UNIVASF REALIZA O EVENTO SÁBADO (8) DE ARTE EM SÃO RAIMUNDO NONATO, PIAUÍ

Este sábado (8) será dia de fazer arte no Núcleo de Extensão da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em São Raimundo Nonato (PI). O evento Sábado de Arte tem como objetivo reunir pessoas interessadas em cultura popular, produções artísticas e musicais, através da junção dos projetos de extensão ‘O Som do Pensamento’ e ‘VÁRIA - Artes e Violas na Caatinga’. O evento é gratuito e vai acontecer a partir das 16h.

O Sábado de Arte será dividido em dois momentos. O primeiro será com o projeto O Som do Pensamento, conduzido pelo professor Joaquim Izidro, e que será uma roda de conversa com público e artistas para discutir sobre o que não é dito a respeito das composições musicais. A segunda parte será o projeto VÁRIA - Artes e Violas na Caatinga, coordenado pelo professor Rainer Miranda, e que promoverá um momento em que os artistas realizarão um pequeno concerto com violas. O Sábado de Arte conta com a participação dos artistas locais Agnaldo Ribeiro e Marinaldo Ribeiro.

O professor do Colegiado de Antropologia Rainer Miranda, diz que o Sábado de Arte é uma oportunidade para que a população prestigie e valorize a cultural local. “A região de São Raimundo Nonato é carente de ações e ocasiões culturais que não sejam eventos ligados a grandes shows de consumo e entretenimento. O Sábado de Arte é uma ação de participação cultural e de formação de público”, finaliza Miranda.  (Ascom Univasf)

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PEDRO BANDEIRA POETA CANTADOR DE VIOLA SERÁ HOMENAGEADO NOS 50 ANOS DA MISSA DO VAQUEIRO DE SERRITA

A Missa do Vaqueiro realizada no Sítio Lajes, na cidade de Serrita, Pernambuco completa este ano meio século. Ano passado 2019 foi celebrado 30 anos de morte do Padre João Câncio, ele juntamente com Luiz Gonzaga e o poeta Pedro Bandeira idealizaram e criaram a Missa do Vaqueiro de Serrita.

Este ano os organizadores da Missa do Vaqueiro de Serrita divulgaram os homenageados da edição especial em comemoração aos 50 anos do evento, que ocorre em julho: o vaqueiro Júlio Duqueira e o poeta violeiro Pedro Bandeira, único fundador da festividade vivo.

Pedro Bandeira ajudou padre João Câncio e Luiz Gonzaga a criar a Missa do Vaqueiro em Serrita em 1970, lançando um grito por justiça social no Sertão nordestino. Já o vaqueiro Júlio Duqueira sempre foi fiel ao padre, auxiliando no projeto de execução do evento.

Todos os anos o poeta e o vaqueiro participam da celebração no Parque Nacional do Vaqueiro.

Serrita, Pernambuco, está localizado próximo a Exu, terra onde nasceu Luiz Gonzaga, ali no sítio Lages, um primo do Rei do Baião, no ano de 1951, Raimundo Jacó, homem simples, sertanejo autêntico, tendo por roupa gibão, chapéu de couro tombou assassinado.

Logo os amigos abalados pela atrocidade criam a Missa do Vaqueiro. Luiz Gonzaga, Pedro Bandeira, João Cancio e João Bandeira usam a música para advertir sobre a natureza subversiva de um crime: desigualdade social, injustiça social.

Com a poesia do compositor Janduhy Finizola ao gosto do estilo e do povo desde 1971 é cantada a Missa do Vaqueiro, ato de Fé e Memória de Raimundo Jacó. Homenagem a todos vaqueiros que ocorre sempre no terceiro sábado do mês de julho.

Serrita durante um final de semana torna-se a Capital do Vaqueiro. Forró e uma gastronomia ao sabor do milho, umbuzada, queijo e carne de sol. Aproveito e saboreio uma lapada de cachaça com caju antes da missa iniciar.

