ALDY CARVALHO LANÇA EM PETROLINA O LIVRO MEMÓRIAS DE ALFORJE 5 CONTOS DO CANTADOR

O cantor e compositor, pernambucano Aldy Carvalho, filho de Petrolina costuma carregar na ponta da língua o bordão: “saí do sertão, mas o sertão não saiu de mim’’. Desde que rumou para São Paulo, no final nos anos 80, fez um pacto para melhorar de vida e realizar seus sonhos através da arte, sem perder as raízes com o universo sertanejo e com as águas do rio São Francisco, onde pescou e se banhou bastante na infância. 

Aldy Carvalho vive em São Paulo e estará em Petrolina onde participa do Clisertão-Congresso Internacional do livro, leitura e literatura no sertão-2018. Aldy vai aproveitar a visita e lançará  no dia 11 de maio, às 19h30, o livro Memórias do Alforje-5 Contos do Cantador. O evento vai ocorrer na Tenda, localizado na rua doutor Julio de Melo, centro de Petrolina.

O livro, de acordo com a apresentação do educador e ensaísta Ely Verissimo, pode ser lido sob vários olhares, a depender somente de cada leitor. Ao que se encanta com o falar sonoro e cheio de neologismos da fala sertaneja, que justapõe o português arcaico e passadista ao recém-nascido da hora, criando onomatopeias deliciosas, não faltam momentos de puro prazer. 

Ao que anseia pelo desfecho de histórias angustiantes e descrições de um mundo à parte, onde a injustiça dos homens confunde-se com a barbárie naturalizada das desigualdades sociais, não faltará também razão para uma leitura “prazerosa”. Mesmo ao que se compraz apenas com a jocosidade das histórias ancestrais, nascidas das superstições ante o desconhecido das modernidades levadas pelos viajantes letrados ou, ainda, pelos mistérios arraigados em contos de “malassombro”, como define o autor, há, nesse livro, um nordeste inteiro, um sertão a ser revivido.

De fato, o leitor há de perceber um fio condutor muito sutil a alinhar suas cinco histórias. Elas organizam-se sob o prisma da dualidade e do duplo, situando-se sempre no limiar entre dois polos distintos, formando um par dual e especular, como imagens refletidas e com sinais contrários uma da outra.
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CULTURA: CD FORRÓ, FESTA E SÃO JOÃO FAZ HOMENAGEM AO RITMO MAIS BRASILEIRO

Forró, Festa e São João. Este foi o nome dado ao CD que será lançado no próximo dia 2 de maio em Recife. O projeto já nasce grande. A ideia de Flávio José e com produção musical e direção de Targino Gondim trará 29 nomes ícones do forró que gravaram 15 canções. "O CD é, antes de tudo, uma fotografia. O melhor retrato do forró, no pós-gonzaga", afirma Flávio Leandro. "Ele é uma mostra do verdadeiro forró que o Brasil precisa redescobrir", disse Targino Gondim.

Concebido, integralmente, por arrastapés joaninos, o trabalho tem singulares interpretações de Quinteto Sanfônico, Adelmário Coelho, Alcymar Monteiro, Anastácia, Antonio Barros, Assisão, Cecéu, Chambinho, Elba Ramalho, Flávio José, Flávio Leandro, Fulô de Mandacaru, Genaro, Genival Lacerda, Geraldinho Lins, João Lacerda, Joquinha Gonzaga, Jorge de Altinho, Leonardo de Luna, Maciel Melo, Mayra Barros, Nádia Maia, Nando Cordel, Petrúcio Amorim, Quinteto Sanfônico do Brasil, Raimundinho do Acordeon, Santanna "O Cantador", Targino Gondim, Trio Nordestino e Waldonys.

O projeto que tem o Quinteto Sanfônico do Brasil, formado por Targino Gondim, Gel Barbosa,  Marquinhos Café, Sebastian Silva e Rennan Mendes como banda base para todas a vozes, mostra a magia das festas de São João, interpretado por artistas em plena atuação, que em paralelo a projetos individuais, cederam seu tempo para a coletividade, e apresentar a essência do ritmo.

