MORRE O PESQUISADOR MUSICAL, ZUZA HOMEM DE MELO, AOS 87 ANOS

A música brasileira perdeu neste domingo (4), o pesquisador musical Zuza Homem de Mello, aos 87 anos, vítima de um infarto agudo miocárdio. Ele faleceu enquanto dormia, em sua residência no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Por causa da pandemia do novo coronavírus. Familiares preferiram não revelar ao público em geral, o local do velório e sepultamento para que a cerimônia fúnebre seja restrita aos amigos mais próximos.

Zuza foi um dos mais estudiosos da música popular brasileira e havia finalizado na última terça-feira (29), uma biografia sobre João Gilberto, um dos ícones da MPB. Outra paixão que pulsava nas veias do musicólogo, era o jazz, estilo do qual também se tornou especialista. Neste gênero, Zuza dizia que para gostar de jazz era preciso conhecer a música porque o para se tocar este ritmo era preciso ter um conhecimento avançado para poder improvisar.

A rádio Senado destacou que O músico, jornalista e escritor Zuza Homem de Mello era um dos mais importantes pesquisadores de música do país, coordenou publicações como a Enciclopédia da Música Brasileira. Na semana passada, concluiu seu último trabalho: a biografia de João Gilberto 

Segundo a família, Zuza havia passado o sábado (3) comemorando com a mulher, Ercilia Lobo, seus novos projetos, como a biografia do músico João Gilberto, que havia finalizado recentemente, e a série "Muito Prazer Meu Primeiro Disco", com o Sesc São Paulo -o primeiro episódio, com Gilberto Gil, saiu neste sábado.

Nos anos 1950, Zuza, que era contrabaixista e amante do jazz, foi para os Estados Unidos estudar música em Massachusetts e em Nova York, onde frequentou clubes do gênero e assistiu de perto a apresentações de ícones como Duke Ellington, Billie Holiday, Miles Davis, Thelonious Monk e John Coltrane.

O musicólogo marcou a história da música nacional por trabalhos com nomes como Elis Regina, Milton Nascimento, Elizeth Cardoso e Jacob do Bandolim.

Ele também escreveu obras importantes sobre a música brasileira, dentre eles "A Era dos Festivais - Uma Parábola" (2003) e "Copacabana" (2017), além de publicar "Música com Z: artigos, reportagens e entrevistas" (2014), que reuniu textos escritos por ele entre 1957 e 2014.

Em 2019, o documentário Zuza Homem de Jazz, sobre sua trajetória como músico, técnico de som e pesquisador, foi lançado. Filmado em São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York, tem direção de Janaína Dalri.

Segundo a família, o velório será restrito a família e amigos por causa da pandemia.

HISTÓRIA: Nascido em 1933, Zuza Homem de Mello usa os anos de vida como vantagem para acumular conhecimentos. O seu lado de jornalista, escritor e radialista se une ao de musicólogo e produtor para ser um dos maiores conhecedores atuais da música brasileira.

Zuza organizou o Festival de Verão do Guarujá, que teve a participação de artistas como Luiz Gonzaga, Raul Seixas e Djavan, e três edições do Festival Carrefour. Foi convidado para festivais internacionais nos Estados Unidos e na Europa, da França à Suíça. Produziu os shows de Milton Nascimento no Japão, em 1988, e diversos discos com nomes consagrados da MPB, como Elis Regina e Orlando Silva.

Nascido em 1933, Zuza Homem de Mello usa os anos de vida como vantagem para acumular conhecimentos. O seu lado de jornalista, escritor e radialista se une ao de musicólogo e produtor para ser um dos maiores conhecedores atuais da música brasileira.

Zuza organizou o Festival de Verão do Guarujá, que teve a participação de artistas como Luiz Gonzaga, Raul Seixas e Djavan, e três edições do Festival Carrefour. Foi convidado para festivais internacionais nos Estados Unidos e na Europa, da França à Suíça. Produziu os shows de Milton Nascimento no Japão, em 1988, e diversos discos com nomes consagrados da MPB, como Elis Regina e Orlando Silva.

