MORRE DOM PEDRO CASALDÁLIGA, O BISPO QUE DEFENDIA A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO, A REFORMA AGRÁRIA E DAS FLORESTAS

 Dom Pedro Casaldáliga, o bispo catalão que dedicou e arriscou a vida na defesa dos posseiros e dos indígenas da Amazônia, morreu neste sábado (8) às 9h40, em Batatais (SP), aos 92 anos.

Um dos líderes mais influentes da Igreja Católica no Brasil e na América Latina das últimas décadas, dom Pedro foi uma voz incansável contra o latifúndio e em favor da reforma agrária. De sua prelazia, participou, ao lado de outros bispos progressistas, da criação do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra.

A sua trajetória no Brasil começou em 1968, quando a busca para servir os mais pobres e injustiçados o levou a trocar a Espanha franquista por São Félix do Araguaia, então um povoado de 600 habitantes no interior de Mato Grosso.

A viagem por terra desde o interior de São Paulo durou uma semana. Logo no primeiro dia, o missionário claretiano encontrou quatro corpos de bebês mortos, acomodados em caixas de sapato diante de sua casa para que fossem enterrados. "Ou vamos embora daqui agora mesmo ou nos suicidamos ou encontramos uma solução para tudo isto", disse ao seu companheiro missionário Manuel Luzón, segundo a biografia autorizada "Descalço sobre a Terra Vermelha" (Unicamp), do jornalista Francesc Escribano, principal fonte de informações para este texto.

Esses primeiros anos foram de aprendizado sobre a dura realidade local. Em longas viagens de barco e por estradas precárias para chegar a comunidades isoladas, ele improvisava missas com cachaça e bolacha no lugar do vinho e da hóstia.

As condições miseráveis da população, na maioria retirantes do Nordeste, e os abusos cometidos por grandes fazendeiros respaldados pela ditadura militar causaram profunda indignação em dom Pedro. Adepto da ação e admirador do revolucionário argentino Che Guevara, incentivava ações de resistência de posseiros, como derrubadas de cerca dos grandes proprietários.

Em 1970, o padre escreveu o primeiro de vários textos-denúncia que o tornaram conhecido no Brasil e no exterior. "Escravidão e Feudalismo no norte de Mato Grosso", que descrevia os desmandos na região, foi enviado a autoridades da Igreja e do governo e motivou as primeiras acusações de que era agente comunista.

No ano seguinte, o papa Paulo 6º o nomeou bispo da prelazia de São Félix. Na cerimônia, à beira do rio Araguaia, substituiu a mitra e o báculo por um chapéu de palha e o anel de tucum (palmeira amazônica), presente dos índios tapirapés. Logo, o anel se tornaria o símbolo da adesão à Teologia da Libertação, corrente influenciada pelo marxismo que defende uma igreja próxima dos pobres.

Nessa época, dom Pedro publicou o seu texto mais conhecido, "Uma Igreja da Amazônia em conflito com o Latifúndio e a marginalização social", no qual fazia uma minuciosa denúncia contra grandes proprietários de terra. "Se 'a primeira missão do bispo é a de ser profeta', e o profeta é a voz daqueles que não têm voz (card. Marty), eu não poderia, honestamente, ficar de boca calada ao receber a plenitude do serviço sacerdotal", escreveu na introdução.

Dom Pedro chamou de "absurdas" as dimensões dos latifúndios da região, listando-os um a um. "A injustiça tem um nome nesta terra: latifúndio. E o único nome certo do desenvolvimento aqui é a reforma agrária."

Sessão solene em homenagem a Dom Pedro Casaldáliga no plenário da Câmara dos Deputados, em 2003 Sérgio Lima - 04.nov.2003/Folhapress Sessão solene em homenagem a Dom Pedro Casaldáliga no plenário da Câmara dos Deputados, em 2003 O desafio aos latifundiários colocou sua vida em perigo em vários momentos. Na primeira tentativa de assassinato, em 1971, um pistoleiro confessou ao bispo que havia sido contratado para matá-lo. Com a ajuda da igreja, ele fez a denúncia à polícia e fugiu da região.

