JORNALISTA E RADIALISTA JOSÉ PAULO DE ANDRADE MORRE AOS 78 ANOS, VÍTIMA DE COVID-19

O jornalista e radialista José Paulo de Andrade, de 78 anos, morreu na manhã desta sexta-feira (17), em São Paulo. Ele estava internado no Hospital Albert Einstein desde o dia 7 de julho após ser diagnosticado com coronavírus.

Ele trabalhou por 57 anos na Rádio Bandeirantes e ficou conhecido por apresentar o programa "O Pulo do Gato" desde que estreou em 1973. Ele começou a trabalhar na rádio como narrador esportivo em 1963.

Zé Paulo, como era chamado pelos amigos, também era bacharel de Direito formado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP). Ele começou a carreira profissional em 1960 como radioescuta do plantão esportivo da Rádio América de São Paulo.

O jornalista também participou de debates políticos na televisão e foi âncora de telejornais como Titulares da Notícia, Jornal de São Paulo, Rede Cidade, Band Cidade e Entrevista Coletiva. Ainda na TV Bandeirantes, interpretou Don Diego/Zorro em As Aventuras do Zorro, em 1969.

O Grupo Bandeirantes lamentou a morte do apresentador. "Com uma voz firme, amplo conhecimento político-econômico, são-paulino fanático e um dos maiores formadores de opinião do Brasil, José Paulo tinha um coração gigante e um caráter ímpar. Com 57 anos de Rádio Bandeirantes, José Paulo de Andrade deixará um legado indiscutível, um vazio enorme e muitas saudades", disse, em nota.

Ele deixa mulher e dois filhos.

Detalhe: Em 2018, o produto jornalístico mais longevo da história do rádio brasileiro, o programa  ‘O Pulo do Gato’ passou a ter espaço para além das ondas radiofônicas. No ano em que completou 45 anos ininterruptos no ar, a atração da Rádio Bandeirantes ganhou vez no mercado editorial. O livro Esse Gato Ninguém Segura, escrito pelo jornalista Claudio Junqueira, apresenta dados e curiosidades sobre o programa que há décadas ocupa a grade da Rádio Bandeirantes, e tinha a condução de José Paulo de Andrade.


Uma das curiosidades contadas no livro é justamente em relação a José Paulo de Andrade. Na publicação, o autor conta que o comunicador só não foi o titular da atração desde o início de sua história por “birra” de Hélio Ribeiro. Na hora de estrear o noticiário, em 2 de abril de 1973, o então diretor artístico da Rádio Bandeirantes escolheu Rafael Gióia Junior para o comando do programa. O período do apresentador e político à frente do conteúdo durou apenas duas semanas. Desde então, Zé Paulo – como o experiente comunicador também é conhecido – e ‘O Pulo do Gato’ se tornaram sinônimos, conforme enfatiza o escritor.


“No título [do livro], O Zé Paulo está ‘dentro’ do nome ‘O Pulo do Gato’. Não dá para separar um do outro. A ligação é muito forte, um complementa o outro. O Zé Paulo é ‘O Pulo do Gato’ e ‘O Pulo do Gato’ é o José Paulo de Andrade”, afirmou Claudio Junqueira em entrevista ao BandNews TV. 


Em meio ao trabalho de produção da obra, o autor destaca que realizou pesquisas para decifrar quais os fatores responsáveis pelo sucesso do programa, que atualmente é transmitido de segunda a sexta-feira, das 5h30 às 7h. “O segredo é o Zé Paulo”, enfatiza o jornalista responsável pelo trabalho literário.


O livro Esse Gato Ninguém Segura surgiu como trabalho acadêmico. Isso porque o programa da Rádio Bandeirantes foi tema da dissertação de mestrado defendida por Claudio Junqueira. O profissional estudou comunicação e cultura midiática na Universidade Paulista (Unip). 


Na academia, ele realizou mais de 30 entrevistas para ter acesso a detalhes, informações e dados referentes ao programa. Foram dois anos de dedicação, incluindo idas e vindas ao Centro de Documentação e Memória do Grupo Bandeirantes de Comunicação. Distribuído pela editora Letras do Pensamento, o livro foi organizado e adaptado por Marc Tawil.


