MÚSICAS DE ANTONIO BARROS E CECEU SÃO RECONHECIDAS PATRIMONIO CULTURAL IMATERIAL

A obra de dois grandes ícones da Música Popular Brasileira (MPB): Antônio Barros e Cecéu, está oficialmente reconhecida como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado da Paraíba. A Lei 11.900, de autoria da deputada Estela Bezerra, foi sancionada pelo governador João Azevêdo na última quinta-feira (24) – Dia de São João – e publicada na edição desta terça-feira (29/06) no Diário oficial do Estado (DOE).

Antônio Barros e Cecéu são casados na música e na vida e se apresentam desde 1971, compondo e interpretando mais de 700 obras gravadas por diversos artistas brasileiros, a exemplo de Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Dominguinhos, Gilberto Gil, Alcione, Ivete Sangalo, Fagner, Gal Costa; além dos saudosos Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Genival Lacerda e Marinês.

De acordo com a deputada Estela Bezerra, Antônio Barros e Cecéu representam não só a musicalidade e a cultura do nosso estado. “Eles são a própria essência do povo nordestino. Suas composições atravessam as gerações como a melhor expressão da nossa gente, da nossa terra e do nosso espírito paraibano”, afirmou.

Natural do município de Queimadas, Paraíba, Antônio Barros começou a compor na década de 1950. Após se mudar para Campina Grande, 20 anos depois, ele conhece Mary Maciel Ribeiro, a Cecéu, sua companheira de vida, e obra. O casal se mudou para o Rio de Janeiro, onde a parceria gerou canções como “Homem com H”, gravada por Ney Matogrosso; “Bate Coração”, clássico imortalizado por voz de Elba Ramalho; que fazem parte da nossa cultura musical e popular nordestina.

A lei considera “Patrimônio Cultural” todos os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, em conformidade com o art. 216 da Constituição Federal.

Além de “Homem com H” e Bate Coração”, também se destacam entre as canções mais famosas do casal os clássicos “Por Debaixo dos Panos”, “Procurando Tu”, “Forró do Poeirão”, “Forró do Xenhenhém” e “Óia Eu Aqui de Novo”.
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SÓ A PRESERVAÇÃO PODE ASSEGURAR TRADIÇÃO MILENAR DA PESCA NO RIO SÃO FRANCISCO

A pesca é uma prática de subsistência antiga que vem garantindo o sustento de gerações e gerações durante milênios. Como atividade comercial, é praticada com muita força ao longo de todo o litoral brasileiro, que se estende por mais de 8.500 km de Costa, representando elevada importância social e econômica para uma grande parcela de trabalhadores.

Com definições claras, existem além da pesca de subsistência, a pesca artesanal, praticada diretamente por pescador profissional, de forma autônoma ou em regime de economia familiar. Já a industrial é feita por pessoa física ou jurídica envolvendo pescadores profissionais. Há também a científica, com a finalidade de pesquisa científica e a pesca amadora, praticada com a finalidade de lazer ou esporte.

O problema é que a atividade está sob forte ameaça, isso porque sem a preservação das bacias hidrográficas, a vida aquática é a principal afetada. Na Bacia do rio São Francisco, um relatório elaborado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) após expedição realizada no Rio São Francisco em 2019, com o apoio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), revelou a falta de diversidade de peixes e contaminação de espécies por metais. O estudo indicava que apenas seis tipos diferentes de peixes representavam cerca de 80% das capturas feitas no rio e, em 15 espécies avaliadas foi encontrada uma concentração alta de metais, porém dentro dos limites de tolerância para o consumo humano.

Pescadores creditam tantos problemas à ausência de ações efetivas do poder público, além de outros fatores que se somam a esse cenário alarmante, entre os quais a poluição, despejo de esgoto, construção de barramentos – usinas hidrelétricas, entre outros. “Pesco desde quando tinha oito anos de idade e até hoje a pesca sustenta minha família. Mas ao longo dos anos, a gente, que vive das águas, percebe como os problemas avançam e se tornam ainda maiores. Acho que se todos se esforçassem e se conseguíssemos diminuir a poluição do rio e dos seus afluentes, a realidade seria outra”, revela o pescador Arnaldo Alves da Silva.

