LAVANÉRIO LEANDRO FURTADO: UNIDOS PELA XEPA

Lavanério Leandro Furtado, escritor da cidade de Bodocó-Pernambuco, em plena pandemia, desconstroe a distópica situação premente. O seu livro, lançado em formato digital (pela Amazon) e cognominado Unidos Pela Xepa, nos remete a um passado não tão longínquo e o um horizonte não tão próximo. 

Trata-se da vida de jovens que têm um ponto em comum: a vida na cidade grande (Recife), deixando, cada um, suas vidas no interior para confluir e existir como força motriz na Casa do Estudante de Pernambuco (C.E.P.). No desenrolar das anedotas, percebemos a humanidade e a divergências econômico-sociais dos residentes da casa. O coronelismo, a união, a vida e seus melindres. Com a força que urge no leão de cada sertanejo, surge uma nova literatura. Regionalista. Inteligente. 

Link para comprar o E-Book: https://www.amazon.com.br/s?k=lavanerio&ref=nb_sb_noss
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PAÊBIRU: NAS PAREDES DA PEDRA ENCANTADA, OS SEGREDOS TALHADOS POR SUMÉ

Foi em 2001 que ouvi falar sobre Paêbirú: caminho da montanha do sol (1975), primeiro lançamento comercial do paraibano Zé Ramalho, acompanhado do pernambucano Lula Côrtes. O disco era mencionado na revista Showbizz numa lista de 10 grandes obras da psicodelia brasileira. Eu, que à época já começava a conhecer melhor as canções de Zé, fiquei intrigado com o álbum, sem vislubrar que pudesse escutá-lo algum dia.

Isso aconteceria em 2007, graças à boa e velha internet, pois o disco era (e ainda é) raríssimo. Contam-se diversas lendas para explicar a exiguidade de exemplares de Paêbirú. A mais conhecida, certamente, é que diz ter ocorrido uma enchente que destruiu 1.000 das 1.300 (?) cópias originalmente prensadas, além das próprias fitas master. O fato é que, hoje, um exemplar do LP de 1975 custa em torno de 5.000 mangos – apesar de circularem algumas cópias, por aí, lançadas pelo selo Mr. Bongo. (E o crítico Mauro Ferreira informou, há pouco, que a raridade voltou a ser editada pela série Clássicos do Vinil, mediante parceria da Polysom com a Rozenblit, gravadora original do álbum).

O folclore que envolve o disco, apesar de interessante, não é nada comparado ao seu próprio conteúdo. As faixas estão divididas nos quatro lados (do LP duplo) intitulados de acordo com os quatro elementos: terra, ar, fogo e água. Assim, trata-se de uma obra conceitual e, acima de tudo, coletiva. Participaram da concepção de Paêbirú não apenas Lula e Zé Ramalho, mas também outros amigos que, mais tarde, ganhariam maior notoriedade, Alceu Valença e Geraldo Azevedo – além de músicos inquestionáveis como Ivson Wanderley, Zé da Flauta, Paulo Rafael e Jarbas Mariz.

O disco representa uma imersão no misticismo, na mitologia e nas estórias que envolvem o sítio arqueológico paraibano da Pedra do Ingá. Tudo gira ao redor da entidade conhecida pelos indígenas da região como Sumé, aludida em suas narrativas orais e nos desenhos rupestres ali encontrados. Há quem diga que Sumé foi um ser humano comum, vindo de algum outro continente (já ouvi a história de que se trata do próprio São Tomé!); mas as lendas também o descrevem como um extraterrestre que desembarcou no Ingá a partir do ar, e há quem considere se tratar do próprio Ashtar Sheran, entidade que lideraria um conselho galático do qual Jesus Cristo faz parte, como responsável/representante da Terra. (Enfim, na mística envolvendo Sumé, cabe todo tipo de maluquice).

Assim, Paêbirú tem momentos tão loucos e incompreensíveis como as estórias acima (por exemplo, na suíte de abertura que engloba todo o lado “terra”, “Trilha De Sumé”, “Culto À Terra” e “Bailado Das Muscarias”), mas também traz faixas de elevada delicadeza, como as instrumentais “Harpa Dos Ares” e “Beira Mar”.

Na faceta louca/inclassificável/descontrolada, o grande destaque é a canção tematizada hoje, com o longo título “Nas Paredes Da Pedra Encantada, Os Segredos Talhados Por Sumé” e pertencente ao incendiário lado “fogo”.