O episódio mais sangrento aconteceu em outubro de 1976 no povoado de Ribeirão Bonito, hoje a cidade de Ribeirão Cascalheira (MT). Dom Pedro e o padre jesuíta João Bosco Penido Burnier foram até a delegacia tentar resgatar duas mulheres que estavam sendo torturadas. Na discussão com policiais, o companheiro do bispo levou uma coronhada e morreu com um tiro à queima-roupa na nuca.

No plano nacional, a relação com a ditadura militar tampouco foi fácil. Crítico feroz do regime, só escapou de ser expulso por intervenção direta do papa Paulo 6º. Com medo de ter a entrada ao país negada, só viajou ao exterior após a redemocratização. Morreu, aliás, sem jamais ter voltado a sua Catalunha natal.

O redemocratização, nos anos 1980, aliviou a tensão em São Félix, mas a ascensão do papa polonês João Paulo 2º, um opositor do comunismo, estremeceu suas relações com o Vaticano. A aproximação com a Nicarágua sandinista e com a Cuba de Fidel Castro, com quem se encontrou, provocaram atritos. Desta vez, o bispo de São Félix escapou de ser punido graças à intervenção da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Em 2003, ao completar 75 anos, dom Pedro apresentou sua carta de renúncia ao papa João Paulo 2º, como prevê o protocolo. Nessa época, já sentia os efeitos do "irmão Parkinson", como ele brincava, doença que ao longo dos anos lhe tirou os passos e depois a voz. Mesmo assim, nunca abandonou São Félix, hoje com 11 mil habitantes.

O legado de dom Pedro não se resume à luta contra a injustiça social. Escritor e poeta, é autor de diversos livros, alguns publicados apenas na Espanha, onde também é reconhecido como influente liderança católica.

Em um de seus poemas sobre a morte, escreveu: "Eu morrerei em pé, como as árvores/Me matarão em pé. O sol, testemunha maior, imprimirá seu lacre/sobre meu corpo duplamente ungido. De golpe, com a morte/se fará verdade a minha vida/Por fim, terei amado!"

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RADIALISTA CARLOS AUGUSTO EM SUAS ESTAÇÕES DE SAUDADE

Antes da radiodifusão em solo dos sertões pernambucanos, algumas cidades incluindo Petrolina, mobilizava sua comunicação, seu comércio, sua vida em sociedade através de serviços privados de alto-falantes a partir de um estúdio improvisado, uma engenhoca acoplando microfone, pikc-up para disco em vinil e cornetas afixadas em postes públicos. 

Em Petrolina esse serviço eletrônico no inicio dos anos 1960 foi instalado, segundo informações investigadas e confrontadas por este signatário, em três diferentes endereços. Mas, sobressaia-se o estúdio “BRASIL PUBLICIDADE” de um “Menininho Sobral” em conjunto com entusiasmado comunicador de voz em tom de barítono conforme o mercado exigia à época. 

Era Carlos Augusto Amariz Gomes, dividindo-se nas atividades de estudante do Colégio Dom Bosco e empreendedor no setor lojista de bicicletas. Venceu nessa disputa, o microfone, a comunicação que acordava com Petrolina diariamente. A Diocese de Petrolina através de seu titular, Dom Antônio Campelo, estava em conversa com o Governo Federal, ainda na gestão de Juscelino Kubistchek, visando a concessão de uma emissora de rádio. 

Enquanto Carlos Augusto afinava sua voz que nunca “precisou de truques eletrônicos”, Dom Campelo encurtava seus voos para Brasília em avião ou entre cortava a Bahia e Minas para pressionar presidentes. Em 1962, governava agora o Brasil Jânio Quadros. Com sorte e reza, Dom Campelo arrancou autorização do presidente JANIO Quadro e ele fez porque quis, ou seja, a EMISSORA RURAL, hoje, RADIO A VOZ DO SÃO FRANCISCO AM 730. Torre fincada, rádio no ar e administração diocesana recrutara alguns locutores, entre estes, o que viria a ser seu próprio ‘DNA’, a primeira carteira profissional registrada, o primeiro emprego em comunicação, CARLOS AUGUSTO.