De acordo com mapeamento realizado em 2020, verificou-se que, há uma década, o Brasil não faz a coleta e sistematização de dados estatísticos sobre a pesca nacional. O último boletim foi publicado em 2011. Isto significa que não existem informações precisas sobre quanto se pesca no Brasil. A Auditoria da Pesca no Brasil 2020, documento elaborado pela primeira vez pela Organização Não Governamental Oceana, mapeou os 118 principais estoques pesqueiros do país e verificou que apenas sete dispunham de avaliações atualizadas, representando 6% do total explorado comercialmente.

Mesmo sem precisão, devido à ausência de estudos na área, estima-se que a produção da pesca extrativista marinha do Brasil seja algo em torno de 500 mil toneladas anuais. Porém, já é possível afirmar que há um declínio populacional evidente nas espécies exploradas comercialmente. Entre 2010 e 2014, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) conduziu a avaliação do risco de extinção da fauna brasileira.

Os resultados dessa avaliação apontam para 1.173 espécies da fauna ameaçadas, e o grupo dos peixes continentais é o que contém maior número de espécies sob alguma categoria de ameaça (310 espécies). A lista de fauna ameaçada em 2004 (IN MMA 05/2004) revelava um total de 17 espécies de interesse comercial para pesca. Em 2014, 10 anos depois, na lista mais recente de espécies ameaçadas (Portaria MMA 445/2014), esse número saltou para 64, sendo que entre elas permaneceram as 17 previamente listadas. (Fonte-CHBSF-Juciana Cavalcante)

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PROJETO VAI BENEFICIAR COMUNIDADES CARENTES COM REUTILIZAÇÃO DE ÓLEO DE COZINHA

A Polícia Militar da Bahia, através da 75ª Companhia Independente (75ªCIPM), em parceria com o Conselho Comunitário de Segurança Pública (CONSEG/Leste) e 9º Grupamento de Bombeiros Militar de Juazeiro-BA (9GBM), está desenvolvendo o projeto 'Eco-Circular', que vai beneficiar comunidades carentes com a reutilização de óleo de cozinha.

O projeto de preservação ambiental, segundo o presidente do CONSEG/ Leste, Germano Oliveira, tem como base os conceitos da própria Economia, ciência social que estuda a produção, distribuição, e consumo de bens e serviços.

"Todo consumo deve estar pautado na redução, reutilização, reúso, economia e reciclagem; de onde vem a idéia de reutilização do óleo comestível já queimado, o popular óleo de cozinha, portanto, altamente nocivo ao meio ambiente, transformando-o em sabão líquido biodegradável, para ser distribuído a comunidades carentes", ressaltou.

De acordo com o comandante da 75ªCIPM, major José Roberto Sampaio de Sousa, toda comunidade juazeirense deve participar do projeto'Eco-Circular', principalmente as donas de casa. "Façam as doações do óleo já utilizado nas sedes das Unidades Policias de Juazeiro, que apoiam essa importante iniciativa: CPRN, 73, 74, 76CIPM, 3BPM, 9GBM, bem como na 75ªCIPM, em horário comercial".

O comandante da 75ªCIPM, destacou ainda o patrocínio da Agrovale, Sindilojas Juazeiro e Projeto Mandacaru -01. "O projeto 'Eco-Circular' cumpre a função social sob dois aspectos:  a medida em que colabora com o meio ambiente, ajuda a pessoas menos favorecidas a se protegerem contra a Covid-19; justamente num momento sensível, pelo aumento na demanda e preço do produto", concluiu. (Class Comunicação e Marketing)

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LIVE GONZAGUEAR DE QUARTA-FEIRA (30) FAZ HOMENAGEM AOS 91 ANOS DO POETA ZÉ MARCOLINO

O pesquisador e escritor Rafael Lima, autor do livro, “O Rei do Baião e a Princesa do cariri”, onde relata sobre os momentos mais marcantes vividos por Luiz Gonzaga na cidade do Crato, Ceará recebe nesta quarta-feira (30), a compositora Fátima Marcolino, filha do poeta, cantor e compositor José Marcolino.

