DIA DO NORDESTINO É COMEMORADO NESTA SEXTA-FEIRA (8)

Nesta sexta-feira (8) é comemorado o Dia dos Nordestinos. A data comemorativa foi criada no ano de 2009 em São Paulo, homenageando na época o centenário do nascimento de Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, poeta popular, compositor e cantor cearense.

No Estado paulista, lugar onde a população nordestina fora da região Nordeste é expressiva, a data virou a Lei 14.952/2009 criada pelo vereador Francisco Chagas (PT). O intuito é celebrar as raízes e as tradições culturais dos nordestinos, além de relembrar a vida e obra do autor cearense.

Patativa do Assaré (1909-2002) está entre as principais figuras nordestinas do século XX. Vivia em Assaré (CE), com sua família de origem pobre que vivia da agricultura. Com a morte do pai quando tinha 8 anos, começou a ajudar na plantação.

Foi alfabetizado aos doze, mas o estudo durou apenas alguns meses. Nessa época, começou a fazer repentes. Recebeu anos depois o codinome Patativa, pássaro da região que tem canto bonito em notas "tristes".O primeiro livro veio em 1956: Inspiração Nordestina, que reunia poemas do autor. Teve reconhecimento nacional, ganhou prêmios e foi cinco vezes Doutor Honoris Causa. Mesmo famoso, nunca deixou a região do Cariri, interior cearense.

Confira texto do jornalista Xico Sá, homenageando Patativa do Assaré:

A obra de Patativa do Assaré (1909-2002) reinventou a nação semiárida para os seus próprios viventes. O poeta foi tão necessário nessa empreitada quanto autores como Raquel de Queiroz, José Américo de Almeida ("A Bagaceira") e José Lins do Rego foram para a fundação da imagem do Nordeste na primeira metade do século passado.  Aqui deixa-se de fora, de propósito, Graciliano Ramos e sua alma russo-nordestina, nome que carrega outros sóis.

Andarilho de poesia falada, como os trovadores medievais ou beatniks da América, Patativa botou a prosódia do recolhido homem sertanejo, quase oriental nos seus modos, para desavergonhar-se e tocar no rádio.

O que era economia da fala vira sangradouro, tempestade, como a cheia que invade agora a terra seca. O semiárido, corte da geografia que abriga quase 20 milhões de almas, ganharia assim o seu Camões ou Comonge, como se diz por lá, onde o português reencarna, no anedotário, um anti-herói à João Grilo e Pedro Malasartes.

Ele apreciava muito "Os Lusíadas", ao ponto de dizer muitos versos na mesma métrica. Também perdeu uma vista, desde menino. "Dor-dolhos" se chamava a doença que cegava nos sertões mais precários. 

O seu primeiro livro, "Inspiração Nordestina", recolhido por um amigo que se ofereceu para o exercício da datilografia, agora é reeditado pela Hedra. O bardo não anotava nenhum garrancho do que recitava, mas guardava tudo de memória.

Além do pendor camoniano, Patativa -pássaro miúdo e cantador, daí o apelido- era chegado num Castro Alves. As musas do parnaso também lhe mostravam os bordados das anáguas. Eta Bilac para deixar rastros, talvez seja o mais influente poeta brasileiro de todos os tempos, está nas dores do mundo de Cartola, um fã confesso, está nos floreios do poeta mais sertanejo.

Como se vê no livro relançado, cuja primeira edição é de 1956, seja nos sonetos, nas quadras ou motes, o condoreiro e o homem do "ora, direis" se encontram no Assaré (CE), que quer dizer atalho na língua tupi, caminho dos jardins que se bifurcam da poesia nordestina. Homem que é homem pode até preferir João Cabral, mas não tem medo de raspar o tacho de mel dos adjetivos.

É com esse mundo meloso que Patativa prensa a sua rapadura -nada representa mais a sua poesia do que esse doce nordestino. Com linguagem aparentemente adocicada, ele fez um tijolo impenetrável para a dentição dos esmorecidos. 

Como em "A Triste Partida", sua canção gravada por Luiz Gonzaga: "-De pena e sodade, papai, sei que morro!/ Meu pobre cachorro, / Quem dá de comê?/ Já ôto pregunta: -Mãezinha, e meu gato?/ Com fome, sem trato,/ Mimi vai morrê!".

