O ADMINISTRADOR ADEMAR PAULINO DE LIMA *POR PEDRO FREIRE FILHO

O ano de 1988 ficou marcado na história política do município de Areia como marco de um novo conceito na política areense. Contrariando todas as expectativas, prognósticos e apostas, Ademar Paulino de Lima (Pai Véi) era eleito prefeito, tendo ao seu lado o vice-prefeito Antônio Carlos Queiroz Teixeira de Barros (Cacau Teixeira) para o período 1989/1992.

Dizia-se, na época, que seria um grande retrocesso. Pai Véi não governaria e o pouco estudo seria o seu maior entrave. Cheguei a ouvir de alguns poucos preconceituosos que “ele não sabia preencher nem um cheque.” Seria um desastre total e vergonha para um município que teve tantos filhos ilustres nas vitrines da política e da intelectualidade.

Ledo engano da “burguesia fracassada”. Ademar venceu as eleições e se cercou de jovens inteligentes e comprometidos com a coisa pública, todos de Areia. Destaques para Cacau Teixeira, Chico Jardelino, Antônio José Cunha Lima, Salete Berto, Beatriz Perazzo, Fátima Andrade, Genival Sales, José dos Santos, Raimundo Silvestre, Lúcia Araújo, Manoel dos Santos, entre outros.

Contando com a juventude, dedicação e competência do secretariado, Ademar suplantou todas as dificuldades com sensibilidade e experiência de vida, sendo considerado um dos melhores gestores da terra de Pedro Américo.

Sem uma infância das melhores, filho de Pedro e Anália Paulino, logo cedo Pai Véi trocou os bancos da escola por um banco de feira, seguindo o legado do seu pai, como o vendedor da melhor carne e linguiça de porco da região.

A vida lhe impôs alguns percalços em Areia e Pai Véi teve que buscar noutra cidade o sustento próprio e da família. Nessa empreitada, a sua grande aliada foi Dona Maria, sua companheira de toda a vida e seu porto seguro, depois de longos e incansáveis dias de trabalho. Ela tinha prazer de receber e gostava da casa cheia dos amigos de Pai Véi.

Com muito sacrifício e determinação, Ademar formou um engenheiro civil, uma assistente social e uma enfermeira. O filho mais velho seguiu o seu legado como empresário do ramo de automóveis. A filha caçula concluiu o curso de Administração.

Empresário vencedor, Ademar nunca esqueceu sua terra natal, sempre buscando contribuir com o desenvolvimento e progresso. Lembro que em dias difíceis da Usina Santa Maria, era Ademar que assegurava o pagamento da folha de pessoal e até de fornecedores, prorrogando o fechamento inevitável de um dos maiores patrimônios do município.

Lembro do sofrimento de inúmeras famílias da “Chã do Galo” que tiveram suas moradias incendiadas em um trágico acidente. Pai Véi esteve presente no sofrimento das famílias, abraçando, dando sua palavra de conforto e contribuindo financeiramente e com pessoal para a reconstrução de todas as moradias.

Ademar sempre foi assim: amigo, conselheiro, conciliador, do bem e de bem. Até os adversários políticos o respeitavam e o citavam como referência na região do Brejo. Ronaldo, Maranhão, Cássio, Roberto Paulino, Armando Abílio, Manoel Júnior, Tião Gomes, Cícero Lucena, Rômulo Gouveia, Raimundo Lira, Damião e Lígia Feliciano, Evaldo Gonçalves, Marcondes Gadelha, Ney Suassuna, Bosco Carneiro, Vitalzinho, Arnaldo Monteiro e Orlando Almeida tinham em Ademar um exemplo de um case de sucesso nos negócios e na política.

A Gestão “Governo Amigo do Povo” – 1989/1992

 A primeira gestão de Pai Véi foi intitulada “Governo Amigo do Povo”. Nela, Ele cuidou de todas as áreas: da Saúde à Educação; da Agricultura à Infraestrutura; do Esporte à Cultura; da Assistência Social ao Lazer. O primeiro caminhão compactador de lixo do Brejo foi adquirido por Ademar. O primeiro ônibus do estudante universitário e o primeiro Centro Móvel Odontológico, também.

Ademar adaptou um prédio para ser o Centro Administrativo Municipal, adquiriu uma patrulha mecanizada, vários veículos, reformou todas as praças da cidade, construiu, ampliou e reformou açudes e barreiros, ampliou o mercado público, construiu escolas e creches, distribuiu feiras e o peixe aos carentes, eletrificou várias localidades rurais, pavimentou inúmeras ruas, recuperou as estradas vicinais, distribuiu sementes de feijão e milho com os agricultores, pagou os servidores sempre em dia e com aumento salarial, promoveu confraternizações, torneios esportivos e criou a MICAREIA.

A Saúde e a Educação tiveram tratamento especial da primeira gestão de Pai Véi. Os 9 postos de saúde contavam com médicos, enfermeiras e medicação. O Hospital Municipal tinha parceria com a Prefeitura. Eram 3 ambulâncias transportando pacientes para outros centros.

