UNIVASF LANÇA CAMPANHA CONTRA ASSÉDIO MORAL E SEXUAL, DISCRIMINAÇÃO

A Comissão de Combate ao Assédio e à Discriminação (CCAD) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) lança nesta segunda-feira (11) uma campanha de sensibilização contra o assédio moral e sexual e a discriminação. A campanha tem como ideia central “Assédio e Discriminação: problema de todos, responsabilidade coletiva” e visa sensibilizar a comunidade acadêmica para a compreensão de que este é um problema que diz respeito a todos e suas consequências devem ser assumidas de forma coletiva, despertando o compromisso para a mudança.

A ação será realizada via redes sociais oficiais e com a fixação de cartazes em locais estratégicos em todos os campi da Univasf. O primeiro cartaz tem como mensagem “Não é brincadeira, se ofende!” e reafirma que ofensa disfarçada de brincadeira afeta o bem-estar do indivíduo e exige o cuidado de todos.

A campanha de sensibilização é parte das ações da Comissão de Combate ao Assédio e à Discriminação (CCAD) e integra o Plano Setorial de Prevenção e Enfrentamento do Assédio e da Discriminação (PSPEAD) da Univasf, que estabelece as diretrizes para a prevenção e o combate ao assédio moral e sexual e a discriminação no âmbito da Instituição. O Plano completo, elaborado pela CCAD, está disponível para acesso no site da comissão.

Para falar com a Comissão de Combate ao Assédio e à Discriminação (CCAD) da Univasf basta enviar mensagem para o e-mail: ccad@univasf.edu.br.

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EVASÃO ESCOLAR É QUESTÃO DE ESTADO, DIZ LULA

 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou nesta segunda-feira (11) o Prêmio MEC da Educação Brasileira a estudantes, municípios e escolas da rede pública do país. A cerimônia foi realizada no Palácio do Planalto.

A premiação foi entregue a 116 projetos, escolhidos por apresentarem melhores práticas de inclusão e diversidade, qualidade da educação pública, desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), acesso e permanência, avanço na alfabetização e educação em tempo integral e desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a partir da análise de dados da educação básica e outros indicadores, segundo informou o Ministério da Educação.

Em discurso, Lula destacou que uma das prioridades do governo é o investimento em educação, citando a criação do programa Pé-de-Meia, voltado a estudantes de baixa renda do ensino médio da rede pública inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal (CadÚnico).

A iniciativa funciona como uma poupança com o objetivo de promover a permanência na escola e a conclusão desta etapa de ensino.

“[Evasão escolar] é um problema do governo, do Estado. O Estado não pode transferir a sua responsabilidade para a família ou para Deus. É preciso que a gente assuma a responsabilidade e, por isso, criamos o Pé-de-Meia”, afirmou Lula, ao criticar falta de investimentos de governos passados no setor.

“Não é possível fazer [educação] de graça. Ela custa”, destacou o presidente, que também citou a necessidade de infraestrutura escolar, laboratório e contratação e pagamento de professores.

O presidente disse ainda que o governo federal tem articulado com estados e municípios o cumprimento da meta de alfabetizar 80% das crianças até o 2° ano do ensino fundamental até 2030.

Prêmio MEC da Educação Brasileira

Dos premiados, 54 foram alunos que obtiveram maiores notas na redação do Enem, além de quatro estados, 35 municípios e 20 escolas pelos altos desempenhos em oito categorias: educação infantil, alfabetização, anos iniciais do ensino fundamental, anos finais do ensino fundamental, ensino médio, Enem, educação em tempo integral e educação profissional e tecnológica. Também foram homenageados 49 professores. 

Os vencedores receberam troféus, medalhas, certificados e prêmios entre R$ 100 mil e R$ 500 mil. Os valores deverão ser usados para melhoria da infraestrutura escolar e reconhecimento dos profissionais de educação.

“A sensação que eu tive aqui ao entregar esse prêmio para vocês é como se eu estivesse entregando o Oscar da resiliência, da teimosia para pessoas que acreditam que não há nada impossível neste planeta quando a gente tem vontade. Não existe espaço para desanimar”, afirmou Lula ao se referir ao Prêmio MEC.

A entrega da premiação teve a presença do ministro da Educação, Camilo Santana, de secretários de educação, estudantes, professores, parlamentares e ministros de outras pastas.

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TRANSIÇÃO ECOLÓGICA: CÁRITAS PROPÕE PROTAGONISMO DE POVOS TRADICIONAIS

A menos de três meses da realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA), a Cáritas Brasileira divulgou nesta segunda-feira (11) um documento que reúne propostas para uma transição ecológica pautada por justiça climática e protagonismo das comunidades tradicionais.

