DOM HELDER CÂMARA: O RÁDIO E A PALAVRA A SERVIÇO DA LIBERDADE

Meus queridos amigos”. Era com essa frase que Dom Helder Camara abria o programa "Um olhar sobre a Cidade", por ele apresentado de segunda-feira a sábado, entre os anos de 1974 e 1983, na Rádio Olinda, emissora católica sediada em Pernambuco. 

A frase foi utilizada para batizar um livro que reúne 200 das 2.549 crônicas lidas por Dom Helder durante os nove anos que durou o programa. Fui um menino adolescente que se tornou jonalista por ser apaixonado pelas ondas sonoras do Rádio.

O Brasil não cuida da memória histórica. Em 7 de fevereiro de 1909, nascia em Fortaleza um dos maiores líderes religiosos que o mundo já viu. Hélder Pessoa Câmara, se vivo estivesse, completaria 113 anos nesta segunda (07) espalhando suas sementes da justiça e do amor em prol de um mundo melhor.

Dom Helder Camara, o arcebispo de Olinda e Recife fez em vida uma opção pela busca da justiça social. Para os interessados nesta leitura informamos que parte das crônicas integra o acervo disponível no www.cepe.com.br,  da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

O programa de Dom Helder iniciava sempre às 6h da manhã. E com a frase que se tornou bordão: “Meus queridos amigos”. 

O livro dos textos radiofônicos continuam atuais. A jornalista Tereza Rozowykwiat conhece o mundo dos textos radiofônicos de dom Helder. Por quatro anos, de 1978 a 1981, ela fez a cobertura jornalística da Arquidiocese de Olinda e Recife, na condição de repórter do Diario de Pernambuco. A jornalista organizou o livro Meus queridos amigos: as crônicas de Dom Helder Camara. 

Para o jornal Diário de Pernambuco, Jailson da Paz escreveu que a publicação é um aperitivo para se conhecer o exercício quase diário de dom Helder de escrever para Um olhar sobre a cidade. 

A título de lembrete, o programa de rádio ia ao ar das segundas-feiras aos sábados. Para Tereza, Um olhar sobre a cidade foi a maneira encontrada por dom Helder para se comunicar com a população. Ela ressalta, contudo, que “por meio do programa ele não externou todos os seus pensamentos e opiniões, temendo que esse pequeno espaço que lhe restava na mídia fosse confiscado”.

Nem tudo foi dito pelo sacerdote nas crônicas radiofônicas, mas o dito fala por si. Nos textos, dom Helder fala de si, dos seus sentimentos. Trata até de anedotas sobre a maneira com que outros o enxergavam. Dom Helder era considerado por muitos como vaidoso e chegado à propaganda. 

A anedota está na crônica Cadê a imprensa?, levada ao ar em 25 de janeiro de 1979, Nela, o arcebispo teria morrido e subido ao céu, mas lá, quando chamado para entrar, teria ficado reticente e perguntou a São Pedro: “Entro assim, sem rádio, sem TV?”. Dom Helder considerou a anedota  boa, inteligente e um aviso sério. “Mas se eu quiser ver tal qual me veem os olhos de irmãos meus, tenho que reconhecer que, parecendo humilde, considero fundamental a repercussão, a publicidade...”. E conclui que todos ganhariam em verificar, de vez em quando, como estamos sendo vistos pelos olhos dos que nos rodeiam.

Dom Helder tinha a noção exata do que dizia. Ainda em 1978, no programa do dia 29 de agosto, ele tocou no assunto tortura. E ao perguntar de quais sementes o mundo precisava, ele respondia que sementes do amor, justificando a resposta no excesso de ódio e violência existente na sociedade.

“Quando cessarão os sequestros, as fuziladas, as vinganças? Quando cessarão as torturas, inclusive a de mandar os contestadores, como doentes, para hospitais de loucos, e de onde as pessoas acabam saindo feridas, para sempre, em seus cérebros”. Como homem religioso, ele termina a crônica falando de fé, afirmando que para haver liberdade e igualdade era necessário haver a verdadeira fraternidade. Crenças à parte, dom Helder continua atual e leitura indispensável ao país.