Serrita enche os olhos e coração de alegria e reflexões. O poeta cantador de Viola se faz presente ao evento e o peso dos seus mais de 80 anos ilumina com uma mágica leveza rimas e versos nos improvisos da inteligência. Vaqueiros e suas mãos calejadas, rostos enrugados pelo sol iluminam almas.

Em Serrita ouvimos sanfonas tocando alto o forró e o baião. Corpo e espírito ali em comunhão. A música do Quinteto Violado é fonte de emoção. A presença de Jesus Cristo está no pão, cuscuz, rapadura e queijo repartidos/divididos na liturgia da palavras.

Emoção! Forte Emoção é que sinto na Missa do Vaqueiro ao ouvir sanfona e violeiros: “Quarta, quinta e sexta-feira/sábado terceiro de julho/Carro de boi e poeira/cerca, aveloz, pedregulho/Só quando o domingo passa/É que volta os viajantes aos seu locais primitivos/Deixa no caminho torto/ o chão de um vaqueiro morto úmido com lágrimas dos vivos.

Assim eu vi é assim que conto...
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RIO SÃO FRANCISCO: A GUERRA DAS ÁGUAS E SEDE. PEQUENOS AGRICULTORES SÃO PROIBIDOS DE USAR ÁGUA DO VELHO CHICO

O jornal O Estado de São Paulo começou, no dia 02 Fevereiro 2020, dia de Iemanjá, a Série de reportagens especiais com o título "Guerra das Águas, Sede Escassez e Mortes no Interior do Brasil. O texto de Patrik Camporez, fotos e vídeos de Dida Sampaio. Com 12% de toda a água doce do planeta, as 12 regiões hidrográficas brasileiras, como as bacias do Rio São Francisco, do Paraná e do Amazonas – a mais extensa do mundo –, registram o “boom” dos conflitos. Hoje, os rios nacionais são sugados três vezes mais do que há duas décadas.

A reportagem mostra a desigualdade entre ricos e pobres nas margens do Rio São Francisco nos canais de irrigação. Segundo a informação os “vigias da água” usam drones, três moto-patrulhas e uma viatura caracterizada para evitar a retirada de água de antigos canais do Rio São Francisco, 24 horas por dia. 
A criminalização de quem não tem água é um drama a mais no semiárido. 

Os vigias trabalham para uma firma de segurança que presta serviço à empresa Distrito de Irrigação Nilo Coelho (Dinc), uma terceirizada da estatal Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). Os canais proibidos para boa parte dos moradores e sitiantes foram construídos ainda nos anos 1980 e 1990 para irrigar, especialmente, plantios de frutas para exportação.

A equipe de reportagem estava próxima do canal, em Petrolina, quando testemunhou o momento em que um morador se aproximou do curso com um balde e um barril, olhou para os lados e, mesmo demonstrando medo, tirou a água dali. Era Cosme Angelo, 26 anos, que dividiria o barril com 20 vizinhos.

Cosme se queixou de que a mesma água disponível à irrigação é proibida para os moradores. “É uma luta diária. Se eu for pegar água direto no rio, tenho que buscar a mais de 20 quilômetros, nas costas. Então, prefiro correr o risco de me verem e chamarem os vigias da água para fazer a ocorrência”, desabafou, ofegante.

Confiram reportagem Jornal Estadão. O texto de Patrik Camporez, fotos e vídeos de Dida Sampaio.

Nos últimos cinco anos, 63 mil boletins de ocorrência foram abertos em delegacias do País por causa de brigas por água. É o que mostra levantamento inédito do Estado. As desavenças envolvem hidrelétricas, companhias de abastecimento, comunidades tradicionais, fazendas, pequenas propriedades e indústrias. Há duelos também entre Estados – São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, se enfrentam no STF pelo Rio Paraíba do Sul.

Para detalhar esses conflitos, Patrik Camporez e Dida Sampaio percorreram áreas do Amazonas, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas, Pará, Paraíba, Pernambuco, São Paulo, Tocantins e Distrito Federal. E encontraram de poços guardados pelo Exército a lagos vigiados por escolta armada e canal cercado por muro.

