AS SEVERINAS LANÇAM SINGLE COM COMPOSIÇÃO DO POETA ZÉ MARCOLINO

O trio feminino mais famoso do Sertão do Pajeú vai lançar um novo trabalho na próxima semana, dia 04, em todas as plataformas de streaming digitais. As Severinas, depois de terem lançado o álbum "Forró das Severinas" no primeiro semestre, apresentam agora o single "Minha Crença", de composição de Zé Marcolino.

A canção fará parte do álbum "Zé Marcolino - Cantigas do Poeta", uma homenagem ao compositor, com dez faixas de sua autoria. O lançamento ocorrerá ainda neste ano. "'Minha Crença' foi uma música que me tocou ainda quando nós estávamos no processo de escolha das faixas da obra em homenagem a Zé Marcolino. Eu nunca tinha ouvido a música e quando eu ouvi à capela, sendo cantada por Bira Marcolino, eu fiquei extremamente encantada, me tomou de imediato", contou a cantora Monique D'Angelo, incitando a curiosidade dos fãs.

Ainda de acordo com Monique D'Angelo, ela disse logo às companheiras do grupo que "Minha Crença" deveria ser uma das músicas escolhidas para o álbum e que, provavelmente, seria uma das mais importantes. "Ver o processo da música se montando foi algo peculiar para mim, a cada nova fase da criação, ela ficava muito mais bonita. Até que gravei a voz definitiva e recebi a faixa para ouvir depois, e chorei, essa música me emociona bastante. É a minha música preferida do álbum", confessou.

A música tem a peculiaridade da obra de Marcolino, com letra que fala de costumes, crenças e sabedorias populares, exaltando vivências nordestinas. A faixa é mítica, tem simplicidade e ainda conta com um toque especial - um poema de Isabelly Moreira, declamado pela própria artista. O arranjo deixa "Minha Crença" com uma roupa de um forró autêntico, costurada com uma guitarra agregadora, gravada pelo grande Instrumentista César Raseck.

História - Mesclando música e poesia, e lembrando das raízes culturais do Sertão do Pajeú, o trio As Severinas surgiu com o intuito de difundir, com musicalidade, a força feminina, mantendo a tradição do forró pé-de-serra, dando nova roupagem a cantigas, xotes e arrasta-pés. Formado por três jovens mulheres, o grupo traz Isabelly Moreira, no vocal, triângulo e declamações, Monique D'Ângelo, no vocal, sanfona e declamações, e Marília Correia, na zabumba. As Severinas se apresentam desde maio de 2011.

Em 2012, lançaram o primeiro CD, que leva o nome do grupo, com composições autorais e versões de músicas de Chico César e Vander Lee que conquistaram o público. Em 2016, o grupo lançou o seu segundo trabalho, intitulado "Tribos", com faixas autorais, parcerias e releituras de canções de artistas que influenciaram a formação musical do grupo.

Em 2021, quando As Severinas completaram 10 anos de estrada, foi lançado um documentário registrando a obra e a história do grupo, junto com um EP, denominado "Xamego de Fulô". O trabalho foi todo composto por músicas inéditas, entre canções autorais e parcerias. Houve participações especiais que evidenciaram a relevância artística e cultural adquirida pela banda: Anastácia, Assisão, Quinteto Violado e Thais Nogueira, além da participação da percussionista Negadeza, foram alguns dos nomes presentes no trabalho.

Neste ano, As Severinas se apresentaram no Teatro do Parque, em Recife, e foram premiadas como "Destaque Trajetória em Música", pelo show "Xamego de Fulô" com o Prêmio JGE Copergás de Teatro, Dança, Circo e Música de Pernambuco 2022, realizado pelo 28º Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas e Música de Pernambuco, edição 2022. Além disso, lançaram o clipe "Não Tento Mais" em março e o DVD junto ao álbum "Forró das Severinas" em junho.

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CREDIBILIDIADE, DESINFORMAÇÃO E ISENÇÃO: COMO A INTERNET MUDOU O JORNALISMO

O surgimento da internet mudou muitos aspectos da vida e hábitos pessoais e uma das principais mudanças nos últimos anos foi em relação ao consumo de informação. O que antes era acessível apenas em rádio, televisão, jornal impresso e revista, agora fica tudo à disposição dos cliques no celular. E se a informação era criada em redações jornalísticas por profissionais da área, hoje, qualquer pessoa pode divulgar e criar qualquer tipo de informação. Esse cenário trouxe junto a questão da credibilidade, principalmente depois do fenômeno das fake news.