Antes da Emissora Rural, porém, Carlos Augusto se juntava a outro brilhante comunicador do rádio regional, Osvaldo Benevides, recentemente falecido ainda na direção da sua Rádio Juazeiro, Bahia. Essa dupla protagonizou em alto-falante um ‘jornal falado’ denominado REVISTA DOMINICAL. Carlos e Osvaldo entre 1959 e 1962, ressaltavam a qualidade sonora, a voz nativa sem sotaque sem frescura e sem influência de nada para tornar mágica a história das emissoras hoje multiplicadas em frequência modulada e ondas médias. 

Carlos Augusto junto com a EMISSORA RURAL, no ‘Antigo’ e RADIO GRANDE RIO AM neste Novo TESTAMENTO, soube juntar valores, oxigenar nossa antropologia de seca e de couro, de vaqueiro e cantorias, de sanfona e berrante, de Rio e espécie animal, sobretudo o jumento, repartindo seu temperamento duro feito angico, sua alma de asa branca, seu olhar firme de catingueiro para tornar bela cada manhã brasileira dos sertões adentro. 

Carlos Augusto lia a riqueza mas comia no prato indesejado dos bêbados marginais em seu sabático jeito de juntar tocadores, bom e ruim, em quaisquer foles ou zabumba, no aço de qualquer triângulo e no que fosse mais inventado nessa orquestra de gente excluída. 

CARLOS AUGUSTO juntava multidões. Carlos corria mato adentro com tantos vaqueiros embandeirados para a Missa campal ou para o terço anônimo do ‘Pau de Leite’. Carlos era a reprodução invejável de todos os intérpretes d xote, do xaxado e do baião. Era Luiz Gonzaga encarnado no estúdio mandando essa terra acordar que “ já é meio dia”. A Radiodifusão hoje fica órfã do BOIADEIRO DO RÁDIO que pegou seu gado e foi pra junto do seu bem, JESUS SERTANEJO.

Adeus...  (Testo apresentado em Petrolina, 02 de Abril de 2015. *Por Marcelo Barbosa Damasceno-radialista)

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ESPECIALISTAS ALERTAM PARA O RISCO DE EXTINÇÃO DOS JUMENTOS NAS PAISAGENS DOS SERTÕES DEVIDO EXPORTAÇÃO PARA A CHINA

Em menos de cinco anos, o animal que se tornou símbolo do sertão pode desaparecer da paisagem nordestina. Usado na produção de remédios e cosméticos na China, a exportação coloca em risco a espécie. O mestre Luiz Gonzaga deu-lhe o título de “maior desenvolvimentista do sertão”, na canção “O jumento é nosso irmão” (autoria de José Clementino).

Já Chico Buarque teve que reconhecer, no musical “Os Saltimbancos”, que, afinal, não era mesmo o “jumento o grande malandro da praça”, pois “trabalha, trabalha de graça”. Também chamado de jegue, asno ou jerico, qualquer alcunha que se escolha para o animal de origem africana, introduzido no Brasil pelos portugueses, esta remeterá sempre à estultice, à parvoíce. Historicamente, porém, ele tem papel fundamental no desenvolvimento agrícola do país, principalmente no Nordeste. Antes da chegada das máquinas, era o grande aliado do homem do campo na lida diária, transformando-se em patrimônio cultural e símbolo do agreste brasileiro.

Nos últimos anos, no entanto, o simpático jumento começou a sumir da paisagem sertaneja, desde que os chineses passaram a importar o animal do Brasil. Segundo especialistas, o risco de extinção tornou-se iminente. Estima-se que em menos de cinco anos a espécie pode desaparecer. A China tem interesse, principalmente, no couro, matéria prima para a produção do ejiao, uma gelatina usada na medicina e em cosméticos. A carne é um subproduto, consumido no Norte do país asiático. Calcula-se que a demanda por jumentos na China gire em torno de cinco milhões de cabeça por ano, movimentando um mercado de cerca de R$ 22 bilhões. A ironia é que o Brasil entrou nessa conta sem sequer ter quantidade suficiente de animais para exportação. Em 2012, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizara uma população de apenas 902 mil jumentos, 877 destes vivendo no Nordeste.