“O sentimento que fica é o de dever cumprido. O dever de revelar ao ouvinte do programa detalhes importes sobre a concepção, criação e produção de um dos jornalísticos mais importantes e ouvidos do rádio brasileiro. Além disso, agradeço a Deus a possibilidade e a oportunidade de poder condensar toda história vitoriosa do matutino nesses últimos 45 anos e prestar uma homenagem ao Zé Paulo, um dos maiores jornalistas e radialistas do país. O ouvinte e o Zé mereciam essa publicação”. É o que conta Claudio Junqueira à reportagem do Portal Comunique-se.




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COVID: UM RETRATO DAS MÊS SOLTEIRAS NA PANDEMIA

Um retrato das mães solo na pandemia, é uma uma reportagem da Revista AzMina. Jornalismo, tecnologia e informação contra o machismo. AzMina é um instituto sem fins lucrativos que combate os diversos tipos de violência que atingem mulheres brasileiras.

A Revista AzMina produz reportagens exclusivas sobre a situação da mulher no Brasil.

Confira:
Se antes a conta já não fechava para a gente, agora é ainda pior”. O desabafo de Fabiana Rodrigues da Silva, 35 anos, mãe de Alex, de 2 anos, ressoa nas mais de 11 milhões de mães solo no Brasil que vivem diariamente o impacto da pandemia causada pelo novo coronavírus, de acordo com dados levantados pelo IBGE em 2018. 

Mães solo são as mulheres que são as únicas ou principais responsáveis pela criança. Elas, que já viviam uma rotina muitas vezes de tripla jornada para dar conta da criação dos filhos, do trabalho e da casa, estão em uma situação de ainda mais vulnerabilidade devido à crise de saúde que assola o país e impõe o isolamento social como medida para tentar evitar a propagação da covid-19.

“Mesmo estando vulnerável à covid-19, não tenho nem a possibilidade de estar doente nesse momento. Eu trabalho e ganho por hora, além de estar sozinha com meu filho, por isso tenho muito medo de alguma coisa acontecer comigo porque não tem outra pessoa para ficar responsável por ele”, destaca Silva. “Ao mesmo tempo, não dá para parar. As necessidades do meu filho não param. Uma coisa é eu estar com fome e outra é meu filho. Como você fala para uma criança que não tem comida?”

Professora de dança, a mineira que mora há mais de dez anos em São Paulo viu todos os seus contratos de trabalho serem cancelados desde que foi decretado o isolamento social na capital paulista, no dia 24 de março. Sem contar com uma rede de apoio na cidade ou ter ajuda do pai da criança, ela teve que pedir dinheiro emprestado e depender de outras pessoas. Depois de 45 dias em isolamento social, recebeu a primeira parcela da Renda Emergencial Básica, que oferece um auxílio de R$ 1.200, por três meses, para mães sem cônjuge, o equivalente ao que uma família de dois adultos que estejam no trabalho informal recebe. De acordo com o Governo Federal, o pagamento do auxílio deve ser prorrogado por mais dois meses, mas ainda não há definição sobre o assunto e nem se o valor será mantido ou haverá redução.

“Nesses dez anos em que eu moro em São Paulo, sempre consegui sobreviver de dança, tinha um lugar de conforto por trabalhar com o que eu gosto e conseguir pagar minhas contas. Porém, quando parou tudo foi muito desesperador, porque eu não sabia como iria me manter e criar meu filho”, conta a mãe de Alex. 

egundo Thaiz Leão, co-coordenadora da Frente Parlamentar de Primeira Infância do Estado de São Paulo e Diretora Executiva do Instituto Casa Mãe, o isolamento, medida necessária em tempos de pandemia de covid-19, já era uma prática vivida pelas mães, principalmente as chefes de família. 

“As mães já sofrem com isso, porque a dimensão da infância e do compartilhamento social do cuidado dos filhos não existe. O que temos hoje é um agravamento, porque as poucas fontes de compartilhamento desse cuidado, como escola, o acesso ao trabalho e ao mundo, foram limitadas para essas mães para dentro da casa delas”, analisa Leão. “Os vínculos se quebram, a economia cai e o cuidado triplica. As crianças estão dentro de casa, e sabemos bem em quem recai essa responsabilidade, ainda mais no caso de mães solo, que já não têm com quem dividir essas demandas”.