Nas "vidas secas" de Antônio Gonçalves da Silva, que ganharam mundo a partir de programas de rádio do Crato, Ceará há o duro protesto contra a cerca de arame do latifúndio, mas com uma verve "romântica" à Castro Alves.

Na sua canção de um exílio inevitável, não há o piripaque metafísico ("em cismar sozinho à noite...") de Gonçalves Dias, pois a dor já começa na estrada. Patativa botou o homem do semi-árido, seco e contido por natureza, para derramar-se. Isso é quebra de tabu, sertão sob o sol da psicanálise. 


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BELEZAS DO RIO SÃO FRANCISCO. OPARÁ. VELHO CHICO

O São Francisco é o maior suporte hídrico de desenvolvimento econômico e social da região nordeste, suas belezas cênicas e paisagísticas proporcionam serviços ecossistêmicos de valoração sentimental imensurável. O Velho Chico é cultura, é poesia, é encanto do nascer ao pôr do sol. Suas águas e sua flora são berçários para uma diversidade de vida, ele é proteção, é abrigo, é um gigante que serve ao seu povo. 

Um rio fonte de vida e de inspiração a todos que o conhecem. Da nascente à foz o Velho Chico transmite história, encantos e grandes emoções. Suas belezas estão representadas na arte, nas histórias do cangaço, no sentido religioso pelo próprio nome do santo São Francisco, nas lendas populares, no amor, nas músicas e nos diferentes olhares, vivências, sentimentos e mistérios. Nas diversas representações artísticas, a canção mais conhecidas é “Petrolina, Juazeiro”, que ressalta duas cidades em estados diferentes unidas pelas belezas do rio. 

Falar do rio São Francisco é falar da identidade do nordeste, da vida no semiárido, do potencial agronômico do Vale do São Francisco, das diversas represas e geração de energia ao longo do seu percurso, é destacar as dunas de Sobradinho, as memórias das cidades submersas, com destaque para o livro “Sento-Sé, Memórias de Uma Cidade Submersa, da jornalista Adzamara Amaral”. Suas ilhas e seus encantos, as comunidades tradicionais ribeirinhas, os cânions rasgando a Caatinga na divisa de Alagoas e Sergipe e a emoção da foz em Piaçabuçu.

Os benefícios do rio não tem preço, tem valores! O turismo e o lazer são atividades que contribuem para a conservação ambiental, tornando-se inspiração para quê a percepção humana esclareça que os recursos naturais valem mais do que se pensa e, portanto são necessárias medidas de conservação e preservação para manutenção das belezas, dos recursos e das diferentes formas de vida que o rio abriga.

Autoras: *Maria Regina de Oliveira Silva-Mestre em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental pela Universidade do Estado da Bahia-UNEB

*Aldean Lima de Souza-Professora de Biologia e Pós-graduanda em Vigilância Epidemiológicas das Doenças Infecciosas e Parasitárias. Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL



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MAIS DE CINCO MIL MULHERES RURAIS COMEÇAM A UTILIZAR AS CADERNETAS AGROECOLÓGICAS

Mais de cinco mil mulheres rurais agricultoras, assentadas de reforma agrária e de povos e comunidades tradicionais de toda a Bahia, estão recebendo treinamento para a utilização da Caderneta Agroecológica. 

A ferramenta metodológica, que permite à agricultora fazer a gestão de tudo o que é produzido na propriedade familiar, a partir das anotações do que é vendido, trocado, doado e consumido. 

A ação está sendo realizada via assistência técnica e extensão rural (Ater) do Governo do Estado, executada por meio de prestadoras de Ater contratadas via Chamada Pública da Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (Bahiater), vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural (SDR).  

As mulheres estão conhecendo esse instrumento pedagógico em atividades coletivas realizadas nas comunidades rurais atendidas, a exemplo da oficina realizada na comunidade do Engenho de São João em Cruz das Almas, nesta semana, pela equipe do Instituto de Desenvolvimento Social e Agrário do Semiárido (IDESA), prestadora de Ater, contratada para executar a chamada pública ATER Mulher, em comunidades rurais do Recôncavo Baiano, que teve a participação da coordenadora técnica da Bahiater, Carmem Miranda. 

