DIA DE SAO JOSÉ, 19 DE MARÇO: ESPERANÇA DE CHUVAS NO SERTÃO

O Dia de São José, celebrado a cada 19 de março, presta homenagem ao padroeiro do Ceará e carrega um significado especial para o sertanejo. Trata-se de um importante marco simbólico e de um dia carregado de tradição e expectativa. A crença popular indica que, se chover até o Dia de São José, o ano será de bom “inverno”, com chuva garantindo a safra e a mesa farta. A fé no santo padroeiro se soma à esperança do agricultor, do vaqueiro, do homem do campo.

Confirmando a sabedoria popular, a ciência relaciona o 19 de março, feriado em todo o Estado, à proximidade da passagem do equinócio – o momento em que o sol, em órbita aparente vista da Terra, cruza o chamado equador celeste e incide com maior intensidade sobre as regiões localizadas próximas da linha do equador. No hemisfério sul do planeta, o equinócio de outono acontece no mês de março.

A cultura tradicional popular espelha essa temática em um sem-número de manifestações, como o cordel, o repente, a música. Como a canção “Sinal de Inverno”, do cantor e compositor cearense Eudes Fraga, cuja letra destaca: “Esperei meu amor, esperei com muita fé, que nem um agricultor no Dia de São José / Espera pela chuva, esperei ela voltar, esperei meu amor, até a chuva chegar /

Chuva é sinal de inverno no Dia de São José / me dê um sinal, meu amor, se você ainda me quer”.

Patativa do Assaré, cearense aclamado um dos maiores poetas de todos os tempos, em todo o mundo, também percorreu as paragens simbólicas do Dia de São José, no clássico “A Triste Partida”: “Sem chuva na terra descamba janeiro, depois fevereiro e o mesmo verão / Meu Deus, meu Deus / Entonce o nortista, pensando consigo, diz “Isso é castigo, não chove mais não” / Ai, ai, ai, ai / Apela pra março, que é o mês preferido do santo querido, Sinhô São José / Meu Deus, meu Deus / Mas nada de chuva, tá tudo sem jeito, lhe foge do peito o resto da fé”.

O saudoso, Professor universitário e um dos mais respeitados pesquisadores nacionais da cultura popular tradicional, Gilmar de Carvalho, na sua obra apontava que artistas como os cearenses Francorli e José Lourenço retrataram São José em xilogravuras. 

“O Ceará escolheu São José como padroeiro ou foi o carpinteiro, marido de Maria, pai de Jesus, que veio para nos dar lições de habilidade, paciência e resignação?”, questionava. “Nosso padroeiro tem a nossa cara. Que outro santo teria tantas afinidades com nosso jeito de ser? São Francisco, talvez, não o de Assis, mas o dos sertões de Canindé”, grafou, no texto que faz menção a cearenses como o carpinteiro Carlos, de Amontada, e o “santeiro” Zumbi, de Juazeiro do Norte: “Os dois reverenciam José, por meio do trabalho. As mãos ágeis do mestre carpinteiro ou do santeiro mergulham em um tempo ancestral e cortam a madeira, material vivo, que se deixa domar e assume as formas do trabalho e da fé”.

O pesquisador ressaltava ainda que São José também é padroeiro de outros municípios cearenses, como Aquiraz, Catarina, Granja, Maracanaú, Missão Velha, Potengi, Salitre e Ubajara. “Difícil encontrar um templo, dos mais soberbos aos mais humildes, onde não esteja representada sua figura de homem sereno, o lírio aberto, e a veste. Outra versão o coloca de botas e nos remete, imediatamente, ao barroco, com sua explosão de ouro, volutas e panejamentos. Mas o São José de verdade é o da simplicidade do corte, da economia dos detalhes, o do santeiro sertanejo. Este é o padroeiro e orago de um Ceará que nunca precisou tanto dele como agora. Que chova!!!”.

A devoção a São José e a esperança de um ano de boa colheita ganham reforço anualmente com os encontros dos chamados “profetas da chuva”, sertanejos experientes, conhecidos no Interior do Estado pela interpretação dos sinais da natureza, com diferentes leituras sobre possíveis indícios de um “inverno” bom ou de um ano de seca.

O município de Quixadá, a 168 km de Fortaleza, costuma sediar um encontro de mais de 30 “profetas”, a cada começo de ano, para debate sobre a probabilidade de uma boa quadra chuvosa, a partir de sinais dados pela vegetação do sertão ou por animais como passarinhos, abelhas e formigas. Os agricultores escutam atentamente a fala dos profetas, que vêm de municípios de diferentes regiões do Estado.

