A HISTÓRIA DO RÁDIO EM FORMA DE PRODUÇÃO DE CULTURA E CARÁTER EDUCATIVO

Em se tratando de rádio no Brasil, não é raro que datas e nomes sejam cercados de polêmica, assim acontece também com a história da primeira emissora do Brasil, atualmente reconhecida a Rádio Clube de Pernambuco, que tem fundação em 1919, diferente do que foi ensinado na maioria dos cursos de Comunicação por muito tempo, dando conta que o título de primeira estação de rádio do país seria a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (hoje Rádio Mec), surgida em 1923.

Hoje, dia 7 de setembro não é marcado apenas pelo Dia da Independência do Brasil. Foi neste dia, em 1923, que a então Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Edgard Roquette-Pinto, entrou no ar definitivamente no prefixo PRA-A. 

Ao longo dos seus 98 anos de história, a Sociedade foi doada para o governo federal, virou Rádio MEC e consolidou-se como uma das mais importantes emissoras do país, sem perder o caráter educativo e de promoção da cultura - e agora, foca nas plataformas digitais e em novos públicos.

O pontapé inicial para criação da Rádio Sociedade foi dado também na data de 7 de setembro, só que de 1922. Exatamente um ano antes da entrada definitiva no ar, o discurso do então presidente Epitácio Pessoa em uma exposição internacional em comemoração ao centenário da Independência do Brasil foi irradiada para 80 receptores no Rio de Janeiro. 

Foi a partir da transmissão que Edgard Roquette-Pinto e um grupo de membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC) deram início ao projeto que resultaria na Rádio Sociedade. A ata de criação da emissora foi redigida em 20 de abril de 1923, e a primeira transmissão experimental foi feita em 1º de maio daquele ano.

Roquette-Pinto foi reconhecido por grandes personalidades nacionais e estrangeiras, que transformaram a rádio num ponto de encontro. 

Thiago Regotto, atual gerente da Rádio MEC, contra que a data não foi um acaso: “Como Roquette-Pinto era nacionalista e bem metódico, ele faz a emissão oficial e inicial a partir de 7 de setembro de 1923. Tudo para ele era 7 de setembro. Há uma lógica por trás deste personagem”

E foi em também em um 7 de setembro, mas de 1936, que a emissora foi doada ao Ministério da Educação e passou a se chamar Rádio Ministério da Educação e Cultura (Rádio MEC). A doação por parte de Roquette-Pinto (que continuou até 1943 à frente da emissora) foi condicionada ao dever de, a agora Rádio MEC, continuar com “atividades exclusivamente educativas”.

De acordo com o livro Rádio MEC: Herança de um Sonho (lançado em 2006), de Liana Martinez esse momento é considerado como um dos primordiais na história da emissora. “A sigla MEC acabou adotada como uma marca – Música, Educação e Cultura – com destaque em seu prefixo sonoro”, conta.

Com o passar dos anos, a missão educativa da rádio foi cumprida com a transmissão de programas com fins didáticos. Dois deles fizeram história: o Colégio no Ar, que durou do pós-guerra até os anos 1950 e o Projeto Minerva, criado na década de 1970. Dados do livro “Rádio MEC: Herança de um Sonho” apontam que, em duas fases, o programa atendeu a mais de 545 mil alunos.

Além do foco em educação, a MEC AM também foi de suma importância na história da música e cultura do país. Em 1961, foi criada a Orquestra Sinfônica da Rádio MEC e entrou no ar o programa Música e Músicos do Brasil (hoje, produzido pela MEC FM). 

“Os grandes maestros que dirigiram as tantas orquestras que a emissora manteve em boa parte do século passado é um ponto de destaque na história da emissora”, escreve Liana.

Até 1983, quando foi criada a MEC FM, a Rádio MEC tinha programas voltados à música brasileira, infantil, música clássica e outros ritmos como o jazz. “Quando a rádio faz 60 anos, em 1983, ela "ganha" de presente a rádio MEC FM. Aí a rádio é desmembrada, criando a rádio de música clássica do Brasil em FM”, conta Regotto.

Hoje, o legado de Roquette-Pinto segue vivo nas ondas da Rádio MEC do Rio de Janeiro. Quase centenária, a rádio segue firme no dial 800 kHz, tem boa parte da programação transmitida na “irmã” MEC FM (99.3 MHz no Rio de Janeiro e 87.1 MHz em Brasília) e pode ser acessada pela internet e em aplicativos de celular.

Regotto destaca que a programação da MEC continua valorizando a programação educativa e cultural. “A MEC AM trabalha com o segmento da programação educativa dentro da cultura brasileira. A programação é pensada para passar conhecimento ao ouvinte. Uma música que conta uma história, fala sobre um autor, sempre nesta perspectiva de educar pelo rádio”, diz.

