Triunfo, Pernambuco terá Festival de Inverno e Cinema em julho

A temporada de inverno do município de Triunfo, Pernambuco. Além do Festival de Inverno, Triunfo será sede também da Festa do Estudante e do Festival de Cinema.

Com o registro das baixas temperaturas o turismo rural repercutiu positivamente. Cachoeiras e riachos foram reativados, embelezando ainda mais a paisagem natural e devolvendo o verde à região.

O Festival de Inverno, previsto para acontecer de 22 a 29 de julho, aquece a economia local e sempre atrai muitos visitantes.

O Festival de Cinema, que estará na sua 10ª edição, acontece de 07 a 12 de agosto e trará profissionais e amantes do cinema a Triunfo. Exibindo nesta edição 35 filmes, dentre eles 14 pernambucanos, o evento acontece no Cinema Theatro Guarany, que foi recentemente reativado para funcionar regularmente.

Além dos eventos citados, a temporada de inverno em Triunfo conta com teleférico, pedalinhos no Lago, parque aquático, bares, restaurantes, cachoeiras.
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Sport e Salgueiro decidem Campeonato Pernambuco na quarta-feira 28

Finalmente o estado de Pernambuco conhecerá o campeão de 2017. Quase dois meses depois do jogo de ida na Ilha do Retiro, exatamente 52 dias, Sport e Salgueiro decidem o título no estádio Cornélio de Barros, na quarta-feira (28). De lá pra cá, aconteceram 21 jogos envolvendo os clubes, sendo 14 deles dos rubro-negros (três vitórias, cinco empates e seis derrotas) e sete do Carcará (uma vitória, dois empates e quatro derrotas) em outras competições. Para o novo duelo da grande decisão, as equipes chegam com mudanças.

Pelo lado do Leão, a maior novidade é o técnico Vanderlei Luxemburgo, que curiosamente irá fazer a sua estreia no Campeonato Pernambucano, logo no último jogo. Já o time do sertão perdeu o meia Valdeir, um dos destaques na campanha do estadual e que saiu para o futebol português.

Salgueiro e Sport eliminaram Santa Cruz e Náutico, respectivamente, nas semifinais do estadual. No primeiro jogo da final, no dia 7 de maio, os finalistas ficaram no empate em 1 a 1 na Ilha do Retiro. Na ocasião, o Carcará deixou tudo igual aos 48 minutos do segundo tempo com um gol de pênalti e arrancou um grande resultado para a decisão inédita no sertão pernambucano.
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Caravana Agroecológica e Cultural discute políticas públicas e desigualdade social no Vale do São Francisco

A Caravana Agroecológica no Semiárido Baiano no Caminho das Águas, em Juazeiro-Bahia, acontece entre os dias de 26 a 30 de junho.

Refletir sobre modelos de desenvolvimento e sistemas agroalimentares a partir de elementos comuns a uma bacia hidrográfica. Esse é o objetivo da “Caravana Agroecológica do Semiárido Baiano: nos caminhos das águas do São Francisco”.  Durante três dias, integrantes de movimentos e entidades populares, universidades, centros de pesquisas e órgãos públicos vão vivenciar diferentes realidades e contrastes do Semiárido baiano.

A Caravana Agroecológica tem como diferencial a produção de um diagnóstico sobre o Submédio do São Francisco a partir de trocas e saberes coletivos e uma análise crítica composta por olhares de pesquisadores, comunidades, técnicos e integrantes de movimentos populares. Como resultado, espera-se realizar e reforçar denúncias de violações de direitos e contribuir para a atuação do Ministério Público da Bahia, pressionar por políticas públicas e sociais, fortalecer a luta de comunidades tradicionais e divulgar experiências agroecológicas e de Convivência com o Semiárido. Uma carta política e um documentário também serão produzidos a partir da Caravana.

O encerramento da Caravana Agroecológica do Semiárido Baiano será realizado no dia 30, no Espaço Plural da Univasf, em Juazeiro.
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Agricultura Familiar: Conab abre inscrições para captar projetos do Programa de Aquisição de Alimentos

A CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) está com inscrições abertas para captação de novos projetos para o PAA, (Programa de Aquisição de Alimentos).

