Chambinho do Acordeon diz que São João só é grande quando tem forró e Luiz Gonzaga batalhou muito por um movimento que se tornou mundial

Às vésperas do início do ciclo junino, forrozeiros de diversos estados denunciam a descaracterização do São João com a ausência de sanfoneiros nas grades de programação das festas organizadas pelas prefeituras no Nordeste. Munidos de cartazes com a frase-manifesto "Devolvam o nosso São João", músicos como Joquinha Gonzaga, Flávio Leandro, Chambinho do Acordeon, Marquinhos Café, Eugenio Cerqueira, Jorge de Altinho, Moreira Filho e Targino Gondim chamam a atenção, em suas redes sociais, para o espaço dedicado aos gêneros tradicionais em um dos principais festejos da cultura nordestina.

O sobrinho de Luiz e neto de Januário Joquinha Gonzaga, um dos herdeiros musicais do Rei do Baião, acredita que veteranos do forró sofrem com os "novos" arranjos das grades de programações dos festejos juninos nas principais cidades no Nordeste. "A gente que está vivo é que sofre as consequências. Eu estou pegando os dois lados do São João, aqueles que estão entrando agora até que não sofrem, porque se acostumam com o sistema. Pra gente que é antigo, fica complicado", declara Joquinha.

Sobre o futuro, o sanfoneiro não guarda muitas esperanças para os ritmos tradicionais do período junino: "Daqui a alguns anos, no São João, vai estar escrito apenas o título 'São João', mas, quando você vai para a grade... Aí, são só cantores internacionais e nacionais do Sul. E os sanfoneiros, que realmente são do São João, não vão participar". "Eu até imagino tio Gonzaga hoje, vivo, no meio da gente, o que ele estaria dizendo e fazendo com o que está acontecendo. No mínimo, ele já tinha desistido. Porque tem tem muita coisa que evoluiu, mas evoluiu pro lado errado", opina. "Ele gostava de respeitar o povão, seus fãs, e não admitia que as pessoas trabalhassem errado ou empresário com segundas intenções", lembra.

Os principais motivos para a perda de território nos festejos da época, acredita, são a falta de aporte e interesse dos setores públicos e as negociações com grandes empresas de entretenimento: "Eles é que estão montando esse esquema. Os empresários estão manipulando tudo, chegam nas prefeituras e compram o espaço todo. Botam quem eles querem, menos os sanfoneiros".

Foi do músico Nivaldo Expedito de Carvalho, mais conhecido como Chambinho do Acordeon, intérprete do Rei do Baião no filme Gonzaga: De pai pra filho, a iniciativa da campanha "Devolva nosso São João". A ideia surgiu no ano passado, a partir de sua experiência no universo ficcional, enquanto interpretava o personagem Targino dos 120 baixos na novela Velho Chico. O músico da ficção, que saía do sertão para se apresentar em um vilarejo, se deparava com uma situação muito parecida com a enfrentada pelos sanfoneiros na realidade.

Na mesma época, foi se apresentar, na véspera de São João, na cidade de Feira de Santana-Bahia e se emocionou com o depoimento de um sanfoneiro local, J. Sobrinho. "Ele é um músico com uma articulação muito grande na região e me disse que, em 30 anos, seria a primeira vez que ficaria sem tocar no São João. Eu fiquei com isso na cabeça", revela Chambinho. O episódio inspirou o diretor a denunciar a descaracterização dos festejos juninos no enredo da novela.

Com uma agenda de 25 shows para o mês de junho, Chambinho diz que a maior preocupação é com a situação dos "pequenos" músicos. "Nosso objetivo é lutar por leis que protejam os sanfoneiros que dependem do período junino para investir na própria carreira, comprando uma sanfona melhorzinha, e até na vida mesmo", explica. "Veja, ainda assim estou fora das grades de grandes praças como Caruaru, Campina Grande e Mossoró. E não foi por falta de pedidos.

"Infelizmente, nós estamos tendo que procurar outros lugares, porque, onde eles ganham dinheiro, nós não temos espaço", critica Joquinha, afirmando que, para os sanfoneiros, as apresentações do mês de junho costumam ser como um 13º salário. "Já tem muito tempo que eu estou vendo isso e eu tenho a impressão de que não vai parar de piorar", emenda.