A emissora mantém a produção de programas diários, como o Rádio Sociedade pela manhã, que é ligado à educação, o Arte Clube, ao meio-dia, que é uma revista cultural e o Armazém Cultural à tarde, centrado na música. “Para a gente, também é muito importante a produção infantil da rádio, que aparece desde os primórdios da Rádio Sociedade e hoje é representada pela Rádio Animada”, diz Regotto.

Ele destaca que, hoje, mesmo com uma variedade de emissoras à disposição dos ouvintes, a rádio segue ocupando um espaço que é só dela. “A rádio cumpre um papel que nem uma outra rádio cumpre. No mercado, você não tem esse espaço. Como a rádio faz no Rio de Janeiro, só a MEC AM”.

Noventa e oito anos após a fundação, a Rádio MEC mantém ouvintes fiéis. Uma delas é a artista plástica Elizabeth Salles, que mora em São Gonçalo (RJ). Ela relata que escuta a rádio em seu ateliê e que a emissora é, de certa forma, uma inspiração. “Todos os bustos de mulheres que fizeram parte da história que esculpi tem, como inspiração, músicas que ouvi na rádio. A grande maioria embalada pelo Armazém Cultural”, diz.

O aposentado Luiz Arlindo, de Paty do Alferes (RJ), também elege o Armazém Cultural como o seu programa favorito. “Desde sempre, ouço emissoras de rádio. São companheiras com música que gosto e informação confiável. Depois que me aposentei e com a 'peste' [pandemia] passei a ouvir mais a MEC. Pega bem onde moro e é ótima companhia pros dias em casa”, conta.

Para o futuro, a MEC planeja uma expansão para novas plataformas e uma possível migração para a faixa estendida do FM. “A gente deseja a migração para o FM, para a faixa estendida, e trabalha com o conteúdo em plataforma digitais”, diz Regotto.

Há também planos para algo especial para o iminente centenário. “No centenário, queremos fazer um festival de música grande, mais integrado. Ainda estão nos planos, um livro e programas especiais na TV. O ano do centenário da Rádio MEC vai ser de desdobramento do centenário do rádio. Algo faremos, mas ainda estamos planejando”, conta Regotto.

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REVISTAS MÉDICAS FAZEM APELO HISTÓRICO EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE

Em uma ação inédita, 233 revistas médicas, incluindo uma brasileira, publicaram conjuntamente um editorial pedindo a governos de todo o mundo que cuidem melhor de um paciente: a Terra. O documento foi divulgado a uma semana da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, a última reunião internacional antes da conferência do clima, a COP-26, que acontecerá em Glasgow (Reino Unido), em novembro. 

Os autores do artigo destacam que se trata de um “momento crucial para exortar todos os países a entregar planos climáticos ambiciosos e aprimorados para honrar as metas do Acordo de Paris”, o tratado sobre mudanças climáticas adotado por 195 países em 2015.

Mais de um século de emissões de gases de efeito estufa provocadas por atividades humanas, como a geração de energia, a industrialização e o desmatamento, causam sintomas gravíssimos ao paciente: nunca a temperatura esteve tão alta, o que desencadeia fenômenos extremos, derretimento de geleiras, aumento do nível do mar e desertificação de florestas, entre outros.

No editorial, os autores destacam que, há anos, a ciência mostra que não é só o planeta que adoece; as consequências das mudanças climáticas para a saúde humana são severas e já perceptíveis. “A base de uma sociedade saudável é um meio ambiente saudável”, comenta Raffaella Bosurgi, editora executiva da revista Plos Medicine e uma das signatárias do texto. 

“Os profissionais de saúde estão na linha de frente da crise da covid-19 e unidos para alertar que um aumento de temperatura acima de 1,5°C, além de se permitir a destruição continuada da natureza, trará a próxima, e muito mais letal, crise. Nações ricas devem agir rápido e fazer mais do que ajudar os países que já sofrem pelas altas temperaturas. 2021 tem de ser o ano do curso das mudanças mundiais — nossa saúde depende disso”, afirma, em nota, Fiona Godlee, editora-chefe da revista The British Medical Journal, uma das publicações médicas mais importantes do mundo.

“Nos últimos 20 anos, a mortalidade relacionada ao calor entre pessoas com mais de 65 anos aumentou em mais de 50%. As temperaturas mais altas causam desidratação e perda de função renal, doenças dermatológicas, infecções tropicais, resultados adversos para a saúde mental, complicações na gravidez, alergias, morbidade e mortalidade cardiovascular e pulmonar”, diz o editorial.

 “Os danos afetam desproporcionalmente os mais vulneráveis, incluindo crianças, populações mais velhas, minorias étnicas, comunidades mais pobres e aqueles com problemas de saúde subjacentes.”