Na Educação, foram construídas duas escolas de 1º Grau: a de Cepilho e a de Mata Limpa, com recursos aportados pelo Senador Raimundo Lira e o filho de Areia Moacir Carneiro. Construiu as escolas de Ponte de Pedra e Barra do Camará, além da reforma e ampliação de mais de 20 escolas na cidade e zona rural. Promoveu a capacitação de professores e merendeiras, participou do Festival de Inverno de Campina Grande, gincanas culturais, debates, palestras e encontros educacionais, sem esquecer o tratamento todo especial à Filarmônica Abdon Milanez.

Um projeto destacado até hoje, é o de arborização da via principal da cidade, executado pela Secretaria de Agricultura em parceria com o CCA/Campus II da UFPB. A beleza das frondosas árvores plantadas nos anos 1990/1991 é apreciada pela população e visitantes, contribuindo para a manutenção do clima frio.

Ao final da gestão 1989/1992, Ademar Paulino de Lima tinha registrado mais de 500 obras/benfeitorias em favor da população de Areia e avaliação positiva superior aos 70%. Elegeu seu sucessor (Cacau Teixeira) com larga vantagem.

Em 1996, Ademar Paulino concorreu ao cargo de vice-prefeito ao lado do médico Elson da Cunha Lima Filho, que mais tarde seria o seu Secretário de Saúde e sucessor. Perderam a campanha para Ádria Perazzo Gomes.

No ano de 2000, Ademar Paulino foi eleito para o segundo mandato como prefeito de Areia para o período 2001/2004, disputando uma eleição desigual, sem dinheiro e sem apoio político. A vitória causou espanto na mídia e meio político, pois foram vencidos todos os vereadores, a prefeita e o vice, o deputado e a máquina municipal e estadual. Ninguém acreditou! O governador José Maranhão destacou que “foi a maior surpresa e satisfação que tive naquele pleito”.

A Gestão “Por Amor a Areia” – 2001/2004

Com a vitória, Ademar formou o seu secretariado tendo por base a gestão anterior. Entre os seus auxiliares destaco Antônio José, Carmita Santos, Mônica Silvana, Genival Sales, José Tavares Sobrinho, Benedito do Nascimento, Pedro Eliziário, Elson da Cunha Lima Filho, Assis Lino, Benedito Ribeiro, Lúcia Araújo, Manoel dos Santos, José Tavares da Silva, José Evaristo, Maria Bernadete Oliveira, entre outros.

Com a experiência da gestão anterior e a vontade de trabalhar do secretariado, Pai Véi iniciou a sua segunda gestão resgatando um projeto crucial para o desenvolvimento da cidade: a construção da Barragem Saulo Maia, com capacidade para armazenar mais de 4,5 milhões de metros cúbicos de água. O projeto da CAGEPA, orçado em R$ 3,75 milhões, tinha sido licitado na gestão Ádria Perazzo em 2000.

O primeiro passo foi a prorrogação contratual e a elaboração do projeto executivo da obra, que ficou a cargo de uma empresa de Brasília. Ao analisar o local das obras, os engenheiros constataram que a barragem poderia ser ampliada e sem nenhum custo a mais. Com isso, a Barragem Saulo Maia foi novamente projetada para armazenar cerca de 9 milhões de metros cúbicos de água, com o mesmo valor de R$ 3,75 milhões.

O segundo passo foi buscar o aporte financeiro. Nessa empreitada, o destaque foi o Senador Ney Suassuna que tinha assumido o Ministério da Integração Nacional. Fui com Ademar falar com o Ministro Ney Suassuna em Brasília, onde relatamos a prioridade e viabilidade da construção da barragem, até como sobrevivência da cidade de Areia e da sua gente.

O Ministro Ney Suassuna se mostrou sensível e disse a Ademar que estaria brevemente na Paraíba para assinar diversos convênios com prefeitos paraibanos e que levaria em conta o pleito de Areia. E foi o que aconteceu: Ney Suassuna assinou vários convênios na Paraíba e o de Areia, no valor de R$ 3,75 milhões, foi o de maior aporte de recursos.

A construção da Barragem Saulo Maia foi a obra mais estruturante dos últimos 30 anos executadas na cidade de Areia e hoje atende até o município de Pilões. Em seguida, já na gestão Paulo Gomes, o município foi contemplado com a construção do novo sistema de abastecimento de água e o novo sistema de esgotamento sanitário. Sem a barragem, essas obras jamais seriam executadas.

Nesse segundo mandato, diversas obras foram executadas e áreas essenciais como a Saúde, Educação, Assistência Social, Agricultura, Infraestrutura, Esporte, Lazer e Cultura não ficaram esquecidas. O destaque foi sempre o pagamento de servidores ao final do mês, a concessão dos reajustes legais, o concurso público e a progressão vertical e horizontal, além dos adicionais dispostos em lei.