Crônicas como Um olhar sobre a cidade mostram Dom Helder dizendo o que devia ser dito, sem abrir mão de uma certa cautela. Afinal, ele temia que o pouco espaço que tinha na mídia lhe fosse confiscado

TRECHOS CRÔNICAS:

Corações que voam-26 de setembro de 1974-Há corações que sobem a dois, ajudando-se, estimulando-se mutuamente… Há corações tão vazios, tão sem amor, que flutuam como penas ao vento: não chegam a subir, porque qualquer sopro o arrasta para longe… Já viram uma esponja que, de tanto apagar quadro-negro, cheio de giz, fica impressionantemente seca?… Há corações assim… Há corações que viraram uma pedra de gelo. Outros, simplesmente uma pedra. Outros se tornaram metálicos, de tanto lidar com dinheiro...

Opção pelos pobres-8 de outubro de 1976. Opção pelos pobres é aceitar sofrer por eles, pela defesa dos seus direitos. Opção pelos pobres é não admitir a miséria que é insulto ao Criador e Pai.

Aos omissos, medrosos e covardes-5 de abril de 1977- Fizestes escolas, Pilatos! Tens mais discípulos, através dos tempos e dos lugares, do que tu mesmo possas imaginar. Há pessoas bastante inteligentes para entender a situação e saber com que está a razão. Mas, se os grandes, os poderosos, aqueles que mandam, decidem dizer que é azul, tem que ser azul. Lavar as mãos, querendo fazer crer que não tem culpa, moda lançada de ter coragem e fibra. Pilatos continua a ser imitado.

Transfusão de sentimentos-5 de fevereiro de 1979

Vendo o mendigo no chão, senti, em dois tempos,

que ele morria de vergonha

de ter que estender

a mão a quem passava.

Era mais para jovem do que maduro. Não carregava sinal de doença ou defeito físico. Com certeza, não encontrou trabalhou, cansou de tanto rodar pedindo emprego. Mas ninguém o acha com cara de mendigo. E ele tem fome. Maior do que a fome só a vergonha de ter que estender a mão a quem passa.

O chão e as estrelas-11 de outubro de 1980-Nem tenho dúvida. Quem não entende o chão humilde e as pedras duras se engana pensando que entende as estrelas…

Caridade-13 de fevereiro de  1982:

Se eu morar numa cidade grande, mas desconhecer

os problemas das pessoas que nela vivem, e fugir

para as férias no Sul e até para a América e a Europa,

e nada fizer pela promoção

do homem, não sou

cristão… Se eu tiver a

melhor casa de minha rua,

e o melhor carro e não

souber que muita gente jamais terá um lar, e vai sempre andar a pé, não

sei de nada…

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PAPA FRANCISCO FAZ DEFESA DO MEIO AMBIENTE E LEMBRA MÚSICA DE ROBERTO CARLOS

Despejar plástico em cursos d'água é "criminoso" e tem que acabar se a humanidade quiser salvar o planeta para as gerações futuras, disse o papa Francisco em entrevista à televisão.

Em entrevista de uma hora ao Canal 3 da emissora estatal RAI, Francisco reiterou alguns dos principais temas de seu papado, condenando gastos excessivos em armamentos, defendendo os direitos dos imigrantes e condenando a rigidez ideológica dos conservadores na Igreja.

O papa, que tem feito da defesa do meio ambiente um pilar de seu pontificado, contou que pescadores italianos o procuraram e lhe disseram que encontraram muitas toneladas de plástico no Mar Adriático. Em outra vez que o papa os viu, disseram que haviam encontrado o dobro e se encarregaram de ajudar a limpar um pouco.

"Jogar plástico no mar é criminoso. Mata a biodiversidade, mata a Terra, mata tudo", afirmou.

Cuidar das gerações é um processo de educação em que precisamos nos engajar, acrescentou Francisco, citando uma música do cantor brasileiro Roberto Carlos em que um menino pergunta ao pai por que o rio não canta mais, e o pai responde que já não existe mais.

Questionado sobre seu gosto musical, o papa, que fez visita surpresa a uma loja de discos de Roma no mês passado, disse que gosta principalmente de música clássica, mas também de tango.

Em resposta a uma pergunta sobre guerra, Francisco afirmou: "Pensem nisso. Se parássemos de fabricar armas por um ano, poderíamos alimentar e educar o mundo inteiro. Nos acostumamos com as guerras. É difícil, mas é a verdade."

Quase 800 anos depois de um dos santos mais conhecidos da Igreja Católica, São Francisco de Assis, ter pregado o respeito e a proteção da natureza e do planeta, o tema da preservação ambiental virou um dos pilares de outro Francisco, o atual papa católico.

