FIOCRUZ, MST E EXPRESSÃO POPULAR LANÇAM DICIONÁRIO DE AGROECOLOGIA E EDUCAÇÃO

Agroecossistemas, Capitalismo Verde, Cosmovisões, Educação Politécnica e Agroecologia. Esses são alguns dos verbetes do Dicionário de Agroecologia e Educação, que  será lançado oficialmente na próxima terça-feira (12), pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), com apoio da Presidência da Fiocruz, e pelas lideranças do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), e em parceria com a editora Expressão Popular. 

Ao todo, são 106 verbetes, elaborados por 169 autores de 68 instituições distintas – universidades públicas, institutos federais de educação, movimentos sociais, institutos de pesquisa – e com representação de autores da Argentina, Guatemala e México, ao lado de pesquisadores e educadores brasileiros. Para a construção da obra, foram tomados como referências o Dicionário de Educação Profissional em Saúde e o Dicionário da Educação do Campo.

“A EPSJV foi chamada a cumprir essa tarefa por ser uma unidade que, há cerca de 17 anos, vem realizando uma série de parcerias no âmbito da pesquisa e da educação em saúde junto ao MST, o que nos possibilitou ir construindo uma criticidade sobre as possibilidades e desafios que se enfrentam no campo brasileiro”, ressalta a professora-pesquisadora da Escola Politécnica, Anakeila Stauffer, que organizou a obra em conjunto com o também professor-pesquisador da EPSJV, Alexandre Pessoa, e com Maria Cristina Vargas e Luiz Henrique Gomes de Moura, militantes do MST.

Na apresentação da obra, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, ressalta que o Dicionário contribui para o conhecimento sobre a multiplicidade de experiências nacionais e locais que dão vida ao conceito de Agroecologia. “Resultado de um esforço coordenado, não se trata de uma simples reunião de temas, mas de um projeto integrado baseado em amplo diálogo que envolveu a produção coletiva da obra. O próprio processo de sua construção foi orientado pela perspectiva de se construir conjuntamente uma Pedagogia da Agroecologia”, afirma.

CONSTRUÇÃO DO LIVRO: O dicionário reuniu uma série de estudiosos e militantes da área, que contribuíram no processo de concepção e elaboração dos verbetes. 

Desde o início, eles propuseram a construção de eixos fundamentais, temas e verbetes que pudessem delinear um breve histórico dos conceitos relacionados à Agroecologia. “A obra está direcionada à educação de cada educador e educadora que não está responsável, somente, pela educação de novas gerações, mas também por sua autoeducação. Se somos produtos de um tempo histórico, também podemos transformar a forma como esse mundo é”, aponta Anakeila.

Na visão de Alexandre Pessoa, a experiência de construção coletiva do dicionário é fruto da convergência de movimentos sociais do campo, da floresta, das águas, das periferias e comunidades urbanas, sujeitos políticos e pedagógicos que lutam pela promoção da saúde e da vida e pela emancipação social. 

“Diante da grave crise ecológica e de destino, a agroecologia, enquanto processo que envolve ciência, trabalho camponês e movimento popular, se apresenta com uma emergência, uma vez que precisamos, com urgência, superar as relações de exploração, opressão e destruição entre capital-trabalho e capital-natureza. Frente ao atraso das monoculturas das terras e das mentes, o dicionário é uma expressão de resistência e compromisso com o esperançar”, afirma.

Para Anakeila, o tema da Agroecologia é de suma importância, pois reúne tanto as práticas e os conhecimentos provenientes da base camponesa e de distintos povos originários, como os conhecimentos científicos diversos, as relações sociais, a busca da superação de relações de opressão e exploração, as lutas políticas e as práticas educativas pautadas em movimentos populares. 

Segundo ela, a Agroecologia coloca no centro do debate as origens, junta ciência e ancestralidade, busca romper com o socio metabolismo imposto pelo capital e contribuir na constituição de novas relações na direção da emancipação humana. 

