FALTA DE MEDIDAS DE RACIONAMENTO PARA CONTER CRISE HIDRICA PODE LEVAR A APAGÕES

O Ministério de Minas e Energia (MME) divulgou novas medidas para conter a crise de energia decorrente da forte estiagem. Entre elas está a proposta da redução no valor da conta para consumidores residenciais e de grande porte que reduzirem o gasto. Além disso, existem sinalizações para que a tarifa da bandeira vermelha dobre ainda este ano. 

“Está ocorrendo aí um déficit”, contou ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, “não só por conta do uso das termelétricas, mas também não ocorreu uma redução tão significativa no consumo como era esperado”. Segundo ele, desde que a crise hídrica foi reconhecida, o governo vinha sinalizando com a redução da cobrança de energia elétrica para consumidores que conseguissem reduzir o consumo de energia. 

De acordo com Côrtes, o governo está apelando para a redução do consumo pelo setor público de forma incomum, para tentar remediar a situação de gastos e custos envolvendo a estiagem e o uso de termelétricas. 

“O importante é que essa conta feche no final de cada mês ou de cada ano, não carregando déficits para anos posteriores”, destaca o professor, que explica que a ocorrência de déficits pode levar a um tarifaço sobre a conta de luz. “Se o governo não equacionar adequadamente esses custos, esses aumentos, nós podemos ter que pagar essa conta de uma vez só em 2023”, diz Côrtes. 

Quanto às medidas envolvendo racionamento, o professor acredita que sejam pouco prováveis. Para ele, apesar dos prognósticos anteriores, que alertaram para a atual estiagem, as propostas de racionamento são pouco prováveis por conta de questões eleitorais. 

Dessa forma, a atual gestão possivelmente levará um possível déficit durante o período eleitoral. Ainda segundo ele, isso leva à possibilidade de apagões em certas áreas, devido à alta demanda de consumo elétrico.

 “O racionamento não está no vocabulário do governo, mas a ocorrência de apagões é infelizmente possível”, conclui Côrtes.

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POESIA E CANTORIA NA LUTA ANTINUCLEAR É TEMA DE LIVE NESTA SEGUNDA-FEIRA (30)

Populações tradicionais, ambientalistas e ativistas da região da bacia do rio São Francisco continuam promovendo mobilizações e ações que têm o objetivo de alertar para os perigos que ameaçam a permanência de um dos rios mais importantes do Brasil: o Rio São Francisco.

Nesta segunda-feira (30), às 19h30, será realizada a Roda de Diálogo live com o tema "A Poesia e a Cantoria na Luta Antinuclear". 

A TV Raízes da Cultura e a Pastoral da Comunicação da Diocese de Floresta vem promovendo "Rodas de Diálogo" sobre a possibilidade de instalação de uma Usina Nuclear em Itacuruba, Sertão de Pernambuco, fazendo uso das águas do Rio São Francisco.

Atualmente o interesse em fazer uso das águas do rio São Francisco e instalar a Usina Nuclear tem que passar pela de revisão dos licenciamentos de uso das águas do Rio São Francisco já em vigor, pois um tema tratado é considerar as condições ambientais do rio para a concessão de licenciamentos futuros. 

Nesta direção, tramita na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe), a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 09/2019, de autoria do deputado estadual Alberto Feitosa (PSC), que prevê a alteração do artigo 216 da Constituição Estadual, garantindo as condições para a implantação de uma Usina Nuclear em Itacuruba, município localizado na região do Submédio São Francisco pernambucano.

ITACURUBA:  A escolha de Itacuruba, Pernambuco para a implantação da usina se deu através do Plano Nacional de Energia 2030. Construído pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e lançado em 2007, prevê um investimento de R$ 30 bilhões para a construção de seis reatores com capacidade de produção de 6.600 megawatts. A área de instalação está localizada no Sítio Belém de São Francisco, distante 8 km de Itacuruba, e pertence à Companhia Hidroelétrica do Rio São Francisco (Chesf).