Carmem Miranda explica por que é importante levar essa ferramenta a mais para agricultoras baianas: "O ATER Mulher vem para dar visibilidade ao trabalho das mulheres e a caderneta agroecológica é um instrumento que vai possibilitar a ela saber a renda e o tanto de produto que ela tem no quintal. A partir daí se dá visibilidade ao trabalho da mulher. Ela começa a se ver enquanto agricultora, enquanto colaboradora, enquanto mulher que contribui na finança da casa, da família. Ela consegue ver o quanto ela produz e a diversidade da produção, um elemento fundamental. A caderneta realmente contribui para a auto-organização das mulheres, para a conquista da autonomia e eleva sua autoestima. Ela revoluciona a vida no campo, a vida das mulheres". 

A agricultora Rosa dos Santos, da comunidade Engenho de São João, é uma das beneficiárias do ATER Mulher. Ela destacou a importância do serviço de Ater e a ação das cadernetas: "Estamos trabalhando com a caderneta e antes a gente não anotava nada, passava em branco. Hoje estou muito feliz por essa conquista, para a partir de hoje anotar as nossas vendas, o nosso consumo, as doações e as trocas. A caderneta vai facilitar a autonomia e a nossa autoestima". 

Lidiane Braga, coordenadora do projeto ATER Mulher no Recôncavo pelo IDESA, observa que a oficina é o momento de apresentar às agricultoras essa ferramenta: "Irá possibilitar a elas organizarem e fazerem o levantamento de toda a sua produção e toda a renda que é gerada na unidade produtiva familiar e é uma ferramenta de empoderamento feminino". 

CADERNETAS AGROECOLÓGICAS: A ferramenta começou a ser adotada, em 2019, pelo Pró-Semiárido, projeto do Governo do Estado executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR/SDR). A ação já apresenta resultados econômicos e refletiu o processo de aplicação das Cadernetas Agroecológicas junto a 374 agricultoras envolvidas no Pró-Semiárido. Dentre os dados expostos, está o valor da produção gerado por elas, que ultrapassou R$1,2 milhão em um ano de anotações. 

A Caderneta Agroecológica foi concebida, em 2011, pelo Centro de Tecnologias Alternativas na região de Zona da Mata em Minas Gerais (CTA/ZM), em interlocução com o Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia - (GT/ANA). O Programa de Formação em Feminismo e Agroecologia (CTA), em 2013, foi o primeiro a utilizar a metodologia das Cadernetas. Logo após, também em 2013 e em 2015, o GT da ANA aplicou esse instrumento dentro de um programa de formação, cuja temática principal foi "Feminismo e Agroecologia", financiado pela União Europeia e levado a todas as regiões do país. 

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RIO SÃO FRANCISCO: OPARÁ RIO QUE É MAR

 

“Riacho do Navio corre pro Pajeú, o rio Pajeú vai despejar no São Francisco, o rio São Francisco vai bater no ‘mei’ do mar, o rio São Francisco vai bater no ‘mei’ do mar…”

Neste dia 4 de outubro, dia de aniversário do Rio São Francisco, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco saúda todos que fazem sua parte para preservar esse grande patrimônio brasileiro.

Há 520 anos, uma expedição naval comandada por Américo Vespúcio que descia parte da costa brasileira para reconhecimento, deparou-se com a imensidão da foz de um rio grandioso. Desse encontro nasce o primeiro relato oficial em relação ao Rio São Francisco e a data do seu batismo pelos portugueses, que escolheram esse nome por ser o dia 4 de outubro o dia do santo São Francisco. Pelos índios daquela região, o Rio era conhecido como Opará, o rio-mar.

Hoje, o São Francisco é o Velho Chico, é o rio da integração nacional, o rio do Cerrado, da Caatinga e do Sertão, o rio do Brasil, o rio que sofre, o rio que precisa de uma solução.

