PIAUÍ É UM DOS MAIORES PRODUTORES DE MEL DE ABELHA NO BRASIL

No primeiro bimestre de 2021, o Piauí comercializou 2.285 toneladas de mel,  arrecadando pouco mais de US$ 9,8 milhões. Um crescimento de 112,4% das exportações do mel brasileiro comparado com o mesmo período do ano passado.

O volume representa 31,7% do total do mel exportado do Brasil. Os dados são da a Agrotast (ferramenta que reúne números de exportação e importação de produtos agropecuários ) e confirmados pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE-PI).

Em 2020, o Estado foi observado como o segundo maior produtor de mel do país, ficando atrás apenas de Santa Catarina e os Estados Unidos continua sendo o principal destino para o mel piauiense, com 70% do volume exportado. Em seguida, estão a Alemanha, Canadá, Países Baixos, Reino Unido e Panamá.

Os municípios piauienses que mais produzem mel são Picos, Pio IX, Itainópolis e Campo Grande do Piauí.

O Superintendente Francisco das Chagas Ribeiro, coordenador do Projeto Viva o Semiárido no Piauí (PVSA), executado por meio de parceria entre o Governo do Estado e o Fundo Interamericano de Desenvolvimento Rural (FIDA), explica que este crescimento, principalmente da comercialização, acontece sempre no primeiro semestre do ano, no período das chuvas, quando a floradas estão mais intensas no semiárido.

“Produção e exportação também se destacam e este ano  a produção está bem consolidada, aumentou consideravelmente e pode ser que continue até o fim do ano”, diz Francisco das Chagas.

Para o gestor, a conquista do Piauí do primeiro lugar em exportação do produto em nível nacional tem grande  contribuição da Secretaria de Agricultura Familiar e dos agricultores familiares que são acompanhados pela SAF.

Segundo Ribeiro, só pelo PVSA foram executados 40 projetos de apicultura e investidos 12,5 milhões de reais na região do semiárido;  foram realizados  8 cursos de apicultura para jovens e formação com apoio da Secretaria do Trabalho (SETRE), bem como  realizados cursos de aperfeiçoamento  para apicultores tradicionais. Também foram construídas ou  reformadas 39 casas de mel que facilitam a entrega para entrepostos de grande porte como a Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes (COMAPI), em Simplício Mendes  e Casa Apis em Picos, que representam mais de 50% do mel do Piauí. A maioria é orgânico, certificado e com exportação para Europa e EUA.

O Coordenador do Projeto Viva o Semiárido cita como exemplo um beneficiário da comunidade Morro de Dentro, que recebeu do PVSA, caixas, casa de mel e equipamentos de produção. Na comunidade já havia apicultura, com uma produção média de 3,3 toneladas por ano e em 2020 a produção aumentou para 20 toneladas, a partir das ações do PVSA foram introduzidas novas caixas, aumentando o número de colmeias e técnicas de manejo  aumentando a produtividade.

No norte do Estado, a apicultura tem crescido bastante, com destaque para a Codevarpi, do Vale do rio Piracuruca, Associação de Apicultores, de Domingos Mourão e Apicam, de Campo Maior, os três  têm projetos de apicultura pelo Progere ( Programa de Geração de Emprego e Renda) executado pela SAF.

“Estamos comemorando e parabenizando todos os  apicultores e a expectativa é que possamos manter esta liderança no segundo semestre, contribuindo para o aumento da  produção e consumo deste alimento saudável que é o mel e que cresceu durante a pandemia pelas suas características nutritivas, já que é bom para fortalecer o sistema imunológico e respiratório e é um antibiótico natural”.

O mel também  tem seu valor nutritivo, pois contém açucares como a frutose, levulose , sem a sacarose, considerado um açúcar mais nocivo à saúde. O produto que é rico em vitaminas e sais minerais, teve aumento no seu consumo no mundo no inteiro, inclusive, no Brasil, mesmo que em menor proporção, isso fez com que o preço do mel elevasse no mercado e ajudou a favorecer a venda e com dólar em alta, a maioria vende por R$15 reais o quilograma. “A maioria fazendo um excelente negócio na comercialização do seu mel”, concluiu Ribeiro.


Na análise do gerente de vendas da COMAPI, Antônio Carlos, o clima e as quantidade de chuvas foram fatores diferenciados e que ocasionaram uma safra incomum na  região. De outubro a dezembro, a Comapi chegou a receber quase 100 toneladas de mel, número considerado muito alto para este período, inclusive, antecipando a safra de 2020.