 

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ORAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO EM TEMPOS DE POUCOS RIOS

Escuto o murmurar de suas verdes águas: — Deixai vir a mim as criaturas... E assim foi feito. Falar de desrespeito e depredação tornou-se obsoleto. Denunciar matanças e desmatamentos resultou nulo. Orar e orar. Pedir ao santo do seu nome a sua oração.

Lá do Cristo Redentor da cidade de Pão de Açúcar, nas Alagoas, um moleque triste escutou a confissão das águas. Segundo ele, o Velho Chico dizia:

“Ó, Senhor, criador das águas, benfeitor dos peixes, escultor de barrancas e protetor de homens fazei de mim bem mais que um instrumento de tua paz. Se paz não mais tenho faz-me levar um pouquinho aos que em mim confiam. Paz para as lavadeiras que, em Própria, choram a sua fome de pão. Que, em Brejo Grande, soltam lágrimas pelos filhos mortos no sul do país. Que, em Penedo, já perderam a fé de serem tratadas como gente sã.

Onde houver o ódio dos poderosos que eu leve o amor dos pequeninos. O amor dos que cavam a terra a plantam o aipim. Dos que cavam a terra e usam-na como cama e lençol para sempre. Dos que querem terra para suas mãos, para os seus grãos, para a sua sede. O amor que não é submisso, mas escravizado. O amor que tem coragem de um dia dizer não. Coragem diante das balas e das emboscadas, das más companhias e da solidão.

Onde houver a ofensa dos governos que eu leve o perdão dos aposentados e servidores públicos. O perdão, nunca a omissão. A luta, porque perdoar não requer calar. Perdoar não quer dizer parar. Como minhas águas, tantas e tantas vezes represadas, mas nunca paradas e que, quando em minha fúria, carregam muralhas, absorvem barreiras e escandalizam Três Marias, Xingó e Paulo Afonso.

Onde houver a discórdia dos que mandam que eu leve a união dos comandados. A suprema união dos que sonham com as mudanças, dos que querem quebrar hegemonias e oligarquias. A discórdia dos reis contra a união dos plebeus. Um povo unido é força de Deus, dizia o velho bendito e sejais bendito, Senhor. A união das águas, a união das lágrimas, a união do sangue e a união dos mesmos ideais.

Onde houver a dúvida dos que fraquejam, que eu leve a fé dos que constroem seu tempo. Na adversidade, meio ao deserto e ao clima árido, a fé dos que colhem uvas e mangas em minhas margens. Dos que colhem arroz em minhas várzeas, dos que criam peixes com minhas águas em açudes feitos. A fé dos xocós lá em Poço Redondo. A fé que cria cabras nos Escuriais. Dos que colhem cajus e criam gado em Barreiras e outros cafundós.

Onde houver o erro dos governantes que eu leve a verdade de Canudos. O bom senso dos conselheiros de encontro à insanidade dos totalitários. Os canhões abrindo fendas na cidade sitiada e a verdade expondo cada vez mais a ferida da loucura na caricatura da História. O confisco da poupança e o rombo na previdência. O fim da inflação e o pão escasso, o emprego rarefeito, a dignidade estuprada em cada lar de nordestinos.

Onde houver o desespero das crianças da Candelária que eu leve a esperança das mães de Acari. E aqui, Senhor, te peço com mais fé. A dor dos deserdados, dos que perderam seus pais, filhos ou irmãos, seja de fome, doença ou assassínio, inundai-os com as águas esmeraldas da justiça. A justiça da terra e dos céus. Pintai de verde o horizonte das famílias daqueles que foram jogados mortos em minhas águas. Eles não foram poucos.

