MINISTRO LUIZ ROBERTO BARROSO SE DESPEDE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

 O ministro Luís Roberto Barroso anunciou nesta quinta-feira a aposentadoria do Supremo Tribunal Federal. O discurso de despedida é uma aula para a vida. 

Confira:

Excelentíssimo Senhor Presidente, querido amigo, prezados colegas:

Por doze anos e pouco mais de três meses ocupei o cargo de ministro deste Supremo Tribunal Federal, tendo sido presidente nos últimos dois anos. Foram tempos de imensa dedicação à causa da Justiça, da Constituição e da Democracia.

A vida me proporcionou a bênção de poder servir ao país, retribuindo o muito que recebi, sem ter qualquer interesse que não fosse fazer o que é certo, justo e legítimo para termos um país maior e melhor.

Ao longo desse período, enfrentei e superei, com discrição, dificuldades e perdas pessoais. Nada disso me afastou da missão que havia assumido perante o país e minha consciência de dar o melhor de mim na prestação da justiça.

Na presidência do Tribunal e do Conselho Nacional de Justiça, percorri o país, literalmente, do Oiapoque ao Chuí, em contato com os magistrados e os cidadãos, procurando aproximar o Judiciário do povo. Conversei com todos: indígenas e produtores rurais; patrões e empregados; situação e oposição. Não discriminei ninguém. Conheci mais profundamente o país, na sua pluralidade e diversidade, e vi aumentar o meu amor por essa terra e sua gente.

Sinto que agora é hora de seguir outros rumos. Nem sequer os tenho bem definidos. Mas não tenho qualquer apego ao poder e gostaria de viver um pouco da vida que me resta sem a exposição pública, as obrigações e as exigências do cargo. Com mais espiritualidade, literatura e poesia.

Como todos nós sabemos, os sacrifícios e os ônus da nossa função acabam se transferindo aos nossos familiares e às pessoas queridas, que sequer têm qualquer responsabilidade pela nossa atuação.

Gostaria de me despedir com uma breve reflexão sobre a vida, sobre o Brasil e sobre o Supremo Tribunal Federal.

Apesar da agressividade e da intolerância que ainda se vê aqui e acolá, reafirmo a minha fé nas pessoas, no bem, na boa-fé, na boa-vontade, no respeito ao próximo e na gentileza, sempre que possível. Fora desta bancada, continuarei a trabalhar por um tempo de paz e fraternidade.

Reitero: a integridade, a civilidade e a empatia vêm antes da ideologia e das escolhas políticas. O radicalismo é inimigo da verdade. A gente na vida deve ter cuidado para não se apaixonar pelas próprias razões.

Apesar das dificuldades que ainda não superamos, como a pobreza e a desigualdade, reafirmo a minha fé no Brasil, o país mais lindo do mundo, da Amazônia ao Pampa, do Cerrado à Mata Atlântica, das praias e montanhas às quedas d’água.

Parodiando Pablo Neruda, mil vezes tivera que nascer e eu queria nascer aqui. Mil vezes tivera que morrer e eu queria morrer aqui. Aqui vivem meus filhos amados e gente querida que a vida voltou a me trazer.

Todos nós julgamos causas difíceis, complexas, com interesses múltiplos. E cada um procura fazer o melhor. De minha parte, ao longo desses anos, diante das questões mais delicadas, eu as estudei, refleti e me convenci de qual era a coisa certa a fazer. E fiz.

Não carrego nenhum arrependimento nem nunca tive medo de nada. Não falo isso por pretensão ou arrogância, mas por minha crença mais profunda: a de que o Universo protege as pessoas que se movem por bons propósitos.

Reafirmo, por fim, minha crença na educação, inclusive e sobretudo na educação pública para quem precisa. Eu nasci em Vassouras, uma adorável cidade do interior, numa família simples e sem parentes importantes.

Estudei o primário e o ginásio em escolas públicas e me formei em Direito em uma maravilhosa universidade pública, que é a Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Devo quase tudo aos meus professores e à educação que recebi. E hoje sou convidado pelas principais universidades do mundo. Falo isso, também aqui, não por pretensão ou arrogância, mas por gratidão. O Brasil me deu tudo o que eu tenho, muito além do que sonhei quando tudo começou.

Ao longo dos anos, aprendi a conviver e a admirar os colegas com os quais compartilhei a aventura de fazer justiça nesse país formidável, mas complexo. Cada um, com sua individualidade e características pessoais, contribui para a defesa da Constituição, com o pluralismo próprio das sociedades abertas.

