MÉDIA ANUAL DE RAIOS DEVE SUBIR PARA 100 MILHÕES NO BRASIL

Média anual de raios deve subir de 77,8 para 100 milhões no Brasil. Ano passado, em janeiro de 2021, O engenheiro de Minas, Emerson Henrique de Medeiros de Souza Dias aliou o profissionalismo e a sorte com a dedicação e conseguiu um registro impressionante com a chegada de uma chuva (que sejamos sinceros é rara no sertão de Petrolina e Juazeiro). A foto capturada é de um grande raio. 

O Brasil lidera o ranking de países com incidências de raios, com uma média de 77,8 milhões de registros por ano. O número, no entanto, é pequeno, se comparado ao total registrado nos dois últimos anos. Em 2021, caíram 154 milhões de raios em território brasileiro. Em 2020 foram 126 milhões. A expectativa é de que, ao final deste século, que a média brasileira seja de 100 milhões de raios por ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

De acordo com o coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosféricas do Inpe, Osmar Pinto Júnior as mudanças climáticas influenciam esse fenômeno, uma vez que “tempestades e raios aumentam devido à umidade do ar e altas temperaturas”.

Ele acrescenta que a incidência fica ainda maior durante a primavera e o verão, temporada que é mais propícia para esse tipo de fenômeno.

A liderança brasileira no ranking de incidência de raios por ano não é pequena. O segundo lugar, ocupado pela República Democrática do Congo, onde incidem, anualmente, 43,2 milhões de raios. Em terceiro lugar estão os Estados Unidos, com 35 milhões de raios por ano, seguidos de Austrália (31,2 milhões de raios), China (28 milhões) e Índia (26,9 milhões).

Sobre a incidência de raios observada no final do século 21 no Brasil, o coordenador do Inpe explica que, segundo a literatura, ela foi feita a partir da relação dos raios com algumas condições meteorológicas previstas pelos Modelos Climáticos Globais (MCG).

“Estes modelos, diferentemente dos modelos meteorológicos rotineiramente utilizados na previsão do tempo, permitem estimar as condições meteorológicas para períodos mais distantes, da ordem de décadas. Para minimizar as incertezas nos resultados gerados pelo MCG, rodamos o modelo 12 vezes considerando pequenas diferenças na evolução das condições ambientais e calculamos a média dos resultados”, disse ele à Agência Brasil.

O estudo, acrescenta o coordenador, utiliza um cenário de emissões de gases do efeito estufa que “corresponde a não haver nenhuma mudança significativa nas emissões” nas próximas décadas, o que hoje parece, segundo ele, ser o mais provável.

“Neste cenário é esperado um aumento da temperatura média global de quatro graus Celsius até o final do século, em relação ao período de 1961 a 1990”, acrescenta. Ainda segundo o especialista, “o padrão geral da distribuição geográfica dos raios no país não deve se alterar até o final do século, com a região norte mantendo a maior incidência e a região nordeste a menor incidência”.

A expectativa é de que as maiores altas na ocorrência de raios ocorram na Região Norte (50%). Já a Região Nordeste deve sofrer pequeno crescimento (10%). “As demais regiões devem ter aumentos na ocorrência de raios entre 20% a 40%. Aumentos maiores podem ocorrer em pequenas regiões localizadas”, acrescentou.

“Dessa forma, a atual incidência de 70 milhões de raios por ano no país deve aumentar para 100 milhões de raios por ano”, completou.

EMERSON HENRIQUE: Ano passado, em janeiro de 2021, O engenheiro de Minas, Emerson Henrique de Medeiros de Souza Dias aliou o profissionalismo e a sorte com a dedicação e conseguiu um registro impressionante com a chegada de uma chuva (que sejamos sinceros é rara no sertão de Petrolina e Juazeiro). A foto capturada é de um grande raio. 

Emerson Henrique capturou o momento em que um relâmpago cortou o céu no final da tarde deste domingo (10). A fotografia torna-se rara e ganhou o mundo, viralizou com a facilidades das redes sociais. A reportagem da Rede GN conversou com Emerson Henrique.

Ele cita que é apaixonado por fotografias e busca conhecimento a cada dia. Há quatro anos o engenheiro passou também a trabalhar com fotografias e videos. Nascido em Campina Grande, Paraíba, ele mora em Petrolina desde 2017 e exerce a função de engenheiro de minas, no interior da Bahia.

