ONILDO ALMEIDA O HOMEM QUE LEVOU A FEIRA DE CARUARU AO MUNDO

Todos os domingos, Onildo Almeida tem um compromisso inadiável. Trajado elegantemente com camisa de alfaiataria e calça impecável, ele deixa sua casa antes das 7h da manhã acompanhado da esposa, Lenita, para ir à Feira de Caruaru. 

É comum que seu momento de compras seja interrompido por um pedido de foto, um abraço ou um convite para um papo. Algum desavisado que passa por ali pode não saber, mas Onildo, aos 96 anos, é o maior vendedor da Feira de Caruaru. 

Embora nunca tenha tido comércio no local, foi ele quem compôs os versos que exaltam a diversidade de produtos da feira em que “de tudo que há no mundo” tem para vender. Sua canção Feira de Caruaru ficou imortalizada na voz de Luiz Gonzaga e se tornou a primeira de muitas obras de Onildo a serem gravadas pelo Rei do Baião.

Na década de 1950, Onildo Almeida era um jovem apresentador de programas de auditório na Rádio Difusora de Caruaru, mas também se aventurava na música. Lançou seu primeiro disco, um álbum que continha uma única canção, uma homenagem à Feira de Caruaru, à cidade e à cultura nordestina. A música fez sucesso na região, mas não ultrapassou as barreiras estaduais. 

Filho de um comerciante bem-sucedido na cidade, ele e seus seis irmãos cresceram em uma família musical. As irmãs se dedicavam ao piano e os homens, ao violão, ao violino e ao bandolim. Aos 13 anos, Onildo já compunha suas primeiras canções e adolescente já se apresentava com o quarteto vocal Vocalistas Tropicais.

Em uma de suas idas à Caruaru em meados de 1950, Luiz Gonzaga, que já era um ídolo na época, se apresentou na Difusora, a rádio onde Onildo trabalhava, e ouviu Feira de Caruaru pela primeira vez. 

"Ele pegou o disco e perguntou quem era o cantor. Meu irmão, que trabalhava na rádio como operador, me apresentou", relembra o compositor. "Ele me disse: 'Como é que você tem um negócio desse que não me mostra?' Eu respondi: 'Tá na sua mão!'".

Em 21 de março de 1957, Gonzagão gravou pela primeira vez a canção que se tornou um grande sucesso. O LP de 78 rotações teve 100 mil cópias vendidas em dois meses. A marca fez com que o Rei do Baião conquistasse o primeiro disco de ouro da carreira. 

“Pelo simples fato de Gonzaga gravar, já era uma um acontecimento, né? Um acontecimento raro. Ele pegar e gravar uma música do jeito que eu fiz e não alterou nada”, recordou Onildo sobre a sensação de ouvir sua canção cantada na voz de Seu Luiz.

Feira de Caruaru foi regravada por outros artistas e em diversos idiomas, inclusive em outros países. O encontro do compositor carurarense com o filho de Exu, no Sertão de Pernambuco, rendeu uma amizade e uma parceria frutífera. Gonzaga gravaria ainda Aproveita Gente, Onde o Nordeste Garoa, Zé Dantas, Só Xote, Sanfoneiro Zé Tatu e muitas outras canções de Onildo. Outros gigantes da música nordestina como Marinês, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino e Jorge de Altinho também recorreram ao "poeta do agreste" para compor seu repertório.

Onildo também fez a cabeça dos tropicalistas. Em You Don't Know Me, canção de Transa, álbum emblemático de Caetano Veloso de 1972, gravado quando o artista estava exilado em Londres, Caetano faz uma colagem de citações, entre elas um trecho de A Hora do Adeus, parceria de Onildo Almeida e Luiz Queiroga, gravada por Luiz Gonzaga no álbum Olha Eu Aqui de Novo de 1967: "Eu agradeço ao povo brasileiro / Norte, Centro, Sul inteiro / Onde reinou o baião". 

No mesmo ano, Gilberto Gil gravou o arrasta-pé Sai do Sereno, composição de Onildo, no álbum Expresso 2222 - o primeiro que o músico baiano lançou após o retorno ao Brasil com o fim de seu exílio em Londres.

