DIA 03 DE MARÇO COMPLETA UM ANO DO RETORNO DAS ARARINHAS AZUIS AO SERTÃO DE CURAÇÁ, BAHIA

 

No próximo 03 de março, Dia Mundial da Vida Selvagem completa exatamente 1 ano do retorno de 52 ararinhas-azuis (49 oriundas da ACTP Alemanha e três do Zoológico Pairi Daiza na Bélgica), quando chegaram em Curaçá, Bahia e estão sendo preparadas para sua reintrodução para viverem novamente na natureza.

Se não fosse a pandemia certamento na cidade iria acontecer várias comemorações. A reintrodução da Ararinha-azul faz parte de um projeto na Caatinga, no qual duas Unidades de Conservação federais foram estabelecidas em 2018 para garantir a proteção e promover a biodiversidade e o uso sustentável.

O projeto promoveu a educação ambiental entre a comunidade e alunos que foram sensibilizados sobre a importância da conservação da ararinha-azul. Estas aves foram vítimas de décadas de caça furtiva e a perda de seu habitat natural até a sua extinção na natureza, em 2000.

Inicialmente, a reprodução da ararinha-azul parecia impossível, pois apenas um número muito pequeno de aves havia sobrevivido e a diversidade genética era muito limitada. Foram testados e desenvolvidos vários métodos para aumentar a população em cativeiro.

Em 2012, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), juntamente com várias organizações parceiras, estabeleceu um Plano de Ação Nacional para aumentar a população cativa, proteger o habitat e promover a reintrodução da Ararinha-azul.

Em 2016, a organização sem fins lucrativos alemã, Association of Conservation Threatened Parrots (ACTP), lançou o "Projeto de Reintrodução da Ararinha-azul" em conjunto com o ICMBio e com o apoio da fundação belga Pairi Daiza.

Em 2018, a maioria das aves foi reunida na ACTP em Berlim. Sob a supervisão de uma equipe de especialistas, um número crítico de animais foi criado nos últimos anos. Felizmente, a tecnologia de criação em cativeiro desenvolvida pelos proprietários e o programa de inseminação artificial da Al Wabra Wildlife Preservation, do Catar, ajudaram a aumentar a pequena população de 53 aves em 2000 para até 180 papagaios saudáveis hoje. Destes, os primeiros animais devem agora ser reassentados em sua casa original.

Ano passado, a reportagem do BLOG NEY VITAL, esteve em Curaçá, no dia 3 de março de 2020. Atualmento um grande centro de criação e soltura localizado em uma área de 45 hectares dentro do Refúgio da Vida Silvestre da Ararinha-azul, na Caatinga. As Ararinhas continuam sendo preparados para sua vida na natureza. Este ano, o primeiro grupo de ararinhas-azuis finalmente deve voar pela Caatinga depois de 21 anos do desaparecimento do último exemplar visto na natureza.

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IVALDO BATISTA: CORDEL ZÉ DANTAS 100 ANOS DO MAIOR COMPOSITOR GONZAGUEANO

Ivaldo Batista. Ivaldo é poeta, escritor e cordelista. Nasceu em Carpina, Pernambuco, membro efetivo da União Brasileira de Escritores e do Instituto Histórico de Jaboatão dos Guararapes. Ivaldo é formado em Historia pela Universidade Católica de Pernambuco, pós-graduado em História de Pernambuco, Bacharel em Teologia. Este ano Ivaldo Batista presta homenagem aos 100 anos do compositor e médico Zé Dantas.



Peço a Deus que me dê inspiração

Pra lembrar em versos que faz 100 anos

Que nasceu um desses pernambucanos

Um dos filhos ilustres do sertão

Que representou bem a região

O Nordeste se sente envaidecido

Por esse talento reconhecido

E o legado que ele nos deixou. 

O que Doutor Zé Dantas receitou

Através de Gonzaga tenho ouvido.

Natural de Carnaíba das Flores

Situada no Alto Pajeú

Solo onde reina o Mandacaru

Deu-nos o maior dos compositores

Gonzagão foi servido de valores

Os doutores escalados no Baião

Executaram bem essa missão

Mas ZÉ DANTAS foi quem se destacou.

Tudo que doutor Zé Dantas criou

Gonzagão cantou pra nossa nação.

Esse gênio nasceu em Fevereiro

Que é mês de carnaval e confete

Seu registro, diz dia Vinte e Sete 

Sou tiete desse nobre guerreiro

Pernambuco, Estado Brasileiro

Tem orgulho de vê esse menino

Que nasceu e cresceu tão nordestino

Em Mil Novecentos e Vinte e um.

Com um talento raro incomum 

Só podia ser obra do divino.

É Seu José de Souza Dantas Filho

Nome do cidadão carnaubano

Como pernambucano me ufano

De vermos nessa estrela tanto brilho

Com vocês esses versos eu compartilho

A fim de resgatar sua memória

Ele é referência e fez História

Um exemplo para toda nação.

Revelado por nosso Gonzagão 

Um e outro já partiram pra glória. 

Falando sobre os seus genitores

Seu pai foi importante fazendeiro

JOSÉ DE SOUZA DANTAS, homem ordeiro

Ex prefeito da cidade de Flores

Comerciante cheio de valores

Da burguesia rural nordestina

Que queria o filho na medicina

Sua mãe Josefina Alves Siqueira.

Dona “Santu” Uma mulher guerreira 

Esses pais decidiram a sua sina. 