Desdo o dia 24 de março desde ano, o radialista e crítico musical Zuza Homem de Mello apresentava o Programa o Playlist do Zuza na Rádio USP (93.7 FM), todas as sextas-feiras, às 17h.

Sem se apegar a temas ou gêneros musicais, o Playlist do Zuza discutia a música popular brasileira com base na experiência de mais de seis décadas de carreira do apresentador.

Para o comentarista, o diferencial do Playlist está na sua flexibilidade, capaz de incorporar a diversidade da música popular brasileira em sua programação. 

“A grande marca desse programa é exatamente essa ‘salada’, que não tem gênero nem tem preferência por nada. Nessas condições, o que acaba chamando atenção das pessoas é a surpresa, porque, depois de uma música lenta, como uma valsa, de repente vem algo atual, como o reggae, que não tem nada a ver com aquilo que estava tocando antes. Pode entrar tanto um samba da pesada quanto uma música instrumental de solo de piano”, explicava Zuza. 

Sua relação com o rádio começou aos 11 anos, como ouvinte, e só a partir da década de 1970 conseguiu se dedicar mais à profissão de radialista, com o Programa do Zuza — Para quem tem música nas veias. Antes disso, nos anos 50, Zuza foi contrabaixista, colunista e crítico de jornais e de revistas. Na década de 1960, produziu programas para a TV Record e, nos anos seguintes, atuou como produtor de festivais e discos.

Segundo o radialista, o que mudou dos seus primeiros anos de rádio até seu mais novo programa foram o seu traquejo e seu repertório, que aumentaram com os anos de trabalho. Além disso, Zuza acompanhou a mudança da transmissão de ondas AM para FM nas rádios, que, segundo ele, fez uma grande diferença na experiência do ouvinte que o acompanha até hoje. Para interagir com a programação, a audiência pode enviar e-mail para ouvinte@usp.br.

Após décadas de experiência, Zuza avalia que hoje faltam apresentadores que tenham noção de ritmo de programação nas rádios e que dominem o assunto sobre o qual comentam. 

“As pessoas se habituaram a ouvir música sem ouvir. E o Playlist do Zuza tem essa ideia, ele procura chamar as pessoas para ouvirem música. Não adianta deixá-la como fundo musical, enquanto a pessoa está fazendo alguma outra coisa. Ela deve estar ouvindo aquilo”, critica. “O apresentador precisa estar presente enquanto a música está tocando, ou ter conhecimento do que vai ser tocado, senão ele não participa do próprio programa.”



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PAPA FRANCISCO DEFENDE FRATERNIDADE CONTRA INJUSTIÇAS DO CAPITALISMO

O papa escolheu o dia dedicado a são Francisco de Assis, santo que inspirou o nome adotado por ele como pontífice, para publicar um chamado à fraternidade universal em que ataca as injustiças do capitalismo global, pede que os imigrantes sejam acolhidos e defende o diálogo entre religiões e culturas diferentes.

"Fratelli Tutti" ("Todos Irmãos", em italiano), a nova encíclica do papa Francisco, foi assinada por ele em Assis (cidade natal do santo, na Itália central) em 3 de outubro, data em que o fundador dos franciscanos morreu em 1226, e teve seu conteúdo divulgado no dia seguinte.

É a primeira vez que um desses documentos papais é assinado fora de Roma. Também foi a primeira vez que o papa Francisco saiu do Vaticano e da capital italiana desde o início da pandemia causada pelo novo coronavírus. Assis, normalmente cheia de peregrinos e turistas do mundo todo, estava quase vazia durante a visita do pontífice argentino, que celebrou uma missa para poucas pessoas na cripta onde são Francisco está enterrado e preferiu se manter em silêncio depois do rito.

O simbolismo da carreira do santo medieval está presente desde os primeiros momentos do pontificado de Jorge Bergoglio, guiando sua preocupação com o que chama de "uma Igreja pobre para os pobres" e com a preservação ambiental. O título do novo documento também veio de um dos textos do religioso, tal como aconteceu com "Laudato Si'", a encíclica "verde" do papa, publicada em 2015.

Logo no começo da nova missiva, no entanto, o papa decidiu destacar outro aspecto da vida de são Francisco: sua decisão de visitar pacificamente os muçulmanos do Egito e seu sultão, Malik-al-Kamil, numa época em que cristãos e seguidores do Islã guerreavam pelo controle da Terra Santa, durante as Cruzadas.