À época em que conheci o álbum, li em algum lugar que a faixa poderia ser definida como o que seria dos The Doors se eles tivessem nascido no Nordeste. Perfeito! “Nas Paredes…” é exatamente isso: um complexo e intrincado improviso que envolve baixo, bateria, guitarras, sopros e teclados, muitos teclados. É como se o “Roadhouse Blues” fizesse uma viagem de ácido no sertão, trombando cangaceiros e tupinambás. (Prefiro considerar que talvez seja a primeira incursão brasileira no que hoje se chama de jazz fusion).

A letra é formada por quatro estrofes com dez versos decassílabos, utilizando a forma conhecida como martelo agalopado, sempre concluindo com o mote: “Nas paredes da pedra encantrada / Os segredos talhados por Sumé”.

A melodia, por fim, é provavelmente o que mais chama a atenção (além da viajante letra que narra a importância e descreve as façanhas atribuídas a Sumé). Indefinível… mas talvez eu possa arriscar dizendo que ela mistura a inquietude de um repente cordelista com a ludicidade de uma cantiga infantil.

Bom, só ouvindo mesmo:
Quando as tiras do véu do pensamento
Desenrolam-se dentro de um espaço
Adquirem poderes quando eu passo
Pela terra solar dos cariris
Há uma pedra estranha que me diz

Que o vento se esconde num sopé
Que o fogo é escravo de um pajé
E que a água há de ser cristalizada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé

Um cacique de pele colorida
Conquistou docilmente o firmamento
Num cavalo voou no esquecimento
Dos saberes eternos de um druida
Pela terra cavou sua jazida

Com as tábuas da arca de Noé
Como lendas que vêm do Abaeté
E como espadas de luz enfeitiçada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé

Cavalgando trovões enfurecidos
Doma o raio lutando com Plutão
Nas estrelas-cometas de um sertão
Que foi um palco de mouros enlouquecidos
Um altar para deuses esquecidos

Construiu sem temer a Lúcifer
No oceano banhou-se na maré
E nas montanhas deflorou a madrugada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé

Sacrifique o cordeiro inocente
Entre os seios da mãe-d'água sertaneja
Numa peleja de violas se deseja
É que o sol se derrube lentamente
Que a noite se perca de repente

Num dolente piado de Guiné
Nos cabelos da ninfa Salomé
Nos espelhos de tez enluarada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé
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FUNDADOR DA CASA GRANDE GRANDE MEMORIAL DO HOMEM KARIRI PARTICIPA NO DOMINGO DIA 02 DE AGOSTO DO PROGRAMA NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA E SEUS AMIGOS


Domingo 02 de agosto no Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos, às 9hs www.radiocidadeam870.com.br. Café Prosa com Alemberg Quindins. 

Você vai saber o motivo do Estado de Espírito do vento/cariri que sopra com saudade do Mar. Você vai compreender a importância do contexto da Chapada do Araripe para o mundo. Rio São Francisco. Patativa do Assaré. Luiz Gonzaga e Padre Cícero. Arqueologia. Gestão Cultural. Alemberg diz que a Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado tem Luiz Gonzaga, a Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura. O Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura.

Francisco Alemberg de Souza Lima- Alemberg Quindins. Músico de formação popular, historiador autodidata, Fellow da Ashoka e Líder da Avina.

Em 1992, restaurou a primeira casa grande da fazenda que deu origem ao Município de Nova Olinda, Ceará e criou a Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri: Uma Organização não governamental que tem como missão educar crianças e jovens através da gestão cultural e do protagonismo juvenil. Como consultor do UNICEF, criou nos assentamentos dos sem terra no Ceará e no Rio Grande do Norte, o projeto Vez da Voz com a implantação de irradiadoras para crianças
e adolescentes, além de rádios escolas em várias cidades do Ceará.

Alemberg na África, em Moçambique e Angola, criou a rede de jovens comunicadores da língua portuguesa. São mais de 30 programas “de criança para criança”, fortalecendo o protagonismo juvenil e o intercâmbio entre os paises pares.
Em 2007 foi consultor do Projeto Rumos do Itaú cultural.

*MARIANA ALBANESE:
Nordestina era uma cidadezinha desse tamanho assim, da qual se dizia: "eita lugarzinho Sem futuro!". Antônio ouviu dizer isso desde pequeno, e deu por certo o fato. Para chegar em Nordestina, tinha que se andar bem muito. É claro que ninguém fazia isso: o que é que a pessoa ia fazer em um lugar onde não tinha nada para fazer?

(Trecho do livro “A Máquina”, de Adriana Falcão)
Quando pequeno, morando em Tocantins, Alemberg Quindins era um menino fora do mapa. Sabia do mundo por quem passava por sua cidade, Miranorte, e mais não tinha.