Os município de Simplício Mendes, São João e São Raimundo Nonato têm uma produção muito forte de mel e  empresas do sul e do sudeste do país sempre compram na região. “Mas este resultado é porque este mel começou a ficar mais no Piauí e a ser exportado pelo Estado pela Comapi, Casa Apis, Wenzel em Picos e Samuel de Oeiras. Outro fato importante, segundo o gerente da Comapi, são parcerias que apoiam as associações e cooperativas, como o Sebrae e o Estado por meio da SAF/PVSA.

José Manoel Oliveira, coordenador do PVSA do Território do Vale do Guaribas, além de citar a melhoria das condições climáticas, frisa que o destaque do Piauí é fruto de um trabalho organizado coordenado pela Secretaria de Agricultura familiar, com apoio do Emater, Sebrae e Câmaras Setoriais e da grande contribuição  dos agricultores e agricultoras familiares. “Através das suas associações de pequenos produtores e produtoras e de apicultores e apicultoras têm feito um excelente trabalho como a Cooperativa de Simplício Mendes e a Casa Apis.

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O PAÍS TEM CAPACIDADE DE PRODUZIR E ALIMENTAR. NINGUÉM PRECISA PASSAR FOME NO BRASIL, AFIRMA ENGENHEIRA AGRÔNOMA CANDIDA BEATRIZ

Dá para perceber a animação da Natalina dos Santos de longe. Ela chega sorrindo, com um turbante vermelho combinando com a blusa. Natalina podia ter esperado em casa pelos alimentos entregues à população da pequena cidade localizada no sertão do Rio São Francisco.

Por ela morar em uma comunidade ribeirinha, distante do centro de Pilão Arcado (BA), os alimentos do PAA são enviados pela prefeitura até sua casa. Mas como Natalina estava ansiosa, acabou encontrando os funcionários da prefeitura na casa da vizinha. “Eu moro ali, minha filha, naquele barraquinho, você bota aí que moro sozinha, só eu e Deus”, diz Natalina.

PAA é a sigla para Programa de Aquisição de Alimentos, um programa criado em 2003, no qual o governo compra alimentos de agricultura familiar local e os entrega às pessoas em situação de insegurança alimentar.

Natalina é uma das 116,8 milhões de pessoas no Brasil que convivem com algum grau de insegurança alimentar. A falta de disponibilidade e o acesso aos alimentos atingiu em 2020, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no Brasil, metade da população brasileira (55,2%). Desses, 43,4 milhões (20,5% da população) não contavam com alimentos em quantidade suficiente (insegurança alimentar moderada ou grave) e 19,1 milhões (9% da população) estavam passando fome (insegurança alimentar grave).

A pesquisa, realizada em dezembro de 2020, mostrou que pessoas como Natalina - mulheres, negras, entre 50 a 64 anos, sem escolaridade, moradoras das regiões Norte e Nordeste do país e da área rural - têm mais chance de terem insegurança alimentar grave.

No Norte, 18,1% da população passa por essa situação e no Nordeste, 13,8%. Comparando com o Sul e Sudeste, as regiões Norte e Nordeste tiveram o triplo e o dobro de número de domicílios expostos à insegurança alimentar grave respectivamente.

A precarização das relações de trabalho e o aumento do desemprego também colaboram para o aumento da fome. A fome no país foi quatro vezes superior entre as pessoas com trabalho informal e seis vezes superior entre as pessoas desempregadas.

O momento emergencial fez com que mais de 800 organizações da sociedade civil apresentassem ao Governo Federal uma proposta para o fortalecimento do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). O governo respondeu à pressão social e liberou R$ 500 milhões para o PAA emergencial.

O agricultor Joelson Nascimento, 28, ficou sabendo que o PAA emergencial estava liberado para Pilão Arcado um dia antes de fechar o prazo de inscrição no programa. "Falaram que não tinham agricultores cadastrados e que não tinham produtos [no município]'', disse Joelson.