"É impressionante que, há oitocentos anos, Francisco recomende evitar toda forma de agressão ou contenda e também viver uma 'submissão' humilde e fraterna, mesmo com quem não partilhasse a sua fé", escreve o papa, numa provável referência ao próprio Islã, termo que etimologicamente significa algo como "submissão a Deus" em árabe. "Não fazia guerra dialética impondo doutrinas, mas comunicava o amor de Deus."

Além das ações do santo, outra inspiração para a encíclica, segundo o pontífice, foi a colaboração entre ele e o grande imã Ahmad Al-Tayyeb, clérigo da prestigiosa Universidade Al-Azhar, no Egito. Francisco e Al-Tayyeb assinaram juntos um documento sobre a fraternidade humana em Abu Dhabi, em fevereiro de 2019, e o religioso islâmico é citado diversas vezes ao longo da "Fratelli Tutti".

Em parte, a encíclica soa como um reconhecimento, por parte do papa, de que sua visão sobre o futuro da Igreja Católica e das relações internacionais tem sido rejeitada por boa parte do mundo nos últimos anos. Entusiasta da integração entre os países europeus, da busca de soluções diplomáticas para conflitos e do combate às mudanças climáticas, Francisco alerta que "a história dá sinais de regressão".

"Reacendem-se conflitos anacrônicos que se consideravam superados, ressurgem nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos. Em vários países, uma certa noção de unidade do povo e da nação, penetrada por diferentes ideologias, cria novas formas de egoísmo e de perda do sentido social mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais", escreve o papa. "Frequentemente as vozes que se levantam em defesa do ambiente são silenciadas ou ridicularizadas, disfarçando de racionalidade o que não passa de interesses particulares."

Francisco atribui boa parte da culpa por esses retrocessos ao que costuma chamar de "cultura do descarte", um tipo de pensamento voltado apenas para a eficiência econômica e que tende a marginalizar os mais vulneráveis da sociedade, em especial os pobres, os que sofrem de alguma deficiência, os idosos e os jovens.

"A pandemia deixou a descoberto as nossas falsas seguranças. Ficou evidente a incapacidade de agir em conjunto. Apesar de estarmos superconectados, verificou-se uma fragmentação que tornou mais difícil resolver os problemas que nos afetam a todos. Se alguém pensa que se tratava apenas de fazer funcionar melhor o que já fazíamos, ou que a única lição a tirar é que devemos melhorar os sistemas e regras já existentes, está a negar a realidade", afirma o papa.

É preciso pensar num modelo alternativo de civilização que contrarie essa lógica, diz Francisco, para quem a maior inspiração deve vir da parábola do Bom Samaritano, contada por Jesus no Evangelho de Lucas. Na narrativa bíblica, um homem atacado e gravemente ferido por ladrões numa estrada é socorrido por um samaritano (etnia considerada desprezível pelos judeus do tempo de Cristo), enquanto um sacerdote e um levita, membros da elite religiosa de Jerusalém, passam pelo necessitado e nada fazem.


A história não apenas enfatiza a importância da solidariedade como também mostra que é preciso romper as barreiras de preconceito que separam as pessoas por raça, credo ou orientação política, como as que separavam judeus de samaritanos na época de Jesus, afirma Francisco.


Tal princípio tem de ser colocado em prática para acolher os imigrantes que estão em busca de uma vida melhor, segundo a encíclica. Ao mesmo tempo, o papa defende que não se deve conduzir ao apagamento das diferenças culturais ou religiosas, mas que fortalecer a identidade própria de cada cultura é um passo importante para o diálogo sadio com os outros e para o enriquecimento mútuo trazido pelo contato entre os povos.


Como em outras de suas pregações, Francisco alerta para o fato de que o mundo estaria vivendo uma "terceira guerra mundial por pedaços", considerando os muitos conflitos étnicos e religiosos de pequena escala que afligem o planeta. Diante dessa situação, ele propõe uma reformulação importante da doutrina católica sobre as chamadas "guerras justas", afirmando que o recurso à guerra praticamente não pode mais ser justificado hoje. Para ele, o mesmo vale para a pena de morte.