A sorte dos jumentos brasileiros começou a ser traçada em 2016. Naquela altura, a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB) resolveu definir os critérios para o abate legal de equídeos. A partir daí, instituiu-se a matança para a exportação. Calcula-se que, desde então, cerca de 100 mil jumentos tenham sido mortos nos três frigoríficos autorizados pelo governo federal, nos municípios de Amargosa, Itapetinga e Simões Filho. O risco de extinção deve-se ao fato de que não existe criação de jumentos para o abate, como acontece com o gado, por exemplo. Os sertanejos capturam animais soltos ou domésticos para vender para atravessadores e fazendeiros.

Após perder a utilidade no campo, substituído por motos e equipamentos industriais, o jumento passou a ser descartado, simplesmente solto nas estradas, causando acidentes. Por isso, a princípio, a ideia de exportar soou como bálsamo para as autoridades. Mas não demorou muito para que se percebesse a crueldade por trás da aparente saída. O sofrimento do animal começa logo na captura. Levados em caminhões sem nenhum suporte para esse tipo de transporte, os jumentos viajam centenas de quilômetros sem direito a água e alimentação. Isso porque, segundo Eduardo Aparício, membro da União Internacional Protetora dos Animais (UIPA), a carne do animal não é o principal foco dos chineses e sim a pele, o que torna evitável para a cadeia os custos com alimentação.

As denúncias de maus tratos se amontoam. No mesmo ano de 2016, o Ministério Público da cidade de Miguel Calmon recebeu representação criminal contra o abate de jumentos. Na ocasião foram realizadas inspeções em um frigorífico que foi multado e recomendada pelo MP a suspensão do abate após verificação de irregularidades nas instalações e em seu funcionamento. Em 2017, a comarca de Amargosa também recebeu denúncias e, em 2018, o mesmo fato aconteceu em Itapetinga e Canudos, onde cerca de 200 jumentos que seriam abatidos morreram de fome em uma fazenda do município, enquanto outros 800 animais caminhavam para o mesmo fim. As ações foram representadas pelas entidades União Defensora dos Animais – Bicho Feliz e Fórum Animal, participantes da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos (FNDJ).

“Os jumentos são capturados ou comprados, amontoados em caminhões, depositados em fazendas sem comida e água, o que gera enorme sofrimento dos animais”, comentou a advogada Gislane Brandão, da FNDJ.

Em 2018, a juíza Arali Maciel Duarte, da 1ª Vara Federal de Salvador, concedeu decisão liminar proibindo o abate de jumentos na Bahia, em resposta à Ação Civil Pública movida por diversas entidades, entre elas Bicho Feliz, Fórum Animal, REMCA e SOS Animais de Rua (Frente Nacional de Defesa de Jumentos). A liminar, porém, durou pouco.

 Em setembro de 2019, foi suspensa pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, sob a alegação de que a restrição se caracterizava como “duríssima e de gravíssimas consequências e alto impacto econômico para o comércio estadual e, consequentemente, para a economia pública nacional”. De acordo com a Assessoria de Comunicação do TRF 1ª Região o processo está concluso para decisão aguardando julgamento.

CHINA: Mas o que torna o animal tão cobiçado pela China? Anualmente, para produzir 5.600 toneladas do ejiao, são necessários 4,8 milhões de peles de jumento – e esse índice cresce 20% por ano. Ou seja: não há, no país asiático, animais suficientes para sustentar o mercado. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Food and Agriculture Organization of the United Nations, FAO), em 1992, havia mais de 11 milhões de jumentos no país, representando o maior rebanho do mundo. Já, em 2017, a estimativa foi que esse número havia diminuído em mais da metade, não ultrapassando 4,6 milhões de jumentos. Mas esse número pode ser ainda mais baixo, cerca de 2,6 milhões de acordo com o Anuário estatístico da China para 2017. Por isso, a necessidade de importar de outros países. Inclusive do Brasil.