"Acredito que este seja o maior time de forró de todos os tempos! Um prazer imenso produzir e dirigir um projeto onde cada estrela empresta seu brilho pra "alumiar" o palco pra o Forró. Os jovens, as famílias, o povo ganha em arte, educação, conhecimento e lazer com tamanho encontro. Juntos, mostramos o que temos de mais forte e melhor: o amor à música brasileira e a Luiz Gonzaga e seus seguidores", disse Gondim.

Brincadeira Na Fogueira, de Antônio Barros, abre o disco com a voz de todos os participantes. Clássicos do mesmo compositor como Naquele São João, cantada por Flávio José e Targino Gondim, É Madrugada, na voz de Jorge de Altinho e Nádia Maia, Pra Que Fogueira interpretada por Antonio Barros, Cecéu e Adelmário Coelho, Não Vou Chorar por Nando Cordel e Santanna e Rompeu Aurora na voz de Assisão e Maíra Barros.

De Jorge de Altinho tem  as canções Deixa Clarear, uma parceria dele com Joãozinho Soares que terá a voz de Waldonys e Elba Ramalho e Bom Demais que será interpretado por Petrúcio Amorim e Leonardo De Luna. De Alcymar Monteiro tem Arraiá Da Capitá cantada por Genival Lacerda e João Lacerda. Flávio Leandro e Joquinha Gonzaga são compositores e cantores de São João Do Araripe. Composta por Assisão tem Esquenta Moreninha na voz de Chambinho e Fulô De Mandacaru.

O Quinteto Sanfônico do Brasil interpreta a canção Um Verdadeiro Amor do idealizador do projeto, Flávio José. O projeto também apresenta novas canções como Nas Noites De São João, na voz de Trio Nordestino e Geraldinho Lins e Sou São João interpretada por Anastácia e Raimundinho do Acordeon, ambas de Targino Gondim e Carlinhos Brown, sendo que a última ainda contou com a colaboração de Antônio Barros e  Cecéu.  Alcymar Monteiro e Maciel Melo cantam a inédita Balão Proibido, de Alcymar.

"A remessa plena de seu conteúdo para todas as plataformas digitais, redes sociais e afins, abre as cancelas do forró para uma nova era de nossa música, fechando um modelo egoísta de gestão monocrática de carreiras, ao deitar-se no oportuno afã da coletividade. Traz em seu repertório uma justa e necessária homenagem ao menestrel Antônio Barros, a materialização do ato de compor", completa Flavio Leandro.

"Estou muito feliz com este sonho realizado. Tinha ele há muito tempo, mas sozinho não teria como realizar. Foi uma grande felicidade ter encontrado Targino Gondim e, sobretudo, ter a sua boa vontade. Quero agradecer a ele e a todos os participantes do projeto, que tem o objetivo de enaltecer a grande música nordestina", disse Flávio José. "Este projeto merece ser abraçado por todas as festas juninas e ser repertório das principais quadrilhas de São João", afirma Gondim.


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MACIEL MELO: O CABOCLO SONHADOR DE ALMA E CORAÇÃO GONZAGUEANO

A decoração da casa pode dizer muito sobre o dono. No lar do cantor, compositor, ator e escritor Maciel Melo não é diferente. Com o "coração tão sertanejo", ele trouxe um pouco de Guaracy, município do Sertão do Pajeú, para Aldeia, Camaragibe-Pernambuco. No lar do cantor, tem várias referências da origem da qual ele tanto se orgulha, inclusive um fogão de lenha, onde prepara comidas regionais para receber os amigos. Além de peças tradicionalmente nordestinas, há muitos livros e instrumentos musicais por toda parte. A casa de Maciel Melo prioriza o simples. O artista só precisa de um cantinho e uma rede para produzir e descansar. 

Da terra dos poetas e filho de sanfoneiro, o cantor acredita ter nascido com o destino premeditado. "O meu pai era músico, mas não me ensinou nada. Ele queria que fosse engenheiro, advogado ou jornalista. Mas não teve jeito, acabei enveredando para o lado da música", conta. Ficou famoso por canções como Caboclo Sonhador e Dama de Ouro. Afora inúmeras composições, atuou na novela Velho Chico, produção da Rede Globo, e escreveu livros. Uma autobiografia romanceada, intitulada A Poeira e a Estrada, e o livro de crônicas Refúgios da Interrogações, previsto para ser lançado em julho deste ano.