Onde houver a tristeza dos solitários que eu leve a alegria das festas de São João. Solitário eu banho muitas terras e em todas, das Gerais, do Pernambuco, das Alagoas e do Sergipe, não há tristeza ao pé da fogueira, nas núpcias entre a concertina e o repente, entre a catira e o baião.. Das festas do Divino ao Maior São João do Mundo, deixai-me levar, Senhor, o sabor de minhas águas juninas e seus fogos de artifícios.

Onde houver as trevas da ignorância que eu leve a luz do conhecimento e da sabedoria. A escuridão dos homens dementes que teimam em querer ferir-me de morte seja massacrada pela luz de um futuro negro, sem água potável, sem terra e sem ar.. Dai-me esse poder, de entrar nas mentes e nos corações, de espraiar-me pelos mil recantos dos que querem mal à nossa casinha, nossa pequena Terra. O homem sábio seja sempre sábio e contamine os povos com ensinamentos de preservação.

Ó, Senhor, dai-me vocação para consolar os que se lamentam de má sorte. Fazei-me compreender porque tanto mal há nos corações. Sobretudo, Senhor, não autorizeis que eu deixe de ser o Rio São Francisco, que há tantos anos não foge do seu leito, espalha e espelha vida em abundância. Que, embora tenha dado, quase nada recebo, que perdoando sempre, continuo sendo morto enquanto todos pensam que serei eterno.”

Foi assim que escutei e assim reproduzo. (Fonte-Aderaldo Luciano-professor Mestre e Doutor em Literatura da Ciência)

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FESTIVAL OPARÁ REÚNE ARTISTAS DA MÚSICA INDEPENDENTE DE BAHIA, PERNAMBUCO, MINAS GERAIS E SERGIPE EM SHOWS VIRTUAIS

Artistas independentes e de gêneros musicais diversos, representando quatro dos cinco estados brasileiros banhados pelo Rio São Francisco, se apresentarão virtualmente na primeira edição do Festival Opará, nos dias 30 e 31 de agosto. O evento será transmitido no canal do Youtube da Opará Produtora Cultural - youtube.com/c/OparáProdutora - sempre às 20h. 

O rio São Francisco foi batizado de rio "Opará", que significa "rio-mar", pelos ancestrais indígenas Caetés. O "rio da integração nacional" é fonte de renda, lazer, cultura, tradição e vida para comunidades ribeirinhas. Geraldo Júnior, produtor da Opará Produtora, pontua que o festival promove um verdadeiro intercâmbio cultural a partir da integração desses artistas que representam a multiculturalidade presente nesses estados banhados pelo Velho Chico.

"O Festival Opará, em sua primeira edição, chega forte, se colocando como mais um espaço de reprodução da música contemporânea brasileira, que tem como objetivo também a busca pela integração entre agentes culturais, do intercâmbio cultural e do valor da formação de conhecimento de mercado, promovendo o desenvolvimento de novos ecossistemas na música. Além de estimular o acesso à diversidade de programação, como também a possibilidade de novas experiências nas formas de interação entre artista e o público", diz.

A "line-up" (atrações) do festival traz os nomes de Dj Werson (BA), Vila Oculta (BA), Afoxé Filhos de Zaze (BA), Lucas Tavlos (BA), Camila Yasmine (PE), Radiola Serra Alta (PE), Julico (SE) e Black Pantera (MG). 

O Festival Opará é uma realização da Opará Produtora Cultural e tem o apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultural do Ministério do Turismo, Governo Federal.

Formações: Continuam abertas as inscrições para quatro novas formações que estão sendo ofertadas gratuitamente pela Opará Produtora: "Faz Teu Beat", com DJ Werson (domingo, 29, às 15h); "Processo de construção em produções audiovisuais", com James  Jonathan (domingo, 29, às 18h); "Mercado da Música", com Alex Pinto (segunda, 30, às 17h); e "Assessoria de Comunicação com foco em Cultura", com Beatriz Braga e Thiago Santos (terça, 31, às 17h). 