Ao longo de quase um século de música, Onildo Almeida se tornou uma referência musical e inspiração para novos artistas nordestinos. Isso fica evidente na maneira como é celebrado durante os festejos juninos em Caruaru. Este ano, durante a festa, ele foi convidado especial da Orquestra de Pífanos de Caruaru e se apresentou em um dos palcos do São João de Caruaru dedicados à música alternativa, junto com a banda pernambucana Diablo Angel. 

A banda, que tem dez anos de estrada, lançou neste mês de junho uma versão com pegada pop rock de Feira de Caruaru com a participação do próprio Onildo.

"Estar com ele no palco, poder cantar com ele estas músicas que fazem parte da nossa história é um privilégio. Eu cresci com essas canções. Era aquele desafio gostoso, era quase como memorizar um repente, aquela letra de ‘Feira de Caruaru’ ", diz Kira Derne, vocalista da Diablo Angel, que também nasceu na cidade. 

Entre encontros, ensaios e apresentações ao lado de Onildo, ela aproveita para aprender com o mestre.

"Ele é muito generoso. Eu estou sempre tentando escutá-lo, especialmente como uma jovem compositora. Você ter a oportunidade de estar com ele, de aprender sobre processo criativo, como ele aborda a escrita de uma canção, as histórias de como foram escritas suas principais canções...Eu aproveito cada minuto ao lado dele", acrescenta.

Celebrado como o homem que apresentou Caruaru ao mundo, Onildo é uma figura querida na cidade e costuma ir às escolas conversar com as crianças sobre música e cultura nordestina. Ele diz não recusar convites, mas não costuma ultrapassar os limites da cidade: odeia viajar. 

As homenagens chegam em sua casa e emolduram as paredes de sua sala, uma espécie de museu particular que conta sua história de sucesso na música e as amizades que fez pelo caminho.

Quase sete décadas depois de ser inspiração para Onildo, a Feira de Caruaru segue sendo uma grande atração na cidade. Hoje, ostenta o registro de Patrimônio Imaterial Brasileiro concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 

Embora por lá ainda se encontrem os mais variados tipos de frutas regionais, arreios para cavalos e os bonecos de barro dos discípulos do Mestre Vitalino, o espaço não ficou imune à invasão de produtos chineses, como acontece em outros comércios locais no Brasil. Ainda assim, para Onildo, não há lugar igual: 

"Eu costumo dizer que toda cidade tem feira e toda feira é igual. Mas, na verdade, não é. A de Caruaru, quando você procura uma coisa no comércio que não encontra, vai para a feira. É uma feira que tem tudo”. (Agencia Brasil)

Nenhum comentário

E TODO MUNDO CANTA GONZAGÃO

E todo mundo canta o balão do Gonzagão com paz na consciência, diz colunista Levi Vasconcelos

Olha pro céu meu amor/ Vê como ele está lindo/ Olha pra aquele balão multicor/ Que lá no céu vai sumindo.

A letra aí é de Olha pro céu, um clássico do São João, composto por Luiz Gonzaga em parceria com José Fernandes em 1951, há 74anos. Era ela que o bom amigo Renato Pinheiro, jornalista que nos deixou em abril de 2021, evocava para dizer das belezas culturais que hoje seriam politicamente incorretas.

– Se fosse hoje ela jamais existiria dessa forma, com essa letra nem pensar. A partir de 1968 a lei passou a considerar soltar balão crime ambiental. Ele fazia uma ressalva:

– Muito culparam os balões por incêndios e em alguns casos talvez sim. Mas o fato é que os balões levaram a culpa de outros bichos.

Dizia ele que o caso de Olha pro céu é emblemático por ser uma poesia, não música de duplo sentido ou daquelas que já nascem de uma visão deformada, como Cremilda: ‘Eu não gosto de forró que não tem briga./ Forró que não tem briga não me diga que é forró’.

O papo com Renato foi pouco antes do São João de 2020. Ele morreria pouco antes do São João seguinte. Dizia que gostava de chamar a atenção sobre isso para lembrar que no caso a poesia venceu.