As cooperativas, organizações da agricultura familiar e associações poderão apresentar suas propostas até 14 de julho. As propostas serão aceitas, por meio do sistema PAAnet, no site da CONAB.

O Programa conta com R$ 50 milhões de reais, sendo que 38,5 milhões para a modalidade CDS (Compra com Doação Simultânea) que acontece, através de entidades sociais e CRAS, muito dos públicos são beneficiários do programa bolsa família. O Grupo Gestor do PAA definiu 60% da verba destinada à Compra com Doação Simultânea para as regiões Norte e Nordeste.

Os critérios para participar é um projeto por instituição, ou seja, associação e cooperativa, o valor do projeto é de no máximo R$ 320 mil e cada sócio ou produtor terá oportunidade de comercializar até R$ 8 mil por ano.

A Conab orienta os produtores e associações sobre os projetos e dá treinamentos no que for necessário, além de ajudar na elaboração de projetos.

Cooperativas e Associações são necessários possuir DAP jurídicas para participar; os sócios ou produtores DAP física.

A Conab irá analisar as propostas considerando os seguintes critérios de participação: mulheres rurais; povos, comunidades tradicionais e assentados; produtores de alimentos orgânicos ou agroecológicos; agricultores de municípios em situação de insegurança alimentar; valores do projeto; e logística de entregas dos produtos. O detalhamento dos critérios está no site da Conab.

A CDS tem como finalidade o apoio aos agricultores familiares, por meio de cooperativas e associações, a partir da compra de sua produção. Os alimentos adquiridos são destinados ao abastecimento da rede sócio-assistencial e também de Equipamentos Públicos de Segurança Alimentar e Nutricional, como restaurantes populares e cozinhas comunitárias.

Outras informações acesse www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1129&t=2

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Parque Asa Branca e o descaso do Governo Federal e Estadual com a Memória de Luiz Gonzaga

Proprietário do maior acervo da vida e da obra de Luiz Gonzaga, o Parque Aza Branca, localizado no município de Exu, no Sertão pernambucano, enfrenta situação de penúria para manter acesa a memória do músico. Com dificuldades para arcar com as despesas e sem manutenção, o espaço, construído pelo próprio Gonzaga na terra natal, corre o risco de fechar as portas neste ano. O alerta é feito pelo presidente da ONG Parque Aza Branca, que desde 2000 administra o equipamento cultural, Junior Parente.

As únicas fontes de renda do museu, atualmente, são a venda de ingressos (R$ 8 e R$ 4) e a comercialização de lembrancinhas aos visitantes. "Durante um período, esse dinheiro era suficiente, ele chegou a dar e sobrar. O problema é que há mais de um ano a gente tem um déficit mensal no caixa", explica Junior. A organização conta com dez funcionários no quadro, entre guias, faxineiros e seguranças, e tem um gasto mensal de cerca de R$ 20 mil. Mas arrecada em torno de R$ 17 mil nos meses de maior movimento - junho, julho, dezembro e janeiro. No dia em que a reportagem esteve no museu, um sábado de maio, apenas um casal visitava a casa que pertenceu ao ícone sertanejo.

A salvação para os últimos meses é uma reserva financeira criada nos tempos de bonança. "Na época de celebração do centenário de Luiz Gonzaga, em 2012, nós recebemos um grande fluxo de visitantes e conseguimos realizar uma poupança. É com este montante que temos coberto os gastos", explica Parente. Ele afirma que precisará fechar parcialmente. Neste ano, o bilhete de acesso ao museu dobrou de valor para tentar equilibrar o caixa.

Uma das principais preocupações do presidente da ONG é a manutenção da estrutura física do parque, que conta com 3,7 hectares e abriga, além do museu dedicado à obra de Gonzaga, a casa que o músico construiu e morou em seus últimos anos e o mausoléu onde estão depositados os restos mortais. "A gente vem passando por um período de quase quatro anos de seca, o que é muito ruim para o nosso povo. Mas, por outro lado, se estivesse chovendo, é provável que o muro já tivesse caído e as pinturas se deteriorado", diz Junior, recordando, que na última chuva, o mausoléu chegou a ficar alagado por goteiras no telhado.