As novenas, orações, simpatias, os pedidos de trabalho, fartura e chuva fazem parte do imaginário sertanejo, reforçado pela devoção a São José. O santo homenageado no Estado é também padroeiro do município de Aquiraz, a primeira capital cearense, onde fica a segunda mais antiga igreja do Ceará, a Matriz de São José de Ribamar, erguida no início do século XIX.

O equipamento cultural abriga um conjunto de objetos religiosos advindos dos vários municípios e paróquias cearenses. Esse acervo é constituído por uma diversidade de imagens de santos e de anjos, objetos das procissões religiosas, parâmetros litúrgicos, missais etc, totalizando cerca de 1.400 peças, muitas de notório valor artístico e cultural, que remetem ao barroco colonial cearense.

O Museu Sacro São José de Ribamar, localizado na Praça Cônego Araripe, município de Aquiraz, está aberto à visitação, com entrada franca, de terça a sábado, das 8h às 22h.

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UM CENTENÁRIO NOBRE PARA ANA DAS CARRANCAS - A DAMA DO BARRO

Dezoito de fevereiro de 2023. Uma  data especial para a história do artesanato de Pernambuco. Um capitulo gigante e nobre  da vida real, da vida de lutas e glórias de Ana Leopoldina dos Santos. Para Petrolina, Pernambuco e Brasil, Ana das Carrancas. É chegado o centenário da mulher icônica no horizonte da arte popular.  É falar aqui da mulher artesã e sobre a trajetória de uma  sertaneja, negra, guerreira e abençoada pela imensidão de sua fé. Ana batizada como artesã pelas águas mansas e perenes do Velho Chico. Ana devota de Nossa Senhora, e claro, de São Francisco.

Ana que bebeu da água do rio Velho Chico pela primeira vez ao lado do marido José Vicente – aquele homem que completava suas forças na arte de fazer carrancas para o mundo. Aquele homem que cego de nascença falava, cantava e ajuda a moldar suas peças com o tato das mãos e pés. O  coração falava por tudo e por amor sem tamanho, tipo aquele amor maior do mundo.

Mas e o que dizer tanto  da menina Ana  ou Aninha para os país e irmãos que certo dia numa seca braba fugiram da região do Araripe para o Piauí com a missão de escapar da escassez de água e comida.  E depois de léguas andadas sob sol à pino, aportam no também árido Piauí. E ai começa toda uma saga. Experiências em feiras populares vendendo utensílios domésticos de barro por algum tempo. Tempo depois, resolveram migrar para Petrolina. E lá no cenário e elenco familiar esta Ana já mulher.  Negra, humilde, sem grandes estudos. Ana Leopoldina, a cidadã  que fez da arte sua universidade. A mãe que criou as filhas com seu brilhante fazer artístico. 

Ana das Carrancas  foi catedrática no maior sentido de lidar com a fama e com seu trabalho que já percorreu parte do Brasil e exterior, sem ao menos saber ou dar margem para esse negócio de holofotes.

Ana que foi debatida nas escolas, que foi tema de artigos e dissertações em universidade. E tudo isso por causa de sua arte ímpar, ora plural. Suas carrancas expostas em tantas feiras de arte como a anual e internacional Fennearte (no Recife)  que até hoje lhe garante espaço de destaque pelas mãos das filhas Ângela Lima e Maria da Cruz, artistas que  dão continuidade com maestria ao legado da matriarca inclusive com novas linguagens sem deixar escapar os traços das tradicionais  carrancas de barro. Aliás, carrancas que já foram ovacionadas no suntuoso ateliê de Brennand.

Sem esconder a versatilidade e inspiração que dominava com maestria quando espalhava o barro nas mãos, lembrou que apenas sob encomenda fazia peças diferentes. Católica fervorosa como ela sempre foi, certa vez moldou duas imagens de Jesus Cristo. Lembrou que foi a primeira e única vez que fez uma arte sacra e chorou quando viu aquela "coisa linda" de Deus.

E o que dizer de sua paixão fulminante, tipo amor à primeira vista por Zé Vicente. Seu marido, companheiro, amigo e confidente. "Não tem explicação foi coisa de Deus quando mandou ele pra entrar na minha vida. Um salvou o outro", disse certa em uma entrevista para um jornal. Ana das Carrancas não economizava bons adjetivos para falar da dedicação que o companheiro lhe tinha na vida e na arte e com quem sempre conversava sobre todas as coisas, de casa e do mundo.