Zé Dantas Filho deixou Carnaíba

Foi morar lá perto do litoral

Mudou pra estudar na capital 

Desce lá de riba feito um escriba 

Nessa arte não há quem o proíba

A vontade da família foi feita

Veio estudar pra passar receita

Chegou ao Recife com Nove anos.

Estudou mas traçou também seus planos

Nossa gente se deu por satisfeita.

Dos colégios que ele freqüentou

Em Recife tem Nóbrega e Marista

Também o Americano Batista

Onde José Dantas Filho estudou

Com dezessete anos ele criou

Compôs Xote, Toadas e Baião

Era grande a sua produção

Do modo nordestino e brejeiro.

Crônicas do Folclore brasileiro

Tá presente em sua composição.

Seus trabalhos eram sempre mostrados

Pelo colégio em uma revista

Era no Americano Batista

Onde seus textos eram publicados

Os costumes nordestinos narrados

Ali treinava um compositor

Com toda liberdade pra compor

Sem jamais esquecer sua missão.

Ele só veio de lá do sertão

Pra cidade estudar e ser doutor. 

Seu Zé Dantas nasceu pra ser artista

Revelado ainda de menor

Afirmou Armando Souto Maior

Esse excepcional folclorista

Que foi seu colega lá no Marista

Testemunhou Zé Dantas batucando

Uma caixa de fósforos usando

E compondo ali de improviso.

Vinha dos corredores esse aviso

Um compositor está se formando. 

Essa etapa da vida então termina

Ele corre atrás do ideal

Pari passu a vida musical 

Ingressou no curso de Medicina

Como sua família determina

O pai dele jamais quis aceitar

Vê o filho na música atuar 

Mas um dia mudou de opinião.

Depois que conversou com Gonzagão

Eu conheço quem pode confirmar.

Precisava estudar e ser doutor

Seguiu firme o curso de Medicina

O destino quem sabe vaticina

Determina o improvisador

José Dantas seguiu compositor

Ali no meio Universitário

A despeito do pai que era agrário

Nessa área ele foi se envolvendo.

O doutor nessa arte foi crescendo

E a vida lhe deu outro cenário.

Mil novecentos e quarenta e sete 

Fica aqui registrado no cordel

Que Zé Dantas foi vê no grande hotel

O Rei do Baião que era manchete

Recebeu de Zé Dantas e promete

Aproveitar sua composição

Que em breve fará a gravação

Ao gravar, foi um sucesso total 

Nasceu a parceria ideal

De Zé Dantas com o Rei do baião. 

Forró de MANÉ VITOR e Vem MORENA

Zé Dantas viu suas composições

Agradarem em cheio as multidões

Pra alegria do amor de Helena

Que pra o doutor Zé Dantas acena

As duas canções que foram gravadas

Já estavam por demais aprovadas

Consagrando Zé Dantas o autor.

E o Rei do Baião, grande cantor

Uma das parcerias consagradas.

O curso de Zé Dantas terminou

Em Quarenta e Nove ele saiu

Cursou Medicina e concluiu

Pra o Rio ele logo se mudou

Em Cinqüenta quando por lá chegou

Procurou explorar a sua arte

Do mundo artístico ele é parte

Participou de Shows e gravações

Com Gonzaga e outras produções

Seu Zé Dantas tornou-se estandarte.

Lá no Rio foi fazer residência

No Hospital que é dos Servidores

Era um dos neófitos doutores

Destacou-se por sua inteligência

Logo provando sua competência

Quando teve concurso aproveitou

Preparou-se no teste e passou

E entrou pra o quadro efetivo.

Nesse hospital foi gestor ativo

Nem com isso, seu dom abandonou.

Em Recife lá na Rádio Jornal

Em Cinqüenta, ele pode estrear

E no Rio também pode atuar

No Programa na Radio Nacional

“Na Hora do Baião” foi tão legal

Ouvir muitos causos do contador

De personagens foi imitador

Revelou contos do Nordeste pobre

No programa em um horário nobre

Tava ali o doutor compositor.

Sobre sua esposa eu me lembro

Yolanda Dantas é de Pernambuco

De Recife, chão de Joaquim Nabuco

Esses dois se conheceram, relembro

Foi num dia de sete de setembro 

Num feriado em Serra Talhada

Começou com uma simples olhada

Numa Vila chamada Caiçarinha 

Com dezessete anos e tão novinha

A professorinha foi conquistada. 

Foi assim que Zé Dantas conheceu

Dona Yolanda Dantas, querida

Encontrou o amor de sua vida

Foi assim que tudo aconteceu

Esse encontro no sertão ocorreu

Ele estudante de medicina

Galanteador ganhou a menina

Que era filha de um leiloeiro.

E Zé Dantas filho do fazendeiro

Elegante essa conquista assina.

Iniciou assim a relação

Mas eles não se casaram no ato

Em Mil Novecentos e Cinqüenta e quatro

É que foi selada a união 

Oito anos depois o coração

Da mulher que inspirou a letra “I”

Viu seu amor, desse mundo partir

Para o que chamam de vida eterna

Ela ficou sem chão, procurou perna

Mas no mundo precisou prosseguir. 

Ela tinha três filhos pra criar

E seguir firme era sua tônica

Criou duas filhas: Sandra e Mônica

E um filho também pra educar

Zé Dantas Neto pra continuar

Tornou se doutor e mora no Rio

Yolanda encarou o desafio

Só a morte é quem lhe submete

Janeiro de Dois Mil e Dezessete

Sua morte não matou o seu brio.

Foram quinze anos de parceria

Mais de Cinqüenta músicas gravadas

Todas elas são marcas registradas

Da junção que o destino fazia

O Brasil inteiro todo curtia

Aplaudia cada nova canção

De Zé Dantas, um mestre do Baião

Gonzagão garimpou nobre parceiro.