“Os jumentos vivem de 30 a 35 anos. Antes de serem substituídos por máquinas, sua utilidade no campo era de grande valor comercial, pois auxiliavam na produção e trabalho nas fazendas, devido à sua resistência ao trabalho”, destacou Chiara Albano, zootecnista e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Hoje, sem utilidade, acabam sendo descartados. E o que temos visto ao longo desses anos é que, com o abate do jumento, o animal corre grande risco de extinção. Nessa escala, pode estar extinto em quatro anos”.Não foi fácil, mas estamos conseguindo fazer com que as pessoas entendam aquele espaço como um local de cuidados e preservação” Eduardo Aparício Membro da União Internacional Protetora dos Animais (UIPA)

SAÚDE: Além da crueldade envolvida no abate de jumentos, outra questão toma notoriedade: trata-se do surto de mormo, espécie de anemia infecciosa, que atinge os equídeos, podendo também ser transmitida para humanos. O contágio pode acontecer por meio do contato com pus, secreção nasal, urina e fezes do animal. Segundo a ADAB, os últimos casos registrados ocorreram em Euclides da Cunha e Feira de Santana, onde animais infectados com a doença foram sacrificados.

“A liberação do abate dos jumentos no país, além de inaceitável, gerando sofrimento aos animais e sua extinção, representa um risco à saúde da população e a outros animais, já que ao contrário do que diz a ADAB, o mormo não foi controlado”, afirmou Gislane Brandão, da FNDJ. 

“Dezenas de animais foram confirmados positivos para mormo no rebanho apreendido em Euclides da Cunha/Canudos (BA). Centenas de animais morreram em Itapetinga (BA) de forma extremamente cruel, com manejo violento, além de muitos animais agonizando e mortos serem mantidos juntamente com os vivos, sem qualquer cuidado e alimentação enquanto aguardavam o transporte para o abatedouro, muitos acometidos por doenças contagiosas, e os produtos originários desse abate foram exportados em 2018”.

RESGATE: O bom exemplo vem do Ceará. Na cidade de Santa Quitéria, a 220 quilômetros de Fortaleza, fica o Parque Padre Antônio Vieira, que abriga cerca de três mil jumentos, em área de 500 hectares. Considerada hoje um santuário, a fazenda, a princípio, funcionava como um depósito de jumentos recolhidos nas estradas do estado. Sem alimentação ou cuidados, a maioria acabava morrendo. Foi então que Geuza Leitão, presidente da União Internacional Protetora dos Animais, em parceria com o Ministério Público e o Detran/CE, resolveu arregaçar as mangas, conseguindo firmar um termo de ajuste de conduta para garantir o bem-estar dos jumentos capturados.

“Junto com a União Internacional de Proteção dos Animais (UIPA), do qual faço parte, criamos a ideia de um parque de turismo que poderia servir para o recolhimento do animal, pesquisa dos hábitos e cuidados. Hoje a taxa de mortalidade diminuiu consideravelmente, os animais têm um tratamento digno, recebendo alimentação, água, vacinas”, comentou Aparício. “Não foi fácil, mas estamos conseguindo fazer com que as pessoas entendam aquele espaço como um local de cuidados e preservação”.

O local recebeu o nome de Parque de Proteção Padre Antônio Vieira numa justa homenagem. Homônimo do português que se tornara um dos nomes mais influentes da colônia, no século 17, o pároco foi um grande defensor dos animais e escreveu o livro que inspirou Luiz Gonzaga: “O Jumento, Nosso Irmão”. Por 30 anos, ele coordenou o Clube Mundial dos Jumentos que chegou a receber apoio da atriz e ecologista francesa Brigitte Bardot. “O padre dizia: ‘A situação é triste porque tudo que existe neste Nordeste foi feito no lombo do jumento’”, comentou José Dimas de Almeida, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Miguel. (Ascom CHBSF texto: Juciana Cavalcante. Fotos: Marcizo Ventura)

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RODA DE DIÁLOGOS: CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO, A AGROECOLOGIA E A EXPERIÊNCIA DO SERTA

O Sextou no Cariri vai conhecer e discutir as tecnologias de convivência com o Semiárido desenvolvidas pelo SERTA - Serviço de Tecnologia Alternativa..