Os riscos das mudanças climáticas à saúde humana são bem documentados e vão de óbitos por calor ou frio extremos ao surgimento de novas doenças infecciosas. Recentemente, um artigo, publicado na revista BMJ, que fez a revisão de quase 100 pesquisas científicas sobre o tema identificou 10 categorias para descrever problemas de saúde associados às mudanças climáticas, encontrando impactos negativos na gestação, no sistema respiratório, na saúde mental, em alergias de pele e no status nutricional, entre outros.

 Por sua vez, um documento científico divulgado, no ano passado, pela agência ambiental da Organização das Nações Unidas enfatizou que, para evitar a próxima pandemia causada por micro-organismo zoonótico (transmitido por animais, como o coronavírus da covid-19), é preciso parar de degradar o meio ambiente.

“De todas as doenças infecciosas humanas novas e emergentes, cerca de 75% saltam de espécies de outros animais para as pessoas”, diz a publicação da ONU. “A frequência de micro-organismos patogênicos que saltam de outros animais para as pessoas está aumentando devido a atividades humanas insustentáveis. Pandemias, como o surto da covid-19, são um resultado previsível e previsto de como as pessoas obtêm e cultivam alimentos, comercializam e consomem animais, além de alterarem o meio ambiente.”

No artigo conjunto publicado, ontem, pelas 233 revistas, os cientistas alertam sobre a necessidade de mudanças nos padrões de consumo, inclusive de alimentos. “Para cortar emissões, restaurar a agrobiodiversidade e parar com a destruição do mundo natural, precisamos mudar os padrões dietéticos globais para alimentos mais locais, frescos ou minimamente processados, e baseados em plantas”, diz o climatologista brasileiro Carlos A. Monteiro, um dos 19 autores do editorial e editor chefe da Revista de Saúde Pública, da Universidade de São Paulo (USP).

O editorial ressalta que uma ação global suficiente para enfrentar os desafios das mudanças climáticas só será possível se países ricos se comprometam a cumprir o compromisso, ainda pendente, de fornecer US$ 100 bilhões por ano para ações de mitigação e adaptação, incluindo as voltadas aos sistemas de saúde. Os autores destacam que o dinheiro deve vir na forma de doações, em vez de empréstimos.

A iniciativa da publicação foi da Aliança Saúde nas Mudanças Climáticas do Reino Unido. Em nota, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, comentou sobre o tema do editorial. “Os riscos impostos pelas mudanças climáticas podem superar os de qualquer doença. A pandemia da covid-19 vai acabar, mas não há vacina para a crise climática. O relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), um consórcio de cientistas de todo o mundo), mostra que cada fração de grau mais quente ameaça nossa saúde e nosso futuro. Da mesma forma, cada ação realizada para limitar as emissões e o aquecimento nos aproxima de um futuro mais saudável e seguro.”

“Fazer o melhor pelos pacientes exige que os profissionais de saúde compartilhem mensagens difíceis todos os dias. Hoje, a comunidade da saúde se reúne para dizer aos líderes mundiais o que eles ainda não ouvem: ações emergenciais na crise ambiental devem ser tomadas para proteger a saúde. Pelo bem da nossa saúde e pelo bem do futuro, as nações ricas devem fazer mais para apoiar os países que mais sofrem.” Marcel Olde Rikkert, editor chefe do Dutch Medical Journal, da Holanda.

“O meio ambiente e a saúde estão inextricavelmente interligados. As mudanças climáticas estão nos colocando em perigo de várias maneiras, incluindo seus impactos críticos na saúde e na prestação de cuidados de saúde. Como médicos e profissionais de saúde pública, temos a obrigação não apenas de antecipar novas necessidades de cuidados, mas também de sermos participantes ativos na limitação das causas da crise climática.” Eric J. Rubin, editor chefe do The New England Journal of Medicine, dos EUA.

“A mudança climática não é mais teórica. É uma emergência de saúde real, e não há lugar para se esconder. O impacto tornará a covid-19 algo pequeno. Os profissionais de saúde têm um papel importante a desempenhar nesta emergência, promovendo mudanças no sistema de saúde para reduzir drasticamente as emissões e os resíduos, defendendo politicamente e educando nossos pacientes e o público. Nossos filhos, e os deles, dependem de nós agirmos agora, não amanhã.” Nicholas Talley, editor chefe do Medical Journal of Australia, da Austrália.

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MACIEL MELO RETORNA DA QUARENTENA COM PARCERIAS, ÁLBUM DE INÉDITAS E TERCEIRO LIVRO

Caboclo sonhador e de coração tão sertanejo. Maciel Melo, 58, se autodefine nos versos que assina – inclusive destes extraídos de um clássico da música nordestina (e brasileira), Caboclo Sonhador (1982).