"Nós fizemos um orçamento para a realização da pintura do espaço e de algumas reformas estruturais nos telhados e deu mais de R$ 30 mil, nós não temos como pagar por isso", afirma. "É obrigação do estado auxiliar na preservação do museu. Há, por parte deles, a alegação de que se trata de uma propriedade particular, mas é um local que tem uma grande função social e todo o simbolismo por ser a casa de Gonzaga", continua.

Outro temor recorrente é em relação à preservação dos objetos que constituem o espaço expositivo do museu. "Na época da celebração do centenário, agentes do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) estiveram aqui e fizeram algumas limpezas. Também deram orientações básicas para os funcionários. A gente tenta, do nosso jeito leigo, cuidar da melhor maneira possível das peças", diz.

A galeria é composta por fotografias da família, prêmios recebidos por Gonzaga, manuscritos, cartazes publicitários estrelados pelo músico e instrumentos, entre outros objetos raros do artista. Na seção de instrumentos, o público pode conferir três acordeons e uma sanfona de oito baixos empunhados por ele, assim como a sanfoninha de Januário e a corneta utilizada por Luiz quando ingressou no exército. Apesar de as peças serem zeladas, Junior Parente acredita que falta o acompanhamento de um profissional especializado para fazer restaurações e cuidar da manutenção periódica. "O ideal é que essa visita ocorresse, ao menos, uma vez por ano", aponta.

Em 2009, o Parque Aza Branca foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural de Pernambuco pela Fundarpe. A última reforma geral ocorreu no final de 2013, custeada pelo governo estadual. Porém, segundo o gestor do parque, a empresa responsável pelo trabalho realizou uma obra de qualidade ruim. Procurada pela reportagem, a Fundarpe alegou que não haveria tempo hábil para se manifestar.

Sentado sob um juazeiro, com camisa de botões parcialmente aberta e um boné na cabeça, Seu Praxedes se orgulha do patrimônio que guarda. Aos 85 anos e dono uma serenidade de quem acompanhou de perto a história do Rei do Baião, ele recebe os visitantes do Aza Branca com simpatia. Em um dedo de prosa, se apresenta orgulhoso: "Sou vaqueiro de Seu Luiz Gonzaga".

Duas décadas mais novo que Seu Lua, ele tem prazer em lembrar que nasceu no mesmo povoado que o Rei do Baião. "Quando nasci, ele já estava no mundo. Ele nasceu no Araripe, eu também", ostenta. Praxedes começou como vaqueiro a pedido de Luiz Gonzaga. "Quando começou a construir aqui, em 1976, para preparar o retorno, me chamou para morar. Eu trabalhava, e ele mandava o dinheiro todo mês, lá do Rio de Janeiro", diz. Ele chegou a cuidar de mais 300 cabeças de gado.

A principal lembrança que guarda do ex-patrão é a gentileza para com o povo de Exu, sobretudo os menos afortunados. "Ele foi pobre, trabalhou até os 18 anos no roçado com o pai dele. Às vezes, ia fazer show e recebia o pagamento em alimento. Aí chegava aqui com as 'carradas' de arroz, açúcar, bolacha, macarrão, tudo. A gente fazia cestas básicas, enchia caminhão e saía distribuindo nos sítios", recorda. Mas lembra também que o rei era muito sério, com formação militar. "Tinha dia que estava ranzinza e não tinha quem passasse no seu caminho, mas era só sentar pra tocar que tudo melhorava", ri Praxedes.

Outra recordação são as festas organizadas pelo músico na residência. "Ele passava um ou dois meses fora, tocando, e quando voltava fazia questão de receber os amigos músicos para celebrar". O agrado pelas celebrações à base do forró fica evidente no terreno da casa: são três palcos, duas pousadas e uma cozinha construída à parte, com o título carinhoso de "cozinha da Mundiça" em letreiro de madeira para saudar os amigos. “Trabalhei com ele até seus últimos dias. E vou ficar aqui até o fim, para as pessoas saberem como ele foi bom".