Mais um pernambucano e brasileiro

Pra decantar a nossa região.

Vou citar algumas canções aqui

VOLTA DA ASA BRANCA e SABIÁ

ADEUS IRACEMA e MARIÁ

CASAMENTO DE ROSA e LETRA I

O DELEGADO NO COCO ouvi

TREZE DE DEZEMBRO e o TORRADO

VOZES DA SECA e FEIRA DE GADO

CARTÃO DE NATAL e CHEGOU SÃO JOÃO.

ACAUÃ e ABC DO SERTÃO

QUADRILHA é BOM e o MACHUCADO.

PRONDE TU VAI LUI e LENDA DE SÃO JOÃO

DANÇA DA MODA e PEGA PENEIRA

QUANDO O INVERNO CHEGA e RENDEIRA 

PERFUME NACIONÁ, PISA PILÃO 

O BOM QUE O COCO TEM e TUDO É BAIÃO

TÁ LEGAL e O QUE É QUE TU QUER

RIACHO DO NAVIO e RAQUÉ

PIRIRIM, ADEUS RIO DE JANEIRO.

O CIRCO, O RIACHO DO IMBUZEIRO

NÓS NUM HAVE e MANÉ e ZABÉ. 

O CALANGO e SAMARICA PARTEIRA

NOITES BRASILEIRAS e SETEMBRINA

MUIÉ FEIA, NO TERREIRO DA USINA

PAULO AFONSO e PASSO DA RANCHEIRA

SIRI JOGANDO BOLA é de primeira

A DANÇA DA MODA e ALGODÃO

CANGOTE CHERÔSO e FORRÓ DE ENTÃO

CHORA CARRINHO e CINTURA FINA.

CHEGADA DE INVERNO e CORINA

IMBALANÇA e CAFÉ na relação.

MINHA FULÔ, SÃO JOÃO NO ARRAIÁ 

LASCANDO O CANO e AI MEU BEM

SÃO JOÃO ANTIGO e XEM NHEM NHEM 

VAI TER CASAMENTO, NUM VÔ CHORÁ 

MEU PAPAGAIO e NA BEIRA MAR

SANSÃO e DALILA, OLHA A PISADA 

AI AMOR e AS QUATRO IMBIGADA

BALANÇA A REDE e CABRA A PESTE.

ADEUS SAUDADE e CABRA DO NORDESTE

FORRÓ DE MANÉ VITOR e FARINHADA.

XOTE DAS MENINAS e CAXAMBU

eve o BALAIO DE VEREMUNDO

SÓ VALE QUEM TEM é coisa do mundo

BALAIO, FORRÓ EM CARUARU

SÃO JOÃO NA ROÇA e REI BANTU 

No XOTE MIUDINHO a gente vai

VEM MORENA é sucesso que não cai

CADÊ O PEBA, AQUELA CASINHA.

FORRÓ DO QUELEMENTE e MARIQUINHA

ALMA DO BRASIL, DERRAMARO O GAI.

José Dantas grande compositor

Pra criar versos era um celeiro

Retratando o Nordeste brasileiro

Como folclorista pesquisador

Da cultura foi um divulgador

Do Nordeste fez toda exposição

Abordando os temas do sertão

Novenas, festas e as farinhadas.

As poesias e brigas relatadas

Casamento e muita confusão.

Zé Dantas viveu o mundo rural

Xico Nóbrega assim me falou

Esse cotidiano transportou

E botou na construção musical

Esse compositor foi triunfal

Mergulhou fundo nessa produção

Dando aula de interpretação

Aos poucos, a medicina que cura.

Foi perdendo espaço para cultura

José Dantas foi show na criação.

Seu Zé Dantas doutor admirado

Destacou-se enquanto humorista

Além do bom humor foi folclorista

Já escutei um causo seu contado

Quem ouviu garante ter gostado

Era fonte de entretenimento

Foi proveitoso esse casamento

O baião ganhou outro pioneiro

Na canção Gonzagão foi um parceiro

Que deu voz a esse grande talento.

Por quarenta e um anos, viveu 

O Baião chorou sua despedida

Sua obra eterniza sua vida

Ele vive em tudo que escreveu

Nessa breve vida desenvolveu

Um acervo gigante pra cultura

Contribuiu demais a criatura

Vejam entre os clássicos musicais.

Suas músicas são tradicionais

E cantores fazem nova leitura.

Seu Zé Dantas sofreu um acidente

Em fevereiro de sessenta e um

Não sei se havia remédio algum

Pra tratar o doutor que é paciente

José Dantas ficou muito doente

Por romper um ligamento no pé

Tomou a cortisona e nessa fé

O remédio aliviava as dores.

Os efeitos, pois nem tudo são flores

Comprometeu o fígado de Zé.

Um ano depois Zé Dantas morreu

Em onze de março em sessenta e dois

Muitas homenagens seguem depois

Todas elas, o cabra mereceu

Lembro algumas que ele recebeu

Na Academia é imortal

Ganhou um busto na terra natal

Cada homenagem a Zé foi bela. 

É nome de Rua em Casa Amarela

No bairro do Recife a, capital.

Homenageando o compositor

Num compacto do Rei do Baião 

Luiz Gonzaga gravou XÔ PAVÃO 

PROFECIA, outra composição

Cantou também outra exaltação

De Onildo Almeida do Agreste

E de outro, também cabra da peste

Antônio Barros lá da Paraíba.

Ao nosso mestre lá de Carnaíba

Que deixou chorando todo Nordeste.  