Por ser técnico agrícola e integrante da Associação de Técnicos em Agropecuária e Apoiadores da Agricultura da Bahia, ele estranhou a informação que deixaria a cidade baiana de fora do PAA. Afinal, o que não falta na cidade são agricultores. Pilão Arcado tem 35 mil habitantes. Aproximadamente 80% da população vive na área rural e cerca de 70% dos moradores da área rural vivem da agricultura. Apesar disso, o município tem um índice alto de insegurança alimentar. Joelson garantia: usando a produção local para alimentar quem tinha fome, daria para atender a cidade e ainda sobrava. Parecia só uma questão de falta de comunicação, então, ele mesmo resolveu o problema:

''Tive que cadastrar 21 agricultores em 24 horas. Peguei todo o processo, me responsabilizei, fiquei por minha conta'', diz Joelson.

Feito o cadastro dos agricultores, foram disponibilizados R$ 90 mil para o PAA, no município, para serem gastos entre janeiro e junho de 2021. Mas como é a primeira vez do programa em Pilão Arcado, esse processo não foi tão simples, explicou Sineide Soares, 35, assistente social da prefeitura há 11 anos. A primeira compra acabou sendo realizada só em abril e 120 pessoas foram beneficiadas.

Em abril deste ano, na primeira etapa do PAA, em Pilão Arcado, foram distribuídos 1,5 tonelada de alimentos. Para que o dinheiro do programa, destinado ao município baiano, fosse usado completamente até junho, seria preciso comprar aproximadamente 19 toneladas de alimentos dos agricultores na segunda etapa realizada na última semana de maio.

Como era o dia anterior da coleta com os agricultores, o celular da professora universitária e engenheira agrônoma Cândida Lima, 34, não parava de tocar. Ela fazia o levantamento de alimentos produzidos torcendo para chegar ao maior número possível para conseguir utilizar todo o valor obtido.

 '' [Na primeira etapa], eu pensei: 'gente, não acredito, eu tô vivendo um sonho, para tudo, o que é isso?'. A gente de fato se surpreendeu com o quanto os agricultores se dedicaram nesse processo, o quanto eles estão preparados para uma demanda muito maior. A gente limitou porque a gente tinha receio na questão da verba que tinha disponível, mas isso foi uma falta de experiência da gente'.

Rosinaldo Viana, 39, é um dos agricultores que fez a venda de alimentos para o PAA de Pilão Arcado. Quando ele tinha cinco anos, a família mudou para São Paulo para tentar uma vida melhor. "Fomos como retirantes. Meu pai participou de uma invasão e pegamos um lote. Era favela mesmo, em Diadema. Não fomos felizes, sofria muito bullying, 'paraíba, nordestino', essas coisas."

Em São Paulo, Rosinaldo trabalhou na indústria metalúrgica por 12 anos, "mas teve uma hora que eu falei: 'tenho que retornar'. Lá em São Paulo a gente está dentro da gaiola, aqui tinha liberdade."

Quando voltou para Pilão Arcado, em 2011, o agricultor desenvolveu um sistema de captação de água para conseguir produzir alimentos durante o ano todo. 

"Eu via o sofrimento da minha mãe com a bacia na cabeça.". Poucos agricultores em Pilão Arcado conseguem captar a água de um poço para a produção. A maioria produz em estruturas sazonais, em uma época do ano específica — de novembro a abril — conhecido por eles como inverno por ser o período da chuva. Pelo principal bioma de Pilão Arcado ser a caatinga, o município do semiárido nordestino é afetado por secas extremas e períodos de estiagem.

Rosinaldo acredita que o levantamento de alimentos feito pelo PAA foi importante para mostrar para a prefeitura a força dos agricultores de Pilão Arcado.

A maioria dos produtos [alimentos consumidos no município] vem de Juazeiro, Petrolina, mas poderia vir daqui. A secretaria de agricultura poderia mobilizar e fazer um mapeamento, quem são esses produtores? O primeiro ano do programa é esse, agora cabe ao poder público continuar e botar ele pra funcionar, não só o PAA, mas fazer um espaço pro próprio pessoal da cidade tá comprando dos produtores daqui também.

Os produtos dos agricultores inscritos no PAA são levados pela prefeitura para o Ginásio de Esporte no mesmo dia. Lá, a equipe da assistência social organiza as filas para distribuição.

Luciana Lino dos Santos, 40, aguarda a sua vez na fila com duas amigas. Ela trabalha na limpeza do Mercado Municipal de Pilão Arcado e mora próximo ao centro do município com seus dois filhos e uma amiga.

"É caro pra gente comprar esses alimentos. Quando eu recebo [meu salário], eu compro o que precisa para uma alimentação saudável pras crianças. Aí, na semana seguinte, a gente já não tem [dinheiro]. O pagamento só sai dia 10, então daqui [27 de maio] até lá [10 de junho], eu como o mínimo possível".