Ao concluir o seu segundo mandato, Ademar Paulino de Lima tinha registrado inúmeras obras e benfeitorias em favor da população e avaliação positiva superior aos 75%. Elegeu seu sucessor (Dr. Elsinho Cunha Lima Filho) com uma maioria de 1425 votos. Pai Véi, ainda, foi vice-prefeito no período 2009/2012, tendo assumido a prefeitura nos últimos 6 meses.

Não se pode falar em gestão pública na cidade de Areia, nos últimos 60 anos, sem falar do legado deixado por Ademar Paulino de Lima. Guardo com carinho o tratamento de “filhinho” com o qual sempre fui tratado por Ele. E, também, o seu grande ensinamento aos que colaboraram com as duas gestões e que virou um bordão: “É tudo por AMOR A AREIA.”

* Pedro Freire Filho foi Secretário Geral na 1ª Gestão e Secretário de Administração e Finanças na 2ª Gestão de Ademar Paulino. É jornalista, radialista, especialista em Gestão Pública e mestrando em Gestão.

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AREIA: FESTIVAL CULTURAL DA JUSSARA SERÁ REALIZADO NOS DIAS 23 E 24 DE FEVEREIRO

 FESTJUS-FESTIVAL CULTURAL DA JUSSARA

PROGRAMAÇÃO

Sexta-feira, dia 23

16h.

Desfile da Filarmônica Abdon Milanez pelo bairro, seguido de concerto em

frente ao Centro Paroquial.

18h.

Feira Itinerante do Bairro da Jussara.

19h.

Mesa de debates e depoimentos dentro do projeto Conversas Paralelas,

do Curso de Letras do IFPB, Campus de João Pessoa. Convidadas:

Professora Doutora Analice Pereira, Doutora Eliane da Conceição Silva, da

UFPB, e Mestra Renálide de Carvalho, do IFPI.

21h.

Sarau com artistas do bairro. Convidada especial Lara Lourenço, poetamirim.

Paralelamente à programação estará acontecendo a Feira Itinerante da

Associação do Bairro da Jussara.

Sábado, dia 24

17h.

Feira Itinerante do Bairro da Jussara.

19h.

Mesa de conversas sobre a história da Jussara e suas perspectivas para o

futuro. Convidadas: Professora Tays Melo, mestranda da UFPB, Jeanine

Félix, ativista e agente cultural do bairro, e Gracinha Oliveira, empreendedora e ativista cultural do Convention & Visitors Bureau de

Areia.

21h.

Sarau e apresentações com artistas do bairro.

Paralelamente à programação estará acontecendo a Feira Itinerante da

Associação do Bairro da Jussara.

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MÚSICA EM RITMO DE FORRÓ RETRATA ENCANTOS E BELEZAS DE SOBRADINHO

A canção "Cantando Sobradinho" de autoria do músico forrozeiro sobradinhense Edson Rodrigues, enaltece de forma poética as belezas e riquezas naturais e os atrativos turísticos existentes na terra barragem além de ser um belo convite para cairmos na alegria do forró, conforme afirma Edson.

A composição foi uma das manifestações artísticas contempladas pela a lei Paulo Gustavo de incentivo à cultura no município de Sobradinho e dentro em breve será também gravada em estúdio por Edson, acompanhado pelos seus parceiros José Aleixo (Dedé Sanfoneiro) e pelo experiente zabumbeiro Jerivan da Silva, ex membro da Banda Stilus onde juntos formam o grupo Forró de Pé de Serra Ed Som e Dedé do Acordeon.

Líder do grupo e com mais de anos de carreira musical voltada basicamente para o forró tradicional atuando tanto como compositor, cantor e instrumentista, Edson Rodrigues fundou e fez parte de vários grupos em Sobradinho além de ter se apresentado nos maiores eventos da cidade como o Forró do Vaqueiro e diversas festas populares na região ao longo desses 30 anos.

Para Edson, a música é mais uma forma de valorizar e enaltecer tanta coisa bonita que existe em Sobradinho além do lago e da barragem, como exemplo das serras, dos balneários à beira do rio e tantos outros locais que precisam ser mais divulgados como atrativos turísticos de Sobradinho.

A apresentação da canção para o público está marcada para o dia 24 de fevereiro em um grande show de forró no Mercado Municipal quando a cidade já está em festa pelas comemorações dos seus 35 anos de emancipação política. "Será um momento de valorização dos artistas de nossa terra que por meio do forró, estão divulgando as belezas e riquezas da terra da barragem", disse Edson.
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O REVIVAL DE REGINALDO ROSSI, NO CARNAVAL, NA ACADEMIA E NA MÚSICA POP

Texto Lianne Ceará e Maria Júlia Vieira-Revista Piaui

Dó maior”, pediu Reginaldo Rossi à banda do Domingão do Faustão, num programa transmitido em 2003. O acorde ecoou pelo estúdio. Mesmo a portas fechadas, sob iluminação artificial, o cantor pernambucano não tirou por um instante os óculos escuros. “Olha, nunca mais eu quero saber de você/ pois o imenso amor que eu lhe dediquei/ você não ligou e nem sequer notou…”

O registro é um dos poucos em que Rossi aparece cantando O Pão, primeiro sucesso de sua carreira. A música foi lançada em 1966 em um vinil de doze faixas que leva o nome do cantor. A foto de capa – um Rossi de 20 e poucos anos, cabelo liso engomado, camiseta branca justa –, assim como as melodias e o tema das letras, remetem à estética da Jovem Guarda. Pode-se chamar aquilo de rock’n’roll ou iê-iê-iê. O brega mesmo só viria mais tarde.