Também designer e autora do livro “O exército de uma mulher só” (Editora Belas Letras), que mostra a sua história, desde o teste de farmácia até o parto do filho, Vicente, hoje com 6 anos, Leão afirma que existe uma grande distância entre o que se espera e se cobra da mães e a realidade que elas vivem: “A experiência que definimos hoje de maternidade é desumana, violenta, de solidão e sobrecarga. A questão agora não é nem mais segurar a curva, mas não cair do precipício, porque já estávamos na beirada antes mesmo de chegar o coronavírus”

Assim como a professora de dança Fabiana Rodrigues da Silva, a maioria das mães solo no país são negras (61%), segundo o IBGE. A raça dessas mulheres impõe ainda mais barreiras de acesso a direitos básicos que são agravados pela pandemia. No Brasil, 63% das casas chefiadas por mulheres negras estão abaixo da linha da pobreza, segundo a Síntese dos Indicadores Sociais, do IBGE. Em 2018, segundo o estudo, esse valor equivalia a aproximadamente R$ 145 mensais, por pessoa.

As mulheres negras enfrentam maior restrição a condições de moradia, saneamento básico e internet nos arranjos em que são as chefes da família. A proporção das mães negras solo com filhos é maior em relação às mães brancas em casas com ao menos uma inadequação, como a falta de banheiro exclusivo, construção feita com material não- durável ou mais de três moradores por quarto. Proporcionalmente, a cada 100 mães solo com filhos com menos de 14 anos, 4,6 mulheres negras não contam com um banheiro exclusivo – entre as mulheres brancas, a proporção cai para 1,4. 

A desigualdade racial também se reflete no acesso a saneamento básico e internet, já que 42% mulheres negras não contam com saneamento básico e 28% não têm internet, em comparação a 28% e 23% das mulheres brancas, respectivamente. Em meio a mudanças nas dinâmicas de trabalho, com preferência para trabalho em casa e chamadas de vídeo, a falta de conectividade impacta diretamente na fonte de renda dessas mulheres.

Mãe de Alex, Fabiana da Silva está nesse grupo de mulheres. Com o retorno de um de seus trabalhos, agora no formato home office, e das atividades do seu filho por meio virtual, ela enfrenta a falta de estrutura para trabalhar em casa, gravar vídeos e acessar o material escolar do filho, já que não tem internet própria em casa e teve o orçamento reduzido drasticamente.

Negra e lésbica, a graduanda de serviço social Dara Ribeiro é mãe de Aisha, de 11 anos, e conhece bem as vulnerabilidades das mães solo que enfrentam racismo e lesbofobia: “Acredito que ser mulher negra é resistir e ser resiliente. Não temos um minuto de paz, mas sempre seguimos. Quanto a ser sapatão, as pessoas nunca acreditaram na minha orientação sexual por eu ser mãe, e muitos homens não respeitam isso. Para mim, o mais importante é que meus filhos me respeitam”.

Natural de Santos, Ribeiro mora em São Paulo há 17 anos  e conta que sua rotina foi completamente impactada pelo novo coronavírus, já que tem que conciliar seus estudos, trabalho e as tarefas da escola de sua filha: “A pandemia é um agravante para nós mães solo. Tudo ficou mais sobrecarregado do que antes. Eu não perdi o emprego, mas meu contrato acaba em agosto e já é uma pressão a mais com que vou ter que lidar”, disse.

REDES DE APOIO: Além da sobrecarga e das dificuldades financeiras, um dos impactos da pandemia de covid-19 é na saúde mental das mães solo. Menos falado, mas muito presente, os efeitos psicológicos são importantes. A Organização das Nações Unidas (ONU) destacou a necessidade de aumentar urgentemente o investimento em serviços de saúde mental nesse período e pontua que “quem correm um risco particular são as mulheres, particularmente aquelas que estão fazendo malabarismos com a educação em casa e trabalhando em tarefas domésticas.”

