Luiz Gonzaga: alma brasileira

O Brasil celebrou os 27 anos da morte do cantor e compositor Luiz Gonzaga, o rei do baião. Luiz Gonzaga, o Lua como também era conhecido, foi essencialmente um telúrico. Ele soube como ninguém cantar o Nordeste e seus problemas. Pernambucano, nordestino, brasileiro, Luiz Gonzaga encantou o Brasil com sua música, tornando-se um daqueles que melhor souberam interpretar sua alma.

Nascido em Exu, no alto sertão de Pernambuco, na chapada do Araripe, ele ganhou o Brasil e o mundo, mas nunca se esqueceu de sua origem. Sua música, precursora da música brasileira, é algo que, embora não possa ser classificada como "de protesto", ou engajada, é, contudo, politicamente comprometida com a busca de solução para a questão regional nordestina, com o desafio de um desenvolvimento nacional mais homogêneo, mais orgânico e menos injusto, portanto.
Telúrico sem ser provinciano, Luiz Gonzaga sabia manter-se preso às circunstâncias regionais sem perder de vista o universal.

Sua sensibilidade para com os problemas sociais, sobretudo nas músicas em parceria com Zé Dantas, era evidente: prenhe de inconformismo, denúncia do abandono a que ainda hoje está sujeito pelo menos um terço da população brasileira, mormente a que vive no chamado semi-árido.

Não estaria exagerando se dissesse que Gonzaga, embora não tivesse exercido atividade política ou partidária, foi um político na acepção ampla do termo. Política, bem o sabemos, é a realização de objetivos coletivos e não se efetua apenas por meio do exercício de cargos públicos, que ele nunca teve. Política é sobretudo ação a serviço da comunidade. Como afirma Alceu Amoroso Lima, é saber, virtude e arte do bem comum.

Outro aspecto político da presença de Luiz Gonzaga foi no resgate da música popular brasileira. O vigor de suas toadas e cantorias tonificou a nossa música, retirando-a do empobrecimento cultural em que se encontrava. Sua música teve um viés nacionalista, ou melhor, brasileiríssimo, que impediu que lavrasse um processo de perda de nossa identidade cultural. Não foi uma música apenas nordestina, mas genuinamente nacional, posto que de defesa de nossas tradições e evocação de nossos valores.

Luiz Gonzaga interpretou o sofrimento e também as poucas alegrias de sua gente. Mas foi por meio de "Asa Branca" que Lua elevou à condição de epopéia a questão nordestina. Certa feita, Gilberto Freyre afirmou que o frevo "Vassourinhas" era nossa marselhesa. Poderíamos dizer, parafraseando Gilberto Freyre, que "Asa Branca" é o hino do Nordeste: o Nordeste na sua visão mais significativamente dramática, o Nordeste na aguda crise da seca.

Gilberto Amado disse a propósito da morte de sua mãe: "Apagou-se aquela luz no meio de todos nós". Para o Nordeste, e tenho certeza para todo o país, a morte de Luiz Gonzaga foi o apagar de um grande clarão. Mas com seu desaparecimento não cessou de florescer a mensagem que deixou, por meio da poesia, da música e da divulgação da cultura do Nordeste.

Em sua obra ele está vivo e vive no sertão, no pampa, na cidade grande, na boca do povo, no gemer da sanfona, no coração e na alma da gente brasileira, pois, como disse Fernando Pessoa, "quem, morrendo, deixa escrito um belo verso, deixou mais ricos os céus e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente".

Fonte: Marco Maciel, foi vice-presidente da República. Foi governador do Estado de Pernambuco (1979-82), senador pelo PFL-PE (1982-94) e ministro da Educação (governo Sarney).
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Jornalista Ney Vital é escolhido para ser membro do Conselho de Cultura do Parque Aza Branca, Exu- Terra de Luiz Gonzaga

O jornalista Ney Vital é o mais novo membro do Conselho de Cultura da ONG-Parque Aza Branca, Exu, Pernambuco. O Parque Aza Branca é um patrimônio cultural do povo brasileiro e nele está o Museu de Luiz Gonzaga.

O dia da posse ainda não foi divulgado. Na justificativa, o nome de Ney Vital foi proposto pelos relevantes serviços prestados a cultura. Ney Vital já foi secretário de comunicação da prefeitura de Petrolina, Pernambuco,  ex-secretário de cultura de Areia, Paraiba, cidade Patrimônio Nacional da Cultura e assessor de imprensa do Incra Submédio São Franscisco.

