AUTOR DO LIVRO LUIZ GONZAGA: O HOMEM, SUA TERRA E SUA LUTA FAZ LIVE OUTRAS PALAVRAS NA SEGUNDA (29)

Autor de "Luiz Gonzaga: o Homem, sua Terra e sua Luta", o escritor vai conversar sobre detalhes do imaginário social diante do patrimônio de Luiz Gonzaga

O escritor José Mário Austregésilo, autor do livro "Luiz Gonzaga: o Homem, sua Terra e sua Luta", é o próximo convidado da live do Outras Palavras, realizada por meio do Instagram da Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e Fundação do Patrimônio Histórico de Pernambuco (Fundarpe), o @culturape (http://www.instagram.com/culturape). 

O encontro está marcado para a próxima segunda-feira (29), às 20h, e vai aproveitar o período dos festejos juninos para debater questões como identidade e o imaginário social diante do patrimônio artístico de Luiz Gonzaga. A conversa terá a mediação da historiadora Leda Dias, gestora da Política Cultural da Secult-PE.

"Luiz Gonzaga - O homem, sua terra e sua luta" apresenta a linguagem popular presente na oralidade das canções de Gonzaga e os símbolos típicos da cultura nordestina. O livro discute a influência do rei do baião em movimentos artísticos e sua interferência decisiva na trajetória da música brasileira ao introduzir no cenário nacional os ritmos do Nordeste.

De acordo com Andréa Mota, coordenadora do Outras Palavras, a ideia é aproveitar o período das festas juninas para conversar com os jovens sobre esse importante personagem da cultura nacional que é Luiz Gonzaga. "Uma das vozes mais importantes da música brasileira, louva nossa gente, nossas histórias e nossas celebrações. Suas músicas nos lembram de quem somos. O Mestre Lua, pernambucano de Exú, nos orgulha com seu legado e tem importância fundamental na formação da identidade do povo nordestino".

José Mário Austregésilo também é ator, produtor e diretor de radio, TV, cinema e teatro. É formado em Economia, com mestrado em Comunicação Social e doutorado em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Live do Outras Palavras - O objetivo da atual temporada do Outras Palavras é proporcionar, por meio das transmissões online, o acesso à cultura aos jovens em geral, mas focando nos que estudam nas escolas da rede pública do estado, por meio de conversas virtuais com artistas, escritores e produtores culturais no @culturape.

Realizado pela Secult-PE e Fundarpe, em parceria com a Secretaria de Educação e Esportes (SEE-PE) e apoio da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), as lives do Outras Palavras também serão utilizadas como material didático pelos professores que atendem aos alunos das escolas públicas.

Outras Palavras - Política pública que integra cultura, educação e cidadania com as variadas expressões artísticas, o projeto tem como proposta promover a conexão entre estudantes e professores com escritores pernambucanos renomados e mestres da cultura popular do estado. 

Em quatro anos, o Outras Palavras beneficiou mais de 25 mil jovens de 658 escolas, que receberam nas suas bibliotecas mais de 7.100 livros nas 113 edições realizadas até aqui, sempre levando escritores, artistas e patrimônios vivos de Pernambuco para dialogar com os jovens.
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PAULINHO ROSA: PROGRAMA VIRE E MEXE NA RÁDIO USP, A SAUDADE DE DOMINGUINHOS E A VISÃO EMPREENDEDORA DO CANTO DA EMA

Todos os sábados às 11hs a Rádio USP 93.7 FM (Universidade de São Paulo), transmite o Programa Vire e Mexe. O programa é apresentado e produzido pelo produtor cultural Paulinho Rosa. A Rádio USP é a única que atinge as classes alta e média alta e coloca forró em sua grade de programação. O Programa Vira e Mexe é reprisado na madrugada da segundas-feira, logo após meia noite.

O programa Vira e Mexe apresenta a história do forró e traz um acervo de xotes, baiões, arrasta-pés e xaxados com seus principais personagens, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Jackson do Pandeiro. Há espaço para novos talentos e convidados especiais num bate-papo descontraído sobre histórias deste gênero musical.