Sempre imerso na cultura, ainda pequeno o artista aprendeu a reunir os amigos para fazer um forró pé de serra. Por ser tradição no Sertão do Pajeú, Maciel logo providenciou 'aquela sombra bela' para celebrar o bom da vida. "Fui criado no meio dos cantadores de viola, no meio dos forrozeiros. Com 14 anos, fui para o mundo ser artista. Por minha história, continuei com o costume de trazer amigos para casa. Então, eu mesmo vou inventando. Acabei fazendo um espaço só para isso", explica. 

Para seguir a tradição à risca, na sombra do cantor tem azulejos, itens feitos de barro, fogão à lenha, mobília em madeira e uma foto do mestre Luiz Gonzaga. "Eu pensei em fazer uma coisa meio rústica, tipo acampamento de pescador. Coloquei somente um telhado e algumas coisas, não gosto de nada sofisticado demais. Aqui é 'arrudeado' de árvores e não tem paredes", esclarece. 

Morar mais próximo da capital pernambucana foi necessário para seguir agendas. A calma e o verde da natureza de Aldeia foram pontos decisivos na escolha do artista. "Parece que estou na minha terra, onde nasci. Tem muito mato e passarinhos. Aqui é o meu sossego, onde eu escrevo", comenta. Para ele, a relação com o lar é algo sublime. "Quando você chega em casa, quer paz. É um ninho. Trago poucos amigos. Só aqueles com energia boa".

Na sala do artista, tem muito do que ele é. Os instrumentos, livros e uma rede compõem o ambiente que, para ele, é a melhor parte da casa. Perto da sua área de criação, Maciel ainda deixa os seus instrumentos sempre à mão. 

"Aqui deito na rede, eu adoro. E escrevo, componho, leio, pesquiso". No espaço, há quadros e um cantinho para refeições. "Eu gosto de cozinhar. Quer um café?", pergunta, mostrando que, afora todas as habilidades, é bom anfitrião.

Fonte: Gabriela Bento-Diário de Pernambuco
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PEDRO BANDEIRA: 80 ANOS DE VIDA E 63 DE POESIA

Em comemoração aos 80 anos do maior cantador e repentista do Brasil, Pedro Bandeira Pereira de Caldas, de 1º a 5 de maio, nas cidades de Juazeiro do Norte e Crato, a Vila da Música promove uma série de eventos. 

Enaltecendo aquele que foi e ainda é a referência maior para inúmeras gerações de cantadores, durante cinco dias, a I Semana Cultural Poeta Pedro Bandeira reunirá amigos do poeta, cantadores, estudiosos e o grande público para conversar e ouvir Pedro Bandeira, além de possibilitar uma visita e o debate sobre sua obra, e definir salvaguardas para a cantoria. O evento contará ainda com a participação especial do Mestre Bule-Bule. Confira abaixo programação completa.

Pedro Bandeira iniciou o seu ofício aos 17 anos, no dia 1º de maio de 1955, sendo também um poeta de grande reconhecimento. Em 2018, completa 63 anos em que exerce, diariamente, o ofício de poeta e cantador sete dias por semana, 365 dias por ano, impregnado em divulgar o Cariri Cearense, o Juazeiro e o Padre Cícero, a cultura, a história, os valores humanos, artísticos, administrativos e políticos da região, ao ponto de tornar-se, internacionalmente, conhecido pelo nome artístico Poeta Pedro Bandeira do Juazeiro, o Príncipe dos Poetas brasileiros.

Pedro Bandeira é autor de centenas de músicas, entre elas a peça “Graça Alcançada”, que veio a ser gravada por mais de 20 intérpretes e pode ser considerada o hino dos romeiros e das romarias em Juazeiro do Norte. Além de renomado expoente de uma geração de cantadores, Pedro Bandeira veio a destacar-se também na Literatura de Cordel, com mais de uma centena de títulos publicados e ilustrados pelos principais xilógrafos cearenses.Escreveu ainda 14 livros, entre eles “Matuto do Pé Rachado” e “O Sertão e a Viola”.

Nascido no Estado da Paraíba, Pedro Bandeira, emocionado, fala que ao de Luiz Gonzaga e padre João Câncio, participou do projeto de criação da Missa do Vaqueiro, no distrito de Lajes, em Serrita. Atuou também no ciclo do jumento, liderado por padre Antônio Vieira, Patativa do Assaré, Zé Clementino e Luiz Gonzaga. 