"Para capturar essa foto usei uma máquina profissional. Fiz cerca de setecentas e oitenta fotos no intervalo de um segundo entre elas com a lente mais aberta, pois eu estava registrando a chuva passando. E assim foi registrado o raio caindo. Foram entre 15 a 20 fotos do raio". O clique de Emerson Henrique ganhou as redes sociais. Em um grupo do Facebook, centenas de usuários compartilharam o registro, também divulgado em grupos de WhatsApp. "Que linda essa imagem e mostra a força da natureza", escreveu um internauta.

Emerson explica que não fez um curso especifico de fotografia. Só agora no ano de 2021 tem se dedicado mais aos cursos e já tem desenvolvido o trabalho pois até fotografias aéreas (drones) já é uma realidade. "Hoje faço vendas de quadros. Eu vendo as imagens em alta resolução para fazer impressão em alta qualidade. A pessoa seleciona alguma foto de interesse exibida no meu site e escolhe uma foto".

Detalhe: "Na foto da fotografia, dependendo do olhar das pessoas, a foto tem pontinhos na imagem, foi a areia do vaso causado pela ventania que pegou na lente", finalizou Emerson. Contato: (@henriquevisuals)

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A MÚSICA ROMÂNTICA POPULAR BRASILEIRA TEM NOME: CONDE

Em 27 de dezembro de 2021, o cantor João Gomes, do meio da caatinga, com seus camaradas, tomando café em um copo, de chinelas havaianas, camiseta, sanfona, violão e sax, gravaria seu último vídeo do ano. Com sua voz orientada pela tradição da vaqueirama, retira do seio do povo os primeiros versos da canção Espelho do Poder, chamando atenção para as catástrofes do sul da Bahia, chuvas violentas, desabrigados e esquecidos pelo poder central brasileiro. 

“Eu queria ter o dom de poder cantar/ igual aos pássaros que Deus fez pra viver/ livres para voar nesse azul sem dimensão./ Queria ter poder pra poder fazer/ você às vezes dizer sim ao invés do não/ pra fome, pra saúde, pra miséria, educação…”

São versos fortes extraídos da canção romântica popular brasileira escrita por Ivanildo Marques da Silva, o Conde Só Brega. Recifense, nascido na Mustardinha, assinalado desde o berço pela tríade da música: a melodia certa, a harmonia exata, o ritmo do coração, Conde é o oceano para onde correm os rios e riachos da sensibilidade. Cresceu se alimentando dos clássicos nordestinos veiculados pelo rádio. É herdeiro de nossa música mais rica e florescente. É o senhor de nossos sonhos de amor, sem se distanciar dos problemas sociais, das dores físicas causadas pelo salário desigual. Conde habita com sua voz e performance nossas casas, nossos lares, nossas ruas, levada e trazida pelas ondas internáuticas.

A música chamada de brega pelas elites econômicas, que em determinado momento se fundem com nossas elites culturais, foi responsável por sustentar gravadoras, executivo e cantores distanciados do povo. Elino Julião, Núbia Lafayette, Carlos André, Agnaldo Timóteo, Evaldo Braga, Carlos Alexandre, Ângela Maria venderam discos e canções por si e por toda a Bossa Nova, pelo Tropicalismo e pelo rock. A canção brega é a canção brasileira. A canção romântica é a canção brasileira. E Conde, hoje e agora, traz a Luz e o Som para dentro dessa tradição. Conde levou a canção ao alfaiate e lhe fez uma roupa sob medida. Levou, cobriu de seda e a produziu com a riqueza cosmética que lhe trouxe a alma para a superfície de sua pele.

Ouvindo o DVD Livre Para Voar, no streaming de música ou no YouTube, somos capturados pela estética viva de um universo que não se perdeu e que Conde revigorou. Sua performance nos traz a época de ouro dos cantores de rádio, junta-se ao que de melhor se produziu em termos de romantismo e aproveita os novos caminhos sem se entregar ao modismo fácil, à batida repetitiva, à letra pobre. Voz firme e bem colocada, instrumental disciplinado, cozinha bem temperada, direção de arte afinada, roteiro elaborado e bem realizado: é o que nos oferece esse valoroso senhor de seu ofício. Aos 67 anos, momento em que muitos decaíram, Conde sobe vertiginoso ao topo da iluminação. Desbrava o céu azul sem dimensão. (Fonte: Texto Aderaldo Luciano-doutor em Ciências da Literatura)

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RIO SÃO FRANCISCO: PERÍODO DA CHUVA DEVE DURAR ATÉ MEADOS DE MAIO

O período de chuva ainda deve durar até meados de maio. De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis/Ufal), as previsões apontam uma redução no volume de chuva em fevereiro, mas elas devem voltar com intensidade acima da média nos meses de março e abril.