Segundo Rodrigo Ratier, jornalista e professor de jornalismo digital da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, a crise de credibilidade da informação na era digital põe em risco a própria existência da profissão de jornalista. “Ela, a crise, dialoga um pouco com a ideia de que vivemos num contexto de pós-verdade, em que as emoções importam mais do que a razão, em que os fatos enfim perdem um pouco da força que eles tinham e que o monopólio sobre o relato do real, que antes era atribuído ao jornalista, está difuso”. 

Para resolver esse dilema, segundo a jornalista e professora da ECA, Daniela Ramos, o jornalismo deve assumir um papel de educador, ajudando as pessoas quanto ao consumo da informação correta. Isso faz com que o jornalismo seja capaz de combater a desinformação. “Nesse sentido o jornalismo brasileiro tem uma grande missão, da sociedade como um todo se sentir representada por ele.” 

Elizabeth Saad, também jornalista e professora de comunicação digital da ECA,  destaca que o jornalismo se encontra em um processo muito grande de desinformação graças ao cenário polarizado, em que “existe uma correlação entre o conteúdo informativo produzido com a linha editorial para qual o profissional trabalha”. De acordo com a professora, a linha editorial se posiciona dependendo da empresa e dos proprietários. “É possível que uma determinada marca informativa, não o profissional em si, mas a marca, se posicione num espectro polarizado e o jornalista tem que produzir a matéria conforme esta linha editorial, o que não implica que ele seja alguém que está produzindo desinformação”. 

Elizabeth enfatiza que o jornalismo não pode se deixar contaminar por fake news, de forma a checar todas as informações antes das publicações. Esse procedimento básico para o jornalista deve ser respeitado para que o próprio jornalismo seja diferenciado dos veículos disseminadores de fake news. Para lutar contra isso, é preciso enfatizar a questão da ética jornalística já dentro da universidade. 

Transformações tecnológicas-Apesar de pôr em xeque a credibilidade da informação, a tecnologia transformou o jornalismo e entre suas novas características está a velocidade com que a informação é gerada e transmitida ao consumidor da notícia. O Superintendente de Comunicação Social da USP e também professor da ECA, Eugênio Bucci, em seu livro A superindústria do imaginário: como o capital transformou o olhar em trabalho e se apropriou de tudo que é visível (Autêntica, 2021), explica que a mudança criou a economia da atenção, isto é, na sociedade transformada pela tecnologia o jornalismo precisa atrair a atenção do espectador, competindo não somente com outros veículos, mas também com redes sociais como o TikTok, Facebook e Instagram e com streamings como a Netflix, HBO, Amazon, etc.

E mesmo antes do surgimento da internet, a tecnologia sempre esteve presente no jornalismo, como lembra o jornalista e professor Ratier. “A gente pode voltar aos primórdios e pensar na prensa de Gutenberg, no século XV, que foi sendo evoluída ao longo dos tempos para aumentar a velocidade de impressão, contemplar a impressão em cores, e assim por diante. Da mesma forma, outras tecnologias foram sendo incorporadas aos sistemas produtivos. O próprio telefone, por exemplo, vai se transformar em um instrumento importante para a transformação das práticas jornalísticas possibilitando as entrevistas à distância e assim por diante”.

Para Ratier, essas transformações tecnológicas proporcionaram o enxugamento das redações. “A gente observa sobretudo uma diminuição muito relevante no número de jornalistas necessários para colocar um programa de TV no ar, para pôr um site para funcionar, em comparação, por exemplo, a veículos impressos se a gente voltar 30 anos no tempo”.

Segundo o jornalista, a diminuição das redações veio acompanhada de um jornalismo multimídia. Ser capaz de produzir e editar vídeos, textos e podcasts, além de articular isso em produtos multimídia, se tornou essencial para garantir um espaço no mercado de trabalho. Ratier conta que além da produção jornalística em si, o profissional deve estar apto a fazer várias atividades. “Fazer a gestão de equipes que consiga controlar o orçamento para produção, que saiba transitar não apenas pensando no contexto do jornalismo digital, entre os sites, mas também nas mídias sociais, entendendo como fluem os canais de divulgação da informação”.

