V ENCONTRO DE SABERES DA CAATINGA TEM INÍCIO NESTA QUINTA-FEIRA (23)

A valorização e a troca de saberes populares relacionados às práticas de cura ligadas à natureza, contribuindo para o fortalecimento do papel cultural da sabedoria tradicional, são os objetivos do V Encontro de Saberes da Caatinga e Práticas de Cura da Chapada do Araripe realizado no município de Exu, no sertão de Pernambuco. 

O evento tem inicio nesta quinta-feira (23) e prossegue até domingo, 26 de setembro. O encontro reúne raizeiros, rezadores e parteiras do Araripe.

Este ano o evento será realizado totalmente virtual com transmissão via canal do youTube - troca de saberes e acesso também  pelas redes @saberesdacaatinga

 Encontro serve para incentivar e manter vivas práticas de cura (algumas milenares) que não dependem do sistema biomédico.

HISTÓRICO: Nas últimas edições aproximadamente 80 raizeiros, rezadores e parteiras da região da chapada do Araripe, dos estados de Pernambuco e Ceará, participaram do evento.  Cerca de 200 pessoas entre médicos, profissionais de saúde, representantes de instituições públicas, organizações não governamentais e aprendizes de várias partes do Brasil estivereram em Exu, Pernambuco, trocando saberes e experiências.

Segundo a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Islândia Sousa, o encontro reforça a política de práticas integrativas e complementares instituída pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2006. Essas práticas são caracterizadas pela Organização Mundial de Saúde como Medicina Tradicional ou Medicina Complementar.

Esse termo significa um conjunto diversificado de ações terapêuticas que difere da biomedicina ocidental, incluindo práticas manuais e espirituais, com ervas, partes animais e minerais, sem uso de medicamentos quimicamente purificados, além de atividades corporais, como tai chi chuan, yoga, lian gong. Outros exemplos de PICs são: acupuntura, reiki, florais e quiropraxia.

"As práticas trabalhadas e saberes compartilhados durante o encontro, no âmbito da conservação da sociobiodiversidade, relacionam-se diretamente com objetivos de criação da APA Chapada do Araripe, como incentivar as manifestações culturais e contribuir para o resgate da diversidade cultural regional e assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais, com ênfase na melhoria da qualidade de vida das populações residentes na APA e no seu entorno”, ressalta Flávia Domingos da APA Chapada do Araripe.

O analista ambiental do ICMBio Antônio Alencar, da Flona Negreiros, que trabalha na concepção, organização e articulação nacional para realização do evento, tem experiência e grande dedicação ao estudo de plantas medicinais do cerrado e caatinga, inclusive já publicou um livro denominado Cordel de Plantas Medicinais do Cerrado.

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TARGINO GONDIM LANÇA CD BELO CHICO EM DEFESA DO RIO SÃO FRANCISCO EM OUTUBRO

Os músicos e compositores Nilton Freittas, Targino Gondim e Roberto Malvezzi – Gogó se uniram para lançar o projeto "O Belo Chico – Convivência com o Rio São Francisco através da música". A produção tem como objetivo chamar a atenção para luta em defesa do Velho Chico e, através das canções, animar o povo, estimular a construção de reflexões sobre o rio e a consciência política e sociambiental.  

O projeto Belo Chico consiste num álbum com canções que que falam da situação do São Francisco, seu povo, suas comunidades, potencialidades, perigos e esperanças. O CD é composto por 13 músicas, sendo algumas inéditas dos autores de Belo Chico, e outras já consagradas e conhecidas, de autoria própria ou de parceiros, selecionadas pelo conteúdo das letras e pela melodia. 

O Belo Chico será  apresentado ao público no dia 02 de outubro, em uma live, transmitida no Youtube, através do canal TV Irpaa, em alusão ao aniversário do rio que é celebrado em 04 de outubro.  

O CD terá um cunho educativo e poderá ser utilizado em atividades lúdicas, místicas, dinâmicas, entretenimento e ações diversas que envolvem a interatividade de pessoas envolvidas no processo de construção de saberes, no desenvolvimento de políticas públicas de Convivência com o Semiárido e de defesa, proteção e revitalização da bacia do rio São Francisco. 

