SINDICATO DENUNCIA RESTRIÇÃO DE EPIS PARA PROFISSIONAIS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO EM PETROLINA

O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Petrolina (Sindsemp), no Sertão Pernambucano, denuncia o Hospital Universitário (HU), de restringir a distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para uma parcela dos profissionais da unidade. De acordo com o sindicato, cerca de 80 servidores da saúde, ligados à prefeitura estariam trabalhando no HU sem a proteção necessária.

Através de um documento, a gerência administrativa do hospital informou a mudança temporária na distribuição de roupas privativas. Elas seriam dispensadas apenas para colaboradores de alguns setores como bloco cirúrgico, triagem, acolhimento, sala de gesso, leitos de isolamento da clínica médica e clínica cirúrgica. Os demais, de outros setores, não utilizariam mais o chamado pijama cirúrgico. A decisão causou desconforto entre os profissionais e o Sindsemp.

"Ela alega que é uma restrição temporária, necessária, baseada nas resoluções da Anvisa. A gente acredita em dois pontos: Primeiro, existe uma condição de curva ascendente da pandemia, então a gente está tendo um número maior de casos e precisa de uma condição melhor de proteção, ao servidor, colaborador que ali está. Segundo, se existe uma curva ascendente da pandemia, reduzir EPI nesse momento é totalmente controverso", explicou o presidente do sindicato, Walber Lins.

De acordo com o Sindsemp, os profissionais estão usando apenas o jaleco pessoal que trazem de casa e que o hospital universitário não fornece a quantidade ideal de máscaras, que seria uma pra cada quatro horas de trabalho. Cada servidor estaria recebendo apenas duas por plantão de 12 ou 24 horas. O sindicato entrou com uma ação no Ministério Público do Estado, protocolado no dia 10 deste mês. O sindicato também acionou o Conselho Municipal de Saúde. O sindsemp exige o retorno do fornecimento imediato dos EPIs, como o jaleco cirúrgico, por todos os servidores aqui do hospital.

Em nota, o Hospital Universitário disse que segue as normativas da Agência Nacional de Vigilância e que a unidade tem adotado as medidas necessárias pra garantir a disponibilidade das roupas privativas para os colaboradores que mantém contato direto com os pacientes suspeitos ou confirmados com a Covid 19. O HU disse ainda que todos os profissionais, inclusive os servidores municipais, receberam os equipamentos de proteção individual, como jalecos e máscaras.

O sindicato contesta e alega que uma resolução da Anvisa, diz que todos os profissionais da saúde devem receber os EPIs que garantam a proteção adequada.

O Ministério Público Estadual de Pernambuco (MPPE), por meio da 4ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania, com atuação na Defesa da Saúde em Petrolina, recebeu a demanda do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais ― com denúncias de servidores e servidoras da saúde lotados no Hospital Universitário (HU), referência no tratamento da Covid-19 em Petrolina-PE, sobre a restrição para apenas alguns profissionais o uso de roupas hospitalares ― e despachou, no dia 14 de julho, para o Ministério Público de Trabalho (MPT), por se tratar de questão de saúde do trabalhador (meio ambiente do trabalho), assim como também despachou o ofício para o Ministério Público Federal (MPF), avaliar as questões afetas à saúde pública por ser o HU administrado por autarquia federal (Universidade do Vale do São Francisco).

Confira a nota completa do MPT-PE:
Em atenção à solicitação da TV Grande Rio, sobre a denúncia de restrição de Equipamento de Proteção Individual (EPI) para alguns profissionais do Hospital Universitário, feita pelo Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Petrolina, o Ministério Público do Trabalho (MPT) em Pernambuco informa que recebeu a comunicação oficial enviada pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e que a Procuradoria do Trabalho no Município (PTM) em Petrolina já está tomando as providências cabíveis.

Confira a nota completa do HU:
O Hospital Universitário segue as normativas da Agência Nacional de Vigilância (Anvisa) que orientam as unidades de saúde quanto as medidas para prevenção e controle durante a assistência aos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus.

Além disso, o HU tem adotado as medidas necessárias para garantir a disponibilidade de “roupas privativas” para os colaboradores em contato direto com os pacientes suspeitos ou confirmados com COVID- 19.