As formações serão realizadas online através da plataforma Sympla, por onde também devem ser realizadas as inscrições - https://beacons.page/oparaprodutora. (Ascom/Opará Produtora Cultural)

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AS RAZÕES DO AMOR, CRÔNICA DE RUBEM ALVES

Os místicos e apaixonados concordam em que o amor não tem razões. Angelus Silésius, místico medieval, disse que ele é como a rosa: “A rosa não tem ‘porquês’. Ela floresce porque floresce.”

Drummond repetiu a mesma coisa no seu poema “as sem-razões do amor”. É possível que ele tenha se inspirado nestes versos mesmo sem nunca os ter lido, pois as coisas do amor circulam com o vento. “Eu te amo porque te amo…” – sem razões… “Não precisas ser amante, e nem sempre saber sê-lo”.

Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fossem assim ele flutuaria ao sabor dos teus gestos. Teria razões e explicações. Se um dia teus gestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra.

“Amor é estado de graça e com amor não se paga.” Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que “amor com amor se paga”. O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Nada te devo. Nada me deves. Como a rosa floresce, eu te amo porque te amo.

“Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários… Amor não se troca… Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo…”

Drummond tinha de estar apaixonado ao escrever estes versos. Só os apaixonados acreditam que o amor seja assim, tão sem razões. Mas eu, talvez por não estar apaixonado (o que é uma pena…), suspeito que o coração tenha regulamentos e dicionários, e Pascal me apoiaria, pois foi ele quem disse que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Não é que faltem razões ao coração, mas que suas razões estão escritas numa língua que desconhecemos.

 Destas razões escritas em língua estranha o próprio Drummond tinha conhecimento e se perguntava: “Como decifrar pictogramas de há 10 mil anos se nem sei decifrar minha escrita interior? A verdade essencial é o desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco.” O amor será isto: um soco que o desconhecido me dá?

Ao apaixonado a decifração desta língua está proibida, pois se ele a entender, o amor se irá. Como na história de Barba Azul: se a porta proibida for aberta, a felicidade estará perdida. Foi assim que o paraíso se perdeu: quando o amor – frágil bolha de sabão -, não contente com sua felicidade inconsciente, se deixou morder pelo desejo de saber. O amor não sabia que sua felicidade só pode existir na ignorância das suas razões. Kierkergaard comentava o absurdo de se pedir dos amantes explicações para o seu amor. A esta pergunta eles só possuem uma resposta: o silêncio. Mas que se lhes peça simplesmente falar sobre o seu amor – sem explicar. E eles falarão por dias, sem parar…

Mas – eu já disse – não estou apaixonado. Olho o amor com olhos de suspeita, curiosos. Quero decifrar sua língua desconhecida. Procuro, ao contrário de Drummond, as cem razões do amor…

Vou a Santo Agostinho, em busca de sua sabedoria. Releio as Confissões, texto de um velho que meditava sobre o amor sem estar apaixonado. Possivelmente aí se encontre a análise mais penetrante das razões do amor jamais escritas. E me defronto com a pergunta que nenhum apaixonado poderia jamais fazer: “Que é que eu amo quando amo o meu Deus?” Imaginem que um apaixonado fizesse essa pergunta à sua amada: “Que é que eu amo quando te amo?” Seria, talvez, o fim de uma estória de amor. Pois esta pergunta revela um segredo que nenhum amante pode suportar: que ao amar a amada o amante está amando uma outra coisa que não é ela. Nas palavras de Hermann Hesse, “o que amamos é sempre um símbolo”. Daí, conclui ele, a impossibilidade de fixar o seu amor em qualquer coisa sobre a terra.