As canções de Zé Dantas alcançaram

Um patamar bonito de se vê

Muitos artistas da MPB

Já gravaram e também regravaram

Com diversos arranjos interpretaram

Alguns deles, eu tenho relacionado:

Ivon Cury, Quinteto Violado

Carmélia Alves, Hermeto pascoal.

Gonzaguinha e Wilson Simonal

Ivan Ferraz e Elba têm cantado.

Gonzagão gravou Zé Dantas primeiro

Dominguinhos também teve a vez

Maria Bethânia e Marinês

Marisa Monte e Jackson do Pandeiro

Flávio José e Alcymar Monteiro

Alceu Valença e Gilberto Gil

Geraldo Azevedo e outros mil

Até Chico Buarque que encanta.

E Marina Elali também canta

As canções do avô pelo Brasil.

Encerrando o cordel do doutor

Segundo José Teles: O mais lírico

Com o meu conhecimento empírico 

Digo: Foi o maior compositor

Em tão pouco tempo pode compor

Dezenas de letras com qualidade

Revelou sua versatilidade

E sua relação umbilical.

Que ele teve com o mundo rural 

Descreveu pra o homem da cidade.


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LIVE COM QUINTETO VIOLADO COMEMORA O CENTENÁRIO DE ZÉ DANTAS

Neste sábado, 27 de fevereiro de 2021, será comemorado o centenário do lendário compositor José de Sousa Dantas Filho, Zé Dantas criador de inúmeros sucessos cantados por Luiz Gonzaga.  Neste ano, diante da pandemia, a cidade apostará em uma programação de lives no YouTube. para homenagear os 100 anos de nascimento do poeta, compositor e médico Zé Dantas.

A ação começa neste sábado, a partir das 21h, com o show Quinteto Violado Canta Zé Dantas, transmitido ao vivo do Teatro José Fernandes de Andrade. A exibição será realizada nos canais da banda e da Prefeitura de Carnaíba

Mais cedo, logo nas primeiras horas da manhã, a centenária Banda Filarmônica Santo Antônio percorrerá as ruas da cidade rendendo homenagens ao compositor. O calendário de lives seguirá até maio, até que se tenha uma nova posição dos protocolos de segurança em razão da pandemia. Estão previstas lives quinzenais com artistas da terra cantando e interpretando as canções de Zé Dantas.

Outras atividades, como lançamentos de livros, cordéis, documentário e roteiros esportivos serão anunciadas tão logo seja possível de acordo com as normas vigentes dos protocolos sanitários do governo estadual. Outras apresentações online serão realizadas com poetas, outros artistas e bandas locais, além de programações envolvendo a rede municipal de ensino. 

A tradicional Festa de Zedantas, que acontece no mês de novembro, deve contar com uma programação especial a depender da pandemia. Um dos destaques será a presença da neta do compositor, Marina Elali, que já participou em outras edições.

Foi na Carnaíba que Zé Dantas viveu sua infância e recebeu as influências que fizeram dos seus versos um retrato do povo sertanejo. Compositor, poeta e folclorista, autor de uma série de composições que fizeram sucesso na voz de Luiz Gonzaga, a exemplo de Cintura Fina, Riacho do Navio, Vem Morena e A Volta da Asa Branca. Além do lirismo e da comédia, traduziu o grito dos nordestinos em busca de dignidade com o clássico Vozes da Seca.

Após concluir o ensino médio, ingressou na faculdade de medicina. Em 1947 Zé Dantas teve seu primeiro encontro com Luiz Gonzaga. A parceria rendeu sucessos comoAcauã, Sabiá, O Xote das Meninas, Forró de Mané Vito e tantas outras. Ele foi casado com a pernambucana Yolanda Dantas, que faleceu em 2017, aos 86 anos. O casal teve três filhos. Uma das netas do casal, Marina Elali, seguiu a carreira artística e já gravou músicas compostas pelo avô. Zé Dantas faleceu no Rio de janeiro, no dia 11 de março de 1962.

Confira a programação: 

27 de fevereiro (sábado), às 21h - Quinteto Violado

13/03 - Genailson do Acordeon

27/03 - Marcos e Pavão

10/04 - Bandas de Pífanos

24/04 - Júnior Mendes

08/05 - Adriano Lima

22/05 - Tiago Souza

SERVIÇO

Live Quinteto Violado Canta Zé Dantas

Quando: neste sábado (27), a partir das 21h

Onde: Canais do YouTube do Quinteto Violado e Prefeitura de Carnaíba PE

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EVENTO TRIBUTO A VIRGOLINO, CELEBRAÇÃO DO CANGAÇO, GANHA EDIÇÃO VIRTUAL

O evento Tributo a Virgolino - A Celebração do Cangaço, que desde 1994 é apresentado anualmente em Serra Telhada, no Sertão de Pernambuci, vai ser realizado virtualmente devido à pandemia da Covid-19. Celebrando a cultura da região, a programação será realizada da sexta-feira (26) ao domingo (28), sempre a partir das 19h, com transmissão ao vivo pelo canal do Youtube do grupo Cabras de Lampião. O evento contará com palestras, apresentação de grupos de xaxado (dança típica dos cangaceiros), pastoril, capoeira e uma celebração religiosa.

Quem abre o ciclo de palestras, na sexta-feira (26), é o pesquisador e escritor do Cangaço, Anildomá Willians de Souza, profundo conhecedor da história de Lampião. O Tributo a Virgolino conta com o incentivo cultural da Lei Aldir Blanc, através do Governo de Pernambuco, da Prefeitura de Serra Talhada e do Governo Federal.