A ceramista não dourava sua fama. Nunca deu bolas para coisa de celebridade na arte. Recebia em seu espaço - Centro de Arte - estudantes, turistas, pesquisadores e autoridades políticas, além de visitas ilustres da arte.  Até ai seu  nome já estava consolidado par além da imprensa e catálogos de arte. Com o passar dos anos, seu nome foi abrindo novos caminhos e conquistas e não parou mais. Foi contenplada com o título de cidadã de Petrolina décadas depois, Patrimônio vivo de Pernambuco e chegou a Brasília para receber a comenda de Ordem ao Mérito Cultural ao lado de um grande elenco de artistas de diversas linguagens. Emocionada, não escondeu o choro. Ana já teve sua vida contada no perfil biográfico A Dama do Barro. A relação de amor e arte com o marido povoa as páginas digitais  de um Ebook infanto juvenil "O amor e a Arte de Ana e José". Cada homenagem é pouco, mas voloriza e eterniza a imensidão da obra artística dela.

Ana das Carrancas, ex-louceira que virou arte de grife partiu para a eternidade em 2008 por conta de consecutivos problemas de saúde.  José Vicente da mesma forma  em 2014. Os dois já se encontraram na eternidade . E o casal eternizou sua trajetória pelas quatro mãos de afeto e arte. De dois seres humanos iluminados. Pelo amor e fé que deram frutos que se multiplicam na grandeza dos olhos expressivos de Ana. E os olhos do coração de José. Já que chegamos a 18 de fevereiro de 2023, é chegado o momento de festejar o centenário de nascimento de Ana das Carrancas. 

E digo que há várias formas de festejar: Uma delas é jamais esquecer seu nome e  sua arte navegando para além do São Francisco. Ana/José tem os nomes carimbados em música, poesia e crônica. Até em novela das 9h suas carrancas brilharam em parte do cenário. E assim a história prossegue.  Viva Ana, Viva José Vicente!  

 * Emanuel Andrade é jornalista, professor universitário e pesquisador, autor do livro A Dama do Barro

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ANAS DAS CARRANCAS COMPLETARIA 100 ANOS SE VIVA FOSSE NESTE SÁBADO (18)

A história de vida de Ana das Carrancas revela o grande poder humano de superação que o ser humano conquista ao encontrar o sentido da vida, o que pode ser buscado em pequenas coisas que podem possuir vasto valor existencial na luta pela vida. 

A história de Ana pode ser considerada um modelo para tantas pessoas em desesperança, diante de adversidades existenciais. 

Em 18 de fevereiro de 1923, em Santa Filomena, no sertão do Araripe Pernambucano, nasceu Ana Leopoldina dos Santos, que futuramente seria conhecida como Ana das Carrancas. Filha de Joaquim Inácio de Lima, agricultor, e Maria Leopoldina dos Santos, louceira. Com sete anos ela já ajudava a confeccionar utensílios domésticos, como pratos, panelas, vasos, além de figuras de animais e religiosas.

Embora o dom artístico tenha despertado desde cedo, o percurso para tornar-se a “Dama do Barro”, codinome ganho pela sua excelência na arte em modelar o barro, é marcado pela luta por sobrevivência e reconhecimento. A vida de Ana é calcada em histórias sofridas, porém acompanhadas de muita fé, trabalho e resistência. 

Ana das Carrancas teve duas filhas biológicas e uma adotiva. Duas delas, Maria da Cruz e Ângela são responsáveis pela administração da sua obra. Ambas aprenderam o ofício com a mãe e, sendo ceramistas, produzem uma releitura da obra de Ana, modelando as carrancas como itens decorativos, além de criarem mandalas, fruteiras e outros ítens. Uma parte das peças deixadas pela artesã está no Centro de Artes Ana das Carrancas, em Petrolina. Lá é possível encontrar peças, medalhas, fotos, recortes de jornal e troféus conquistados por uma história tão bonita quanto inspiradora.

CONFIRA TEXTO DA JORNALISTA ELIANE BRUM PUBLICADO EM 2008 NO JORNAL ZERO HORA-RS EM HOMENAGEM A ANA DAS CARRANCAS:

"Ana Leopoldina Santos Lima era o nome dela. Isso muito antes de o barro moldar seu destino lhe dando por amor um homem que não tinha olhos para enxergá-la. Os monstros gerados pelas mãos de Ana eram cegos como o companheiro de sua vida. Com um golpe rápido, certeiro, ela vazava os olhos de suas criaturas com a ponta de um pedaço de pau. Com Ana era assim, a desgraça virava épico". 