Isenção e precisão-Na construção da produção jornalística o profissional precisa tomar muitas decisões que, querendo ou não, impactam na interpretação do leitor, ouvinte ou espectador. Na faculdade, um dos primeiros aprendizados é de que o jornalista não é imparcial porque imprime no texto automaticamente sua carga de conhecimentos e vivências.

Para Elizabeth Saad, mesmo que o jornalista em si não seja imparcial, ele deve sempre buscar a isenção. A professora explica que trabalhos jornalísticos sempre vão envolver a tríade: precisão, veracidade e isenção. “Em qualquer matéria jornalística que se faça, tem que ter a busca da verdade, a isenção, justamente ouvindo múltiplas vozes envolvidas no acontecimento, e a precisão, ou seja, a checagem do conteúdo levantado”.

Texto: Laura Oliveira-jornal da usp

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LUIZ GALVÃO, FUNDADOR DOS NOVOS BAIANOS, MORRE AOS 87 ANOS

O músico e poeta Luiz Galvão, fundador do grupo Novos Baianos, morreu na noite de sábado (22), aos 87 anos, em São Paulo.

A causa da morte não foi divulgada, mas Galvão estava internado desde o dia 16 de setembro, quando deu entrada na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com suspeita de hemorragia gastrointestinal. Após complicações, ele foi internado no Instituto do Coração, também na capital paulista, onde morreu.

A morte foi confirmada pela esposa do artista. Ainda não há informações sobre o sepultamento.

Galvão é fundador do grupo Novos Baianos, 1968, que marcou a música brasileira. Com o grupo, lançou o álbum “Acabou chorare”, que juntava samba, rock, bossa nova, frevo, choro e baião. O disco trazia faixas como “Preta pretinha”, “Mistério do planeta”, “A menina dança” e “Besta é tu”.

A coletânea foi eleita pela revista Rolling Stone como a melhor da história da música brasileira, em outubro de 2007.

Luiz Dias Galvão nasceu em Juazeiro, no norte da Bahia, em 22 de julho de 1937. Bom de letras, e bom de bola, Galvão jogou futebol profissional em Juazeiro e chegou a ser campeão baiano de futebol de salão.

Seguiu os estudos, ainda no norte da Bahia, onde se formou e trabalhou por seis anos com agronomia, até deixar a atividade de lado e decidir viver de sua arte.

Anos antes, ainda adolescente em Juazeiro, Luiz Galvão conheceu João Gilberto. A amizade mudaria para sempre a história da música brasileira.

Anos depois, uma nova amizade culminaria em um dos maiores grupos da história da música popular brasileira, os Novos Baianos. Galvão se reuniu, em Salvador, com outros dois jovens saídos de cidades do interior da Bahia. De Santa Inês, no sul da Bahia, vinha Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira, o Paulinho Boca de Cantor; e de Ituaçu, no sudoeste do estado, vinha Antônio Carlos Moraes Pires, o Moraes Moreira.

Em 1968, eles criaram o espetáculo que deu origem aos Novos Baianos, Desembarque dos Bichos depois do Dilúvio Universal.

O trio ainda ganharia os reforços Baby do Brasil e Pepeu Gomes. Além de nomes como Jorge Gomes, Dadi, Charles Negrita, Baixinho, Bola Morais e Gato Félix.

Em 1970, o grupo lançou seu disco de estreia, “Ferro na boneca”. Em seguida, foram morar em um sítio em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde seguiam a cultura hippie dos EUA e da Europa em plena ditadura militar brasileira.

A grande obra viria após uma visita de João Gilberto à casa em que eles moravam juntos, já no Rio de Janeiro. Era 1972, quando o grupo lança o álbum “Acabou chorare”, que consagrou os Novos Baianos. O trabalho juntava samba, rock, bossa nova, frevo, choro e baião.

Com a regravação de “Brasil pandeiro”, de Assis Valente, além de “Preta pretinha”, “Mistério do planeta”, “A menina dança”, “Besta é tu” e a faixa título, todas de coautoria de Moraes Moreira.

O disco foi eleito pela revista Rolling Stone como o melhor da história da música brasileira, em outubro de 2007. No total, foram oito discos de estúdio. Há ainda dois álbuns ao vivo, de reuniões do grupo, um de 1997 e outro de 2017.

Luiz Galvão escreveu a maioria das canções gravadas pelo grupo, e musicadas por Moraes Moreira. Entre suas composições estão "Acabou Chorare", "Preta Pretinha" e "Mistério do Planeta".