Confira a programação completa:

Dia 26 de fevereiro (sexta-feira)

19h Palestra Lampião e o Sertão do Pajeú, com Anildomá Willans de Souza

19h30 Poetas repentistas Janailson Mariano e Janaildo Mariano

20h Grupo de Xaxado Zabelê

20h30 Pastoril de Maria

21h Jéssica Caitano e A Cristaleira

Dia 27 de fevereiro (sábado)

19h - Palestra A influência do Cangaço na Cultura Popular, com Karl Marx.

19h30 - Damião Enésio e Zé Carlos do Pajeú

20h - Grupo de Xaxado Gilvan Santos

20h30 - Mistura Pernambucana

21h - As Severinas

Dia 28 de fevereiro (domingo)

09h -A Celebração do Cangaço com Padre Josenildo e participação de:

Banda de Pífanos Travessão do Caruá.

Mestre Assisão

Bacamarteiros do Pajeú

Capoeira Muzenza

Poeta e Contador de Causos Clênio Sandes

Grupo de Xaxado Cabras de Lampião

Cícero de Souza e Francinaldo Oliveira

Marquinhos do Acordeom

Naldinho Carvalho

Serviço: Tributo a Virgolino – A Celebração do Cangaço

Quando: De 26 e 28 de fevereiro, sempre a partir das 19h

Onde: YouTube do Grupo Cabras de Lampião 

Mais informações: www.cabrasdelampiao.com.br


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DESMATAMENTO FAVORECE AUMENTO DE BACTÉRIAS RESISTENTES A ANTIBIÓTICOS

Um estudo conduzido por pesquisadores da USP e colaboradores mostrou que o desmatamento na Amazônia causa um aumento na diversidade de bactérias resistentes a antibióticos. O artigo, publicado na revista Soil Biology and Biochemistry, comparou os microrganismos que vivem no solo da floresta nativa com aqueles encontrados em pastagens e plantações. Nas áreas desmatadas, observou-se uma quantidade muito maior de genes que sinalizam a resistência a antimicrobianos.

“As bactérias produzem substâncias para atacar umas as outras. Essa competição por recursos é comum em qualquer ambiente. Quando uma área é desmatada, porém, uma série de fatores aumenta a competição, favorecendo justamente aquelas bactérias que podem resistir a essas substâncias. Se chegam aos humanos, esses microrganismos podem se tornar um grande problema”, explica Lucas William Mendes, pesquisador apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba, e um dos autores do estudo. A pesquisa integra um projeto ligado ao Programa Biota-Fapesp e coordenado por Tsai Siu Mui, professora do Cena.

A resistência a antibióticos é considerada um problema de saúde pública global pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Doenças resistentes a medicamentos, de modo geral, causam cerca de 700 mil mortes por ano no mundo, segundo a organização.

No trabalho realizado pelos pesquisadores do Cena, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP (Esalq), em Piracicaba, e do Laboratório Nacional de Computação Científica, em Petrópolis (RJ), foram analisados cerca de 800 milhões de sequências de DNA extraídas de 48 amostras de solo de áreas do Pará e do norte do Mato Grosso.

Usando ferramentas de bioinformática, os pesquisadores compararam o material genético das amostras com um banco de dados de genes conhecidos pela resistência a antibióticos. Foram encontrados 145 genes com essa característica, capazes de resistir à ação de antibióticos por meio de 21 mecanismos moleculares diferentes. Ainda que bactérias resistentes a antibióticos estejam presentes no solo florestal, esses microrganismos e seus mecanismos de resistência são muito mais abundantes nos solos de pastagens, áreas desmatadas e plantações.

“O processo de ocupação na Amazônia consiste em, primeiramente, derrubar as árvores mais valiosas para exploração da madeira. Em seguida, todo o resto é desmatado e a área, queimada, para dar espaço a culturas agrícolas ou capim para o gado. Além das cinzas da vegetação que vivia ali, o solo recebe ainda calcário para diminuir a acidez e outros insumos agrícolas. Essa abundância de nutrientes gera uma proliferação de bactérias e uma competição feroz por recursos”, diz Mendes.

Em trabalhos anteriores, o grupo do Cena observou que, apesar da menor diversidade demicrorganismos no solo da floresta, há uma maior abundância de bactérias que exercem funções benéficas para as plantas – como ciclagem de nutrientes e aumento da fotossíntese – e mesmo para a atmosfera, como a fixação de carbono e o consumo de metano, gás que é o principal responsável pelo efeito estufa.

No estudo atual, chamou a atenção dos pesquisadores a grande quantidade de bactérias resistentes a dois tipos específicos de antibióticos, tetraciclina e betalactamase. Medicamentos com esses princípios ativos são largamente utilizados no tratamento de doenças do gado e podem chegar ao solo por meio das fezes e da urina, uma vez que os bovinos têm baixa absorção de antibióticos. O uso de esterco como adubo pode, segundo os pesquisadores, contribuir para a propagação das bactérias resistentes.

Não é possível afirmar, no entanto, que os microrganismos imunes a antibióticos são capazes de migrar do solo amazônico para os alimentos produzidos nele, como grãos, cana-de-açúcar e carne. “Alguns trabalhos supõem que essa transferência possa ocorrer, mas ainda não há estudos que mostrem uma relação direta. É algo que deve ser olhado com atenção, pois se essas bactérias resistentes chegarem aos humanos podem causar um grave problema de saúde pública”, afirma Mendes.