Ressaltamos que todos os profissionais do hospital, inclusive os servidores municipais, receberam Equipamentos de Proteção Individual, como: jalecos e máscaras, para exercerem suas atividades em segurança.
 (Fonte: TV GRANDE RIO/G1 PETROLINA)
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SANFONEIRA MARIA FULÔ É DESTAQUE NA LIVE GONZAGUEAR

Maria Fulô, sanfoneira, cantora, compositora, produtora musical e  cultural, participou da Live Gonzaguear, promovida pelo pesquisador e escritor Rafael Lima, autor do livro, “O Rei do Baião e a Princesa do cariri”, onde relata sobre os momentos mais marcantes vividos por Luiz Gonzaga, na cidade do Crato, Ceará.

Na live, Maria Fulô contou que iniciou sua carreira musical aos 10 anos de idade, no ano de 1990. Teve experiências musicais com artistas de renome como: Jair Rodrigues, Jorge de Altinho, Dominguinhos, Genival Lacerda, Trio Virgulino, Cristina Amaral, Banda Magníficos, os repentistas Cajú e Castanha. Uma das experiências mais ricas foi quando participava o forró de Arlindo dos 8 baixos.

Maria Fulô destacou o projeto infantil, MARIA FULÔ PARA CRIANÇAS BRINCANDO COM OS RITMOS, apresentado no formato infantil.

Em 2004,  Maria Fulô montou a sua banda formada só por mulheres e que tinha como principal característica do seu trabalho, a valorização do forró, frevo, xote, arrasta-pé. Na época o grupo ganhou o 1º Lugar no Prêmio da Música Pernambucana. Em 2014, com o disco em que faz homenagem ao Mestre “Dominguinhos” na categoria grupos de forró e em 2016 com o disco “Maria Fulôzinha, brincando com os ritmos”.


Convidada três vezes para participar do Montreux Jazz Festival, Maria Fulô traz no currículo diversas apresentações como o Festival do Nordeste – Distrito Federal, Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), Festival na Onda da Dança, Semana Arte Mulher (Minc), Eventos realizados no SESC, SESI, Universidades de todo Brasil e Turnê em Portugal.


Maria Fulô também gravou um CD em homenagem a Reginaldo Rossi, no qual contou com participações de Marron Brasileiro, Nádia Maia, Genival Lacerda, Luciano Magno. 


Maria Fulô avaliou o desafio que "infelizmente ainda é presente com a presença da mulher na música brasileira, especial, o forró". 

Maria Fulô, traz no seu currículo diversas apresentações em festivais como exemplo: FIG - Festival de inverno de Garanhuns – PE, Festival na onda da dança, Festival do nordeste de Brasília - DF, além de participações importantes como eventos realizados pelo SESC, SENAC, Governo do estado, prefeituras, universidades por todo o Brasil e turnê em Portugal. Maria Fulô, tem (Seis) CDs gravados e é sucesso por onde passa. 
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II SEMINÁRIO NACIONAL DOS POVOS INDÍGENAS DO CARIRI ACONTECE NO DIA 09 DE AGOSTO

O II Seminário Nacional dos Povos Indígenas do Cariri Cearense é organizado pela Universidade Regional do Cariri - URCA, através do Grupo de Estudos e Pesquisas em Direitos Humanos Fundamentais - GEDHUF e do Núcleo de Estudos de Descolonização do Saber – NEDESA, junto com a Associação Índios Cariri de Poço Dantas e o LAGENTE-UFG.

O evento tem por objetivo construir uma agenda propositiva para o fortalecimento do movimento indígena na região do Cariri e da troca de saberes indígenas com os saberes acadêmicos. O foco da primeira edição, realizada em 2019, foi contribuir para o fortalecimento do processo de afirmação étnica dos Kariris de Poço Dantas.

Foi promovida uma reunião dos Kariri de Maratõa-Crateús com seus parentes de Poço Dantas, cujos encontros, tanto na Universidade quanto na Comunidade de Poço Dantas, ajudaram a consolidar a organização de demandas em torno da garantia de direitos constitucionais e/ou originários como a manutenção exclusiva de seu território e a erradicação da precariedade do acesso a água, saúde e educação. O evento anual é dedicado à celebração do dia Internacional dos Povos Indígenas, comemorado pela UNESCO no dia 9 de agosto.

Nesta segunda edição seguimos no propósito de fortalecer a rede de trocas entre os Kariri, ampliando o encontro para lideranças do Piauí, São Benedito, Iguatu e Crateús. Vamos promover também o encontro de grupos e pessoas da região do Cariri que estão em processo de autorreconhecimento e/ou afirmação étnica kariri. Teremos também mesas envolvendo pesquisadores acadêmicos sobre a presença indígena na região do Cariri, além de minicursos sobre literatura e direito indígena.