Ana "partiu para o sertão da eternidade" numa quarta-feira dia primeiro de outubro de 2008, aos 85 anos, a maior carranqueira do São Francisco voltou ao barro que a fez. E deixou Zé dos Barros, pela primeira vez, na escuridão.

Ela era uma mulher de solenidades. Não falava, entoava. “Minha vida é extensa...”, Era a frase com que iniciava a narrativa. Analfabeta, fazia literatura pela boca. E mesmo limitada por uma seqüência de derrames, parte dos dedos com que tocava a lama do mundo paralisados, Ana era grande. Carregava nos gestos uma largura de alma. E o rio era seu espelho em mais de um sentido. A mulher que moldava o barro do chão só pisava o reflexo do céu. 

Ana das Carrancas costumava dizer que sua arte era a síntese de seu amor por um cego que via o mundo mas não era visto por ele. Entre ela e Zé dos Barros nunca se soube quem era criador, quem era criatura. Ela já veio ao mundo retirante, na cidade pernambucana de Santa Filomena. Mas diferente de quase todos, nunca lamentou a terra estéril sob seus pés. A estirpe de mulheres da qual era continuidade moldava pratos, panelas, vasos. Ana aprendeu com a mãe, e antes dela a avó, que do barro se arranca tudo, até a vida.

Uns poucos anos depois dela, José Vicente de Barros nasceu em Jenipapo, outro canto sertanejo. Desembarcou na vida sem olhos, por culpa do amor incestuoso entre primo-irmãos. Desde cedo a ele ensinaram que “quando Deus faz uma criança sem vista é porque quer que ela sobreviva como pedinte”. Para se localizar na escuridão, desde menino ele balançava a cabeça. E nesse de lá pra cá, de cá pra lá, encontrava equilíbrio mesmo nas trevas.

Ana e Zé só cruzaram seus pés descalços quase trinta anos mais tarde. Ana tornara-se viúva desde que seu marido despencara de um pau-de-arara. Conheceu Zé pedindo esmolas na feira de Picos, Piauí. Ele balançava guizos, cantava cantigas. Mas era um cego desaforado por anos ouvindo os meninos mangando dele, pegando nele. Ana, não. Era resignada, como costumam ser as mulheres com fome e filhos para dar de comer. Ana dava comida a Zé sem que ele precisasse implorar.

.Um dia a vizinha abordou Ana na rua. “Desenteirei açúcar do meu filho para dar esmola a Zé”, queixou-se. O rosto de Ana queimou de vergonha. Tirou uma nota do bolso e retrucou: “Enteire de novo o açúcar do seu filho. Por Zé ele não vai passar fome”. Naquela noite não dormiu. Sua tristeza não coube na rede que dividia com Zé. Quando acordou, chamou o marido e anunciou: “Meu velho, nunca lhe fiz um pedido. Mas hoje lhe peço. De agora em diante, você não vai mais pedir esmola". Assustado, Zé rebateu: “Deus me fez sem vista para que eu pedisse esmola”. Ana fincou pé: “De hoje em diante sua vista é a minha. Você pisa o barro, eu faço a peça. Nós vamos levar para a feira, nós vamos ser felizes”.

Ana pegou a enxada e caminhou até as margens do São Francisco, em Petrolina. Diante da fartura de líquidos, invocou o espírito do rio: “Meu grande Nosso Senhor São Francisco. Pelo poder que ostenta, pelas águas que estão correndo, do próprio barro melhore a nossa vida”. 

Ao terminar, juntou um bolo de lama e fez, sem que até hoje saiba como, a primeira carranca. Começou levando na feira, suportando calada riso e maldades. “É tão feia quanto a dona”, cutucavam. No dia seguinte, em vez de uma, Ana levava duas. Até que caiu nas graças dos turistas e dos ricos da cidade e, de lá, suas obras ganharam o mundo. Ela então deixou de ser Ana do Cego e virou Ana das Carrancas. E ele virou Zé dos Barros.

As carrancas de Ana são diferentes de todas as outras que, desde o final do século XIX, apontaram a face horrenda na proa das barcas do São Francisco. A maioria dos carranqueiros célebres esculpe em madeira, Ana, em barro. Mas a maior singularidade são mesmo os olhos vazados. São eles que dão a expressão melancólica, contendo mais sofrimento do que ameaça, à obra de Ana. É do feminino que Ana tira sua carranca dilacerada diante da dor do mundo.

