PERÍODO DE DEFESO DO RIO SÃO FRANCISCO COMEÇA NESTA QUARTA-FEIRA, 01 NOVEMBRO

O período de defeso na bacia do rio São Francisco começou hoje, 01 de novembro, e segue pelos próximos meses, até 28 de fevereiro de 2024 com a proibição da pesca garantindo que neste período ocorra a migração reprodutiva de diversas espécies e permitindo que completem seu ciclo de vida naturalmente.

De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a piracema ocorre conforme as Instruções Normativas Ibama 195 e 196 de 2008. “A piracema é o período em que ocorre a migração reprodutiva de diversas espécies e permite que essas completem seu ciclo de vida naturalmente. Dessa maneira, a proibição da pesca, definida a partir das características reprodutivas das espécies que compõem os rios das bacias hidrográficas, visa garantir a proteção das espécies de peixes nesse período tão relevante”, informou o Ibama.

Com isso, a pesca fica proibida em todos os rios, afluentes, lagos, lagoas marginais e reservatórios. “As espécies nativas estão abrangidas pela norma. Nesse período, a pesca de subsistência é garantida para aqueles que dependem dos peixes para se alimentarem. No entanto, está proibida a comercialização desses peixes e, nesses casos, os pescadores artesanais são contemplados com o seguro defeso, benefício pago a esses profissionais enquanto durar a proibição”, informou em nota a assessoria de comunicação do IBAMA em Brasília.

O período de defeso se estende para as lagoas marginais, onde a proibição vale até 30 de março de 2024. Durante toda a piracema é proibido o uso de redes de emalhar, conforme Portaria nº 50/2007. “Os pescadores terão até o quinto dia útil após o início da piracema para entregar a Declaração de estoque de pescados capturados até 31 de outubro de 2023. Os pescadores devidamente licenciados poderão capturar com utilização de anzol, até 5 quilos de pescados + 1 exemplar, por jornada de pesca”, explicou Juraci Meira de Lima, chefe do IBAMA em Juazeiro, BA.

Assim como em todo o território da bacia do São Francisco serão realizadas operações de fiscalização, e na Bahia as operações são planejadas no Plano Anual de Proteção Ambiental – PNAPA que contará com a participação de outros órgãos como a Polícia Rodoviária Federal, Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – INEMA, Marinha e Polícia Militar, de acordo com o informações da unidade técnica do Ibama em Juazeiro.

Quem for pego fora das normas pode ser autuado com multa e perder os petrechos que forem utilizados fora da permissão da Lei 9.605/98 e Decreto 6.514/2008. O valor da multa varia de 700 a 100 mil reais com acréscimo de R$ 20,00 por cada quilo de pescado apreendido.

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NO BRASIL, NÃO É A ENERGIA EÓLICA, MAS O MODELO. ELA IMITA A LÓGICA DO LATIFÚNDIO, DA VIOLÊNCIA, A NATUREZA SOFRE

Barulho, zumbidos no ouvido, depressão, medo, alteração da vegetação, destruição da flora e morte de animais. Esses são alguns dos efeitos relatados por moradores de comunidades vizinhas a parques eólicos, por causa da movimentação de seus aerogeradores – que funcionam dia e noite. As pessoas descrevem o som como uma turbina de avião que nunca desliga, destaca a Agência Brasil, que também reproduz o som dos equipamentos.

Moradora de Caetés (PE), Roselma de Oliveira convive com um aerogerador a apenas 160 metros de sua casa. E diante de uma fonte renovável de energia elétrica que vem se expandindo a passos largos no Brasil, seu relato impressiona por mostrar o lado (muito) negativo dessas instalações.

“Problemas de alergia, problemas de audição… perdendo a audição. Um dos piores que estão acontecendo também é a depressão, a ansiedade. Crianças de oito anos, nove, cinco, seis anos, para dormir, tem que ser à base de medicamentos. A gente não dorme. A gente cochila e acorda com aquele barulho terrível que é.”

Nevinha Valentim, do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental do Rio Grande do Norte, aponta a instalação dos parques eólicos como algo “devastador”: “Quando chega em larga escala, devastando dunas, manguezais, onde tem o modo de produção da agricultura familiar… então, isso é uma coisa devastadora”.

Um grupo de afetados pelos aerogeradores esteve em reuniões com o governo na semana passada. E a reivindicação dessas pessoas é bastante simples: reconhecem a importância dessa fonte de energia renovável, mas querem fazer parte da discussão no momento em que se decide onde e como esses parques serão instalados, explicam UOL, Um só planeta e Agência Sertão.

O professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Iure Paiva, resume o que seria o ideal: “Esse diálogo, esta abertura de possibilidades, da gente fazer com que estas vozes sejam ouvidas, tenham repercussão, esse é o primeiro passo. Em segundo, a gente vai ter que ter ação do poder público na fiscalização. E, em terceiro lugar, que a gente adote um modelo de desenvolvimento de segurança energética que seja centrado nas pessoas, e não apenas na atividade econômica”.

O Brasil de Fato destaca o documentário “Vento do Agreste”, que mostra os impactos dos parques eólicos em comunidades do Nordeste – região que abriga a maior parte dos projetos dessa fonte instalados no país. É uma produção da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em parceria com o Instituto Mãe Terra, a Universidade de Pernambuco (UPE) e o Fundo Casa Socioambiental.

O diretor e roteirista do documentário, João Paulo Do Vale, resume a questão: “Não é energia eólica, mas o modelo. Na Europa, existe outra regulamentação. No Brasil, ela imita a lógica do latifúndio, da violência. Então a gente mostra o que realmente acontece, que essa energia não é suficiente nem para a natureza, que sofre com esse modelo de instalação no Brasil, e muito menos para os camponeses e os povos da natureza”.

Em tempo: Entrou em operação comercial uma das duas primeiras usinas híbridas (diesel-solar-baterias) instaladas no sistema isolado – formado por áreas que não são conectadas à rede elétrica nacional e são abastecidas com energia elétrica gerada à base de combustíveis fósseis. Com 6,3 megawatts (MW) e capacidade para atender mais de 40 mil residências, as unidades ficam nas cidades de Amajari e Pacaraima, em Roraima, e receberam investimento de R$ 55 milhões da Oncorp, informa o Jornal o Valor. (Brasil de Fato)

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ONILDO ALMEIDA RECEBE TÍTULO DE CIDADÃO DE EXU NESTA TERÇA-FEIRA (31)

Prefeito, Vereadores e personalidades culturais de Exú serão recebidos nesta terça-feir (31), pelas autoridades de Caruaru no *alão Nobre  do Poder Legislativo, Pernambuco. A solenidade será a entrega do *Título de Cidadão de Exu* ao cantor e compositor, acadêmico e Doutor Honoris Causa da UFPE Onildo Almeida , o poeta da Feira.

"E o detalhe: em 32 anos de amizade entre Onildo Almeida e Luiz Gonzaga, foram diversos os convites, mas o compositor nunca foi em Exú.  Esse ano, 34 anos de saudades do Rei do Baião Exú virá até Caruaru*, representada pelas suas autoridades, em nome daquela gente querida e conterrâneos do Rei do Baião. Aqui, em Caruaru, serão recebidos pelo Prefeito Rodrigo Pinheiro, o Presidente da Fundação de Cultura, Herlon Cavalcanti e o Presidente Bruno Lambreta, diz o professor e pesquisador José Urbano.

Caruaru homenageou Luiz Gonzaga desde 1969, com título de Cidadão, Pátio de Eventos, maior estátua, ( uma em concreto outra em pedra, no Pátio e no Parque Baraúnas) bairro com nomes das músicas, diversos restaurantes.

Ainda de acordo com José Urbano, a relação artística e de amizade entre Luiz Gonzaga e Onildo Almeida começou em 1957, ano do centenário de Caruaru, quando o rei do baião gravou a música Feira de Caruaru.   A convivência entre os dois durou 32 anos, até o falecimento de Gonzagão, em 1989.   Dessa parceria, foram gravadas 22 músicas, sucessos que venderam centenas de milhares de discos e até hoje estão em regravações de diversos artistas e no repertório memorialista da música nordestina.  Entre os clássicos, Feira de Caruaru, Aproveita Gente, Regresso do Rei, Sanfoneiro Zé Tatu, A Hora do Adeus, entre outras. 

SERVIÇO 31 de Outubro 10hs

Salão Nobre da Câmara de Vereadores de Caruaru

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EXU: CASA DO REI DO BAIÃO SERÁ REFORMADA


Os deputados pernambucanos Antônio Moraes (PP-PE), Diogo Moraes (PSB-PE) e Izaías Regis (PSDB-PE) se comprometeram a destinar, juntos, R$ 400 mil em emendas para reforma da Casa do Rei do Baião, última residência de Luiz Gonzaga, que integra o acervo do Parque Aza Branca, em Exu, no sertão do Araripe de Pernambuco. O compromisso foi assumido pelos parlamentares em reunião com o sanfoneiro Jaiminho de Exu e com Junior Parente, presidente da ONG Parque Aza Branca, gestora do equipamento cultural, na manhã desta quarta-feira (25), na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). 