“No que tange ao enfrentamento ao capital, ela se torna mais uma ferramenta de denúncia da perversidade da forma de produzir imposto pelo capital no campo e nas cidades, com a privatização dos bens comuns, a destruição da natureza, a concentração da terra, os pacotes tecnológicos que implementam um verdadeiro deserto verde e o consumo exacerbado de agrotóxicos”, aponta.

No entanto, a organizadora contrapõe que a Agroecologia não serve somente de denúncia, mas também de anúncio. “Anúncio da possibilidade de criação de relações mais horizontalizadas no processo de produção que se institui a partir da organização coletiva popular, na instituição de uma relação mais saudável e respeitosa com a natureza, colocando o ser humano como parte constitutiva dessa natureza e não como aquele que a domina e explora”, explica. E dessa forma, a Agroecologia se constitui, de acordo com Anakeila, como a alternativa possível para a produção de alimentos e de matérias-primas, assim como para o restabelecimento do metabolismo socioecológico. 

Na visão de Luiz Henrique, a sociedade vive em um período histórico em que as formas de exploração capitalistas do ser humano e da natureza produzem cada vez mais destruição e sofrimento. A natureza, segundo ele, é vista como inimiga e deve ser constantemente combatida. 

“O agronegócio, por exemplo, como expressão capitalista de organização da agricultura, se expõe cada vez mais como motor que movimenta e articula o desmatamento, a queimada, o envenenamento sistemático do meio ambiente e das pessoas por meio dos agrotóxicos, o consumo insano da água e a transformação de milhões de hectares em produtores de commodities, não de alimentos”, reafirma.

Nesse contexto, Luiz aponta que as forças populares têm produzido soluções concretas para as necessidades sociais e ecológicas. 

“A soberania alimentar, a agroecologia e o cuidados dos bens comuns, como a terra, a água e a biodiversidade, são bases de uma sociedade onde as pessoas e a natureza estão no centro, não o lucro. O abastecimento das famílias trabalhadoras com alimentos saudáveis – só possível a partir da realização da reforma agrária popular – é hoje um dos objetivos centrais de um projeto popular para nosso Brasil”, defende. 

E acrescenta: “O objetivo desse dicionário não é catalogar a totalidade da agroecologia. É, sim, popularizar os conceitos, as categorias e as técnicas agroecológicas que permitem justamente pensar esse novo projeto de campo e sua relação com o projeto de país”.

Segundo Maria Cristina, nos últimos anos, o MST tem intensificado a formação de educadores das escolas de educação básica em torno do tema Agroecologia, pois, na visão dela, a educação escolar pode contribuir para o fortalecimento da Agroecologia e da agricultura camponesa como modo de vida.

“Temos o grande desafio de inserir nos processos escolares conhecimentos que possam superar a forma tradicional com que é tratada a história da agricultura e a ecologia. Nesse sentido, a produção de materiais que contribuam para subsidiar os educadores e educadoras é fundamental”, aponta.

Cristina afirma que, nesse contexto, já existem outras duas obras pela Editora Expressão Popular: De onde vem nossa comida? e Agroecologia na Educação Básica. “Agora estamos com essa importante obra construída a muitas mãos. Seguimos esse caminho de dialogar com as inúmeras entidades e pessoas que integram a construção política pedagógica e científica da Agroecologia e sua interface com a educação”, disse.

“Em um momento de profunda degradação ambiental, da mercantilização da vida, da destruição dos laços e da solidariedade humana, enfim, de exacerbamento do modo de vida aniquilador produzido pelo capitalismo, trazer uma obra como essa é um oxigênio que nos fornece a práxis para a construção de outras formas de ser nesse mundo”, conclui Anak

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GILBERTO GIL TOMA POSSE COMO IMORTAL DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

O cantor, compositor e ex-Ministro da Cultura, Gilberto Gil , de 79 anos, tomou posse nesta sexta-feira (8) como membro "imortal" na Academia Brasileira de Letras (ABL).