Aém da vida musica, o artista também investiu na literatura e deixou registros da história do grupi que marcou a história da música no Brasil. Galvão é autor dos livros: "Novos Baianos: A história do grupo que mudou a MPB"; "João Gilberto: a bossa" e "Anos 80: A história de uma amizade na década perdida". O juazeirense ainda lançou o disco Galvão, A Palavra dos Novos Baianos.

O poeta sai de cena deixando como legados a paixão pela arte, a poesia, as letras marcantes, e o bom humor. Além de uma defesa intransigente do seu povo e da sua terra.

“O nordestino é um lutador, um vencedor. E Juazeiro é uma cidade brincalhona, de muito humor, é ‘cheguei’. Juazeiro é o cara”, gostava de dizer em entrevistas.

Apesar da saúde frágil com que viveu nos últimos anos, Luiz Galvão se manteve sempre em estado de poesia. Ao lado dos filhos e da esposa Janete, acompanhando o Vasco, time do coração, ou nos mínimos detalhes, Galvão fez valer os versos que deixou eternizados. "Apesar de tudo, a vida é boa e ainda é bela".

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PROFESSOR JOSÉ URBANO: VIVA O MESTRE VITALINO

O Alto do Moura é, desde sempre, o bairro sagrado da cultura de Caruaru. Nasceu como uma comunidade rural, e hoje está integrado a paisagem urbana da cidade, pelos bairros que foram nascendo no seu entorno, as vias de acesso e principalmente pelo fator  cultural, espaço rural escolhido pelo Mestre Vitalino para viver, constituir família e de onde foi para a eternidade, nos deixando um legado cultural grandioso.   Como expressão cultural, Vitalino se tornou mestre, a matriz da cultura do barro figurativo, reconhecido pelo Brasil e mundo afora, há 75 anos passados.

A grandeza desse personagem também está representada pela escola de arte popular que ele, talvez sem ter consciência disso, formatou e que perdura até os nossos dias.  

Foram discípulos de Vitalino artesãos da grandeza de Manuel Eudócio, que tem peças expostas na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro (eu fui lá conferir em 2019) Zé Caboclo, Luiz Antonio, D. Ernestina (primeira mulher artesã de Caruaru) e tantos outros que tem descendestes que vivem exclusivamente da arte do barro na cidade.   

Em 1947 a coleção de Vitalino, com temas 100% nordestinos, foi levada para uma exposição no Rio de Janeiro, então capital federal, e atraiu os olhares do país para a nossa arte popular.   Nos anos 50 algumas peças foram levadas para outra exposição na Suíça, e foi um sucesso.   Vitalino tornou-se nosso embaixador cultural de Caruaru.  

Outro artesão migrou para o Alto do Moura e criou um novo estilo do artesanato em barro, e hoje tem um importante memorial, o Mestre Galdino, que fez um trabalho numa simbiose entre humano, animais e seres  de mundos imaginários.

A arte do Alto do Moura é 75% exportada para todos os Estados do Brasil, movimenta a economia com muita força. Atualmente, mais de 600 famílias vivem da arte do barro, que tem recebido toda atenção das administrações públicas, nos quesitos de urbanização, com escola, Casa da Mulher Artesã, Associação dos Moradores, asfalto, iluminação, segurança pública e no período junino, grande pólo onde se curte o verdadeiro forró, criado por Luiz Gonzaga, nosso pernambucano do século.

Viva Vitalino, viva a cultura Nordestina

Professor José Urbano

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FALTA DE ÁGUA E POLÍTICAS PÚBLICAS PROVOCAM DESESPERO AOS AGRICULTORES DE JUAZEIRO E PETROLINA

Nos últimos meses Juazeiro e Petrolina, emitiram alertas sobre a baixa umidade do ar. A massa de ar seco e quente que está na região, além de fazer com que as temperaturas atinjam a marca dos 36ºC nos próximos dias, deve fazer com que a umidade varie entre 12% e 20%, isto representa uma temperatura igual aos dos desertos.

Mais uma seca avassaladora mostra o drama da falta de política publica que assola a zona rural de Juazeiro e Petrolina. A falta de água provoca desespero em diversos municípios do norte da Bahia e região do Vale do São Francisco.