Evitar situações extremas como a de Luciana é a meta do PAA. Foram 480 famílias que receberam os alimentos da agricultura familiar na segunda entrega do PAA emergencial em Pilão Arcado. Quando a distribuição para as famílias é finalizada, Cândida e Sineide se reúnem para fazer a checagem da quantidade dos alimentos distribuídos.

Nas duas compras, feitas em abril e maio, foram 12 toneladas de alimentos distribuídos e foi gasto a metade do valor disponibilizado para Pilão Arcado, R$ 45.810,66 -- o que preocupava Cândida e Sineide.

Mas Rose Pondé -- a Superintendente de Inclusão e Segurança Alimentar da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos da Bahia --, informou que o prazo do PAA foi prorrogado. Pilão Arcado e outros municípios que não concluíram as compras do PAA emergencial estão autorizados a finalizar a compra até novembro.

"Produção a gente tem, trabalhador rural a gente tem, esse projeto é um empurrão para que a gente consiga chegar nessa meta, para que a agricultura familiar do município não seja um paliativo, para que ela seja a sustentação", diz Cândida Lima. O programa serviu para mostrar à cidade a força de seus produtores rurais. E ele deve continuar:

"A gente está finalizando o PAA emergencial, mas trabalhamos para a implementação do PAA contínuo. Eu acredito que o PAA contínuo vai trazer a possibilidade de trabalho para 1.000 agricultores, essa é minha perspectiva a longo prazo", diz Cândida.

Rose Pondé explicou que por Pilão Arcado ter um nível alto de insegurança alimentar, a perspectiva é dar continuidade ao PAA no município: "A gente vai manter no nosso cadastro como um município que necessita ter a continuidade do PAA, aí vai depender muito da liberação do orçamento para o ministério supervisor, que é o Ministério da Cidadania".

A superintendente acredita que o PAA é fundamental para reduzir a fome no Brasil: "É onde conseguimos chegar com alimento mais rápido, de forma mais justa, mais sustentável e mais adequada à realidade de cada região".

Cândida lembra que Pilão Arcado é só um exemplo do que poderia acontecer no país todo. "Em alguns municípios, o PAA não foi implementado antes porque a administração municipal simplesmente não se interessou. O nosso país tem capacidade de produzir e alimentar gente sem precisar de outros lugares. Ninguém precisa passar fome no Brasil"

GABRIELE ROZA (DATA_LABE). Foto: Clara Castel. Essa reportagem faz parte da série de publicações produzidas como resultado do programa Laboratório de Jornalismo de Soluções, da Fundação Gabo e da Solutions Journalism Network, com o apoio da Tinker Foundation, instituições que promovem o jornalismo de soluções na América Latina.

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O ROSTO DE LUIZ GONZAGA EM SEU BUSTO ENCOBERTO POR UMA MÁSCARA, PARECE VERTER LÁGRIMAS, ESCREVE JORNALISTA MAGNO MARTINS

Rumo ao Sertão, dei uma entradinha, há pouco, em Caruaru. Saí de coração dilacerado. Em pleno São João, festa curtida por milhares de turistas, bati de frente com um cenário de cidade fantasma. Comércio fechado, ruas desertas. O rosto de Luiz Gonzaga em seu busto encoberto por uma máscara, parecia verter lágrimas. A única lembrança do dia junino, antes fervilhante, estava nas estações de rádio tocando forrós saudosos.

Minha alma sentiu a profunda dor do trauma, da minha tristeza. Também pudera, fui presença assídua, todos os anos, no São João de Caruaru, uma das minhas cidades paixões. Sou, com orgulho e vaidade, Cidadão Honorário da terra de Vitalino. 

Bateu uma saudade da alegria contagiante de Caruaru, da sua gente hospitaleira quando se abre a cortina dos 30 dias de festejos juninos. O São João está para Caruaru como o Carnaval para o sobe e desce das ladeiras de Olinda. Saudade de cruzar com aquela multidão saltitante no Pátio do Forró, do barulho de todos os ritmos que saiam dos principais palcos ou até mesmo do forró pé de serra numa simples barraquinha.