Gil passou a ocupar a Cadeira 20 da Academia, sucedendo o acadêmico Murilo Melo Filho, que foi advogado, escritor e um dos grandes jornalistas brasileiros da segunda metade do século XX.

Em seu discurso de posse, Gil lembrou que é o primeiro representante da música popular brasileira a tomar posse na academia.

"Entre tantas honrarias que a vida generosamente me proporcionou essa tem para mim uma dimensão especial, não só porque aqui é a casa de Machado de Assis, um escritor universal, afrodescendente como eu, mas também porque a ABL, fundada em 20 de julho de 1897, representa mesmo para quem a critica a instância maior que legitima e consagra de forma perene a atividade de um escritor ou criador cultura em nosso país", afirmou o novo "imortal".

"A Academia Brasileira de Letras é a Casa da Palavra e da Memória Cultural do Brasil. E tem uma responsabilidade grande no sentido de fortalecer uma imagem intelectual do país que se imponha à maré do obscurantismo, da ignorância, e demagogia de feição antidemocrática", disse ainda o compositor.

"Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora. Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais da Internet, e a questão merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos", acrescentou.

"A ABL tem muito a contribuir nesse debate civilizatório. E eu gostaria, aqui, efetivamente, de colaborar para o debate, em prol da cultura e da justiça", disse ainda Gil.

A posse ocorreu no Petit Trianon, no Centro do Rio. A eleição de Gil para a Cadeira 20 da ABL foi em novembro do ano passado, quando o ícone da música brasileira recebeu 21 votos.

A cadeira 20 da ABL tem como patrono Joaquim Manuel de Macedo, e o fundador foi Salvador de Mendonça. Também a ocuparam Emílio de Meneses, Humberto de Campos, Múcio Leão, Aurélio de Lyra Tavares e Murilo Melo Filho, que faleceu em 2020.

O artista é, atualmente, o segundo negro a ocupar uma cadeira na ABL. O outro imortal é o escritor e professor Domício Proença Filho, que foi presidente da academia em 2016 e 2017.

TRAJETÓRIA: Gilberto Gil é um cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor musical cuja obra se confunde com a própria música brasileira. Entre 1998 e 2019, ele recebeu 9 prêmios Grammys, segundo a sua página oficial. Em 1999, foi nomeado "Artista pela Paz", pela Unesco.

São dele os clássicos "Aquele Abraço", "Vamos Fugir", "A Novidade", "Cálice", "Esotérico", "Divino Maravilhoso". Ele tem uma extensa discografia com mais de 60 álbuns e quase 4 milhões de cópias vendidas.

Gilberto Gil também escreveu e publicou livros sozinho e em parceria com outros autores. Entre as obras estão “Gilberto bem Perto”, “Disposições Amoráveis” e “Cultura pela palavra: artigos, entrevistas e discursos dos ministros da cultura 2003-2010”.

Em 2001, Gil foi nomeado embaixador da ONU para agricultura e alimentação. Ele também foi ministro da Cultura do Brasil, entre 2003 e 2008, durante dois mandatos do ex-presidente Lula.

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CIBELE, FILHA DO SAUDOSO POETA ZÉ LAURENTINO LANÇA LIVRO QUE MARCA ENCONTRO DE FICÇÃO FEMINISTA E LITERATURA DE CORDEL

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Jovem negra matuta do interior nordestino, Nobelina é extremamente audaciosa. Ela busca estudo, liberdade e igualdade de gênero, uma verdadeira feminista em plena década de 1960. É esta protagonista inspiradora que dá nome e conduz o enredo do romance de estreia da escritora e poetisa paraibana Cibele Laurentino.

Herdeira de José Laurentino, um dos maiores poetas do Nordeste brasileiro, Cibele fez da cultura local a maior inspiração para suas produções. Nascida no berço da literatura de cordel, foi a personagem do poema homônimo do pai “Eu, a cama e Nobelina” que ganhou vida pelas mãos da escritora.