Outro fator, diretamente relacionado, que tem diminuído a presença dos músicos e ritmos tradicionais nas programações é a apropriação dos espaços públicos por empreendimentos privados, a exemplo da camarotização dos festejos. "A gente achava que ia melhorar, mas este ano está ainda pior. E os prefeitos ficam aí falando desculpas: 'está ruim, a grana tá difícil, então eu preferi vender o espaço'. E a gente pergunta 'quanto, prefeito?'diz  o neto de Januário.

A crítica de Joquinha recai principalmente sobre os grandes polos do ciclo, como as cidades de Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba. "Em Patos, no Sertão da Paraíba, tem até Luan Santana", aponta, sobre o sertanejo que se apresenta no dia 23 de junho. Chambinho do Acordeon, por outro lado, tem uma opinião mais amena do que a do herdeiro da família Gonzaga. "Eu não sou contra a presença de outros estilos. O São João é uma festa do povo e que cresceu muito, mas acho que exageraram na dose", pondera. "O sertanejo também é uma música do sertão de Goiás e do Tocantins. Eu, por exemplo, fui convidado para tocar em Barretos, mas vou tocar em um palco menor, dedicado a outros estilos, como a MPB e o samba. Aqui, no Nordeste, acontece o inverso, os artistas de fora comandam os palcos principais e, como opção, as prefeituras enxugam os cachês dos forrozeiros tradicionais e deslocam para espaços menores", emenda.

Questionado se essa não seria uma alternativa para atrair o público jovem, Joquinha é afiado na resposta: "E não tem outra época pra isso não? Tem o aniversário da cidade, a festa de padroeiro, o Natal... Por que não bota a gente para mostrar ao público jovem quem nós somos, já que eles não conhecem?", questiona. "Agora eles botam Safadão... que todo mundo está vendo na televisão. A gente não está sendo visto por ninguém", diz.

A convocatória nas redes sociais, explica Chambinho, é o início de uma ação que deve contar ainda com veiculação de um manifesto em vídeo e de projeto a nas prefeituras dos principais polos juninos. "A gente viu, por exemplo, o projeto Viva Dominguinhos receber cerca de 60 mil pessoas por noite, em uma iniciativa formada exclusivamente de forrozeiros. Então está descartada essa hipótese de que sanfoneiro não leva público", argumenta ele, que acaba de retornar de uma apresentação em Londres, Inglaterra, pelo projeto Brasil Junino, com nomes como Alceu Valença e Elba Ramalho.

"Eu estou querendo sair de porta em porta, na casa dos sertanejos lá do sul, pedir a eles para saírem de férias no mês de junho. Aí sim dá oportunidade de a gente tocar, porque eu quero ver os empresários contratarem alguém", gaita Joquinha. "Eu até achei engraçado, a gente com uma placa, igual a presidiário", continua. Entre as frases divulgadas pelos artistas na campanha, estão "Devolvam o nosso São João", "São João é do Nordeste" e "São João só é grande quando tem forró". "Luiz Gonzaga batalhou muito por um movimento que se tornou mundial. As coisas têm que acontecer daqui para lá, não o inverso", encerra Chambinho.

Fonte: Alef Pontes-Diário de Pernambuco
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Vereador Gabriel Menezes repudia o "jeitinho" de fura filas para realização de exames e consultas médicas em Petrolina

A fila para consultas e exames de saúde é resultado do aumento da procura de cidadãos aos serviços de saúde e infelizmente, existe uma prática em Petrolina que causa transtornos e prejuízo aos cidadãos: trata-se do "jeitinho" que alguns vereadores tem de beneficiar uma parcela do eleitorado.

Por este motivo o vereador Gabriel Menezes levou o debate para a Câmara de Petrolina e denunciou a pratica que prejudica a maioria dos cidadãos que sofrem nas filas de espera. "Isto é uma judiação, uma forma desleal para com os demais petrolinenses que penam em filas nos postos e hospitais públicos para conseguir uma consulta ou um exame por mais simples que seja", disse Gabriel.

“Não é justo uma pessoa comum, contribuinte como todas, esperar pela realização de um exame ou o resultado em média um, dois meses, porque vereadores assumiram essa prática de arrumar um jeito e furar a ordem de espera, conseguindo o mesmo procedimento em tempo ágil. Isso não pode acontecer. Essa prática está errada e vamos continuar a discutir isso sim”, frisou Gabriel.