O BLOG NEY VITAL colheu diversos depoimentos de moradores da região. O agricultor Martonio Ribeiro Marins mora no Sítio Vassoura. "São mais de vinte anos e a cada dia que passa á dificuldade de água aumenta, bebemos água de carro pipa e mesmo assim com muita dificuldade não só aqui mas na população em geral que moram aqui perto estamos todos com a cisternas secas carregando água de muito longe em baldes, na minha casa moram seis pessoas e dessas seis pessoas quatro crianças e há mais de anos prometem encanar água pra cá e estamos sempre na espera mas nunca chegou por isso estou aqui fazendo esse relato por que estamos necessitando muito".

Outro desabafo é de Francisco de Assis Delmondes Baia, lider comunitário, presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Barra de São Pedro, Ouricuri, divisa com Petrolina, Pernambuco. "Temos conversando com agricultores de Petrolina, Ouricuri e região. A situação é dramática. Falta água para abastecer as casas e também para os animais", diz Francisco ressaltando que a situação torna-se mais dramática quando na residência moram mais crianças e idosos. "Falta de água maltrata muito", desabafa.

Em Petrolina, no Povoado de Cristalia, Almas, Caititu, Simpatia a situação é de calamidade. O coordenador de Comunicação e relações sociais do Conselho Popular de Petrolina e da Bacia do São Francisco, Rosalvo Antonio, revela que "por causa da estiagem, rios e açudes secaram em vários pontos e a população depende de carros-pipa para fazer atividades básicas, como tomar banho e cozinhar".

Ele avalia que "é inacreditável ainda ter comunidades sem água e que vivem próximo ao Rio São Francisco e o mais dramático próximo a adutoras".  "Aqui em Petrolina toda a região do Sequeiro está sofrendo, mesmo aquelas que tem cisternas e ou barragens. É preciso uma antecipação dos Governos ações concretas", diz Rosalvo.

Segundo o BLOG NEY VITAL obteve informações em algumas localidades de Juazeiro e Petrolina os caminhões-pipa e levam água para comunidades da zona rural. Mesmo assim, a água que chega na casa dos moradores é insuficiente para cuidar de todas as tarefas de casa e do campo.

No Povoado de Pontal, localizado próximo ao Distrito de Itamotinga, a agricultora conhecida por Lela Bezerra revela "que animais estão morrendo com sede, não tem água para os animais". Fotos registram bodes e carneiros "já caídos no chão".

"Peço socorro e a quem de direito possa ajudar. A falta de água torna difícil viver no semiárido. Nossa região está mendigando por água. Somos mais de 150 famílias e precisamos de água. A operação carro pipa aqui foi cortada. Estamos sem nenhuma assistência. Precisamos que o poder público traga água para a região", desabafou Lela.

No próximo mês de novembro, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) não chove na região.

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NÃO SE PODE MAIS ILUDIR POIS ESTÁ EM JOGO É A VIDA NO PLANETA TERRA

De 6 a 15 de novembro próximo será realizada a 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, conhecida como Conferência do Clima (COP) da ONU. Neste ano será no Egito, país que tem semelhanças no clima e vegetação com o Nordeste brasileiro. Ambos sofrem com a escassez de chuvas. 

A vegetação desértica predominante no Egito, tem do lado brasileiro uma correspondência, a de possuir uma das maiores áreas do mundo suscetíveis à desertificação, com extensão de 1,3 milhões de km², que abriga uma população de 31 milhões de pessoas. As áreas desertificadas no Brasil já cobrem uma superfície em torno de 230 mil km2, praticamente o dobro do tamanho da Inglaterra.

O bioma Caatinga, predominante no Semiárido brasileiro, é o quarto maior bioma do Brasil, correspondendo a 11% do território nacional, mas que já perdeu 53 % da cobertura original. Segundo estudos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, é um dos biomas mais vulneráveis às mudanças climáticas, cujas consequências dramáticas já estão se fazendo notar em todo Semiárido.

Feitas as comparações, a COP27 tem como objetivo debater metas e ações para o enfrentamento das mudanças climáticas, reunindo representantes governamentais e não governamentais de diversos países. As grandes corporações com interesses em petróleo, gás, carvão estarão também presentes, atuando como sempre fizeram em outras reuniões do gênero, na direção de dificultar, embargar os acordos necessários para a redução do uso dos combustíveis fósseis (petróleo e derivados, gás natural e carvão mineral) na matriz energética mundial.