Cantador profissional,  cordelista e escritor, autor de mais de mil folhetos, publicou livros e centenas de poemas, teve músicas gravadas por Luiz Gonzaga, Luiz Vieira, Alcymar Monteiro e Fagner. Gravou doze LP´s(disco vinil). Foi fundador da Associação dos Violeiros, Poetas Populares e Folcloristas do Cariri - AVPPFC. Foi vereador.  É portador de dezenas de diplomas, medalhas de mérito, com 162 troféus de 1º lugar nas participações de Festivais de Violeiros.


É considerado o poeta popular mais citado pela imprensa escrita, falada e televisionada. Pedro Bandeira ganhou o título de Príncipe dos Poetas Populares.


Licenciado em Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia do Crato, bacharel em direito pela Faculdade de Direito do Crato; advogado inscrito na OAB do Ceará,  bacharel em teologia pela universidade vale do Acaraú.


Pedro Bandeira cantou para o papa João Paulo II; cantou para os ex- presidentes, Castelo Branco, Costa e Silva, João Figueiredo, Fernando Collor e José Sarney, que ainda hoje cita o nome de Pedro Bandeira em seus discursos sobre arte de improvisar, quando fala de cantoria. 



Pedro Bandeira foi elogiado por Luis Câmara Cascudo, José Américo de Almeida, Jorge Amado, Teo Brandão, Rodolfo Coelho Cavalcante, e tantos outros escritores do Brasil e do exterior. Foi convidado pelo Ministro da Cultura, na época, José Aparecido para ir a Portugal, o que aceitou, e juntamente com o poeta Geraldo Amâncio, fez várias apresentações, naquele país, inclusive no palácio do governo, a convite do  presidente  Mário Soares.



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DIA DA CAATINGA É COMEMORADO NESTE SÁBADO (28)

 Mandacaru, xique-xique, veado-catingueiro, asa branca, soldadinho-do-araripe, arara-azul-de-lear... Os nomes de plantas e animais são a melhor tradução da riqueza natural da Caatinga, o bioma semiárido mais biodiverso do mundo e o único exclusivamente brasileiro.

São 932 espécies de vegetais, 178 de mamíferos, 590 de aves, 241 de peixes. Muitas delas são endêmicas, ou seja, só existem no local. E, o pior, algumas estão ameaçadas de extinção.

Neste sábado (28), comemora-se o Dia Nacional da Caatinga. "É o momento para refletirmos sobre a importância de avançarmos na agenda de conservação desse que é o terceiro maior bioma brasileiro e o principal do Nordeste", diz o secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), José Pedro de Oliveira Costa.
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RIO DE JANEIRO: FLÁVIO LEANDRO DEFENDE O REGISTRO DO FORRÓ COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL

Músicos, pesquisadores e autoridades se reúnem no Fórum Forró de Raiz RJ, desta quinta-feira (26) a sábado (28), para debater o registro do forró como Patrimônio Imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Uma audiência pública faz parte da programação do fórum.

O cantor e compositor Flávio Leandro participa de uma palestra - Mesa Redonda Forró na Mídia.

O fórum terá mesas redondas e um show-manifesto. Outros fóruns regionais já foram e serão realizados pelo país por iniciativa do Fórum Nacional de Forró de Raiz, mas o do Rio de Janeiro – onde reside a segunda maior comunidade nordestina fora do Nordeste - pretende ser um marco. O evento carioca marca a adesão oficial do Sesc ao movimento, que agora ganha força institucional.

A audiência pública será realizada no Sesc Ginástico, nesta quinta-feira (26), dando início ao fórum. O encontro reunirá artistas, profissionais do ramo e autoridades para discutir políticas públicas sobre o tema.

A comunidade forrozeira encaminhará ao Senado Federal pedido de emendas ao orçamento que viabilizem recursos para atender outras exigências para o reconhecimento como patrimônio imaterial. Entre elas, registros audiovisuais e pesquisas acadêmicas sobre as matrizes do forró.

Os debates sobre o forró como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro serão realizados no Sesc Tijuca. Os resultados desse debate vão alimentar o processo de propositura do reconhecimento, protocolado junto ao Iphan em 2011 pela Associação Cultural Balaio Nordeste, da Paraíba. Ao fim de cada dia de debates, haverá um show de forró.