No encontro, o deputado Antônio Moraes disse que já articulou uma proposta de reforma com a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), que se dispôs a conduzir os reparos. Atualmente, a casa de Luiz Gonzaga apresenta problemas estruturais que dificultam a visitação de turistas e põem em risco móveis, fotografias, objetos, dentre outros itens que perteceram ao artista, eleito, em 2002, o Pernambucano do Século XX.

"O deputado Antônio Moraes criou uma frente parlamentar em defesa da reforma da Casa do Rei do Baião, além de ter se comprometido a destinar R$ 150 mil em emendas para o projeto. Além dele, o deputado Diogo Moraes se comprometeu a colocar R$ 100 mil em emendas e o deputado Izaías Regis, mais R$ 150 mil", celebrou Junior Parente.

Sobre o Parque Aza Branca-Administrado pela ONG homônima, criada por amigos de Gonzaga, o Parque Aza Branca recebe, em média, 60 mil visitantes por ano, sediando a Festa do Gonzagão, tradicionalmente realizada nos meses de agosto e dezembro. Em sua atual estrutura, o equipamento compreende uma área de 15 mil metros quadrados, em que estão alocados o Museu do Gonzagão, a Casa de Januário, a Casa do Rei do Baião, o Palco Principal, o Palco Gonzaguinha, o Palco do Pé de Juazeiro, o Mausoléu (onde foi sepultado o artista), loja, lanchonete e pousada, construída pelo próprio Gonzaga para receber os amigos.

Há ainda uma réplica da casa de reboco onde Gonzagão nasceu e um viveiro de asas-brancas. No acervo do Museu, estão conservados objetos pessoais, certificados, títulos, medalhas, troféus e prêmios que Gonzaga recebeu ao longo da carreira. Além disso, há ainda sanfonas que o acompanharam em momentos marcantes, como a que foi utilizada em apresentação durante a visita do Papa João Paulo II, em Fortaleza, em 1980, último instrumento que empunhou antes de morrer.

A Casa do Rei do Baião reúne louças, porta-retratos, cama e guarda-roupas originais, assim como toda a decoração. No primeiro cômodo, a sala em que o músico assistia televisão. Em um pequeno oratório, a fé era devotada às imagens de Padre Cícero e Frei Damião. Nas paredes, estão eternizadas fotos de viagens, shows e campanhas publicitárias. No primeiro andar, o quarto do artista também é mantido do jeito que foi deixado por ele. (Leia Já)
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BRASIL PERDE 15 PORCENTO DE FLORESTAS NATURAIS EM QUASE 40 ANOS, DIZ MAPBIOMAS

Em novo levantamento, a rede MapBiomas constatou que, entre 1985 e 2022, houve redução de 15% da área ocupada por florestas naturais no país, passando de 581,6 milhões de hectares para 494,1 milhões de hectares.

O principal fator de devastação foi a apropriação da agropecuária, e os últimos cinco anos aceleraram o processo de desmate, respondendo por 11% dos 87,6 milhões de hectares perdidos, revela a Coleção 8 do Mapeamento Anual da Cobertura e Uso da Terra no Brasil. Segundo o trabalho, os biomas que mais viram florestas sumirem nesse período foram a Amazônia (13%) e o Cerrado (27%).

O mapeamento considera diversos tipos de cobertura arbórea: formações florestais, savanas, florestas alagáveis, mangue e restinga. De acordo com o MapBiomas, esses ecossistemas ocupam 58% do território nacional. Quando todos são considerados,  a Amazônia (78%) e a Caatinga (54%) aparecem como os biomas com maior proporção de florestas naturais em 2022.

O MapBiomas observou, ainda, que dois terços da área destruída, ou seja, 58 milhões de hectares, foram de formações florestais, que são áreas de vegetação com predomínio de espécies arbóreas e dossel contínuo como as florestas que prevalecem na Amazônia e na Mata Atlântica. A diminuição das formações florestais foi de 14% nos 38 anos analisados. O Pampa foi o único em que o patamar se manteve estável, mesmo com o passar dos anos.

Pelos cálculos da organização, quase todo o desflorestamento (95%) se deu como consequência do avanço da agropecuária, que implica tanto a transformação de floresta em pastagens como a utilização das áreas para cultivo agrícola. Nas duas primeiras décadas do período sob análise, registrou-se aumento da perda de florestas, seguido de período de redução da área desmatada a partir de 2006.