Tanto no poema como no livro, Nobelina é uma jovem belíssima e humilde, que deseja ser dona do próprio destino. Na contramão de sua vontade, ela foi criada para se tornar a mulher ideal diante de uma sociedade neocolonial, machista e patriarcal: esposa e dona de casa exemplar.

Ao ganhar uma história para si, a personagem mostra força. Com personalidade visionária, quebra barreiras para realizar o sonho de ser professora e, por meio da educação, fazer a diferença naquela sociedade conservadora. O que ela não esperava era se apaixonar e agora precisa escolher entre um futuro promissor ou o destino que lhe foi imposto.

— Oxe, mãe! Não quero ter a sua vida. Quero estudar, ser professora, ganhar meu dinheiro. Ser independente. — Saiu chorando, murmurando pela roça, pensando em uma forma de mudar a ideia do pai. (Nobelina, pág. 30)

Apesar de a história se passar no nordeste brasileiro, a autora quer mostrar que assuntos como misoginia, machismo, homofobia e violência doméstica continuam presentes em todos os lugares.

Com ilustrações de Alberto Dias, a obra ainda evoca as riquezas culturais do povo nordestino, destaca a religiosidade, devoção às tradições locais e a autenticidade do folclore. Cibele Laurentino também presenteia os leitores com a riqueza linguística do dialeto matuto, a partir de expressões populares.

Cibele Laurentino nasceu em Campina Grande, Paraíba é formada em gestão em turismo, cursa letras e é estudante de escrita criativa. O gosto pela leitura e escrita começou na infância, por influência do pai: é filha do saudoso Zé Laurentino, poeta, cordelista e escritor. Além disso, conviveu com poetas populares, cordelistas, cantadores de viola e emboladores de coco.

“Cactus – Poesias, sentimentos e emoções” foi seu primeiro livro publicado, no qual a poesia é explorada por meio de sentimentos, momentos e dores de forma modernista. Já “Nobelina”, publicado pela Plus Editora, é seu romance de estreia e agraciado pelo Prêmio Maria Pimentel.

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O CORAÇÃO SELVAGEM DE BELCHIOR EM DOCUMENTÁRIO SERÁ EXIBIDO NESTA SEXTA

Ainda em Sobral (Ceará), ouvindo Ray Charles, Paul Anka, Luiz Gonzaga e João do Vale, um dos 23 filhos de Otávio e Dolores não desgrudava os ouvidos dos auto-falantes, que, no mix do teor pop dos Beatles e a admiração pela Tropicália, lhe fizeram a cabeça. 

Esses ramos de origem estão impressos no documentário Belchior — Apenas um coração selvagem, que traz a assinatura da dupla estreante no cinema, Natália Dias e Camilo Cavalcanti, integrando a programação do 27º Festival É tudo Verdade. 

Além de motivar debate às 15h (via YouTube), o filme terá exibição às 13h na plataforma É tudo Verdade Play (com limitação de espectadores).

O tópico polêmico de que "não estavam querendo debater", como avalia Belchior (o anfitrião para a própria cinebiografia no filme), ou assimilar as novidades da MPB, quando os "novos artistas estavam muito abertos à discussão", serve de propulsão para a história de vida comentada pelo cearense. Atemporal e retirante, como ressaltado na obra, o compositor reitera que veio da poesia para migrar até o mundo da música. Como lírico de referências, cita Baudelaire, Rimbaud e João Cabral de Melo Neto. Vinicius de Moraes facilitou a amizade, por Belchior conhecer justo a poesia dele.

"Belchior é, sem dúvida, um dos grandes nomes da nossa música. É um grande letrista, poeta e compositor. Possui uma obra que atravessa gerações e precisa ser reconhecido como tal. É um artista inquieto, provocador, contraditório, que vai das leituras de poesia e filosofia às conversas na mesa de bar. É um cidadão comum, de coração selvagem", decifra a diretora Natália Dias. 