Ney Vital em 2012, ano do Centenário de Luiz Gonzaga, recebeu da Assembleia Legislativa de Pernambuco, homenagem pela ampla divulgação, contribuição dada à cultura, literatura e à música brasileira, em especial vida e obra de Luiz Gonzaga.

"Aumenta o compromisso! A missão dos conselheiros é valorizar a vida e obra de Luiz Gonzaga, buscar caminhos de uma política cultural mais justa. O compromisso é mais forte agora para ampliar a consciência dos nossos valores mais brasileiros", finalizou Ney Vital.

O Parque Aza Branca, além do Museu do Gonzagão e da Casa de Luiz Gonzaga, o parque abriga também outras instalações, como o Ponto de Cultura Alegria Pé-de-Serra, o Mausoléu de Gonzagão (onde se encontram os restos mortais do Rei do Baião), dois palcos para eventos e ainda duas pousadas, denominadas Santana e Januário – em homenagem a sua mãe e a seu pai. Abrigando um cenário típico do Sertão pernambucano, o parque conta ainda com um viveiro de pássaros da espécie asa branca, além de juazeiros e cactáceos distribuídos por todo o local.
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Luiz Gonzaga é o pai do ritmo Baião

Luiz Gonzaga, por meio da sua música, deu origem a uma das mais significativas representações da cultura brasileira. Sua música e o baião, sua mais expressiva criação, revolucionaram o imaginário do povo brasileiro. Um universo ímpar de significações que alargou as fronteiras da nossa identidade nacional, incluindo o povo nordestino no imaginário do Brasil.

Há quem diga que o Nordeste, tal qual o compreendemos, foi uma invenção de Seu Lua. A grandeza de sua obra fez dele um dos representantes mais ilustres da cultura brasileira, pelo que dela ele soube traduzir e o que a ela soube, com sua genialidade, acrescentar.

Ainda jovem, tornou-se um símbolo do país inteiro. Entre meados das décadas de 1940 e 1950, o baião foi o estilo musical mais tocado no Brasil. O baião é, reconhecidamente, tanto quanto o samba, uma expressão brasileira, por excelência. Em qualquer parte deste planeta. E Luiz Gonzaga, o maior ídolo da música brasileira. Desde então, nunca mais deixou de ser ouvido, tocado e composto.

Luiz Gonzaga foi uma dádiva para nossa formação cultural em momento de grande expansão urbana. Gonzaga surgiu para o Brasil no Rio de Janeiro num momento privilegiado. A indústria do disco e a rede radiofônica já tinham a maturidade tecnológica e cultural, para entender um talento como o seu, capaz de unir o país de ponta a ponta, com alto nível de qualidade e elaboração.

Luiz urbanizou sua tradição, predominantemente rural e interiorana. Como todo grande artista, foi capaz de traduzir o seu mundo, universalizando-o; capaz de absorver em seu processo criativo toda a vivência cultural dos nordestinos e torná-las objeto de admiração e de afeto para milhões de brasileiros.

O Brasil é um país tão extenso e tão diverso que precisa ser o tempo todo ser apresentado a si mesmo. Foi isso o que Seu Luiz fez, apresentou ao Brasil um Nordeste que o Brasil desconhecia. Um mundo cheio de novidades, dores e belezas.

Poucos terão cantado tão bem quanto ele e seus parceiros os dramas do povo nordestino; mas, acima de tudo, foi a alegria de viver do nordestino que ele mais intensamente nos revelou. Muitos brasileiros aprenderam a amar e respeitar o Nordeste depois de serem cativados pela rara beleza da voz confiante de Gonzagão, e pelo seu sorriso, exprimindo uma inabalável alegria de viver.

Gonzaga surgiu como representante típico da massa cabocla do sertão. Destinado a plantar no coração da metrópole as sonoridades, os versos e a memória coletiva de um povo que nunca sonhava em ir para a cidade, e só o fazia quando o seu mundo começava a se acabar, pelo latifúndio, pela seca e falta de oportunidade.

Como o ex-presidente Lula. Outro ilustre brasileiro oriundo dessa tragédia nordestina.