O SERTA, se tornou em mais de 30 anos de atuação no Nordeste Brasileiro uma das principais referências em desenvolvimento das tecnologias de convivência com o Semiárido.

No encontro a Educação Contextualizada, libertadora; Tecnologias Sociais de Convivência e Agroecologia no Semiárido em debate.

Serviço: Sexta-feira dia 07 às 16 horas.
Convidamos todas e todos à participarem desse encontro para refletirmos sobre nosso semiárido em tempos de Pandemia.
Acesso pelo google meet: meet.google.com/dti-edjz-mbu

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ADONIRAM BARBOSA 110 ANOS, A HISTÓRIA DO SAMBA QUE IDENTIFICA OS BAIRROS DE SÃO PAULO

Como não ter uma baita de uma reiva de ir em um samba quando não encontremo ninguém? Ainda mais se esperava tomar uma frechada do olhar da pessoa amada. Um coração que vira uma taubua de tiro ao álvaro, que não tem mais onde frechar. Não adianta. Tem que ir embora, o último trem é agora às 11 horas. Em ritmo de diversão e nostalgia, os versos e os batuques ternos de Adoniran Barbosa (nome artístico de João Rubinato), que nasceu em 6 de agosto de 1910 (há 110 anos, em Valinhos-SP), ousavam.

Ele criou um tipo de samba paulistano que enaltecia a memória e o cotidiano de imigrantes pobres e seus descendentes. Gente de sotaque misturado e italianado, com as dificuldades dos operários que ajudavam a construir a maior cidade do Brasil. Canções que traziam temática social, como a falta de habitação, a saudade e as dores da maloca. 

A música que fez o país identificar bairros como Brás, Mooca, Bixiga, Jaçanã e Casa Verde, por exemplo, é reconhecida como marco na história do samba, legado de um artista que brincava com os plurais e se consagrou como singular.  Para quem estudou o sambista, tem outras coisa, vortemo ao acervo e ao tempo. Ói nois aqui traveiz, como cantava. Adoniran morreu em 1982.

Para o cineasta Pedro Serrano, que dirigiu o filme Adoniran – Meu nome é João Rubinato, ainda hoje visitar e ouvir a obra do músico é reconhecer uma identidade nacional. "É muito importante que pessoas que não tiveram contato (como os mais jovens) possam saber mais sobre quem foi o artista", disse em entrevista à Agência Brasil. Serrano afirma que se aproximou da história de Adoniran desde a infância. Inicialmente, realizou o curta metragem de ficção Dá licença de contar, baseado em personagens da música Saudosa Maloca.

O documentarista, de 33 anos de idade, revela que tem um projeto no forno para transformar esse curta em um longa, para explorar mais personagens e a riqueza da obra do sambista. "Tem que saber falar errado" “Eu sempre gostei de samba. Ninguém queria nada com as minhas letras. Tem que saber falar errado”, dizia o artista. O sucesso na música veio na década de 1950 quando o grupo Demônios da Garoa cantou Saudosa Maloca. Em 1964, Trem das Onze levou o grupo ao auge. Em 1980, a consagrada cantora Elis Regina emprestou nova interpretação para Tiro ao álvaro.

“Eu faço samba dos meus bairros”. O programa Na trilha da história, da Rádio Nacional, da Empresa Brasil de Comunicação, traz trechos do acervo que destacam a irreverência e o pensamento do artista. No mesmo programa, veiculado em fevereiro deste ano, o cineasta Pedro Serrano, diretor do documentário sobre Adoniran, explica as invenções como em Samba do Arnesto (1953). “Ernesto existiu mesmo, mas a história não foi como está na música”. Ernesto jura que nunca falhou com o compromisso com Adoniran. A história foi criada pelo sambista.