A partida até São Paulo do jovem Belchior é descrita por ele, que confirma ter usado voo do Correio Aéreo Nacional, tendo por bilhete a obrigação de cortar os cabelos em Salvador, como determinado pelo comandante de voo. Presente em letras de músicas, a exemplo dos trechos "os pés cansados e feridos de andar légua tirana" e "sentado à beira do caminho", a percepção de contínuo movimento é reforçada na trajetória descrita pelo poeta.

"A utopia é, sem dúvida, um caminho de exploração dele. A condição mutante do jovem, a eterna possibilidade de delinquir, como Belchior mesmo diz. Isso é patente em sua obra e é também o que move o filme", explica o diretor Camilo Cavalcanti. Entre os caminhos demandados pelos ouvintes, no filme, Belchior sublinha não ter indicativo "de uma mensagem segura". Destinado a ser doutor, Belchior se apresenta como "cidadão comum, de bons modos... que caminha para a morte, pensando em vencer na vida".

Simpático, ele assume a condição mutante do jovem, dotado de comprometimento político e de bem com o sucesso saudável ("brilhante e bonito") de reconhecimento pela obra. Entusiasta de vinho, charuto e mulheres — "o que se aprende num bom colégio de padres", como ressalta —, Belchior é saudado, ao lado do talento do Circo Teatro Udi Grudi, como dos maiores talentos, em material de arquivo que conta com Elis Regina (que cantou de antiguidade e rejuvenescimento, nas potentes obras Velha roupa colorida e Como nossos pais). 

"Como o próprio Belchior diz no filme, a persona artística é mais importante que a pessoa do artista. Nosso filme olha para a obra, para a potência da mensagem, para o artesanato com que ele cuida das palavras. A vida íntima é um lugar reservado e menos importante para a nossa observação", explica a diretora Natália Dias. Daí, a perspectiva de não falar da morte dele, em Santa Cruz do Sul (RS), em 2017.

Criticando a "arte evasiva", crivada de metáforas, e percebidas em terceiros, Belchior, parte em defesa da fraternidade, investido do terceiro-mundista atento à "capacidade de rebeldia de espírito". Desvinculado da "arte ornamental", o compositor definitivamente não estava "coçando os cachos" (na expressão de Elis) e era obstinado em "desinsular a cultura". Divertido, quando conta anedotas sobre as mazelas que rechearam a chegada na grande cidade, o protagonista, perpetuamente, aposta na invenção de "novos sonhos" que nutram sua poesia seguinte.

No filme, o ator Silvero Pereira participa, enunciando trechos de Sujeito de sorte, entre outros. "Silvero é um grande artista que embarcou nessa viagem com a gente de forma muita generosa. Ele declama algumas letras e poesias de Belchior. A participação é pontual, mas magistral", observa Natália.

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FEIRA AGROECOLÓGICA DE MASSAROCA SERÁ REALIZADA NESTE SÁBADO (09)

Comercialização de alimentos sem veneno e troca de experiências entre expositores, visitantes e consumidores são alguns dos objetivos da 1ª Feira Agroecológica de Massaroca e Região realizada neste sábado (09), a partir das 6h30, na Praça Principal do Distrito de Massaroca em Juazeiro. 

A feira é um espaço destinado ao escoamento do excedente da produção da agricultura familiar para consumidores/as que também são da zona rural, mas que, às vezes, não produzem aquele produto específico. Além disso, esse espaço fortalece os laços entre as comunidades envolvidas e reforça a importância do consumo de alimentos saudáveis.  

Para comercializar na feira, o/a agricultor/a deve fazer parte dos grupos, associações ou cooperativa, produzindo alimentos de origem agroecológica. 

"Um alimento limpo, que não utiliza agrotóxicos, que não prejudica a saúde, que valoriza a qualidade de vida das pessoas e o trabalho das pessoas. Então, nessa feira agroecológica será encontrado produtos de qualidade, produtos da agricultura familiar, e você faz um contato direto com os/as agricultores/as que produzem. É uma aproximação importante, que garante a segurança alimentar", ressalta o colaborador do Irpaa, Clérison Belém.