Variações sobre a impossível pergunta: Te amo, sim, mas não é bem a ti que eu amo. Amo uma outra coisa misteriosa, que não conheço, mas que me parece ver aflorar no teu rosto. Eu te amo porque no teu corpo um outro objeto se revela. Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes fugidios…Como Narciso, fico diante dele… “No fundo de tua luz marinha nadam meus olhos, à procura…” (Cecília Meireles). Por isto te amo, pelos peixes encantados…

Mas eles são escorregadios, os peixes. Fogem. Escapam. Escondem-se. Zombam de mim. Deslizam entre meus dedos. Eu te abraço para abraçar o que me foge. Ao te possuir alegro-me na ilusão de os possuir. Tu és o lugar onde me encontro com esta outra coisa que, por pura graça, sem razões, desceu sobre ti, como o Vento desceu sobre a Virgem Bendita. Mas, por ser graça, sem razões, da mesma forma como desceu poderá de novo partir. Se isto acontecer deixarei de te amar. E minha busca recomeçará de novo…

Esta é a dor que nenhum apaixonado suporta. A paixão se recusa a saber que o rosto da pessoa amada (presente) apenas sugere o obscuro objeto do desejo (ausente). A pessoa amada é metáfora de uma outra coisa. “O amor começa por uma metáfora”, diz Milan Kundera. “Ou melhor: o amor começa no momento em que uma mulher se inscreve com uma palavra em nossa memória poética.”

Temos agora a chave para compreender as razões do amor: o amor nasce, vive e morre pelo poder – delicado – da imagem poética que o amante pensou ver no rosto da amada…

(Fonte-Rubem Alves, no livro “O retorno e Terno” (Crônicas). 27ª ed., Campinas|SP: Editora Papirus, 2008)

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RIO SÃO FRANCISCO VOLUME ÚTIL DA BARRAGEM DE SOBRADINHO INICIA SETEMBRO COM 47,99%

 A Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) vai aumentar a vazão diária do Lago de Sobradinho de 1.000 m3/s para 1.300 m3/s a partir da próxima segunda-feira (30). Esse quantitativo deve permanecer até nova reavaliação.

Segundo a Chesf, o aumento atende às diretrizes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e se deve à otimização da operação do Sistema Interligado Nacional (SIN), e à necessidade de manutenção do armazenamento do Reservatório de Itaparica, em, no mínimo, 30% do volume útil.

Diante disso, destaca a importância de a população não ocupar as áreas ribeirinhas situadas na calha principal do rio, entre o trecho de Sobradinho até a foz, com o objetivo de garantir a segurança de todos.

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PADRE ANTÔNIO MORENO COMPLETA NESTA SEXTA-FEIRA(27), 39 ANOS DE VIDA SACERDOTAL

Padre Antônio de Jesus Moreno completa nesta sexta-feira (27)  39 anos de sacerdócio. As comemorações estão sendo realizadas realizadas de forma virtual. Todos os anos a data é lembrada pelas paróquias, movimentos sociais e sindicatos. Amigos, fiéis e admiradores enviam as várias formas de gratidão pelos serviços prestados durantes estas décadas de trabalho nas comunidades.

A ordenação aconteceu no dia 27 de agosto de 1982. Natural de Arari, Maranhão Antonio Moreno exerceu ministério nas paróquias Nossa Senhora das Dores em Petrolina, Paróquia São José, (Dormentes, PE) e São João Batista (Afrânio, PE), Paróquia São João Batista, João de Deus, Petrolina,  Paróquia Santa Teresinha (Cohab VI, Petrolina, PE);e Igreja do Bairro José e Maria.

Padre Antonio é doutor em Ciências da Educação pela Universidade Pontifícia Salesiana de Roma, Itália, tendo defendido tese sobre “Educação Profissional e Tecnológica em uma Estratégia de Desenvolvimento Local”. Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Pontifícia Salesiana de Roma, Itália;  Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Itália; Especialista em Gestão do Desenvolvimento Local pelo Centro Internacional de Formação, OIT (Organização Internacional do Trabalho), Torino, Itália.