Nestes quase 30 anos de COP, as políticas adotadas foram insuficientes para reverter as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera terrestre, nem encontrar soluções eficazes e estratégicas para a atual situação de aquecimento global, que coloca em risco todo o Planeta. Assim, desastres climáticos em todos os continentes se sucedem.

Mesmo com os acordos e promessas, realizados no âmbito do mercado, para a redução das emissões de gases, constata-se, ano a ano, recordes da temperatura média global do Planeta. A cada ano a Terra fica mais quente. Tal situação está relacionada ao aumento da concentração de GEE na atmosfera, majoritariamente pelo uso de combustíveis fósseis. O setor de energia é a fonte de cerca de ¾ das emissões mundiais dos gases de efeito estufa, e a transição para fontes renováveis de energia é inevitável.

Desde a Conferência RIO-92, porém, a ação dos “céticos do clima”, dos lobistas das corporações de petróleo, gás e carvão, conseguiram barrar os avanços e a velocidade necessária para evitar o agravamento desta situação alarmante que nos encontramos hoje. Existe uma grande semelhança nesta ação dos que são contrários à vida, com o que ocorreu com o poderoso lobby da indústria tabagista no âmbito da Organização Mundial de Saúde (OMS). Retardaram e criaram obstáculos para medidas que poderiam salvar milhares de vidas. Só depois que não foi mais autorizada a participação destes promotores da morte, é que decisões antitabagistas foram tomadas com o rigor devido.

Importantes e decisivos resultados são apresentados pela curva de Keeling, base de dados referencial para toda discussão sobre o efeito estufa e o aquecimento global. Este gráfico mostra o acúmulo de CO2 na atmosfera, tendo como base medições contínuas desde 1958 até os dias atuais, pelo Observatório Mauna Loa, na ilha do Havaí. E o que se tem verificado ao longo do tempo é o crescimento linear da concentração de CO2. No ano de 2021 a concentração já estava em torno de 420 partes por milhão (PPM), enquanto nos anos 60 do século passado, era de 317 partes por milhão de CO2.

Assim, cada vez mais, o debate sobre as mudanças climáticas coloca de um lado as corporações gananciosas em defesa de seus interesses econômicos, que lutam contra a redução de emissões de gases estufa; do outro lado os movimentos sociais que lutam pela vida, por um planeta justo, ético, plural e que proteja os ecossistemas naturais. A luta é desigual. Todavia, a consciência coletiva transformada em prática atuante poderá pender a balança para os interesses públicos e da natureza envolvidos nesta questão que é de toda civilização.

A transição ecológica-energética necessária para conter as emissões de gases de efeito estufa não significa apenas passar de uma sociedade baseada nas fontes de energias fósseis para uma com fontes renováveis. É uma oportunidade para um debate urgente e abrangente sobre o significado de viver em uma sociedade capitalista, consumista, predatória e militarista, cujo pilar de sustentação são os combustíveis fósseis.

Existe muita desilusão e descrédito em relação à governança mundial no enfrentamento das mudanças climáticas. Os fatos mostram que os objetivos anunciados pelas COPs, e os resultados alcançados têm a ver com este histórico de insucessos. Para a COP27 os resultados já previsíveis e com certeza insuficientes para enfrentar este fenômeno provocado pelas atividades humanas.

O engajamento nesta luta, que não é só dos ambientalistas, mas de todos os homens e mulheres de boa vontade, é fundamental para a sobrevivência da humanidade que está ameaçada e exige a realização de profundas mudanças no atual modelo civilizatório. O que implica mudar o modelo insustentável de produção e consumo, e o próprio modo de vida das pessoas.

O envolvimento e mobilização cada vez maior da sociedade civil organizada é essencial e mesmo fundamental para responder sobre: Qual mundo queremos? Qual é o tipo de sociedade almejada?

Aqui ressalto o papel das mulheres como participantes ativas nas escolhas e decisões a serem tomadas. O compromisso, devido à própria condição biológica, de gerar e bem cuidar da vida, é a verdadeira condição fundamental para preservar e conservar o meio ambiente.

Em breve mensagem aos participantes da 27º COP, diria: ousem nas propostas, definam quem pagará a conta, estipulem metas globais e de cada país, e que compromissos assumidos sejam cumpridos. Que os maiores poluidores tenham maiores responsabilidades. E que a participação dos que defendem os combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) não seja mais permitida no âmbito das Conferências do Clima. É um contrassenso esta participação.