A programação poderá ser acompanhada online pelo endereço da Associação dos Índios Cariri do Sítio Poço Dantas, no Facebook e os minicursos serão acompanhados pela plataforma Google Meet. Todos os inscritos na plataforma oficial do evento http://cev.urca.br/siseventos/site/kariris poderão ser certificados pela URCA, na medida em que assinam a pelo menos 75% das atividades. Para aqueles que não estiverem inscritos, poderão acompanhar livremente pelo Facebook, sem obtenção do certificado.

A exemplo do I Seminário, realizado em 2019, os custos de realização serão suportados pela URCA e as doações para o evento, pagamento de inscrições, optativas, ou outros valores de doação, serão creditadas na conta da Associação dos Índios Cariri do Sítio Poço Dantas em Crato, uma instituição sem fins econômicos criada para apoiar a iniciativa Cariri, sua gente e suas ações.

O primeiro seminário contribuiu para a instalação de uma tenda de madeira e coberta de palha na comunidade para as reuniões e eventos.

Você pode ser doador com a contribuição mínima de R$ 10,00. (Fonte: Site Urca)

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MESTRE DINHA, UMA TRAJETÓRIA DA MÁQUINA DO TEAR AOS SABERES REPASSADOS PELO FEMININO

Da máquina do tear, os saberes repassados pelo feminino. A primeira mulher da cultura popular na região do Cariri teve seu museu inaugurado ano passado e destaca a importância das redes para o artesanato local.

No horizonte da Chapada do Araripe, o sol caía ao som dos tiros do bacamarte de Mestre Nena e das pisadas de Coco de Mestra Marinez. O Museu Casa de Mestra Dona Dinha está localizada em Nova Olinda, Ceará.

O museu começa na sala de estar da casa da Mestra e segue por meio de fotografias, réplicas de instrumentos usados na máquina de tear redes e fragmentos da memória até o quintal, onde Raimunda Ana da Silva, mais conhecida como Dona Dinha, ainda possui um modelo antigo do tear com detalhes em carnaúba. A artesã conta que aprendeu a fazer redes apenas observando as habilidades da irmã, a tradição foi repassada pelas mãos de mulheres, sendo um meio de vida para os familiares. 

Ao todo são 57 anos dedicados aos afazeres artísticos na cultura.

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MANELITO, ARIANO SUASSUNA E A CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO

O engenheiro agrônomo Manoel Dantas Vilar Filho, seu Manelito faleceu nesta terça (28). Em 2017 ele foi destaque na Revista Globo Rural. Confira:

O Sertão permite muitos olhares: o mais comum une a terra rachada e seca a carcaças de animais mortos. Nem tão aparente, há um Sertão produtor, que busca a fertilidade insistentemente. E consegue encontrá-la. É nele que está encravada a Fazenda Carnaúba, em Taperoá, no Cariri paraibano, a 260 quilômetros da capital.

Numa mistura de sonho e persistência, o engenheiro Manoel Dantas Vilar Filho e o escritor Ariano Suassuna (1927-2014), seu primo, conseguiram fazer brotar na Carnaúba uma fábrica artesanal de queijos premiados no Brasil – e que já despertam o interesse do mercado exterior.

O Laticínio Grupiara tem capacidade para produzir 1.500 litros de leite de cabra por dia, o que resulta em 180 quilos de queijo, o equivalente a 800 peças. Mas a conta aqui precisa ser revista pela seca, ou pela “desarrumação das águas”, como diz Manelito Dantas, referência e profundo conhecedor da região e de suas possibilidades. Depois de longo período de estiagem, a Carnaúba produz hoje 20% de sua capacidade.

É trabalho e a crença – e não lamento – que regem os dias da fazenda sertaneja. “O Brasil, com o Nordeste seco bem incluído, tem a vocação e o destino de ser, também, a grande nação agropecuária, sobretudo pecuária, do mundo” defende Manelito. 

O que hoje sedimenta e distingue os resultados da fazenda começou nos anos 1970, quando Ariano Suassuna e Manelito Dantas decidiram iniciar a criação de cabras, priorizando a escolha dos animais.

Queriam um rebanho nativo e precisaram formá-lo viajando Sertão adentro, visitando feiras, garimpando entre os criadores. Grupiara, o nome do laticínio, escolhido pelo autor de Auto da compadecida, significa “veio de diamantes”, numa alusão à preciosidade que guarda a Carnaúba e seus queijos.