De acordo com Gabriel Menezes o certo é acontecer investimento municipal para realizar um conjunto de ações continuadas  objetivando diminuir o tempo de espera nas filas por exames, consultas e cirurgias de especialidades.

“Saúde deveria ser prioridade para a gestão. Os petrolinenses precisam e merecem qualidade na saúde", finalizou Gabriel.
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Exu e Serrita terão a Semana Cariri Cangaço 2017

De 20 a 23 de julho de 2017, a cidade de Exu, Pernambuco, terra de Luiz Gonzaga e Barbara de Alencar será o palco da  “Semana Cariri Cangaço 2017”. O evento também vai acontecer em Serrita durante A Missa do Vaqueiro.

Manoel Severo, Kydelmir Dantas, Ingrid Rebouças e Nerizangela Silva, membros do Grupo de Estudos Cangaço Cariri, participaram de uma reunião com o Secretário de Cultura de Exu, Rodrigo Honorato e ficou definido que o evento constará de intensa agenda.

O evento é voltado para pesquisadores, escritores, professores, universitários, artistas e demais curiosos da temática. Cinco Estados integram as discussões do Cariri Cangaço, sendo Ceará; com Crato, Juazeiro, Barbalha, Missão Velha, Aurora, Barro, Porteiras, Lavras da Mangabeira e Brejo Santo; Paraíba, com Sousa, Nazarezinho, Lastro, Princesa Isabel e São José de Princesa; Alagoas, com Piranhas; Pernambuco, com Floresta e Sergipe com Poço Redondo.

Manoel Severo Gurgel Barbosa é fundador e Curador do Cariri Cangaço, Presidente do Conselho Consultivo, Diretor da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço; Diretor do GECC – Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará; Sócio Honorário do GPEC e do GFEC, confirmou que serão dois grandes eventos acontecendo simultaneamente e que se encontrarão no domingo, dia 23 de julho quando o Cariri Cangaço Exu 2017 celebra junto com a Fundação Padre João Câncio a 47ª Missa do Vaqueiro, em Serrita.

"Teremos dois eventos, a 47ª edição da Missa do Vaqueiro de Serrita e nosso Cariri Cangaço Exu, entre os dias 20 e 23 de Julho, principalmente no domingo, dia 23 quando o encerramento do Cariri Cangaço será na Missa do Vaqueiro de Serrita ao lado de Helena Cancio”, disse Manoel Severo.
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I Semana do Meio Ambiente de Salgueiro vai discutir Bioma Caatinga

Entre os dias 5 e 7 de junho de 2017, o Campus Salgueiro, Pernambuco estará realizando a I Semana do Meio Ambiente (I SEMAM), com o tema "Bioma Caatinga: conhecer para preservar". 

O evento faz parte do calendário do campus, e contará com palestras, mesa-redonda, minicursos e oficinas. As temáticas abordarão a fauna e flora nativas da região e sua sustentabilidade, personalizando questões ambienteis inseridas no Bioma local, que possibilite a cada um perceber sua responsabilidade e o seu papel de agente de mudança, apoiando e promovendo mudanças ambientais adequadas à Caatinga.

Na programação do dia 7 de junho o professor, doutor Daniel Duarte fará a palestra CANTOS E ENCANTOS DA CAATINGA.

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Joquinha Gonzaga: a peleja do sobrinho de Luiz Gonzaga e neto de Januário em defesa da sanfona

Apesar da invasão das bandas eletrônicas nos festejos juninos ainda mais evidente neste ano de 2017, principalmente, nos contratos envolvendo prefeituras, o legítimo herdeiro musical de Luiz Gonzaga, o sobrinho Joquinha Gonzaga arruma o chapéu de couro, afina a  sanfona, zabumba e triangulo e ganha a estrada para fazer forró do bom.

A filha de Joquinha, Sara Gonzaga é a atual produtora empresária do sanfoneiro que traz a humildade e o sorriso de Luiz Gonzaga estampado  em cada abraço. Sara diz que durante todo o ano a vida do pai e sanfoneiro Joquinha Gonzaga "é andar por este Brasil, percorrendo os sertões para manter a tradição dos verdadeiros sanfoneiros".