A live acontece a partir das 19hs e na oportunidade Fátima Marcolino irá mostrar diversas curiosidades sobre a vida e obra de Zé Marcolino.

O São João 2020 e 2021 não foi fácil para nenhum nordestino. Em 1996, Bira Marcolino, compositor paraibano, escrevia junto a irmã, Fátima Marcolino, a música Siá Filiça. Mas o fato é que nenhum dos dois jamais imaginaria que ela representaria com tanta força um mês que jamais significou "vontade de chorar". Na véspera e dia de São Pedro, também haverá mais silêncio. E mais saudade.

Essas e outras histórias Fátima Marcolino conta na live Gonzaguear.

"Cadê a lenha da fogueira

Siá Filiça

Cadê o milho pra assar

Cadê aquele teu vestidinho de chita

Que tu vestia pra dançar

Cadê aquele sanfoneiro

Que eu pedia pra tocar

A canção da minha terra

Um forró de pé-de-serra

Que eu ajudava a cantar

Quando me lembro disso tudo

Siá Filiça

Me dá vontade de chorar"

A música marcou o período junino porque fez qualquer nordestino lembrar dos simbolismos que marcam essa época: o vestido de chita, o milho, a fogueira, balão e o sanfoneiro. Bira e Fátima jamais imaginariam que ela realmente fosse representar dor em algum momento.

Mas quem é Siá Filiça? Siá vem do termo "sinhá", uma espécie de abreviação. E Filiça vem de Felícia, uma senhora que morava na cidade da Prata, na Paraíba, e que todos gostavam muito de brincar com ela quando eram pequenos. Segundo Bira, ela sempre andava com uma lenha. Certo dia, ele estava com a irmã em Caruaru e pensou em "Siá Filiça", que era como chamavam Felícia, e a irmã disse que dava uma boa música.

Então começaram a escrever. Fátima Marcolino foi a autora da frase: "minha esperança ainda dorme, e eu com pena de acordar", que retrata um pouco a espera e o desejo de que a pandemia do coronavírus passe, e o São João volte a ser como era.

Quando foi escrita, muitos artistas queriam gravar a música. O primeiro foi Ezequias Rodrigues, que gravou com voz e violão. Depois veio Santanna e Ademário Coelho, da Bahia. Mas foi com O Cantador que a música fez sucesso.

Hoje, Bira tem 62 anos. Para um compositor de forró, deixar o São João morrer seria até um crime. "O São João está na veia da gente, o forró está na veia da gente. Sem São João a gente se sente fora d'água, mas não deixa de ouvir não. Eu fiz meu São João sozinho, no mato", conta.

A música foi a grande emoção da live de Santanna na véspera de São João. Quem assistiu, certamente se emocionou. Antes de cantar, disse algumas palavras: "vou me despedir de vocês com uma música... eu não vou pedir desculpa por me emocionar, porque é a emoção que move o mundo. A emoção é impressionante. Me despeço de vocês com essa canção, que é a música que melhor representa o São João este ano".

Ao fim, tirou o chapéu. Ali, estava representada a tristeza, mas também a esperança de todos se reencontrarem novamente entre público e palco, forró, xaxado e baião.

"A música foi que me escolheu, me escolheu como intérprete principal dela. Ela faz parte da minha vida. Ela foi eleita a música do São João desse ano, e o sentimento é muito grande. A gente que é sertanejo, a gente sabe o que significa uma festa junina para nós. Eu fico impressionado como a música Siá Filiça entra na vida das pessoas", relata.(Por Dani Fechine, G1 PB)

HISTÓRIA: Zé Marcolino nasceu no dia 28 de junho de 1930. Portante se vivo (fisicamente) fosse, o Poeta completaria hoje 91 anos. No mistério do universo e das Leis da Natureza o poeta é Luz.

Pela sua importância na história da música brasileira, o Poeta Zé Marcolino, merecia mais de atenção das entidades culturais. Detalhe: os responsáveis pelo setor cultural de Juazeiro e Petrolina, em geral a falta de uma Política Cultural que deveria ser matriz de desenvolvimento no Brasil, principalmente no Nordeste,  esqueceram nos últimos anos desde que Zé Marcolino "partiu para o sertão da eternidade" de valorizar os frutos produzidos pelo compositor. Zé Marcolino morou nos anos 70 em Juazeiro, onde foi comerciante. Juazeiro e Petrolina tem uma dívida com a memória de José Marcolino.