As florestas alagáveis também fazem parte da paisagem da Amazônia e passaram a ser monitoradas pelo MapBiomas neste ano. Tais florestas são caracterizadas por se formar nas proximidades de cursos d’água. Nesse caso, no intervalo de quase 40 anos, foram perdidos 430 mil hectares de florestas, que ocupavam 18,8 milhões de hectares ou 4,4% do bioma em 2022.

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ALDY CARVALHO LANÇA LIVRO O CAVALEIRO DAS LÉGUAS

O Cavaleiro das Léguas, romance catingueiro de Aldy Carvalho, é uma alegoria sobre muitas coisas. Imagine-se, caro leitor, numa gesta, isto é, num combate. Esse combate, no entanto, embora você esteja paramentado como um cavaleiro, portando espada e escudo e armadura, e montando seu belo Rocinante como um Dom Quixote, ou como um Sir Galahad, não é um combate entre dois cavaleiros numa disputa qualquer. 

Melhor dizendo, é, mas ambos são você mesmo. Porém, antes de chegar ao momento desse combate, você viveu muitíssimas aventuras, cruzou terras longínquas e desertas, lutou contra demônios e bruxas até que aqui chegasse. 

Voce andou pelo reino dos imbuzeiros, conheceu pessoas muito simples, às quais protegeu com sua coragem contra os desmandos do mundo. Aprendeu ofícios, calou os soberbos, exaltou os humildes. Contudo, o combate que vai sagra-lo cavaleiro definitivamente, porque ainda lhe falta uma parte em sua alma é chegado. Porque, tendo conhecido o amor pelo próximo, você se ressente da falta da constante companheira. É aqui, nesse ponto da jornada, que você se encontra agora, diante dela, investido de seu próprio valor cavalheiresco.

Dando voz ao eterno feminino, esse é um poema sobre a busca da parte que nos falta e que não é um objeto a ser tomado, mas um presente em face de uma transformação ética, que se reflete no respeito pela vontade dela. Voce não está diante de uma donzela frágil e indefesa e não pense que será dela o protetor ou dominador porque a conquistou no combate. Muito ao contrário, é com ela o combate final, combate virtuoso em que nenhum dos dois sairá derrotado, e do qual advém o seu valor definitivo. É dela a escolha, é dela a decisão e isso, meu caro, é inelutável. 

Ouça a sua voz, responda às suas perguntas honestamente, quebre o desencanto da vida cotidiana e deixe-se levar pelo encantamento dessa mulher que te espera e torne-se merecedor dela. Ela inaugura o melhor de você e, nela, você se torna alguém melhor.

Assim é que o poema O Cavaleiro das Léguas, de Aldy Carvalho, atualiza o tema das gestas cavalheirescas do ciclo arturiano. O poema começa já no fim da jornada, mas, em sua parte mais importante, em que o herói torna-se aquilo que fomos talhados pra ser, isto é, humanos no mais profundo sentido do termo, porque completos, porque encantados, porque plenos, porque bons e justos. Abra estas páginas e, ao final, escreva seu nome no rol dos melhores que já trilharam essa terra...

(Ely Verissimo)

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CÁTIA DE FRANÇA, CANTORA COMPOSITORA ILUMINADA AO REDOR DO SOL


Na insistência de quem sabe o que quer, Cátia de França lançava o 20 Palavras ao Redor do Sol em maio de 1979, denunciando a rebeldia do Nordeste, questionando um Sertão bem masculino e elevando seu espaço enquanto artista. 

O disco ganhou um relançamento pela Três Selos e a cantora reflete sobre sua trajetória como uma das vozes e composições mais potentes da música popular brasileira. "Um atestado de que minha música é eterna", disse.

Apesar de sua grandeza, Cátia é humilde ao falar que o disco na verdade não começou nas gravações no Rio de Janeiro, mas na Rua Almeida Barreto, no Centro de João Pessoa. “Na maioria das histórias das pessoas, tem que falar da mãe. É na mãe que começa tudo", fala a cantora ao agradecer a presença da literatura em sua vida, fruto de muito incentivo da sua mãe Adélia de França.

DETALHE: Cátia de França é multi-instrumentista - o que gerou um convite de Zé Ramalho em 1978 para tocar percussão e sanfona no LP Avohai. O conterrâneo, que era um dos padrinhos do Selo Epic, da Sony Music, disse depois de sua turnê que estava no tempo de sua amiga ter uma carreira solo e, assim, o 20 Palavras ao Redor do Sol começou a nascer.

Mas ela se muniu de iguais. Zé Ramalho, Elba Ramalho, Sivuca e Dominguinhos são alguns nomes que compõem o 20 Palavras ao Redor do Sol, lançado em maio de 1979 pelo selo Epic, da gravadora CBS.