Serrano conta que Adoniran foi rejeitado inicialmente como cantor. “Ele entra na rádio como locutor de carnaval. Fazia de uma forma bem humorada e assim ele se destaca, se torna depois uma grande estrela como radioator cômico”. O cineasta detalhou também a importância da parceria com o grupo Demônios da Garoa, que ecoou as canções. “Eles fizeram com que Saudosa Maloca (música de 1951) ficasse conhecida. Inicialmente, a música não fez sucesso algum. A interpretação diferente, que era gaiata, se tornou um sucesso”.  A música, que conta a história de um despejo, ganhou novo tom. O diretor reconhece que Elis Regina (que morreu também em 1982) trouxe um olhar sensível e até melancólico para a música de Adoniran.

A obra de Adoniran também foi visitada pelo programete História Hoje, da Rádio Nacional. Na edição, um dos destaques é que, em São Paulo, o músico participou de programas de calouros no rádio, quando escolheu o nome artístico em homenagem ao seu melhor amigo e ao cantor Luis Barbosa, ídolo do sambista. O caminho do sucesso começou em 1934 com a música Dona Boa. Ele conquistou o primeiro lugar no concurso carnavalesco promovido pela cidade de São Paulo. Em seguida, trabalhou por mais de 30 anos na Rádio Record como ator cômico, discotecário e locutor.

A TV Brasil também destacou que Adoniran cantou a cidade de São Paulo como ninguém. “Prefiro falar peguemo do que pegamos. Prefiro falar fumo do que fomos”, apontou o sambista. A reportagem mostra as homenagens que o artista recebeu no bairro do Bixiga, onde há, inclusive, um busto de Adoniran. 

Por falar em história e nostalgia, outra reportagem da TV Brasil destacou o que seria o “trem das 11”, imortalizado na canção de Adoniran. A estrada de ferro, que passa pelo bairro da Jaçanã, tinha um percurso do centro de São Paulo até Guarulhos, na região metropolitana. O trajeto funcionou por mais de 50 anos. “Mas o trem das 11 não existia. O acerto que Adoniran fez foi para a música”, diz Sylvio Bittencourt, que mantinha um museu no Jaçanã com a história do lugar.

Em 2018, Adoniran recebeu homenagem póstuma como Cidadão Paulistano. O compositor, que homenageou a cidade com letras trocadas e batuques em ritmo irreverente, inventava histórias e palavras. A ficção era a construção artística para falar “errado” e do que passava à sua volta. Manuel Bandeira, na década de 20, também enalteceu a linguagem das ruas: "A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros Vinha da boca do povo, na língua errada do povo. Língua certa do povo". Confira mais no acervo da EBC, a melancolia e a graça din-din donde nóis passemo dias feliz de nossa vida, como é a arte imortal de Adoniran. (Fonte: Agencia Brasil)
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COOPERCUC: PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR DO SEMIÁRIDO BAIANO CONQUISTAM MERCADO EUROPEU


As frutas nativas do semiárido baiano estão conquistando o mercado internacional. Países como Alemanha e França já se renderam ao sabor das iguarias produzidas pela Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), situada no município de Uauá, que beneficia frutas como o umbu e o maracujá da Caatinga.

A cooperativa produz 25 produtos orgânicos, com Selo da Agricultura Familiar, entre eles os doces em barrinhas, doces cremosos, compotas de umbu, polpas das frutas, além das cervejas de umbu e de maracujá da Caatinga. São 270 cooperados, sendo 70% de mulheres e 20% de jovens, que tem o trabalho voltado para o beneficiamento das frutas nativas do semiárido.

O primeiro embarque para Alemanha foi de 1,5 mil potes de doces de maracujá com banana. Uma parceria com o grupo de sites de vendas Toda Vida – Food for Life, que além da oportunidade para acessar um novo mercado e ampliar a renda da cooperativa, vai resultar no reembolso de R$ 1 para cada pote vendido, para que a Coopercuc desenvolva ações de recaatingamento e preservação ambiental, com plantas nativas da Caatinga, a exemplo do umbuzeiro.