É mais um tempo de tensão e sede no semiárido. Numa sala de 40 metros quadrados, decorada com monitores de alta resolução em um prédio no interior de Petrolina, em Pernambuco, o vigilante Flávio Silva tem uma visão ampla dos canais. Ele e outros sete colegas contam, ainda, com um drone, três moto-patrulhas e uma viatura caracterizada para evitar a retirada de água de antigos canais do Rio São Francisco, 24 horas por dia. A fiscalização irrita os sertanejos que não conseguem pagar licença de cerca de R$ 3 mil para abastecer seus sítios e casas.

Os “vigias da água” trabalham para uma firma de segurança que presta serviço à empresa Distrito de Irrigação Nilo Coelho (Dinc), uma terceirizada da estatal Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). Os canais proibidos para boa parte dos moradores e sitiantes foram construídos ainda nos anos 1980 e 1990 para irrigar, especialmente, plantios de frutas para exportação.

Tudo indica que, a partir da entrega da nova transposição do rio, iniciada em 2007, as regras de distribuição também sejam proibitivas para os pequenos produtores. A preocupação tornou-se real com a decisão de prefeitos e governos estaduais de deslocarem vigilantes e policiais militares para os eixos, com o objetivo de vigiar onde a água começa a correr. O governo tem dado prioridade ao abastecimento humano e ainda não definiu como será a partilha para a irrigação.

Enquanto isso, os sertanejos se arriscam em retiradas clandestinas, numa disputa silenciosa com a firma terceirizada pela empresa Dinc. “Nossa presença intimida, mesmo a gente não sendo polícia”, disse o vigilante Flávio.

A criminalização de quem não tem água é um drama a mais no semiárido. A equipe de reportagem estava próxima do canal, em Petrolina, quando testemunhou o momento em que um morador se aproximou do curso com um balde e um barril, olhou para os lados e, mesmo demonstrando medo, tirou a água dali. Era Cosme Angelo, 26 anos, que dividiria o barril com 20 vizinhos.

Cosme se queixou de que a mesma água disponível à irrigação é proibida para os moradores. “É uma luta diária. Se eu for pegar água direto no rio, tenho que buscar a mais de 20 quilômetros, nas costas. Então, prefiro correr o risco de me verem e chamarem os vigias da água para fazer a ocorrência”, desabafou, ofegante.

Plantador de manga na zona rural de Petrolina, Francisco das Chagas Ferreira Garcia, o Tico Vaqueiro, migrou com a família de Exu para Petrolina há 23 anos.

A migração no rumo do rio provocou inchaço populacional e acirrou as disputas por água na área onde os exportadores de frutas se instalavam. O projeto do Distrito de Irrigação Nilo Coelho é administrado pela Codevasf. Tico Vaqueiro, 54 anos, só planta em metade dos 20 hectares de sua propriedade, pois não consegue elevar a conta de água, que já chega a R$ 4 mil. “As empresas conversam direto com o governo e conseguem mais água. Por outro lado, se um pequeno furar um cano e colocar uma bomba-sapo, vai preso”, disse.

O casal Rosa Maria dos Santos Landin, de 54 anos, e José Pedro Landin, de 56, não sabe de onde vai tirar água para matar a sede de 360 cabras. A menos de cem metros do sítio deles passa o Eixo Norte da nova transposição. O canal foi inaugurado no fim do governo Michel Temer, mas a água não atingiu volume para ser distribuída.

A obra ainda depende de estações de bombeamento e finalizações dos reservatórios. Rosa e José acreditaram que a água chegaria logo e investiram em plantio de lavoura e criação de cabras. Perderam dinheiro. Para manter os animais, a família sai em busca de garoba, uma planta que contém água.

De volta ao sítio, Rosa e José começaram a contagem das cabeças. Animais não têm retornado. Com o desmatamento da Caatinga, onças se aproximaram à procura de presas domésticas.