O maior rio inteiramente brasileiro possui 2.820 km de extensão e responde por 75% da disponibilidade de água doce para o Nordeste. Sua bacia abriga 505 municípios e cerca de 18 milhões de pessoas. Possui 168 afluentes e percorre sete unidades da Federação – Minas Gerais, Bahia, Goiás, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Distrito Federal. Por sua grande extensão, foi dividido em quatro regiões, para melhor planejamento: Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco. (Fonte: CHBSF)

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RODA DE DIÁLOGO: LANÇAMENTO DA CARTILHA SERTÃO ANTI NUCLEAR ACONTECE NESTA TERÇA (5)

Acontece nesta terça-feira, às 19h30, o lançamento da Cartilha Articulação Sertão Antinuclear: NÃO à usina nuclear. O evento é promovido pela Pastoral da Comunicação  da Diocese de Floresta, Pernambuco e será transmitido no canal do facebook pascom diocesefloresta. 

A mediação da roda de conversa é do educador,  comunicador social, diretor da TV Raízes da Cultura, Libânio Francisco.

A antropóloga pós-doutora Vânia Fialho participa da conversa. Ela é coordenadora do Núcleo de Pernambuco do Projeto Nova Cartografia Social  e o Doutorando Whodson Robson da Silva.

O texto “Sumir do mapa e outros scripts: táticas de matar e de resistir no confronto de indígenas e quilombolas com a central nuclear em Itacuruba”, desenvolvido por Whodson Silva e sua orientadora Vânia Fialho, no mestrado em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco, foi agraciado com a primeira colocação na premiação. Esse trabalho é resultante da agenda de pesquisas do núcleo do Projeto Nova Cartografia Social em Pernambuco que, desde 2015, tem acompanhando etnograficamente as mobilizações de indígenas e quilombolas no Sertão de Pernambuco contra a instalação de seis usinas nucleares no Rio São Francisco. 

Além da dissertação de Whodson Silva, o desenvolvimento da pesquisa, coordenada pela professora Vânia Fialho, prevê outras duas teses de doutorado a serem defendidas até 2022 sobre temas diretamente correlatos, especificamente sobre a cadeia de produção energética e seus impactos no Sertão nordestino.

A coleção Cadernos da Nova Cartografia Social dos Sertões se destina à publicação de trabalhos que registram situações de unidades de mobilização de Povos e Comunidades Tradicionais e demais identidades coletivas emergentes no Nordeste do Brasil. As publicações apresentam, como convergência, as dinâmicas identitárias objetivadas em movimentos, associações e outras formas político- organizativas, bem como a pluralidade de modos de resistência na região central do território
brasileiro, referenciada como Sertão. 

A cartilha destaca que a região do Sertão de Itaparica é apontada desde a década de 1980 como uma área de interesse para um empreendimento nuclear e, já nessa época, movimentos antinucleares tiveram sua expressão. Entretanto, é a partir de 2009, com a instalação do escritório da Eletro-nuclear em Recife, que o município de Itacuruba passa a ser destaca do como a “Rota de expansão d energia nuclear brasileira”

A cartilha argumenta dezenas de motivos para dizer NÃO à usina nuclear em Itacuruba, no Nordeste e no Brasil:
As centrais nucleares expõem a sociedade ao risco de acidentes de alta radioatividade, que podem trazer consequências catastróficas à vida das pessoas e ao meio ambiente;
Não há tecnologia capaz de resolver o problema dos lixos nu- cleares produzidos, cuja deposição final demanda altos investimentos;
Uma usina nuclear pode causar grandes danos ao meio ambiente, em especial ao Rio São Francisco;
O Brasil não precisa de usinas nucleares para atender às suas necessidades de energia elétrica. Soma-se o fato de que esta fonte representa apenas 3% da matriz energética brasileira;
A decisão de construir usinas nucleares no Brasil é política e antidemocrática. A população em geral e as pessoas diretamente impactadas não tiveram oportunidade de se manifestar;
A energia elétrica de matriz nuclear é caríssima, sendo injustificável o investimento econômico. O custo para o encerra mento adequado das atividades das usinas antigas também é altíssimo;
É mentirosa a afirmação que tal empreendimento contribuirá com a geração de empregos locais e resolverá os problemas sociais dessa região. 
A população de Itacuruba, que já sofreu uma série de violências com a construção da Usina Hidrelétrica de Itaparica, sabe que essas obras não trazem benefícios nem autonomia local. 
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UM LOBO SOLITÁRIO DA "MPB" BOSSA NOVA, RESISTE EM JUAZEIRO E RECOMEÇA EM SALVADOR

Maurício Dias Cordeiro, o "Mauriçola", agora Maurício Dia, sem o "S", porque existem outros "Mauricios" Dias por aí , tirando seu "sossêgo autoral e ele nunca gostou muito do apelido cunhado na adolescência, quando fazia parte do "Êxodus", um bando de cabeludos, filhos dos "Novos Baianos" e da "tropicália" que fazia música e teatro em Juazeiro nos anos 70. 