Para o teólogo e filósofo Leonardo Boff, "o Papa se deu conta de que os verdadeiros problemas de hoje não são os intra-eclesiais, são aqueles ligados ao futuro da vida, da Terra e de nossa civilização".

"Ele se conscientizou dessa mudança de foro, e a influência da reflexão latino-americana o ajudou nisso: a opção pelos pobres, pela justiça social e pela libertação deve incluir a Mãe Terra superexplorada por um sistema assassino de vidas humanas e vidas da natureza. É o capítulo mais avançado da teologia da libertação", destaca o teólogo em entrevista à ANSA.

Citando a encíclica ambiental Laudato Si' ("Louvado Seja"), publicada em 2015, Boff pontua que esse não é um documento que fala só da "ecologia verde", mas "vai muito mais além", com trechos que foram inclusive reafirmados na última encíclica de Jorge Bergoglio, a "Fratelli Tutti" ("Todos irmãos"), de 2020.

Os dois documentos têm profunda ligação com São Francisco de Assis: o título do primeiro é de uma das preces mais famosas do santo; o segundo foi lançado em Assis, em 4 de outubro, data em que a Igreja celebra São Francisco e lembra da irmandade entre as criaturas.

"Vai muito além, pois apresenta-se como uma ecologia integral que abarca o ambiental, o social, o político, o cultural, o cotidiano e o espiritual. Nela [na Laudato Si'], fica clara a sua preocupação e mensagem: 'o cuidado da Casa Comum'. A segunda, 'Fratelli tutti', radicaliza a questão: 'estamos no mesmo barco; ou nos salvamos todos ou ninguém se salva'", ressalta.

Para Boff, essa postura mais aberta aos assuntos de fora da Igreja Católica marca uma grande mudança em relação aos antecessores, os papas João Paulo II e Bento XVI, que se preocupavam "em primeiro lugar com a ortodoxia da fé, com doutrinas, sem uma verdadeira teologia da secularização".

"Por isso, ambos os papas procuravam esvaziar o valor inovador do Concílio Vaticano II. Francisco, ao contrário, quer uma Igreja em saída, voltada pra fora, sem muros, uma Igreja como um hospital de campanha que acolhe a todos indistintamente, religião ou ideologia. Dai sua preocupação principal é com aqueles que estão fora, excluídos dos benefícios de nossa cultura, e denuncia as causas que os fizeram pobres e que também empobrecem a Terra por uma selvagem exploração em nome de um crescimento ilimitado", diz o teólogo.

Já o engenheiro florestal brasileiro Virgilio Maurício Viana, recém-nomeado para a Pontifícia Academia de Ciências Sociais do Vaticano, reconhece que Francisco deu uma ênfase maior à questão ambiental, mas acredita que esse é um processo que já vinha sendo construído na Igreja Católica.

"Na verdade, a entrada da Igreja na discussão antecede a encíclica [Laudato si'[, antecede o Papa. No Brasil, as campanhas da fraternidade já abordavam isso. Mas preciso dizer que houve um aumento da ênfase. Talvez ela tenha subido de patamar, de importância, não é que começou agora", ressalta Viana.

O membro da Pontifícia Academia, porém, ressalta que Francisco pensa "de uma maneira grande, não apenas restrita à matriz católica, e sempre faz reuniões onde participam aiatolás, rabinos e anglicanos".

"Uma das coisas que o Papa cita é a interpretação do patriarca Bartolomeu sobre o [livro do] Gênesis. Ao invés de Deus ter dado ao homem o mandato de dominar a natureza, ele teria dado na verdade um mandato para cuidar da natureza. [A questão ambiental] Está sim no coração do Papa. Ele convoca a uma revolução ecológica", acrescenta Viana.

Boff também cita essa particularidade do discurso de Bergoglio, ressaltado no texto da "Laudato Si'".

"A catequese nunca incluiu a preocupação pela Casa Comum, nunca enfatizou nossa missão que está no Genesis, no capitulo 2, de 'guardar e cuidar do Jardim do Éden', quer dizer, da Terra viva.

O que predomina é uma visão doutrinária, voltada para dentro, e não uma visão atualizada e pastoral voltada para fora e sendo sensível aos problemas mais graves - que são os problemas das grandes maiorias empobrecidas e do planeta superexplorado pela voracidade de um sistema de morte", pontua Boff.

Questionado se acredita que essa visão mais ampla e em prol do meio ambiente pode "desaparecer" quando Francisco deixar o comando da Igreja, o teólogo diz que não vê essa possibilidade.