Para o último dia do Fórum, sábado (28), está marcado um show-manifesto na Feira de São Cristóvão com a presença de mais de 20 artistas e grupos musicais. A cantora e atriz Tânia Alves abrirá o espetáculo com uma performance em que interpretará a cangaceira Maria Bonita.

Os músicos Marcelo Mimoso e Chambinho do Acordeon, que interpretaram Luiz Gonzaga no teatro e no cinema, respectivamente, fazem um duelo de sanfonas e apresentação do espetáculo.
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EXCLUSÃO DA CULTURA E CIDADANIA. O TRISTE FIM DA COMUNICAÇÃO PÚBLICA NO GOVERNO TEMER

Nos tempos estranhos em que vivemos, usar palavras como “público”, “republicano”, “cidadania” está fora de moda. Se dependesse de alguns, sobretudo nos mais altos escalões da administração, seriam abolidas do léxico porque, nos dias de hoje, parecem não servir para nada. São peças de um ferro-velho abandonado, sem uso depois do desmantelamento de iniciativas e programas considerados inúteis – ou pouco úteis – pelo atual governo. Como, por exemplo, quase todas as ações relacionadas a direitos humanos, direitos da mulher, minorias…

A próxima vítima é a comunicação pública – que já não andava bem das pernas há tempos. Mudança discutida esta semana pelo conselho de administração da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) pretende substituir, em seu plano estratégico, a missão de difundir notícias de “interesse público” por “notícias de Estado” em suas emissoras, como a TV Brasil, e na Agência Brasil. Evidentemente, um eufemismo para noticiário governamental. Uma regressão da EBC à antiga Radiobrás.

Não há como ser contra a divulgação de atividades governamentais, da forma mais completa e eficiente possível. É dever dos governos levar ao público, com transparência, notícias sobre suas ações e programas em produções para TV, rádio, Internet e impressos – assim como fazem outras instituições do Legislativo, do Judiciário e das administrações estaduais.

Esse tipo de comunicação, porém, nada tem a ver com comunicação pública. Não por acaso, a Constituição Federal, em seu artigo 223, prevê uma clara divisão, e complementaridade, entre os sistemas privado, público e estatal. A Lei que criou a EBC, há dez anos, regulamentou o sistema público, estabelecendo que ele, diferentemente do estatal, terá autonomia em relação ao governo federal para produzir, programar e distribuir conteúdo com finalidades educativas, artísticas, culturais, científicas e informativas.

A EBC não é, portanto, uma empresa de divulgação estatal. Ela administra e produz conteúdo para aTV NBR do Executivo, mediante um contrato de prestação de serviço específico para isso. Todas as demais emissoras, incluindo aí a TV Brasil, as rádios e a agência Brasil, são veículos de mídia pública. E o que quer dizer isso? Quer dizer que devem ter como foco o interesse do cidadão, o debate das políticas a ele dirigidas e, sobretudo, uma programação voltada à educação, cultura e informação voltada para a cidadania.

Uma TV pública está para o cidadão assim como a TV privada está para o consumidor e a TV Estatal – que sempre terá viés “chapa-branca” – está para o eleitor. Vamos ser realistas: apesar de todas as negativas dos detentores do poder e das boas intenções de quem produz, o material de divulgação de um governo acaba tendo, em última instância, ainda que de forma oculta, a função de mostrar a suas audiências como esse governo é bom – e como ele merece receber o seu voto.

É assim que funciona. E é por isso que, nas democracias, é preciso seguir a velha regra: cada macaco no seu galho. Quanto mais distantes estiverem os canais públicos – que também não trombam com os privados porque não têm publicidade comercial – dos canais estatais, melhor e mais saudável será essa democracia.

Pode-se apontar um milhão de problemas e defeitos na EBC. Sua organização administrativa propicia esse tipo de confusão, e quem sabe um dia alguém tenha a boa ideia de dividir suas estruturas para separar de forma irreversível o estatal e o público.

Enquanto isso não acontece, porém, é preciso tomar cuidado para não jogar a criança fora com a água do banho. Não é uma troca inofensiva a da palavra “pública” por “estatal”. Pode representar o extermínio de qualquer vestígio de comunicação pública no país, com todos os danos que isso pode representar para a democracia e a cidadania.

Fonte: Helena Chagas
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