No dia 20 de setembro de 1987 a voz de José Marcolino Alves  silenciava por ocasião da morte causada de acidente de carro próximo a São José do Egito, Pernambuco. Em Sumé, na Paraíba, Zé Marcolino Venceu os obstáculos da vida simples e quando teve oportunidade mostrou ao então Rei do Baião Luiz Gonzaga, uma centena de baiões, forró e xotes, sambas de melhor qualidade.

No LP Ô Véio Macho, de 1962, Luiz Gonzaga interpretou as composições de José Marcolino: Sertão de aço, Serrote agudo, Pássaro carão, Matuto Aperriado, A Dança do Nicodemos e No Piancó. Luiz Gonzaga gravou Numa Sala de reboco, considerada uma das mais belas poesias, letras de Zé Marcolino.

A história conta que Zé Marcolino participou da turnê de divulgação do LP Veio Macho, viajando de Sul a Norte do País com Luiz Gonzaga, no entanto, a saudade da família e suas raízes sertanejas foram mais fortes. Depois de um show no Crato, Ceará,  ele tomou um ônibus até Campina Grande e de lá foi para Sumé, de onde fretou um táxi para a Prata, onde morava.

Com o sucesso de suas canções cantadas por vários artistas (Quinteto Violado, Assisão, Genival Lacerda, Ivan Ferraz, Dominguinhos, Fagner, Jorge de Altinho, Elba Ramalho, Mastruz com Leite e tantos outros nomes da música brasileira), é atualmente Zé Marcolino um dos mais talentosos compositores da música brasileira de todos os tempos.

Somente em 1983, produzido pelos integrantes do Quinteto Violado, Zé Marcolino lançou seu primeiro e único, hoje fora de catálogo, LP Sala de Reboco (pela Chantecler). Um disco que está merecendo uma reedição em CD, assim como também seu único livro, necessita uma reedição. No citado disco Véio Macho, com seis músicas de Marcolino, ele toca gongue. No LP A Triste Partida, Luiz Gonzaga gravou Cacimba Nova, Maribondo, Numa Sala de Reboco e Cantiga de Vem-vem.

Zé Marcolino morou em Juazeiro da Bahia e ficou até 1976, quando foi para Serra Talhada, Pernambuco. Inteligente, bem-humorado, observador,  Zé Marcolino tinha os versos nas veias como a caatinga do Sertão. Zé Marcolino casou com Maria do Carmo Alves no dia 30 de janeiro de 1951 com quem teve os filhos Maria de Fátima, José Anastácio, Maria Lúcia, José Ubirajara, José Walter, José Paulo e José Itagiba. Zé Paulo reside atualmente em Petrolina.

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NO SEMIÁRIDO, CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA DRIBLA BARREIRAS LEGAIS E FAVORECE OCUPAÇÃO DA INTERNET PELAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS

Para se conectar com sua terra natal, no estado do Piauí, o proprietário de um estabelecimento comercial em São Paulo deixa tocando nas dependências do restaurante a Rádio Matões FM, emissora comunitária do município de Pedro II, a 200 km de Teresina (PI). Isto hoje é possível porque a rádio chega ao mundo inteiro através da Internet.

Quem poderia imaginar esta realidade por volta dos anos de 1980, quando diversas emissoras comunitárias começaram a operar no Brasil, especialmente em municípios pequenos? Ao contrário, anos depois, em 1998, quando foi aprovada a Lei nº 9.612, que define como deve funcionar o sistema de radiodifusão comunitária no Brasil, o alcance das emissoras foi limitado ao raio de um quilômetro.

Basta conversar alguns minutos com dirigentes e/ou comunicadores/as populares das emissoras comunitárias ou fazer uma pesquisa rápida sobre o tema para entender as principais críticas históricas à referida lei, a exemplo do alcance e sustentabilidade financeira. 