O programa Vira e Mexe tem apresentação de Paulinho Rosa que também possui uma visão empreendedora e em 2000 montou o CANTO DA EMA, Casa de Forró, também em São Paulo. O Canto da Ema é destaque em shows, uma das referencias do espaço que valoriza o Forró na capital paulista. O Canto da Ema devido o decreto de calamidade pública devido o Coronavírus segue a orientação de não funcionar neste período mas em breve estará de volta com a programação que vai muito além do forró.

Paulinho apresenta e produz o programa VIRA E MEXE na RÁDIO USP desde 2010. Detalhe: neste mês de julho de 2020, mês de que se celebra a passagem de Dominguinhos para um outro plano (Domiguinhos faleceu no dia 23 de julho de 2013), o coração de Paulinho  bate no ritmo forte da saudade. Durante anos ele dividiu a apresentação do programa com DOMINGUINHOS. Foi o roteirista do filme “Dominguinhos Canta e Conta Gonzaga”.

"Foi mais de 10 anos que começamos o VIRA E MEXE. Em nome do FORRÓ, da minha vontade firme e explícita e com a generosidade do nosso grande sanfoneiro Dominguinhos, encaramos o desafio e seguimos em frente, na tentativa de fazer um programa de FORRÓ com entrevistas, temas  variados e muito bate–papo. Para minha sorte, ele topou a empreitada e, com a anuência, apoio e orientação de Beto Alves, um expert em radio, começamos um programa de rádio de FORRÓ, o VIRA E MEXE".

Paulinho Rosa revela que a Radio USP entendeu a proposta e sensivelmente colocou o programa é um bom horário, até porque, um programa de FORRÓ com Dominguinhos, é como um  programa de rock com Mick Jagger ou um de Blues com B. B. King.

"Isso tudo faz muito tempo. De lá pra cá, Dominguinhos nos abandonou bem antes do combinado, deixando uma lacuna impossível de completar. Tentamos: criamos o Cantinho do Dominguinhos, espaço em que, em todo programa, tocamos uma música que ele, nosso grande mestre, tocou, cantou ou compôs, tudo isso para amenizar um pouco a sua falta e sabedoria". 

Paulinho ainda revela que o legado ficou. "Entre os programas que ele fez conosco e aqueles em que ele esteve ausente somam-se muitos, algumas centenas, e  nesses tivemos inúmeras entrevistas com grandes personagens do ritmo, temas deliciosos e muita, muita música, tudo isso para entreter, trazer conhecimento sobre a cultura nordestina/brasileira, sobre FORRÓ e um pouco de alegria nas manhãs de  sábado e início das segundas-feiras".

Saudade foi o tema do programa Vira e Mexe, da Rádio USP (93,7 MHz), transmitido no dia 27 passado. Músicas que falam de saudade de vários tipos – da roça, de uma pessoa, de festas, de passeios ou de lugares – foram apresentadas no programa. “Todo mundo está com alguma saudade, da família, dos amigos… Tem gente que está com saudade até do trânsito”, brincou o apresentador Paulinho Rosa.

O programa começou com a música Saudade Imprudente, de José Marcolino, interpretada por Dominguinhos, no Cantinho do Dominguinhos – uma seção fixa do programa que homenageia uns dos maiores sanfoneiros do Brasil. Em seguida, foram ouvidas as composições Que Nem Jiló, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, na voz de Luiz Gonzaga, e Um Baião Chamado Saudade, de Petrúcio Amorim e Rogério Rangel, interpretada por Elba Ramalho, entre várias outras.

Vira e Mexe vai ao ar pela Rádio USP sempre aos sábados, às 11 horas, com reapresentação à 0 hora de segunda-feira, inclusive via internet, no site do Jornal da USP. O programa é produzido por Paulinho Rosa (edição) e Dagoberto Alves (sonoplastia). A apresentação é de Paulinho Rosa.