Em mais de 40 anos, erraram e acertaram; fizeram, desfizeram, refizeram. Mas havia fôlego e argumentos movendo a dupla: “A França, que tem um rebanho caprino estimado em apenas 960 mil cabeças, ganha uma fortuna com o leite e o queijo de suas cabras. O rebanho brasileiro de cabras é de 14 milhões, dos quais 11 milhões estão no Nordeste”, escreveu Ariano, em artigo publicado em maio de 2000, no jornal  Folha de S.Paulo, no qual justamente elogiava uma reportagem de GLOBO RURAL sobre a criação de cabras.

Em 1972, quando começaram a criação, tinham menos de 150 animais. Hoje, são 2.300 cabras. O plantel de caprinos é composto por dez raças: parda sertaneja, moxotó, graúna, serrana azul, repartida, canindé, marota, muciana preta, caoba e biritinga. Os animais se espalham pela caatinga, enfeitam o Sertão e provam que ali podem viver e resistir. 

“Sou dos que acreditam que só o sonho e a utopia são capazes de carregar a realidade do chão raso para o alto e para o sol.” Era assim, com poesia, que Ariano falava de suas cabras.

Há mais do que poesia em Taperoá. “Produzir queijos no Sertão possibilita vivermos aqui, não precisar migrar para cidade e poder trabalhar no que gostamos e sabemos fazer, morar onde nos criamos”, diz Joaquim Dantas Vilar, um dos cinco filhos de Manelito. Todos eles, de alguma forma, se envolvem com a produção dos queijos. 

“Fomos criados num ambiente riquíssimo de bons valores: produzir com qualidade, identidade. Valorizar nosso mundo é uma obrigação que nos deixa felizes e realizados”, reforça, demonstrando o que aprendeu com seu pai.

Os queijos do Sertão são vendidos em delicatessens, lojas especializadas e mercados espalhados pelo Brasil. Os produtores receberam convites para mostrá-los na França, país que venera, produz e consome como nenhum outro o queijo de cabra. Mas, há mais de dois anos, os queijeiros paraibanos travam uma batalha com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento da Agropecuária, que tem se recusado a renovar o registro dos produtos, alegando que eles precisam se adequar aos nomes do mercado - a maioria de origem estrangeira, como boursin ou chèvre.

Na Fazenda Carnaúba, os queijos, temperados com ervas sertanejas, são chamados de cariri, arupiara e borborema. As autoridades não aceitam as denominações; os queijeiros não admitem o uso de estrangeirismos em seus queijos. “Eles dizem que nossos nomes não existem. Que a gente tem de usar ‘tipo boursin’, ‘tipo camembert’. Mas isso vai de encontro a tudo o que estamos construindo, com suor e coragem, em nosso dia a dia”, avalia Joaquim. 

A luta é parte da lida, sabem bem os sertanejos. Olhando para trás, Manelito Dantas descreve o que hoje vê em suas terras da Fazenda Carnaúba: “Enxergava que iríamos chegar onde estamos hoje. Uma mistura de sonho com consciência”. (Revista Globo Rural Edição 2017)
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DOMINGO 9HS RÁDIO CIDADE AM 870 PROGRAMA NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA E SEUS AMIGOS

Domingo 02 de agosto no Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos, às 9hs www.radiocidadeam870.com.br. 

Café Prosa com Alemberg Quindins. Você vai saber o motivo do Estado de Espírito do vento/cariri que sopra com saudade do Mar. Você vai compreender a importância do contexto da Chapada do Araripe para o mundo. Patativa do Assaré. Luiz Gonzaga e Padre Cícero. Arqueologia. Gestão Cultural. Alemberg diz que a Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado tem Luiz Gonzaga, a Pedra do
Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura. O Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura.

Francisco Alemberg de Souza Lima- Alemberg Quindins. Músico de formação popular, historiador autodidata, Fellow da Ashoka e Líder da Avina.

Em 1992, restaurou a primeira casa grande da fazenda que deu origem ao Município de Nova Olinda, Ceará e criou a Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri: Uma
Organização não governamental que tem como missão educar crianças e jovens através da gestão cultural e do protagonismo juvenil. Como consultor do UNICEF, criou nos assentamentos dos sem terra no Ceará e no Rio Grande do Norte, o projeto Vez da Voz com a implantação de irradiadoras para crianças
e adolescentes, além de rádios escolas em várias cidades do Ceará.