Em todo este processo cabe ressaltar o papel vital da sociedade civil, em denunciar a falta de efetividade no combate às emissões de gases de efeito estufa, o que exige outra postura dos governantes no rumo de limitar o uso de combustíveis fósseis, e substituí-los por fontes de energia renováveis sem deixar de discutir e minimizar seus impactos socioambientais, aumentar a eficiência energética dos processos. Modelos sustentáveis para a extração de minérios, criação de gado, monoculturas também deve fazer parte da pauta, pois tais atividades muito contribuem para a deterioração das condições climáticas.

Não se pode mais iludir, nem tergiversar, pois o que está em jogo é a vida no planeta Terra.

Heitor Scalambrini Costa-Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Publicado originalmente no EcoDebate

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LER É CONSTRUIR SENTIDOS E ALCANÇAR VERDADES QUE AJUDEM A COMPREENDER MELHOR O MUNDO

Por mais acaciano que pareça, “a arte da leitura”, diz Nelson Rodrigues, “é a releitura”. Nunca tive dúvidas a respeito. Mesmo que a primeira leitura, sobretudo de certas obras, nos envolva num turbilhão de surpresas, de emoções inimagináveis e de novas descobertas no campo da percepção e do conhecimento, recuperar e reviver esses momentos em dimensão mais profunda só nos é permitido pelo de ato de reler.

Pode parecer paradoxal: se leio um livro apenas uma vez, na verdade não o li. Se ler é construir sentidos e alcançar verdades que nos ajudem a compreender melhor o mundo e seus enigmas irredutíveis, é porque ler é reler, e reler, e reler… Sempre na predisposição de uma prática dialógica que nunca se esgota. Como se sabe, os grandes autores e as grandes obras abordam questões que são permanentes e que nos desafiam para além das épocas e das circunstâncias históricas e individuais.

Por isso não tenho receio de usar o termo “conviver” em lugar de “ler”, pois a convivência pressupõe a continuidade da ação, a partilha e o constante contato com os sinais mágicos, necessários e lúdicos da releitura.

Há autores que não podem ser apenas lidos. Lidos assim, apenas uma única vez. Exigem a releitura, isto é, uma convivência, uma intimidade, que tende a se intensificar com o passar dos dias e dos anos, como se fossem velhos amigos com os quais proseamos nas nossas horas de sossego, silêncio e meditação.

Vou dar três exemplos que, pelo menos para mim, integram essa seleta estante dos que devem ser lidos e relidos sempre, sob pena de perdermos o que existe de mais refinado e de mais precioso no sigilo melódico e semântico de suas frases e de seus versos. Vou ficar com os de casa e me ater a um ficcionista, a um ensaísta e a um poeta que me parecem exemplares dessa idiossincrasia literária e livresca.

Machado de Assis é um desses. É preciso relê-lo sistematicamente para podermos apreciar a sutileza de seu estilo e captar bem a obliquidade leviana de seu olhar sobre as coisas, olhar ao mesmo tempo tocado de humor e melancolia. Um romance, por exemplo, como Dom Casmurro, ou um conto como “Uns braços”, não se revelam, inteiros, na primeira nem na segunda nem na terceira leituras. Creio mesmo que, a cada leitura que se faça ao longo do tempo, algo de novo se descobre. São textos tão abertos em sua significação, que novas e múltiplas leituras nunca os preencherão, restando sempre um halo de mistério a ser saboreado.

O ensaísta, que também é poeta e memorialista, é o gaúcho Augusto Meyer. Algumas de suas páginas de crítica, sobretudo as reunidas em À sombra da estante, A chave e a máscara e A forma secreta, demonstram a densidade e a argúcia analíticas de um leitor criativo, presa da beleza estética e da autonomia da linguagem literária.

Augusto dos Anjos é o nosso poeta. O Eu é como a Bíblia: passa-se a vida inteira lendo-se e relendo-se suas páginas. Cada verso é um versículo; cada estrofe, uma imagem sagrada; cada poema, um Eclesiastes, um Apocalipse. Visionário, profético, sobretudo monumento estético, objeto material e artístico, coisa mental e linguagem expressiva. Relê-lo é fundamental!

Hildeberto Barbosa Filho-Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: hildebertopoesia@gmail.com

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