Fonte: Juca Ferreira, ex-ministro de Estado da Cultura.
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Era uma certa vez...a carimbamba cantava assim

Em algum ano da década de 70, talvez início de 80, essa data flutua e se move no turbilhão de fatos de minha pré-adolescência, eu ouvi com o coração que a terra há de sentir algum dia, próximo ou longínquo que seja, em alguma estação de rádio do Crato ou do Juazeiro do Ceará, a canção fatal que determinaria minha vida: Amanhã Eu Vou, de Beduíno e Luiz Gonzaga. Não tardou muito para eu ver Elba Ramalho num desses festivais de inverno, de Areia ou de Campina Grande, também foge-me, mas era Elba, tão linda e tão senhora de si, cantando a mesma canção.

Estranhava-me a história desse pássaro chamado de carimbamba do qual nunca ouvira falar, sequer ouvira seu canto que grassava na noite a onomatopeia "amanhã eu vou". Com os parcos recursos de pesquisa da época saí em busca dessa ave. E encontrei em seu Carneiro, um poeta que morava na única casa do final da Rua do Bode e a primeira do que chamou-se mais tarde a Rua Nova, entrando por um pedaço do sítio de Pedro Perazzo, encontrei nele a luz. A carimbamba era o mesmo bacurau, é o mesmo curiango. Esse eu conhecia. Um pássaro cuja mola no pescoço o fazia dar um giro de 360º,

Mas acreditem, nunca associei o canto do bacurau a "amanhã eu vou". Foi Luiz Gonzaga quem ensinou-me a voz, a língua e a canção do pássaro. E, junto com isso, destrinçou-me a lenda de Rosa Bela, a encantada donzela a adentrar a lagoa fria, hipnotizada pela canção atravessada no peito da ave mágica. A canção apresentou-me também o elemento vegetal, a taboa, com a qual sempre brincávamos nos escondendo por dentro dela no açude de Seu Juju, e o elemental Caboclo d'Água, aquele responsável por carregar tantos amigos para o reino paralelo da morte nas profundezas.

Fonte: Aderaldo Luciano-professor. Doutor em Ciência da Literatura.
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Encontro Gerações Tocadores da Sanfona de 8 Baixos

Um encontro entre o mestre e o aprendiz, a modernidade e a tradição, a experiência e a juventude, em mais um festejo de alegria e homenagem ao fole de 8 baixos!

Trata-se do “Encontro de Gerações de Tocadores de 8 Baixos”, que acontecerá no Centro Cultural Parque das Ruínas - Santa Teresa - Rio de Janeiro, no dia 04 de setembro . O evento promoverá a participação de tocadores da sanfona de 8 Baixos do Cariri do Ceará, da cidade de Assaré, Ceará. Um dos homenageados sera  o mestre Chico Paes, o vovô dos 8 baixos, que com seus 90 anos de idade, mantém uma agilidade e técnica exemplar tocando fole.

Participa do encontro o mestre, Mará integrante do “Núcleo de Pesquisas e Expressão da sanfona de 8 Baixos do Brasil”, sanfoneiro das bandas Forróçacana e Tribo de Gonzaga, violoncelista, produtor e arranjador musical. Mestre Mará se dedica às pesquisas, estudos, resgate e a divulgação do fole de 8 baixos no Brasil.

Juntos, Chico Paes e Mará receberão ilustres convidados como o mestre Zé Calixto, Leo Rugero, Marcelo Mimoso, Rodrigo Ramalho, Beto Lemos e Geraldo Júnior , conterraneos do mestre, que trazem em seu matulão a poesia e a abundante arte do Cariri. 

EVENTO: Encontro de Gerações de Tocadores de 8 Baixos - Homenagem ao Mestre Tocador de 8 Baixos Chico Paes de Assaré - Cariri do Ceará
DIA: 04/09/16
HORA: Das 15h até as 17h
LOCAL: Centro Cultural Parque das Ruínas
Rua Murtinho Nobre, 169 - Santa Teresa - Rio de Janeiro


REALIZAÇÃO:
Núcleo de Pesquisas e Expressão da Sanfona de 8 Baixos do Brasil
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31 de agosto: Jackson do Pandeiro a caminho dos 100 anos

Quem visita Alagoa Grande, situada na região do brejo paraibano, Serra da Borborema, não pode deixar de visitar um casarão azul construído em 1898, na Rua Apolônio Zenaide, centro da cidade. No prédio está a memória e os restos mortais de um dos artistas mais representativos da cultura brasileira: José Gomes Filho, o Jackson do Pandeiro.