"Seria uma irresponsabilidade pastoral e teológica retornar à zona do conforto doutrinário anterior, alheio ao que ocorre no mundo", explica Boff, acrescentando que o argentino vai "inaugurar uma nova genealogia dos papas do assim chamado 'terceiro mundo'".

"Com as nomeação de cardeais que já fez, [Francisco] vai garantir, numericamente, um papa que prolongará essa linha." Brasil - Tanto Viana como Boff ressaltam que a vivência de Bergoglio na América Latina também é parte da construção dessa visão ambiental.

O novo nomeado para a Pontifícia Academia lembra tanto das Campanhas da Fraternidade, realizadas anualmente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em todas as suas dioceses e que discutem temas relevantes e atuais da sociedade, como de um evento realizado em 2006 sobre religião, ciência e meio ambiente no Amazonas.

Já o teólogo destaca a mobilização feita pela Igreja Católica no país por conta das queimadas ocorridas na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado nos últimos anos.

"Ela se mostrou profeticamente ativa, especialmente os bispos da região amazônica, criticando o total abandono do governo central com os problemas dos povos indígenas e dos ribeirinhos.

Introduziu-se, particularmente depois do Sínodo Pan-Amazônico, toda uma pastoral ecológica. Ativas na consciência ecológica são as CEBs, as comunidades eclesiais de base, cerca de 80 mil em todo o país, que podem ser lidas também como comunidades ecológicas de base", pontuou Boff.
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FOME: NÚMERO DE PESSOAS QUE SOFREM COM INSEGURANÇA ALIMENTAR GRAVE SOBE

A rotina de ter que negar alimento a um filho é dura e angustiante. Diariamente, milhões de brasileiros lutam contra a fome, que vem crescendo e atingindo mais famílias. O fantasma da miséria passa, a cada dia, a assombrar mais regiões. 

Com a voz embargada, Vânia Santos, de 38 anos, relata o drama de nem sempre ter o que colocar na mesa para os três filhos. "A insegurança é muito grande. O sentimento de não ter o que comer na mesa é grande e dói demais. Eu já cheguei até a chorar quando a gente vê o filho da gente pedindo o que comer e tem hora que não tem. É difícil. Não é fácil, não", conta.

Em meio à pandemia da covid-19, o Brasil se viu frente a frente com outra epidemia: a da fome. Nos últimos dois anos, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave saltou de 10,3 milhões para 19,1 milhões. Nesse período, quase 9 milhões de brasileiros e brasileiras passaram a ter a experiência da fome em seu dia a dia.

Hoje, mais da metade da população brasileira está nessa situação, nos mais variados níveis: leve, moderado ou grave. Como no caso de Vânia, a insegurança alimentar grave afeta 9% da população. Os dados são do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), como parte do projeto VigiSAN.

A fome no Brasil é um problema histórico, mas houve um momento em que o país chegou a efetivamente combatê-la. Entre 2004 e 2013, os resultados da estratégia Fome Zero aliados a políticas públicas de combate à pobreza e à miséria se tornaram visíveis. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2004, 2009 e 2013, revelou uma significativa redução da insegurança alimentar na população brasileira. Em 2013, a parcela da população em situação de fome havia caído para 4,2% — o nível mais baixo até então.

Isso fez com que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura finalmente excluísse o Brasil do Mapa da Fome que divulgava periodicamente. Agora, esse sucesso brasileiro na garantia do direito humano à alimentação sumiu. Os números atuais são mais do que o dobro dos observados em 2009. O país voltou ao Mapa da Fome.

Roberto Bocaccio, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), explica que as políticas públicas falhas e a recessão econômica do país geram um deslancho da desigualdade social e, consequentemente, o aumento da pobreza. 

"É evidente que há uma unanimidade na ideia de que o Brasil precisa voltar a crescer. Precisamos crescer mais ou pelo menos acompanhar o ritmo de crescimento da economia mundial. O nosso crescimento tem sido baixo e insuficiente, porque há uma queda geral no nível de renda. A tendência é de que, em um país com um nível concentração de renda e distorções do padrão de renda, essas diferenças se acentuem. Ou seja, os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres ficam cada vez mais pobres", pontua.