Tampouco há soluções imediatas para impedir o surgimento dessas bactérias em solos cultivados. Um manejo que leve em consideração outras funções dos microrganismos além da produtividade das plantas, como ciclagem de nutrientes e diminuição de espécies produtoras de metano, por exemplo, pode ajudar a mitigar o problema.

Isso pode ser feito com o transplante de solo natural para uma área cultivada ou mesmo com o uso de inoculantes. Esses produtos baseados em microrganismos levam para o solo funções importantes que podem, de quebra, diminuir o uso de fertilizantes e agrotóxicos, a ponto de serem vistos como um potencial mercado de bilhões de dólares.

No caso da Amazônia, as soluções e as oportunidades podem estar logo ao lado de um pasto ou de uma plantação, no próprio solo da floresta nativa.

Acesse o  artigo Amazon deforestation enriches antibiotic resistance genes, de Leandro Nascimento Lemos, Alexandre Pedrinho, Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos, Siu Mui Tsai e Lucas William Mendes. (Fonte: André Julião/ Agência Fapesp)

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FOTÓGRAFOS PETROLINENSES DISPUTAM VAGA NA EXPOSIÇÃO PROJETO MEU OLHAR SOBRE PERNAMBUCO

O projeto Meu Olhar Sobre Pernambuco, que irá expor o trabalho de fotógrafos amadores e profissionais do estado, está com votações abertas ao público. Concorrem 38 obras de artistas do Recife, Olinda, Caruaru, Cabo de Santo Agostinho, Nazaré da Mata, Santa Cruz do Capibaribe, Jaboatão dos Guararapes, Limoeiro, Paudalho, Escada, Jatobá, Petrolândia, Petrolina, Brejinho e Amaraji (confira a lista abaixo). Cada autor concorre com um trabalho.

O público poderá votar quantas vezes quiser e apenas pela internet. A votação, que vai definir quem serão os finalistas do projeto, vai até às 23h59 desta quinta-feira (25) no site do projeto. Manifestações culturais, personalidades da cultura do estado, gastronomia e turismo, são os recortes fotográficos produzidos pelos participantes.

Além de votar, o internauta poderá conhecer a história dos fotógrafos, relação deles com a fotografia e saber mais detalhes sobre as obras produzidas. Os finalistas serão revelados no dia 1º de março através de live no instagram do projeto (@meuolhar.pe). A exposição virtual vai acontecer no site do projeto entre os dias 12 e 13 de março.

As 10 fotos mais votadas participarão da exposição presencial e online, e seus autores serão premiados. Aprovado no Edital Criação, Fruição e Difusão- LAB-PE, através da Lei Aldir Blanc, o projeto Meu Olhar Sobre Pernambuco busca reunir e apresentar em exposição, no mês de março, recortes fotográficos de todo o estado.

Confira abaixo os participantes e município que representam:

Alexandre Henrique - Nazaré da Mata

Almir das Neves - Santa Cruz do Capibaribe

Amanda Gomes - Petrolândia

Amanda Chaves - Recife

Américo Vinicius - Recife

Ana Beatriz Monteiro - Jaboatão dos Guararapes

Bartolomeu Lins - Petrolina

Carlos Larte - Petrolina

Daniel Henrique - Recife

Emanoela Torres - Limoeiro

Emanuel José - Cabo de Santo Agostinho

Grinaldo Gadelha - Recife

Hugo Leonardo - Recife

Jamille Almeida - Jaboatão dos Guararapes

Janaína Pepeu - Caruaru

Jorge Cabral - Recife

José Apolinário - Recife

José Magno - Olinda

José Wilton - Recife

Juliana Delfino - Brejinho

Leonardo Silva - Recife

Lissandro Moreira - Petrolina

Luany Luiza - Cabo de Santo Agostinho

Luciana Liv - Recife

Lúcio Lucas - Escada

Marlise Fróes - Olinda

Mayssa Lorena - Jaboatão dos Guararapes

Nilo dos Anjos - Olinda

Pablo Rodrigo - Recife

Rodrigo Barros - Recife

Suelen Beatriz - Jatobá

Thiago Lira - Paudalho

Thiago Mariano - Olinda

Walkiria dos Santos - Amaraji

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CANÇÕES DA TERRA, DO MAR E DO AR TOCAM A ALMA DOS OUVINTES

Depois de mais de quatro décadas de pesquisas, o professor Marcos Ferreira Santos, da Faculdade de Educação da USP, acaba de lançar quatro discos e dois áudio-books com músicas e poemas das mais diferentes origens étnicas. Os álbuns Arkheophonias (em dois volumes), Amantras e Arkheovox e o áudio-book Koe’ti – Mitopoéticas (também em dois volumes) reúnem, além de obras compostas pelo professor, sons e textos que ele compilou em comunidades tradicionais e povos originários, principalmente entre os quéchuas, aymaras e mapuches, na região andina, mas também em outros continentes.

As canções apresentadas nos discos são entoadas em pelo menos 20 idiomas, como quéchua, guarani, árabe, mongol, mandarim, hindi, basco, húngaro e tâmil, entre outros. Além disso, elas cobrem um amplo espectro de ritmos, desde o huayno andino e o ghazal indiano até o nawwari libanês, o apala nigeriano e o ditiritambo grego, passando por trovas medievais latinas, mantras védicos, milongas argentinas e cirandas praieiras.

Quanto aos instrumentos utilizados para executar essas músicas, a variedade também é imensa. Estão presentes nos discos e nos e-books instrumentos de sopro como tarkas bolivianas e dizis chinesas, as cordas do morin khur mongol (leia mais no texto abaixo) e do cuatro venezoelano e a percussão dos atabaques yorubás, tablas indianas, udus peruanos, djembês senegaleses e darbakis marroquinos, entre vários outros.