Como bichos têm caído no canal, de cinco metros de profundidade, e moradores e produtores retiram água sem autorização, o governo construiu um muro para impedir o acesso. “A água fica pertinho e não podemos tirar. Agora, fizeram essa parede aí”, reclamou Rosa. “Para a gente tomar banho, lavar roupa, saciar as cabras, tinha que ser essa aí mesmo. Com o muro, nem essa temos. Meu Deus do Céu!”

O pequeno produtor João de Deus Gonçalves, de 65 anos, costuma conferir, todos os dias, se a obra foi retomada. “Não tenho esperança de que a transposição vá funcionar. Ela anda um pouco para frente e se deteriora para trás”, disse. “Sempre tem bomba queimando, erro de engenharia.”

O Eixo Norte da transposição era para levar água de Cabrobó até o Ceará e o Rio Grande do Norte. A água, porém, não passou de Pernambuco – o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, prometeu que isso ocorrerá em breve. João de Deus testemunhou cada passo da obra, desde as primeiras “picadas” abertas no mato durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

A nova transposição do Velho Chico foi licitada por R$ 4,5 bilhões, mas já consumiu, em 13 anos, R$ 10,8 bilhões. O governo Lula estimou que a conclusão dos dois eixos, Norte e Leste, ocorreria em 2012.

Agora, a gestão de Jair Bolsonaro promete finalizar a obra até o fim do mandato. No ano passado, o Ministério do Desenvolvimento Regional aplicou R$ 1,3 bilhão no projeto, com investimentos na manutenção e na pré-operação. 
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SETOR DE ÔRGANICOS FATURA R$4,6 BILHÕES; ALTA DE 15%

O setor de produtos orgânicos faturou R$ 4,6 bilhões no Brasil em 2019, segundo balanço da Organis, entidade setorial dos orgânicos, o que representa aumento de 15% em relação ao faturamento de 2018, quando o valor chegou a R$ 4 bilhões.

A entidade avalia que os números de exportação também foram bons para um ano de grande variação cambial: em torno de U$ 190 milhões (26 empresas associadas), alta de 5,5% em relação ao ano anterior (R$ 180 milhões).

“Nossa estimativa tem base no aumento de toda cadeia. A principal feira do setor de orgânicos, a BioBrazil, cresceu 33% em número de expositores. Tivemos muitos brasileiros visitando as principais feiras internacionais do setor, mais do que em outros anos, na busca por ideias e conceitos com potencial para ser trabalhados por aqui. Rompemos a barreira das 20 mil unidades produtivas e o varejo entendeu a importância do orgânico no portfólio dos saudáveis”, disse Clauber Cobi Cruz, diretor da Organis.

Para Cruz, o setor tem grande potencial de desenvolvimento. “Isso, se as condições econômicas tivessem sido favoráveis e se o consumidor já houvesse consolidado seu entendimento sobre o que é um produto orgânico”, avaliou. De acordo com o diretor, a tendência para este ano é positiva e ele estima que o mercado brasileiro de orgânicos deve crescer no mínimo 10%.

Uma tendência apontada pela Organis é o aumento da relevância da produção orgânica como parte da solução das questões ambientais.

O setor deverá atrair mais iniciativas, tanto públicas como privadas, que intensificarão as ações de fomento. “A experiência bem-sucedida de ver os orgânicos em movimento nos anima a manter o otimismo para 2020, que tende a se firmar como um ano de sistematização de informações da cadeia produtiva, da semente ao cliente”, disse Cruz. (Fonte: Agencia Brasil)
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ENGENHEIRA DOUTORA EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS ALERTA PARA OS RISCOS DO PLANTIO DA ÁRVORE NIM

O Nim (azadirachta indica A.juss), uma árvore da espécie vegetal exótica originária  da Índia nas últimas décadas chegou ao Brasil; sendo plantada inopinadamente em vários municípios nordestinos, inclusive em Juazeiro e Petrolina. Amplamente utilizada como alternativa para a arborização urbana e rural, a espécie foi dissiminada em vários municípios do Nordeste e agora, por ser extremamente invasora começa a preocupar ambientalistas.