“Fevereiro será menos chuvoso tendo uma redução desde o Alto São Francisco, mas entre março e abril teremos chuvas acima da média em toda a bacia e maio volta a reduzir. Isso se deve a ocorrência do fenômeno da La Ninã que se desenvolve desde novembro do ano passado e chegou ao seu pico em dezembro. Além disso, as cheias também têm relação com a intensidade das temperaturas dos oceanos, o que acaba por favorecer canais de umidade e provoca chuvas mais intensas”, afirmou Barbosa.

O diretor de operações da Chesf, João Henrique de Araujo Franklin, informou que de acordo com perspectivas apresentadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o armazenamento dos reservatórios de Três Marias e Sobradinho para o final do mês de janeiro de 2022, devem atingir respectivamente, 96,6% e 74,7%.

“Vale destacar que principalmente na região do Baixo São Francisco esse volume inicialmente é satisfatório porque estava com o rio muito baixo por causa das secas ou falta de chuvas regulares”, acrescentou lembrando que os oceanos estão cada vez mais quente.

O meteorologista explicou ainda que os extremos e a variabilidade também têm aumentado fazendo com que a questão da disponibilidade de umidade sobre o Brasil possa ter áreas que recebam mais chuvas que outras. 

“Há uma previsão, que ainda precisa ser confirmada, de que no próximo ano teríamos um El Niño. Se isso se confirmar, de certa forma a região do São Francisco, principalmente os estados de Alagoas e Sergipe serão afetados pelo volume de chuva. Então há questões importantes que precisam ser monitoradas, como a situação ambiental mediante as vazões”, concluiu o meteorologista. (FONTE: CHBSF-JUCIANA CAVALCANTE)

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ENEM 2022 SERÁ REALIZADO NOS DIAS 13 A 20 DE NOVEMBRO, DIZ MINISTRO

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2022 será realizado nos dias 13 e 20 de novembro. O anúncio foi feito pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, nas redes sociais.

Segundo Ribeiro, a portaria com a previsão do cronograma de aplicação de todos os exames ao longo do ano será publicada no Diário Oficial desta sexta-feira (21).

O Enem 2021 registrou 3.109.762 pessoas com a inscrição confirmada, menor número desde 2005. A queda foi impulsionada pelo índice de abstenção do exame em 2020, que atingiu 55,3% do total de candidatos confirmados.

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MANDATA COLETIVA DAS JUNTAS (PSOL) DIZ QUE O TEMA CPI CASO BEATRIZ ESTÁ SENDO DISCUTIDO INTERNAMENTE E SERÁ DEBATIDO

A mandata coletiva das Juntas (PSOL) vem a público informar que a recente veiculação acerca do nosso posicionamento parlamentar sobre a CPI do Caso Beatriz, através de site na internet organizado pela extrema-direita e base de apoio de Bolsonaro em Pernambuco, não condiz com a verdade.

As Juntas acompanham o caso desde 2019 e apoiam a federalização da investigação de modo a assegurar uma apuração técnica, profissional e isenta, assim como vem atuando na Comissão de Direitos Humanos dentro de suas prerrogativas institucionais.

Sobre a recente proposta de instalação de CPI, a mandata esclarece que o tema ainda está sendo discutido internamente e será debatido conjuntamente com o PSOL, sempre objetivando a preservação da imparcialidade da investigação.

Recife/PE, 21 de janeiro de 2022.

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COM A CHEIA DO RIO SÃO FRANCISCO CACHOEIRA DE PAULO AFONSO VOLTA A TER QUEDA D´AGUA

"Paulo Afonso foi sonho que já se concretizou...Ouço a usina feliz mensageira

 dizendo na força da cacheira o Brasil vai"...Paulo Afonso que coisa louca uma cachoeira rouca de gritar aos engenheiros do Pais, mas hoje escutaram o seu grito você ta fazendo bonito e o povo do norte ta feliz...