Maurício tem uma longa história e estrada, começou nos festivais universitários de Juazeiro, em 1973, com o "Exodus", acompanhou Caetano Veloso, em uma meteórica apresentação no festival que tinha o troféu João Gilberto. Depois desembarcou no Teatro Vila Velha em Salvador(palco dos tropicalistas e dos "Novos Baianos), ganhou tablados de casas noturnas do "Porto da Barra", fez parte de um disco chamado "Momo 82" que reunia Banda Eva, Durval Lélis, Lazzo Matumbi, Paulinho Camafeu, Pepeu Gomes, antes da "axé music", que não era sua praia,   aí se mandou  para São Paulo. Em 1983, gravou na poderosa CBS o seu primeiro vinil, com Erva Doce, um "reggae" que fez sucesso. 

Maurício já gravou muitos "Cd's", na realidade, ainda inéditos, porque  nunca bem foram divulgados, estão todos hoje nas plataformas digitais: "Spotify" "Deezer", "Youtube"  Globo play.. "apple music"...E a gora, depois de um longo silêncio e exílio musical, ele retorna aos palcos de Salvador, nos dias 21 e 28 de outubro, 21h. na "Varanda do Sesi Rio Vermelho" um espaço "cult" da música em "soterópolis". Já chega de novo acompanhado de grandes músicos para mostrar o poder da  sua música planetária, um "pop" brasileiro baseado em "bossa nova", com uma força criativa surpreendente, em tempos tão obscuros, também na nossa música. 

Maurício é  um grande compositor, assina a grande maioria das suas composições, mas tem parceiros como Luiz Galvão dos "Novos baianos", Antonio Risério, em "Saudade de Salvador" e musicou um poema de João Gilberto: "pingos molhados" que ele promete cantar, é uma "bossa nova" incrível.  

Então vamos tirar os buracos e pedras do caminho para a sua música chegar, quem sabe agora, para um público bem maior, uma geração que não sabe quase nada de João, Jobim, Caymmi, Noel, já esqueceu Raul, Cazuza e Renato Russo.. apesar de Caetano, Gil, Chico e tantos "lumes" ainda explodindo estrelas " supernovas". 

Como um "lobo solitário", Maurício resiste e avisa que "sonhos não desistem! Ele não faz concessões pra fazer sucesso, das "margens bossanovistas do rio São Francisco", vem sua força 

"Pra gente não perder toda esperança, achar que tudo acabou, não cair em solidão, ódio, rancor, e o sonho ruir, onde era pra ser uma nação.. compositor, um samba, de amor, um samba" 

E ainda no seu bardo: " Foi um samba dos "novos baianos" que abriu minha cabeça, me ensinou, a pisar com os tamancos da tropicália, nas pedras rolantes, mutantes, do Raul Seixas rock n'roll Aquele sol não quis se por, quase morri de amor, por Brigitte e por Bardot  (Fonte: Ascom/Maurício Dia/Sesi rio vermelho) 


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POR QUE AGRICULTORES E PESQUISADORES DEFENDEM QUE A AGROECOLOGIA PODE SANAR A FOME NO BRASIL

O 3 de outubro, Dia Nacional da Agroecologia, chega nesse ano de 2021 no momento em que mais da metade da população brasileira vive com insegurança alimentar. Mais do que um modelo de agricultura baseado em conhecimentos tradicionais de interação com o ambiente por meios sustentáveis; agricultores, pesquisadores e ativistas ouvidos pelo Brasil de Fato apontam que a agroecologia é o caminho para responder à crescente devastação do meio ambiente, para desenvolver soberania nacional e capaz de sanar a fome de toda a população. 

"A agroecologia se apresenta, nesse contexto de sindemia covídica como a estratégia possível de enfrentamento à fome porque ela traz o olhar a partir de um passo atrás ao ato de se alimentar", descreve Islândia Bezerra, pesquisadora e presidenta da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA). "O passo da produção de alimentos que enfatiza a natureza como sujeita de direitos", resume. 