Com o título Documento de Posições da Cáritas Brasileira para a COP30: Por uma transição justa, inclusiva, popular e democrática, o texto sistematiza iniciativas de enfrentamento aos principais desafios relacionados à crise climática, em defesa da vida e da construção de alternativas sustentáveis.

De acordo com a diretora-executiva da Cáritas Brasileira, o documento é reflexo de um trabalho de fortalecimento e promoção de iniciativas pela transição ecológica justa no Brasil, que já é desenvolvido pelo organismo humanitário.

“A Cáritas Brasileira acredita que, para construir uma sociedade do bem viver, nós precisamos ter uma forte relação de sustentabilidade com o meio ambiente e todos os seres vivos”, reforça.O documento reúne propostas em sete eixos temáticos:

financiamento;

perdas e danos;

refúgio climático para atingidos pela crise;

iniciativas de tecnologias sociais;

agroecologia e segurança alimentar;

mitigação e direitos humanos e ambientais;

e transição energética.

Estão incluídas soluções internacionais, como o reconhecimento da dívida ecológica histórica dos países do Norte Global e mais desenvolvidos para com o Sul Global, e nacionais, como mais atuação do governo brasileiro para garantir estratégias de financiamento climático viáveis e com acesso direto aos recursos por parte de comunidades e organizações locais.

Também é proposta a integração das ações de mitigação das emissões, apresentada na forma de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC na sigla em inglês) às agendas de direitos humanos e ambiental.

Outra sugestão é o reconhecimento da agroecologia como estratégia de garantir sustentabilidade alimentar e a instituição de consulta às comunidades tradicionais sobre iniciativas que afetam seus territórios.

De acordo com a Caritas Brasileira, que tem origem na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e reúne 198 entidades em todo o país, a proposta será levada aos diversos ambientes de negociação da COP30. O objetivo é garantir que as demandas resultantes da escuta e das experiências da rede em todo o país cheguem aos tomadores de decisões.

“Essas demandas são urgentes, porque dizem respeito a demandas reais de povos originários, comunidades tradicionais, comunidades rurais, urbanas e periféricas, que no final são os mais atingidos pela emergência climática e são os que menos contribuem para ela”, destaca Lucas D’Avila, assessor nacional da Cáritas Brasileira. (Agencia Brasil)

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GOVERNO LANÇA CONSULTA PÚBLICA SOBRE SUSTENTABILIDADE DO JORNALISMO AMBIENTAL

A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom/PR), por meio da Secretaria de Políticas Digitais (SPDIGI), lança nesta segunda-feira, 11 de agosto, a Consulta Pública de Tomada de Subsídios sobre Sustentabilidade do Jornalismo Ambiental e sobre a Amazônia. A iniciativa tem como objetivo reunir contribuições para fortalecer o jornalismo voltado à cobertura ambiental e à região amazônica, especialmente em um contexto de recentes ameaças à liberdade de imprensa, à segurança de comunicadores e à integridade da informação.

Apesar de o Brasil ter avançado 47 posições no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa da Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a segurança de jornalistas e comunicadores, especialmente os que atuam na cobertura socioambiental, continua sendo um desafio.

A consulta pública ficará aberta até 7 de setembro de 2025, na Plataforma Participa + Brasil. Ela é direcionada a jornalistas, comunicadores(as), veículos de mídia, especialistas, representantes de instituições públicas e da sociedade civil. O objetivo é diagnosticar os desafios enfrentados por quem atua na cobertura ambiental e da Amazônia, identificar formas de apoio à sustentabilidade do setor e receber sugestões para políticas públicas que garantam condições seguras, plurais e democráticas para o exercício da comunicação. A Consulta Pública tem como objetivo o desenvolvimento de diagnóstico sobre a temática. Denúncias que precisam de ações do Estado devem ser enviadas ao Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

A consulta está dividida em quatro eixos principais:

Violências contra comunicadores ambientais e da Amazônia

Proteção e segurança no exercício do jornalismo

Promoção e acesso à informação sobre meio ambiente e Amazônia

Desafios e especificidades da cobertura na região amazônica

MESA DE TRABALHO CONJUNTAS - O questionário da consulta foi elaborado pela Mesa de Trabalho Conjunta sobre a implementação das medidas cautelares MC-449/22, concedidas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em favor de Bruno Pereira, Dom Phillips e de membros da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). A mesa é resultado de um acordo entre o Estado brasileiro, beneficiários e representantes das vítimas, com o objetivo de fortalecer a proteção de comunicadores, defensores ambientais e lideranças indígenas na região.