Na África, em Moçambique e Angola, criou a rede de jovens comunicadores da língua portuguesa. São mais de 30 programas “de criança para criança”, fortalecendo o protagonismo juvenil e o intercâmbio entre os paises pares.

Em 2007 foi consultor do Projeto Rumos do Itaú cultural.

*MARIANA ALBANESE:

Nordestina era uma cidadezinha desse tamanho assim, da qual se dizia: "eita lugarzinho Sem futuro!". Antônio ouviu dizer isso desde pequeno, e deu por certo o fato. Para chegar em Nordestina, tinha que se andar bem muito. É claro que ninguém fazia isso: o que é que a pessoa ia fazer em um lugar onde não tinha nada para fazer?

(Trecho do livro “A Máquina”, de Adriana Falcão)

Quando pequeno, morando em Tocantins, Alemberg Quindins era um menino fora do mapa. Sabia do mundo por quem passava por sua cidade, Miranorte, e mais não tinha.

Se virou como podia e montou uma pequena editora, cineminha, tudo improvisado para dar alguma diversão a seus colegas, também fora do mapa. Da primeira infância, no Sertão do Cariri, no Ceará, lembrava-se de uma índia que lhe contava histórias e de uma estátua de indiozinho em sua casa. 


Quando voltou para lá, já crescido, foi atrás destas lembranças. Conheceu uma moça do Crato, Rosiane Limaverde. Por essas coincidências da vida, haviam nascido no mesmo dia e ano: 19 de dezembro de 1965. Casaram-se na mesma data, em 1983. A parceria também era musical. Saíram sertão afora, estudando a música pré-histórica da região, e vez por outra deparavam-se com objetos de valor histórico, que iam recolhendo. Formaram um acervo.


Em 1992 nasceu oficialmente a Fundação Casa Grande, no mesmo dia 19 de dezembro. Uma velha casa no município de Nova Olinda, que havia pertencido ao avô de Alemberg, Neco Trajano, foi reformada e passou a abrigar o Memorial do Homem Kariri. O espaço guarda o acervo recolhido por Alemberg e Rosiane - ao qual foi incorporado o indiozinho da infância, cuidado até então pela velha senhora que lhe contava histórias. Kariúzinho hoje é personagem de revista em quadrinhos feita pelos meninos.


A iniciativa gerou interesse das crianças que viviam na zona urbana da cidade. Elas foram se achegando, dando novas idéias e demanda para ampliação.


De forma natural, as áreas de atuação da Fundação foram aumentando, conforme o casal sentia a carência cultural da cidadezinha. Em 1998 foi anexado o prédio da primeira escola da cidade, o Educandário. Tornou-se a Escola de Comunicação da Meninada do Sertão. Em 2002, foi a vez do Teatro Violeta Arraes – Engenho de Artes Cênicas ser inaugurado. O fluxo de curiosos foi aumentando e a necessidade de um programa de turismo surgiu. Foram criadas pousadas domiciliares no fundo das casas, administradas pela Cooperativa dos Pais e Amigos da Casa Grande (Coopagran).


Memória, Comunicação, Artes e Turismo são hoje as áreas de abrangência da Casa Grande, que aos 15 anos de existência, chega à adolescência. Seus primeiros meninos já são adultos, trilham seu caminho paralelo e começam a levar seus filhos para brincarem no parquinho da Fundação. Os mais velhos ensinam os mais novos, sempre dispostos a ouvir.


Essa geração de jovens com formação de qualidade superior à encontrada na maioria das escolas regulares faz com que a instituição seja, além de um projeto bem sucedido, um marco histórico para a região em que está inserida.

Mais do que uma escola de comunicação, um centro cultural, ou uma instituição para crianças, a Casa Grande é hoje um laboratório de convivência social onde aprende-se a ter responsabilidade sem perder a alma infantil. Ou, como Alemberg bem resumiu:

“Não queremos formar comunicadores, e sim futuros gestores do país”.
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MORRE SEU MANELITO, ÍCONE DO SEMIÁRIDO NORDESTINO

O Cariri paraibano está de luto. Isso porque morreu nesta terça-feira (28), em Taperoá, aos 83 anos, o empresário e engenheiro agrônomo, Manoel Dantas Vilar Filho, conhecido na região como Manelito, também primo do escritor paraibano Ariano Suassuna e proprietário da Fazenda Carnaúba, uma das maiores fábricas artesanais de queijos multi-premiados do Brasil. 