Vista em seu conjunto, a nova encíclica talvez seja o resumo mais claro dos caminhos propostos por Francisco ao catolicismo e à sociedade global. Diante de um mundo cada vez mais polarizado, o papa redobrou sua aposta no que chama de "cultura do encontro". Resta saber se ainda está em tempo de fazer a maré virar.

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ORAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO EM TEMPOS DE POUCOS RIOS

 

Aderaldo Luciano, nascido em Areia, na Paraíba, é poeta pautado pela estética da poesia do povo. Estudioso da poesia e da música do Brasil profundo, é mestre e doutor em Ciência da Literatura, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Vive o projeto Roda de Cordel – leituras e estudos, intervenções de leitura de cordéis em escolas e comunidades rurais brasileiras. Autor dos livros O auto de Zé Limeira (Confraria do Vento, 2008), Apontamentos para uma história crítica do Cordel Brasileiro (Luzeiro/Adaga, 2012), Romance do Touro Contracordel (Adaga, 2017). Até junho de 2017 manteve uma coluna semanal no programa Sabadabadoo – A Gente Gosta de Sábado na Rádio Globo (Rio e São Paulo): o Cordel de Notícias. Agraciado com o Falcão de Ouro por sua contribuição à cultura no estado de Sergipe.

Escritor e contador de histórias foi assim que escutei e assim reproduzo: oração do rio São Francisco em tempos de poucos rios. Confira:

Os olhos dessas crianças nuas me espetam e essa população de rua dormindo pelas calçadas me joga contra o muro. 

Só uma coisa me alenta hoje: a saudade do meu santo rio. O Rio São Francisco, o Velho Chico, Chiquinho. Escuto o murmurar de suas verdes águas: — Deixai vir a mim as criaturas... E assim foi feito. Falar de desrespeito e depredação tornou-se obsoleto. Denunciar matanças e desmatamentos resultou nulo. Orar e orar. Pedir ao santo do seu nome a sua oração.

Lá do Cristo Redentor da cidade de Pão de Açúcar, nas Alagoas, um moleque triste escutou a confissão das águas. Segundo ele, o Velho Chico dizia:

“Ó, Senhor, criador das águas, benfeitor dos peixes, escultor de barrancas e protetor de homens fazei de mim bem mais que um instrumento de tua paz. Se paz não mais tenho faz-me levar um pouquinho aos que em mim confiam. Paz para as lavadeiras que, em Própria, choram a sua fome de pão. Que, em Brejo Grande, soltam lágrimas pelos filhos mortos no sul do país. Que, em Penedo, já perderam a fé de serem tratadas como gente sã.

Onde houver o ódio dos poderosos que eu leve o amor dos pequeninos. O amor dos que cavam a terra a plantam o aipim. Dos que cavam a terra e usam-na como cama e lençol para sempre. Dos que querem terra para suas mãos, para os seus grãos, para a sua sede. O amor que não é submisso, mas escravizado. O amor que tem coragem de um dia dizer não. Coragem diante das balas e das emboscadas, das más companhias e da solidão.

Onde houver a ofensa dos governos que eu leve o perdão dos aposentados e servidores públicos. O perdão, nunca a omissão. A luta, porque perdoar não requer calar. Perdoar não quer dizer parar. Como minhas águas, tantas e tantas vezes represadas, mas nunca paradas e que, quando em minha fúria, carregam muralhas, absorvem barreiras e escandalizam Três Marias, Xingó e Paulo Afonso.

Onde houver a discórdia dos que mandam que eu leve a união dos comandados. A suprema união dos que sonham com as mudanças, dos que querem quebrar hegemonias e oligarquias. A discórdia dos reis contra a união dos plebeus. Um povo unido é força de Deus, dizia o velho bendito e sejais bendito, Senhor. A união das águas, a união das lágrimas, a união do sangue e a união dos mesmos ideais.