Fabiana da Silva concorda e destaca a importância de poder contar com uma rede de apoio e ajuda psicológica: “Fazer parte de uma rede de mães que estão passando pela mesma situação faz você sentir que não está sozinha. Além disso, por meio da rede, consegui o acompanhamento com uma psicóloga preta, que é essencial para eu passar por esse momento”.

Ela faz parte do projeto “Segura na Curva das Mães”, idealizado pelo Instituto Casa Mãe e o Coletivo Massa, criado para identificar e localizar mães em situação de vulnerabilidade causada pela pandemia do novo coronavírus e garantir apoio emergencial para este grupo. A iniciativa oferece suporte emocional e financeiro a mulheres afetadas pelo isolamento social. Foram mapeadas mais de 700 mães em todo o país nesse contexto.

As redes de apoio, que se fortaleceram neste período para ajudar financeira e psicologicamente mulheres mais vulneráveis, tentam suprir parte das necessidades não cumpridas pelo Estado. Mesmo para as mulheres chefes de família que conseguem receber a Renda Emergencial Básica, o auxílio raramente é suficiente. Depois de quase quatro meses desde o primeiro caso de coronavírus registrado no Brasil e a marca de mais de um milhão de pessoas infectadas no país, os inúmeros desafios das mães solo nesta pandemia parecem longe do fim. (Fonte:Revista AzMina)
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A PARAÍBA NÃO CUIDA DE SEUS TOCADORES DE SANFONA DE OITO BAIXOS

A Paraíba não cuida de seus tocadores de fole de oito baixos. A Paraíba não os respeita. Outro dia iniciei a busca por elementos biográficos de Zé do X, o tocador de fole pé-de-bode. A partir do cruzamento de dados fui estabelecendo um caminho para sua vida carioca. Zé do X, cujo nome verdadeiro ainda não descobri, nasceu, possivelmente na região de Guarabira, na Paraíba do Norte. 

Veio para o Rio de Janeiro, foi tocar no programa de rádio do Coronel Narcisinho, na antigo Rádio Guanabara. Com a repercussão do fole, gravou vários LPs e fazia a festa nas casas de shows e nos forrós cariocas. Foi um dos pioneiros tocando um instrumento quase impossível de se tocar. O enigma, o mistério, parece seguir o paraibano desde o nome artístico. Esse X coloca uma espécie de véu sobre sua personalidade, sobre sua ascendência, sobre sua trajetória. Tentamos desvendar, como um detetive, esse processo de invisibilidade. Conversamos com vários músicos, entre eles Leo Rugero, Luizinho Calixto, Perpétuo Borborema e Zé do Gato, mas ficamos onde estamos, parados, quase sem informação. Mas isso não lhe rouba o mérito de tocador paraibano, dono de alguma desenvoltura nas teclas e boa música. A Paraíba nunca lhe deu um X de atenção.

Na semana passada, assisti com muita sustança a transmissão da TV Nordestina, pelo YouTube, do show de comemoração do aniversário de Zé Calixto. O protagonista, no fole de 8 baixos, foi seu irmão Luizinho Calixto. Zé foi responsável por transportar o pé-de-bode para o andor dos instrumentos filosóficos. Em suas mãos, o fole dilui-se em imaterialidade, transfere-se em alma, substância fluídica, música que não se pode aprisionar. Zé Calixto é o pai de todos os tocadores. Afirmo isso pedindo permissão aos grandes tocadores, desde Gerson Filho a Abdias, desde Severino Januário a Truvinca, desde Negrão dos 8 baixos a Geraldo Correia. A família Calixto foi escolhida para ser a responsável pela salvaguarda do fole na Paraíba.

 O patriarca João de Deus era tocador. Zé, Bastinho e Luizinho encaminharam-se para os discos. A música fez morada entre o clã e estabeleceu-se como senhora na alma e no corpo de Zé Calixto. Vê-lo tocando causa-nos uma certa miragem, somos guiados para um outro território que não o dimensional, um lago imaginário, uma realidade paralela, um transe, uma viagem, boa e duradoura. Todavia, apesar da maestria e excelência, a Paraíba não cuida de Zé Calixto. A Paraíba não preserva Zé Calixto. A Paraíba parece que não ama Zé Calixto e ignora completamente Zé do X. Tragédia.
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LIVRO: VERSOS EM PANDEMIA RETALHOS DE UM TEMPO SERÁ LANÇADO NESTA QUINTA (16)

Poetas, professores e apaixonados por literatura lançam hoje (16)  um livro de poesia sobre a pandemia ak no Vale. Título: Versos em Pandemia: retalhos de um tempo.