A pandemia jogou uma nuvem de tristeza no País de Caruaru, vestiu o colorido das bandeirinhas do preto enlutado. Que Deus compreenda a nossa súplica, mas Caruaru não pode prescindir do seu São João. Tira a alma da cidade, o meio de vida de muita gente. Adormece a alegria, mata a razão de muita gente esperar o ano inteiro pelo 23 de junho.

Nunca imaginei que viesse um dia, em pleno São João, compartilhar tristeza com minha gente de Caruaru quando vivi alegria a vida inteira. Uma cidade que viveu a alegria da sua grande festa, por tantos e tantos anos, nunca reconhecerá a tristeza. 

Sai de Caruaru com o sentimento de que, se meus olhos mostrassem a minha alma, neste momento todos, ao me verem sorrir, chorariam comigo.

*Jornalista Magno Martins

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FESTEJO JUNINO MANTÉM TRADIÇÃO COM LIVES

A época mais "quente" do ano nordestino chegou e a lembrança mais viva é das grandes fogueiras de arder o rosto, as ruas repletas de bandeirolas vermelhas e amarelas e a variedade de comidas derivadas do milho – de fato tem para todos os gostos. No entanto, o atual cenário pandêmico tem impossibilitado a realização da tradicional festa junina.

Ano passado, a festa foi cancelada na esperança que o momento fosse passageiro, logo tudo voltaria ao "normal". Este ano, com apoio de tecnologias e recursos que fazem parte da realidade há um bom tempo, surgiram os movimentos das lives e outros produtos do audiovisual como forma de incentivar as produções artísticas culturais. O que parecia ser um experimento caiu no gosto popular como um dos principais meios de difusão cultural.

 Eventos como as quadrilhas juninas, conhecidas pela riqueza em detalhes e história, aderiram ao formato digital e prometem dar ao público uma prova da saudade que é comum a todos. O evento é realizado tradicionalmente durante todo o mês de junho, mas a corrida começa muito antes disso. Levando um período de seis meses da organização até estarem prontos, as juninas passam por algumas fases. Cássio Costa, que tem uma extensa trajetória como quadrilheiro, conta que "tudo começa pelo tema e, a partir disso, inicia a construção do figurino, das coreografias de entrada e saída, do cenário".

Para que o trabalho dos quadrilheiros continue, a comissão organizadora de cada quadrilha busca apoio financeiro e patrocínios. Cássio explica que, apesar do poder publico destinar parte do recurso, ainda assim não é o suficiente para suprir todas as necessidades da produção do evento. Geralmente, cada comissão promove meios de arrecadação, como por exemplo, a realização de pedágios. E assim, o produto final carrega todo o encanto e a representação de uma cultura viva e vibrante como pontua Jackson Alves, que atualmente faz parte da coordenação da Junina Encanto. "A Junina é realmente a raiz do povo pernambucano, do povo nordestino, porque sempre traz uma temática referente a algo da sua cidade, ou a gente conta uma história também, como se escrevesse um livro", esclarece.

Movidos pelo amor ao festejo, as quadrilhas juninas do vale do são Francisco criaram o Movimento Junino do Vale São Francisco (MOJUVASF). "Vamos realizar a live no dia 29 de junho, dia de São Pedro, na qual cada quadrilha terá dez minutos pra se apresentar. Terão casais reduzidos, visto que não tá podendo fazer aglomerações", conta Cassio. Além de live, as postagens de vídeos curtos nos sites de redes sociais - como a página do Instagram @mojuvasf - ganharam força no sentido de levar para tela um pedaço do São João.

Quem também aderiu ao movimento das transmissões ao vivo foi o bom e requisitado forró, que faz parte do dia a dia, mas, nessa época, é o combustível para o povo nordestino. 

Nascido em Remanso, o sanfoneiro Márcio Passos é um dos artistas a utilizar as lives para poder estar mais perto do seu público e levar as músicas que os enche de lembranças. Aos 42 anos, Márcio conta com uma longa trajetória no universo musical, começou na sanfona aos 11 anos e, desde então, nunca mais parou. 

De São Paulo à Remanso, o sanfoneiro sempre esteve nos palcos levando a alegria e a cultura de sua terra por onde passava, não é à toa que alega ter saudades do contato direto com as pessoas. Também compartilha um projeto com seu parceiro Lucílio Viana, disponíveis nas redes sociais da dupla (@marciopassos_e_lucilioviana). Apesar de sentir saudades das apresentações presenciais, Marcio reconhece a importância de ter as plataformas como meio de se conectar aos fãs, mas pontua que não vê a hora de retornar aos palcos.