O Nim indiano se adaptou muito bem as regiões do Nordeste brasileiro por ser uma planta de clima tropical e tolerante a altas temperaturas, inclusive acima de 40ºC e resiste a longos períodos secos. A mesma contém atributos infinitos, oferecendo também muitos benefícios, a linha de cosméticos um setor usado. Dela tudo se aproveita, desde a raiz até as folhas. Esta planta também se caracteriza pelo fornecimento de ampla área de sombra.

A professora, engenheira agrônoma, Candida Beatriz, mestre e doutora em Ciêncas Agrárias, é ponderada no assunto e mostra o valor positivo da árvore, mas alerta para os riscos, um dos principais: "não plantar Nim quando existe produção de mel de abelhas". A doutora aponta que o Nim pode prejudicar a polinização. 

Um dos maiores cuidados apontado pela doutora Candida é que o cultivo da espécie e sua proliferação podem provocar prejuízos a outras espécies vegetais e até animais, uma vez que possui também propriedades repelentes. "Tudo em excesso traz seus riscos e perigos. Portanto, o plantio em excesso da árvore Nim também pode causar inúmeros prejuízos", relata Candida.

Pesquisadores numa linha mais radical acusam que a ação do plantio agrava ainda mais o processo de desertificação no Nordeste e principalemte na Região do Semiarido. Evelline Lanzillotti, Biologa da Universidade Estadual do Ceará diz que proliferação da Especie no Estado trará grandes prejuízos ao meio ambiente e ao bioma em um futuro próximo, com base em cinco justificativas: "a espécie nim se alimenta dos microrganismos da terra, é repelente natural de proporções desastrosas para a fauna e a flora, tem poder extraordinário de reprodução que já está sem controle, é árvore invasora que já ocasiona danos na região."

Amplamente utilizada como alternativa para a arborização urbana e rural, a espécie foi dissiminada em vários municípios do Nordeste e agora, por ser extremamente invasora começa a preocupar ambientalistas.

A preocupação é no sentido de evitar a proliferação, em vista dos danos ambientais já verificados na região. 

Eveline Lanzillotti, bióloga que realizou pesquisas acerca da invasão de plantas exóticas quando atuava como professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) na região dos Inhamuns, também chancela que o Nim assim como outras espécies (algaroba, sempreverde, entre outras) estão em quantidade excessiva na caatinga e invadem o bioma, competem com as nossas espécies e ganham cada vez mais espaço. 

"O Nim Propagam-se rápido e tem fácil poder de adaptação. Já podemos afirmar que o bioma caatinga está descaracterizado, especialmente no que se refere à flora", alerta da pesquisadora da Uece", declarou Eveline..
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BAHIA: FAZENDA HUMAYTÁ MOSTRA POTENCIAL TURÍSTICO DE CURAÇÁ E PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

Humaytá é uma palavra de origem indígena significa Pedra Preta. Em Curaçá, norte da Bahia, localizado no semiárido do Nordeste existe a Fazenda Humaytá. A Fazenda Humaytá é uma propriedade particular destinada á criação de ovinos. Nela um sistema agroecológico, produção de orgânicos, e fontes de água chamam a atenção na região.

Neste período do ano os mandacarus florando é um espetáculo da natureza. "Mandacaru quando flora no sertão...é sinal de chuva".

O escritor João Guimarães Rosa diz que o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia. Como explicar a caminhada de um gaúcho apaixonado pelos sertões. Luiz Carlos Forbrig é o nome de Batismo do proprietário da fazenda. O apelido Humaytá, ele herdou, da característica do nordestino que precisa de um adjetivo para os nomes: logo Luiz Carlos...ficou Luiz do Humaytá. 

Geólogo, aposentado da Petrobras desde 2016, o então funcionário público ganha o nome artístico da Fazenda Humaytá. Na Fazenda ele usa um sistema ecologicamente sustentável. 