Cantor, compositor, poeta, escritor e quaisquer outras possibilidades que a arte lhe permitir, ele segue ávido em musicar poesias e ritmar pensamentos e, quiçá, roteirizar histórias para o cinema. “Ainda quero dirigir um filme, roteiro já tenho”, adianta ele, natural de Iguaraci, Sertão pernambucano, Região fomentada por seus cantos e causos.

De volta e como ele mesmo afirma “em grande estilo” após uma quarentena inspiradora em que produziu um álbum de inéditas e findou seu terceiro livro (A Marca da Cicatriz), ele também arrematou parcerias na música dentre elas com um veterano do cancioneiro nacional, Renato Teixeira. 

“Nós nos conhecemos há algum tempo, já tínhamos canções juntos. Minha junção com ele tem me dado um gás danado”, celebra Maciel, em conversa com a Folha de Pernambuco.

Com Renato, Maciel Melo recentemente fez shows em Caruaru e Santa Cruz de Capibaribe, no Agreste. Ocasiões exaltadas por ele em rede social. “(...) O instante mais sublime de minha vida, cantar com Renato Teixeira”.

O impulso de dividir o palco com o cantor e compositor paulista veio à tona depois de quase dois anos sem trabalhar, mas que não o impediu de produzir material robusto para lançamentos em um futuro próximo e outras parcerias com nomes como Fagner, Bráulio Tavares e Geraldo Azevedo. Mas as pretensões do cantador pernambucano vão mais adiante. 

“Quero chegar ao Sul e Sudeste, e vai ser com Renato. Quero dar uma ‘voada’ por lá. Ele tem mais a ver com o meu jeito de compor e vai ser meu elo com esse lado do Brasil”, destacou Maciel sobre um dos seus desejos imediatos.

Mas antes de alargar a trajetória de mais de 40 anos e pelos menos 400 composições – parte delas emprestadas a vozes diversas da MPB – ele segue atento ao que paira por sobre a imensidão que repousa no Recife, cidade homenageada por ele em um blues ao lado de Teixeira em “Recife Eu e Você”, disponível nas plataformas em breve. “Renato queria celebrar a cidade. Me ligou dizendo que havia me escolhido para fazer a canção”.

Avesso a “esse negócio de live”, como ele mesmo diz, Maciel até se rendeu ao formato no período junino. Mas em sendo nordestino e das bandas sertanejas, do tipo que arrasta vaidoso a sandália de couro e um chapéu que o identifica - é com o olho no olho que se afina.

“É muito chato a live, o povo vê a gente, mas a gente não vê o povo. É um negócio muito frio e precisamos do olhar das pessoas. Se as pessoas tomarem consciência de que a pandemia ainda não acabou e precisamos tomar cuidado, vamos voltar logo”. 

Com representatividade que vai além do seu fazer artístico, Maciel Melo se assume como formador de opinião quando sobe ao palco e se depara com multidões, e não hesita em enxergar realidades, tais quais as que têm tomado a Cultura, setor penalizado com a pandemia e com a falta de políticas públicas.

“Fomos os mais prejudicados com a Covid-19. E temos um governo (federal) com ações que vão de encontro a frentes como educação e cultura. Artista representa pessoas, não à toa boa parte do que faço se relaciona com questões sociais. Sou artista e transformo em música o que penso como cidadão”, complementa ele que entre as boas-novas do seu retorno fez ao lado de Bráulio Tavares a canção “A Hora do Lobo”, traduzindo vivências de um poeta que quando está “rabiscando umas folhas de papel, sabe que a vida é quase nada”, mas (sempre) pode ser reanimada com a potência de um nordestino cantador. (Fonte: Germana Macambira/Folha de Pernambuco)

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PESQUISA REALIZADA NA PROFIAP UNIVASF RECEBE MENÇÃO HONROSA EM EVENTO NACIONAL

Durante a realização IV ENEPCP – Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa, na Área de Públicas, de 01 a 03 de setembro de 2021, de maneira virtual, ocorreu a 1ª Edição do Prêmio Augusto Tavares de Teses, Dissertações e Trabalhos de Conclusão de Curso do Campo de Públicas.

O prêmio tem por finalidade estimular a pesquisa, produção acadêmica, difusão do conhecimento e sua aplicação na realidade brasileira, reconhecendo o mérito de trabalhos que possam contribuir para o aperfeiçoamento dos temas na Administração Pública no Brasil. Poderiam ser inscritas teses, dissertações e Trabalhos de Conclusão de Cursos - TCCs inéditos cujas defesas aconteceram entre janeiro de 2018 e março de 2021, em qualquer curso, departamento ou programa de pós-graduação do Campo de Públicas.