A cachoeira de Paulo Afonso, no semiárido baiano, ganhou a atual denominação no século 18. Ela é formada por um conjunto de quedas d’água que podem alcançar 80 metros de altura, na zona turística Lagos e Cânions do Rio São Francisco.

Com a chegada na região da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), em meados do século 20, para utilizar o potencial do rio na geração de energia, a cachoeira passou a ficar visível de acordo com o funcionamento das comportas das usinas da empresa.

Agora, após 12 anos, a cachoeira de Paulo Afonso pode ser admirada novamente por moradores da região e turistas. Isso foi possível por causa da cheia na bacia hidrográfica, que provocou a abertura das comportas e, consequentemente, o ressurgimento das quedas d’água.

“Esse era um momento muito esperado no município. Estamos realizando o sonho de ver as águas correndo de novo. Temos o renascimento de um cartão-postal emblemático, que foi visitado pelo imperador Dom Pedro II e inspirou versos do poeta Castro Alves “, relata o secretário de Turismo, Indústria e Comércio de Paulo Afonso, Nino Rangel.

Com a volta da atração turística, a visitação ao Parque da Chesf foi ampliada, em parceria com a prefeitura, seguindo protocolos sanitários e reforço nas medidas de segurança contra acidentes. As informações sobre o passeio estão disponíveis nos sites da Chesf e da Prefeitura de Paulo Afonso.

“Que alegria ter a volta do espetáculo das águas em Paulo Afonso, durante o verão. O Governo do Estado está em contato com a prefeitura e a Chesf, para a realização de ações conjuntas que fortaleçam esse segmento turístico na região do São Francisco”, comemorou o secretário estadual de Turismo, Maurício Bacelar.

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ELIS: SUA VOZ AINDA REVERBERA 40 ANOS DEPOIS

Há exatamente 40 anos, o dia 19 de janeiro, caiu numa terça-feira. De férias estudantil,  ainda adolescente, estava no Recife. Naquele início de tarde, ainda lembro que enquanto aguardava o almoço, a então apresentadora do Jornal Hoje, Leda Nagle, abria o telejornal com a notícia da morte, aos 36 anos, de uma das maiores cantoras dos país:  Elis Regina Carvalho Costa, “a pimentinha” como batizou Vinícius de Moraes. A cantora que saia muito jovem do Rio Grande do Sul levando na bagagem o sonho de conquistar o Brasil com sua voz, se retirava de cena poucas horas após tomar café da manhã com os três filhos crianças.

Naquele ano de 1982, o país se animava pela seleção na Copa do Mundo, e ainda  transpirava na estrada estreita e torta dos anos de chumbo sob o comando dos militares que Elis  tanto combateu  chamando-os, anos antes, de “gorilas” em entrevista na Europa. Ao voltar teve de se explicar aos generais. Dois anos antes, sua voz invadia as rádios com a canção O bêbado e o equilibrista (João Bosco/Aldir Blanc) o hino da anistia que ela abraçou com garras afiadas engrossando o coro da luta pelo fim da censura ainda vigente e a reabertura política.

Até sua partida, conhecia pouco a trajetória da cantora senão as icônicas interpretações de Arrastão, Fascinação, Como nossos pais, Velha Roupa Colorida, Alô alô Marciano, Aprendendo a Jogar e Me deixas Louca. Passado quatro décadas o que dizer de Elis?  Uma mulher baixinha que se agigantava no palco e sabia separar a artista da dona de casa. Ela pilotava a carreira e o fogão com maestria. Por sua liberdade e dos mais próximos, derrubava muros, labirintos e preconceitos.

A cantora era ilimitada no seu amor pela arte, assim como no lado temperamental de seus relacionamentos.  No final da década de 1970, soltou os cachorros numa cadeia pública exigindo acesso à cantora Rita Lee. E olhe que não tinha aproximação com a roqueira, presa por porte de maconha. Elis fez escândalo ameaçando chamar a imprensa em defesa da colega que estava grávida.