– Todos cantam ainda hoje celebrando o período junino, sem a sensação de fazer apologia ao crime. Gonzagão, o Rei do Baião, do xote e do xaxado também, interpretou centenas de músicas que integram o relicário da cultura nordestina.


Nenhum comentário

CANTADOR DE VIOLA OLIVEIRA DE PANELAS GANHA TÍTULO DE DOUTOR HONORIS CAUSA

 A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) realizou uma solenidade para conceder o título de Doutor Honoris Causa ao repentista, cordelista e escritor Oliveira Francisco de Melo, conhecido artisticamente como Oliveira de Panelas. O evento foi aberto ao público e aconteceu na noite da segunda-feira às no auditório da Reitoria da universidade. 

Oliveira Francisco de Melo nasceu em 1946, no sítio Barrocas, localizado na zona rural do Município de Panelas, em Pernambuco, mas se radicou na Paraíba desde 1976, já tendo sido agraciado com os títulos de cidadão paraibano e cidadão pessoense. O artista publicou diversos livros, cordéis e discos, tendo uma obra que se destaca pela forte preocupação com temáticas sociais. 

É também reconhecido pela crítica, como explica a pró-reitora de Extensão da UFPB, Bernardina Freire, uma das proponentes do título: “Oliveira de Panelas foi considerado, inclusive, por Ariano Suassuna, como o Pavarotti do sertão, em razão de sua forte presença musical, de suas cantorias. Ele também renova a cantoria, em razão dos temas modernos que ele aborda e da técnica que ele usa para fazer a arte de seus versos”, comenta. 

O trabalho de Oliveira conta, inclusive, com reconhecimento internacional, já tendo o artista se apresentado para líderes de outros países, oportunidades nas quais foi elogiado pela crítica. “Oliveira de Panelas é um ser, um artista para ser desbravado. Então, ele é, por natureza, um doutor na sua arte”, complementa Freire.

A proposição da honraria foi das professoras Bernardina Maria Juvenal Freire de Oliveira e Maria Elizabeth Baltar Carneiro de Albuquerque, ambas do departamento de Ciência da Informação da UFPB. Conforme o Regimento Geral da UFPB, o título de Doutor Honoris Causa é concedido a “personalidades eminentes, que tenham contribuído para o progresso da instituição, da região ou do país ou que se hajam distinguido por sua atuação em favor das Ciências, das Letras, das Artes, ou da cultura em geral.” (Ascom/UFPB)

Nenhum comentário

NEY VITAL SACODE O FORRÓ TODOS OS DOMINGOS NA RÁDIO EDUCADORA DO CARIRI

Defesa do Meio Ambiente. Valorização da Cultura Brasileira. "Ney Vital sacode o forró com bom jornalismo’. Este é o tema do projeto idealizado pelo jornalista, técnico em agroecologia,  Ney Vital, colaborador da REDEGN e membro da Membro da Rede Brasileira de Jornalismo que iniciou programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos, transmitido pela Rádio Educadora do Cariri-fm 102.1, todos os domingos das 10hs às ao Meio Dia.

A Rádio Educadora do Cariri completou este ano 66 anos de fundação-Comunicando a Esperança. A proposta é série de reportagens sobre agroecologia e a valorização da cultura gonzagueana.

“Vamos percorrer a região da Chapada do Araripe, Exu, Bodocó, Parnamirim, Nova Olinda, Santana do Cariri, Caririaçu, Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte do Padre Cícero. Vamos mostrar ao vivo a riqueza musical e do meio ambiente desta região. Vamos mostrar a exemplo de Valdi Geraldo, o Neguim do Forró, poetas e compositores parceiros de Luiz Gonzaga. O rádio vai mostrar a sua força cultural“, explica Ney Vital.

Nas Asas da Asa Branca segue uma trilogia amparada na cultura, cidadania e informação. “É o roteiro usado para contar a história da música brasileira a partir da voz e sanfona de Luiz Gonzaga, seus amigos e seguidores”, diz Ney Vital.