A transmissão do lançamento acontece às 18hs no canal youTube: profvadernobre

1. A proposta do Livro partiu da ideia de dois professores da área de Literatura que resolveram organizar um movimento de produção literária sobre o período complexo advindo da maior pandemia do nosso tempo. A sugestão de produzir poemas veio através das nas redes sociais e, devido ao apelo dos envolvidos, tudo foi transformado em um livro físico, que também tem o objetivo de marcar cronológica e artisticamente o momento atual, os sentimentos das pessoas em relação ao que a humanidade está enfrentando.

2. Os organizadores são o professor Roberto Remígio, do IF Sertão e o professor Vlader Nobre, da UPE.

3. O convite foi realizado pelas redes sociais (facebook, instagram, whatsapp) e surgiram dezenas de poetas, na maioria amadores, profissionais liberais, professores, estudantes, advogados, empresários, músicos, donas de casa, jornalistas, na grande maioria, sem envolvimento com a produção literária. Os fatos que unem essas pessoas são o gosto pela Literatura e a vontade de demonstrar os seus sentimentos, suas angústias e esperanças, em relação ao momento presente.

4. Os poemas foram produzidos pelos interessados, enviados por e-mail, selecionados pelos organizadores em uma comissão de professores da área e as imagens que compõem o livro também foram produzidas e cedidas pelos autores, muitos deles, amantes da fotografia. A capa é do  designer Arthur sobre fotografia do professor Roberto Remígio.

*Alguns autores: Gilberto Santana,  Rildo Remígio, Vlader Nobre, Teresa Leonel, Inês, Jaquelyne,  Ricardo Souza, Marli Melo, Romana de Fátima, Daniel Gomes, Laecio de Barros, Socorro Tavares, Socorro Miranda, Monzitti Bauman, Thiê Gomes,  Claudete Galvão, Marta Veronica,  João Trapiá, Danilo Crisóstomo, Claudiana Margarida, Mariza Auxiliadora, Thiago Jerônimo, Paulo Henrique,  Jota Menezes.

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RELATÓRIO APONTA ALTO ÍNDICE DE POLUIÇÃO DAS ÁGUAS DO VELHO CHICO

No segundo semestre de 2019 foi realizada a II Expedição Científica no Baixo São Francisco, que teve o apoio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). A ação contou com 50 pesquisadores e técnicos de 16 instituições de ensino. 

A expedição durou dez dias e percorreu os municípios de Piranhas (AL), Pão de Açúcar (AL), Traipu (AL), Porto Real do Colégio (AL), Propriá (SE), Igreja Nova (AL), Penedo (AL), Neopólis (AL), Piaçabuçú (AL) e a foz do rio São Francisco.

O objetivo principal era coletar informações e dados, analisar e propor ações com a finalidade de mitigar os problemas no rio. O relatório divide-se em quatro partes: Ictiofauna; Água; Educação Ambiental e Socioeconomia e Tecnologia e Inovações. São 540 páginas de material coletado, estudado e analisado em campo e laboratório.

Segundo o coordenador da expedição, professor Emerson Soares, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL),o relatório irá nortear propostas de manejo e auxiliará instituições, bem como prefeituras, nas tomadas de decisões com embasamento científico atual e detalhado.

“Em relação aos resultados gerais, a ictiofauna é pouca diversa. Apenas seis espécies representam 80% das capturas na região. A diminuição da vazão, pesca com métodos não permitidos, represamento da água, desmatamento da vegetação ciliar, assoreamento, poluição por efluentes das cidades e agrotóxicos, aliados à diminuição do regime de chuvas, vem prejudicando a reprodução dos peixes, afetando as migrações reprodutivas de espécies de piracema e esgotando os estoques pesqueiros. A grande quantidade de esgotos e lixo jogados na calha do rio, prejudicam a qualidade de água, o que provoca forte estresse para as espécies, colaborando para diminuição do alimento natural e diminuição do crescimento e desenvolvimento dos peixes”, explicou Soares.