Marcos José de Abreu, conhecido como Marquito, é vereador em Florianópolis pelo PSOL e foi autor do projeto de lei que fez da capital santa catarinense o primeiro município do país a banir agrotóxicos de seu território. 

Em sua opinião, as cadeias agroecológicas - diferentemente do setor econômico do agronegócio - estão pouco suscetíveis ao mercado financeiro global de commodities. Assim, avalia Marquito, "o modelo mais adequado para alcançarmos uma soberania nacional é o agroecológico". 

Chirlene Barbosa trabalha com agroecologia há mais de duas décadas no município de Bom Jardim, no agreste Pernambucano. "Eu sei o que é fome" diz, ao contar que era pequena quando o pai morreu e a "mãe ficou com sete filhos para criar". 

Produtora de hortaliças, frutas e legumes, Chirlene narra que "terra é vida" e que mesmo que o dinheiro fique escasso, hoje a mesa é farta. Ela garante que é possível agricultores agroecológicos abastecerem "todos os bancos de comida", mas é preciso "os governos investirem mais", pois "muitas vezes não tem como essa produção chegar às pessoas", comenta. 

"É falta de interesse político das autoridades", salienta o agricultor agroflorestal Helenito Lopes. Hermes, como é chamado mais comumente, vive com outras 80 famílias no Assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Sepé Tiaraju, no município de Serrana, próximo a Ribeirão Preto (SP). 

"Somos nós agricultores familiares que produzimos a maior parte do que a população consome", constata Hermes, assentado em uma área considerada referência em práticas agroecológicas e agroflorestais desde o início dos anos 2000. "Esse governo quer desmobilizar as organizações sociais fechando a torneira para o incentivo das atividades agroecológicas e dando muita grana para o agronegócio". 

Em uma fala feita em 2014, mas bastante atual, o então relator especial da ONU sobre o direito à alimentação, o professor belga Olivier de Schutter, expôs que “a erradicação da fome e da malnutrição é um objetivo alcançável. Para tanto, contudo, não será suficiente apenas refinar a lógica dos nossos sistemas alimentares", alertou: "ela precisa, ao contrário, ser invertida”.

INCENTIVOS: As dificuldades para aplicar essa inversão no Brasil parecem proporcionais à sua urgência. Os dados do "Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia Covid-19 no Brasil", feito pela Rede PENSSAN em 2021, são alarmantes. Das 116,8 milhões de pessoas com insegurança alimentar no país, 43,4 milhões não tinham comida o suficiente e 19 milhões estavam efetivamente passando fome. 

Os números evidenciam porque o Brasil, que tinha em 2014 saído do Mapa da Fome - levantamento das nações que têm 5% ou mais de sua população subalimentadas - voltou a figurar na lista. 

Em 27 de setembro a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por pedido da Associação Civil Ação Educativa, entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal para obrigar o governo Bolsonaro a implementar políticas públicas de combate à fome. 

Denunciando um "desmonte da política de segurança alimentar", a ação reivindica, entre outras medidas, que o governo revogue a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), garanta repasses financeiros ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e invista R$1 bilhão no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Esses dois programas são citados por Islândia como exemplos de políticas públicas federais importantes na potencialização da agroecologia, ao lado de iniciativas estaduais e municipais. "As políticas existem, mas quando comparadas aos investimentos do Estado no setor do agronegócio, estamos na periferia no sentido de acessibilidade", diz. 

Em setembro, a Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA), em parceria com a Friedrich-Ebert-Stiftung Brasil (FES Brasil), lançou o artigo "Desafios para o Abastecimento e Soberania Alimentar no Brasil". Nele, os autores avaliam que o PAA, ao longo dos anos passou a priviliegiar compras institucionais de médias e grandes cooperativas. 

O artigo questiona, ainda, que uma série de entraves burocráticos passaram a impossibilitar a participação de diversas comunidades no programa, "particularmente comunidades quilombolas, indígenas e pequenas cooperativas de agricultura familiar". 

Enquanto isso, o Ministério da Agricultura aprovou, em 2020, o registro de 493 agrotóxicos, o número mais alto da série histórica, compilado desde 2000. Dos 1059 agrotóxicos registrados desde janeiro de 2019 no Brasil, cerca de um terço é proibido na União Europeia por serem considerados perigosos para a saúde e o meio ambiente.