O programa é um projeto que teve início em 1990, numa rádio localizada em Araruna, Paraíba (Estado-natal de Ney). “Em agosto de 1989 Luiz Gonzaga, o  Rei do Baião, fez a passagem, partiu para o sertão da eternidade e então, naquela oportunidade, o hoje professor doutor em Ciência da literatura, Aderaldo Luciano, fez o convite para participar de um programa de rádio. E até hoje continuo neste bom combate”.

Ney considera o programa “o encontro da família brasileira”. Ele não promove rituais regionalistas, a mesquinhez saudosista dos que não se encontram com a arte e cultura, a não ser na lembrança. Ao contrário, o programa evoluiu para a tecnologia digital e forma de espaço reservado à cultura mais brasileira, universal, autêntica, descortinando um mar e , cariri sertões de ritmos variados e escancarando a infinita capacidade criadora dos que fazem arte no Brasil.

É o conteúdo dessa autêntica expressão nacional que faz romper as barreiras regionais, esmagando as falsificações e deturpações do que costuma se fazer passar como patrimônio cultural brasileiro. Também por este motivo no programa o sucesso pré-fabricado não toca e o modismo de mau gosto passa longe.

“Existe uma desordem, inversão de valores no jornalismo e na qualidade das músicas apresentadas no rádio”, avalia Ney Vital que recebeu o Título de Cidadão de Exu, Terra de Luiz Gonzaga, título Amigo Gonzagueano Orgulho de Caruaru, e Troféu Luiz Gonzaga do Espaço Cultural Asa Branca de Caruaru e o Troféu Viva Dominguinhos-Amizade Sincera em Garanhuns.

Bagagem profissional-Ney Vital usa a credibilidade e experiência de 30 anos atuando no rádio e TV. Nas afiliadas da Rede Globo (TV Grande Rio e São Francisco), foi um dos produtores do Globo Rural, onde exibiu reportagens sobre Missa do Vaqueiro de Serrita e festa de aniversário de Luiz Gonzaga e dos 500 anos do Rio São Francisco, além de dezenas de reportagens pautadas no meio ambiente do semiárido e ecologia.

Membro da Rede Brasileira de Jornalismo, Ney Vital é formado em Jornalismo na Paraíba e com Pós-Graduação em Ensino de Comunicação Social pela Uneb/Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 

“Nas Asas da Asa Branca, ao abrir as portas à mais genuína música brasileira, cria um ambiente de amor e orgulho pela nossa gente, uma disseminação de admiração e confiança em nosso povo, experimentada por quem o sintoniza a RADIO EDUCADORA em todas as regiões do Brasil, dos confins do Nordeste aos nossos pampas, do Atlântico capixaba ao noroeste mato-grossense”, frisa.

"Ney Vital usa a memória ativa e a improvisação feita de informalidade marcando o estilo dos diálogos e entrevistas do programa. Tudo é profundo. Puro sentimento. O programa flui como uma inteligência relâmpago, certeira e  hospitaleira", diz o ouvinte Arnaldo Carvalho.

“O programa incentiva o ouvinte a buscar qualidade de vida, defender as riquezas culturais e patrimônios musicais. É um diálogo danado de arretado. As novas ferramentas da comunicação permitem ficarmos cada vez mais próximos das pessoas, através desse mundo mágico e transformador que é a sintonia via rádio”, finaliza o jornalista Ney Vital.

Nenhum comentário

MESTRE JOSENIR LACERDA

 Josenir Alves de Lacerda nasceu em Crato-CE, no dia 16 de janeiro de 1953. Artesã e poetisa desde menina, sempre ouvia dos seus pais e avós as histórias contadas na meninice e cresceu com a facilidade e o dom de poetizar. Admiradora da obra literária do grande poeta da Serra de Santana, Antônio Gonçalves da Silva, Patativa do Assaré, é titular da cadeira Nº 03 e co-fundadora da Academia dos Cordelistas do Crato-ACC, onde possui um acervo prolífico de cordéis conhecidos nacionalmente. Também faz parte da Academia Brasileira de Literatura de Cordel-ABLC, com sede no Rio de Janeiro, ocupando a cadeira de Nº 37 e é membro do Instituto Cultural do Cariri – ICC. A diversidade sempre presente nas suas obras mostra a facilidade de criar e um modo especial de ver as coisas.