Clérison também reforça o diferencial da feira agroecológica. "As pessoas sabem de onde está vindo, a qualidade daqueles alimentos. Isso garante um êxito na feira, porque o consumidor, quando vai no supermercado, mercadinho, não sabe a origem daquele produto que está ali na prateleira, na gôndola. E na feira agroecológica tem esse diferencial, porque existe o critério da produção agroecológica, em que um agricultor também é o fiscal do outro, então eles mesmo sabem qual produto e qual produtor pode comercializar nesta feira".

A presidente do Comitê das Associações de Massaroca e cooperada na Cooperativa Agropecuária Familiar de Massaroca e Região (Coofama), Jousivane Santos, fala sobre a preparação para realização da feira "Nós estamos muito empolgadas, estamos nos reunindo, fazendo a preparação do ambiente, da exposição, do encontro com as pessoas. Vamos conversar, comercializar e trocar (alimentos). Às vezes, a gente não chega a comercializar no momento, mas  divulga o produto".

A comercialização de alimentos orgânicos, produzidos com base na agroecologia, possibilita que as pessoas consumam alimentos de qualidade, sem veneno, que são tão prejudiciais à saúde, e defendidos pelo Governo Federal, como relembra Jousivane "O agrotóxico tomando conta do mundo, o governo dando aval para que isso cresça, sem nenhum pingo de preocupação com a nossa saúde, com a vida das pessoas, com a vida do ambiente".

Em contrapartida à posição do Governo Federal e ao Projeto de Lei (PL) nº 6299/2002, aprovado em fevereiro deste ano pela Câmara dos Deputados, que facilita a abertura do mercado para novos agrotóxicos, ou seja, mais veneno na comida do povo brasileiro, a agricultora Ana Lucia Santos, da comunidade Lagoa do Meio, em Massaroca, destaca a importância de produzir alimentos sem veneno. "Porque a gente está respeitando a vida, a saúde, pensando tanto na nossa saúde, como nas pessoas que vão consumir esses produtos. Como também, o cuidado, a forma como a gente produz, o cuidado com a terra, o solo, com a nossa água, com o meio ambiente em si".

Ana Lucia que produz alimentos com base na agroecologia vai comercializar na feira: galinha de capoeira, maracujá do mato, limão e doce de leite caseiro em calda. Além da comercialização dos produtos contribuírem para a renda da família, a agricultora frisa que "A gente precisa expandir a nossa produção orgânica/agroecológica. Também para fazer esses produtos chegarem ao maior número de consumidores. Levá-los para dentro do distrito vai ser importante para as pessoas se conscientizarem e conhecerem também a diferença entre o produto na produção orgânica/agroecológica e convencional".

Além da feira, pensada para acontecer uma vez por semana, está sendo construído um quiosque no distrito de Massaroca à beira da BR 407, voltado à comercialização dos produtos da Coofama e dos/das agricultores/as da região durante a semana, servindo também como ponto de entrega de encomendas da agricultura familiar. Nesse sentido, o colaborador do Irpaa, Clérison Belém, fala sobre a importância da diversificação de espaços de comercialização para os/as agricultores/as "Então, a gente pensa num trabalho de rede, no trabalho integrado, em que o objetivo final é as famílias comercializarem os produtos de maneira solidária, que possa comercializar nos mercados de ciclos curtos, nas feiras, no porta a porta, nas encomendas e também nos mercados que podem ser um dos consumidores".

A 1ª Feira Agroecológica de Massaroca e Região é resultante de um processo de assessoria técnica realizada pelo Irpaa, através do projeto Pró-Semiárido executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), mediante acordo de empréstimo entre o Governo da Bahia e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida). Fonte: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa

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FESTIVAL DE SANFONEIROS E DE VIOLEIROS VAI ACONTECER ESTE ANO EM PETROLINA, GARANTE PREFEITO SIMÃO DURANDO

O prefeito Simão Durando declarou que este ano vai acontecer em Petrolina a realização do Festival de Sanfoneiros e também o Festival de Violas. Devido a pandemia os eventos não foram promovidos nos últimos dois anos. A programação será divulgada em breve. A informação foi prestada durante a entrevista na manhã desta quinta-feira, 7, na Rádio Jornal.