Ministro Gilmar Mendes, a vida nos afastou e nos aproximou. Fico feliz que tenha sido assim e sou grato por sua parceria valiosa ao longo da minha gestão e por sua defesa firme do Tribunal nos momentos difíceis.

Ministra Cármen Lúcia, sua integridade pessoal e compromissos com o Brasil irradiam uma luz que ilumina este Tribunal e inspira pessoas pelo país afora. Levo Vossa Excelência no coração para sempre.

Ministro Dias Toffoli, sua capacidade de gestão e sensibilidade fizeram enorme diferença para o Tribunal, em decisões como a ampliação do plenário virtual e o inquérito que permitiu desbaratar o extremismo antidemocrático no país.

Ministro Luiz Fux, somos amigos desde quando eu estava nos bancos escolares. Você foi o celebrante do meu casamento feliz e estar ao seu lado aqui no Tribunal todos esses anos foi motivo de alegria e orgulho para mim.

Ministro Alexandre de Moraes, eu e todos nós somos testemunhas da sua dedicação ao trabalho, ao país e à causa da proteção das instituições e somos solidários com os preços pessoais elevados que está tendo de pagar e que um dia a história haverá de reconhecer e reparar.

Ministro Kassio Nunes Marques, virá missão importante no seu caminho, que será a presidência do TSE. Desejo-lhe toda sorte. E continuaremos a compartilhar as aflições rubro-negras e o gosto pela arte e pela música brasileira.

Ministro André Mendonça, renovo aqui meu carinho e admiração por sua integridade, fidelidade aos próprios valores e a seriedade com que lida com os grandes problemas nacionais. Sinto alegria quando concordamos e respeito quando divergimos. A amizade não tem coloração política.

Ministro Cristiano Zanin, sua fidalguia, discrição e imensa competência desfizeram todos os prognósticos maliciosos e revelaram um juiz vocacionado, justo e brilhante. Sou muito feliz por havermos nos tornado amigos.

Ministro Flávio Dino, sua cultura, brilhantismo e senso de humor fazem a vida de todos nós mais leve e agradável. Tem sido um privilégio compartilhar da sua amizade ao longo de todas essas décadas. Vou continuar a ouvi-lo com interesse, ainda que lá de fora.

Ministro Edson Fachin, parto seguro de que o Tribunal está sendo conduzido pelo que há de melhor no país em termos de honestidade de propósitos, de idealismo e de competência.

Estendo meu carinho e estima ao Procurador-Geral Paulo Gonet Branco, aos meus assessores, na pessoa da Aline Osorio, e a todos os servidores da Casa, na pessoa da nossa Assessora de Plenário, Carmen Lilian Oliveira de Souza.

Registro, ainda, meu especial apreço pela imprensa, aqui representada por competentes setoristas. Nesses tempos de desinformação e de perda da importância da verdade, nunca precisamos tanto da imprensa profissional, que se move pela ética e pela técnica jornalística, que checa as notícias e distingue fato de opinião. Mentir precisa voltar a ser errado de novo.

Por fim, sou grato à presidente Dilma Rousseff, que me nomeou para o cargo da forma mais republicana possível, sem pedir, sem insinuar, sem cobrar. E ao presidente Lula, por sua firme defesa do Tribunal quando esteve sob ataque.

Com altivez, mas sem bravatas, cumprimos com honra nosso dever e nosso destino. A história nos dará o crédito devido e merecido.

Deixo o Tribunal com o coração apertado, mas com a consciência tranquila de quem cumpriu a missão de sua vida.

Não foram tempos banais, mas não carrego comigo nenhuma tristeza, nenhuma mágoa ou ressentimento. Começaria tudo outra vez, se preciso fosse.

Sigo achando que a afetividade é uma das energias mais poderosas do universo. Por isso, fico feliz por deixar aqui amigos queridos e boas lembranças, bem como renovo minha confiança de que o Supremo Tribunal Federal continuará a ser o guardião da Constituição e um dos protagonistas na preservação da estabilidade institucional do país e da democracia.

Esta é a última sessão plenária de que participo. Decisão longamente amadurecida, que nada tem a ver com qualquer fato da conjuntura atual.

Há cerca de dois anos, comuniquei ao Presidente da República essa possível intenção. Fico no Tribunal mais alguns dias da próxima semana para devolver dois ou três pedidos de vista e encerrar as pendências.