IMPROVISO: A família de Vânia morou por anos em um ocupação em Brasília conhecida como "Cerradão", na Asa Norte. Ao lado de prédios, igrejas e instituições particulares, dezenas de famílias vivem em barracos feitos de lona e pedaços de madeira. A renda da maioria que vive ali vem da reciclagem de lixo. Carroças se enfileiram em uma garagem improvisada ao lado dos barracos e seus donos compartilham do medo de não conseguir vender a quantidade de material suficiente para pagar uma refeição.

A fome vem acompanhada de muitas outras carências. Cláudio, de 45 anos, e a mulher, Márcia Larissa, de 28 anos, também viveram no Cerradão por anos. Com o dinheiro da reciclagem, o casal de catadores sustenta filhos e alguns parentes. 

"A pandemia foi bem difícil. A questão de alimentação, roupa, aluguel, tudo ficou mais caro. Tivemos dificuldade para conseguir atendimento no hospital, quem não tem endereço fixo eles ficam mandando ir e voltar", disse Márcia. "As coisas subiram demais. Tudo muito caro. O arroz está um absurdo. Chegou uma época lá em casa que eu cozinhava o arroz, mas tinha que inteirar com cuscuz, que é mais barato. A gente tinha que comer regradinho, porque o arroz estava muito caro", complementa.

Já na família de Vânia, o acesso à saúde e a medicações é árduo. "A maior dificuldade que eu estou passando é com a saúde até agora. Sem poder comprar medicamento. O dinheiro não dá pra comprar medicamento. Não dá nem pra fazer as compras do mês", afirma.

Nesta situação, auxílios governamentais podem mudar a realidade desses brasileiros. Ambas as famílias de Vânia e Márcia dependem do Bolsa Família para conseguir comprar o mínimo em meios a tantas dificuldades. "Todos esses auxílios servem como um grande complemento para muita gente. No início do mês, quando recebe o Bolsa Família e com o dinheiro do nosso trabalho, a gente faz a feira, paga as contas e o dinheiro já acaba. Falta dinheiro para comprar uma fralda para uma criança, um absorvente para uma mulher, a carne, tudo isso que também é essencial", comenta Márcia.

Estas famílias também receberam o Auxílio Emergencial, no contexto da pandemia, e agora temem o que a falta desse dinheiro poderá causar. O presidente Jair Bolsonaro anunciou mudanças e lançou o Auxílio Brasil, novo benefício proposto para substituir o Bolsa Família. O Auxílio Brasil vai chegar a aproximadamente 10 milhões de pessoas, que são as que já faziam parte do Bolsa Família e também recebiam o Auxílio Emergencial. Esses brasileiros migrarão automaticamente para o novo benefício.

Outros 24 milhões de brasileiros foram automaticamente excluídos e há 5,3 milhões que estão no cadastro único e, mesmo tendo chance de serem chamados, não foram incluídos."O Auxílio Brasil é uma extrema inconsequência por parte do governo, Há uma incerteza na própria previsibilidade para as famílias. A gente tem recursos insuficientes e que não tem previsibilidade, então, as pessoas não podem nem se programar e ter uma estabilidade", destaca Paola Carvalho, diretora de Relações Institucionais da RBRB. (Fonte: Correio Braziliense)

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CUSCUZ É PREPARADO COM CASTANHA DE CAJU, LICURI E MEL POR PRETA GIL PELA CAMPANHA TENHO SEDE

O cuscuz, prato tão apreciado pelos nordestinos e ícone da culinária regional, caiu nas graças de Bela Gil em uma receita especial pensada para ressaltar aspectos sustentáveis no preparo. A culinarista, youtuber e apresentadora de TV apresentou, em seu canal no Youtube, Canal da Bela, uma receita de cuscuz preparado com ingredientes derivados da Agroecologia e feito com água de cisterna, uma das tecnologias sociais de convivência com o Semiárido.  

O preparo do cuscuz, com ingredientes do Semiárido, teve um motivo especial: divulgar o Programa Um Milhão de Cisternas, desenvolvido pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), e pedir apoio à campanha ‘Tenho Sede’, lançada em setembro de 2021 com o intuito de arrecadar recursos para construir um milhão de cisternas no Nordeste.

A receita contou com milho de cuscuz não transgênico da Paraíba, leite de castanha de caju com licuri e mel.  Todos os ingredientes utilizados foram cultivados por famílias agricultoras agroecológicas do Semiárido brasileiro. “Fico muito feliz de divulgar esse projeto e fazer com que ele continue porque ainda precisam ser construídas outras cisternas”, destaca Bela antes de iniciar o preparo do prato.