Foi detectada a presença de metais nos peixes analisados. “O ferro foi o metal mais abundante, seguido do zinco, no tecido muscular dos peixes estudados. As concentrações de mercúrio, cádmio e chumbo encontradas nos peixes não apresentam risco à saúde humana, associado ao consumo dessas espécies, com base nos Limites Máximos de Tolerância (LMT) prescritos pela Agência Nacional da Vigilância Sanitária (ANVISA)”, afirma o coordenador da expedição, Emerson Soares.

Já os níveis de cromo acima do limite registrados em todas as espécies estudadas indicam que o ambiente aquático está impactado por esse metal, expondo risco à saúde da população da região do Baixo São Francisco, que frequentemente consome os peixes. 

“Verificou-se que a maioria dos peixes coletados não estava saudável. Os aspectos higiênico-sanitários observados nas feiras livres e mercados nos municípios percorridos pela expedição, indicam que os produtos comercializados podem ofertar risco à saúde do consumidor, pois apresentam condições impróprias e desconformes com alguns padrões para manipulação de alimentos”, revelou o coordenador.

ÁGUA: Em se tratando das análises microbiológicas realizadas neste trabalho, os resultados demonstraram que a água de todos os pontos de coleta encontra-se fora dos padrões de potabilidade recomendados para consumo humano, estabelecidos pela Portaria n° 2.914, de 12 de dezembro de 2011.

 “Com a variação da vazão na região do Baixo São Francisco, a qualidade das águas também é afetada. Diante disso, foi observado que as águas do São Francisco, nos municípios de Piaçabuçu (AL) e Brejo Grande (SE) encontram-se em processo de salinização. Essa mudança de água doce para água salobra provoca alterações também na biodiversidade e, consequentemente, interfere nas atividades socioeconômicas dos ribeirinhos”, pontuou Emerson Soares.

O relatório aponta alto índice de poluição das águas do Velho Chico. “Foram observados valores altos de cianobactérias e elas estão tipicamente associadas às condições eutróficas (poluídas). Assim, a água do manancial oferece riscos à saúde pública”, ressaltou’.

O extrativismo de frutas nativas é a principal fonte de renda para muitas famílias da região da foz do rio São Francisco. Isso contribui para sua manutenção e para a conservação ambiental. A integração da produção extrativista ao mercado turístico pode ser uma estratégia adotada, considerando o potencial do município estudado e do estado de Alagoas. 

A principal política pública acessada pelos pescadores é o Seguro Defeso (cerca de 90% possuem carteira de pesca e recebem o benefício), seguido do bolsa-família com 50%, e aposentadoria (25%). “Com relação à renda média mensal familiar é bom destacar que nenhuma família possui rendimentos acima de um salário mínimo, evidenciando a baixa remuneração pela atividade”, citou Soares.

“Assim como verificado na I Expedição Científica do Baixo São Francisco, em 2018, é possível constatar que a educação ambiental nas comunidades ribeirinhas e escolas visitadas ainda é tratada de forma superficial, seja no dimensionamento de projetos pedagógicos ou na falta de políticas públicas com estímulos e recursos oficiais (federal, estadual e municipal) para desenvolvê-las de maneira efetiva. As poucas ações isoladas realizadas não apresentam conexão clara e efetiva com os problemas enfrentados pelas comunidades ribeirinhas”, finalizou.

Ascom CBHSF: TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social *Texto: Deisy Nascimento *Fotos: Edson Oliveira e Azael Goes


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CONSÓRCIO DE UNIVERSIDADES DE PERNAMBUCO DIZ QUE INSTITUIÇÕES ÃO ESTÃO PARADAS

O Consórcio Universitas, formado pelas universidades Federal de Pernambuco (UFPE), Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), de Pernambuco (UPE), Católica de Pernambuco (Unicap), Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape) e Federal do Vale do São Francisco (Univasf), divulgou uma nota, na tarde desta quarta-feira (15), enfatizando que, apesar da suspensão das aulas por causa da pandemia da Covid-19, as instituições não estão paradas.