Antes do lançamento oficial da consulta, representantes da Secom/PR integraram missão interinstitucional ao Vale do Javari (AM), coordenada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), que reuniu diversos órgãos federais, familiares das vítimas e organizações da sociedade civil. Durante a missão, foi realizada uma reunião da Mesa de Trabalho Conjunta na sede da Univaja, com escuta ativa de comunicadores locais e articulação de ações imediatas de proteção coletiva.

Como parte da missão, foi promovido o primeiro momento de escuta pública, por meio do debate “Jornalismo, comunicação e desinformação na Amazônia”, com comunicadores locais. A atividade teve como foco a identificação de demandas regionais específicas e marca o início do processo participativo de construção de políticas públicas voltadas à sustentabilidade do jornalismo ambiental.

A escuta realizada por meio da Tomada de Subsídios articula-se também com os compromissos da Iniciativa Global para a Integridade da Informação sobre a Mudança do Clima, lançada pelo Brasil, Nações Unidas e Unesco em 2024. A iniciativa propõe uma abordagem ampla para garantir a integridade das informações relacionadas à crise climática e ao meio ambiente — pilar essencial para o fortalecimento do jornalismo socioambiental.

SUSTENTABILIDADE - Para a SPDIGI, garantir a sustentabilidade do jornalismo significa ir além da viabilidade econômica: trata-se de promover um ecossistema informativo livre, seguro, diverso e acessível. Isso envolve:

Condições dignas para o exercício da atividade jornalística;

Garantias legais e institucionais à liberdade de imprensa;

Ambientes digitais mais transparentes;

Proteção à integridade física e mental de comunicadores;

Políticas públicas que fomentem inovação, pluralismo e diversidade.

A consulta pública é uma ferramenta de escuta ativa da sociedade e parte fundamental do processo de formulação de políticas públicas orientadas pelos direitos humanos, pela justiça climática e pela democratização da comunicação.

Como participar: Acesse a consulta pública pela plataforma Participa + BrasiI.

Para envio de estudos e materiais complementares (até 20MB), utilize o e-mail dlib@presidencia.gov.br. Assunto: “Tomada de Subsídios – Jornalismo Ambiental”).

As contribuições recebidas serão consolidadas em relatório público e subsidiarão ações, programas e marcos normativos em elaboração pela Secom/PR.


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PESQUISADORES PROPÕEM ESTRATÉGICAS DE COMBATE AO MICROPLÁSTICO

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) lança nesta quinta-feira (7) o relatório Microplásticos: um problema complexo e urgente. O documento analisa os efeitos do descarte inadequado do material e propõe estratégias de combate aos minúsculos fragmentos que contaminam o meio ambiente, especialmente rios e oceanos.

Segundo levantamento bibliográfico dos pesquisadores, o Brasil contribui anualmente com até 190 mil toneladas do volume total de lixo no ambiente marinho. A estimativa de produção de plástico no mundo é de 400 milhões de toneladas ao ano, sendo menos de 10% reciclado.

Cerca de 80% dos resíduos plásticos que chegam ao mar vêm de atividades realizadas em terra, como turismo, indústria, ocupação urbana desordenada e má gestão de resíduos sólidos. Os outros 20% vêm de atividades realizadas no próprio mar, como transporte marítimo e pesca.

“Enfrentar a poluição por microplásticos exige uma ação coordenada entre governo, setor produtivo, comunidade científica e sociedade. Precisamos rever estratégias nacionais e investir em educação, inovação e regulação para proteger a saúde humana e os ecossistemas”, defende a presidente da ABC, Helena Nader.

Quando chegam ao oceano, os resíduos sofrem dispersão por meio de marés, correntes e ventos. E aí, vêm diferentes impactos ambientais, sociais e econômicos. Eles podem ser ingeridos por animais marinhos e outros seres vivos da cadeia alimentar marítima.

Microplásticos também são encontrados em órgãos do corpo humano, o que representa riscos à saúde. Estudos encontraram microplásticos em placentas e cordões umbilicais de gestantes. 

“O relatório propõe um conjunto robusto de ações concretas, que exigem a atuação coordenada entre governo, setor produtivo e sociedade. Não podemos mais tratar os plásticos como descartáveis. É hora de assumir a responsabilidade pelo ciclo completo desses materiais, desde a produção até o descarte e a reciclagem”, avalia Adalberto Luis Val, vice-presidente da ABC para a Região Norte e coordenador do grupo de trabalho sobre microplásticos.