O CD será distribuído entre entidades populares que atuam na defesa do Velho Chico, comunidades tradicionais, movimentos sociais, além de escolas. A obra também estará  disponível nas principais plataformas digitas e no site do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – Irpaa.  

Pela sua essência e finalidade o Belo Chico foi incorporado a um projeto executado pelo Irpaa, entidade que trabalha a mais de 30 anos com a defesa da Convivência com o Semiárido, que consiste em  um conjunto de técnicas, métodos e hábitos de vida compatíveis com as condições climáticas do lugar, tendo como princípios o acesso à terra, compreensão sobre o clima, acesso à água, educação contextualizada, direito à comunicação, produção de alimentos e criação de animais apropriados, empoderamento político, preservação e recuperação da biodiversidade, acesso ao saneamento, em vista ao Bem Viver no Semiárido. 

Fruto da construção coletiva de saberes e do amor pelo rio, o Belo Chico promete trazer para a cena artística nacional elementos da riqueza cultural dos povos que ocupam suas margens. A produção é da Toca Pra Nós Dois , realização do Irpaa e a Articulação Popular São Francisco Vivo, com apoio do Ministério de Cooperação Alemã por intermediação da Cáritas Alemã. 

Serviço: Projeto Belo Chico 

Lançamento do CD Belo Chico:  02 de outubro 2021 

Onde: Canal TV Irpaa – Youtube  

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PRIMAVERA, A ESTAÇÃO DAS FLORES INICIA COM FORTE CALOR EM JUAZEIRO E PETROLINA

A primavera começa hoje, dia 22 de Setembro, às 16h21min, quando o Sol estará exatamente na linha do Equador, e quando os dias e noites têm o período de tempo igual, tanto no hemisfério norte, quanto no sul.

É a estação característica da floração de algumas vegetações, sendo a estação mais seca e quente no sertões da Bahia e Pernambuco, onde as temperaturas do ar, na sombra, podem atingir valores acima de 38°C, e a umidade relativa do ar valores abaixo de 20%.

Neste último caso, a APAC envia Aviso de Baixa Umidade do Ar para a região específica.

No Agreste, as temperaturas do ar podem ser superiores a 34°C. Na Zona da Mata e Região Metropolitana do Recife, os valores ultrapassaram os 32°C. Ressaltando que, devido à alta umidade do ar, a sensação de calor na Região Metropolitana do Recife é bem maior do que a temperatura medida nos termômetros.

Semana passada a defesa civil fez um alerta em função da baixa umidade relativa do ar. A umidade em Juazeiro e Petrolina deve ficar variando entre 12% e 20%, aumentando os riscos de doenças respiratórias e incêndios.

Nesta época do ano, na qual a seca é predominante, casos de virose são comuns na população.

O médico especializado em doenças infecciosas Hemerson Luz explica que o tempo resseca a mucosa nasal e facilita o aparecimento de algumas patologias, como alergias e crises de bronquite. Além disso, gripes e resfriados aumentam, pois ficam mais fáceis de serem transmitidos. 

“O vírus do resfriado, quando chega na mucosa, e ela está ressecada ou irritada, fica mais difícil de ter uma defesa local”, pontua.

Hemerson explica que com o tempo seco, há uma menor dispersão de poeiras e poluentes, que ficam mais concentrados na atmosfera. Isso pode causar irritação nas vias respiratórias, levando pessoas a terem crises de rinite. No entanto, esse quadro pode piorar e evoluir para casos mais graves, como bronquite.

Os sintomas iniciais são aqueles mais comuns, que hoje podem ser confundidos com o novo coronavírus. Coriza, dor de garganta e dor de cabeça estão entre as reclamações mais recorrentes. Mas é preciso ficar alerta, porque esses sintomas podem ser sinais de doenças perigosas como pneumonia ou sinusite. Caso haja persistência na febre por mais de 48h, ou se as vias nasais ficam comprometidas por alguma secreção, uma piora no quadro pode ter ocorrido.

Além das dores de cabeça e febre, se cansaço ou fadiga forem constatados, a recomendação é procurar o pronto socorro mais perto. O médico ainda ressalta que é comum nesse período, com quedas na temperatura, as pessoas tomarem menos água, gerando desidratação. A secura, alerta ele, afeta mais crianças e idosos.