Além disso, a isenção de impostos das quais goza a agroindústria no Brasil representou, no ano passado, R$29,2 bilhões. Em 2019, as exportações feitas pelo setor renderam aos cofres públicos apenas R$16,3 mil. 

REDES: A despeito da priorização estatal ao agronegócio e do desemprego crescente, as iniciativas autônomas de solidariedade no enfrentamento à fome se espalharam pelo país desde o pandemia de Coronavírus.

"São várias as experiências", sorri Islândia, ao elencar as feitas pelo MST, o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Movimento de Agricultura Urbana, as cozinhas solidárias do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), as comunidades quilombolas, indígenas. "Estão trazendo o debate da produção e consumo de alimentos saudáveis para um contexto de escassez", descreve.  

Hermes relata que o início da pandemia foi um choque para as famílias do Assentamento Sepé Tiaraju. "Todas as portas se fecharam para quem trabalhava com venda em feiras locais, em congressos, o PAA e o PNAE pararam. O povo nosso aqui ficou desesperado né, o que a gente vai fazer com tanto alimento?", conta. "E a gente começou a perceber que tinha gente nas cidades passando muita dificuldade".

A partir da articulação do que chamam de Grupos de Consumidores Agroecológicos, os assentados do Sepé e de outras comunidades do MST mobilizaram parceiros para comprar seus produtos e os doarem para a população periférica de Ribeirão Preto. "A gente chegou a juntar mais de oito toneladas. E agora já estamos num novo projeto", relata Hermes.  

"Ninguém vê o agronegócio distribuindo alimentos. O agronegócio não vai poder jamais fazer uma ação de solidariedade distribuindo alimentos, porque ele não produze alimentos", avalia Islândia: "Ele produz commodities, voltados à exportação". 

"O que pode ser que o agronegócio faça?", reflete a presidenta da ABA. "Pode distribuir cestas, com produtos comestíveis ultra processados. Diferentemente de quem produz comida, frutas, legumes, raízes, tubérculos, leite e derivados. São essas organizações sociais de base que estão fazendo o enfrentamento à fome", sintetiza. 

Na visão de Bezerra, no entanto, o combate à insegurança alimentar "não pode ser feito única e exclusivamente pela sociedade civil organizada", mas também "no campo das macro políticas públicas".

Marcos Abreu faz uma avaliação similar, defendendo ser estratégico o foco no âmbito municipal. Aliada às denúncias da pressão que a bancada ruralista faz em defesa do agronegócio na esfera nacional, Marquito acredita que "as leis e políticas locais são de alto impacto". 

O LEGADO DE ANA MARIA PRIMAVESI: As discussões levantadas pelo Dia Nacional da Agroecologia evidentemente não vêm de hoje. A data, inclusive, é o dia do nascimento de uma das históricas defensoras de modelos de agricultura alternativos ao agronegócio. 

Ana Maria Primavesi nasceu na Áustria e chegou ao Brasil nos anos 1950, escapando da perseguição nazista nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. Docente e engenheira agrônoma próxima a comunidades tradicionais e movimentos ligados à luta pela terra, ela revolucionou a visão da agricultura ao se atentar para a importância da saúde do solo ao pensar no que se produz a partir dele. 

Os olhos de Islândia Bezerra se enchem de água quando ela se lembrou das poucas vezes em que teve a oportunidade de escutar Primavesi ao vivo. A pioneira da agroecologia brasileira faleceu em 2020, aos 99 anos. 

Do conhecimento deixado por Primavesi, Islândia destaca que "para além do conhecer e conceber o solo como berço da nossa própria existência, ela deixou um legado de questionar o modelo que usa veneno e que reverbera em todo o planeta". 

"Com evidências científicas, Ana Primavesi nos ensinou que a terra não precisa de veneno. Ninguém precisa de veneno", constata Bezerra. 

E é justamente a troca de conhecimentos, aliada à luta por maiores incentivos para as produções agroecológicas e agroflorestais o que Hermes considera serem os caminhos "para a gente matar a fome do nosso povo". (Fonte: Gabriela Moncan Brasil de Fato)


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