 Certa vez, a propósito de um convite para ministrar aula de escrita poética em ambiente escolar, Josenir explicou que não se sentia habilitada para exercer essa função; diferente do rigor da análise da métrica dos versos característico da poesia acadêmica, comentou que suas obras nascem da harmonia entre intuição, sentimento e “ouvido”, lição que recebera muitos anos atrás do próprio Patativa, quando este observara que ela possuía um ouvido apurado para a nossa poesia popular.

Josenir Lacerda, ao longo de sua trajetória artística e militância no ambiente cultural do Cariri, vem contribuindo de forma sistemática para a preservação e a propagação da Cultura Popular, se eternizando em obras como: “O Segredo de Marina”, “Cordel de vestido bordado de poesia”, “De volta ao passado”, “O livrinho que era triste”, “A medicina no cangaço” e o mais popular de seus cordéis, “O linguajar cearense”, este último declamado em canal de mídia televisiva de alcance nacional e via internet por artistas de grande circulação no país, a exemplo do poeta-declamador Bráulio Bessa.

Juntamente com seu marido, “Seu” Miguel Teles, mantém um espaço cultural a partir de seus próprios esforços sem apoio público, o museu social Cordel e Arte, onde tem um grande acervo de objetos, livros e cordéis que remetem à cultura sertaneja. Assim a poetisa define o lugar: “É um espaço que abriga memória, recordações e marcas de um tempo que se divide e se curva respeitoso diante dos sentimentos. Objetos, literatura, música, conversas e outras espontâneas aparições, invadem o ambiente sem que haja saturação, permitindo que os sons e sinais de afetos e emoções transitem livremente pelos cômodos mantendo a essência dos domésticos ambientes de antigas eras”. Na Cordel e Arte, recebem alunos da educação básica e superior, além de outros visitantes em geral, e transmitem informações preciosas sobre o universo mágico da poesia e da cultura sertaneja através de um bate-papo agradável. Um exemplo da utilização do espaço foi o evento Sarau, Poesia Plural dentro do Festival da Palavra em 2019, uma ação promovida pelo SESC Crato com a participação dos poetas Luciano Carneiro, Pedro Ernesto Morais, Daniel Gonçalves e a própria Josenir Lacerda.

Além de um vasto acervo publicado com mais de 100 cordéis, entre obras escritas de forma individual ou em parceria com outros poetas, Josenir Lacerda possui diversos trabalhos publicados no Cariri, em Fortaleza e em outras regiões do país, não somente em poesia, mas também em outros gêneros literários: conto e crônica. Possui várias obras publicadas em livros, a exemplo das obras “Romaria de versos” e “Mulheres cearenses autoras de cordel”. 

É autora-parceira do projeto Livro de Graça na Praça em Belo Horizonte. Outras obras publicadas em co-autoria: “A primeira vez” em 2007, “Perdidos e achados” em 2008, “Segredo” em 2009, “É cor de luar” em 2014, “Ler é brincar” em 2015 e “Histórias malucas de crianças” em 2016. Uma das últimas publicações de Josenir Lacerda foi a obra autoral 10 Cordéis Nota 10, pela editora IMEPH, cujo lançamento se deu por ocasião da XII Bienal Internacional do Livro do Ceará.

Em decorrência de seus trabalhos literários, por sua trajetória na Literatura de Cordel e por se efetivar como defensora da Cultura Popular, Josenir Lacerda já teve muitos dos trabalhos reconhecidos por meio de prêmios, troféus e comendas: recebimento do Troféu Centenário dos 104 anos de Luiz Gonzaga, pela contribuição à causa da cultura gonzagueana em 2016; em 2017, foi contemplada com uma comenda entregue pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará na XII Bienal Internacional do Livro do Ceará e recebeu o prêmio do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Estado do Ceará – SATED-CE por sua contribuição à cultura cearense; em 2018 foi homenageada pela Câmara Municipal do Crato com a Medalha Elói Teles de Morais em reconhecimento pela dedicação à cultura caririense. No ano de 2020, Josenir Lacerda foi agraciada com a Comenda Patativa do Assaré através da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, um reconhecimento pelos serviços prestados à cultura cearense.