Ao apresentar meu pedido de aposentadoria, após mais de quarenta anos de serviço público, transmito a Vossa Excelência e a todos os colegas a expressão do meu afeto profundo e sincero, com os melhores votos de sucesso continuado e boas realizações.

Assim seja, amém.


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DIA DO NORDESTINO CELEBRA CULTURA E BIODIVERSIDADE DA CAATINGA

Nesta quarta-feira, 8 de outubro, é o Dia do Nordestino, criado por uma lei municipal, do estado de São Paulo. A data é uma homenagem ao poeta, compositor e cantor cearense Patativa do Assaré que morreu em 2002, aos 93 anos. Nascido Antônio Gonçalves da Silva, em 1909, foi mais tarde que o poeta adotou o nome Patativa, que compara a beleza de sua poesia ao canto da ave nordestina. 

No Dia do Nordestino, o Viva Maria saúda a Caatinga, que, assim como o Cerrado, é um dos biomas mais ameaçados pela devastação!

Márcia Vanuza da Silva, professora do Departamento de Bioquímica do Centro de Biociência da UFPE — a Universidade Federal de Pernambuco —, fala sobre a preservação, a diversidade cultural nordestina e também sobre as mulheres extrativistas do coco do licuri.

Dia 8 de outubro: dia dos donos das melhores gírias, do sotaque mais lindo e do povo mais alegre e arretado que existe. Oxente, minha gente! O Viva Maria é Nordeste, e esta data marca o Dia do Povo Nordestino!

Mas, acima de tudo, hoje também é dia de “recaatingar”. E, para traduzir o que significa esse termo nordestino, nesta edição vamos ouvir Márcia Vanuza da Silva, professora do Departamento de Bioquímica do Centro de Biociência da UFPE — a Universidade Federal de Pernambuco —, que fala sobre a preservação da Caatinga, da diversidade cultural nordestina e das mulheres extrativistas do coco do licuri, ou ouricuri, considerado o ouro da Caatinga!


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PALAVRA EM CANTORIA ABRE FESTIVAL JUÁ LITERÁRIA COM XANGAI, MACIEL MELO E JESSIER QUIRINO

O Festival Juá Literária 2025 começa em grande estilo no dia 22 de outubro, com o projeto Palavra em Cantoria, um encontro entre três mestres da cultura nordestina: Xangai, Maciel Melo e Jessier Quirino.

No palco, poesia, música e memória se entrelaçam em um espetáculo que celebra a identidade e a força da tradição nordestina. A voz marcante de Xangai, a viola poética de Maciel Melo e a verve bem-humorada e sensível de Jessier Quirino se unem para emocionar e transportar o público às raízes sertanejas. Mais do que um show, "Palavra em Cantoria" é uma celebração da palavra falada e cantada, um tributo ao povo e à cultura que moldam o Nordeste.

A Juá Literária chega como culminância do programa municipal que integra educação, cultura e arte, celebrando a leitura e os diversos modos de narrar o mundo. Durante quatro dias, de 22 a 25 de outubro, o festival vai reunir cerca de 80 atrações em shows, mesas literárias, lançamentos de livros, oficinas, apresentações teatrais e outras atividades espalhadas pela Orla II, distritos, Praça do Poeta, Centro de Cultura João Gilberto e até o Rio São Francisco.

O Festival Juá Literária é uma realização da Prefeitura Municipal de Juazeiro, através da Secretaria de Educação, dentro do Programa Juá Literária, com apoio da Editora IMEPH, Ande Livros, Governo do Estado da Bahia, Fundação Pedro Calmon e curadoria do poeta e cantador Maviael Melo, com produção da Carranca Produções e Entre Versos e Canções Produções Artísticas. Dentro da programação, um dos espaços de destaque será a FLIJUÁ – Feira de Literatura de Juazeiro, realizada na Tenda das Palavras, em conformidade com a Lei Municipal nº 3.238/2024.  (Ascom/PMJ)

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ORAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO EM TEMPOS DE POUCOS RIOS

O Rio São Francisco não nasce na Serra da Canastra. Digo isso porque a correria estressante das ruas do Rio de Janeiro me oprime. Os olhos dessas crianças nuas me espetam e essa população de rua dormindo pelas calçadas me joga contra o muro. 

Só uma coisa me alenta hoje: a saudade do meu santo rio. O Rio São Francisco, o Velho Chico, Chiquinho. Escuto o murmurar de suas verdes águas: — Deixai vir a mim as criaturas... E assim foi feito. Falar de desrespeito e depredação tornou-se obsoleto. Denunciar matanças e desmatamentos resultou nulo. Orar e orar. Pedir ao santo do seu nome a sua oração.