É  “20 Palavras ao Redor do Sol” (CBS, 1979), um álbum que já nasceu uma obra-prima e que conta com a assinatura de Zé Ramalho na produção musical, Sivuca (sanfona e piano elétrico), Bezerra da Silva (berimbau), Dominguinhos (sanfona), Chico Batera (bateria), Lulu Santos (guitarra elétrica), Elba Ramalho e Amelinha (vocais). Além de contar com Sérgio Natureza na parceria da canção “Ensacado” e Xangai e Israel Semente em “Djaniras”.

Primeira professora negra da Paraíba, ela alfabetizou Cátia cantando. A artista começou aos quatro anos com o piano que a mãe deu, para despertar o amor. Além disso, o instrumento na época era muito chique para as moças. “Introduzir sem sentir; quando vê já foi (...) quando ela viu que eu tomei gosto aí pronto. Mas só fui ganhar o piano definitivo que tenho até hoje aos 12 anos, que ela comprou com o salário de professora, já pensou?”.

Além dos discos de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, os livros também foram uma forte presença e uma de suas maiores alegrias era quando eles chegavam pelos correio. O pai não gostava muito da questão da música, queria que ela estudasse: “Era primeiro os livros, depois a gente conversa. Podia faltar manteiga, mas livro não”.

Durante toda a sua carreira de mais de 50 anos, Catarina Maria de França Carneiro nunca deixou de se posicionar em defesa daquilo que acreditava. Mesmo que, às vezes, tal posicionamento lhe tenha trazido custos. Sobre isso, Cátia, como ficou conhecida, conta que tem a certeza de que fez o certo, o que a faz dormir tranquila todas as noites.

Quem deu seu nome e seu apelido – que se transformaria em seu nome artístico – foi sua mãe, a professora Adélia Maria de França. Na casa dela, Cátia, desde cedo, entrou em contato com as ideias de Che Guevera, Josué de Castro, Dom Hélder Câmara e Francisco Julião. A professora, pernambucana de Aliança (PE), no entanto, nem sempre deixava que a filha se aproximasse dos artistas que viviam marcando presença no Mercado Central de João Pessoa, que ficava próximo à casa de dona Adélia, a primeira professora negra da história da Paraíba.

Foi na biblioteca particular de sua mãe, a afamada Biblioteca Coelho Lisboa – que tem esse nome em homenagem a um líder abolicionista paraibano – que Cátia começou a construir a sua poesia, inspirada em autores como Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo e João Cabral de Melo Neto. O rigor de sua mãe durou até que ela tivesse a segurança de que a filha estaria diplomada. Quando Cátia já era adulta, Adélia mandou-a para o Rio de Janeiro. Na capital fluminense, trabalhou como datilógrafa e participou de grupos de teatro subversivo.

Durante a repressão da ditadura, vivenciou a experiência de ser uma mulher negra, lésbica e nordestina na São Paulo dos anos 1970, sendo perseguida pela polícia política do DOI-CODI que, de acordo com ela, odiava nordestinos. Mas, assim como previra a sua mãe, que a mandara ao Rio justamente porque sabia que não iria conseguir impedir essa intensa relação, foi na música que Cátia de França encontrou a maneira mais encantadora de expressar a sua poesia.

Seus álbuns passeiam pela obra dos poetas que lia na casa de sua mãe, pela música eletrificada das guitarras dos Beatles, pelos ritmos que compõem o tecido da cultura nordestina, pelo swing do violão de Jorge Ben Jor e também pela psicodelia predominante na música dos anos 1970. Para além de uma referência estética e (re)criativa, a influência desta última, que marca toda uma geração de compositores e cantores nordestinos, era – para ela e para sua geração – quase como um antídoto, uma forma de lidar com o peso que vinha da sensibilidade, do entendimento e da reflexão crítica sobre as profundas violências pelas quais o Brasil passou. E das desigualdades que retalham o Brasil e o Nordeste por toda a nossa história.

Aos 76 anos, dos quais mais de 50 dedicados à sua arte, Cátia de França vem sendo reconhecida, mais recentemente, por uma nova geração e parte da crítica musical, que a coloca, com a justiça devida, no mesmo patamar que artistas como Alceu Valença, Elba Ramalho, Chico César, Amelinha, Bezerra da Silva e Zé Ramalho. Pela sua influência, talento, originalidade e inventividade que contribuíram para o desenvolvimento daquilo que se entende como a música do Nordeste e a música popular brasileira. (Texto G1 e Revista Continente)

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