Na nota, o grupo de universidades enfatiza que, desde que as autoridades sanitárias e órgãos oficiais sinalizaram as medidas de suspensão das atividades e normativas de controle, as instituições de ensino superior, de acordo com suas especificidades, iniciaram um conjunto de ações emergenciais e um amplo processo de discussão para a elaboração de uma proposta de funcionamento futuro de suas instituições.

"De início, as ações emergenciais tiveram como prioridade a garantia de segurança às vidas da comunidade universitária, a preocupação da não exclusão de pessoas nas ações decorrentes deste momento, e manutenção da reconhecida qualidade destas instituições de ensino, pesquisa e extensão. A responsabilidade para não prejudicar ninguém foi tamanha, que tanto gestores e gestoras, quanto membros de grupos de trabalho e participantes das ações emergenciais se debruçaram, dia e noite, incluindo finais de semana, em reuniões, formações, eventos, pesquisas e planejamentos acerca das soluções legais e inclusivas, tanto para as atividades acadêmicas, quanto as administrativas", informou o Universitas, no texto.

Confira, na íntegra, a nota do consórcio:

Diante de declarações e opiniões expostas nos últimos dias, a respeito do processo de retomada das atividades das Instituições de Ensino Superior (IES), em especial das Instituições Públicas Federais e Estaduais, o Consórcio Universitas, composto pela UFRPE, UFPE, UNICAP, UPE, UFAPE e UNIVASF, reforça que as IES do País não estiveram paralisadas durante os meses desde o início da pandemia da COVID19.

Pelo contrário, desde que as autoridades sanitárias e órgãos oficiais sinalizaram as medidas de suspensão das atividades e normativas de controle, a IES, de acordo com suas especificidades, iniciaram um conjunto de ações emergenciais e um amplo processo de discussão para a elaboração de uma proposta de funcionamento futuro de suas instituições.

De início, as ações emergenciais tiveram como prioridade a garantia de segurança às vidas da comunidade universitária, a preocupação da não exclusão de pessoas nas ações decorrentes deste momento, e manutenção da reconhecida qualidade destas instituições de ensino, pesquisa e extensão. A responsabilidade para não prejudicar ninguém foi tamanha, que tanto gestores e gestoras, quanto membros de grupos de trabalho e participantes das ações emergenciais se debruçaram, dia e noite, incluindo finais de semana, em reuniões, formações, eventos, pesquisas e planejamentos acerca das soluções legais e inclusivas, tanto para as atividades acadêmicas, quanto as administrativas.

Gestores/as, docentes/as e técnicos universitários estão trabalhando e viabilizando, entre outras ações, cursos de formação em ambientes virtuais, plataformas e ferramentas de comunicação e educação, adequação do calendário acadêmico que atenda à legislação brasileira, pesquisas junto aos discentes relacionadas ao perfil socioeconômico dos estudantes, busca por recursos e capacitação para que o ensino remoto não seja mera transposição do ensino presencial existente até então, e sim, uma proposta de qualidade, inovadora, baseada em metodologias ativas, e que torne este ensino atraente e significativo para nossos estudantes.

Cabe ressaltar, que a inclusão social e digital de suas comunidades, com especial atenção aos estudantes em situação de vulnerabilidade sócioeconômica, foi ponto central de todo o planejamento das atividades futuras das IES. As IES, desde o início da pandemia, não descansaram na busca de soluções que contemplasse a todos. De forma inclusiva e empática, inclusive com o enfrentamento à perda de colegas, familiares e amigos para uma tragédia de proporções mundiais. É injusto, e prejudicial ao bom debate neste momento, a suposição que as IES foram lentas ou inertes. As IES estão sendo sim responsáveis, como instituições públicas que lidam com vidas humanas e seus processos formativos.

Por fim, é importante destacar o papel fundamental que as IES, junto com o Sistema Único de Saúde (SUS), vêm desempenhando no combate a pandemia da COVID19, através de seus Hospitais Universitários, da produção e distribuição de álcool gel, máscaras e Face Shields, da testagem da COVID19, do monitoramento matemático/computacional de dados para auxiliar os governos na tomada de decisões de enfrentamento a pandemia, de projetos de assistência social aos mais vulneráveis, entre diversas outras ações.