Luiz do Humaytá avalia que é um erro ainda comum acreditar que a sustentabilidade representa somente a não degradação do meio ambiente. "A abrangência do termo sustentabilidade vai além, incorporando questões relacionadas à qualidade de vida, competitividade empresarial, tecnologias limpas, utilização racional dos recursos, responsabilidade social, questão cultural, entre outros.

Ainda segundo Luiz hoje a regra é muito clara; para ser sustentável, qualquer atividade precisa ser: “Economicamente viável, socialmente justa, culturalmente aceita e ecologicamente correta”. Discutindo essa “regra da sustentabilidade” observamos que ela se baseia na adoção de boas práticas socioambientais na agricultura, na pecuária e em todas as atividades rurais, visando garantir o bem-estar de toda a sociedade, além do equilíbrio entre produção, conservação dos bens naturais, questão econômica, turística e cultural.

"Com relação à preservação ambiental, vale ressaltar que 93% da área da fazenda é constituída de mata nativa, sendo composta por árvores chamadas de “nobres”, tais como umbuzeiros, umburanas, baraúnas, aroeiras, angicos e mandacarus, além das catingueiras e várias outras espécies arbustivas", revela Luiz. 

Os outros 7% da fazenda são de áreas trabalhadas para o suporte animal, mas mesmo nessas áreas as árvores nobres são preservadas. Portanto, a fazenda trabalha o tempo todo com o conceito de desenvolvimento sustentável, ou seja produzindo carne, gerando empregos, sendo economicamente viável e preservando a natureza para as gerações futuras.

A Fazenda Humaytá está sendo preparada para visitação turística. A proposta é que o visitante fique um dia inteiro na Fazenda que possui 1500 hectares para desfrutar das atividades rurais além de passeios e rotas pela caatinga. 

Neste dia de visitação, onde será mostrado todo o manejo dos animais, será também possível fazer trilhas pela caatinga, andar de paquete no açude da propriedade (em épocas de chuva) e conhecer o projeto da Ararinha Azul que fica a 6km de distância. Pretende-se estar pronto para iniciar os passeios no mês de março próximo.

Luiz nasceu em Jabuticaba Velha, interior do Rio Grande do Sul. Filho de Guilhermina e Anoly. Com os pais desenvolveu a veia poética musical. A mãe puxava os cantos religiosos da Igreja Católica. O pai tocador de gaita de boca. Luiz aprendeu a tocar violão nas terras gaúchas.

O Nordeste Luiz conheceu devido o trabalho no sertão e a realidade foi tatuada do sol abrasador, da luz das caatingas, do calor contrastante do frio das terras do sul. E assim passou a cantar e fazer versos para o sertão, os sertões.

"O Sertão é dessas coisas que não tem meio termo ou você ama ou odeia. Eu me apaixonei pelo sertão. Primeiro pelo rio São Francisco e depois pela caatinga. Cheguei na região de Juazeiro, Petrolina e Curaça em 1979", explica.

Luiz decidiu morar definitivamente no sertão do Vale do São Francisco. Deixa a vida na capital Salvador, 'abandona a cidade grande",  onde fez vários shows e decide no 'meio da caatinga", viver o trabalho junto a agricultura e ao inseparável violão.

A história conta que em novembro de 2010, Luiz formou a Banda Forró Avulso, com o desafio de fazer o forró nordestino com uma pitada de modernidade: a gaita de boca no lugar da sanfona e o cajon no lugar da zabumba. Com este grupo fez carreira em Salvador tocando na noite baiana por seis anos.

A discografia consta seis CDs: 
2012 - CD ACÚSTICO. 2014 – CD PÉ DE CHÃO
2015 – LUIZ DO HUMAYTÁ CANTA MÚSICAS GAÚCHAS
2015 –FORRÓ AVULSO e LUIZ DO HUMAYTÁ - 5 ANOS DE ESTRADA
2017 – LUIZ DO HUMAYTÁ AVULSO
2019 – DECANTO O SERTÃO
2020 EM PRODUÇÃO O CD GRAVADO AO VIVO NO TEATRO RAUL COELHO, EM CURAÇÁ.