A Rádio USP de São Paulo foi criada em 11 de outubro de 1977, preenchendo o espaço vazio de emissoras educativas em FM na Grande São Paulo e, ao mesmo tempo, proporcionando um canal de comunicação entre a Universidade de São Paulo e a sociedade.

Ao longo de mais de 40 anos, a emissora recebeu diversos prêmios por sua linha de trabalho diferenciada. Em 2000, a Rádio USP recebeu o prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) como melhor programação musical. Destacam-se da mesma maneira as premiações pela melhor programação de cultura geral, melhor programa de variedades, conferidos também pela APCA, o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro e o Terceiro Concurso Internacional de Programas de Rádio promovido pela Rádio Cubana (vencido pelo Clip Atualidades).

A Rádio USP mantém uma programação jornalística voltada à divulgação das atividades da Universidade e um espaço aberto para debates sobre temas de interesse da sociedade e para prestação de serviços.

A programação musical vem se caracterizando como uma opção à segmentação das atuais emissoras de FM, oferecendo ao público o melhor de todos os ritmos no panorama musical brasileiro, da MPB ao rock, do jazz ao samba e é uma das poucas emissoras que inclui música instrumental em sua programação principal. A Rádio USP difunde ainda gêneros musicais que não encontram espaços nas emissoras comerciais como, por exemplo, a música erudita e músicas tradicionais de várias regiões do país.

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JOQUINHA GONZAGA, NETO DE JANUÁRIO E SOBRINHO DE LUIZ GONZAGA FAZ APRESENTAÇÃO EM LIVE SOLIDÁRIA NA VARANDA DO REI NO DIA 5 DE JULHO

O sanfoneiro e cantor Joquinha Gonzaga vai apresentar uma Live Solidária na "Varanda do Rei", no domingo 5 de julho, às 16hs. Para acompanhar a live é preciso estar inscrito no canal YouTube Joquinha Gonzaga Oficial.

Joquinha Gonzaga é o mais legítimo representante da arte musical de Luiz Gonzaga.  Ele é neto de Januário e sobrinho de Luiz Gonzaga. João Januário Maciel, o Joquinha Gonzaga é hoje um dos últimos descendentes vivos da família. Dos nove filhos de Santana e Januário, todos eles, ja "partiram para o Sertão da Eternidade".

Joquinha Gonzaga caminha para os 70 anos e reside atualmente em Exu, Pernambuco, no pé da serra do Araripe, como ele costuma dizer ao receber os amigos. Nesse contexto, a Live Solidária na Varanda do Rei vai proporcionar além de um encontro com os amigos, admiradores, pesquisadores da cultura mais brasileira, a oportunidade de ouvir o puxado do fole e a voz de Joquinha, com o seu canto, histórias e causos. 

No início deste ano a Câmara de Vereadores de Exu, encaminhou um projeto de apoio e solicitação do registro do cantor, compositor e sanfoneiro Joquinha Gonzaga, para ter o reconhecimento de Patrimônio Vivo da Cultura de Pernambuco.

Além de sobrinho do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, Joquinha é neto de Januário (afamado tocador de 8 Baixos) e ainda tem como tios os Mestres da Sanfona, Zé Gonzaga, Chiquinha Gonzaga (tocadora de sanfona 8 Baixos) e Severino Januário.

A justificativa para Joquinha ser reconhecido Patrimônio Vivo de Pernambuco é o valor do seu legado para as futuras gerações e a contribuição e tem o objetivo de que mantenham os saberes e fazeres da cultura da sanfona. 

Detalhe: Joquinha Gonzaga também é tocador de sanfona de 8 baixos, um instrumento quase em extinção no cenário cultural brasileiro e também por isto um dos aspectos que faz Joquinha merecedor da aprovação para assim poder se dedicar mais a aulas, oficinas e palestras sobre o tema sanfona de 8 Baixos.