Estratégias de combate-Para reduzir o impacto desse tipo de poluição, os pesquisadores propõem seis caminhos:

Governança: revisar o Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar de 2019, com reforço no combate aos microplásticos; fortalecer a discussão e implementação do Tratado sobre a Poluição Ambiental por Plásticos;

Ciência, tecnologia e inovação: aumentar investimentos em reciclagem no país; reutilizar os produtos plásticos; substituir polímeros sintéticos por polímeros biodegradáveis em produtos descartáveis;

Fomento e financiamento: criar mecanismos de avaliação de riscos de saúde e demais ações para mitigar os efeitos da poluição plástica, como usar nanotecnologia para impulsionar o reaproveitamento do material;

Capacitação: qualificar catadores, ajudando na formalização do trabalho, e capacitar professores em escolas de nível fundamental e médio;

Circularidade dos plásticos: buscar mudanças na legislação para tratar do descarte apropriado e recolhimento de materiais plásticos separadamente;

Educação ambiental e comunicação: criar política governamental para estimular a educação ambiental, especialmente para trabalhadores das fábricas, empresários e agronegócio; criar campanha sobre descarte e reciclagem de plásticos.

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LUIZ GONZAGA E A MAÇONARIA

 

Exu, Pernambuco, respira Luiz Gonzaga, criador dos ritmos ao som da sanfona, triangulo e zabumba. Na cidade onde nasceu o Rei do Baião, a chamada Cultura Gonzagueana está por todas as partes. São bustos, estátuas e no museu que leva seu nome. 

 A Maçonaria é um exemplo da presença vivo da valorização da vida e obra do Rei do Baião. 

 

Luiz Gonzaga, o mestre da sanfona, Rei do Baião foi Maçom. A resposta é sim. Luiz Gonzaga também exerceu papel fundamental para o desbravamento da maçonaria no Brasil e especial no Sertão Nordestino. O Rei do Baião iniciou na Maçonaria em abril de 1971, na loja Paranapuan, no Rio de Janeiro. Utilizou a influência que tinha para liderar o grupo que fundaria a Loja Maçônica Força da Verdade, em 1988, a primeira do Exu, Pernambuco, sua terra natal. 

Iniciado na Maçonaria, quando ainda morava na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro, Luiz Gonzaga começou a participar dos encontros ali mesmo, na loja Paranapuã, localizada próximo a sua residência. Trabalhou para conseguir telefone, escola, luz e estrada de asfalto para Miguel Pereira, onde possuía propriedade. 

Nos estudos maçom, chegou ao terceiro grau, dos 33 níveis. Ajudou muitos os mais necessitados, principalmente nas secas dos anos 80. 


A foto é de uma reunião realizada no município de Souza, Paraíba. “Todo canto que chegava e tivesse uma loja maçônica, ele fazia questão de se apresentar, visitar e ajudar. Nós visitamos diversas Lojas, em Fortaleza, Recife e João Pessoa, e todas foram testemunhas da presença de Luiz Gonzaga”, conta o maçom Almir Oliveira de Amorim, ex-funcionário do Banco do Estado de Pernambuco (Bandepe) no Exu.

A generosidade que marcou o artista também pode ser vista nas reuniões maçônicas. Amigo íntimo, Almir conheceu bem a personalidade do sanfoneiro. “Gonzaga era uma pessoa uniforme, uma sumidade em pessoa. Era equilibrado, otimista, incentivava os Maçons para trabalhar pela sociedade, pelo povo, pelos mais pobres, pelos idosos. Ele tinha essa visão social”, recorda o amigo de Luiz Gonzaga.

Após o falecimento de Luiz Gonzaga, 02 de agosto de 1989, a Loja Maçonica Força da Verdade passou a se chamar Loja Maçônica Luiz Gonzaga. Mais uma homenagem em Exu, Pernambuco, terra onde nasceu. 

Em vida, o sanfoneiro compôs a música Acácia Amarela, na parceria com Orlando de Silveira, também Maçom. A canção, segundo os maçons entrevistados, é toda escrita em códigos, só possível de ser decifrada por quem é maçônico.