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CESOL SERTÃO DO SÃO FRANCISCO PARTICIPA DE FEIRA DE ARTESANATO DA BAHIA

A feira de Artesanato da Bahia movimentará a cidade de Juazeiro, mais conhecida como a terra da Bossa Nova, durante os dias 24 e 25 de setembro, no Espaço Cultural da Casa do Artesão, das 14h às 21h. 

O Centro Público de Economia Solidária Sertão do São Francisco (Cesol-SSF) é um dos apoiadores do evento que tem como propósito, promover a exposição e a comercialização de produtos de artesãs e artesãos do território, aquecendo o turismo e valorizando a cultura local.

Fruto da iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), em parceria com a Associação Fábrica Cultural, a Feira de Artesanato da Bahia, contará nesta edição em Juazeiro, com um desfile cultural, com as peças do artista plástico Gildemar Sena e atrações musicais.

Responsável pelo grupo familiar Toque de Zabumba, empreendimento atendido pelo Cesol-SSF, o juazeirense Gildemar Sena Oliveria ou Sr. Gil, como é popularmente conhecido em Uauá-BA, cidade onde reside, produz à mão desenhos temáticos do Sertão, que retratam as vivências, a cultura e a tradição regional em camisas de malha e tecido, vestidos, shorts, calças, macaquitos, bolsas e desenhos em papel canson.

"Depois de dois anos de pandemia e com a ausência de eventos presenciais, retornar agora com a Feira de Artesanato é muito importante e dará um gás para as nossas produções e para a comercialização dos produtos", informou Gildemar Sena.

Além do desfile temático, o público juazeirense terá a oportunidade de conhecer a produção e toda a criatividade de artesãs e artesãos, as técnicas de trabalho utilizadas e os traços culturais de cada produção. 

"A pandemia do novo coronavírus trouxe inúmeros prejuízos para a população e os artesãos foram um dos maiores prejudicados. Essa feira, promovida pelo Governo do Estado, vem como uma oportunidade de visibilizar e oportunizar a comercialização, além de apresentar para o público a riqueza do artesanato regional", destacou a coordenadora do Cesol-SSF, Aline Craveiro.   

A Feira Artesanato da Bahia em Juazeiro conta com a parceria de Sebrae Bahia, Faeb/Senar, Centro Público de Economia Solidária do Sertão do São Francisco e Casa do Artesão, além do apoio da Prefeitura Municipal de Juazeiro.

SERVIÇO

FEIRA ARTESANATO DA BAHIA – JUAZEIRO

Data: 24 e 25 de setembro (Sexta e Sábado)

Local: Espaço Cultural Casa do Artesão

Horário: Das 14h às 21h

Evento Gratuito

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A LUTA E A VOZ DAS LIDERANÇAS POPULARES CONTRA A INSTALAÇÃO DA USINA NUCLEAR COM USO DAS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO

A luta e a Voz das lideranças Populares contra a instalação de uma Usina Nuclear com uso das águas do Rio São Francisco. Este é otema da live, Nesta terça-feira (21), a partir das 19h30, na roda de diálogo transmitida no canal youTube da Pastoral da Comunicação da Diocese de Floresta e TV Raízes da Cultura.

A live é uma realização da TV Raízes da Cultura e a Pastoral da Comunicação da Diocese de Floresta.

Populações tradicionais, ambientalistas e ativistas da região da bacia do rio São Francisco continuam promovendo mobilizações e ações que têm o objetivo de alertar para os perigos que ameaçam a permanência de um dos rios mais importantes do Brasil: o Rio São Francisco com o projeto que está em andamento do Projeto de Instalar uma Usina Nuclear com o uso das águas do Velho Chico.

Ontem (20) o plano de instalação de uma usina nuclear em Itacuruba (PE) foi alvo de críticas em debate promovido pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, em Brasília.

O projeto da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, voltou a ser defendido pelo governo federal, em meio à busca de alternativas para a crise energética. No entanto, os debatedores salientaram a possibilidade de acidentes, os prejuízos às comunidades indígenas e quilombolas da região, e os riscos ambientais envolvidos no plano.