No período das festas juninas, de maio até julho, a agenda de Joquinha Gonzaga ganha outro ritmo. É mais acelerada! O sobrinho do Rei do Baião e neto de Januário, considerado até hoje o  mais afamado tocador de sanfona de 8 Baixos viaja e mostra o valor da herança do tio e avô.

"É é assim que vou pelejando! Alô Exu, meu moxotó e cariri tô chegando prá tocar ai", brinca Joquinha Gonzaga, ressaltado que "todo ano é uma peleja pra levar o verdadeiro forró prá frente e mostrar o baião e xote, forró para o povo, como pediu "meu tio Luiz Gonzaga".

Se a sanfona de Dominguinhos, discípulo maior de Luiz Gonzaga, cabia em qualquer lugar, a sanfona de Joquinha Gonzaga tem a herança original do pé de serra. Joquinha traz com sua sanfona o tom cada vez mais universal divulgado por Luiz Gonzaga. 

Na obra do sanfoneiro herdeiro do ritmo de Luiz Gonzaga vai Joquinha com seu chapeu de couro cumprindo sua agenda. Dia 5 de Junho solta a voz e puxa a sanfona em Barbalha-Ceará, na Festa de Santo Antonio, Patrimônio da Cultura. Pega poeira e chuva se preciso for e toca nas margens do Rio São Francisco, Paulo Afonso e Delmiro Gouveia-Bahia. Vai alegrar os festejos de Teresina-Piauí. Caruaru, Pernambuco... 

Seguindo o estradar e os sinais da vida do viajante vai Joquinha cumprindo os compromissos de agenda puxando o fole e soltando a voz, valorizando a tradição e mostra para as novas gerações a contemporaneidade, modernidade dos acordes da sanfona modulada no ritmo, melodia e harmonia.

João Januário Maciel, o Joquinha Gonzaga é hoje um dos poucos descendentes vivos da família. Dos nove filhos de Santana e Januário, todos eles, ja morreram. Joquinha Gonzaga, nasceu no dia 01 de abril de 1952, filho de Raimunda Januário (Dona Muniz, segunda irmã de Luiz Gonzaga) e João Francisco Maciel.

Sara conta que Joquinha Gonzaga é o mais legítimo representante da arte de Luiz Gonzaga. Mora em Exu, Pernambuco.  "Sempre está  contando histórias. Não foge da tradição, das características do forró,  xote, baião. Procura sempre a melhor satisfação do público que tem uma admiração especial a família, a cultura de Luiz Gonzaga, Zé Gonzaga, Severino e Chiquinha também tocadores de sanfona e já se foram. O estilo musical não pode ser diferente. É gonzagueano", diz Sara, na vitalidade da juventude.

Joquinha conta que quando completou 23 anos começou a viajar com Luiz Gonzaga e foi aprendendo, conhecendo o Brasil inteiro. "Ele não só me incentivou, como também me educou como homem. Era uma pessoa muito exigente, gostava muito de cobrar da gente pelo bom comportamento. Sempre procurando ensinar o caminho certo. Tudo que ele aprendeu foi com o mundo e assim eu fui aprendendo", revela Joquinha.

Luiz Gonzaga declarou em público que Joquinha é o seguidor cultural da Família Gonzaga. Com Luiz Gonzaga cantou em dueto a música "Dá licença prá mais um'. Em 1998 Joquinha Gonzaga participou da homenagem "Tributo a Luiz Gonzaga", em Nova York, no Lincoln Center Festival. 

“É emocionante a devoção que todo nós ainda hoje temos por Luiz Gonzaga e Dominguinhos e isto cresce a cada ano, mesmo com a invasão dessas bandas. Mas o importante é que o verdadeiro forró não morre”, diz Joquinha Gonzaga. 

Contato para shows de Joquinha Gonzaga: (87) 999955829 e watsap: (87)999472323

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João do Vale o compositor, o poeta do Povo

“Carcará pega, mata e come”. Celebrada na voz de Maria Bethânia no lendário show Opinião, em 1964, a música “Carcará” é de autoria de um homem pobre e pouco letrado: João Batista do Vale. Ele compôs mais de 400 músicas ao longo de sua vida, que marcaram a história da música brasileira.