No terreno musical, Elis foi plural, versátil e até controversa. Passou pela maresia da Bossa Nova, pelos ícones do samba canção (leia-se Cartola, Adoniram Barbosa, Lupcínio Rodrigues) flertou com o sertanejo de raiz ao fazer o Brasil cantar Romaria (Renato Teixeira). Na rota dos movimentos brigou contra as guitarras, mas bebeu nas canções da Jovem Guarda de Roberto/ Erasmo. Quando tentava a carreira, recém-chegada ao Rio, foi menospreza por Tom Jobim, mas anos depois deu o troco e dividiu com o autor de Água de Março um dos discos mais elogiados na MPB.

Elis tinha ouvido gigantes e abria portas para o novo. Com sua voz instigante, carimbava o passaporte para aqueles autores que ainda estavam verdes. Assim o fez com Gilberto Gil, Edu Lobo, Milton Nascimento, Ivan Lins, João Bosco. Na safra artística do Nordeste dos anos 1970, festejou a chegada de Fagner e Belchior, a quem emprestou seu timbre para as primeiras canções de sucesso dos cearenses. Já na virada dos anos 1980, apostou em Guilherme Arantes com quem teve um affair e gravou dele um Aprendendo a jogar.

Temperamental e às vezes desbocada, Elis não levada desaforos para casa. Na fumaça dos anos de chumbo, chegou a ser enterrada viva em uma charge do jornal O Pasquim por ter cantado para os militares, evidentemente sob pressão por conta do acerto de contas do caso dos “gorilas”. Engasgada, foi tomar satisfações com o cartunista Henfil, irmão do sociólogo Betinho – aquele que ela cantou esperançosa em O Bêbado e o equilibrista (a volta do irmão de Henfil). O papel político da cantora/cidadã sempre esteve forte em suas opiniões e nas canções. Mas só veio contextualizar em espetáculos clássicos como Falso Brilhante e Transversal do Tempo, dos anos 1970.

E foi justamente no Recife, que Elis se jogou sem medo das consequências em um episódio político, envolvendo o arcebispo Dom Helder Camara e o então estudante universitário Edval Nunes da Silva – o “Cajá”. Elis Regina, que passava pelo Recife durante a turnê do show Transversal do Tempo, o mais politizado de sua carreira, com viés de resistência e transgressão.

Cajá foi sequestrado em 12 de maio de 1978 sob monitoramento do (DOI-CODI). Capturado, foi levado para a sede da Polícia Federal onde foi torturado e mantido em solitária por 12 meses. A prisão ganhou as páginas dos jornais, resultou em protestos de universitários e provocou ruídos no gabinete do comando militar. Para surpresa dos jornalistas e dos familiares do estudante, um novo desdobramento chegou a desafiar a ira do governo que foi o envolvimento da cantora, já visada pela censura.

Aos desembarcar no Aeroporto dos Guararapes, a cantora manifestou o desejo de conhecer e se encontrar com o arcebispo Dom Heldet Camara. Depois se ofereceu para cantar na via-sacra celebrada na Matriz de São José, no Forte de Cinco Pontas, em favor de Cajá. Depois da celebração, houve a encenação das estações do martírio de Jesus Cristo, acompanhado de cânticos religiosos, orações e momentos de silêncio dos fiéis.

Elis Regina acompanhou os cânticos da estação do martírio e pouco falou à imprensa. No primeiro dia da apresentação ela dedicou seu show ao estudante preso, que naquele momento poderia estar vivendo momentos de tortura física e psicológica. No segundo, driblou a censura fingindo chamar o baterista da sua banda que estava na plateia para subir ao palco: “Vem cá, já. Não posso começar o espetáculo sem você”. Foi aplaudida de pé pelo público.

Depois de cantar na via-sacra promovida pela libertação de Cajá, Elis declarou que queria conhecê-lo pessoalmente. Como o estudante estava detido, lhe encaminhou uma carta escrita à mão, em um papel timbrado do hotel onde estava hospedada.  Combinou de recebê-lo em São Paulo, mas o tempo ao permitiu. “Estou rezando por você e confio no futuro e na justiça. Ainda iremos nos encontrar. Muita força e muita paciência meu irmão”.

Faz 40 anos que a MPB ficou orfã da presença fisica de Elis. Mas ela segue eternizada na arte disponível em discos, documentários, clipes, filme e biografias. Complexa, erudita, clássica e popular até certo ponto, Elis foi e permanece fundamental na história da música brasileira. Se viva fosse ainda fazia barulho no cenário politico.

*Emanuel Andrade Jornalista, professor universitário e pesquisador de música brasileira

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