CURIOSADADES
Os visitantes acham lembretes de R$ 5, como um chaveiro com a imagem de Luiz, a R$ 120, réplica do chapéu de couro utilizado pelo músico.

No destaque do acervo, o acordeom branco e a camisa manchada de sangue usada por Luiz Gonzaga em encontro com o papa João Paulo II, em julho de 1980. Na ocasião, uma multidão invadiu o estádio Castelão, em Fortaleza, e o músico chegou a ser derrubado e pisoteado pelos fiéis.

O museu foi criado pelo cantor, mas só inaugurado após a morte, em 1989, por Gonzaguinha. Depois do falecimento do filho, o imóvel foi comprado por um empresário e herdado pela família. A sugestão de transformar em ONG foi dada por Gilberto Gil, em 2000, em visita a Exu.

Em 1982, Gonzaga lançou O rei volta pra casa, logo após fincar residência na terra natal. Na capa, ele aparece com a ave asa branca em frente ao terreno onde foi erguido o museu.

*Fonte: Alef Pontes-Diário de PernambucoO jornalista viajou a convite de O Boticário
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Alceu Valença: A cultura não é fechada, mas a indústria do entretenimento procura fechá­ la.

"Campina Grande se faz tão formosa/ Caruaru está com todo tesão/ a minha vida é um palco sobre rodas/ na tournée nordestina/ do São Pedro e São João", os versos de Tournée Nordestina (Lua do Lua) estão sendo postos em prática pelo autor da música, Alceu Valença,  na base do forró é bom e ele gosta, e entende.

Gravou com Luiz Gonzaga, é parceiro de Dominguinhos e aprendeu a respeitar a festa desde menino, em São Bento do Una:  "Se quiser falar de forró pra mim, quero dizer que Juventino, meu tio, tocava oito baixos, meu avô tocava viola. Nelson Valença, primo do meu pai, era parceiro de Gonzaga. Quero lhe dizer que Luiz Gonzaga quando me viu tocando, com meu grupo, me convidou pra tomar café na casa dele lá em Novo Exu. Conheci as coisas também da feira de São Bento do Una, os emboladores, os cantadores. Se você perder a raiz total, você dançou. O frevo não é samba, nem o forró é rock and roll", conta Alceu.

Com isso, ele quer dizer que no período junino se atém a um repertório ligado à época. "Neste show que estou fazendo agora, começo com Baião, Vem Morena, A Cantiga do Sapo. Depois canto Pagode Russo, Sala de Reboco, que gravei com Lucy Alves, e interpreto de uma maneira mais gonzaguiana. Aí vem Xote das Meninas, Sabiá e Girassol (com ritmo de forró), Coração Bobo, Pelas Ruas que Andei, que é a Briga do Cachorro com a Onça, é o pife elétrico, depois Cabelo no Pente. Termino com Tropicana, que é um xote. Na época que gravei, eu tinha vindo de Cuba e botei uma tumbadora na gravação, ela ficou meio tropicalizada. Pessoas da plateia pedem músicas e eu canto. Aí já não é forró, pode ser Anunciação, La Belle de Jour. Mas sempre respeito a festa. No Carnaval eu canto frevo", diz Alceu Valença.

 Ele joga no ar uma pergunta e uma provocação: "Na Marquês de Sapucaí toca outra coisa fora samba? Quando homenagearam Miguel Arraes tocaram frevo?" Ele mesmo se encarrega de responder: "Não tenho preconceito contra música nenhuma. Acho que no São João deveria ter uma noite pro forró de verdade, outra pra outro tipo de música. Reginaldo Rossi era uma maravilha como brega, mas tinha a ver com forró? Roberto Carlos que é um grande cantor, o Rei, não tem nada a ver com o Carnaval de Pernambuco. Esta história de multicuralismo, tudo bem, mas cada coisa no seu lugar. Nada de fechamento. Mas termina o Carnaval pernambucano sendo igual ao de qualquer canto".
 