João do Vale nasceu em Pedreiras, próximo de São Luís, no Maranhão. Dono de uma voz grave, de uma poesia contestadora, era conhecido como compositor de protesto.

O cantor era gago, neto de escravos e quinto filho de oito irmãos. Na infância, João Pé de Xote, como era conhecido, ajudava em casa vendendo doces feitos por sua mãe. Frequentou a escola até o 3º ano primário, quando teve que interromper os estudos para ceder lugar a outro aluno, filho de
um coletor de impostos. Este episódio deixou marcas nas suas composições.

A paixão pela música começou ainda na infância ao integrar um grupo de bumba-meu-boi, o Linda Noite, como amo, sendo o responsável por fazer os versos e cantar as toadas principais. Aos 12 anos, mudou-se com a família para a capital São Luís e, aos 14, fugiu para Teresina, mas seu sonho era conhecer o Rio de Janeiro e ter uma vida melhor. Arranjou emprego de ajudante de caminhão e viajou para Fortaleza, Teresina, Salvador. Com 17 anos, chega ao Sudeste, mais precisamente em Teófilo Otoni, em Minas Gerais, para trabalhar no garimpo. Sem muito sucesso, vem para o Rio e consegue trabalho de pedreiro, na Zona Sul.

Em 1950, começou a frequentar a Rádio Nacional para mostrar seus baiões e conhecer outros músicos, entre eles Tom Jobim, companheiro de música e bebidas. Como figurante, participou do filme "Mão sangrenta" (1954), dirigido por Carlos Hugo Chrisansen, e “No mundo da luz” (1958), de Roberto Farias. Além disso, em 1969, João do Vale compôs a trilha sonora de “Meu nome é Lampião”, de Mozael Silveira.

O primeiro sucesso de João do Vale como compositor foi “Estrela miúda” em parceria com Luiz Vieira, gravada pela cantora Marlene, em 1953. Destacam-se em seu repertório também as canções “Pisa na Fulô” (com Silveira Jr. e Ernesto Pires), “O canto da Ema” (com Ayres Viana e Alventino Cavalcanti) e “Coronel Antônio Bento” (com Luiz Wanderley), imortalizadas nas vozes de cantores brasileiros. 

Para seu biógrafo, Marcio Paschoal, João era um desses fenômenos inexplicáveis, não possuía nenhum tipo de formação acadêmica mas era capaz de compor verdadeiros hinos políticos.

Com sua simpatia e simplicidade, o cantor conviveu com diferentes personalidades, de políticos a escritores, como Ferreira Gullar, Bibi Ferreira, Fagner, Geraldo Azevedo, Caetano e Gilberto Gil. Muitos intérpretes da MPB gravaram canções escritas pelo compositor maranhense.

 João do Vale teve músicas gravadas por Dolores Duran, Luiz Gonzaga, Elba Ramalho, Tim Maia, Alceu Valença, Caetano Veloso, Chico Buarque, entre tantos outros artistas. Para o cantor Zé Ramalho, João do Vale, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro formavam o tripé da música nordestina. “Com ele se foi a última parte”, disse Zé Ramalho sobre a morte de João do Vale, no dia 6 de dezembro de 1996, vítima de um derrame cerebral.

Na década de 1960, João se apresentava no famoso Zicartola, bar de Cartola e dona Zica, onde compositores se reuniam para cantar. Em 1964, surgiu a ideia do espetáculo musical Opinião, no Rio, escrito por Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes e Armando Costa. João do Vale dividiu o palco com Zé Keti e Nara Leão, que depois foi substituída por Maria Bethânia, cuja interpretação imortalizou a música de protesto “Carcará”, uma parceria de João do Vale com o compositor José Candido. O show era um dos símbolos de contestação ao regime militar, uma tentativa de resistência cultural. Dez anos depois, ele participou da remontagem do espetáculo.

Durante a ditadura militar no Brasil, algumas de suas músicas e apresentações foram censuradas.

No final dos anos 70, João do Vale se apresentava no Baile Forró Forrado, no Catete, Zona Sul carioca, convidando outros artistas a participarem, lotando o espaço com freqüência. Em 1994, Chico Buarque volta a reverenciar João do Vale e reúne artistas para gravar o disco “João Batista do Vale”, que recebeu o Prêmio Sharp de melhor disco regional.