Nenhum comentário

NOSSA SOLIDARIEDADE A MINISTRA MARINA SILVA

 Casa de ex-governadores e ex-ministros de Estado, o Senado protagonizou, nesta terça-feira, um vexame político de repercussão internacional, às vésperas da realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes), de 10 a 21 de dezembro, em Belém: a agressão misógina e negacionista à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante audiência na Comissão de Infraestrutura, que foi uma verdadeira arapuca política. A ministra foi desrespeitada por três parlamentares e, ofendida, abandonou a reunião.

 Presidente da Rede Solidariedade, Marina foi senadora da República de 1995 a 2011 e é deputada federal licenciada em função do cargo que exerce. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiou o gesto de Marina.

A reunião desandou quando Marina disse que se sentiu ofendida por falas do senador Omar Aziz (PSD-AM), que é ex-governador do Amazonas. Também questionou a condução da reunião pelo senador Marcos Rogério (PL-RO), que presidia a sessão na comissão. Ele havia cortado o microfone da ministra várias vezes e ironizou as suas reclamações. Marina respondeu dizendo que não era uma mulher submissa.

Sentado ao lado da ministra, Marcos Rogério olhou para ela e disse: "Me respeite, ministra, se ponha no teu lugar". A declaração provocou novo tumulto. O senador disse que, na verdade, referia-se ao "lugar" de Marina como ministra de Estado. Os ânimos continuaram exaltados. O senador Plínio Valério (PSDB-AM) afirmou que era preciso separar a mulher da ministra porque, segundo ele, a "mulher merece respeito e a ministra, não". Em março, em evento no Amazonas, o parlamentar chegou a dizer que tinha "vontade de enforcá-la". Marina se levantou e saiu da reunião.

Na audiência, Marina falou a verdade: a aprovação do projeto de lei que flexibiliza o licenciamento ambiental no país, conhecido como PL da Devastação, é um "golpe de "morte" na legislação ambiental, que é considerada uma das melhores do mundo. A proposta estabelece um novo marco legal para atividades econômicas com potencial impacto ambiental e foi aprovada pelo Senado a toque de caixa.

Apesar do episódio, Marina não se deixou abater. Durante encontro com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), uma nova audiência para garantir transparência e participação ampla da sociedade civil, do setor produtivo, da comunidade científica e de órgãos federais. A ministra destacou ser preciso frear o avanço do novo relatório sobre licenciamento ambiental. "Estamos pedindo que haja o tempo necessário de democracia para discutir uma matéria que amputa décadas de construção do licenciamento ambiental brasileiro", afirmou Marina.

O texto propõe a redução do papel de órgãos colegiados como o Ibama, o enfraquecimento da consulta a povos indígenas e a introdução do licenciamento por adesão, que retira a análise técnica de impactos indiretos relevantes. Marina também alertou para emendas de última hora que ampliaram os Poderes da Presidência da República para dispensar o licenciamento ambiental de empreendimentos considerados estratégicos. "O fato de algo ser estratégico para o governo não elimina os impactos ambientais. É o caso de estradas, hidrelétricas ou da exploração de petróleo. Não podemos simplificar ao ponto de ignorar tragédias como Brumadinho e Mariana", criticou.

As mudanças no licenciamento ambiental no Brasil refletem uma tensão entre a busca por maior eficiência na análise de empreendimentos e a necessidade de garantir a proteção ambiental. A Lei Geral do Licenciamento propõe a criação de uma lei nacional para unificar e simplificar procedimentos.

Seus pontos principais são: estabelecimento de tipos diferenciados de licenças: licença única, licença por adesão e compromisso (LAC) para atividades de menor impacto; isenção de licenciamento para determinadas atividades consideradas de baixo risco, como manutenção de estradas e pequenos empreendimentos; e a simplificação de prazos e exigências para evitar a judicialização.