Lá do Cristo Redentor da cidade de Pão de Açúcar, nas Alagoas, um moleque triste escutou a confissão das águas. Segundo ele, o Velho Chico dizia:

“Ó, Senhor, criador das águas, benfeitor dos peixes, escultor de barrancas e protetor de homens fazei de mim bem mais que um instrumento de tua paz. Se paz não mais tenho faz-me levar um pouquinho aos que em mim confiam. Paz para as lavadeiras que, em Própria, choram a sua fome de pão. Que, em Brejo Grande, soltam lágrimas pelos filhos mortos no sul do país. Que, em Penedo, já perderam a fé de serem tratadas como gente sã.

Onde houver o ódio dos poderosos que eu leve o amor dos pequeninos. O amor dos que cavam a terra a plantam o aipim. Dos que cavam a terra e usam-na como cama e lençol para sempre. Dos que querem terra para suas mãos, para os seus grãos, para a sua sede. O amor que não é submisso, mas escravizado. O amor que tem coragem de um dia dizer não. Coragem diante das balas e das emboscadas, das más companhias e da solidão.

Onde houver a ofensa dos governos que eu leve o perdão dos aposentados e servidores públicos. O perdão, nunca a omissão. A luta, porque perdoar não requer calar. Perdoar não quer dizer parar. Como minhas águas, tantas e tantas vezes represadas, mas nunca paradas e que, quando em minha fúria, carregam muralhas, absorvem barreiras e escandalizam Três Marias, Xingó e Paulo Afonso.

Onde houver a discórdia dos que mandam que eu leve a união dos comandados. A suprema união dos que sonham com as mudanças, dos que querem quebrar hegemonias e oligarquias. A discórdia dos reis contra a união dos plebeus. Um povo unido é força de Deus, dizia o velho bendito e sejais bendito, Senhor. A união das águas, a união das lágrimas, a união do sangue e a união dos mesmos ideais.

Onde houver a dúvida dos que fraquejam, que eu leve a fé dos que constroem seu tempo. Na adversidade, meio ao deserto e ao clima árido, a fé dos que colhem uvas e mangas em minhas margens. Dos que colhem arroz em minhas várzeas, dos que criam peixes com minhas águas em açudes feitos. A fé dos xocós lá em Poço Redondo. A fé que cria cabras nos Escuriais. Dos que colhem cajus e criam gado em Barreiras e outros cafundós.

Onde houver o erro dos governantes que eu leve a verdade de Canudos. O bom senso dos conselheiros de encontro à insanidade dos totalitários. Os canhões abrindo fendas na cidade sitiada e a verdade expondo cada vez mais a ferida da loucura na caricatura da História. O confisco da poupança e o rombo na previdência. O fim da inflação e o pão escasso, o emprego rarefeito, a dignidade estuprada em cada lar de nordestinos.

Onde houver o desespero das crianças da Candelária que eu leve a esperança das mães de Acari. E aqui, Senhor, te peço com mais fé. A dor dos deserdados, dos que perderam seus pais, filhos ou irmãos, seja de fome, doença ou assassínio, inundai-os com as águas esmeraldas da justiça. A justiça da terra e dos céus. Pintai de verde o horizonte das famílias daqueles que foram jogados mortos em minhas águas. Eles não foram poucos.

Onde houver a tristeza dos solitários que eu leve a alegria das festas de São João. Solitário eu banho muitas terras e em todas, das Gerais, do Pernambuco, das Alagoas e do Sergipe, não há tristeza ao pé da fogueira, nas núpcias entre a concertina e o repente, entre a catira e o baião.. Das festas do Divino ao Maior São João do Mundo, deixai-me levar, Senhor, o sabor de minhas águas juninas e seus fogos de artifícios.

Onde houver as trevas da ignorância que eu leve a luz do conhecimento e da sabedoria. A escuridão dos homens dementes que teimam em querer ferir-me de morte seja massacrada pela luz de um futuro negro, sem água potável, sem terra e sem ar.. Dai-me esse poder, de entrar nas mentes e nos corações, de espraiar-me pelos mil recantos dos que querem mal à nossa casinha, nossa pequena Terra. O homem sábio seja sempre sábio e contamine os povos com ensinamentos de preservação.