No referido evento, o trabalho da servidora da Univasf Mírian Lucia Pereira, egressa do Mestrado Profissional em Administração Pública (Profiap/Univasf), recebeu a “Menção Honrosa” na Categoria Dissertação de Mestrado, com a dissertação intitulada: “Transição de Governo Municipal: LANÇAR DADOS NÃO PARA CONTAR COM A SORTE, MAS PREPARANDO O FUTURO DA GESTÃO”.  Os trabalhos premiados foram avaliados, considerando a vinculação com o Campo de Públicas, o caráter inovador do estudo, a relevância temática, a acuidade metodológica, a qualidade da redação e as capacidades de contribuição para o aperfeiçoamento de processos tecnopolíticos. 

Segundo o Professor Ricardo Duarte, orientador da pesquisa de Mírian Pereira, a premiação não foi nenhuma surpresa, “uma vez, que a dissertação de Mírian já é considerada um dos melhores trabalhos, do Profiap, local e nacional, sendo já uma referência na área de Transição de Governo”. 

Para Mírian, autora da Pesquisa, “receber uma Menção Honrosa, em um evento como o Enepcp significa um reconhecimento por um esforço realizado, durante todo o mestrado, perspectivando produzir um trabalho que trouxesse contribuições teóricas e práticas para o Campo de Públicas. Premiação que tem seu valor aumentado, tendo em vista que esse concurso se deu em homenagem a Augusto Tavares - um inquietante, inovador, provocador, admirável e referenciado professor do nosso Campo –, que faleceu, em 2020, e mesmo doente, bravamente, defendeu sua tese de doutorado. Por tudo isso, é uma grande honra!” 


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CICLISTAS FAZEM COBRANÇA AO DNIT POR MANUTENÇÃO NA BR 235

Como é do conhecimento de grande parcela da população, o uso cotidiano de bicicletas do tipo MB ou Mountain Bike para fins de lazer e ou de trabalho, tem se tornado cada vez maior a nível mundial e no Vale do São Francisco, em especial Juazeiro e Petrolina não é diferente, pois pra todo lado que se olha, seja manhã, tarde ou noite, vemos grupos de ciclistas e também de forma individual ou duplas. 

Não por um acaso, esse esporte cresce muito rápido a cada dia, fazendo surgir uma cadeia de consumo que vai dá própria " Bike" ao vestuário, acessórios e afins. Sem falar nos empregos gerados mas lojas e oficinas. 

Infelizmente nossa região ainda possui um número pequeno de ciclovias, que por sua vez são disputadas também por pedestres que " invadem"o  espaço dos ciclistas, obrigando-os a procurarem novas rotas ou caminhos para a prática do esporte.

Uma dessas rotas é a BR 235, que vai do fundo do Shopping de Juazeiro até a cidade de Uauá, onde nós ciclistas usamos o acostamento da referida BR. 

No entanto , apesar de ser uma rodovia recém pavimentada, a falta de manutenção no acostamento da mesma é visível e tem ocasionado até pequenos acidentes, onde ciclistas tem partes do corpo machucados pelos galhos de árvores que invadem o local onde pedalamos. Outras Vezes, para nos livrarmos dos galhos, temos que subir a pista de rolamento, correndo o risco de sermos atropelados. 

São centenas de ciclistas que usam esse acostamento da referida BR todos os dias, seja pela manhã ou ao entardecer. 

Não seria muito pedir ao DNIT para que faça a poda de galhos das árvores que estão botando nossa integridade física em risco, pois para isso pagamos nossos impostos. 

Atenciosamente:

Grupo Pedal dos amigos- Diretor Yuri Gonçalves

Grupo Pedal do cuscuz - diretora Maria da C. Silva


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ESTUDO MOSTRA COMO DEGRADAÇÃO DA NATUREZA TEM AFETADO RIOS AFLUENTES DO VELHO CHICO

Minas Gerais enfrenta uma das piores estiagens da história, mas a crise hídrica, que afeta o país como um todo, está longe de ser apenas um fenômeno pontual. O estado que já foi chamado de Caixa-d’água do Brasil está ficando cada vez mais seco, consequência da degradação ambiental e das mudanças climáticas.

De acordo com o MapBiomas Águas, a Bacia do Rio São Francisco, que nasce na Serra da Canastra, em Minas, e percorre cinco estados até encontrar o Oceano Atlântico, entre Alagoas e Sergipe, também sofreu diminuição global de 15% na área ocupada por suas águas.

A pesquisa aponta que o complexo teve perda de 125.369 hectares (ha) de superfície hídrica, saindo dos 832.115ha de 1990 para 706.746ha em 2020. Análise de dados de satélites mostra que, entre 1985 e 2020, as maiores bacias hidrográficas mineiras sofreram quedas acentuadas de superfícies de água.