Outro país europeu que também se rendeu aos sabores da agricultura familiar foi a França, que realizou a compra de 180 produtos, incluindo barrinhas e doce cremoso de umbu, geleia de umbu e de maracujá. A empresa já sinalizou para a cooperativa o interesse em adquirir mais produtos. Além disso, a Coopercuc está em negociação com novos clientes dos Estados Unidos, Polônia e Espanha.

A presidente da Coopercuc, Denise Cardoso, destaca que o mercado externo tem uma representatividade muito importante para a cooperativa. “Além de ser uma oportunidade de colocar os produtos do semiárido brasileiro e baiano na casa de consumidores europeus, aumentar o portfólio de clientes e a receita, os nossos produtos levam histórias de agricultores e agricultoras, que lutam a cada dia para valorizar esse bioma tão importante para o Brasil, a Caatinga”.

A Coopercuc é apoiada pelo Governo do Estado, por meio do projeto Bahia Produtiva, executado pela Companhia de Desenvolvimento Rural (CAR), empresa pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), com cofinanciamento do Banco Mundial. O investimento de R$1,8 milhão foi direcionado para o acesso ao mercado e investido na aquisição de novos equipamentos, mudança de rótulos para o mercado europeu e certificações, como a de produtos veganos.

De acordo com o gestor comercial da Coopercuc, Dailson Andrade, o apoio do Governo do Estado foi essencial para a venda de produtos da cooperativa ao mercado externo. “Isso só foi possível graças à estratégia de mercado adotada. A partir dos investimentos que estão sendo feitos, toda a operação internacional e a estratégia de marketing da cooperativa foi redesenhada para que alcançássemos a exportação dos nossos produtos”, afirma. 

A cooperativa ainda recebe apoio por meio do Pró-Semiárido, projeto também executado pela SDR/CAR. Foram investidos, nos últimos cinco anos, quase R$ 4 milhões na construção da unidade agroindustrial polivalente, para o beneficiamento de frutas da agricultura familiar na região semiárida baiana. Com a implantação da agroindústria, a produção, que era de 200 toneladas ao ano, teve a capacidade ampliada para 800 toneladas por ano. (Fonte: Ascom/SDR)
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EM EDIÇÃO VIRTUAL, PROCISSÃO DAS SANFONAS DE TERESINA HOMENAGEIA LUIZ GONZAGA

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A tradicional Procissão das Sanfonas, anualmente realizada em Teresina, no último domingo (2), pela primeira vez, uma edição virtual. O evento, promovido nesse formato devido à pandemia do novo coronavírus, foi divulgado nas mídias sociais da Colônia Gonzaguiana do Piauí, organizadora do evento.

Realizado há 12 anos, o cortejo cultural exalta o legado de Luiz Gonzaga. O evento acontece sempre no dia 2 agosto – data da morte do Rei do Baião. Tradicionalmente, a festividade leva nesse dia, a música nordestina para as ruas do Centro de Teresina-PI.

Este ano, a edição mobilizou músicos, cantores e fãs de Luiz Gonzaga para homenagear também Maria da Inglaterra e Sivuca. Maria é um ícone da cultura popular. A artista piauiense faleceu, aos 81 anos, em maio deste ano. Nessa edição, foi celebrado ainda o legado do poeta do som: Sivuca (1930 – 2006). O artista paraibano completaria 90 anos em 2020.

"Sempre buscamos fazer algo especial para os nossos eventos. A cada edição, a Procissão cresce. Devido à pandemia, celebramos a tradição, com a ajuda da tecnologia. Criamos uma videoarte com a participação de diversos gonzaguianos que sempre estão presentes nos eventos que realizamos. Os artistas Vagner Ribeiro e Zé Roraima compuseram a música 'Maria Passa na Frente' – uma canção alegre que também traz a mensagem de esperança para o tempo que vivemos. O povo gonzaguiano mostrou, mais uma vez, a força e importância da procissão", explica o idealizador do evento, Wilson Seraine.

A Colônia Gonzaguiana do Piauí é um grupo formado por fãs do Rei do Baião, músicos e pesquisadores. As manifestações realizadas pela Colônia já integram o calendário de atividades culturais do Piauí. (Fonte: Piauí Hoje)
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