Ó, Senhor, dai-me vocação para consolar os que se lamentam de má sorte. Fazei-me compreender porque tanto mal há nos corações. Sobretudo, Senhor, não autorizeis que eu deixe de ser o Rio São Francisco, que há tantos anos não foge do seu leito, espalha e espelha vida em abundância. Que, embora tenha dado, quase nada recebo, que perdoando sempre, continuo sendo morto enquanto todos pensam que serei eterno.”

Foi assim que escutei e assim reproduzo.

ADERALDO LUCIANO é paraibano, nascido em Areia, poeta, professor de Teoria da Literatura e cozinheiro amador.

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PROJETO CELEBRA DIA DO RIO SÃO FRANCISCO COM COLETA E ANÁLISE DA ÁGUA

Para celebrar os 524 anos de descobrimento do Rio São Francisco, comemorados neste sábado (4), o “Projeto Observando os Rios” promove mais uma atividade de monitoramento da qualidade da água do Velho Chico. A ação acontece no Porto da Balsa, em Penedo, Alagoas.

O Observando os Rios é um projeto de extensão da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), patrocinado pela Fundação S.O.S. Mata Atlântica e executada pelos Laboratórios de Ictiologia e Conservação (LIC) e de Ecologia Bentônica (LEB), ambos da Unidade Penedo, juntamente com o Projeto Meros do Brasil – Alagoas.

A ação deste sábado integra o evento promovido pelo “Movimento Ecológico Filhos do Velho Chico”, que tem como símbolo o Pirá, peixe exclusivo do Rio São Francisco.

“O evento é muito mais que uma simples comemoração pelo Dia do São Francisco, pois busca chamar atenção da sociedade para o Velho Chico, como é carinhosamente chamado. O Projeto Observando os Rios monitoria mensalmente a qualidade da água há quase uma década, sempre envolvendo alunos não apenas de Alagoas, mas também de Sergipe e até mesmo de outros estados”, conta o professor de Engenharia de Pesca da Ufal / Penedo, Cláudio Sampaio.

“Os participantes são geralmente da rede pública, incluindo UFAL, IFAL, além de populares, envolvidos na análise da qualidade da água, discutindo os resultados observados. O local escolhido será o Porto da Balsa, no Centro Histórico de Penedo, onde realizamos a coleta e análise”, acrescentou.

VELHO CHICO-O Dia do Rio São Francisco é comemorado em 4 de outubro, quando foi descoberto pelo navegador e explorador Américo Vespúcio, em 1501, que o batizou em homenagem a São Francisco de Assis, celebrado no mesmo dia.

O Rio, carinhosamente chamado de “Velho Chico”, é um patrimônio nacional, vital para a integração nacional, a segurança hídrica e a economia do semiárido.

Já antes da descoberta por Américo Vespúcio, o Rio era chamado de “Opará” (rio-mar) pelos indígenas que habitavam suas margens.

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SERTÃO DA FÉ NAS CANÇÕES DE LUIZ GONZAGA REÚNE GRAVURAS DO ARTISTA BI MORAIS

No dia 08 de outubro (quarta-feira) é celebrado nacionalmente o Dia do Nordestino e, em Salvador, uma exposição vai homenagear alguns elementos culturais que fazem parte da cultura sertaneja. "Sertão de Fé — a Fé Sertaneja nas Canções de Luiz Gonzaga" reúne gravuras produzidas pelo artista plástico Bi Morais, unindo ilustrações acompanhadas por textos em cordel, em cartaz entre 04 de outubro e 04 de novembro, no Espaço Uno (Rua da Ordem Terceira, 1, Pelourinho). 

Nela, o artista baiano convida o público a olhar para as gravuras que são ilustradas poeticamente pelos cordéis, retratando de forma visual e literária o diálogo entre fé e cultura nordestina sertaneja, notadamente existente nas canções de Luiz Gonzaga. As gravuras foram inspiradas no traço das xilogravuras e nas letras de canções de Gonzagão, onde a religiosidade do catolicismo popular é um tema comum. O cordelista e músico Rodrigo Chianca foi convidado para compor esse projeto, que parte de uma pesquisa de Bi Morais, que é também músico forrozeiro, sobre a cultura sertaneja, as canções do Rei do Baião e a religiosidade popular. 

A abertura oficial acontece em uma vernissage gratuita neste sábado (04), às 19h00, dia de São Francisco de Assis, santo que dá nome ao rio mais famoso da região. Este projeto foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar no 195, de 8 de julho de 2022.