Entre os principais rios, o único que aumentou em área no período avaliado foi o Jequitinhonha. Mas não por recuperação ambiental, e sim devido à ação humana, com a construção da hidrelétrica de Irapé, inaugurada em 2006.

Dados que mostram uma perda de 118 mil hectares de superfície de água em três décadas e meia em Minas – o equivalente a 605 vezes o espelho da Lagoa da Pampulha – fazem parte de estudos dos pesquisadores do MapBiomas, iniciativa que envolve organizações não governamentais, universidades e empresas de tecnologia.

O levantamento nacional aponta a perda de superfície de água em oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras, com redução em 23 das 27 unidades da Federação e em todos os biomas.

Porém, em Minas, as perdas de superfície dos principais rios que nascem no estado são bem superiores à média de redução em nível nacional, de 15,7%. Segundo o estudo, a bacia hidrográfica mineiras com maior redução superficial no período analisado foi a do Rio Urucuia, com queda de 45%.

Retratado nas obras do escritor Guimarães Rosa, o curso deságua no Rio São Francisco, assim como o Rio Verde Grande, outro importante manancial do estado, que teve perda de superfície de água de 40%, ou o  Paracatu,  que encolheu em 25%.

O mesmo percentual de perda de água superficial ocorreu no Rio Doce, que nasce em Minas Gerais e segue em direção ao Espírito Santo, onde deságua no Oceano Atlântico, no município de Linhares. 

Como agravante, esse manancial foi totalmente comprometido, até sua foz, pelo desastre do rompimento da barragem da Samarco em Mariana, em 2015.

MAIOR IMPACTO: Um dos pesquisadores do MapBiomas Água, o professor Luis Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, lembra que, das 23 unidades da Federação que sofreram redução hídrica, Minas Gerais está entre as 10 que mais tiveram perdas nas últimas três décadas.

Ele salienta que o quadro gera maior apreensão pelo fato de o estado concentrar nascentes de bacias hidrográficas importantes, como as do São Francisco e do Doce.

O especialista aponta o desmatamento como um dos principais responsáveis pela queda na disponibilidade hídrica. “O fato de Minas Gerais ter mais nascentes significa que os efeitos (da perda de águas superficiais) são mais impactantes no estado.

Com a continuidade dos desmatamentos, a tendência é ter cada vez menos água, uma preocupação para o futuro. Isso acende uma luz amarela.”

Reportagens do Estado de Minas mostraram que no Norte do estado, dezenas de rios que fazem parte da Bacia do São Francisco, que há 30 anos eram perenes, tornaram-se intermitentes e estão completamente secos, assemelhando-se a estradas. É o caso do Rio das Pedras, no município de Glaucilândia.

Guedes Pinto ressalta que o cenário desolador exposto pelo EM vai ao encontro dos resultados do estudo, divulgado na semana passada.

“O MapBiomas relata exatamente isto: rios que existiam não existem mais ou têm cada vez menos água. Isso tem duas causas principais: o desmatamento e as mudanças climáticas, que vêm provocando secas cada vez mais extremas, mais longas e mais intensas, que diminuem a produção e a oferta de água”, descreve o pesquisador, acrescentando que a situação afeta regiões como a que abriga as nascentes do São Francisco.

O professor acrescenta que a devastação dos principais biomas do estado afeta diretamente a produção de água. “Minas Gerais já desmatou muito a mata atlântica e o cerrado. Isso tem uma consequência enorme sobre as nascentes e os rios. Quanto mais florestas, mais estável a oferta de água. Quanto mais desmatamento, maior prejuízo para a produção de águas”, explica.

Para conter o “esvaziamento” da caixa d’água do Brasil e recuperar o volume das bacias hidrográficas mineiras, o professor Luis Fernando Guedes Pinto destaca a necessidade de reflorestamento, sobretudo com o replantio em torno de nascentes de rios e córregos.

Ele destaca que é preciso também controle sobre usos múltiplos da água, incluindo a irrigação e a geração de energia elétrica, além de investimentos em saneamento básico.

ESCASSEZ: Segundo o estudo do MapBiomas que avaliou dados de satélite de 1985 a 2020, a superfície coberta por água do Brasil em 1991 era de 19,7 milhões de hectares. No ano passado, ela já havia sido reduzida para 16,6 milhões de hectares, área equivalente ao território do Acre ou quase quatro vezes o estado do Rio de Janeiro. A perda de 3,1 milhões de hectares em 30 anos (15,7%) equivale a mais de uma vez e meia a superfície de água de toda a Região Nordeste em 2020. No período avaliado, 70% dos municípios brasileiros tiveram perda de águas superficiais.