É difícil apontar o momento exato da transição entre o jovem rebelde e o adulto romântico, cronista de paixões e dores de cotovelo. Ao longo dos anos 1970, o cabelo alisado voltou ao crespo natural. O look rebelde à la Elvis Presley deu lugar à camisa social com vários botões abertos, corrente à mostra, óculos escuros alaranjados. Terminada a década, o artista era outro, e o público também. Nos anos 1980, vieram os discos de platina e a fama.

A figura ganhou contornos míticos. O Galo da Madrugada, maior bloco de rua do mundo, passeou pelas ruas do Recife no último sábado (10) exibindo um galináceo de 4,5 metros de altura. O bicho vestia óculos escuros e uma corrente no pescoço. Não era preciso mais do que isso para identificar o homenageado, que morreu dez anos atrás, vítima de um câncer no pulmão.

Em Pernambuco, Rossi é cada vez mais celebrado com estátuas e murais (o mais recente foi inaugurado em janeiro, na fachada do Edifício Rostand, em Recife). Suas músicas tocam nos alto-falantes dos mercados populares, nos bares e nas festas de Carnaval, mesmo aquelas frequentadas pela classe média. O brega, antes estigmatizado como um gênero musical vulgar, popularesco, vem conquistando reconhecimento artístico e alcançando um novo público. 

Em 2017, uma lei o consagrou como expressão cultural de Pernambuco. Desde então o governo estadual é obrigado a direcionar parte dos gastos de cultura a eventos que celebrem o brega. Em 2021, o gênero foi reconhecido como patrimônio cultural e imaterial do estado do Pará. 

Há outras iniciativas semelhantes. Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que quer transformar o 14 de fevereiro em Dia Nacional do Brega. A data marca o aniversário de Rossi. Coincidentemente, é quando se comemora em muitos países o Dia dos Namorados, momento propício para desilusões amorosas. No final do ano passado, o músico Ivanildo Marques da Silva, conhecido pelo nome artístico Conde Só Brega, compareceu a uma sessão na Câmara para defender o projeto que homenageia seu ídolo.

“Tudo começou com ele [Rossi] rodando o Brasil e cantando aquela música que todos nós conhecemos”, disse Silva ao microfone, antes de entoar, na frente de deputados e assessores, o hit Garçom, canção mais célebre do brega nacional, lançada no fim dos anos 1980. Como se estivessem num karaokê, a maioria dos presentes se juntou ao coro. “Saiba que meu grande amor hoje vai se casar…” O projeto ainda não foi à votação no plenário.

Até Reginaldo Rossi despontar no cancioneiro popular, brega não era mais do que um adjetivo depreciativo, usado para se referir a tudo que se considerava cafona, ridículo ou simplesmente interiorano. Ainda é assim, mas a palavra ganhou nova dimensão. “Ele tem o mérito histórico de ter assumido o brega como substantivo”, atesta Paulo César de Araújo, pesquisador e autor do livro Eu não sou cachorro não: música popular cafona e ditadura militar, publicado em 2002. “Foi uma forma de reivindicar essa palavra.”

O livro trata do contraste que sempre marcou o brega: embora fosse um gênero popularíssimo, nunca recebeu atenção da crítica especializada. “Ele foi o sustentáculo de muitas gravadoras”, argumenta Araújo. “A Philips, por exemplo, gravava no selo azul, de maior prestígio, Caetano, Gil, a nata da MPB. Na Polydor [sua subsidiária], gravava Odair José, José Evaldo Braga. Esses artistas do brega vendiam milhões pra que o Caetano pudesse gravar seus discos sofisticados que vendiam, na época, 30 mil, 40 mil cópias.”

Rossi, Pitter e Braga eram artistas do povão. Uma categorização marcada pelo preconceito de classe, e que indica não se tratar de uma arte digna de apreciação séria. “Há uma dificuldade social em entender a periferia como lugar de produção de cultura”, diz Tiago Soares, pós-doutor em comunicação e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

 Autor do livro Ninguém é perfeito e a vida é assim: a música brega em Pernambuco (2017), Soares faz parte de uma leva de acadêmicos que vêm fazendo um resgate do brega, associando-o a fenômenos sociais e – no caso de Reginaldo Rossi – raciais. O professor argumenta que, com seus cabelos, o Rei do Brega acenava à estética “black is beautiful” dos anos 1970. Pobreza e racismo, diz Soares, contribuíram para a estigmatização do gênero brega-romântico.