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A HISTÓRIA DA CASA DE DOCE JOÃO MARTINS

 Texto por Victória Ellen-No Cariri Tem

Na Rua Santa Luzia, nº 545, no centro de Juazeiro do Norte, o aroma de açúcar no fogo continua atraindo consumidores e turistas para a região do Cariri Ceareanse. Inaugurada em 1965, a Casa do Doce João Martins celebrou seis décadas em junho deste ano. O local, além de preservar a tradição da confeitaria artesanal, também é reconhecido como Museu Orgânico, fazendo parte da rota cultural do município. É o primeiro espaço desse tipo em Juazeiro do Norte voltado à gastronomia regional, onde as receitas se firmam como manifestação cultural.
Sebastião Manoel, 61, genro do fundador e atual responsável pela produção, lembra dos primeiros passos da história. “A Casa do Doce começou em 1965. No início, o mestre João não tinha experiência, perdia muito doce. Mas foi na persistência que surgiu o primeiro doce de batata, que deu certo. Depois veio o de banana, o de gergelim e, mais tarde, o nosso carro-chefe, o doce de leite, que combina com todos os outros onze que produzimos aqui.”

Figura importante nessa trajetória foi Madeilton, que chegou à família ao casar-se com a irmã de João Martins. Ele passou a ajudar na produção dos doces e também ganhou notoriedade na cidade por sua atuação no rádio e no futebol como cronista esportivo. Essa popularidade fez com que muitos começassem a associar os produtos da casa ao seu nome, dando origem à marca Doce do Madeilton, como ficou conhecida por décadas. Antes disso, o local chegou a se chamar Cantinho Esportista, reforçando a ligação da doceria com a paixão esportiva e a vida cultural da cidade, onde comer um doce era também compartilhar resenhas sobre futebol.
Ao longo das décadas, o espaço cresceu e se tornou ponto de encontro para moradores e romeiros. “Hoje, nós temos uma casa que sustenta 12 famílias trabalhando de segunda a sábado. Passamos de um comércio pequeno para uma empresa que virou até museu”, afirma Sebastião.

Ele também recorda a transformação após o reconhecimento oficial: “Em 2023, ele se tornou o Museu Orgânico. A partir daí, o desenvolvimento só aumentou. Antes, poucas pessoas, até mesmo da cidade, conheciam a nossa Casa do Doce. Depois do título, passamos a ser reconhecidos internacionalmente. Recebi até uma televisão da Inglaterra para fazer matéria aqui. Hoje, fazemos parte da rota turística de Juazeiro. O Museu Casa do Doce João Martins é um ponto de referência e orgulho para todos nós”.

Entre os funcionários, a rotina é marcada pelo aprendizado. Fernando Campos do Nascimento, 24, que atua nos serviços gerais, destaca que “o trabalho que mais gosto de fazer é o doce de gergelim, preparado no pilão, tarefa que parece até um exercício físico. Para mim, é uma honra trabalhar em uma doceria tão famosa, onde tudo é feito com carinho para agradar aos clientes”.

A cozinheira Ana Paula Rodrigues, 32, recém-chegada à equipe, conta que “no início foi difícil me adaptar porque nunca havia trabalhado no ramo, mas aprendi com a Maria, que já tem mais de 11 anos de experiência. Hoje, meu doce preferido é o de leite, o carro-chefe, mas também gosto das receitas de mamão, caju e abacaxi. O mais gratificante é receber o carinho dos clientes que dizem se sentir em casa aqui”.

A memória preservada pelos clientes-São justamente os clientes que mantêm viva a tradição. João Vieira, 33, frequenta a loja desde criança e relembra: “Sempre gostei do leite cortado e do gergelim. Lembro de vir aqui com meu pai e até hoje, quando tenho um tempo, passo para comprar. Já indiquei para colegas de trabalho, e eles também acabam viciando”.

Para muitos, os doces são sinônimo de memória afetiva. As irmãs Helena Gonçalves, 69, e Betiza Maria do Nascimento, 68, acompanham a trajetória da casa há décadas e garantem que “os produtos continuam os mesmos de quando Madeilton estava à frente da produção. O atendimento é maravilhoso e, mesmo morando fora de Juazeiro por anos, sempre voltamos ao local”. Helena ainda completa: “Meu filho mora em São Paulo e só gosta do doce de leite da Casa João Martins. Sempre levo um potinho para ele quando viajo e indico para todos que vierem a Juazeiro”.



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