Ao ser inserido oficialmente no programa Patrimônio Vivo na Política Cultural do Estado, Joquinha Gonzaga dará continuidade nas realizações de oficinas de transmissão de saberes, exposições, apresentações culturais, palestras, entre outras ações, que significam a apropriação simbólica e o uso sustentável dos recursos patrimoniais direcionados à preservação e ao desenvolvimento econômico, social e cultural brasileiro, do Estado e garantir a visibilidade de Exu, onde Luiz Gonzaga deixou um patrimônio do Parque Asa Branca, onde está o Museu Gonzagão.

Este ano, no mês de janeiro 2020, Joquinha Gonzaga participou do primeiro Festival Nacional de Música 'Canta Gonzagão’, em Exu, onde ministrou para as crianças e adolescentes do Projeto Asa Branca, uma oficina de Sanfona. Em Ouricuri, Pernambuco, também em Janeiro fez apresentação no Forró do Poeirão onde mostrou a arte de tocar sanfona de 8 Baixos, a famosa Pé de Bode.

Contato para shows de Joquinha Gonzaga: WhatsApp (87) 999955829 e (87)996770618.
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SOCIABILIDADES E DIVERSIDADE NA EXPERIÊNCIA FESTIVA NO CONTEXTO DAS QUADRILHAS É TEMA DE SEMINÁRIO

Verdadeiras instituições entre as expressões juninas, as quadrilhas nordestinas exercem um papel para além da beleza estética e alegórica diante de um animado público. É para falar sobre sociabilidade e diversidade no contexto das quadrilhas que o Cais do Sertão, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Observatório de Museus e Patrimônios Culturais (Observamus), promove hoje (25) e sexta (27) o seminário "Sociabilidades e Diversidade na Experiência Festiva".

A iniciativa conta ainda com o apoio da Federação de Quadrilhas Juninas de Pernambuco (Fequajupe). Pesquisadores de vários Estados e artistas das quadrilhas juninas locais vão refletir sobre gênero, sexualidade, gestão e integração, em lives no Google Meet com transmissão simultânea no YouTube do Cais. 

As mesas temáticas terão duas horas e meia de duração. A primeira mesa, hoje, vai contemplar “A experiência festiva das quadrilhas juninas: sociabilidades, interação, produção de coletividades e identidades em fluxo”. Ela será mediada pelo antropólogo, pesquisador e gestor cultural Eduardo Sarmento, da UFPE, junto aos professores do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (UFPE) Luciana Chianca e Hugo Menezes. O doutorando em Sociologia da Universidade Federal do Ceará Thiago de Castro também participa do debate.

Nesta sexta-feira (26), a primeira roda, das 10h às 12h30, dá voz aos quadrilheiros e artistas sobre “Gênero e sexualidade na experiência quadrilheira LGBTQI+”. Mediada pelo educador do Cais do Sertão Perácio Gondim, com Fábio Andrade (Quadrilha Junina Lumiar), Mel de Carvalho (Quadrilha Junina Zabumba), Stephany Araújo (Quadrilha Junina Dona Matuta) e Marcone Costa (diretor da Quadrilha Junina Tradição).
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CAETANO VELOSO: REVELA A HISTÓRIA DA COMPOSIÇÃO DA MÚSICA CAJUÍNA

"Existirmos: a que será que se destina? Pois quando tu me deste a rosa pequenina/ Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina do menino infeliz não se nos ilumina/ Tampouco turva-se a lágrima nordestina/Apenas a matéria vida era tão fina e éramos olharmo-nos intacta retina/ A cajuína cristalina em Teresina.

“O rapaz chorou muito aquele dia.” O rapaz era Caetano Veloso e a frase é a atribuída a "Doutor Heli", pai de Torquato Neto. Naquele dia, em Teresina, algum tempo depois da morte trágica do poeta piauiense, um encontro entre Caetano e Heli resultou em uma das canções mais conhecidas do repertório da música brasileira: Cajuína. Aos que escutam a música sem conhecer a história por trás dela, é quase impossível saber do que se trata. Mas Caetano tratou de explicar a passagem.