Luiz do Humaytá continua unindo em 2020 o empreendedorismo pela agricultura, a música e a poesia. É a travessia que une a paixão pelos ritmos, referência a Luiz Gonzaga, aos sertões, a caatinga. 

Apaixonado pelo sertão Luiz do Humaytá comenta que este ano Curaçá ganha o retorno da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), extinta na natureza desde 2000. "As arinhas azuis vão voltar a voar nos céus brasileiros em especial ao sertão de Curaçá. A ave, natural da Caatinga nordestina vai voltar a voar e isto é poesia, música de liberdade. Vamos preservar", diz Luiz.

O processo de reintrodução da Ararinha vai começar em março deste ano, quando deverão chegar ao Brasil 50 ararinhas que serão trazidas da Alemanha, por meio de uma parceria com criadores europeus.

O refúgio de vida silvestre em Curaçá (BA), que será envolvido por uma área de proteção ambiental fica próximo a Fazenda Humaytá.

O processo de reintrodução da ave envolve a readaptação dos indivíduos à natureza, o que leva algum tempo. De acordo com Pedro Develey, diretor executivo da Save Brasil, que colaborou com o projeto de criação da unidade de conservação de Curaçá, as aves deverão ser soltas entre 2020 e 2023.
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ASSIS ANGELO: A SAGA DE DIGITALIZAR UM PATRIMÔNIO CULTURAL ACUMULADO EM PESQUISAS

Segundos antes de tudo se apagar para sempre, alguém o chamou: “E, para mediar o debate sobre Luiz Gonzaga, eu trago o pesquisador e jornalista Assis Ângelo”. O locutor do Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, apresentava mais uma noite das Rodas Gonzagueanas. Assis, com olhos que já não liam as minúcias do mundo há algum tempo, sentiu que agora era grave. Enquanto andava em direção ao centro do palco, a súbita cegueira apagava as últimas luzes de sua vida engolindo até vultos. A um passo do desespero, ele apegou-se a um livrinho de Gonzagão como se fosse Padre Cícero. Apalpou a capa e, antes de declamar o cordel de mote decassílabo que já sabia de cor, usou os olhos pela última vez para ver uma imagem de Luiz Gonzaga voando sobre um pássaro.

Assis Ângelo levou dois anos para conseguir dizer com todas as letras: “Eu estou cego”. Um dos maiores pesquisadores da cultura popular, nome de referência sobretudo em terras nordestinas, jornalista e poeta, biógrafo e estudioso, radialista e escritor, ele luta contra as trevas desde a noite sem fim. Foram seis cirurgias no olho direito e três no esquerdo até que o diagnóstico de “descolamento de retina” o nocauteasse. “Cheguei a passar três noites sem dormir, sentindo a depressão e o desespero.”

Isso até que o paraibano de João Pessoa, 67 anos, resolveu colocar olhos nas mãos e na alma. “Seja bem-vindo ao mundo da cultura popular”, ele diz com simpatia e voz de trovão assim que o repórter chega ao seu apartamento de 120 metros quadrados, em Campos Elísios, São Paulo. Assis viveria só não fossem suas “150 mil coisas”, como ele chama, dentre elas discos de 78 rotações, LPs de raríssimas 10 e 33 polegadas, fitas cassete com gravações inéditas, fotografias e cerca de dez mil partituras que recolheu por cantos do Brasil e de outros países durante 40 anos.

Seu acervo parece prestes a expulsá-lo da casa. Os livros sobem pelas paredes e os discos rodeiam quartos e corredores. São oito toneladas de material, como ele diz: “Já fiz um estudo para saber se a estrutura do prédio suporta. Está tudo certo”. 

Nada ali está catalogado. Na última prateleira de baixo de uma das estantes, dorme uma preciosidade. Um 78 rotações de 1953 gravado pela Capitol com a voz da cantora de jazz americana Peggy Lee. O selo informa que se trata da música Wandering Swallow, com orquestra conduzida pelo maestro Billy May. Assis ajusta o toca-discos para as 78 rotações e coloca o disco para girar. A música de Peggy Lee, em inglês, trata-se de uma antológica apropriação indevida de Juazeiro, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, de 1949. Um caso escabroso de plágio, sem nenhuma menção aos brasileiros. Um diamante de colecionador. 