O evento reúne os  maiores repentistas e cantadores de viola do Brasil. O Festival de Violeiros de Petrolina integra o calendário junino do município é gratuito e aberto ao público.

O Festival de Violeiros de Petrolina nasceu em 1981 como parte das comemorações do aniversário da Rádio Emissora Rural a Voz do São Francisco. Na época, o jornalista Juarez Farias elaborou a programação juntamente com o poeta Zé Moura, o radialista Vinícius de Santana, o padre Gonçalo e o empresário Joaquim Florêncio. Em 1990, com a morte de Juarez Farias, o festival deixou de ser realizado por 4 anos. Foi retomado em 1995 pelos radialistas Zé Cachoeira (já falecido) e Teones Batista. Com a criação da Associação dos Cantadores e Poetas do Vale do São Francisco, em 2006, o festival passou então a ser coordenado por Natanael Cordeiro.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu ano passaddo, por unanimidade, o repente como patrimônio cultural do Brasil. Referência para a identidade da região Nordeste, o repente é conhecido também como cantoria e tem como fundamentos verso, rima e oração.

Os repentistas ou cantadores se espalham pelas capitais e interior dos estados do Nordeste brasileiro e também nas regiões para onde ocorreram migrações de nordestinos. A votação foi feita pelos 22 membros do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão vinculado ao Iphan.

O dossiê de registro elaborado documenta mais de 50 modalidades de repente, nas quais estão incluídos os versos heptassílabos, cuja acentuação tônica obrigatória está na sétima sílaba; e versos decassílabos, em que o acento obrigatório está na terceira, sexta e décima sílabas de cada verso.

Com o reconhecimento pelo conselho consultivo, o repente foi inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão, onde também estão catalogados bens como a roda de capoeira, o maracatu nação (PE), o carimbó (PA) e a literatura de cordel. A partir de então, o repente passa a ser alvo de políticas públicas para a salvaguarda da manifestação, que devem incidir ainda sobre um universo de bens associados que inclui a embolada, o aboio, a glosa e a poesia de bancada e declamação.

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NASCIMENTO OFICIAL DO RÁDIO É 6 DE ABRIL 1919. RÁDIO CLUBE PERNAMBUCO FOI A PIONEIRA

 

É lei. Em Pernambuco hoje é comemorado o Dia Estadual do Rádio. A data comemorativa relembra a primeira transmissão por radiodifusão registrada no Brasil, que ocorreu no Recife no ano de 1919.

A transmissão que inaugura a chegada da radiodifusão ao país foi realizada pela Rádio Clube, fundada naquele mesmo dia por jovens que estudavam eletricidade e telegrafia. O acontecimento foi registrado, na época, pelo Jornal do Recife.

Depois do advento da internet comercial, o rádio sofreu uma metamorfose. Ampliaram as possibilidades de produção e escuta. As audiências segmentadas fragmentaram-se em nichos antes não atingidos. Nos sites das emissoras de rádio, os estúdios começaram a ser vistos ao vivo, as reportagens passaram a ser transcritas, ganharam fotos e até imagem em movimento. Na web, qualquer emissora do mundo pode ser ouvida em plataformas dedicadas a isso.

O rádio na rede pode ser sincrônico (em tempo real) e assincrônico, em reportagens gravadas, como acontece nos milhares de podcasts. Concomitantemente, o rádio continua sendo o veículo eletrônico mais instantâneo, íntimo do ouvinte, que trata por “você”, próximo dos acontecimentos e de menor custo.Essas propriedades são tema recorrentes do interesse dos pesquisadores de rádio no Brasil que, além do presente e do futuro do veículo, continuam investigando o passado. 