"Existirmos, a que será que se destina?", questiona Caetano Veloso no primeiro verso de Cajuína, clássico de sua carreira que apareceu no disco Cinema Transcendental, de 1979 e que ele mesmo admitiu, em uma entrevista no começo dos anos 2000, que é uma de suas preferidas. A resposta não vem na sequência da canção, justamente porque parece ser uma provocação que cabe ao ouvinte (ou leitor) responder.

Caetano provavelmente se fez essa pergunta também na cena que o inspirou a escrever a música, durante uma visita à casa do pai do poeta Torquato Neto, que havia se suicidado em 1972 em Teresina, no Piauí, sua terra natal.

Em Verdade Tropical, o cantor dá a sua versão mais acabada para o episódio, contando que fora um grande amigo de Torquato nos anos 1960 e que, na época de sua morte, eles estavam um tanto afastados um do outro, o poeta tinha se tornado mais próximo do cantor e compositor Chico Buarque, que estava ao lado de Caetano quando ambos receberam a notícia de sua morte.

O poeta e escritor piauiense Paulo José Cunha escreveu há alguns anos que a ocasião da visita de Caetano ao pai de Torquato, Heli Nunes, aconteceu durante uma turnê em que o cantor desembarcou na capital do estado para um show. "Ele retornava pela primeira vez à cidade onde havia nascido um de seus principais parceiros na Tropicália e seu grande amigo", disse.

O próprio Caetano afirmou o seguinte durante o programa Altas Horas, da Rede Globo, em 2014: "Torquato era um parceiro, letrista do Tropicalismo, e ficamos muito abalados com sua morte, mas eu não chorei quando soube. Mas quando eu fui a Teresina, anos depois, e encontrei o pai do Torquato no hotel -- ele foi me procurar. Quando eu o vi, chorei muito. No final, ele ficou me consolando e me levou à casa dele. Ele estava sozinho porque a esposa dele estava hospitalizada e Torquato era filho único", começou.

"A casa dele tinha muitas fotografias do Torquato e nós ali, sozinhos, ficamos em silêncio. Ele ficava passando a mão na minha cabeça e dizendo: 'Não chore tanto'. Aí ele foi na geladeira, pegou uma garrafa de cajuína, colocou dois copos e ficamos bebendo sem falar nada. Depois ele foi no jardim, colheu uma rosa-menina e me trouxe. Cada coisa que ele fazia eu chorava mais".

Dr. Heli, como se desejasse relembrar a beleza da vida, deu ao amigo de seu filho uma rosa-menina colhida diretamente do quintal; e também serviu cajuína, como se quisesse adocicar aquele instante. Caetano continuava a derramar lágrimas, mas não mais de tristeza ou amargura. “Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Dr. Heli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei”, definiu Caetano.

Na cidade seguinte à turnê de Caetano pelo Nordeste, na primeira parada, ele diz ter composto a canção. Em Verdade Tropical, Caetano diz que assim que soube da morte de Torquato, sentiu uma "dureza de ânimo". "Me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental", o que foi quebrado apenas quando ele foi à casa de Heli.

O poeta e letrista Torquato Neto surgiu no cenário nacional em 1967, ao lado dos compositores mais famosos do movimento que seria chamado de Tropicalismo. Com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo e Jards Macalé compôs canções como Geleia Real, Louvação, Marginália 2, Mamãe Coragem e Deus vos Salve esta Casa Santa. Além disso, também trabalhava como jornalista -- tinha uma coluna chamada Música Popular no jornal O Sol e outra, batizada de Geleia Real, no Última Hora. O aumento da repressão durante a ditadura militar fez com que ele se afastasse dos amigos e do trabalho e se internasse em uma clínica diante de um quadro de instabilidade mental.