Durante a apresentação da receita, a chef contou com a presença de uma das vozes da campanha, a agricultora familiar Josefa de Albuquerque, conhecida como Dona Nena, da zona rural do município de Cumaru, no sertão pernambucano. Ela destaca as melhorias e impactos positivos que o uso da cisterna oferece para a segurança alimentar de sua família:  “Quando chove é muito bom porque, além de ter água na cisterna, nós plantamos um pé de coentro, uma fava, um jerimum. Dalí, tiramos para o consumo, para beber, para as plantinhas, para os animais”, explica.

Mulher de cabelos lisos com a metade superior presa usa óculos de armação preta e blusa de cor salmão sentada diante de uma mesa redonda com caneca e computador com uma adesivo de fundo preto e palavra AGROECOLOJA com a primeira parte em branco e LOJA em verde. Ao fundo, parede de azulejos de metrô brancos, cesta de palha com bananas, prateleira com garrafas de mel e cartaz da ASA

CISTERNAS: Ao todo 1,2 milhão de famílias foram beneficiadas com as cisternas construídas no Semiárido brasileiro dentro da meta estabelecida pela ASA em 1999. Deste total, mais de 80% das implementações foram de responsabilidade da rede. A iniciativa inspirou o Programa Cisternas, criado pelo Governo Federal, em 2003. A partir deste marco, a construção das cisternas se intensificou na região. Contudo, a  redução no volume de recursos para essas iniciativas tem retardado a chegada da tecnologia para mais de um milhão de famílias que ainda não têm acesso à água no Semiárido. 

A campanha ‘Tenho Sede’ segue mobilizando recursos para levar água ao Nordeste brasileiro. A iniciativa leva o nome da música composta pelos músicos Anastácia e Dominguinhos, que foi regravada e cantada por Gilberto Gil, com o intuito de chamar atenção para o problema da falta de acesso à água de consumo humano entre as famílias do Semiárido. 

No ar há quatro meses, a campanha já conta com doadores de todas as regiões do Brasil e segue agora para uma nova etapa que envolve as companhias de abastecimento e saneamento básico e integrantes do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste que vão oferecer a possibilidade de doação via conta de água. 

Serviço-Para doar e saber mais sobre a campanha acesse: tenhosede.org.br

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LUIZ GONZAGA, RELIGIOSIDADE NA MÚSICA E DOM HELDER CÂMARA

Se vivo estivesse o Arcebispo Emérito de Olinda e Recife, dom Helder câmara estaria completando, nesta segunda-feira, dia sete, 113 anos.

Para celebrar a data, o Instituto Dom Helder Câmara, realiza o evento de forma virtual nesta segunda, inclusive com celebrações de missas e lançamento de livros que podem ser acompanhados pelo canal do youtube dom Helder idhec.

sa branca em voo rasante,

Olhar de águia a ver distante,

Sente a dor que da terra brota,

De um chão inóspito em calor ardente.

Cercas longas a dividir a terra, 

Causa infame de prolongada seca,

Não fosse a asa branca em sinal plangente,

Luiz não teria ainda infante, 

Esgrimido um som feito em fole e diapasão, 

Batida de pé, nem baião.

Não,

Não teria cantado um amor ardente,

Nem feito luz das estrelas candentes.

Ah,

Não há porque mentir nem esconder!

A asa branca que levantara voo,

Do sertão e da solidão,

Riscou profunda a dor,

De que foi capaz seu coração. (Drance Elias)

Luiz Gonzaga esteve com Dom Helder Câmara e falou sobre o forró, tipo de música nascido no Nordeste, cuja instrumentação básica tem sanfona, zabumba e triângulo. Forró é um ritmo com dança alegre e sensual, hoje espalhado pelo mundo, é um pedaço do Sertão que renasceu na cidade e mata a nossa saudade de Gonzagão, que foi o seu mestre maior. 

Luiz Gonzaga é, de fato, uma das mais emblemáticas figuras da música popular brasileira. Junto com os poetas das suas canções, como Zé Dantas, Patativa do Assaré e Humberto Teixeira, ele divulgou o Sertão como a grande síntese cultural do Nordeste, que está hoje no imaginário do povo brasileiro, como um baú de valores civilizatórios e de narrativas profundas. Fez com a sua arte de cantor, o que fizeram pintores como Cândido Portinari, poetas como João Cabral de Melo Neto, romancistas como Graciliano Ramos, dramaturgos como Ariano Suassuna.