Além disso, a convergência midiática, hoje, vivenciada na sociedade, não foi prevista na legislação vigente, sendo, portanto, necessário que esta seja revista. Isso é o que defende a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), que, há 23 anos, luta pela mudança da lei, uma vez que a atual “dificulta a sobrevivência das rádios comunitárias, foi uma lei que fizeram pra rádio comunitária não dá certo”, aponta o presidente da Abraço, Geremias dos Santos.

A potência da comunicação radiofônica - Segundo a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), o rádio está presente em quase 90% dos lares do Brasil. “Cada vez que entra um segmento novo em comunicação, a gente imagina, o rádio vai acabar, o rádio vai desaparecer e ele permanece (…), o rádio, ele tá muito presente”, menciona o comunicador popular Antônio José dos Santos Neto, o Neto Santos, diretor de jornalismo da Rádio Matões FM.

Ele cita o aspecto da portabilidade do rádio, que em muitos casos é a companhia para quem está na cozinha, no quintal, na roça. O radialista da Rádio Comunitária Zabelê FM, de Remanso (BA), Alessandro Paes Landim, concorda: “o rádio tá em todo local, toda situação, seja casa, carro, trabalho”. Para ele, ouvir rádio não impede de fazer nenhuma outra coisa e que essa é a grande vantagem deste veículo de comunicação de massa.

Com a popularização da internet, as emissoras comunitárias hoje garantem a transmissão da programação por sites próprios, aplicativos ou plataformas como youtube e facebook. É assim que a integrante da Abraço, Rejane Barros, fala de Arapiraca (AL) para o Brasil e o mundo todo de segunda a sexta, por meio do programa “Fórum Cultural no rádio e nas redes”, transmitido ao vivo pelo Youtube.

Neste novo contexto da comunicação popular e comunitária, a interação do público só aumentou. Além do telefone que, há muitos anos, possibilita a participação dos/das ouvintes, aplicativos como o WhatsApp, comentários durante a transmissão pelas plataformas e o engajamento via redes sociais têm encurtado a distância entre essas rádios e a comunidade. Alessandro relata que a Zabelê FM constatou o aumento de ouvintes em comunidades distantes da cidade, onde o sinal da emissora não chegava, bem como fora do município, o que inclui outros estados e países.

Um serviço que muitas emissoras comunitárias têm prestado à população e à democracia é a transmissão ao vivo das sessões nas Câmaras de Vereadores/as dos municípios, como é o caso da Matões FM. Em muitos municípios, a população não faz ideia do que é discutido no Legislativo, quais os posicionamentos dos vereadores e vereadoras. “Antes da Matões fazer as transmissões, as sessões duravam dez, quinze, vinte minutos, no máximo, ou seja, não discutiam nada. Quando a emissora começou a fazer as transmissões, o mínimo que dura é uma hora”, conta o comunicador.

“As redes sociais vieram fortalecer esse processo todo”, afirma Neto Santos ao citar a diversidade de espaços virtuais hoje ocupados pela Matões FM, o que ocorre também com outras emissoras no Semiárido. Assim, as vozes que antes ficavam reprimidas pela Lei 9.612/98, agora, ecoam do Sertão ao Litoral, do Nordeste ao Sudeste, do Semiárido brasileiro até para outros países, rompem as amarras da legislação vigente e garantem a sobrevivência do rádio.

RÁDIO E PANDEMIA: O período de crescimento da pandemia no Brasil foi propício também para o aumento das fakes news (notícias falsas), o que exigiu das rádios comunitárias de fato, reforçarem o trabalho de combate à desinformação. Neto Santos explica que na Matões FM é feito todo um trabalho com a divulgação de informações oriundas de fontes seguras, apresentação do contraponto, além de campanhas educativas para que as pessoas não reproduzam fakes news.

Em Remanso, esse trabalho também tem sido realizado pela equipe da Zabelê FM e, segundo Alessandro Paes Landim, até mesmo algumas fontes oficiais, como é o caso dos governos, têm transmitido informações duvidosas ou que mudam de um dia para o outro. Os comunicadores relatam a importância da internet, especialmente nesse momento, onde podem contar com a participação de pessoas de diversos lugares, de forma online, para enriquecer os conteúdos.