Letra música Acácia Amarela:

Ela é tão linda é tão bela

Aquela acácia amarela

Que a minha casa tem

Aquela casa direita

Que é tão justa e perfeita

Onde eu me sinto tão bem

Sou um feliz operário

Onde aumento de salário

Não tem luta nem discórdia

Ali o mal é submerso

E o Grande Arquiteto do Universo

É harmonia, é concórdia

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GIBERTO GIL E A SONORIDADE DAS BANDAS DE PIFE

“No apertar da hora/Periferia de Caruaru/Onde moravam os Beatles/Os Beatles de Caruaru/Sebastião Biano/Banda de Pífano agreste azul”. Nas primeiras estrofes da música Forrozear, composta por Carlos Fernando e Geraldo Azevedo, os autores comparam a banda de pífanos Zabumba Caruaru, ou somente a “banda dos Bianos”, com o quarteto de Liverpool. Se os Beatles deixaram um legado inestimável para a música mundial, influenciando sonoridades e técnicas de produção, o conjunto liderado por Sebastião Biano foi o responsável por ajudar a transformar a música brasileira do século XX e, por consequência, a nossa identidade nacional.

Sebastião Biano foi responsável por tocar pífano no conjunto do seu pai, Manuel Clarindo, com apenas 5 anos, em 1924. Desde esse momento, os Bianos inovaram para os padrões da época, pois mesmo não sendo o primeiro conjunto do estilo, foram os primeiros a montar apresentações com repertório montado, deixando um pouco de lado a improvisação e liberdade típicas das bandas “esquenta-mulher” daquela época.

Mas o encontro que mudou a face da música brasileira ocorreu em 1967, quando o músico Gilberto Gil visitou Caruaru e conheceu a banda de pífanos dos Bianos. Cinco anos depois, “Pipoca Moderna”, música mais conhecida do conjunto, abriria o disco Expresso 2222 do artista baiano, além de ter sido lançando pela CBS o primeiro disco do conjunto mais famoso da Capital do Agreste. Porém, a verdadeira revolução influenciada por Sebastião Biano, ocorreu ainda nos anos 1960: como afirmou Caetano Veloso no livro Verdade Tropical, Gil ficou fascinado pela gravação de “Strawberry Fields Forever” do Beatles e que “a seu ver, sugeria o que devíamos estar fazendo e parecia-se com a ‘Pipoca moderna’ da Banda de Pífanos”.

De fato, em 1968 Gil e a geração que fundou a Tropicália misturou a sonoridade da Banda de Pífanos, que representava o Brasil profundo, tradicional, percussivo e folclórico, com os ritmos contemporâneos liderados pelos Beatles e recepcionados pela Jovem Guarda. Foi o encontro entre instrumentos de pau, couro e bambu com a guitarra elétrica e a métrica produtiva dos estúdios.

A partir daí a música do Brasil nunca mais foi a mesma, e a sonoridade brasileira se orgulhava de ter a mistura de ritmos como a sua característica principal, ganhando novos contornos nas gerações seguintes como a do Udi Grudi nordestino que pariu artistas como Alceu Valença, Zé Ramalho, Marconi Notaro, Lula Cortes entre outros, até o movimento Mangue Beat dos anos 1990 com Mundo Livre S/A, Chico Science & Nação Zumbi e Mestre Ambrósio (que fez uma nova leitura de “Pipoca Moderna”).

Sebastião Biano teve uma vida longa, proporcional ao seu legado. Morreu no dia (27/08/2022) aos 103 anos de idade deixando uma herança inestimável, não só para a música brasileira do século XX, mas para a cultura e identidade nacional, estando no mesmo rol de Brasileiros como Oscar Niemeyer, João Gilberto, Glauber Rocha, Carmem Miranda, Luiz Gonzaga e tantos outros gênios. Se Sebastião não tivesse existido, a Música Popular Brasileira seria outra coisa, algo nada parecido com o que se produziu durante quase 50 anos no país.

A lição que o músico nos deixa é que simplicidade e sofisticação não são antagônicas: ele já tinha ajudado a transformar o uso do pífano antes mesmo do encontro com Gilberto Gil. O crítico e produtor musical Marcus Vinícius (que trabalhou no quarto disco da banda) escreveu em 1979 que “o que diferenciava a Banda de Pífanos de Caruaru das outras bandas […] é, em primeiro lugar, o seu virtuosismo: Sebastião e Benedito Biano […] são, com toda certeza, os maiores tocadores de ‘pife’ do Brasil […]”.

Se os anos 1960 foram marcados pelo crescimento urbano e a migração das massas rurais para as cidades, gerando o encontro entre dois mundos quase distintos, Sebastião Biano foi um embaixador desse processo trazendo harmonia entre a cultura dos ricões do país com a geração da indústria cultural e do ethos urbano.

Sebastião Biano é, sem dúvidas, um dos maiores arquitetos da cultura e da identidade brasileira.

Gustavo Madruga é professor e pesquisador da música brasileira

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