Conhecido como o Anjo Torto da Tropicália, Torquato se suicidou em novembro de 1972, um dia depois do seu aniversário de 28 anos. Os amigos tinham acabado de deixar sua casa, no Rio de Janeiro, quando ele entrou no banheiro e ligou todas as torneiras de gás, morrendo asfixiado. Os jornais da época relataram que as últimas anotações encontradas em seu caderno de espiral traziam frases como "Pra mim chega" e "O amor é imperdoável", esta última atribuída justamente a Caetano Veloso. (Fonte: Livro Verdade Tropical)

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HISTORIADORA AFIRMA QUE NADA SE COMPARA À PANDEMIA DO CORONAVÍRUS E SÓ A SECA FEZ CANCELAR FESTEJO DE SÃO JOÃO

O São João, oficialmente comemorado nesta quarta-feira (24), terá uma configuração diferente do habitual neste ano. Por conta do novo coronavírus, as festas em todo o estado da Bahia foram canceladas pelo governo estadual e por prefeituras locais. Você sabe a última vez que isto aconteceu? Os dados históricos não são claros neste sentido.

Contudo, estima-se que, neste atual modelo da festa, as festividades juninas só foram canceladas de forma ampla em 1961, com uma seca devastadora que atingiu o Nordeste do Brasil e ficou famosa na literatura sertaneja.

Esta é uma análise do historiador Clóvis Ramaiana. Ele explica que, somente após a década de 1960, o São João ganhou configurações de festa de massa. “Como é muito raro uma seca que atinge o Nordeste todo, só nos grandes cataclismos que deve ter havido suspensão geral, como a seca de 1961, que é a seca mais tenebrosa segundo pessoas que conversei”, explica, em entrevista ao Bahia Notícias.

Em 2010, outra grande seca também culminou em cancelamentos por toda a região. No entanto, nada que se compare à pandemia do novo coronavírus ou à seca de 1961. 

Em relação às pandemias, o pesquisador é enfático: nenhuma cancelou o São João de forma tão intensa como a Covid-19. Principalmente pelo fato de que, nos momentos em que essas doenças aconteceram, o Nordeste não foi tão atingido – e também não havia festas juninas nos atuais moldes, com aglomerações e contornos mercadológicos. 

“O São não é uma festa assim tão plurissecular. Provavelmente, é a primeira pandemia que o São João pega é essa. A gripe espanhola não fez um grande estrago no sertão, e a peste bubônica na década de 1920 também não chegou forte. Teve algumas regiões que sim, como Riachão do Jacuípe, Tanquinho, que foi bem devastadora”, supõe. “Mas aí você tem um fenômeno de que o São João não era uma festa de massa, mas bem mais caseira. Provavelmente é a primeira experiência de suspensão geral do São João”, acrescenta.

Ainda segundo o historiador, o São João, no atual formato que conhecemos, ganhou ainda mais força a partir da década de 1990, com a chamada “carnavalização”. Neste cenário, tradicionais festas privadas e shows em praças públicas passaram a ganhar força. “O São João já foi suspenso outras vezes, mas pontualmente. Por exemplo: morre uma pessoa na cidade e aí suspende. Mas a primeira suspensão geral é essa, porque é depois que a festa também virou geral”, indica.

Para a jornalista e doutora em antropologia, Cleidiana Ramos, embora o poder público tenha promovido a suspensão das festas com aglomerações, a população não vai deixar de comemorar a data. Para a pesquisadora, “a própria forma ou dinâmica da festa não permite ser colocada numa camisa de força”. “O que a gente percebe é que esse sentimento de festejar é muito rebelde à norma. Então, não adianta você dizer que 2 de Julho não é 2 de Julho, porque as pessoas vão lembrar do 2 de Julho. As pessoas que, por exemplo, usam a data para celebrar um aspecto mais religioso, possivelmente vão lembrar dos caboclos e vão fazer alguma coisa naquele dia, porque para elas é 2 de Julho e acabou. Não interessa se tem decretou ou não”, opina.

Vale ressalta que tanto 2 de Julho quanto São João tiveram seus feriados antecipados em nove municípios baianos, numa estratégia para conter a disseminação da pandemia.

Ainda para Cleidiana, as mídias digitais servirão para fomentar os festejos, mesmo que eles não possam ocorrer de maneira presencial. “O que eu acho é que as pessoas vão achar as mais variadas formas, seja fazendo o ‘arraiá’, se conectando, fazendo chamada no WhatsApp. Mas é interessante porque, talvez, por muitas décadas, possivelmente a gente tenha um São João, mesmo que virtual, como era antes da espetacularização. Eu digo nessa coisa de família, de confraternizar”, pontua.