Seu Manelito administrava com seus cinco filhos a fazenda, que está na posse da família desde o século 18. Ele morreu em Campina Grande, Paraíba devido a complicações de uma cirurgia de vesícula. O velório será realizad na Fazenda Carnaúba, em Taperoá e o sepultamento deve ocorrer às 9h desta quarta-feira (29), no cemitério de Taperoá. 

Manoel Dantas, o Manelito, é conhecido por ter o melhor banco de dados sobre o Semiárido brasileiro e o regime de chuvas na região. Desde 1912, ainda no século passado, o que aconteceu no Nordeste do Brasil, em se tratando de chuvas, está registrado nos arquivos dele na Fazenda Carnaúba. 

Os queijos da sua fazenda são vendidos em delicatessens, lojas especializadas e mercados espalhados pelo Brasil. 

“Seu Manelito era tão equilibrado em tudo que fazia que jamais foi um opositor da natureza, sempre a favor. Por isso conseguiu sempre os melhores resultados em tudo que fez, seja na criação ou na plantação, sempre se saiu bem e colheu ótimos resultados. Ele se torna um homem imortal, pois seus ensinamentos jamais deixarão de ser referência para aqueles que querem viver em equilíbrio e harmonia com a mãe natureza” – André Miranda, diretor da Associação Brasileira dos Criadores de Gir (AssoGIR).

A Fazenda Carnaúba, localizada no município de Taperoá é referência nacional em genética de caprinos, ovinos e bovinos. A propriedade de 960 hectares tem altos índices de produtividade e competência técnica na criação de raças nativas de caprinos, ovinos e bovinos, tanto de leite, quanto de corte. A produção de queijos com leite de cabras foi a saída encontrada pela Fazenda Carnaúba para enfrentar, na década de 70, a dura seca do semiárido brasileiro, uma das regiões mais áridas do Brasil. 

O mais curioso dessa história é que tudo começou com a conquista de um prêmio literário. É que, em 1971, o escritor Ariano Suassuna lançou o romance “A pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta” e, com esse livro ganhou o Prêmio Nacional de Ficção, conferido pelo Ministério da Educação e Cultura. Com o dinheiro da premiação, o dramaturgo decidiu, em parceria com seu primo, Manuelito (Manoel Dantas Vilar Filho), ambos proprietários da fazenda na época, comprar 200 cabras para iniciar a produção de queijos.

“Na época todos diziam que os dois eram loucos, pois parecia impossível produzir queijo com leite de cabra no semiárido brasileiro”, lembra Joaquim Pereira Dantas Vilar, que hoje está no comando de toda a produção e comercialização de queijos da fazenda ao lado de sua irmã Inês Pereira Dantas Vilar.

A propriedade Carnaúba conta com um rebanho formado por oito raças ovinas, são elas: Barriga Negra, Cariri, Morada Nova Pretas e Vermelhas, Jaguaribe, Cara Curta, Somalis e Santa Inês e mais dez caprinas: Parda Sertaneja, Moxotó, Graúna, Serrana Azul, Repartida, Canindé, Marota, Mucianas Pretas e Caobas, e Biritingas. 

Já o rebanho bovino é formado pelas raças: Zebu, Guzerá, Sindi e Curraleiro Pé Duro ou, como é conhecido em algumas regiões do Brasil, Pé Duro do Piauí. Na fazenda, os animais convivem em perfeito equilíbrio. Cada espécie tem uma preferência por certo tipo de forragem, dessa forma, a flora é usada de maneira eficiente para atender às necessidades de todas as raças. “Os animais tiveram que se adaptar ao clima do semiárido brasileiro”, conta Joaquim.

Para ele, o segredo para vir se destacando ao longo de tantos anos foi seguir à risca os ensinamentos do primo Ariano e do seu falecido pai. “Fomos criados num ambiente riquíssimo de bons valores: produzir com qualidade e identidade”, reforça, demonstrando o que aprendeu com seu Manuelito. 

O produtor tem o maior orgulho de estar à frente do laticínio Grupiara da Fazenda Carnaúba. “Produzir queijos no sertão possibilita vivermos aqui, sem necessidade de migrar para a cidade. Valorizar nosso mundo é uma obrigação que nos deixa felizes e realizados, ainda mais trabalhando no que gostamos e sabemos fazer”, diz Joaquim.
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