Os traços deformados das carrancas de Ana expressam, pelo avesso, a perfeição de seu amor. É este sentimento avassalador que tomava conta de Ana, anos atrás, quando ela começou a pressentir que o fio de sua vida atingia seu cumprimento. “O barro é como gente. Tem o barro ruim e o barro bom. E até o barro regular. Conhecendo o barro se conhece o mundo”, sussurrava ela. “O barro é o começo e o fim de tudo. Sem ele não sou ninguém. Foi ele que me deu o direito. Não me separo dele pra coisa nenhuma, porque eu amo aquilo que ama a mim. O barro é um caco de mim. Nas minhas veias corre sangue de barro.”

As lágrimas abriam então sulcos em sua face. Por um momento, ela assemelhava-se à sua criação. Movia o rosto em direção a Zé, que não a via com os olhos, mas era o único a abarcá-la por completo. Ana então dizia: “Não estou pedindo a morte. Mas quando eu me for, qualquer pedacinho de orelha, nariz ou olho é lembrança dele. E de mim”. 

*Zé Vicente infartou em 2014...ganhou definitivamente Luz...

Eliane Brum-Jornalista

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NA TERRA DE LUIZ GONZAGA DANÇA TEM PODER. PROJETO DANÇA NAS COMUNIDADES PROMOVE EMPODERAMENTO

Na terra onde nasceu Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, literalmente e musicalmente é comum a efervescência da diversidade cultural através da dança.  A arte na terra onde nasceu Luiz Gonzaga a palavra tem poder que transforma. Wiharley Januario (Lalá Dance) cearense de Juazeiro do Norte, mora em Exu, Pernambuco desde os 05 anos de idade.

São quase 30 anos trabalhando com arte e cultura. Tem experiência em danças de rua e danças populares, é competidor e júri de battles de breaking, festivais de dança e eventos em todo Nordeste e Brasil, faz trabalhos ministrando workshops, oficinas e cursos de danças Populares e breaking. 

Neste ano de 2023, Lala Dance, com uma parceria da prefeitura de Exu, através da Secretaria de Cultura, promove o Projeto Dança Fitness nas Comunidades. A proposta é levar a dança de forma itinerante qualidade de vida e empoderamento feminino para os bairros, distritos e povoados localizados em Exu.

Lalá Dance Januário. É assim que é conhecido na região. Ele é Professor da modalidade Dança Fitness-aulas exclusivas para mulheres, foi dançarino de Flávio Leandro e banda Cabas de Gonzaga. É Diretor e b.boy do grupo Sertão breaking, Coordenador do projeto sociocultural de Hip Hop Geração Mulekes, diretor ator, cantor, dançarino e coreografo da Cia de Espetáculos Luiz Gonzaga e Quadrilha Junina Luiz Gonzaga, produtor cultural é idealizador do EDACRA – Encontro de Dança , artes e Cultura da Região do Araripe - Festival Multicultural, Batalha dos Mulekes, Exu Junino – Festival de Quadrilhas e Cultura Junina eventos esses todos realizados na cidade de Exu.

Sertão Breaking é uma das sensações em Exu Pernambuco. Lalá diz que a dança é de origem do movimento cultural chamado Hip Hop hoje integra o quadro de esportes olímpicos e estará nos jogos de 2024 em Paris – França.

"Com esse poder de visibilidade torna-se uma grande ferramenta de oportunidades para crianças e adolescentes pobres sonharem em um dia ser um atleta olímpico, ou simplesmente aprender a arte da dança como muitos que passaram por nossos projetos e atualmente integram Companhias e grupos artísticos ou uma vida no meio da arte consolidada com seus trabalhos individuais, sempre com o lugar de destaque na sociedade nos setores que representam", revela Lalá. 

O grupo (Crew) Sertão Breaking tem um trabalho existente há cerca de 15 anos em Exu-PE e Região, sempre representando no cenário nacional ganhando festivais e competições de dança em todo Nordeste, produzindo e realizando umas das mais importantes etapas competitivas de breaking do nordeste.