Já para Ramaiana, a data não terá esta configuração “pé de serra”, como ele classifica o São João das décadas pré-culturalização de massa. “Em história a gente fala de longa duração. É um fenômeno que, para ser refeito, teria que ter uma duração maior. E uma parcela significativa do pé de serra é ter gente no pé de serra. E, para usar a expressão de um velho amigo meu, 'a roça acabou'. Diminuiu a população. Boa parte das pessoas ou é muito idosa ou muito jovem. Para formar uma sociabilidade, duraria muito tempo. Só a pandemia não teria esse efeito”, argumenta.

IMPACTOS NO TURISMO
Segundo o turismólogo e professor do curso de Eventos da Unifacs, Ednilson Andrade, os impactos no interior do estado vão ser significativos. “O São João, tirando a festa da padroeira ou cívica do município, é o principal investimento em termos de turismo, de movimentação, de receitas, de investimentos. Isso, realmente, trouxe um grande impacto, pois não vai haver a comercialização de produtos e serviços como houve no ano passado, os grandes shows e entretenimento, e não haverá o fluxo turístico para movimentar hotéis, pousadas e negócios”, analisa.

Na visão de Andrade, estes impactos podem ser refletidos até no São João do próximo ano. “Até você ter pessoas no geral com confiança de sair da sua residência pra ir para uma festa de São João em um estado de um país que é o segundo do ranking mundial de Covid por falta de políticas públicas federais... Em termos do turismo de pessoas saírem de outro estado ou de outros países, é complicado”, teme.

Ele indica que, para além do controle epidemiológico e da retomada da confiança dos turistas, é necessário observar também as dificuldades que as empresas patrocinadoras de eventos de grande porte enfrentam durante a crise.

“O São João desse ano já foi. Nesse mesmo caminho, creio que vá Natal, Revéillon, todas as festas de verão, o Carnaval também, eu acredito. Vai ser justamente o período de imunização da população e da recuperação financeira das empresas, e vamos ter outro trabalho: a recuperação da imagem do Brasil enquanto destino seguro no mundo para as pessoas poderem fazer turismo sem o risco de contaminação. Então, talvez isso ainda passe 2021 e só venha a acontecer em 2022”, desconfia. 

De acordo com o diretor de indicadores da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) e presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-BA), Gustavo Pessoti, não há números precisos sobre os impactos econômicos específicos em relação aos impactos da suspensão das festas de São João. Contudo, ele alerta que, em 2019, somente as festas privadas atraíram cerca de 500 mil turistas às cidades do interior da Bahia. 

Embora não haja dados precisos sobre o período junino, Pessoti revela que, no ano passado, todas as festas municipais no interior do estado movimentaram um montante de R$ 191 milhões. “Fiz uma avaliação nas prestações de contas dos municípios baianos com base nos relatórios disponibilizados pelo Tribunal de Contas e percebi que os gastos com todos os festejos somaram, em todos os 417 municípios, em 2019, R$ 191 milhões. Se não temos com precisão a informação única do São João, podemos dizer que esses festejos são importantes para a dinâmica municipal”, conclui.(Fonte> Matheus Caldas / Bruno Leite Bahia Noticias)
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"O SERTÃO É A MINHA FONTE DE INSPIRAÇÃO. FLORA, FAUNA, COSTUMES E O DIA A DIA DAS FESTAS DOS SERTANEJOS", DIZ O CORDELISTA J.BORGES

É no ateliê em Bezerros, no Agreste de Pernambuco, que o xilogravurista e cordelista J. Borges passa todas as tardes, traduzindo em palavras e ilustrações em preto e branco toda a imensidão da paisagem e do cotidiano do sertanejo.