O período de pandemia foi propício também para as emissoras ocuparem ainda mais o espaço virtual. Na Bahia, a Lei Aldir Blanc, que assegurou auxílio emergencial para artistas por meio de projetos culturais, possibilitou a produção de programas nas comunidades, além de vinhetas educativas, conteúdos que chegam até as/os ouvintes por meio das ondas do rádio e das demais formas de transmissão hoje adotadas pela Zabelê FM, que também demarca seu lugar nas mídias sociais como Instagram e Facebook.

A locutora da Rádio Comunitária “A voz do povo é a voz de Deus”, a alagoana Rejane Barros, após o início da pandemia da Covid-19, ganhou audiência para além de Arapiraca. “Não tem mais como fazer rádio comunitária sem internet”, afirma a comunicadora, que atua na emissora desde os 14 anos.

Dois dias da semana ela realiza o quadro “Abraço Entrevista”, onde recebe, de forma virtual, pessoas de diferentes lugares do Brasil para falar sobre temas diversos. O que antes não era experimentado, agora, mesmo no pós pandemia, fará parte do chamado “novo normal”.

Foi também de 2020 pra cá que a enfermeira Érika Formiga idealizou o Programa Minuto da Saúde, na Rádio Literária Carrapato, na comunidade Carrapato, interior do Crato (CE). Trata-se de um Rádio Poste, com 22 caixas de som transmitindo para mais de 200 pessoas residentes no povoado, além de disponibilizar os conteúdos na Web, que variam de programas ao vivo a podcasts.

A Rádio faz parte de um Ponto de Cultura existente no Carrapato desde 2013, o que reúne também biblioteca e grupo de maracatu. Animada, a profissional da saúde e comunicadora popular relata que o minuto da saúde, hoje, chega a durar mais de duas horas, levando informações diversas aos sábados.

Rádio Comunitária como espaço de formação – “O padre achava que a rádio era um universo masculino e de fato era”, conta Rejane sobre a época em que ela vivia em um orfanato em Arapiraca e começou a se interessar pela comunicação comunitária. Depois de muita insistência, deram a ela um espaço na programação para rezar o terço, “mas eu não queria só rezar, eu queria ler, passar as informações,” revela.

Ela não desistiu e hoje afirma passar mais tempo na rádio do que na própria casa. “Eu me descobri, eu tenho um lugar de fala. (...) a comunicação, e a arte também, foi muito importante, isso me empoderou. A rádio comunitária foi uma ferramenta de transformação na minha vida como um todo,” testemunha a integrante da Abraço.

A reportagem é de Erika Daiane - Ascom ASA-Articulação Semiárido

A cearense Érika Formiga também conta que a comunidade do Carrapato e quem está acessando pela internet os programas, têm tido a oportunidade de discutir vários temas, inclusive aspectos que passam despercebidos nos grandes meios de comunicação. 

Os primeiros programas Minuto da Saúde, por exemplo, provocaram o público a pensar sobre termos que se popularizam na mídia, mas, muitas vezes, não são nem compreendidos pela população, como é o caso de palavras como quarentena, lockdown e outros bastante usados no contexto da pandemia do novo coronavírus. “Lockdown no Ceará, numa linguagem local, é o ‘dendicasa’”, exemplifica Érika, ao explicar que a rádio deve ser um instrumento para facilitar o processo de comunicação, garantindo a contextualização da informação.

A parceria com instituições sociais é uma forma de contribuir com a veiculação de  conteúdo educativo na Zabelê FM, além do que é produzido pelos/as comunicadores/as populares. Alessandro destaca que a rádio divulga materiais produzidos por organizações como a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e abre espaço para sindicatos, pastorais, movimentos sociais, ONG’s que possuem programas na emissora, os quais, inclusive, já possuem um público fidelizado.

Proposições – De acordo com o presidente da Abraço, Geremias Santos, uma reformulação na Lei 9.612/98 deve assegurar financiamento público, flexibilização das possibilidades de publicidade, aumento de potência e criação de mais canais comunitários no rádio, mas até o momento o movimento segue sem respostas.