A Licença por Adesão e Compromisso (LAC) é um instrumento que permite que empreendimentos de baixo impacto ambiental declarem o cumprimento das exigências legais sem necessidade de análise prévia detalhada pelo órgão ambiental. Critério adotado em Minas Gerais e Santa Catarina, a proposta do PL 2.159/2021 busca expandir o procedimento nacionalmente. Apesar da desburocratização ser uma vantagem, a autodeclaração gera brechas para fraudes e impactos não mitigados.

O governo já vem adotando medidas para flexibilizar o licenciamento de obras de infraestrutura, como linhas de transmissão e rodovias, mas sofre pressões para facilitar a regularização de propriedades rurais no Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) e no Cadastro Ambiental Rural (CAR). As grandes empresas de mineração e energia também fazem um forte lobby para acelerar licenças, sob argumento de garantir segurança energética e desenvolvimento.


 



Por Luiz Carlos Azedo-Jornalista, trabalhou nos jornais O Dia, Última Hora, O Fluminense, Diário de Notícias, O Globo e Diário Popular. Dirigiu o semanário Voz da Unidade. Apresentou o programa 3 a 1 da TV Brasil e foi diretor da Companhia de Notícias



Nenhum comentário

ATAQUES A MINISTRA SÃO CORTINA DE FUMAÇA PARA DESVIAR DEBATE AMBIENTAL, DIZ ESPECIALISTA

Os ataques contra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, nesta terça-feira (27/5), foram classificado pela cientista política Letícia Mendes como uma possível "cortina de fumaça" para desviar o debate da pauta ambiental.

"Os ataques (a Marina) podem ser considerados um mecanismo para que os pontos ali (na pauta ambiental) aos quais a ministra conhece com profundidade, como o PL (projeto de lei) de licenciamento ambiental, não sejam discutidos", afirmou a especialista em Legislativo da BMJ Consultores Associados. 

Letícia Mendes afirma que os senadores "quiseram" destinar o debate para um outro assunto, longe das pautas que englobam o meio ambiente, pasta comandada por Marina.

"E a  partir disso trazer ali um cenário em que a matéria não fosse colocada de fato à tona e que a ministra trouxesse ali seus pontos dos quais ela acha necessário debater. E a gente sabe que grande há uma grande parte contrária ao que foi aprovado no PL pelo Senado Federal", completou Letícia.

A reunião em que Marina foi atacada tratava da criação de quatro unidades de conservação marítimas no Amapá. Durante a audiência, porém, houve debates sobre temas como a exploração de petróleo na Margem Equatorial, o PL do Licenciamento Ambiental e a extensão da BR-319.

Durante a audiência, a ministra do Meio Ambiente deixou a reunião da Comissão de Infraestrutura do Senado após ser atacada pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM). “A mulher (Marina) merece respeito, a ministra não. Por isso que eu quero separar”, disse o senador Plínio Valério (PSDB-AM).

A ministra reagiu imediatamente, cobrando um pedido de desculpas. "Como eu fui convidada como ministra, ou ele me pede desculpas ou eu vou me retirar. Se, como ministra, ele não me respeita, vou me retirar", disse Marina. Diante da recusa do parlamentar em se retratar, ela deixou a sessão.

Além das declarações de Plínio Valério, o presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, Marcos Rogério (PL-RO), disse na sessão que Marina Silva deveria 'se pôr no seu lugar'. 

Os ataques à ministra Marina Silva, na avaliação da cientista política, reforçam o ambiente machista e misógino que cerca a política. Letícia observa que mulheres em espaços de poder quase sempre são colocadas em xeque.

“Esse relatório apresentado no Senado não foi debatido. Foi uma peça praticamente entregue no dia da votação. Estamos pedindo que haja o tempo necessário de democracia para discutir uma matéria que amputa décadas de construção do licenciamento ambiental brasileiro”, afirmou a ministra.

Ela destacou pontos críticos do texto, como a redução do papel de órgãos colegiados como o Ibama, o enfraquecimento da consulta a povos indígenas e a introdução do licenciamento por adesão, que retira a análise técnica de impactos indiretos relevantes. Aprovado no Senado, o PL do licenciamento tramita agora na Câmara dos Deputados. 

Nenhum comentário

← Postagens mais recentes Postagens mais antigas → Página inicial