Para a festa junina ficar completa, não pode faltar o "de cumê. A infinidade de comidas típicas dessa época é sempre de encher os olhos e, claro, a barriga! Do bolo de milho à paçoquita a mesa de casa está sempre cheia de gostosura para toda família.

Mas um ponto forte do comércio junino também se encontra na produção de licor artesanal. Contando com uma cartela de variedade nos sabores, os licores têm feito parte da tradição junina utilizando-se na culinária ou simplesmente a bebida do período. Licores de frutas, ervas e essências fazem o gosto do público nessa época, ainda mais pelo fato de combinarem muito bem com o clima da temporada.

Com o cancelamento das festas mais tradicionais do período, o setor reduziu a produção, ainda mais pelo aumento dos preços das matérias primas. No entanto, novamente a divulgação e comercialização nos sites de redes sociais têm ajudado os pequenos empreendedores com as vendas e divulgação de seus produtos. Segundo a juazeirense Luciana Carvalho, empreendedora autônoma na produção de licor há três anos, a produção tem se mantido "através de encomendas, divulgações e indicações de pessoas próximas". Além da produção avulsa, Luciana tem investido na distribuição para outros vendedores.

Personagens como Cássio, Jackson, Márcio e Luciana são os mesmo que constroem esse momento, que o idealizam e o executam. Mesmo em um momento tenso sobre o qual todos estão vivendo, eles e muitos outros têm feito com que o legado do São João não seja apagado e mais, estão proporcionando ao público um momento de afago nesse período. 

Assim como Jackson afirmou ao definir o trabalho das juninas como "uma engrenagem onde todo mundo tem seu papel", o São João partilha dessa mesma característica. É um trabalho em equipe onde cada personagem desempenha seu papel a fim de manter acesa chama da imensa fogueira. Então, se prepara, porque vai ter arraiá!

Reportagem de Jéssica Cardoso e Wellington Martins para Agência Multiciência.

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ÍNDIOS SÃO ATACADOS DURANTE MANIFESTAÇÃO EM BRASILIA

A repressão violenta da PM ao protesto pacifico de indígenas, no final da manhã de hoje (22), nos arredores da Câmara, em Brasília, deixou três pessoas feridas e outras dez passando mal, em virtude do gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha. 

Um jovem de 26 anos, do povo Sapará, de Roraima, foi atingido por balas de borracha no torso e bombas de efeito moral nas costas. Chegou a ser hospitalizado no Hospital de Base de Brasília. 

Segundo exames, não tem lesões internas mais graves. De acordo com o último informe médico, está com contratura muscular, muitas dores e vista embaçada. Foi liberado e agora está sob cuidados médicos no Acampamento Levante pela Terra (ALT), mobilização indígena instalada ao lado do Teatro Nacional, há três semanas.  

Uma senhora do povo Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul, foi atingida por estilhaços de bomba, tendo desmaiado durante o ataque. Ela foi resgatada pelo serviço médico móvel de urgência e foi atendida no local. No momento se encontra bem, sem maiores complicações e sem demanda de observação médica. 

O terceiro ferido, do povo Xokleng, da Região Sul, foi atingido pelo impacto de uma bomba de efeito moral, tendo sido muito exposto ao gás lacrimogêneo. Chegou ao acampamento com muita dor de cabeça e sangramento nasal. Foi atendido e, no momento, também encontra-se bem. 

Outras 10 pessoas que participavam do protesto no momento do ataque apresentaram irritações nas vias aéreas, com dificuldades para respirar, em virtude do gás lacrimogêneo. Todos foram atendidos no acampamento e agora também se encontram em bom estado. 

Segundo o relato dos atingidos, foi difícil se defender durante o ataque da polícia, pois não sabiam de onde vinham as bombas, e por isso, não tiveram condições de se abrigarem de forma segura durante o ataque. 

ATAQUE: Os indígenas protestavam pacificamente, no estacionamento do Anexo 2 da Câmara, contra a votação do Projeto de Lei (PL) 490/2007, quando foram reprimidos de forma violenta pela PM, com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral. Crianças e idosos estavam entre os manifestantes. 