Foram muitas as vivências do professor com povos originários e comunidades tradicionais, em que sempre fez a compilação de narrativas míticas, canções e instrumentos autóctones com seus mitos de origem, em diálogo com outras tradições. Ao lado de Ailton Krenak, Marcos Terena e outros líderes indígenas, circulou entre várias aldeias e povos, em especial, os kaingangs, os guaranis mbyá e os nhandevas, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, os pataxós, na Bahia, e os ashaninkas, no Acre e no Peru. Depois, ao longo da Cordilheira dos Andes, conviveu com quéchuas e aymaras (Bolívia e Peru), chiriguanos (Bolívia) e mapuches (sul do Chile e Patagônia argentina), entre outras culturas.

O professor investiu anos de convivência também com comunidades tradicionais instaladas no Brasil, como grupos sufis em São Paulo, os nihonji e uchinanchu (São Paulo, Cotia e Ibiúna), taoístas e chineses (bairro de Água Rasa e Brás, em São Paulo), bhaktas de vaishnavas (Rio de Janeiro, Minas Gerais e interior de São Paulo), rastafari (Jundiaí), quilombolas (Guaratinguetá, Tietê, interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais) e gaúchos de Rio Grande, Pelotas e Jaguarão, na divisa com o Uruguai.

“A ancestralidade tem um princípio de reciprocidade que faz com que nunca se converta o outro em ‘objeto de pesquisa’, mas pessoas irmanadas por um café, uma chicha ou uma cuia de chimarrão sobre a mesa da amizade, entre seus sonhos, frustrações, dores, dominação sociopolítica, esperança e utopias”, afirma o professor.

“Esse processo nunca cabe nos prazos de agências de financiamento e, por isso, a pesquisa básica em mitologia diretamente com os povos originários e comunidades tradicionais pode levar uma vida inteira.” 

Para o professor, o registro em formato audiovisual decorre da necessidade de ter essa investigação preservada, assim como o diálogo criativo e poético que se estabeleceu com as comunidades e pessoas que colaboraram com ele ao longo dos anos. 

“No âmbito dessa área de investigação e intervenção, não adianta muito e nem é suficiente tão somente o registro escrito, acadêmico ou não. A pesquisa mítica em sua forma original está intimamente ligada ao canto, à dança e aos instrumentos musicais. Portanto, ter esse material sonoro registrado era parte fundamental do processo de investigação e criação, de releitura simbólica e diálogo intercultural”, afirma. “Para tratar apenas de uma canção mais emblemática, talvez fosse necessário um livro inteiro. Ouvi-la talvez seja suficiente para que a tradição se cumpra na alma do ouvinte”, completa.

O professor pontua suas influências, entre elas o instrumentista indiano Pandit Ravi Shankar (1921-2012), o argentino Jorge Milchberg (1928), fundador do grupo parisiense Los Inkas/Urubamba, o chileno Guamary/Arak Pacha (1980) e o brasileiro Elomar Figueira Mello (1937). Lembra também que há gravações históricas de shows ao vivo nos anos 80 e conversas musicais – característica do seu “estilo didático”, sob a influência do mestre Ariano Suassuna (1927-2014) – da década de 2010 a 2020, além de produções no estúdio no seu sítio na Serra da Cuesta, na região de Botucatu, no interior paulista, onde está radicado desde 2014. 

“Curiosamente, a mesma Serra da Cuesta de Rio Bonito (hoje o município de Bofete), onde Antonio Candido fez pesquisas para a sua tese de doutoramento em 1954”, aponta, acrescentando que Candido também se dedicou a recompilar canções tradicionais, como é o caso de Canção de Siruiz, trecho da obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. “Eu apenas sigo a mesma linhagem caipira e caiçara com os pés nas raízes do chão e do mar e um canto ao vento.”

A trajetória do professor Marcos Santos como folclorista começou em 1979, muito antes da vida acadêmica, que, segundo ele, foi tardia. “O envolvimento com os protestos contra o golpe militar brasileiro e chileno e a adesão à União das Nações Indígenas (1980) e ao Círculo de Integração Social dos Países Latino-Americanos me levaram a uma atuação político-social intensa, articulando cultura, música e mitologia”, afirma, comentando que vem daí sua parceria com dom Pedro Casaldáliga, Pedro Tierra e Martin Coplas na Missa da Terra Sem Males, peça apresentada em 1982 no Teatro da Universidade Católica (Tuca), em São Paulo, e os primeiros LPs lançados em 1985 e 1986. Naquela época, conta, adotava o pseudônimo de “Arauco, el Brujo” como forma de despistar os mecanismos de repressão em função de sua proximidade com as comunidades mapuches.

Entre 1994 e 1998, Santos atuou na divisão de Desenvolvimento Cultural do Instituto Butantan, em São Paulo, com o objetivo não apenas de incrementar os cursos de divulgação científica para a comunidade, mas também fazer do instituto um polo de criação artístico-cultural. “Essa temática presente em minha atuação como investigador e como folclorista, através da arte-educação, se complementou com a atuação docente nos cursos de Pedagogia e de  Licenciatura na Faculdade de Educação da USP, que tiveram como pontos altos a criação do Laboratório Experimental de Arte-Educação e Cultura (Lab_Arte), em 2004) e a criação da disciplina de Cultura e Educação Afroameríndia, em 2019”, relata.