Gonzaga, cantando acompanhado de sua sanfona, levou a alegria das festas juninas, da religiosidade popular e dos forrós pé-de-serra, bem como as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o Sertão nordestino, para o resto do país, numa época em que a maioria das pessoas desconhecia o forró, o baião, o xote e o xaxado, e em que os nordestinos ainda não tinham voz pra contar suas histórias e afirmar sua dignidade. Gonzagão personificou as ambiguidades políticas do sertanejo, mas cantou como ninguém a cultura de devoção aos santos do nosso povo. 

Nos últimos dezoito anos de vida, contudo, entrou na maçonaria - o que enseja e motiva pesquisas sobre a religiosidade em trânsito no Nordeste do Brasil. Para onde está indo a fé da gente?!

Luiz Gonzaga retratando – ou “decantando”, como ele dizia – a fé dos nordestinos. A música de Luiz Gonzaga documentou romarias, novenas, procissões, promessas... Uma trajetória de fé e orações direcionada para ícones como o Padre Cícero e Frei Damião.

"Na minha história pessoal Luiz Gonzaga tem uma importância fundamental. Desde os meus oito anos que eu canto Luiz Gonzaga e me encanto com ele", conta o padre Reginaldo Veloso, que procura compor um repertório para as celebrações litúrgicas da Igreja que tenha raiz nas músicas do povo, como o baião, o xote, o xaxado e as emboladas. "Eu sou muito religiosa. Não aceito que se diga que a fé é algo infantil, ingênua. Ao contrário", defende também a cantora Elba Ramalho.

O professor Gilbraz Aragão, do Mestrado em Ciências da Religião da UNICAP, lembra que o nosso Sertão teve uma evangelização católica com "muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre", uma tradição mais oral do que escrita. 

"Por exemplo, a bíblia não era lida na nossa língua. As pessoas tinham que se valer dos seus próprios meios para transmitir histórias através de contos, loas e benditos. Então não era uma Igreja de padres com livros, mas de lideranças carismáticas que usavam da sua intuição religiosa para distribuir bênçãos, fazer rezas e contar histórias edificantes", explicou. Os contos e cantos, como os de Gonzaga, tiveram assim um papel importante na socialização religiosa. 

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LUIZINHO CALIXTO: O SOTAQUE BREJEIRO DO MESTRE DA SANFONA DE 8 BAIXOS

 O CD “Sotaque Brejeiro”, do MESTRE DA SANFONA DE 8 BAIXOS, Luizinho Calixto é excelente. É cd que você escuta uma dez vezes tamanho é o encanto dos acordes e sons do talentoso músico e sua sanfona Pé de Bode.

São 13 músicas: Até que enfim (Geovânio Zu), Dedo de Mola (Luizinho Calixto), Quebra Queixo (Luizinho Calixto), Enfeite de Saudade (Rangel Jr/Efigênio Moura), No tempo do meu avô (motivo popular, com adaptação de Luizinho Calixto), Sob Nova Direção (Ton Oliveira), Sotaque Brejeiro (Luizinho Calixto), Forró para Enok

Marques (Luizinho Calixto), Não vou rotular (Thiago Calixto), Chorando Contigo (Luizinho Calixto/Severino Medeiros), Um Tom para Rangel (Luizinho Calixto), Sem Compromisso (Luizinho Calixto) e Trocando as Bolas (Luizinho Calixto).

A direção artística é de Luizinho Calixto e a mixagem e masterização de Adelson Viana, sendo que o CD foi gravado na Vila Estúdio Sonoro, com os técnicos Adelson e Lauro Viana. Na gravação, sanfona de oito baixos, acordeom, zabumba, triângulo, pandeiro, agogô e reco-reco couberam a Luizinho Calixto, o violão de sete cordas a Márcio Ramalho e o cavaquinho a Gugu. Houve, ainda, participações especiais de Geovânio Zu e Thiago Calixto, compositor, filho de Luizinho e um de seus maiores incentivadores.

O trabalho teve o apoio cultural de Renato Moreira, Flávio Roberto e Dinart Freire. A respeito das parcerias do CD, Luizinho é enfático: gosta de chamar para junto dele as pessoas que têm talento. “Você não sabe, mas aí de repente ali pode haver um Dominguinhos, um Jackson”, assinalou.