Eles vieram em marcha pacífica pela Esplanada dos Ministérios. Em seguida, foram atacados, a partir de uma  barricada montada pelo Batalhão de Choque, na entrada do Anexo 2. Não houve nenhuma ação ou incidente da parte dos indígenas que justificasse a reação violenta. Segundo informações, estavam no local equipes das polícias Legislativa, Militar e Batalhão de Choque, com forte aparato de repressão, inclusive um ‘caveirão’ (carro blindado da Tropa de Choque) e cavalaria. 

A marcha indígena faz parte do ALT, que está instalado ao lado do Teatro Nacional, há três semanas. Os cerca de 850 indígenas que participam da mobilização, de 48 povos diferentes de todas as regiões do Brasil, foram ao local para acompanhar a votação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. 

O PL 490 é uma bandeira ruralista e bolsonarista e, se aprovado, na prática vai inviabilizar as demarcações, permitir a anulação de Terras Indígenas e escancará-las a empreendimentos predatórios, como garimpo, estradas e grandes hidrelétricas. De acordo com organizações indígenas e indigenistas, a proposta é inconstitucional.

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LUIZ GONZAGA, ANTONIO VICELMO, HUBERTO CABRAL E A HISTÓRIA DO CRATO CEARÁ

Luiz Gonzaga tinha grande amizade pelo Crato, Ceará. Quem atesta é o historiador e radialista Huberto Cabral, cratense e um dos estudiosos que mais guardam a memória da região do Cariri. Segundo Cabral, Luiz Gonzaga, ao deixar sua terra natal e fugir para Fortaleza, passou pelo Crato, pegou um trem na estação com destino à Fortaleza, onde serviu no quartel do 23º BC.

Quando menino, seu pai Januário vinha sempre que podia para o Crato onde comercializava seus produtos na feira, principalmente farinha. “O pai de Luiz Gonzaga estava sempre no Crato vendendo a farinha dele, fez amizades aqui e sempre que vinha trazia Luiz Gonzaga e seu irmão”, afirma. Foi nessa época, segundo o jornalista que Luiz Gonzaga certamente aprendeu a gostar do Crato.

Luiz Gonzaga participou de alguns momentos marcantes da História do Crato. Em 1946, por exemplo, ele retorna ao Crato para animar e tocar em leilões da festa de São Francisco. Maçon que era teve vários trabalhos filantrópicos desenvolvidos a favor do bem estar do povo.

Em 1950 Luiz Gonzaga e o Cego Aderaldo do Crato participam da inauguração da TV Tupi, primeira emissora de televisão da América Latina.

Em 1951 Luiz Gonzaga esteve presente à inauguração da Rádio Araripe, primeira emissora de rádio do Interior do Ceará, junto com o pai, Januário, e o irmão, Zé Gonzaga.

No ano de 1959, Luiz Gonzaga participou da inauguração da Rádio Emissora Educadora do Crato, atendendo convite do jornalista Pedro Gonçalves Norões, grande amigo do Rei do Baião.

Luiz Gonzaga participou das festas do centenário do Crato realizando show na Praça da Sé. Em 1974 recebeu o título de cidadão cratense outorgado pela Câmara Municipal em iniciativa do vereador Ivan Veloso.

Em 1987 na Expocrato o presidente da Comissão Gestora, Francisco Henrique Costa, promoveu grande show folclórico na história da exposição numa homenagem a quatro heróis do ciclo do Jumento.

"Pela primeira vez e única vez reuniram-se no palco Luiz Gonzaga, Patativa do Assaré, Padre Antonio Vieira e José Clementino que foram saudados pelo violeiro Pedro bandeira". revela Huberto Cabral.

Todavia o próprio Luiz Gonzaga dizia que o mais importante acontecimento foi a instalação da Universidade do Cariri-Urca. Durante o lançamento da Universidade Luiz Gonzaga anunciou a criação da Fundação Vovo Januário, que beneficiou os estudantes de Exu com transporte gratuito, entre Exu e Crato.

O jornalista Antonio Vicelmo diz que vários amigos e compositores nascido na região do cariri foram parceiros musicais de Luiz Gonzaga. Zé Clementino de Varzea Alegre. Hildelito Parente, Patativa do Assaré, Jose Jathai, que é o compositores de Eu vou pro Crato.

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CANTOR E COMPOSITOR JOÃO GONÇALVES, AUTOR DE SEVERINA XIQUE XIQUE, SOFRE INFARTO E MORRE NESTA SEGUNDA-FEIRA AOS 85 ANOS

O cantor e compositor João Gonçalves natural de Campina Grande, Paraiba, de 85 anos, nos deixa faltando três dias para o São João. João sofreu um infarto na madrugada desta segunda feira (21).