"EDACRA, Encontro de Dança, Artes e Cultura da Região do Araripe, é realizado em Exu-PE, por isso acreditamos que precisamos de mais visibilidade e oportunidade de mostrar nosso talento e capacidade de transformação social, sem sermos segregados por ser da terra do forró ou de Luiz Gonzaga, entendendo que cada arte tem sua importância para a cultura da cidade, uma arte nunca vai tirar o espaço de outra, com esse pensamento temos a proposta de preparar nossas crianças e adolescentes através desse projeto de breaking e elementos da cultura Hip Hop para vislumbrar oportunidades e afastá-las de temas negativos de suas vidas, tentando apenas ofertar arte e cultura dando dignidade de ser e ter representatividade na sociedade mesmo pertencendo a uma classe excluída e marginalizada", explica.

Em Janeiro 2022, no espaço Farol Escola foi lançado de forma oficial o Projeto Social-Geração Mulekes que através do Hip Hop vai trabalhar nos bairros Vila Nossa Senhora Aparecida e Gonzagão na cidade de Exu-PE, instruindo crianças e adolescente carente sujeito a vulnerabilidade social, afastando-as do crime, das drogas e temas negativos da sociedade, levando-as a prática da dança, da música, do grafite e também do conhecimento, direcionando essas crianças e jovens ao caminho do bem fortalecendo as comunidades.

"Agora estamos numa etapa e passaremos a existir de forma organizada para conseguir alcançar mais mais jovens, sendo assim fazer de fato e direito que nossa voz seja ouvida. O Projeto Sociocultural Geração Mulekes, tem essa proposta de contribuir com nossos dons artísticos para a formação cidadã de crianças e adolescentes de nosso cidade, esse é nosso compromisso, já fazemos isso há décadas,  hoje estamos  mais ainda fortalecidos,  ficaremos grato com o apoio de cada um de vocês. AQUI É HIP HOP LEVADO A SÉRIO!", concluiu  Lalá Dance.

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ESPECIALISTAS DESCREVEM A RELAÇÃO ENTRE O CARNAVAL E A MÚSICA

A música e o carnaval têm uma relação simbiótica. Não há carnaval sem música, são as canções que dão o tom da folia. Samba, pagode, frevo, maracatu, axé, pagodão baiano, guitarrada, funk, hip-hop, rock e até sertanejo embalam as festas de todo o país. Todos esses gêneros participam de uma disputa não oficial pelo cargo de hit do carnaval, o sucesso que animará os blocos e as festas de rua.

Este ano, Léo Santana emplacou o grande sucesso do carnaval com a música Zona de perigo, uma batida contagiante acompanhada de um dancinha e um vídeo que viralizou nas redes sociais do cantor. A música desbancou postulantes como Lovezinho, da cantora Treyce, que bombou na plataforma TikTok. Evidenciando que a internet é uma fonte do que faz sucesso nos blocos de rua. As músicas só estarão tocando nos centros das cidades brasileiras, porque vídeos do próprio Léo Santana ou até do influencer Xurrasco 021 rodaram as redes sociais de milhões de brasileiros nos últimos dias.

Historicamente, as músicas passaram por diversos ritmos e lugares diferentes do Brasil. A Bahia teve sucessos como Faraó (divindade do Egito), de Margareth Menezes, Água Mineral, da Timbalada, Arerê, da Banda Eva, Lepo lepo, do Psirico, Tchubirabiron e Rebolation, do Parangolé. O Rio emplacou  marchinhas como Cabeleira do Zezé e Ó abre alas. Carnaval como sempre é a festa de todos, por isso a música que toca nele tem que ser para todos.

Porém, o que faz um hit de carnaval? Pensando no que faz sentido no pop, está a estrutura musical. " Um hit de carnaval precisa ter um refrão chiclete, ser dançante e envolvente. Umas referências a sexo de um jeito mais ou menos implícitas também ajuda, porque muito da brincadeira do carnaval envolve esse apelo", explica o pesquisador musical Marcelo Argôlo, que ainda pontua que o gênero musical não é o mais importante. "Agora, se vai ser um pagode, um samba-reggae, um samba, um arrocha... Isso tanto faz!", completa.

O apego emocional e com o público é talvez o grande diferencial dos sucessos de carnaval. "A música pulsa o que o povo quer. São coisas espontâneas e felizes", explica o também pesquisador musical Ricardo Cravo Albin que fala sobre ser uma essência das marchinhas. "A música de carnaval de essência sempre foi aquilo estruturado na marchinha de carnaval", acredita o especialista.