 Alceu Valença canta no palco principal em Arcoverde, entre um dupla sertaneja, Ycaro & Vitório, e uma banda de fuleiragem, Solteirões do Forró. Ele confessa que não sabe da programação de nenhuma cidade onde está se apresentado. Leva para lá o seu show junino: "Eu faço meu show, mostro meu lado agrestino sertanejo, meu lado gonzaguiana, dominguiniano, são­bentense (em meio à conversa, canta um aboio com versos improvisados). A cultura não é fechada, mas a indústria do entretenimento procura fechá­ la. Eu estava outro dia numa cidade aqui em Pernambuco, tinha uma dupla cantando, perguntei se eram do Paraná. Disseram que eram daqui. Já têm até o sotaque. Acho que tem que se cultuar a tradição. Mas ela vai se modificando, mas aos poucos".
 
 Enfatiza a asserção cantando versos de Que Grilo Dá (Rock de Repente): "Meu repente é brasileiro/ e a pitada de estrangeiro/ eu boto pra te envenenar ... Macunaíma maquinando artimanha, engolindo o homem aranha. Se você botar uma pitada de qualquer coisa tá tudo bem. Mas se fizer uma coisa antagônica, que não tenha absolutamente nada com o período, com a tradição, então não chama de São João. Um forró que não é forró poderia botar o nome de potó, cotó, qualquer coisa. Se não é forró, não é forró. É apropriação indébita. Zé da Flauta falava do frevo a pulso. O cara não sabia fazer um frevo, botava um metal e chamava de frevo. Vamos trazer o forró de Lisboa, outro dia eu tava em Paris e tocava Feira de Mangaio. Me mostraram uma matéria, quase de página inteira comigo, na Ucrânia. Sobre os discos Forró Lunar e Forró de Todos os Tempos", dois discos que ganharam o Prêmio da Música Brasileira", comenta Alceu, que no dia 14 de julho se apresenta em Lisboa.
 
Evitando citar nomes, ou especificar esta ou aquela cidade, Alceu Valença não concorda com o argumento de que a montagem das grades das festas públicas obedeçam a um clamor popular, que se determinados artistas não estiverem nela o povo deixa de comparecer:

 "Não acredito nisso. Fiz agora em Araripina um show absolutamente lotado. Não que tenha nada contra sertanejo. Acho que tem lugar para todo artista. Se o sertanejo tocar forró, tudo bem. Se o brega cantar forró, tudo bem. Se tem padre tudo bem, desde que ele não venha com Ave Maria. Eu não canto forró? Não canto frevo? É cada qual no seu cada qual. Num festival de blues em News Orleans vão tocar bolero? Num festival de rumba em Cuba eles colocam forró? Acredito que podem haver junções em determinados momentos, uma coisa absorvendo a outra, mas de uma forma vagarosa, senão arte vira um jingle. O cantor de jingle faz tudo, canta qualquer ritmo, mas não é uma coisa de coração. A arte, ela tem uma coisa quase religiosa". 

Ao contrário da grita geral dos forrozeiros contra a música que não tenha afinidades com São João, Alceu diz que até se pode contratar sertanejos (citando o gênero porque é o estilo da vez), desde que não se misture as coisas: "Peguemos uma cidade onde se realiza um São João tradicional, Campina Grande, por exemplo, que se diz a Capital do Forró. Se eles querem ter o brega, por que não fazer uma semana de brega antes do São João. Faz­-se a mesma coisa com o Carnaval. Vai ter rock? Então em janeiro façam um festival de rock. No Carnaval mesmo vamos tocar frevos de bloco, instrumental, caboclinho, maracatu. Acho que é preciso respeitar a festa. Eu tenho muitos shows, mas faço de acordo com o tempo e o lugar".

 PRÊMIOS
Sem nenhum show, restrita ainda às telas de salas de cinema e ao disco, a trilha de A Luneta do Tempo, primeiro filme dirigido por Alceu Valença, foi indicada ao Prêmio da Música Brasileira, na categoria Projeto Especial. Ele foi indicado ainda nas categorias Álbum Regional, com o DVD/CD Vivo/Revivo (os dois lançados pela Deck). Concorre ainda ao prêmio de Melhor Cantor Regional, uma indicação reducionista, sobretudo para um artista que tem 45 anos de carreira e cuja música só é assumidamente regional, no período junino, quando cai na estrada com a turnê nordestina, de São Pedro e São João.