Onde houver a dúvida dos que fraquejam, que eu leve a fé dos que constroem seu tempo. Na adversidade, meio ao deserto e ao clima árido, a fé dos que colhem uvas e mangas em minhas margens. Dos que colhem arroz em minhas várzeas, dos que criam peixes com minhas águas em açudes feitos. A fé dos xocós lá em Poço Redondo. A fé que cria cabras nos Escuriais. Dos que colhem cajus e criam gado em Barreiras e outros cafundós.

Onde houver o erro dos governantes que eu leve a verdade de Canudos. O bom senso dos conselheiros de encontro à insanidade dos totalitários. Os canhões abrindo fendas na cidade sitiada e a verdade expondo cada vez mais a ferida da loucura na caricatura da História. O confisco da poupança e o rombo na previdência. O fim da inflação e o pão escasso, o emprego rarefeito, a dignidade estuprada em cada lar de nordestinos.

Onde houver o desespero das crianças da Candelária que eu leve a esperança das mães de Acari. E aqui, Senhor, te peço com mais fé. A dor dos deserdados, dos que perderam seus pais, filhos ou irmãos, seja de fome, doença ou assassínio, inundai-os com as águas esmeraldas da justiça. A justiça da terra e dos céus. Pintai de verde o horizonte das famílias daqueles que foram jogados mortos em minhas águas. Eles não foram poucos.

Onde houver a tristeza dos solitários que eu leve a alegria das festas de São João. Solitário eu banho muitas terras e em todas, das Gerais, do Pernambuco, das Alagoas e do Sergipe, não há tristeza ao pé da fogueira, nas núpcias entre a concertina e o repente, entre a catira e o baião.. Das festas do Divino ao Maior São João do Mundo, deixai-me levar, Senhor, o sabor de minhas águas juninas e seus fogos de artifícios.

Onde houver as trevas da ignorância que eu leve a luz do conhecimento e da sabedoria. A escuridão dos homens dementes que teimam em querer ferir-me de morte seja massacrada pela luz de um futuro negro, sem água potável, sem terra e sem ar.. Dai-me esse poder, de entrar nas mentes e nos corações, de espraiar-me pelos mil recantos dos que querem mal à nossa casinha, nossa pequena Terra. O homem sábio seja sempre sábio e contamine os povos com ensinamentos de preservação.

Ó, Senhor, dai-me vocação para consolar os que se lamentam de má sorte. Fazei-me compreender porque tanto mal há nos corações. Sobretudo, Senhor, não autorizeis que eu deixe de ser o Rio São Francisco, que há tantos anos não foge do seu leito, espalha e espelha vida em abundância. Que, embora tenha dado, quase nada recebo, que perdoando sempre, continuo sendo morto enquanto todos pensam que serei eterno.”

Foi assim que escutei e assim reproduzo. (Foto: João Zinclar)

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DIA DO RIO SÃO FRANCISCO É COMEMORADO COM MOBILIZAÇÕES CONTRA INSTALAÇÕES DE USINAS NUCLEARES E HIDRELÉTRICAS NO RIO

Populações tradicionais, ambientalistas e ativistas da região da bacia do rio São Francisco comemoram neste domingo, 4 de outubro, dia do rio São Francisco, com muitas mobilizações e ações que têm o objetivo de celebrar a data, mas também de alertar para os perigos que ameaçam a permanência de um dos rios mais queridos e mais importantes do Brasil.

As mobilizações são iniciativas de dois coletivos de ativistas que têm o rio São Francisco como pauta, o Velho Chico Vive e a Articulação Popular São Francisco Vivo, e estão sendo realizadas durante toda a semana com ações nas redes sociais, mas também com atividades presenciais em mais de dez cidades espalhadas pelos estados de Minas Gerais, Bahia, Alagoas e Sergipe.

As atividades presenciais acontecerão de maneira cautelosa, para evitar aglomerações que coloquem a vida dos participantes em risco. Mas o espírito de alerta e visibilidade para os perigos que o rio São Francisco e as suas populações tradicionais correm, será mantido.

As mobilizações estão sendo motivadas pelas recentes ameaças de implantação da Usina Hidrelétrica (UHE) do Formoso em Pirapora (MG) e as movimentações para a instalação de uma Usina Nuclear em Itacuruba (PE), ambas na bacia do rio São Francisco. 