Em suma, uma música benfeita com um refrão chiclete e com o amor do público tem o poder de bombar no carnaval, se tiver dancinha é ainda melhor. Afinal, não há carnaval sem música. "Não existe carnaval sem música. A música veio antes do carnaval. O resto é a história que todos conhecem", pontua o DJ, curador e membro do bloco Aparelhinho, Rodrigo Barata. "Um hit de carnaval é refrão, suingue e cair no gosto popular", exemplifica o DJ.

Para Cravo Albin, é intrínseco a ser brasileiro o carnaval, portanto, é preciso de música para um bom festejo, para que a folia seja completa. "É impensável um carnaval sem música, seria negar-se a tendência natural do povo brasileiro. O povo dança, e,  com isso, canta para botar para fora a energia e a alegria desta grande festa", pondera o pesquisador.

A falta de música geraria uma situação inusitada, mas não inédita, pois Argôlo viveu na pele o que acredita ser impossível: um carnaval silencioso. "Eu já tive uma experiência de carnaval sem música. Foi em 2014, em Cádiz, na Espanha. Era uma multidão perambulando bêbada pelo centro histórico da cidade", lembra o jornalista. "Perdeu completamente a graça da festa", complementa o folião, que ficou traumatizado após o único carnaval fora da festa de Salvador na vida.


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CONSTRUINDO PONTES PARA O DIÁLAGO E A RECONCILIAÇÃO SERÁ TEMA DO 32 ENCONTRO DA NOVA CONSCIÊNCIA

Nesta quinta-feira, 16 de fevereiro, às 20h, começa a 32º edição do Encontro da Nova Consciência que, neste ano, tem como tema principal “Construindo pontes para o diálogo e a reconciliação”. Serão seis dias de evento com uma vasta programação transmitida nos três turnos no canal do YouTube da Nova Consciência.

Como a diversidade é uma característica do Encontro da Nova Consciência, estarão reunidos representantes religiosos, de movimentos sociais, cientistas sociais, pesquisadores, indígenas, ecologistas, ateus e agnósticos, terapeutas, xamãs, dentre outros, para dialogarem sobre o tema principal do evento e outros assuntos.

Há mais de 30 anos, Campina Grande, Paraíba, não é mais a mesma durante o período de Carnaval. A criação do Encontro da Nova Consciência, evento multicultural e de diálogo inter-religioso que reúne pessoas de diferentes áreas para compartilhar experiências e inspirar mudanças positivas, além de alterar o calendário turístico campinense, trouxe significativas melhorias econômicas para a cidade no período momesco e possibilitou ainda o surgimento de outros eventos que acontecem no mesmo período.

Por conta da pandemia da COVID-19, o Encontro da Nova Consciência vem sendo realizado no mundo digital, no canal do Youtube da ONG Nova Consciência que, em 2022, passou dos 100 mil inscritos.

Neste ano, a 32º edição do Encontro da Nova Consciência também acontece no canal do Youtube, possibilitando que pessoas de diferentes lugares do mundo tenham acesso a toda programação do evento.

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RÁDIO TEM CONDIÇÃO DE PROMOVER O DESARMAMENTO DO ESPÍRITO, ACALMAR O PENSAMENTO , DIZ ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

Estas são as Nações Unidas chamando as pessoas de todo o planeta”. Em tradução livre, estas foram as primeiras palavras transmitidas pela rádio das Nações Unidas (em inglês, United Nations Radio), no dia 13 de fevereiro de 1946.

Apesar da intenção de falar para as pessoas de todo o planeta, apenas seis países, de fato, foram alcançados pela transmissão histórica. Décadas depois, o dia 13 de fevereiro tornou-se o Dia Mundial do Rádio -  o meio de comunicação mais consumido do planeta, segundo relatórios internacionais.

A data foi proclamada pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) para falar da importância do rádio, seu alcance e como ele pode colaborar para a construção da democracia.

Desde que foi instituída, em 2011, questões como igualdade de gênero, juventude, esporte, diversidade e confiança já foram temas das edições da data, que envolvem centenas de estações de rádio de todo o mundo. Há, inclusive, uma lista com 13 ideias para que as emissoras celebrem o Dia Mundial do Rádio em suas programações.

Este ano, a proposta é discutir o rádio e a paz: "Em calamidades, pandemias, conflitos armados e guerras, o rádio traz informações privilegiadas, de segurança, e acaba, por vezes, sendo o único meio de comunicação. Estamos falando de cenários sem luz elétrica, e o rádio consegue chegar por funcionar à pilha, por exemplo. O rádio salva vidas", explica Adauto Cândido Soares, coordenador de Comunicação e Informação do Escritório da Unesco no Brasil.