O filho do cantor, Roberto Rossi, concorda. Ele diz que o pai nunca negou sua negritude. “Mesmo na época da Jovem Guarda, quando ele alisava o cabelo, não era porque ele queria ser branco. Era apenas um modismo.”

Com mais de quarenta álbuns gravados, Rossi foi premiado com discos de platina, ouro e diamante. Uma carreira profícua. O segredo do sucesso, segundo ele próprio formulou numa entrevista a Jô Soares em 2010, estava na simplicidade das canções. “Essas músicas todas falam coisas do povo. Não tem complicação, não tem metáfora, não tem teorema de Pitágoras.”

Roberto – que também é músico e não tira os óculos escuros – tem uma explicação mais sintética para o sucesso perene do pai. “O brega não sai de moda porque o amor não sai de moda.” Hoje, ele pondera, não é só o povão que escuta brega. Afinal, “quando o chifre dói, o diploma cai da parede.” 

Duda Beat, cantora pop nascida no Recife, conta que cresceu ouvindo Reginaldo Rossi. Costumava vê-lo em programas de tevê quando voltava para casa depois da escola. Ela diz que o brega foi uma das influências no seu jeito de compor e de cantar. Assumir esse parentesco talvez fosse motivo para algum constrangimento anos atrás. Hoje o gênero é abraçado com certo orgulho por artistas jovens. “O brega também é pop”, explicou Duda à piauí. 

Otto, outro músico pernambucano de uma geração recente, recebeu das mãos de Rossi, em 1999, o prêmio de artista revelação da MTV. Tempos depois, no programa Altas Horas, da TV Globo, ouviu o Rei do Brega dizer: “Eu vejo no Otto o Reginaldo Rossi de 20 e poucos anos.” Na época, Otto já tinha trinta e lá vai bolinha, mas sentiu-se engrandecido com a comparação.

Agora com 55 anos, Otto entende com mais clareza sua relação com o brega. No ano passado, deu início a uma turnê em que canta exclusivamente canções de Rossi, uma homenagem póstuma ao ídolo. Tomado pelo espírito brega, ele elaborou uma hipótese sociológica para o revival do gênero: segundo ele, o brega tem se beneficiado do fato de que, com as redes sociais, as pessoas passaram a ter mais facilidade para se abrir e expor sentimentos. Há algo de nobre na dor e na humilhação compartilhadas.

 “A gente tá percebendo que o mundo todo é brega”, ele explica. “Todo músico, todo artista, toda performance. O brilho é brega, o funk é brega. O brega é tudo que você quis usar e não usou, tudo que você quis cantar e não cantou, o que quis dançar e não dançou. Brega é o que você sempre quis ser.”

A turnê foi idealizada na pandemia. Otto trocou sua indumentária habitual – camiseta e calça jeans – por camisas de alfaiataria, sempre com alguns botões abertos, e óculos escuros. Ele conta que não precisou dar uma nova roupagem às músicas para que elas fossem bem aceitas pelo seu público. “Muito pelo contrário, o rei continua atual. Não precisei mudar nem o tom.”

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CANÇÃO ADOMIGADA-83 ANOS DE DOMINGUINHOS

12 Fevereiro: Aniversário de Seu Domingos. Estaria hoje fazendo 83 anos. A festa no céu, justa e merecida, deve estar bonita. Saudades do Mestre.Imenso músico, enorme gente. Difícil saber qual o maior Domingos.

CANÇÃO ADOMINGAGA – xico bizerra e beto hortis

alumia a noite escura teu abrir-fechar de fole 

a tristeza escapole, adomingas corações 

escancaras alegrias quando abraças a sanfona 

és o dono, ela é a dona do aconchego das canções 

brancas-asas, sabiás, pretos-assuns 

se enternecem sob o céu de garanhuns 

e os acordes que acordam melodias 

lembram os dias de um nenê que se adomingou 

e o xodó do teu tocar ilumina e toca em frente 

a semente que pra nós luiz deixou

quem me levará sou eu, isso aqui ‘tá bom demais 

com essa paz abri a porta para o amor 

quanto chão de alegria já pisaram esses teus pés? (TEXTO XICO BIZERRA)

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DONA TEREZINHA E O INÍCIO DA PASSAGEM PARA O PLANO ESPIRITUAL

A cidade onde nasci, Areia, na Paraíba do Norte, é território de mulheres fortes. Nas pontas de rua, como é chamada a periferia e seus arredores, mulheres valentes criaram seus filhos e filhas, seus netos e netas, seus agregados e agregadas, amigos e parentes. 

A vida, em um tempo não muito longe, nem estranho, era a vida em comunidade. As mães teciam uma rede de apoio e solidariedade tão bem nutrida que cada uma sabia das carências das outras, dos intermináveis problemas de uma vida de necessidades.