O CD foi feito de modo independente e reúne vários ritmos, a exemplo de xote, forró e choro. O artista explicou que embora hoje a gravação de compactos seja cada vez mais rara, considera importante ter um registro material da obra. Além disso, colecionadores e pessoas que acompanham a sua trajetória profissional, há tempos solicitavam algo semelhante.

O compacto foi lançado no ano de 2020 durante a “Roda de Choro”, em Campina Grande Paraíba.

Luiz Gonzaga Tavares Calisto, artisticamente conhecido como Luizinho Calixto, nasceu em Campina, em 21 de junho de 1956. É a “raspa do tacho” de uma família de 10 filhos, da união de Maria Tavares Calixto e João de Deus Calixto, o “Seu Dideus” (1913-1989). O pai de Luizinho foi um instrumentista paraibano renomado, tocador da sanfona de oito baixos. Já os irmãos mais velhos formam uma linhagem de grandes músicos (Zé Calixto, Bastinho Calixto e João Calixto).

Desde menino, Luizinho conviveu com ícones da historiografia musical brasileira. Muitos eram amigos de sua família, a exemplo de Jackson do Pandeiro, com quem, certa feita, Luizinho dividiu o palco, e Luiz Gonzaga, que lhe presenteou com uma sanfona. O primeiro álbum veio em 1975, intitulado “Vamos dançar forró”, com o qual percorreu o Brasil em turnê.

O artista vive há pelo menos 40 anos da profissão de tocador de oito baixos. Tem 12 discos gravados entre vinis e CDs. Mostrou sua arte a milhares, em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Suíça, Argentina e Angola. Luizinho também foi o criador do Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Fole de Oito Baixos da UEPB. Teve participação, como instrumentista, em gravações de artistas aclamados: Sivuca, Dominguinhos, Chico César, Evaldo Gouveia, Fagner. Soma-se, ao seu currículo, parcerias com Elino Julião, Genival Lacerda, Messias Holanda, Alcymar Monteiro e Beto Barbosa; integrou, igualmente, shows de Belchior, Marinês e Nara Leão.

Luizinho Calixto É professor do Centro Artístico da UEPB desde 2013. Recentemente, a Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) incluiu o nome de Luizinho no registro de Mestre das Artes – Canhoto da Paraíba – Rema/PB. O Rema visa reconhecer, proteger e valorizar os conhecimentos, fazeres e expressões das culturas tradicionais do Estado. Para isso, Luizinho dispôs da assessoria da professora Joseilda Diniz, uma das curadoras da Sala de Cordel do MAPP, que o auxiliou na elaboração de seu dossiê artístico e vem desempenhando esse papel dentro de suas atribuições na Pró-Reitoria de Cultura (Procult) da UEPB. (Fonte: Texto: Oziella Inocêncio-UEPB)

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PREVISÃO É DE CHUVAS NO ALTO DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO E EM PARTE DA BAHIA.

A vazão do Rio São Francisco praticada pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), a partir das hidrelétricas de Sobradinho (BA) e Xingó (SE), será mantida em 4.000 metros cúbicos por segundo (m³/s) até nova análise, sem data prevista de redução desse patamar.

Informativo oficial da Chesf foi enviado no início da tarde para prefeituras, defesas civis, comitês, associações, entre outras entidades e usuários. Foi realizada Reunião de Acompanhamento das Condições de Operação do Sistema Hídrico do Rio São Francisco, coordenada pela Agência Nacional das Águas e Saneamento Básico (ANA), com a participação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e outros órgãos que atuam na bacia.

As previsões meteorológicas apresentadas foram de permanência de chuvas nas próximas semanas no Alto São Francisco, em Minas Gerais, e em parte da Bahia. Dessa forma, os reservatórios precisam continuar operando no regime de controle de cheias.  

Os reservatórios principais da Chesf no Rio São Francisco, Sobradinho e Itaparica (PE), estão acumulando água. Entretanto, seguindo normas e diretrizes para operação de controle de cheias, a Companhia precisa respeitar o chamado “volume de espera”, considerando que as chuvas na Bacia Hidrográfica do Velho Chico seguem até abril, quando se encerra o período úmido.

A vazão de 4.000 m³/s, pelas regras estabelecidas, é a metade do valor máximo que a Chesf pode liberar de água e, portanto, é fundamental que a calha do rio seja mantida desocupada. “Estamos permanentemente avaliando a situação e qualquer alteração será divulgada com antecedência, como temos feito”, declarou o diretor de Operação da Companhia, João Henrique Franklin.

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