Para o ambientalista Apolo Heringer Lisboa, fundador do Manuelzão, projeto de recuperação da Bacia do Rio das Velhas, o período do estudo do MapBiomas que aponta redução nas águas superficiais no Brasil coincide com o “boom” de atividades de mineração e agronegócio. Ele aponta relação direta entre o aumento da exploração econômica e a redução da disponibilidade hídrica.

“O período avaliado pelo MapBiomas abrange o boom da nova economia brasileira, baseada na exportação de commodities, hoje sobretudo para atender ao mercado chinês, a nova grande potência mundial. O quadrilátero aquífero (e ferrífero-aurífero), onde se situam as cabeceiras dos rios das Velhas, Paraopeba e Doce, está sendo rápida e intensamente perfurado a grandes profundidades para extração de minério de ferro de elevada qualidade, em prejuízo da boa gestão dessas águas, que se tornou subsidiária”, afirma.

O especialista salienta, que entre outros impactos, a atividade minerária detona rochas e drena a água dos lençóis freáticos profundos, permitindo a mineração a seco e em algumas regiões o seu transporte por água em minerodutos.

“Esse vasto rebaixamento de lençóis que atinge toda a região das bacias do Velhas, Paraopeba e Doce impacta toda a Grande BH, que passou a ter graves problemas de abastecimento humano, e já compromete a sobrevivência dos rios enquanto ecossistemas de uso comum”, considera.

Apolo Heringer Lisboa afirma também que a explosão da exportação brasileira de matéria-prima gerou alterações no conceito de seca.

“As secas de há meio século eram dependentes da chuva. Hoje, pode haver seca em períodos próximos de muita chuva, pois se trata de seca subterrânea. A demanda colossal de exportação dessas commodities primárias e a licenciosidade do controle da gestão ambiental, que só tem olho para a arrecadação e os negócios político-empresariais, permitem o abuso da retirada de água dos rios e das águas subterrâneas em poços profundos. Ultrapassaram os níveis recomendados para cada ano pela ciência hidrológica”, opina.

No caso da Bacia do São Francisco, afirma, o Rio Urucuia, seu principal aquífero, perdeu a abundância existente até a metade do século 20, coincidindo com a destruição do cerrado para exploração, de onde provêm suas águas. Apolo enfatiza a necessidade de conciliar a atividade econômica com a preservação ambiental.

“Hoje, o desenvolvimento precisa ser regenerativo, na linha da renaturalização. O Brasil convive há 521 anos com atividades econômicas predatórias. Sem ecologizar a economia, aprendendo com a economia natural ou ecologia, caminhamos para o colapso ambiental que levará de roldão o futuro nacional”, alerta.

RIO DAS VELHAS: O Rio das Velhas, uma das principais fontes de abastecimento humano da Região Metropolitana de Belo Horizonte, é dos mananciais mais castigados em três décadas, aponta estudo do MapBiomas. A redução de 40% da superfície de águas do leito é considerada “alarmante” pelo professor e pesquisador Luis Fernando Guedes Pinto, participante da pesquisa.

A queda na vazão é verificada ao longo de toda a extensão da bacia, de 806 quilômetros, da nascente, no município de Ouro Preto, até a foz, no Rio São Francisco, em Várzea da Palma, Norte de Minas, passando pelos territórios de 51 municípios.

“A Bacia do Rio das Velhas fica em uma região que sofre intenso desmatamento e isso está relacionado com a oferta de água”, considera o pesquisador. Ele lembra ainda que o fato de o rio atravessar áreas urbanas e ser usado para o abastecimento da Grande BH também contribui para a retirada de água da bacia e redução do volume que chega até a foz.

A presidente do Comitê da Bacia do Rio das Velhas, Poliana Valgas, afirma que, embora ainda não tenha avaliado o documento do MapBiomas, já tinha alertado sobre a diminuição das águas superficiais na bacia.

“São vários fatores combinados que, principalmente nos períodos de estiagem, ocasionam vazões extremamente baixas. Tudo isso demonstra desequilíbrio e perda de resiliência”, observa.

Segundo ela, entre as causas do quadro estão os baixos índices de chuva, mau uso e ocupação do solo, com destaque para atividades extrativas e expansão imobiliária em áreas de produção de água e recarga do sistema, a crescente demanda pelo uso da água, assim como perdas nos sistemas de abastecimento públicos.

A situação mais crítica está no Alto Rio das Velhas, região da cabeceira e da produção de água, “por sinal, onde ocorre a captação para abastecimento de metade da Região Metropolitana de BH”.

Entre as intervenções para salvar o rio, Poliana Valgas cobra a adoção de “medidas de médio e curto prazos, como a efetivação de um programa estruturante de revitalização da bacia, a definição de políticas públicas de preservação de áreas de produção de água e de uso e ocupação do solo nos municípios”.