O presidente da CDH e autor do requerimento de audiência, senador Humberto Costa (PT-PE), abriu a sessão salientando as dificuldades enfrentadas pela população de Itacuruba (PE) que, à época da construção da barragem da usina hidrelétrica de Itaparica, foi reassentada em região de terras menos férteis.

Ele entende que a a construção da usina causará danos irreversíveis à população e ao meio ambiente, alertando que nenhuma central nuclear está livre de acidentes como os de Chernobyl e de Fukushima.

Professora de antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe), Vânia Fialho ressaltou que a taxa de suicídio em Itacuruba é quase seis vezes maior que a média nacional. Ela considera que a instalação da usina nuclear em Itacuruba constitui violação de direitos humanos por si mesma, afetando especialmente os povos tradicionais da região: 11 povos indígenas e 9 comunidades quilombolas.

"A população vive com medo de mais este empreendimento de riscos e consequências incomensuráveis e não dimensionados pela própria ciência — disse, criticando a falta de transparência do projeto nuclear e a ausência de informação à população afetada, contra a determinação da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

A cacica Lucélia Leal Cabral mencionou a luta do povo Pankará para a demarcação das terras, situação atribuída por ela à morosidade da Fundação Nacional do Índio (Funai), e lembrou que os povos indígenas da região de Itacuruba já foram fortemente afetadas pela construção da barragem e a inundação das ilhas que habitavam. Ela disse que a comunidade foi “surpreendida” pelo projeto da usina nuclear.

— Isso propõe mais uma vez a expulsão de nossa comunidade. O povo Pankará se vê obrigado a peregrinar na defesa de nossos direitos.

Em sentido semelhante, José Júnior Karajá, assessor do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), contestou a oportunidade da construção da central nuclear que, segundo ele, se somará a outros projetos para “sugar” mais recursos hídricos do Rio São Francisco.

— O rio não possui segurança hídrica para um empreendimento desta natureza — alertou.

Ele acusou a “irresponsabilidade” do governo federal em retomar o projeto, e salientou que o argumento da instalação da usina num suposto “vazio geográfico” é a admissão de que a alternativa nuclear está sujeita a acidentes.

CONSTITUIÇÃO: Humberto Costa também defendeu a Constituição estadual de Pernambuco, que só permite a exploração da energia nuclear quando todas as alternativas estiverem esgotadas — esse artigo, no entanto, está sob questionamento da Procuradoria-Geral da República (PGR) em face do projeto em Itacuruba. O deputado estadual de Pernambuco Isaltino Nascimento (PSB) acusou a PGR de “artifício” para defender o posicionamento ideológico do governo federal e escapar à discussão legítima da questão na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe).

DEFESA: O deputado Alberto Feitosa (SD) é defensor da instalação da Usina Nuclear. Segundo ele isto é “um grande projeto para o Estado” e o projeto de energia nuclear proposto para Itacuruba (Sertão de Itaparica) é estimado em mais de R$ 30 bilhões.

“O tema da energia nuclear vai fazer parte do cenário econômico do Estado. É só uma questão de tempo”. Alberto Feitosa é o autor do Projeto PEC (Proposta de Emenda à Constituição), permitindo instalação de uma usina do tipo no Estado.

O parlamentar também confirmou que, entre os dias 16 e 18 de outubro, está agendada uma visita às usinas localizadas em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro, a convite da Eletronuclear. “A empresa espera uma grande comitiva de deputados, que terão a oportunidade de esclarecer dúvidas sobre o funcionamento do empreendimento”, ressaltou.

Segundo estudos da Eletronuclear, o município de Itacuruba, em Pernambuco, reúne as condições ideais para abrigar uma Central Nuclear com 6,6 mil megawatts de capacidade instalada, o equivalente a toda produção de energia da Chesf. A receita anual desse empreendimento gera um montante de R$ 800 milhões em ICMS para o Estado e cerca de R$ 160 milhões em ISS para o município, trazendo ainda mais progresso e desenvolvimento”.