Um de seus sucessos do candor nascido 29 de maio de 1936, em foi Severina Xique-Xique, gravado na voz de Genival Lacerda. Outros artistas também já gravaram algumas de suas músicas, dentre eles estão Dominguinhos, Zeca Baleiro e Elba Ramalho, entre outros.

João Gonçalves, além do humor e do duplo sentido, é autor de canções em outros estilos. Espécie de hino não oficial de Campina Grande, a bela canção “Campina de outrora” é de sua autoria. É dele também “Lugar ao sol”, gravada por Dominguinhos.

Considerado o “rei do duplo sentido”, João Gonçalves teve um LP quebrado, na década de 1970, pelo apresentador de televisão, Flávio Cavalcante. O fato, ocorrido em plena ditadura, não só trouxe fama como o colocou sob os olhares dos militares. Em João Pessoa, Paraíba ao cantar na Festa das Neves, teve de se apresentar à Polícia Federal e a sua canção, “Pescaria em Boqueirão”, foi proibida.

Em 2017, a reportagem de  Astier Basilio para o site da Universidade Estadual da Bahia destacou a vida e obra de João Gonçalves. 

Confira:

Na parede ele guarda recordações e alimenta a alma para o futuro. Aos 81 anos, sendo 48 deles de carreira, João Gonçalves, mora em Campina Grande, Paraíba, é autor de clássicos da música brasileira, a exemplo de “Severina Xique Xique”, Firm Fim do Fole, Mariá, “Mate o véio”, “Galeguin dos zói azul”, sucessos na voz de Genival Lacerda. João é considerado o “rei do duplo sentido”.


Teve o talento reconhecido quando Luiz Gonzaga pediu (olha o pedido do Rei do Baião), que João fizesse umas músicas "limpinhas"-sem duplo sentido, com ritmo, melodia e harmonia, que ele gravava. João conta que fez porém já doente Luiz Gonzaga não gravou. "O destino então quiz que Dominguinhos gravasse. Dominguinhos gravou Um Lugar ao Sol. Tem reconhecimento maior. Sanfona e voz de Dominguinhos", ressalta João Gonçalves

Antes do reconhecimento João teve seu LP quebrado, na década de 1970, pelo apresentador de televisão, Flávio Cavalcante. O fato, ocorrido em plena ditadura, não só trouxe fama como o colocou sob os olhares dos militares. Em João Pessoa, ao cantar na Festa das Neves, teve de se apresentar à Polícia Federal e a sua canção, “Pescaria em Boqueirão”, foi proibida.

É de autoria de João Gonçalves, o hino não oficial de Campina Grande, a canção “Campina de outrora”. Uma vida artística a caminho dos 50 anos, doze discos de vinil, quatro CD's, DVD e mais de mil músicas gravadas sintetizam a trajetória do compositor e cantor, João Gonçalves.

A vida artística começou em 1970, quando Joacir Batista, Messias Holanda, Genival Lacerda e Trio Nordestino despertaram para o grande talento do compositor. Nesta época, um dos grandes sucessos de Genival Lacerda - "Severina xique-xique", letra de João Gonçalves, fez sucesso em todo o país, enfatizando a sua característica do duplo sentido.

João contou que teve a generosidade de ter na maioria dos seus discos a sanfona de Dominguinhos.

João Gonçalves continua sendo uma lenda entre os forrozeiros e, pela temática de suas composições, constantemente procurado pelos empresários das bandas: "Do jeito que eles querem eu não faço não. Eles gravam as antigas. Catuaba com Amendoim gravou Mariá, Severina Xique-Xique. Tem até uma música que eu fiz para Tom Oliveira que a Aviões do Forró gravou, Locadora de mulher, mas não é de letra pesada, é só engraçada (cantarola o refrão): ’Eu descobri uma locadora de mulher/ Lá tem mulher do tipo que o homem quiser’".

João Gonçalves – Nasceu em 29 de Maio de 1936 em Campina Grande – Paraíba. Desde de criança cantava e inventava parodias. Gostava de cantar qualquer estilo e ritmo. Devido problemas de saúde, conta com "lágrimas nos olhos" das boas recordações de encontrar os amigos nas mesas de bar e tomar umas e outras, aquela cachacinha com caju...

"Sinto saudades. Isto já é um bom motivo prá fazer música", diz João Gonçalves.

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