Se virou como podia e montou uma pequena editora, cineminha, tudo improvisado para dar alguma diversão a seus colegas, também fora do mapa. Da primeira infância, no Sertão do Cariri, no Ceará, lembrava-se de uma índia que lhe contava histórias e de uma estátua de indiozinho em sua casa. 

Quando voltou para lá, já crescido, foi atrás destas lembranças. Conheceu uma moça do Crato, Rosiane Limaverde. Por essas coincidências da vida, haviam nascido no mesmo dia e ano: 19 de dezembro de 1965. Casaram-se na mesma data, em 1983. A parceria também era musical. Saíram sertão afora, estudando a música pré-histórica da região, e vez por outra deparavam-se com objetos de valor histórico, que iam recolhendo. Formaram um acervo.

Em 1992 nasceu oficialmente a Fundação Casa Grande, no mesmo dia 19 de dezembro. Uma velha casa no município de Nova Olinda, que havia pertencido ao avô de Alemberg, Neco Trajano, foi reformada e passou a abrigar o Memorial do Homem Kariri. O espaço guarda o acervo recolhido por Alemberg e Rosiane - ao qual foi incorporado o indiozinho da infância, cuidado até então pela velha senhora que lhe contava histórias. Kariúzinho hoje é personagem de revista em quadrinhos feita pelos meninos.

A iniciativa gerou interesse das crianças que viviam na zona urbana da cidade. Elas foram se achegando, dando novas idéias e demanda para ampliação.

De forma natural, as áreas de atuação da Fundação foram aumentando, conforme o casal sentia a carência cultural da cidadezinha. Em 1998 foi anexado o prédio da primeira escola da cidade, o Educandário. Tornou-se a Escola de Comunicação da Meninada do Sertão. Em 2002, foi a vez do Teatro Violeta Arraes – Engenho de Artes Cênicas ser inaugurado. O fluxo de curiosos foi aumentando e a necessidade de um programa de turismo surgiu. Foram criadas pousadas domiciliares no fundo das casas, administradas pela Cooperativa dos Pais e Amigos da Casa Grande (Coopagran).

Memória, Comunicação, Artes e Turismo são hoje as áreas de abrangência da Casa Grande, que aos 15 anos de existência, chega à adolescência. Seus primeiros meninos já são adultos, trilham seu caminho paralelo e começam a levar seus filhos para brincarem no parquinho da Fundação. Os mais velhos ensinam os mais novos, sempre dispostos a ouvir.

Essa geração de jovens com formação de qualidade superior à encontrada na maioria das escolas regulares faz com que a instituição seja, além de um projeto bem sucedido, um marco histórico para a região em que está inserida. Mais do que uma escola de comunicação, um centro cultural, ou uma instituição para crianças, a Casa Grande é hoje um laboratório de convivência social onde aprende-se a ter responsabilidade sem perder a alma infantil. Ou, como Alemberg bem resumiu:

“Não queremos formar comunicadores, e sim futuros gestores do país”.
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IMPORTÂNCIA DE RUTH SOUZA E MARIELLE FRANCO PARA A HISTÓRIA DO BRASIL É TEMA DE AULA PÚBLICA NA UNIVASF

Com o objetivo de refletir sobre a importância das trajetórias da atriz Ruth de Souza e da vereadora Marielle Franco para a história do Brasil, o Núcleo de Estudos Étnicos e Afro-Brasileiros Abdias Nascimento/Ruth de Souza (Neafrar), vinculado ao curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), realizará, nesta sexta-feira (31), às 20h, uma aula pública virtual, através da plataforma Zoom. A iniciativa integra as atividades de uma agenda conjunta de ações do movimento social de mulheres negras Julho das Pretas. As inscrições são gratuita.

As inscrições para o evento podem ser feitas através de formulário online e os inscritos receberão, via e-mail, o link para a transmissão ao vivo um dia antes da data da atividade. A aula pública contará com a participação do docente do Colegiado de Ciência Sociais e coordenador do Neafrar Nilton de Almeida, a cientista social Raylane Batista, a atriz e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural (PPGExR) Kátia Gonçalves e as discentes do curso de Ciências Sociais Tamires Souza, Thais Nunes e Ana Luiza Souza.

A atividade tem o apoio do Centro Acadêmico de Ciências Sociais Marielle Franco, Observatório de Estudos em Educação, Trabalho e Cultura (ETC/Univasf), do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial e da Frente Negra do Velho Chico. De acordo com o professor Nilton de Almeida, o evento irá discutir sobre figuras públicas que representam duas gerações de protagonismo feminino e, principalmente, negro, assim, a importância da atividade está em levar à comunidade o diálogo sobre duas personagens muito importantes para a história do Brasil e para os campos intelectual, artístico, cultural e político do país.