“Todos ainda estranham – ainda que já ocorram há mais de 20 anos na USP – minhas aulas com improvisação musical com tambores, flautas, cortejos nos corredores, dança étnica nos gramados e estacionamentos, saraus nos saguões, argila, xilogravura, mosaicos, pintura em tecido, ainda que abordando Políticas Públicas de Educação, além dos meus antigos cursos de Mitologia na graduação e na pós-graduação”, diz. É por isso, explica, que todos os seus projetos de pesquisa, orientações de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutoramento (mais de 50 teses), bem como os cursos de graduação e pós-graduação, orbitam até hoje sobre três pilares: mitologia, música e iniciação.

Mas como definir essa extensa e rigorosa pesquisa? O professor usa as palavras do poeta e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) João de Jesus Paes Loureiro, no prefácio do livro Koe’ti – Mitopoéticas: “Marcos Ferreira Santos apresenta uma ‘cordilheira poética translinguística’; pois o material decorrente desses anos de investigação abarca também não apenas uma pletora de instrumentos e ritmos, como também de línguas em suas manifestações de origem e recriações que, fiéis aos espírito da língua e sua estrutura mítica em sua pragmática linguageira, não há como fazer traduções. Por isso, o trânsito entre português, espanhol, inglês, francês, árabe, mongol, tamil, mandarim, bengali, basco (euskera), grego, nihongo, latim, húngaro, hindi, alemão, uchinanguchi, quéchua, mapugundun e guarani”.

Marcos Santos adianta que prepara outro livro, Cantiga Leiga Para Um Rio Seco e Outras Mitologias, em três volumes, em fase final de edição. Outros álbuns previstos são: Dança com Minotauro, em parceria com Fabiana Rubira, explorando o universo das narrações de histórias as paisagens sonoras de registros míticos, e Killa Taki – Lunário, com canções, instrumentos e registros míticos relacionados ao culto lunar e crepuscular entre povos orientais e afro-ameríndios.

Os álbuns Arkheophonias (volumes 1 e 2), Amantras e Arkheovox e o áudio-book Koe’ti – Mitopoéticas (volumes 1 e 2), do professor Marcos Ferreira Santos, estão disponíveis gratuitamente no spotify, no canal do Youtube, no onerpm e nas demais plataformas musicais (Deezer, Amazon Music, Tiktok, Pandora, Shazam e Itunes, entre outras).

Para a composição dos álbuns Arkheophonias, Amantras e Arkheovox e do áudio-book Koe’ti – Mitopoéticas foi utilizado grande número de instrumentos. 

“São muitos instrumentos e muito ‘diferentes’ dos usuais, e cada um tem uma característica própria sonora, organológica e de matriz mítica que se articula com sua sonoridade. Portanto, a interpretação não é apenas ‘técnica’, mas deve estar articulada com o contexto da paisagem sonora, o que propicia também diálogos com outras tradições, desde que não haja conflitos entre as paisagens”, afirma o professor Marcos Ferreira Santos. Ele afirma que, “diferente dos ‘modismos de liquidificador’ (misturar tudo e ver como é que fica), sobretudo nas atuais vogas de world music, aqui as experimentações sonoras são decorrentes de largos anos de investigação e nunca são gratuitas”.

O professor dá como exemplo o morin khuur, uma espécie de violoncelo de duas cordas com corpo em madeira quadrado ou trapezoidal, cujo braço termina numa cabeça de cavalo esculpida. Por isso, morin khuur, em mongol, é, literalmente, cabeça de cavalo. 

“Durante a tentativa de Temujin (conhecido pelo título de Genghis Khan, ‘o grande unificador’) de unificar as tribos nômades mongóis, um de seus guerreiros tinha uma saudade incontida de sua mulher. Rogou a Tengri (senhor andrógino dos céus) que o ajudasse. Durante seu sono, um cavalo apareceu para o guerreiro e o levou até sua esposa. Antes do amanhecer, o cavalo o trazia de volta ao campo de batalha, voando, e assim conseguia manter-se fiel a Temujin e também à sua esposa. Até que uma outra mulher invejosa descobriu a artimanha do guerreiro e sacrificou o cavalo para que os dois amantes não mais se encontrassem”, conta o professor. Segundo ele, foi daí que nasceu o morin khuur, com suas duas cordas inseparáveis sendo tocadas juntas e o cavalo encimando o braço do instrumento, numa sonoridade que sempre faz com que os dois amantes se encontrem novamente.

 “É impossível interpretar o instrumento sem ter sua narrativa de origem sempre presente na constituição melódica da canção, seu arranjo e sua função simbólica na paisagem sonora que se está constituindo”, complementa.

Outro exemplo que o professor dá é a txalaparta basca de percussão. “São duas grossas madeiras dispostas de maneira longitudinal sobre dois cavaletes e com proteção de tecido ou lã de ovelha. As madeiras são sempre provenientes da prensa de maçã para produzir a tradicional cerveja de maçã, a sidra. Quando já não estão em boas condições de uso, são convertidas em txalaparta, que são percutidas por dois baquetes de madeira também, geralmente, em duplas”, informa. Segundo ele, o som obtido é absolutamente original e ligado diretamente ao mito de Mari, a deusa primordial do universo basco em Euskal Herria. 

“Mari, ama lur, em euskara, é mãe-terra. A senhora natureza protetora das árvores, frutos, dos casarios nas montanhas, que, por vezes, se vê como bola de fogo atravessando os céus à noite, com uma foice à mão, ou como ave que cruza e descruza os caminhos, senhora da vida e da morte, animando o som das madeiras nos bosques de Biskaya, que se presentifica na txalaparta.” (Fonte: Claudia Costa-Jornal USP)

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