O nascimento oficial do rádio no Brasil é 6 de abril de 1919. No dia seguinte àquela data, o extinto Jornal de Recife deu a seguinte nota:

“Consoante convocação anterior realizou-se ontem, na Escola Superior de Eletricidade, a fundação do Rádio Clube, sob os auspícios de uma plêiade [reunião] de moços que se dedicam ao estudo da eletricidade e da telegrafia sem fio (TSF).”

A notícia foi localizada em uma microfilmagem do Jornal de Recife, durante pesquisa do professor Pedro Serico Vaz Filho, da Universidade Anhembi Morumbi (UAM), que desde o fim dos anos 1990 investiga a história do rádio. A nova data de aniversário foi corroborada por mais notícias localizadas pelo pesquisador em jornais e revistas, publicados dentro e fora de Pernambuco, inclusive sobre o estatuto da nova emissora.

“Claro que não foi uma rádio com a estrutura que nós temos. Eram jovens estudantes curiosos, que estudavam a radiotelegrafia e resolveram montar uma estação de rádio, [de caráter] bem amador, bem experimental, Mas já deram o título de Rádio Clube de Pernambuco”, disse Vaz Filho em entrevista à Agência Brasil.

Além da investigação em periódicos impressos, o pesquisador reviu a bibliografia a respeito e fez entrevistas com diferentes fontes que testemunharam o funcionamento da Radio Clube ainda na primeira metade do século 20.

“Os preparativos para a fundação da emissora, segundo apuração com o ex-presidente da Rádio, também pesquisador Antonio Camelo, aconteceram na rua das Mangueiras, atualmente rua Leão Coroado, no bairro da Boa Vista”, descreveu à reportagem Vaz Filho. Segundo ele, “a Imprensa Oficial do Estado publicou no dia 7 de abril de 1919, um despacho da prefeitura recifense, doando um pavilhão do Jardim 13 de maio, atualmente Parque 13 de maio para funcionar como sede da Rádio Clube.”

As descobertas de Pedro Vaz Filho sobre a primazia da Rádio Clube confirmam o que o professor, jornalista e radialista, Luiz Maranhão Filho, hoje com 87 anos, sempre defendeu. O pai de Maranhão Filho trabalhou na emissora pioneira. Os dois professores participarão da live organizada pela Alcar.

Durante um encontro de história da mídia realizado em 2019 na capital do Rio Grande do Norte, os pesquisadores especialistas no assunto assinaram a Carta de Natal, onde “avalizam essa decisão os dados apresentados há mais de três décadas pelo pesquisador Luiz Maranhão Filho (UFPE) e validados, mais recentemente, pelo pesquisador Pedro Serico Vaz (Anhembi Morumbi).”

O novo entendimento sobre o nascimento do rádio no Brasil muda o conteúdo das aulas dos cursos de jornalismo, audiovisual e publicidade nas faculdades de comunicação. Até recentemente, a bibliografia especializada reconhecia que a transmissão radiofônica pregressa havia ocorrido de fato naquela data no Recife, mas que a primeira emissora regular seria a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a partir de 17 de outubro de 1923.

A Rádio Sociedade foi fundada por acadêmicos como o médico e antropólogo Edgar Roquette-Pinto que via o rádio como um meio estratégico para levar educação à população, então majoritariamente analfabeta. “O TSF [ sistema de telegrafia sem fio] espalha a cultura, as informações, o ensino prático elementar, o civismo, abre campo ao progresso, preparando os tabaréus [pessoa sem instrução] despertando em cada qual o desejo de aprender”, escreveu Roquette-Pinto em artigo publicado em 1927.

De acordo com Vaz Filho, o líder da fundação da Rádio Clube de Pernambuco foi o radiotelegrafista e contabilista Augusto Joaquim Ferreira, também de perfil intelectual, mas não acadêmico. “Ele e outros jovens pensaram naquela possibilidade como meio de comunicação, não exatamente para levar educação às pessoas, o objetivo era outro: levar informações”, como ainda se dá hoje no rádio escutado no dial dos aparelhos à pilha ou na podosfera acessada pelos serviços de streaming.

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