Fonte: José Teles
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Luiz Gonzaga vive na alma da gente brasileira

Gilberto Amado disse a propósito da morte de sua mãe: "Apagou-se aquela luz no meio de todos nós". Para o Nordeste, e tenho certeza para todo o país, a morte de Luiz Gonzaga foi o apagar de um grande clarão. Mas com seu desaparecimento não cessou de florescer a mensagem que deixou, por meio da poesia, da música e da divulgação da cultura mais brasileira.

O Brasil vai celebrar no próximo dia 02 de agosto, os 28 anos da morte do cantor e compositor Luiz Gonzaga, o rei do baião. Luiz Gonzaga, o Lua como também era conhecido, foi essencialmente um telúrico. Ele soube como ninguém cantar o Nordeste e seus problemas. Pernambucano, nordestino, brasileiro, Luiz Gonzaga encantou o Brasil com sua música, tornando-se um daqueles que melhor souberam interpretar sua alma.

Nascido em Exu, no alto sertão de Pernambuco, na chapada do Araripe, divisa com o Ceará, Luiz Gonzaga ganhou o Brasil e o mundo, mas nunca se esqueceu de sua origem. Sua música, precursora da música brasileira, é algo que, embora não possa ser classificada como "de protesto", ou engajada, é, contudo, politicamente comprometida com a busca de solução para a questão regional nordestina, com o desafio de um desenvolvimento nacional mais homogêneo, mais orgânico e menos injusto, portanto.

Telúrico sem ser provinciano, Luiz Gonzaga sabia manter-se preso às circunstâncias regionais sem perder de vista o universal. Sua sensibilidade para com os problemas sociais, sobretudo nas músicas em parceria com Zé Dantas, era evidente: prenhe de inconformismo, denúncia do abandono a que ainda hoje está sujeito pelo menos um terço da população brasileira, mormente a que vive no chamado semi-árido.

Não estaria exagerando se dissesse que Gonzaga, embora não tivesse exercido atividade política ou partidária, foi um político na acepção ampla do termo. Política, bem o sabemos, é a realização de objetivos coletivos e não se efetua apenas por meio do exercício de cargos públicos, que ele nunca teve. Política é sobretudo ação a serviço da comunidade. Como afirma Alceu Amoroso Lima, é saber, virtude e arte do bem comum.

Outro aspecto político da presença de Luiz Gonzaga foi no resgate da música popular brasileira. O vigor de suas toadas e cantorias tonificou a nossa música, retirando-a do empobrecimento cultural em que se encontrava. Sua música teve um viés nacionalista, ou melhor, brasileiríssimo, que impediu que lavrasse um processo de perda de nossa identidade cultural. Não foi uma música apenas nordestina, mas genuinamente nacional, posto que de defesa de nossas tradições e evocação de nossos valores.

Luiz Gonzaga interpretou o sofrimento e também as poucas alegrias de sua gente. Mas foi por meio de "Asa Branca" que Lua elevou à condição de epopéia a questão nordestina. Certa feita, Gilberto Freyre afirmou que o frevo "Vassourinhas" era nossa marselhesa. Poderíamos dizer, parafraseando Gilberto Freyre, que "Asa Branca" é o hino do Nordeste: o Nordeste na sua visão mais significativamente dramática, o Nordeste na aguda crise da seca.

Em sua obra Luiz Gonzaga está vivo e vive no sertão, no pampa, na cidade grande, na boca do povo, no gemer da sanfona, no coração e na alma da gente brasileira, pois, como disse Fernando Pessoa, "quem, morrendo, deixa escrito um belo verso, deixou mais ricos os céus e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente".

Fonte: Marco Maciel, foi vice-presidente da República. Foi governador do Estado de Pernambuco (1979-82), senador pelo PFL-PE (1982-94) e ministro da Educação (governo Sarney).
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