Outro canto guarda o disco que traz a primeira moda de viola gravada no Brasil, pelo produtor e cantor Cornélio Pires, de 1929. Jorginho (a música do outro lado é Moda de Pião) conta a história de um homem que, diante da paixão de três mulheres, decide partir. Outro orgulho é um 78 rpm do cantor Bahiano, do início do século 20, cantando A Farofa e fazendo a primeira citação a Padre Cícero em áudio. 

“Este é o primeiro disco gravado no Brasil”, diz o pesquisador. Em mais pilhas aparecem um gravação original do hino do Corinthians, de 1954; um vinil feito para arrecadar dinheiro para a construção do Estádio do Pacaembu; LPs de 10 polegadas do violonista Laurindo de Almeida; originais de Inezita Barroso dos anos 50; uma música inédita de Paulo Vanzolini; e muitas gravações de Luiz Gonzaga cantadas pelo mundo em japonês, inglês e mesmo rapanui, o idioma da Ilha de Páscoa.

A cegueira deu um golpe no projeto de Assis de catalogar, digitalizar e criar um portal para tornar público seu acervo. Mesmo tendo criado em 2011 o Instituto Memória Brasil, ele não avançou. Sem mais poder encontrar títulos nas montanhas espalhadas pela casa, Assis é o capitão de um transatlântico à deriva.

Por considerar o caso de saúde (intelectual) pública, a reportagem do Estado procurou, à revelia de Assis, o Ministério da Cultura para saber como o poder público reage diante de um baú de pérolas transbordando. Um dia depois de receber o e-mail do jornal, assessores retornaram com as palavras do então ministro Juca Ferreira: “O Ministério da Cultura considera muito importante cuidar do acervo do pesquisador Assis Angelo, dada a sua relevância histórica e grandiosidade. O ministro já determinou à Fundação Nacional de Artes (Funarte) que entre em contato com o pesquisador e tome todas as providências necessárias para que o patrimônio acumulado por Assis Angelo seja preservado.”

O jornal voltou então a falar com Assis sobre o que parecia ser uma boa notícia não fosse a descrença do pesquisador embasada em argumentos contundentes. Assim como vários estudiosos proprietários de acervos robustos, Assis não acredita no poder público. “Juca Ferreira pode estar muito bem intencionado, mas é um homem que vai passar. Não posso deixar esse material que pesquisei por 40 anos nas mãos de um Estado que não investe em cultura, uma ‘pátria educadora’ que, na crise, faz seus primeiros cortes na educação. Eles não enxergam e dizem que o cego sou eu.”

No dia em que o jornalista conversava com Assis em seu apartamento, um homem chegou sem avisar. Ressabiado, passou pelo repórter e se sentou entre livros e discos. Quando ouviu a voz do amigo, Assis o reconheceu: “Tinhorão, é você!” O referencial pesquisador e crítico musical José Ramos Tinhorão foi impetuoso ao ouvir Assis falar sobre o sonho de ver seu material digitalizado por uma instituição pública ou privada: “Não vejo muita chance de isso dar certo”. E passou a dar exemplos de museus e institutos que perderam ou quebraram discos ao transportá-los até em caminhões de lixo e de homens públicos de altos cargos perguntando a Tinhorão qual era mesmo a importância de seu acervo.

O jogo se inverte quando o Estado, mesmo querendo, pode deixar de levar uma riqueza de memória cultural por uma questão de credibilidade. Qual a garantia a Assis de que seu patrimônio seria bem guardado? Qual a certeza de que, um dia, governantes vão entender que a pior cegueira se combate com cultura? Assis Ângelo adquiriu uma visão de longo alcance.

Fonte: (Julio Maria, O Estado de S.Paulo 16 de agosto de 2015)
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