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JORGE DU PEIXE INTERPRETA LUIZ GONZAGA: NO BAIÃO GRANFINO O ENGENHO DA ARTE


O Nordeste continuaria existindo caso Luiz Gonzaga não tivesse aterrissado por lá há mais cem anos. Teria a mesma paisagem, os mesmos problemas. Seria o mesmo complexo de gentes e regiões. Comportaria os mesmos cenários de pedras e areias, plantas e rios, mares e florestas, caatingas e sertões. Mas faltaria muito para adornar-lhe a alma. Sem Gonzaga quase seríamos sonâmbulos. Ele, mais que ninguém, brindou-nos com uma moldura indelével, uma corrente sonora diferente, recheada de suspiros, ritmos coronários, estalidos metálicos. A isso resolveu chamar de BAIÃO.

Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz. Dentro do seu matulão convivemos, bichos e coisas, aves e paisagens. Pela manhã, do seu chapéu, saltaram galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores. O seu peito abrigava o canto dolente e retorno dos vaqueiros mortos e a pabulagem dos boiadeiros vivos. As ladainhas e os benditos aninhavam-se por ali, buscando eternidade. E um dia, em 2021, dele saltou-nos Jorge du Peixe.

Em releituras belas e disciplinadas, sem macular as melodias, sem invencionices modernosas, Baião Granfino, de Jorge du Peixe, prolonga a alma gonzagueana, avança sobre os nossos dias com seu timbre rouco, mas afinado, seu selo grave, em momento tão agudo de nossas crises existenciais. Jorge segura o baião como um filho frágil, acabado de vir ao mundo. E o baião o sustenta com sua vitalidade. Quanta beleza em suas veredas sonoras, quanta sutileza no seu cantar que, a alguns deve ter assustado, mas que a mim, apaixonou-me. Não feriu a majestade, vestiu-se e caminhou com ela. Trouxe o Assum Preto e sua sina complexa, difícil, dolente, talvez anunciando a sua mesma dor, abrindo um álbum cheio de lirismo e paz, dentro na luta.

A Sanfona Sentida nos fala tão delicada em nosso coração à mostra que nos faz chorar, pelo fôlego que nos falta enquanto sociedade vilipendiada por dias sem ar. O instrumental, corretíssimo, entre a sanfona chorona e chorosa, apaixonante, e um baixo em marcação profunda, capoeirística algumas vezes. Uma percussão adornada pela bateria disciplinada, ciente de suas entradas e saídas. Certezas me carregam de que Dominguinhos aprova, entre as nuvens doiradas. Não sei se Anastácia o ouviu, mas em ouvindo, não se furtará ao peito aberto e receptivo. É minha opinião.

A seleção de canções e sua disposição no álbum, iniciada com Assum Preto, como escrevi acima, essa seleção e essa disposição foram pensadas, anotadas, estudadas, cronometradas. Há um prólogo épico, uma invocação, seguida de uma proposição e um oferecimento. Segue-se uma contação de histórias de amor e alumbramento (Orélia), de despedida e sofrimento (Qui Nem Jiló), de dor na solidão (Sabiá), de redescoberta do amor e da existência (Acácia Amarela). Na sétima casa do álbum, esse número místico e completo, Jorge du Peixe entra com a louvação à ancestralidade (Rei Bantu). Depois dessa iluminação, a vestimenta do baião cumpre seu destino (Baião Granfino).

Cacimba Nova lança um olhar melancólico ao passado de fausto, mas Pagode Russo nos chama de volta à terra e nos grita e empurra para a celebração, pois estamos vivos e fazendo acontecer para a eternidade que virá. Quando o Fole Roncou, as almas recebem o ápice dessa celebração, com guitarras, pedais, eletricidade e a beleza absoluta de Cátia de França, encarnação do talento, do engenho e da arte.

 Belo álbum que em mim trouxe de volta a Ideia, a Letra, a Vida. Obrigado, Jorge du Peixe, sua voz arrancou-me a lágrima. E com ela, novamente, o Texto. Como diz Cátia, na última frase dos trabalhos: “Isso é eterno!” (Texto: Aderaldo Luciano-mestre e doutor em Ciência da Literatura)-KURUMA'TÁ - REVISTA DE CULTURAS E AFETOS

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EM DEBATE, ESPECIALISTAS ATACAM PROJETO DE USINA NUCLEAR COM USO DAS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO

O plano de instalação de uma usina nuclear em Itacuruba (PE) foi alvo de críticas em debate promovido pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado nesta segunda-feira (20). O projeto da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, voltou a ser defendido pelo governo federal, em meio à busca de alternativas para a crise energética. 