Na Bahia, tramita na Assembleia Legislativa desde 2017, o Projeto de Lei 22.453, que, se aprovado, “institui a Política Estadual de Incentivo às Rádios Comunitárias do Estado da Bahia e dá outras providências”. De autoria da deputada estadual Neusa Cadore (PT), um dos benefícios para as rádios comunitárias baianas seria a permissão para receber recursos oriundos da verba publicitária dos governos estadual e municipais.

O Brasil hoje conta com 4.700 emissoras comunitárias outorgadas, “sendo que temos cerca de 1.400 municípios brasileiros que ainda não tem uma rádio comunitária, são verdadeiros desertos de notícias. Então, essa é nossa luta, nós gostaríamos que tivesse um governo que agilizasse mais esse processo,” conclui o representante da Abraço.

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PESQUISA ANALISA PLANTA DA CAATINGA QUE PODE SER BOA PARA A MEMÓRIA

A caatinga é um bioma totalmente nacional que representa cerca de 11% do território brasileiro e está presente no Nordeste e no norte de Minas Gerais. Em uma das plantas nativas desse bioma, um grupo de cientistas identificou substâncias medicinais que podem ser boas para a memória.

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Kirley Canuto, que coordena os estudos, conta que foi selecionada uma variedade de açucena [planta herbácea] encontrada em solo cearense, benéfica para várias doenças crônicas. 

O nome científico dessa espécie de planta com flor é Hippeastrum elegans. Na linguagem popular, além de açucena, também é conhecida como lírio, cebola-do-mato, cebola-berrante e flor-da-imperatriz. As mudas de açucena foram colhidas nas cidades de Pacatuba, que faz parte da Grande Fortaleza, e em Moraújo, a cerca de trezentos quilômetros da capital cearense.

Depois disso, foram cultivadas em canteiros da Embrapa. O pesquisador Kirley Canuto disse que estão sendo realizados testes farmacológicos e testes pré-clínicos.

O grupo pretende seguir com as análises para avaliar o desenvolvimento de novos fármacos que podem custar menos para o consumidor.

A pesquisa teve início em 2016 e contou com uma equipe multidisciplinar de 20 profissionais da Embrapa Agroindústria Tropical e das universidades Estadual e Federal do Ceará, além de estudantes universitários. 

Kirley Canuto disse, ainda, que "mudas de açucena estão sendo analisadas em testes pré-clínicos em roedores para avaliar os efeitos sobre a perda de memória."

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PROFESSOR JUAZEIRENSE MANTÉM VIVA A MEMÓRIA DA VIDA E OBRA DE RAUL SEIXAS

Raul Seixas faria 76 anos nesta segunda-feira, dia 28. E, mesmo que o cantor tenha morrido em 1989, as músicas dele ainda continuam fazendo sucesso.

Em Juazeiro, Bahia, Jonivaldo Fernandes de Souza, 63 anos,  conhecido por professor Vado, graduado em Geografia e Filosofia, é um pesquisador que mantém a vida e obra, memória e história musical de Raul Seixas vivas.

Atualmente ministrando aulas na Escola Estadual Chico Mendes no Assentamento Vale da Conquista (CETEP), localizado em Sobradinho, Bahia o professor Vado, é um colecionador e aponta que "são 10.076 anos do nascimento do Maluco Beleza".

"Sobre a obra de Raul Seixas desde os  15 anos de idade que acompanho a trajetória musical dele. Só que tem um porém há 35 anos que faço pesquisas e estudo a referida obra, mas no dia 21 de agosto de 1989, dia em que Raul Seixas pegou o seu disco voador e foi para o outro planeta, nós os simpatizantes do Raulzito criamos o Movimento RaulSeixista  de Juazeiro da Bahia", diz Vado, acrescentando que a idade de nascimento do ídolo Raul Seixas, coincide com a data de nascimento da filha dele, a caçula Ivis Lourenço.

Recentemente, os fãs compartilharam o hit O Dia Em Que A Terra Parou, destacando que a letra de 1977 tem tudo a ver com o atual momento de isolamento social provocado pela crise sanitária da pandemia da Covid 19. 
Raul Seixas nasceu em Salvador (Bahia), no dia 28 de junho de 1945. Foi o mais perspicaz observador moderno da sociedade brasileira. Mais do que qualquer outro artista, tornou-se a referência  e a essência do rock brasileiro. Em 1959, Raul Seixas fundou o Elvis Rock Club com o amigo Waldir Serrão. E, mesmo famoso, Raul continuou mostrando admiração pelo ídolo americano.