Em abril de 1991 ingressou através de concurso no Instituto Federal do Sertão, quando ainda era Escola Agrotécnica Federal Dom Avelar Brandão Vilela. Aposentou-se em julho de 2015.

Militante político de fortes convicções democráticas e populares, exerceu o mandato de vereador pelo Partido dos Trabalhadores no período de 2001 a 2004, destacando-se na luta pela implementação do Estatuto das Cidades e Reforma Urbana em Petrolina.

Confira homenagem do professor Francisco José de Lima.

“Não, não pares. É graça Divina começar bem. Graça maior é persistir na caminhada certa, manter o ritmo... Mas a graça das graças é não desistir. Prosseguir firme. Podendo ou não podendo. Caindo embora aos pedaços... Chegar até o fim". (Dom Helder Câmara) 

Caro irmão no sacerdócio e no seguimento de Jesus Cristo, quero neste dia, render graças a Deus pelo dom do seu sacerdócio. Hoje é um dia de ação de graças a Deus porque um homem que tinha seus projetos e sonhos foi há 39 anos misteriosamente alcançado pelo amor e a misericórdia de Deus. Como aconteceu ao profeta Jeremias: “o Senhor se enamorou de ti”. O Senhor te seduziu e tu te deixaste seduzir por Ele e seu projeto de amor. Verdadeiramente o Senhor te olhou nos olhos. Que grande mistério de amor é a vocação!

Deus em seu amor e gratuidade chama a quem Ele quer e pelos caminhos que somente Ele conhece. Tenho certeza de que o senhor se pergunta no íntimo da sua alma: “Porque eu Senhor e não outros”? Essa pergunta esbarra no grande mistério que é o chamado de Deus. A vocação é proposta de amor e somente o amor constitui a única resposta adequada. De fato, somente o amor é a medida que está à altura da dignidade do homem. Este não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se não o experimenta e se não o torna algo seu próprio, se dele não participa vivamente.

A celebração dos seus 39 anos de anos de sacerdócio é a expressão do quanto o senhor, entre alegrias e tristezas, fracassos e esperanças correspondeu ao chamado de Deus. Se ao fazer a memória destes 39 anos vier ao seu coração o sentimento de indignidade e insuficiências humanas, que venha em seu auxilio o socorro da graça de Deus. Se a sublimidade e grandeza desta vocação assustam a sua humana fraqueza, que o auxílio divino venha ao seu encontro. Somente Deus é Santo! Diante de Deus somos todos indignos servos. O único e supremo sacerdote é Cristo. O sacerdote por graça e bondade de Deus participa do único Sacerdócio que é o de Jesus Cristo.

A prova de que a Igreja é divina é que Deus sabe trabalhar com instrumentos frágeis e deficientes. Deus sustenta a sua Igreja contando com a colaboração dos homens, mesmo estes tendo suas fraquezas. Quanto estrelismo e sensacionalismo no nosso tempo! Tentações que arrastam a muitos cristãos leigos e sacerdotes. O senhor, ao longo do exercício do seu ministério, sempre fugiu destas loucuras da nossa época. Com suas homilias, formações, palestras e sobretudo com a própria vida, o senhor é um testemunho vivo de que a razão de ser do sacerdócio consiste em viver para Deus a serviço dos irmãos. É uma aberração um padre narcisista que se considera o centro do mundo e da vida, esquecendo que é um servidor de Cristo e dispensador dos mistérios de Deus. 

Durante estes 39 anos o senhor fomentou e promoveu, com zelo e amor, o protagonismo dos leigos nas paróquias por onde passou. Sempre exortou sobre o perigo de infantilizar e clericalizar os leigos. Estes não são o braço direito da hierarquia eclesiástica ou empregados que somente servem para atender caprichos dos padres ou se confinarem a sacristia. Não! A missão dos leigos se fundamenta no Batismo. Evangelizar é uma missão recebida diretamente de Cristo. Os leigos devem servir a Cristo nos mais variados campos da sociedade civil. Devem ser sal da terra e luz do mundo.