Marcio Paschoal lançou o livro “Pisa na Fulô mas não maltrata o Carcará” (2000), biografia sobre João do Vale. A obra é uma referência sobre o cantor e compositor, que narra a ascensão do maranhense. O livro traz ainda depoimentos de outros artistas, cópias de contratos, a musicografia e diversas fotos da sua trajetória. Em 2006 foi lançado o espetáculo musical “João do Vale – o poeta do povo”, peça de Maria Helena Künner, com direção de Marco Aurêh, baseada na biografia escrita por Paschoal.

João do Vale passou seus últimos anos com a saúde muito debilitada. O cantor tinha dificuldades para andar e falar, além de enfrentar dificuldades financeiras, devido a dois derrames que lhe deixaram seqüelas neurológicas. O compositor morreu em São Luís. Celebrado na MPB, com inúmeras canções registradas, ele faleceu quase no anonimato. Sua trajetória foi um espelho da cultura popular e do dia-a-dia dos brasileiros, sendo um representante autêntico dos nordestinos.

Fonte: Adriana Lima-O Globo.
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Paraibano ensina arte do cordel em Ribeirão Preto, São Paulo

As rimas ricas, a simplicidade dos versos, a forma lúdica e as xilogravuras fazem do Cordel uma forma poética essencialmente brasileira. Uma arte genuína e com estética única que pode ganhar os currículos escolares.

É com o foco em levar essa arte aos estudantes do Brasil, que o projeto ‘Histórias que Ganham o Mundo’ promove hoje duas oficinas em Ribeirão, com o cordelista paraibano Aderaldo Luciano.

Seja pela falta de conhecimento sobre o assunto ou abordagens superficiais nas escolas, o cordel brasileiro ainda é visto como folclore e não como cultura legítima do país. “Estamos empenhados em reverter esse quadro e fundar um currículo em que o cordel seja protagonista”, diz Aderaldo.

Apesar de lembrar a literatura de cordel portuguesa, o folheto de cordel nordestino tem conteúdo e poética únicos. Arte que surgiu no Brasil no final do século 19, criada pelo poeta Leandro Gomes de Barros, que nasceu no sertão da Paraíba e logo a reproduziu no papel para vender em Recife, após mudar-se para a capital pernambucana.

Nordestina na origem, mas universal nos temas. O amor, a vingança, o ódio, a morte e os problemas políticos são abordados em suas rimas.

E se, no início, eram os poetas populares que produziam os cordéis - embora não pudessem ser designados assim, já que faziam parte de uma elite, em que apenas 5% da população brasileira sabia ler, na época - hoje são os poetas que passaram pelas universidades que continuam mantendo o cordel nos moldes da sua origem.

Aguçar o olhar para saber distinguir essa literatura de outras formas poéticas, é o que os participantes irão aprender nas oficinas em Ribeirão Preto.  

Da sua origem dos folhetos vendidos pendurados em barbantes - que se chamavam cordéis -, essa literatura conquistou outros meios. Para Aderaldo, os avanços tecnológicos servem ao cordel como suporte para sua sobrevivência, tanto que já há cordelistas que trabalham com o virtual. “Onde quer que esteja gravado, seja numa pedra, na tela do cinema ou em um HD do computador, ele tem esse diálogo.” Nessa visão, o cordel não é relegado ou esquecido e estará cada vez mais presente nos eventos culturais, ocupando seu lugar, mostrando sua força e conquistando os jovens. “Qual a criança ou adolescente que não gosta de rimar? Nesse sentido se percebe o diálogo muito comum entre o rap e o cordel, entre o funk e o cordel...”, ressalta Aderaldo.

Aderaldo é doutor e mestre em Ciência da Literatura e autor de obras de cordel. Já debateu essa forma literária em festivais na Europa e participa de projetos Brasil afora ensinando e divulgando o cordel. Apresenta o quadro ‘Cordel De Notícias’ na Rádio Globo.

Serviço
OFICINA DE CORDEL
Quando: Hoje, das 9h30 às 11h30, e das 15h30 às 17h30
Onde: Salão da Casa da Ciência, no Bosque de Ribeirão Preto (rua da Liberdade, s/nº)
Quanto: Grátis - Inscrições pelo e-mail produção@imagini.art.br ou (11) 2866-5923

Fonte:  ACidadeON/Ribeirao Valeska Mateus

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