Em localidades de conflito deflagrado, ou mesmo em países que atravessam situações de calamidade, as próprias Nações Unidas, por meio de suas Missões de Paz, montam estações de rádio para trazer informação segura e confiável para a população local e também como instrumento para consolidação da paz e da estabilidade. Foi assim no Haiti (rádio Minustah FM), Timor-Leste (Rádio Unmit), Costa do Marfim (rádio Onuci FM), Sudão do Sul (rádio Miraya) e na Libéria (Rádio Unmil). Neste país, por exemplo, a rádio da missão alcançava aproximadamente 75% do território da Libéria e falava para cerca de 4,5 milhões de pessoas - o que dá 80% da população.

A rádio Okapi, da República Democrática do Congo, nasceu de uma missão de paz - a Monusco, da sigla em inglês para Missão da ONU para a Estabilização na República Democrática do Congo - e está no ar desde 2002. Ela começa como um instrumento para acompanhar a pacificação no país, e acaba tornando-se fundamental para a construção da identidade do país e sua unificação. Na programação, notícias, prestação de serviço, educação, entretenimento, esportes em francês e nos dialetos locais (Swahili, Lingala, Kikongo e Tshiluba), que são acompanhados por uma audiência estimada em 24 milhões de pessoas.

E não são só locais devastados pela guerra ou pela natureza que o rádio alcança: “Na África subsaariana, um quarto da população não tem acesso à internet. Tudo é feito pelo rádio”, destaca Cândido Soares, da Unesco.

No Afeganistão, com a retomada do poder do Talibã, meninas e mulheres só conseguem continuar estudando por meio do rádio, que leva conteúdo transmitido de outros países para dentro de suas casas por meio das ondas curtas. É o que também aconteceu aqui no Brasil, quando, no período mais crítico da pandemia, crianças de regiões mais remotas do país valeram-se de radioaulas para continuar aprendendo:

A proximidade com a audiência faz com que o rádio surja como “um pilar para a prevenção de conflitos e para a construção da paz (...) e atenue divergências e/ou tensões, evitando sua escalada ou promovendo negociações com vistas à reconciliação e à reconstrução”, como reforça a Unesco.

“O rádio expressa sentimentos, informações e opiniões como um canal e como uma forma humana do pensamento e das nossas necessidades. Ele sempre se apresentou com uma possibilidade de participação do público, de interação, de contato e de criação de vínculos”, pontua Fernando Oliveira Paulino, professor da Universidade de Brasília (UnB) e presidente da Associação Latino-Americana de Investigadores da Comunicação (ALAIC).

Paulino falou à Radioagência Nacional, ainda, sobre a vocação do rádio para a mobilização social, em reportagem sobre o Dia Mundial do Rádio:

"De maneira geral, o rádio é um meio de comunicação que consegue mediar conflitos. Ele consegue tratar temas que geram desavenças, que são sensíveis, de modo a diminuir conflitos e acirrar posições", diz Adauto Cândido Soares. "O discurso de ódio ganhou muita visibilidade e se expandiu nas mídias digitais. O rádio pode ser usado para dirimir dúvidas, amenizar posições, promover o debate, trazer o contraponto. Porque o rádio tem a confiança de um público cativo, que é imenso".

“O rádio tem condição de promover o desarmamento do espírito, acalmar o pensamento. E é como foi dito na Declaração dos Estados-membros da Unesco: ‘uma vez que as guerras começam na mente dos homens, é na mente dos homens que as defesas da paz devem ser construídas’”. É o que atesta Mara Régia, jornalista e apresentadora do programa Viva Maria, da Rádio Nacional da Amazônia, que decidiu usar o rádio à serviço das mulheres.

Em 2011, em um episódio sobre os 75 anos da Rádio Nacional, o programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, contou a história e o significado do Viva Maria para as ouvintes - muitas delas ribeirinhas, que têm na Nacional da Amazônia e nas ondas curtas seu único meio de informação.

Há 42 anos no ar, o programa leva questões femininas e feministas para as ondas do rádio e coleciona, como diz a própria apresentadora, histórias de “resistência, resiliência, sororidade e solidariedade, contribuindo para o avanço da cidadania das mulheres”. E também para a promoção da autoestima de suas ouvintes: “Já ouvi mulheres que me falaram que tinham vergonha do nome. Vergonha de ser Maria. E hoje elas falam que se orgulham de ser mulher, e reconhecem na voz de uma mulher as lutas que elas precisam empreender”. (Agencia Brasil)

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