Populações tradicionais que vivem nas barrancas do Velho Chico e ambientalistas e ativistas estão apreensivos e reivindicam a não instalação dos empreendimentos. Uma terceira ameaça que entra na pauta de reivindicações e que afeta diretamente os povos e comunidades tradicionais da região é a Instrução Normativa 67, emitida pelo Ministério da Economia, e que muda o processo de regularização das Terras Públicas da União. 

“O nosso objetivo é chamar a atenção da opinião pública, mobilizar as vontades populares organizadas, para acionar as autoridades competentes, MPF, os órgãos estaduais, o judiciário, para que esses novos empreendimentos não sejam efetivados e não agridam mais a vida que já vai por um fio em toda a bacia do São Francisco”, explica um dos coordenadores da Articulação São Francisco Vivo, o sociólogo e coordenador da Comissão Pastoral da Terra Nacional, Ruben Siqueira.

A outra ameaça ao Velho Chico é a Usina Nuclear de Itacuruba, cidade localizada no sertão de Pernambuco, às margens da barragem de Itaparica. Apesar de não haver um anúncio oficial, declarações de integrantes do governo apontam que a usina deve ser construída em breve. “Se a construção de uma Usina Nuclear for concretizada, vai usar água do rio, da barragem, para resfriar as caldeiras daquelas chaleiras atômicas. A água contaminada por radiação e altíssimas temperaturas, praticamente inviabilizará toda a vida na região abaixo”, aponta Ruben.

Programação:

Dia 04 – Ação de postagem de vídeos nas páginas do @Velhochicovive

Dia 4 – 9h Barqueata em Pirapora com saída da Cachoeira do Formoso, local onde se pretende construir a barragem.

Dia 4 – 9h Live Abração no Rio São Francisco, organizada pelo Movimento Fé e Vida

Dia 5 – 10h Cortejo saindo do bairro Aparecida em Pirapora.

Dia 5 – o dia todo Mobilizações em toda a bacia

Dia 5 – 15h Tuitaço #BastadeUsinasNoVelhoChico

Dia 5 – 17h Grande Live com participação de todas as regiões

(Fonte: Velho Chico Vive e a Articulação Popular São Francisco Vivo-Foto: João Zinclar)

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PROGRAMA GLOBO REPÓRTER DESTACA RIQUEZAS CULTURAIS E TURÍSTICA DOS SERTÕES

A música de Sá e Guarabira mais uma vez é trilha para mostrar o sertão e seus contrastes. A seca e a fartura. "O Rio São Francisco lá pra cima da Bahia diz que dia menos dia vai subir bem devagar e passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar..."

Você sabia que existe um mar doce em pleno Sertão da Bahia? O Globo Repórter fez uma viagem cheia de surpresas pela região e revelou encantos de uma terra pouco conhecida pelos brasileiros. O Programa Globo Repórter foi exibido ontem sexta (2) e destacou "os segredos" de um lugar ainda pouco conhecido. Entre mar de água doce, onças e araras.

Um mar de água morna, transparente, que se espalha por mais de 300 quilômetros e até invade a Caatinga. Visto como uma espécie de “Caribe do sertão”, o mar doce fica no município de Casa Nova, norte da Bahia. Quando a barragem de Sobradinho foi construída, há 50 anos, as águas represadas do rio submergiram cidades e vilas, obrigando milhares de sertanejos a deixarem suas terras para viver onde o lago não alcança. Hoje, os poucos que conhecem o recanto escondido lembram à velha profecia: o sertão virou um belíssimo mar.

Localizada no município de Sento Sé, o parque nacional foi criado em abril de 2018 e é um dos últimos refúgios da onça da Caatinga. Essas onças, tanto a parda, como a pintada, são adaptadas fisicamente ao bioma. Nas patas, embaixo, existem mais pelos do que nas patas das onças dos outros lugares, tudo para proteger mais da temperatura do chão quente durante a seca. Não há números exatos, mas a estimativa é de 230 onças vivendo no Boqueirão. A área tem 9 mil quilômetros quadrados e reúne, além das onças, uma rica biodiversidade, espécies do único bioma totalmente brasileiro.