 “O Sertão é a minha maior fonte de inspiração. Todo o meu trabalho é baseado na flora, na fauna, nos costumes, no dia a dia e nas festas do povo sertanejo. Eu exploro com gosto mesmo”, conta, em entrevista ao Viver. As obras lançam mão dos recursos mais tradicionais da xilogravura e cordel e simbolizam a cultura nordestina, com a singular e inconfundível assinatura do mestre.

Patrimônio Vivo de Pernambuco, o artesão de 84 anos é o homenageado do São João na Rede da Fundação Joaquim Nabuco, que será realizado nesta quarta-feira (24) no site www.saojoaodafundaj.com.br e nas redes sociais da instituição (@fundajoficial). A programação terá com apresentação do ator Adriano Cabral. 

Diante da pandemia do novo coronavírus, o festejo será totalmente on-line e contará com oficina gastronômica, atividades recreativas, espetáculos, debates, exibições de filmes e show da cantora Cristina Amaral, além da presença de folcloristas e historiadores.

“É muito bom receber essa homenagem, eu engrosso meu currículo com essas coisas”, agradece J. Borges. “Estou satisfeito, veio na hora certa. Espero que todos continuem acreditando no meu trabalho”, completa o artista, desculpando-se ao telefone pelo jeito informal de falar, com gentileza e humildade tão grandes quanto sua obra. Dentro da programação, um depoimento do homenageado será exibido para o público. Borges já recebeu da Fundaj a medalha de honra ao mérito, em 2000, e foi agraciado no ano passado com a Medalha Gilberto Freyre, na celebração dos 40 anos do Museu do Homem do Nordeste. Também em 2019, o artista assinou a decoração do São João de Caruaru e criou quatro peças exclusivas para a ocasião.

José Francisco Borges nasceu em 1935 no município de Bezerros, onde iniciou a vida artística e reside até hoje, escrevendo, ilustrando e publicando os seus folhetos. J. Borges começou a trabalhar aos 10 anos, dedicando-se à agricultura e à venda da colheita nas feiras da região. Como um dos primeiros impulsos artísticos, o jovem aproveitava a oportunidade para comercializar colheres de pau que ele mesmo fabricava. Em 1964, começou a escrever cordel e a fazer xilogravuras, entalhando madeira de pinho e imburana.

Na década de 1970, o artesão teve suas obras e técnicas reconhecidas nacionalmente como uma atividade cultural. O ateliê, que no início fabricava figuras apenas para ilustrar suas histórias, atingiu uma marca de 200 cordéis e dezenas de xilogravuras de capa. Atualmente, os produtos que narram o cotidiano do sertanejo pobre, do cangaço, do amor, dos folguedos juninos e até de crimes e corrupção são impressos em larga escala e vendidos para colecionadores e público vindo de diversas partes do mundo.

Apaixonado pelo São João, Borges lamenta que não terá a tradicional festa neste ano. “O São João é a festa melhor do mundo, anima todo lugar e todas as pessoas. Até nos lugares distantes que têm só um ranchinho de palha na beira da mata, todo mundo fica vibrando com a fogueirinha. É uma festa muito social, eu adoro. Vamos apelar para que no próximo ano tenha, porque nunca faltou”, deseja, ao lembrar de um São João que perdeu por estar nos Estados Unidos a trabalho. “Eu passei o feriado todo trabalhando, parecia como um dia comum, nunca vi uma coisa dessa”, relembra.

“Quando eu era jovem mesmo e tinha as pernas boas, eu dançava os três dias. Santo Antônio, São João e São Pedro, fazia forró lá em casa, ficava todo mundo dançando, bebendo e batendo papo.” Oscilando com o isolamento social entre o ateliê e a sua casa, J. Borges não demonstra cansaço.

“Eu faço quarentena a vida toda. Eu passo o dia no meu ateliê e depois volto pra casa, uma vez por semana vou na rua resolver as coisas e nem do carro eu saio”, confessa. “Espero que o coronavírus não me pegue, porque eu não tenho condições de escapar dessa doença. Ela desperta muito cuidado. Desde que nasci e me criei, nunca vi um problema como esse no mundo.”

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