É digno de nota que, numa época onde a Igreja particular de Petrolina contava com pouquíssimos padres e escassos recursos econômicos, o senhor organizou e ajudou a formar diversas paróquias, tanto no aspecto administrativo e econômico, como pastoral. A prova viva disso é que as lideranças leigas que encontramos até hoje nas paróquias são fruto do sério e eficaz trabalho pastoral de todos esses anos anteriores. Longe de qualquer saudosismo: é justo e necessário reconhecer que foi um dos momentos mais dinâmicos e frutuosos da história da nossa querida diocese de Petrolina.

O senhor é um dom de Deus para nossa Igreja particular de Petrolina como homem e como sacerdote. Digo como um homem porque é impossível ser um bom sacerdote, se faltam qualidades humanas essenciais. Uma certa vez perguntaram a um cardeal qual seria o critério essencial para ordenar um sacerdote no mundo atual. Ao que este respondeu: ‘Que seja um ser humano”. Se a dimensão humana de uma pessoa se encontra desfigurada ou atrofiada, a graça não poderá fazer muitas coisas, porque como nos ensina o grande Doutor da Igreja, Tomás de Aquino: “a graça supõe a natureza”.

Dito isso, quero elencar algumas qualidades humanas que o senhor possui e que estão por sua vez ligadas ao ser e ao exercício do ministério sacerdotal.

Em primeiro lugar, o senhor é uma pessoa empática e sensível ao sofrimento das pessoas. A sua casa é uma porta aberta para todas as pessoas, inclusive, para os padres da nossa Diocese a quem o senhor teve sempre uma atitude de respeito e cuidado. Independente de gostos e opiniões pessoais o senhor sempre soube ter atitudes de acolhida e de compreensão para com todos.

Em um mundo carente de valores como a honestidade, o senhor é um testemunho vivo que é possível viver com ética e cidadania. De fato, são 39 anos de trabalho na Igreja e no campo da educação. Somente uma pessoa maldosa ou que desconhece a sua história poderia dizer o contrário. Sim! O senhor é um homem honesto e transparente. O sacerdote pessoalmente inserido na vida da comunidade é responsável por ela e deve oferecer, também, o testemunho de uma total transparência na administração dos bens da comunidade, que ele nunca deve tratar como se fossem patrimônio próprio, senão como algo que deve prestar contas a Deus e a comunidade de fé. Deus seja louvado pelo seu testemunho no tocante a este excelso valor humano e cristão que é a honestidade e a transparência. 

Enquanto no mundo predomina a hipocrisia e a falsidade, o senhor é um exemplo de sinceridade. É curioso que a palavra sinceridade etimologicamente falando se refere a um mel puro. Ou seja, sem cera. O senhor não aprendeu graças a Deus a usar máscaras. Fazer teatro, exibicionismo, hipocrisia, oportunismo e tramar o mal contra as pessoas não faz parte da sua história. 

Nunca esquecerei de uma missa onde o senhor resumiu a sua vida nesta frase: “Deus infinitamente Bom e eu muito pecador”. O senhor apesar das perseguições, calunias e difamações é incapaz de guardar ódio contra quem quer que seja. Deus lhe concedeu mais esta graça! Realmente não cabe ódio no coração de um cristão. Que uma pessoa seja incapaz de sentir ódio e de maquinar o mal contra o próximo é uma dádiva divina. Por trás de toda pessoa maldosa existe uma vida muito infeliz. Somente quem é capaz de amar e perdoar pode ser realmente feliz.