O Memorial Jackson do Pandeiro, criado em 2008, possui um grande acervo composto por discos, documentos, vestimentas, imagens e os indefectíveis chapéus usados pelo cantor, que nasceu em 31 de agosto de 1919 e morreu em Brasília, em 10 de julho de 1982. 

“O memorial já foi visitado por mais de 100 mil pessoas vindas de várias partes do país. “Foi um artista que nunca cantava duas vezes uma música da mesma maneira, sabia dividir os compassos da música nordestina com maestria”, afirma o jornalista e historiador da música brasileira Rodrigo Faour, curador da recém-lançada caixa Jackson do Pandeiro — O Rei do Ritmo (Universal Music).

“Há anos, eu queria relançar esse repertório. Quando a Universal veio com essa ideia, eu, na mesma hora, vesti a camisa e revisei o levantamento que eu já tinha feito. Pedi ajuda a alguns amigos e cheguei à seleção final”, destaca Faour sobre a obra com clássicos como Chiclete com banana e O canto da ema.

Em entrevista, o pesquisador lista os empecilhos que teve de enfrentar para a composição da caixa que contém 235 músicas. Ao todo, são 15 discos agrupados em nove CDs. Esses álbuns (compactos e long plays) foram lançados originalmente nos anos 1960 e 1970.

 “Esbarrei com um monte de problemas: canções não editadas, autores falecidos, autores que não deixaram herdeiros oficiais, capas originais dificílimas de conseguir... Por isso demorou anos e anos para a caixa sair”, lamenta.

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Manoel Magalhães: A morte não consegue fechar os olhos dos que trabalharam por uma causa justa

Há dois anos os Rádios e os jornais do sul do Ceará anunciaram a morte do ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santana do Cariri, Manoel Magalhaes.

Tive o prazer de conhecer este senhor de 94 anos, numa visita ao Crato, lugar que ele morava. Devido a doença não falava. Todavia o seu olhar confirmava acompanhado com um sorriso tudo que o genro,  as filhas e netos me contavam.

Histórias de um homem que amava a agricultura e as paisagens rurais dos verdes canaviais. Cada gesto me faz lembrar do meu avô Antonio Vital e de um amigo: Vicente Jeronimo.  Manoel Magalhaes me fez lembrar muito a altivez desses dois amigos, meu avô e Vicente  Jeronimo, um socialista convicto da partilha do pão..

Seu Manoel Magalhães viveu junto com Dona Lorita mais de 70 anos. Deixou os frutos de 5 filhos, 18 netos, 11 bisnetos e 1 tataraneto. Gostava de sentar a mesa da cozinha e conversar. Participei no Crato de uma dessas rodas de conversa regado a café!

E a cada prosa percebia  o elo de dedicação do sr Manoel a causa dos trabalhadores rurais e  isto me fez  reportar de um agricultor que nos deixou em agosto de 1962. João Pedro. João Pedro Teixeira foi  líder e fundador das Ligas Camponesas.

O poeta e político Raymundo Asfora escreveu que a morte não consegue fechar os olhos dos que trabalharam por uma causa justa. "Os olhos Brilham numa expressão misteriosa, como se tivessem sido tocados por um clarão de eternidade. Os seus olhos, os olhos de um agricultor morto, ficam  escancarados para a tarde. E, dentro deles, eu vi – juro que eu vi – havia uma réstia verde que bem poderia ser saudade dos campos ou o fogo da esperança que não se apagara".

É certo que na morada do Pai Superior existe outros caminhos e nesta nova caminhada sr Manoel Magalhães vai se juntar novamente há  tantos homens sem terra e tantos homens aflitos e tantos homens de coragem, Compenetrados de consciência de classe, do valor da disciplina e da coesão, mobilizados ardentemente, em cada feira e em cada roçado.

João Pedro, Vicente Jeronimo, Zumbi dos Palmares, Antonio Vital,  Manoel Magalhães, Patativa do Assaré não morreram! Nas palavras de Asfora, estes agora  são zumbis. "Sombra que se alonga pelos canaviais, que bate forte na porta das casas grandes e dos engenhos, que povoa a reunião de cada sindicato, que grita na voz do vento dentro da noite, e pede justiça, e clama justiça social.  Vozes que passeiam pelas estradas,  que fala, pela boca de milhares que amam seu pedaço de terra."
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