Quando minha mãe chegou na Rua do Bode, me carregando a tiracolo, encontrou guarida no seio daquela comunidade.  Crescemos como todas as crianças dali cresciam: abrigados e cuidados por dezenas de mães solidárias. Dona Terezinha morava um pouco mais abaixo de nossa casa na ladeira do bode. Ela e Seu Tião eram moradores mais antigos e referência de sensibilidade e gentileza. Abriam as portas de sua casa nós. Nos tratavam como tratavam seus filhos. Repartiam sua comida conosco, no trato de nos preparar para a vida.

Hoje, Dona Terezinha iniciou sua passagem para o plano celestial. Levou consigo as alegrias de uma vida dedicada ao próximo. Guardou consigo todas as dores que uma mãe pode esconder dentro do seu coração. Alguns de seus amores foram arrancados de si sem pena nem permissão. Seus olhos choraram de dor, sua alma, firme e serena, avançou sobre os vales sombrios. Dona Terezinha sustentou as intempéries. Dona Terezinha não abandonou o posto. Dona Terezinha fortaleceu seu abraço.

Estou vivo, e já disse tantas vezes, por conta de sua percepção. Ela sabia que, no mais longe tempo de minha infância, eu estava com fome. E me acolheu com comida repartida do prato de seus filhos. Comemos no mesmo prato até. Lambemos os dedos. Sobrevivemos, homens e mulheres donos de nosso presente.

 Choro por vê-la ali, como se dormisse. Me alegro por ter recebido o abraço mais apertado, o afago mais longo, a palavra mais fértil, o olhar mais amável. Junto com seus filhos e filhas e netos e netas, agradecemos tão profícuo coração. Dona Terezinha é daquelas que não precisam pedir licença para entrar no céu. Tem parte com a Divindade.

Texto: professor mestre doutor Aderaldo Luciano

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DOMINGUINHOS O APRENDIZ QUE SUPEROU O MESTRE

O dia 12 de fevereiro está marcado na história dos pernambucanos e brasileiros, especialmente dos garanhuenses. Nesta data, em 1941, nasceu José Domingos de Moraes, o Dominguinhos, filho ilustre de Garanhuns e que conquistou o mundo com um instrumento no peito e muita criatividade nas canções que entoou com orgulho.

Se fosse vivo o mestre Dominguinhos estaria completando 83 anos.

Nascido em Garanhuns, o músico iniciou a carreira ainda jovem, quando formou um trio ao lado de dois irmãos e passou a se apresentar em feiras, bares e hotéis. Em uma dessas oportunidades José Domingos conheceu Luiz Gonzaga, que se tornou padrinho do sanfoneiro ao longo dos anos. Dominguinhos teve uma carreira ascendente, tocando ao lado de grande nomes da Música Popular Brasileira a exemplo de Maria Betânia e Caetano Veloso. 

O artista faleceu em 23 de julho de 2013, em São Paulo, mas só em setembro do mesmo ano, seus restos mortais chegaram a Garanhuns, onde. foi sepultado no Cemitério São Miguel, como sempre desejou. 

ARTIGO NEY VITAL-Carrego comigo o compromisso e responsabilidade de ter ganho o título homenagem Amizade Sincera-no Festival Viva Dominguinhos realizado em Garanhuns. Uma imensa honra na minha trajetória profissional de jornalista e radialista.

Se estivesse vivo, Dominguinhos completaria 83 anos neste domingo, dia 12 de fevereiro.

Ícone do forró e da cultura brasileira, o cantor, compositor e sanfoneiro Dominguinhos foi nomeado herdeiro artístico de Luiz Gonzaga pelo próprio rei do baião. E, apesar de ter feito jus ao legado, Dominguinhos foi além, transitando por vertentes como bossa-nova, choro, bolero e jazz.

“José Domingos de Morais, o Dominguinhos, filho de Francisco Domingos e Dona Maria de Farias, nasceu no dia 12 de fevereiro de 1941,  lá pras bandas das terras de Garanhuns, cidade serrana, no estado de Pernambuco. Seu pai, conhecido também como mestre Chicão, foi um famoso tocador e afinador de fole de oito baixos, nascendo daí uma infância ligada a um mundo musical, com certeza, um mundo de simplicidade, reflexo da região rústica e da ingenuidade das pessoas que compunham aquela realidade social.” 

O radialista e escritor José Lira, 80 anos aponta que Dominguinhos "foi em vida e continua encantando as mais variadas plateias, indo dos exigentes e aficcionados dos festivais de jazz aos dançadores de forrós pé-de-serra e que foi uma criança nordestina que trabalhou o solo agreste, ‘puxando cobra pros pés’, num dizer bem nosso, e cedo, junto com os irmãos, tocou nas portas dos hoteis, nas praças ou em festinhas populares, ao som da sanfona, do pandeiro e do melê” 

José Domingos de Moraes, filho de Francisco Domingos(Chicão dos 8 baixos) e Maria de Farias, o Dominguinhos, nasceu no dia 12 de fevereiro de 1941, lá prás bandas das terras de Garanhuns, cidade serrana, Estado de Pernambuco, portanto, foram mais de sete décadas vividas. Dominguinhos faleceu no inicio da noite de 23 de julho de 2013.