Na adolescência, Raul integrou a banda Os Relâmpagos do Rock que, posteriormente, foi batizada como The Panthers. O disco de estreia do cantor foi Raulzito e os Panteras (1968). O trabalho veio antes da carreira solo, quando ele ainda integrava o grupo Raulzito e os Panteras.

Com uma base filosófica muito forte, base essa que seria utilizada em suas letras visionárias e reflexivas, Raul Seixas, ao revelar suas influências, já começa cita um paraibano, o poeta Augusto dos Anjos: “Minha infância foi formada por, vamos dizer, um pessimismo incrível, de Augusto dos Anjos, de Kafka e Schopenhauer”, disse em entrevista ao Pasquim, na época jornal referência.

Antes de se tornar o maior nome do rock nacional de todos os tempos, Raul Seixas trabalhou como produtor em algumas gravadoras e na época, mesmo tendo apostado em grandes nomes populares, como Diana, Odair José, Jerry Adriani e outros, não deixou de pensar no conceito que pretendia usar em sua música. 

Neste “conceito”, um nome era fundamental para Raul Seixas: o do paraibano Jackson do Pandeiro, Mestre do Ritmo,  um de seus ídolos. Ao saber que Jackson do Pandeiro estava nos estúdios do Rio de Janeiro, Raul foi até ele e o convidou, e ao seu conjunto Borborema para participar da gravação de “Let me sing, let me sing”, música defendida pelo cantor baiano no VII Festival Internacional da Canção, em 1972.

Durante a década de 1970, Raul Seixas se uniu ao talento de Paulo Coelho, que hoje é mais conhecido mundialmente como escritor. A dupla compôs clássicos como Gita, Tente Outra Vez e Eu Nasci há Dez Mil Anos Atrás.

Em 1974, Raul Seixas e Paulo Coelho criaram a Sociedade Alternativa. A ideia foi baseada nos preceitos do ocultista britânico Aleister Crowley, praticamente repetindo o chamado Livro da Lei. "Faça o que tu queres, pois é tudo da lei", diz um trecho da letra do hit Sociedade Alternativa, de Raul e Paulo.

A Panela do Diabo foi o último álbum de estúdio de Raul. Gravado ao lado do cantor Marcelo Nova, o disco foi lançado em 1989 e traz os hits Carpinteiro do Universo e Pastor João e a Igreja Invisível.

Raul foi encontrado morto em 1989, vítima de uma pancreatite aguda causada pelo alcoolismo. Ele tinha 44 anos.

Em 2019, o jornalista Jotabê Medeiros lançou o livro “Raul Seixas. Não Diga Que A Canção Está Perdida”, o crítico musical relata a como Raulzito, o garoto classe média de Salvador e fã de Elvis Presley, se transformou em Raul Seixas, um dos maiores ícones da cultura pop brasileira.

Jotabê Medeiros  descreve como o jovem sonhador, depois de “passar fome por dois anos na cidade maravilhosa, conquistou as gravadoras e o grande público? E como o responsável por versos que se confundem com a contracultura dos anos 1970 foi derrotado pelas drogas e pelo alcoolismo na década seguinte, mas sem deixar de produzir hits inesquecíveis. 

O “maluco beleza” Raul Seixas não é apenas uma das maiores referências da música brasileira e o maior nome do rock nacional, tendo antecipado a fusão do rock´n´roll com os ritmos nordestinos dezenas de anos antes do surgimento do Movimento Mangue Beat. Também é autor de hits clássicos, como “Ouro de tolo”, de parcerias memoráveis e polêmicas, como a com Paulo Coelho, e compositor de diversos sucessos que ainda hoje fazem a cabeça dos apaixonados pela música brega. 

O livro “Raul Seixas: Não diga que a canção está perdida” (Todavia, 2019), de Jotabê Medeiros, narra toda essa trajetória do criador da “Sociedade Alternativa”.
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