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MISSA VIRTUAL CELEBRA OS 31 ANOS DE SAUDADES DE LUIZ GONZAGA, REI DO BAIÃO

No próximo dia 02 de agosto, o cantor e sanfoneiro Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, completa 31 anos de falecimento. Este ano, devido o decreto de distanciamento social não terá aglomeração no Parque Asa Branca, localizado em Exu, Pernambuco, terra onde nasceu o Rei do Baião.

Todos os anos é celebrada a 'Festa da Saudade do Gonzagão. As homenagens ao músico acontecem no Parque Aza Branca, local onde estão o acervo, o museu e o mausoléu do artista. De acordo com o presidente da organização não governamental (ONG) que administra o parque, Francisco Parente Júnior, as celebrações "este ano serão diferentes para podermos preservar vidas".

De acordo com Junior Parente, o Rei do Baião Luiz Gonzaga vai ser celebrado em agosto pelos forrozeiros da banda Fulô de Mandacaru. O trio, além de prestar homenagem ao "Velho Lua", que em agosto completa 31 anos de partida, vai cantar também para conseguir doações e ajudar o memorial erguido na cidade e que se encontra com problemas estruturais.

Um Missa em Ação de Graças também será celebrada de forma virtual  no sábado 01, a partir das 17hs.

Administrado pela ONG Aza Branca, o espaço recebe mais de 60 mil visitantes anualmente e segue sem faturamento há algum tempo, sem recursos para sua manutenção. O imóvel está, por exemplo, com o quarto do Rei do Baião interditado.

As principais fontes de receita do espaço são as vendas dos ingressos para o museu, que custam R$ 4, além da comercialização de artigos de couro como chapéus e sandálias.

Entretanto, em decorrência da pandemia, o espaço foi fechado e sem visitantes, zerou o faturamento do local, cujo valor para se manter aberto é em média de R$ 15 mil por mês. Os recursos arrecadados com o show virtual da Fulô de Mandacaru vão ser destinados para o espaço. 

A live da Fulô de Mandacaru acontece no sábado (01).
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FÓRUM DE ENTIDADES POPULARES DE CAMPO ALEGRE DE LOURDES REPUDIA VISITA PRESIDENCIAL EM MEIO À PANDEMIA

O Fórum de Entidades Populares de Campo Alegre de Lourdes (BA), articulação composta por organizações da sociedade civil, movimentos sociais e trabalhadores/as do campo, vem a público se manifestar contra a visita do presidente Jair Bolsonaro ao município, na manhã desta quinta-feira (30), para inauguração do Sistema Integrado de Abastecimento de Água.

Estamos enfrentando a maior crise sanitária dos últimos tempos e toda a sociedade brasileira tem sofrido os impactos da pandemia do coronavírus, agravados pela forma irresponsável que o Governo Federal conduz o país neste momento. Já são mais de 90 mil mortes provocadas pela "gripezinha" da Covid-19, além de uma série de consequências sociais e econômicas que atinge, principalmente, as populações mais vulneráveis.

Neste momento, seguir as orientações das organizações de Saúde, de distanciamento e isolamento social, é fundamental para preservarmos vidas. Diante disso, o Fórum de Entidades Populares repudia a visita do presidente da República, que irá promover um evento aberto em praça pública, gerando aglomerações e colocando a vida de mais brasileiros/as em risco.

O número de casos da Covid-19 segue em crescimento em Campo Alegre, inclusive nas comunidades rurais. Estamos extremamente preocupados com as consequências de um evento dessa proporção para um município de aproximadamente 30 mil habitantes, que não dispõe de infraestrutura de saúde adequada para o tratamento do coronavírus.

Ressaltamos também que a obra da adutora que o presidente irá inaugurar, iniciada em 2013 no Governo Dilma Rousseff (PT), estava pronta desde 2018 e foi entregue em maio do ano passado. Salientamos ainda que apenas a primeira etapa, que leva água para a sede do município está em funcionamento. Diversas comunidades rurais, incluídas no projeto, ainda não foram beneficiadas. As obras da segunda fase seguem em andamento.

Há décadas, os/as campo-alegrenses sonham e lutam pelo direito de ter água encanada em suas residências. As organizações populares do município desenvolveram uma das primeiras experiências de captação de água de chuva no Semiárido, embrião do Programa Um Milhão de Cisternas, que transformou a realidade dessa região, garantindo o abastecimento de água para o consumo da população.

