda o uso dos oito passos de Buda (compreensão, pensamento, fala, ação, esforço, atenção, concentração e modo de vida corretos) antes de compartilhar mensagens.

“Primeiramente, devemos reconhecer que as notícias falsas são, na verdade, uma variedade de desinformações que pode variar entre a correta utilização de dados manipulados, a utilização errada de dados verdadeiros, a incorreta utilização de dados falsos e outras combinações possíveis. A sociedade do fluxo informacional, a velocidade das redes sociais, dos aplicativos, tudo nos deixa inquietos, e a inquietude só causa prejuízos: compartilhamos o que não lemos, aceitamos a sedução como verdade, pois ela nos conforta no momento de angústia", diz trecho do livro.

Confira a entrevista com Pollyana Ferrari:

*Brasil de Fato: Como sair das bolhas? Polyanna Ferrari: Tendo uma postura de transitar, de perceber que o mundo é diferente, que as pessoas não são iguais. Eu falo no livro que a gente tem mais muros pichados e grafites do que varandas gourmets pasteurizadas, iguais. As pessoas se acostumaram nas redes sociais, se são de esquerda, não ter ninguém que pensa diferente, se são veganos, a mesma coisa. Foram limpando suas timelines e seus convívios nas redes e ficando só com quem pensa igual. E isso é muito ruim. O importante é cultivar democraticamente o debate público. Então, sair das bolhas é uma volta a você conseguir conviver.

*Voê acha que a tecnologia aumentou a propagação de fake news ou isso já existia antes?

É uma relação de escala. Sempre teve fake news. Eu relato no livro que Roma antiga tinha, mas não era nessa escala grande. Depois das redes sociais e todas essas plataformas do Google, muita gente ganhou voz. As pessoas com smartphone viraram mídia. Isso é muito bacana, mas ao mesmo tempo você tem muita gente propagando muita coisa e a checagem não fez parte dessa década. Não fomos treinados para checar. A eleição do [Donald] Trump [presidente dos Estados Unidos] mostrou para o jornalismo, para nós, um alerta de que era preciso checar as informações recebidas. As pessoas não foram educadas a checar, chega no Whatsapp e as pessoas acreditam. E não é só o jovem que propaga fake news. Então, na questão de escala, a tecnologia propaga muito mais do que antes dessas redes.

*E Você acha que seria possível diminuir a propagação das fake news?

Não compartilhando e não curtindo. Primeiro, você checa, joga no Google, tenta ver a procedência do texto, qual a fonte, quando foi publicado, se é uma coisa velha, se a foto foi manipulada. E agora também temos vídeos fakes [falsos]. Então, a gente tem que aprender socialmente a checar. É fundamental ter as agências de checagem, bots e algoritmos de checagem, mas nunca vai ter fim. Vamos pensar em eleições, 140 milhões vão votar e temos três agências de checagem (Aos Fatos, Lupa e Pública), mesmo se tivesse 6.000 agências de checagem, não iam dar conta.

Como você avalia o trabalho dessas agências?

Eu comecei em 2016 essa minha pesquisa, comecei olhando os jornais primeiro e cheguei às agências. São iniciativas fora das grandes redações muito bem-vindas. Acho que avançamos muito com as agências, os códigos de ética, os grupos de checadores. Precisamos ter mais e vão surgir mais. Acho legal, mas sempre pensar na educação de quem dissemina, senão não vai ter fim. Quantas agências de checagem precisariam ter no mundo?

Tem discussão o e silêncio no seu livro. Como aplicar isso nas redes?

Isso. Eu volto aos oito passos do Buda, técnica milenar, não numa ideia de doutrinar para religião, mas é sobre ser ético, respirar, pensar. Porque nessa velocidade que as pessoas compartilham, normalmente é porque não leem, tirando os que compartilham porque produziram e ganham dinheiro com isso. As pessoas leem só o título e passam pra frente. Os pensadores de psicologia cognitiva dizem que o cérebro precisa de três a cinco minutos, então se parar pra respirar e pensar e voltar à essa questão do silêncio, desligar o celular pra dormir. Parece dicas holísticas, mas faz todo sentido nessa pressa de compartilhar conteúdo que não está dando certo. Todo mundo virou colunista de tudo, todo mundo dá um palpite, o dedo está o tempo todo ali, as pessoas curtem até marca. A ideia do silêncio é isso, tanta evolução tecnológica e eticamente e moralmente estamos comprometidos. O Whatsapp é o maior propagador de mentiras e o grande perigo nessa eleição vai ser isso.

Sore eleição, qual a análise que você faz desse cenário?

Fake news em ano de eleição é um perigo. Gostaria de dizer que, infelizmente, acho que vai ter muita barbárie. Até porque o brasileiro está falando sobre isso só agora em 2018. Teve a eleição do Trump, quando os grandes veículos como The Washington Post e BBC falaram disso, alertaram muito sobre esse perigo, mas acho que foi no caso da Marielle [Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em março] que a gente conseguiu ver a proporção, como é rápido o desserviço do MBL [Movimento Brasil Livre]. E vão continuar agindo. Então, como a gente faz? Primeiro, desconfie de tudo. Cheque, veja se o perfil existe, quem mandou, explica para seu tio, seu pai, mãe, que compartilha fake news, e respeite o outro. Tem que ser um eterno exercício, checagem de fatos tinha que estar na grade das escolas, os professores tinham que debater, aprender a checar é aprender a conviver e ouvir outras vozes, outras opiniões.

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