Seu pai também conhecido como Mestre Chicão, foi um famoso tocador e afinador de sanfona de 8 Baixos, nascendo daí uma infância ligada ao mundo musical com certeza, um mundo de simplicidade, reflexo da região rústica e da simplicidade que compunha aquela realidade social.

A vida de Dominguinhos veio sofrer mudanças de rumo quando aos 9 anos conhece Luiz Gonzaga. Aos 13 vai para a cidade do Rio de Janeiro (na época Capital Política do País) e recebe do Rei do Baião uma sanfona de presente. A partir daí as coisas foram acontecendo num ritmo surpreendente, quer na vida particular, quer na vida musical, pois o próprio artista confessou que não tinha grandes projetos para o futuro, tocante ao saber artístico.

Luiz Gonzaga sempre lembrou a Dominguinhos certo compromisso com nossas raízes. Seu Luiz conhecia de perto a potencialidade do afilhado e por isso temia que o filho do mestre Chicão enveredasse por outro caminho diferente da semente plantada lá pelos anos quarenta.

Explica-se: o grande centro urbano dera condições ao menino Dominguinhos de vivenciar uma situação musical onde despontavam nomes famosos que participaram da Época Ouro do Rádio Brasileiro. E ainda jovem, 18 anos, já estava o nosso sanfoneiro aos microfones celebres das Rádio Nacional, Mayrink Veiga e Tupi do Rio de Janeiro.

A virtuosidade ostentada por Dominguinhos é certo que ocorreu por duas vertentes: primeiro pelo talento que latejava dentro de si e veio explodir no momento certo; segundo, pela experiência de viver ao lado de grandes instrumentistas como Orlando Silveira, Chiquinho do Acordeon e outros nomes da música popular brasileira.

Então Pedro Sertanejo, pai de Osvaldinho, prestigiou esse talento, abrindo as portas de sua gravadora para o primeiro disco, em 1964.

Quem teve a felicidade de conhecer de perto o trabalho de Dominguinhos, como também a grande figura humana que ele é (foi), descobrirá logo de início seu traço característico: A humildade. Humildade que o leva a passar um bom espaço de tempo sentado num desprestigiado tamborete, em cima de um caminhão, dedilhando a sanfona para si, à espera de que o som seja consertado para uma apresentação numa periferia ou humildemente na postura do gesto, envergando um "Smoking"para receber mais um Prêmio Sharp, considerado o Oscar, no palco do Teatro Copacabana, no Rio.

O escritor Braulio Tavares diz que Dominguinhos tinha "o poder multiplicador do gênio". "Um grande artista não cria consumidores, cria discípulos e futuros mestres. Dominguinhos foi discípulo de Luiz Gonzaga e inovou a arte do mestre. Essa é a diferença entre o artista que cria e o que se apropria".

Eis o perfil desse artista nordestino, de falava cadenciada como uma toada romântica e de olhar triste; de mansidão que conquista no primeiro aperto de mão e de voz quente quando canta e toca um forró bem balançado.

Em 2002, o músico foi o vencedor do Grammy Latino, com o CD Chegando de Mansinho. Cinco anos depois, voltou a gravar e recebeu o Prêmio TIM (2007) como melhor Cantor Regional, com o disco Conterrâneos 2006. No ano seguinte, concorreu ao 8º Grammy Latino, com o mesmo álbum, na categoria Melhor Disco Regional. Lançou também um álbum, em dueto com o virtuose do violão Yamandu Costa. Em 2008, foi o grande homenageado do Prêmio Tim de Música Brasileira. Em 2010, venceu o Prêmio Shell de Música e, em 2012, um ano antes de sua morte, conquistou o Grammy Latino de Melhor Álbum Brasileiro de Raiz, com o CD e DVD Iluminado.

Em 2012 Dominguinhos foi homenageado em Petrolina, recebeu o Troféu Asa Branca. Dominguinhos lembrou episódios de sua carreira e definiu: " agora é que fico mais emocionado quando escuto os baiões. Tudo é mais bonito"...

Raro é o brasileiro que não tomou conhecimento de Dominguinhos, músico virtuoso, melodista sofisticado, autor de incontáveis canções de sucesso, além de aplaudido cantor. Por todas essas virtudes, ele entrou para a história da música popular brasileira como um dos nomes mais relevantes. Virtuosidade, genialidade e grande humildade são as marcas citadas pelos amigos e músicos de Dominguinhos.

No ano de 2013,  o Mestre Dominguinhos fez a passagem, nome poético para o pesado sentimento da morte. Mas a voz de Domiguinhos ecoa e se vivo (fisicamente) estivesse, completaria 82 anos neste domingo dia 12.

O acordeonista que iniciou a trajetória artística na adolescência, tocando em feiras de cidades do interior de Pernambuco, ainda jovem, foi morar no Rio de Janeiro, onde se reencontrou com Luiz Gonzaga, sua maior referência, a quem passou a acompanhar em boates e gafieiras cariocas. Anos depois, ele se juntou aos tropicalistas, compondo as bandas de Gal Costa e Gilberto Gil.