Uma jazida de ametistas se escondia no Nordeste. O garimpo fica bem no pé da Serra do Boqueirão, em Sento Sé. Foi descoberta por acaso: um caçador, procurando tatu em um buraco, acabou encontrando uma pedra de ametista. A notícia logo se espalhou e garimpeiros viajaram de todo canto do Brasil. Hoje, são dezenas de buracos, que vão a 80, 100 metros de profundidade, para conseguir ter acesso às pedras.

Manga, coco, goiaba, uva. tudo em grande quantidade, o ano todo. Há 40 anos, quando os primeiros cachos de uva foram colhidos, a expectativa era vender a produção no Nordeste mesmo. Aos poucos, o mercado se ampliou pelo Brasil inteiro e chegou ao exterior. Hoje, as frutas do vale do São Francisco são consumidas por mais de 90 países. O Sertão irrigado produz cinco milhões de toneladas de frutas por ano e sustenta mais de 200 famílias nordestinas.

Outras preciosidades da Caatinga são joias raras, como a árvore sagrada para o sertanejo: o umbuzeiro. Mesmo nas longas estiagens, ele não perde o verde. E, no verão, chova ou faça sol, sempre tem umbu para comer. 

A professora e empresária Andréa Passos Araújo, moradora de Casa Nova,  sempre foi apaixonada pelo rio São Francisco e as dunas. Andréa revela que o local não era ainda visitado, e tampouco muito conhecido e ela já vislumbrava o potencial turístico do local.

"Temos o privilégio de ter a melhor praia de água doce da região do norte da Bahia e do Vale do São Francisco", afirma Andréa ressaltando a beleza traduzida na mistura de águas cristalinas com a quase misteriosa presença da areia branca das dunas.

Andréa revela que é gratificante observar que quando os turistas chegam para conhecer as dunas, logo, todos ficam admirados com o contraste da vegetação da caatinga junto com um "mar de água doce". "É o nosso oásis do sertão. Sem falar na culinária regional da região comercializada nas barracas. Os passeios de quadriciclo e lanchas, as caminhadas, sol exuberante", diz Andréa.

De acordo com a professora, nas dunas de Casa Nova tudo é atração. Ela destaca a Ilha da Pedra, conhecida como o antigo Serrote da Cidade Velha, que foi inundada pela barragem de Sobradinho e também um ilha deserta de areia conhecida como Paraíso do Sertão.

Andréa faz planos objetivando ações que conservem o meio ambiente e provoquem uma conscientização das riquezas presentes nas dunas de Casa Nova.

"Poucos tem o privilégio de contemplar o rio São Francisco, Velho Chico que sempre merece toda gratidão, respeito e paixão. Este período de pandemia provoca mais ainda o sentimento que é preciso um trabalho de conscientização na preservação do Velho Chico, tanto com os turistas evitando jogar lixo nas margens do rio, quanto de agricultores ribeirinhos para evitar o uso de agrotóxicos no leito. Assim todos evitam a poluição", finalizou Andréa.

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FAZENDA HUMAYTÁ E A LUA CHEIA ILUMINANDO OS SERTÕES

É comum ver imagens do Sertão nas quais a luz solar incide com força sobre a cena. Nesta foto o cantor, compositor, o poeta Luiz Humaytá, mostra outra maneira de ver este lugar e as pessoas que nele habitam. Uma foto mostra o céu entre o cair da tarde e a chegada da noite, com a luz da lua e das estrelas delineando a vegetação, as construções, os caminhos; revelando a imagem dos sertões de Curaçá, Bahia, a terra da Ararinha Azul.

A lua está na fase cheia. O poeta Luiz Humaytá registrou o esplendor da Lua Cheia, mês de outubro, nos sertões de Curaçá, Bahia, terra da Ararinha Azul. A foto é da Fazenda Humaytá.  Importante lembrar, a fotografia à noite requer muito cuidado, muita pesquisa e equipamentos que garantam os melhores resultados e estas fotos Luiz fez do seu celular, sem maiores recursos técnicos.