Não temos dúvidas, que o impacto da pandemia seria muito maior na população brasileira, se não fossem os esforços científicos e administrativos de seu docentes e técnicos, com o apoio acolhedor de milhares de nossos estudantes. Continuaremos firmes e responsáveis no trabalho responsável, ético e qualificado, buscando preservar vidas, incluir pessoas e ofertar serviços de qualidade a sociedade brasileira.
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CARLOS LAERTE; JUAZEIRO, JUAZEIRO

Juazeiro, a gente vê só de pedacinho. Não adianta querer comer tão somente um acarajé ao lado dos antigos Correios. Há que beber também toda uma paisagem de ponte, pernas e rios, que sensualmente passam pra lá e pra cá quando é de tardezinha. Juazeiro, a gente nunca ouve de pouquinho. Em qualquer silêncio, sobrevive um grito de esperança. O cais cheira à música antiga e o poeta, às mulheres que estiveram com ele. A vida assim, tecida em prosa, agulha, verso, linhas, retalhos e rendas. Em fios de luz, 142 anos trespassados. Juazeiro, a gente nunca sabe com que roupa. Irreverente e indomável, a cidade não sai da moda; despida de frescura e arrodeios.

Quando ainda menino imberbe, Juazeiro já via longe, muito mais além da copa, muitos mais adiante da “Passagem”. Quando ainda menina, pois Juazeiro é menino e menina, homens e mulheres acordaram de um sonho barrento e saíram pelos campos a semear melões, uvas, melancias, cebolas e mangas. Irrigantes telúricos fecundaram o chão a apontaram o caminho de um novo tempo de perseverança e oportunidades para todos. De promissão, desde Itamotinga até o salitre, feito projeto. Juazeiro, a gente nunca sente todo. Mesmo o artista mais cuidadoso atenta para que as pinceladas últimas sejam invariavelmente as primeiras de um imutável painel sem fim.

E, pode crer, o quadro que se pinta pela manhã nas ilhas, nem sempre é o que se viu ao amanhecer no Rodeadouro. Porque, ao entardecer, Juazeiro, em sua geometria caprichosa, é puro som e surpresas. Há quem jure ter visto um luar prateado da cor de Ivete no fundo da bacia das lavadeiras do Angari. E não é de hoje esse negócio de visão. Pela esquina e encruzilhadas do Quidé, saltitam, à luz do dia, acordes dissonantes de um Edilberto Trigueiros em Edésio Santos. Ou vice-versa. Nos becos e arruados todos desta terra joão gilbertiana é certo que repousem suavemente, entre os quatros cantos e outros tantos, pontos, virgulas, e as aspas do poeta Pedro Raymundo. Aquele do pássaro que criou raízes. Gal-vão, Be-be-la, Mau-ri-ço-la, Co-e-lhão, Ma-nu-ca, Lu-ci-en, Si-be-le, Tar-gi-no, Lu-peu, Pin-zó. Juazeiro, a gente nunca pronuncia de uma vez só. É um canto, espaço e lugar que traz em si todos os nomes, tempos, temperos e emoções.

E quando é Carnaval então, Juazeiro também dança num mágico jogo de fantasia e alegria pós-tudo. Na quaresma, penitência ao repicar das matracas, fé e tradição ao pé do madeiro. Cadeiras na calçada e novena no mês de maio. Miudezas de um tempo onde a rua Sete de Setembro se chamava da Alegria e a Francisco Martins Duarte era tão somente das Flores. Tempero de um povo meio terra, meio água que vive sob a proteção de Nossa Senhora Rainha das Grotas e as bênçãos de São Surubim. Gente que acredita em Nego D’água e em Carrancas que gemem três vezes nas curvas do rio. Contam as mesmas lendas da Mãe D’água que um certo barqueiro Ermi tinha certeza que havia nascido no dia em que viu o rio. O mesmo afluente interno onde os homens banham-se de dia para de noite, adormecerem sob o manto da mulher amada. Juazeiro, a gente ama por inteiro. (Texto: Jornalista e publicitário Carlos Larte
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