Neste dia, damos graças a Deus pelo dom do seu sacerdócio vivido com fé e fidelidade a Cristo. Deus seja louvado pelo senhor ser um homem fiel à sua consciência, a Deus e a Igreja. Hoje se fala muito no interior da Igreja da obediência, mas, na realidade, a imensa maioria dos cristãos leigos e dos sacerdotes não compreendem o seu verdadeiro sentido humano, teológico e espiritual. Eu estou convencido de que existe uma obediência que concerne a todos: superiores, sacerdotes, bispos e leigos, que é a mais importante de todas, que sustenta e fundamenta todas as demais. E esta obediência, não é a obediência do homem a outro homem, senão a obediência do homem a Deus. É necessário obedecer antes a Deus que aos homens. 

Obedecer cegamente aos homens que detém o poder foi e continua sendo, na história, causa de muitas arbitrariedades e injustiças. Dom Helder dizia acertadamente que obediência cega nem a Deus. Que triste e que irracional quando um sacerdote afirma que” a vontade do superior é a vontade de Deus”. Ou” quem obedece nunca erra”. A obediência aos superiores é legitima somente quando o que estes ordenam está de acordo com a consciência e o Evangelho de Cristo. Fora deste critério fundamental obedecer é um ato imoral e vergonhoso. Nenhuma autoridade está acima de Deus e da consciência do homem.

Por esta razão a verdadeira obediência a Deus implica sofrimento. Cristo, nosso Mestre e Senhor, foi caluniado, difamado e morto porque preferiu obedecer antes a Deus que aos homens. Verdadeiramente, obedecer é morrer. Se trata de confrontar e conformar nossas vontades com a vontade de Deus e deixar que esta última prevaleça. São Basílio dizia que se pode obedecer de três maneiras: a primeira, por medo ao castigo, esta é a atitude dos escravos; a segunda, por desejo de privilégios e prêmios, esta é a disposição dos mercenários; a terceira, por amor, esta é a disposição dos filhos. Deus seja louvado por sua obediência a Cristo e a Igreja.

Hoje é um dia de ação de Graças porque Cristo, por meio do seu ministério, continua presente na vida das pessoas. Obrigado, Pe. Antônio, porque fugindo de toda publicidade e espetáculo o senhor tem dado aos homens e mulheres do nosso tempo o maior tesouro: Jesus Cristo. Cristo é o amigo de todas as horas, inclusive, quando somos incompreendidos, caluniados e difamados pelos próprios irmãos de fé. Assim foi com os profetas, até mesmo com o maior de todos: Cristo, o nosso Mestre e Salvador. Não tenha medo! Não existe solidão quando esta é povoada pela presença de Cristo. O mundo tem esperança porque sempre Deus fará surgir homens capazes de sofrer pela verdade.

A vida humana não se realiza por si só. A nossa vida é uma questão aberta, um projeto incompleto que ainda deve ser terminado e realizado. A pergunta fundamental de cada homem é:  como se realiza isto de tornar-se homem? Como se aprende a arte de viver? Qual é o caminho da felicidade? Cristo é a nossa felicidade.

A maior pobreza de um ser humano é a incapacidade de alegria, o tédio da vida considerada absurda e contraditória. A incapacidade de alegria supõe e causa a incapacidade de amar, inveja, avareza: todos estes são vícios que devastam a vida dos indivíduos e o mundo. A alegria é o antidoto contra a maldade humana. Os ditadores são incapazes de sorrir. Que o senhor continue irradiando alegria apesar das perseguições e calúnias. Como dizia o grande Dom Helder Câmara: “Há criaturas como a cana: mesmo postas no moenda, esmagadas de todo, reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura“.

Que o Senhor te conceda neste dia muitas alegrias. Que te sirva de consolo as palavras de São Paulo:

“Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida de todos os homens! O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças”. (Filipenses 4,4-7) 

*Francisco José  de Lima é professor no Crato-Ceará Graduado em Filosofia pela Faculdade de Ciencia e Letras de Cajazeiras, Paraíba e bacharel em Teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza, Ceará. Mestre em Ciências do Matrimônio e da Família (Espanha).

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