No entanto, os debatedores salientaram a possibilidade de acidentes, os prejuízos às comunidades indígenas e quilombolas da região, e os riscos ambientais envolvidos no plano.

O presidente da CDH e autor do requerimento de audiência, senador Humberto Costa (PT-PE), abriu a sessão salientando as dificuldades enfrentadas pela população de Itacuruba (PE) que, à época da construção da barragem da usina hidrelétrica de Itaparica, foi reassentada em região de terras menos férteis.

— Este fato impactou no modo de vida e na saúde dos itacurubenses. A cidade, hoje, tem uma das maiores taxas de suicídio do Brasil — afirmou.

Ele entende que a a construção da usina causará danos irreversíveis à população e ao meio ambiente, alertando que nenhuma central nuclear está livre de acidentes como os de Chernobyl e de Fukushima.

Professora de antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe), Vânia Fialho ressaltou que a taxa de suicídio em Itacuruba é quase seis vezes maior que a média nacional. Ela considera que a instalação da usina nuclear em Itacuruba constitui violação de direitos humanos por si mesma, afetando especialmente os povos tradicionais da região: 11 povos indígenas e 9 comunidades quilombolas.

— A população vive com medo de mais este empreendimento de riscos e consequências incomensuráveis e não dimensionados pela própria ciência — disse, criticando a falta de transparência do projeto nuclear e a ausência de informação à população afetada, contra a determinação da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

A cacica Lucélia Leal Cabral mencionou a luta do povo Pankará para a demarcação das terras, situação atribuída por ela à morosidade da Fundação Nacional do Índio (Funai), e lembrou que os povos indígenas da região de Itacuruba já foram fortemente afetadas pela construção da barragem e a inundação das ilhas que habitavam. Ela disse que a comunidade foi “surpreendida” pelo projeto da usina nuclear.

— Isso propõe mais uma vez a expulsão de nossa comunidade. O povo Pankará se vê obrigado a peregrinar na defesa de nossos direitos.

Em sentido semelhante, José Júnior Karajá, assessor do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), contestou a oportunidade da construção da central nuclear que, segundo ele, se somará a outros projetos para “sugar” mais recursos hídricos do Rio São Francisco.

— O rio não possui segurança hídrica para um empreendimento desta natureza — alertou.

Ele acusou a “irresponsabilidade” do governo federal em retomar o projeto, e salientou que o argumento da instalação da usina num suposto “vazio geográfico” é a admissão de que a alternativa nuclear está sujeita a acidentes.

CONSTITUIÇÃO: Humberto Costa também defendeu a Constituição estadual de Pernambuco, que só permite a exploração da energia nuclear quando todas as alternativas estiverem esgotadas — esse artigo, no entanto, está sob questionamento da Procuradoria-Geral da República (PGR) em face do projeto em Itacuruba. O deputado estadual de Pernambuco Isaltino Nascimento (PSB) acusou a PGR de “artifício” para defender o posicionamento ideológico do governo federal e escapar à discussão legítima da questão na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe).

— Se houver a instalação da usina, o lixo nuclear terá que ser acondicionado por 300 anos. Três séculos. O Brasil oficialmente tem cinco séculos — protestou, acrescentando que a execução do projeto sem consulta aos povos locais constitui violação de tratado de direitos humanos do qual o Brasil é signatário.

O procurador-geral da Alepe, Hélio Lúcio Dantas da Silva, diz que a Constituição de Pernambuco é plenamente compatível com a Constituição federal, conduzindo uma mensagem clara a favor da exploração preferencial de fontes de energia que não trazem danos à saúde.

— A proposta, aparentemente, seria viável economicamente, mas inequivocamente apresenta uma ameaça ecológica, à saúde da população, às comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas — resumiu. (Fonte: Agência Senado)

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