O jornalista e fotógrafo profissional Adriano Kirihara e seu site explica que "registrar o acúmulo do tempo numa única imagem. Explorar o movimento, as mudanças atmosféricas, o inesperado e até o inexplicável. É disso que se trata a fotografia noturna de estrelas e de longa exposição. Esses são apenas alguns dos atrativos que seduzem fotógrafos a pegar a câmera e passar horas em meio à natureza durante a escuridão da noite".

Luar do Sertão é uma toada brasileira de grande popularidade. Seus versos elogiam a vida no sertão, especialmente o luar. Luar do Sertão originalmente um coco sob o título "Engenho de Humaitá". Catulo da Paixão Cearense e João Pernambucano são autores destes versos, uma das músicas brasileiras mais gravadas de todos os tempos.

"Não há, óh gente Luar como esse do sertão...Que saudade do luar da minha terra lá na serra branquejando folhas secas pelo chão este luar cá da cidade tão escuro não tem aquela saudade do luar lá do sertão...Se a lua nasce por detrás da verde mata mais parece um sol de prata prateando a solidão...e a gente pega na viola que ponteia....Coisa mais bela nesse mundo não existe do que ouvir um galo triste no sertão que faz luar...parece até que a alma da lua que descansa escondida na garganta desse galo a soluçar"...

Uma das versões mais conhecidas é interpretada por  Luiz Gonzaga e Milton Nascimento e é capaz de provocar o sentimento e identidade cultural.

O saudoso músico do Quinteto Violado, Toinho Alves, apontava que Luiz Gonzaga ao interpretar Luar do Sertão, possuía a sensibilidade observadora dos poetas maiores que habitam os sertões, onde, dos fenômenos mais simples e por isto geniais, encantadores apresentados pela natureza, captavam a sabedoria do mundo".

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FOGO DESTRUIU QUASE 4 MILHÕES DE HECTARES DO PANTANAL

O fogo que há meses destrói parte do Pantanal, na região Centro-Oeste, já incinerou a 3,461 milhões de hectares. Segundo balanço que o governo do Mato Grosso do Sul divulgou na tarde de hoje (1), só no estado o bioma já perdeu 1,408 milhão de hectares. Além disso, no Mato Grosso, as chamas consumiram outros 2,053 milhões de hectares.

Cada hectare corresponde, aproximadamente, às medidas de um campo de futebol oficial. Convertida, a área incinerada equivale a 34,6 mil quilômetros quadrados. Um território maior que Alagoas, com seus 27,8 mil km².

Os dados foram apresentados pelo chefe do Centro de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros do Mato Grosso do Sul, tenente-coronel Waldemir Moreira Júnior.Segundo ele, o tamanho da área do Pantanal queimada até o último dia 27 confirma que este tem sido um ano atípico não só para o bioma, como para toda região. Em 2019, no mesmo período, as chamas consumiram 1,559 milhão de hectares em todo o Pantanal, nos dois estados. Ou seja, menos da metade do último período.

“Desde março, extrapolamos a máxima histórica mensal de focos de calor no Pantanal”, comentou Moreira, comparando os 18.259 focos de calor registrados no bioma entre 1 de janeiro e ontem, 30 de setembro, com os 12.536 focos registrados no mesmo período de 2005, pior resultado até então. “Este ano já superamos o recorde histórico. E tudo indica que em outubro não será diferente”, acrescentou Moreira.

Durante a apresentação dos números, o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar do Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, reforçou o prenúncio feito pelo tenente-coronel. “[Nos próximos dias] Teremos um incremento enorme do número de focos de incêndios no Mato Grosso do Sul”, afirmou o secretário, que disse considerar “assustador” o atual número de focos de incêndio registrados no estado.

Segundo o Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS), a forte onda de calor e a baixa umidade deve persistir por pelo menos mais dez dias, em todo o estado. Os meteorologistas prevêem que, ao menos pelas próximas duas semanas, os dias ficarão ainda mais quentes, podendo inclusive superar marcas históricas. Ontem (30), em regiões como Coxim e Água Clara, os termômetros chegaram a marcar 44,1 °C, com sensação térmica de 52° C, a mais alta registrado no estado desde 1973. Para agravar a situação, em algumas partes do Mato Grosso do Sul, a umidade relativa do ar chegou a 8%. (Fonte: Agencia Brasil Foto Secretaria Comunicação Mato Grosso)

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