Ao lado de Gal Costa cumpriu a turnê de Índia, show que, em 1974 percorreu todo o Brasil.

"Que saudade matadeira eu sinto no meu peito. Faço tudo para esquecer, mas não tem jeito."Este é um dos muitos versos que Dominguinhos cantou e tocou com sua sanfona, transformando-a em um instrumento da saudade, sentimento que persiste no coração de todos nós que convivemos com o cantor, compositor e instrumentista.

Convidado que fui para participar de Programas de Rádio na região do Vale do São Francisco destaquei a genialidade, simplicidade, humildade do mestre Dominguinhos. Em especial a gratidão que o discípulo tinha por Luiz Gonzaga.

Destaquei dois filmes que fala sobre vida e obra de Dominguinhos: primeiro o documentário "O milagre de Santa Luzia" (2008), de Sergio Roizenblit, no qual o instrumentista viaja pelo Brasil para mostrar as diferentes formas regionais de se tocar sanfona e os principais sanfoneiros do país.

E aquele que mais me toca: O longa metragem webserie "+Dominghinhos". Neste filme é mostrado “Um Dominguinhos que pouca gente conhece: jazzista, improvisador, seu refinamento musical, sua universalidade".

Assim era Dominguinhos. Grande, muito grande. Simples, muito simples.

Aos 6 anos, José Domingos de Morais, O Dominguinhos ganhou a primeira sanfona do pai, o mestre Chicão. Aos 8, já se apresentava com os irmãos, Morais e Valdomiro, em feiras livres e portas de hotel de Garanhuns-Pernambuco, onde nasceu em 12 fevereiro de 1941.

Dominguinhos foi nome dado por Luiz Gonzaga, com quem gravou, em 1957, Moça de Feira. “O menino chegou de um ambiente diferente e começou a viver num mundo glamourizado. Mas foi sempre na dele, sempre com esse jeitão sertanejo”, diz Gilberto Gil no primeiro episódio da web série +Dominguinhos.

A riqueza dessa história levou os músicos Mariana Aydar, Duani e Eduardo Nazarian a promover encontros entre o sanfoneiro e parceiros, antigos e jovens que tocam e contam histórias vividas nos palcos da vida.

Em uma delas, Gilberto Gil lembra do tour do álbum Refazenda (1975), em que viajaram juntos mais de 20 mil quilômetros. Em certo momento, Dominguinhos pergunta: “Isso é reggae, é?”. Quando o amigo responde que sim, ele rebate: “Que reggae nada, isso aí é um xotezinho sem-vergonha”.

Dominguinhos conseguiu inovar a arte do mestre!

Antes de começar a luta contra o câncer vivido em um quarto do Hospital Sírio Libanês, convalescendo na dor física e da alma que sofria Dominguinhos recebeu uma equipe de jovens cineastas. Estavam ali para colocar a água do Rio São Francisco em uma garrafa. Ou, se fosse preciso, em duas.

Ao lado de Djavan, Dominguinhos chorou. Estava visivelmente abatido pela doença, mais magro do que em outras cenas, e parecia sentir as próprias notas em dobro. "Seu Domingos" tirou a água dos olhos e pediu a Djavan um favor com uma humildade de estraçalhar os técnicos do estúdio. "Se você tivesse trazido seu violão, eu ia pedir pra tocar uma música pra mim".

Quando a música aparece, ela vem em turbilhão. Um Dominguinhos de cabeça baixa, de pé, à frente de um grupo, tocando sua sanfona como se estivesse em transe. De olhos fechados, transpassa dedos uns sobre os outros como se tivessem vida própria, como se nem dos comandos do cérebro precisassem.

No documentário é o próprio músico quem narra sua história: o pai que já tocava na roça, lembra de sua sanfoninha de 8 baixos e do primeiro grupo que formou com dois irmãos no Nordeste, quando tinha 8 anos.

Conta das brincadeiras e dos passatempos. "Eu não matava nem passarinho, por pena." A mãe, alagoana filha de índios como o pai, teve 16 filhos, muitos dos quais "iam morrendo" e sendo enterrados em caixõezinhos que o pai já construía como um especialista.

Seus olhos se enchiam de água depressa, sobretudo depois que ele começou seu tratamento contra o câncer. Em uma noite, deixou o quarto do hospital com seu chapéu de vaqueiro, apertou o botão do elevador e fez o nome do pai.

Momento de emoção no filme quando Dominguinhos chega ao teatro no qual a Orquestra Jazz Sinfônica o esperava e sentou-se para tocar De Volta pro Aconchego. Quando sentiu os arranjos sinfônicos atravessando seu peito, não se conteve e chorou uma lágrima graúda, como se soubesse que, ali, era a hora de se despedir.

Levantou a cabeça, tirou o chapéu e chorou...Assim eu escutei e aqui reproduzo.

Por Ney Vital-Jornalista

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