Na contramão dessa construção de um Semiárido com condições dignas de vida para milhões de pessoas, está o presidente Jair Bolsonaro. Antes de se eleger, nunca escondeu seu preconceito com os/as nordestinos/as, chegando a oferecer capim ao nosso povo. Depois de eleito, transformou seu preconceito em ações diretas, cortando recursos públicos e investimentos para região.

O Fórum de Entidades Populares de Campo Alegre de Lourdes pede à população do município que fique em casa na manhã desta quinta-feira (30). Diante de um momento tão difícil, agravado por um governo genocida, só as nossas atitudes enquanto cidadãs e cidadãos são capazes de fazer a diferença.

Fórum de Entidades Populares de Campo Alegre de Lourdes, 30 de julho de 2020
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GOVERNO JAIR BOLSONARO NÃO TRATA O TEMA DESERTIFICAÇÃO NOS SERTÕES

A natureza parece estar se vingando da ação do homem. Desde que a temperatura passou a ser registrada, no século XIX, a cada ano os dias tem sido mais quente. O avanço da aridez na terra dobrou nas duas últimas décadas.

Cabrobó, Belém do São Francisco, Carnaubeira da Penha, Floresta e Itacuruba, Pernambuco e Gilbués, Piauí, cidades que estão próximas a Juazeiro e Petrolina, estão nas estatísticas de serem uma das áreas mais severas dos seis núcleos de desertificação no Brasil, que incluí ainda Irauçuba (Ceará), Seridó (Rio Grande do Norte), Cariris Velho (Paraíba) e Sertão do São Francisco (Bahia). 

O assunto pandemia tirou o assunto desertificação do mapa das reportagens. Sem chuva, aumenta a cada dia o processo de degradação ambiental sem precedentes que vem transformando o sertão num deserto e onde vidas humanas a cada segundo respiram o ciclo da pobreza, que se retroalimenta da seca na região.

Procurados pela reportagem em Cabrobó, ninguém quer falar sobre o assunto. Os temas salinização das áreas irrigadas, processo erosivo, áreas de reassentamento da barragem de Itaparica que ainda não foram ocupadas, desmatamento e que mais de 600 hectares já estão inutilizados nas margens dos rios são assuntos "proibidos".

O pesquisador Aldrin Pérez-Marin, do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), afirma que 85% do semiárido brasileiro está ficando desertificado e 9% já está totalmente desertificado, num processo praticamente irreversível. A desertificação atinge 1.488 municípios brasileiros e está espalhada por nove estados do semiárido nordestino, além do Norte de Minas Gerais e Espírito Santo.

A reportagem do BLOG NEY VITAL teve acesso ao relatório do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), Desertificação e Mudanças Climáticas no Semiárido Brasileiro, resultado de um esforço coletivo que vem sendo promovido pelo INSA, que tem como parceiro a Embrapa Semiárido.

Ainda que o Brasil seja um dos 192 países signatários da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês), o tema perdeu força no Brasil do Governo Jair Bolsonaro. Ninguém do governo fala sobre o assunto, como se problema tivesse sido resolvido. Estamos chegando ao fim da Década para os Desertos e a Luta contra a Desertificação (2010-2020), decretada pelas Nações Unidas (ONU), e o que era seco ficou ainda mais seco. 

Ano passado a jornalista Liana Melo, formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ, especializada em Economia e Meio Ambiente, editora do Projeto #Colabora, mostrou que a desertificação de Gilbués, Piauí, por exemplo, é parte de um problema cuja dimensão é mundial. 

As áreas mais secas do mundo  vêm aumentando, levando a uma perda 24 bilhões de toneladas de terra fértil no planeta todos os anos, o que provoca, pelos cálculos das Nações Unidas (ONU), uma redução do produto interno bruto (PIB) global de até 8% ao ano. Segundo dados do Novo Atlas Mundial da Desertificação, cerca de 75% da área terrestre do planeta já estão degradados e mais de 90% podem ser afetados até 2050. Globalmente, uma área total de metade do tamanho da União Europeia, ou seja, 4,18 milhões de km2, é degradada anualmente, ficando imprestável para a agricultura.

Pérez-Marin explica que “a desertificação é um fenômeno antrópico, causado pelo ser humano e pelo seu modelo de desenvolvimento. Portanto, a desertificação é um fenômeno provocado pelo homem”. Pela definição clássica ONU, o fenômeno só ocorre em regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas. Suas causas são variadas, mas em Gilbués a mineração indiscriminada acelerou o processo de erosão, associada ao desmatamento, às queimadas — 30% da matriz energética do Nordeste é alimentada por lenha e ao pastoreio de caprinos e ovinos acima da capacidade de suporte do ambiente.
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