Ela cita a recuperação de áreas degradadas e proteção de nascentes, a ampliação e melhoria no tratamento de esgotos das cidades, o uso mais racional da água e investimentos em tecnologia como o reúso e a captação de águas de chuva.

A degradação e a diminuição ano a ano do volume do Rio das Velhas são testemunhadas pelos moradores de suas margens. O pedreiro Edmilson Alves da Silva Pereira, de 42 anos, da localidade de Buriti da Porta, na zona rural de Várzea da Palma, cresceu enquanto o leito só baixava.

“Desde quando era garoto até hoje, o volume do rio diminuiu demais. Tinha um braço onde a gente atravessava com água pela cintura. Hoje, o nível não passa dos pés da gente”, conta.

Vilma Martins Veloso, de 57, presidente da colônia de pescadores do distrito de Barra do Guaicuí, perto do ponto onde o Velhas encontra o Rio São Francisco, se entristece com o que vê olhando para o leito. “Há 30 anos, o rio era uma fartura de água. Hoje, a gente fica triste de ver que está cada vez mais vazio, assoreado e poluído. Quando chove, o rio enche, mas rapidamente a água diminui”, lamenta.

A colônia tem 125 associados, que buscam sustento no São Francisco (a pesca foi proibida no Rio das Velhas, considerado “berçário” dos peixes). Com a degradação, eles também sofrem com diminuição dos cardumes. (Fonte: Jornal Estado de Minas/Luiz Ribeiro) Foto Revista Chico

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EDUCADOR PAULO FREIRE COMPLETARIA 100 ANOS NO DIA 19 DE SETEMBRO

Paulo Freire, o patrono da educação brasileira, completaria 100 anos no dia 19 de setembro. Tendo desencarnado em 1997, poucas semanas antes de receber o título de Doutor Honoris Causa de Fidel Castro, então líder máximo de Cuba, suas ideias, ainda hoje, permanecem vivas e vicejantes.

Estudado e respeitado ao redor do mundo – seus livros instigam educadores desde o gelo finlandês até o pós-colonialismo dos países africanos – no Brasil o interesse por sua obra cresce acompanhando o ódio obscurantista que lhe é dirigido pelos setores reacionários e golpistas que se escondem atrás de lemas pseudo-patrióticos.

Para homenagear o centenário do educador, a Faculdade de Educação da USP organizou o seminário internacional “Ano 100 com Paulo Freire: tempos, espaços, memórias, discursos e práticas”, que acontece entre os dias 7 e 10 de setembro. 

Nascido em Recife, no estado de Pernambuco, em 1921, Paulo Freire foi o caçula de um pai capitão da Polícia Militar e de uma mãe dona de casa. Formou-se na Faculdade de Direito do Recife, mas se dedicou mesmo à educação. Atuou como professor e diretor do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria (Sesi) de Pernambuco. Essas experiências antecederam o famoso projeto de Angicos, realizado em 1963 no Rio Grande do Norte, com financiamento estadunidense, no qual Freire coordenou uma equipe que alfabetizou cerca de 300 pessoas em um curso de 40 horas. A iniciativa formou leitores, criou eleitores e ensinou aos trabalhadores seus direitos.

O sucesso de Angicos faria com que o presidente João Goulart adotasse o método de Paulo Freire na criação do Programa Nacional de Alfabetização, que previa a instalação de 20 mil círculos de cultura pelo país. O projeto não veria sua materialidade, entretanto, pois o golpe civil-militar de primeiro de abril de 1964 marcaria sua extinção. Ao mesmo tempo, os militares invasores do Planalto Central representariam para Freire a prisão e o exílio.

Com os coturnos pisoteando o Brasil, o educador se exila respectivamente no Chile, nos Estados Unidos e na Suíça. No país sul-americano, trabalha na educação de camponeses e escreve, em 1967, seu primeiro livro, Educação como prática da liberdade. No ano seguinte, redige então sua obra mais famosa, Pedagogia do oprimido. Em 1969 desembarca nos EUA, onde é convidado para lecionar em Harvard. Um ano depois, Pedagogia do oprimido é publicado em inglês e espanhol. Sina dos tempos de então, a versão em português só chegaria aqui em 1974.

Ainda em 1970, Paulo Freire se muda para Genebra, atuando como consultor educacional do Conselho Mundial de Igrejas. No ano seguinte funda o Instituto de Ação Cultural (Idac), por meio do qual realizaria ações em diversos países, incluindo programas de alfabetização e descolonização nas recém-libertas colônias portuguesas na África, como Guiné-Bissau, Cabo Verde e Angola.

É com a agridoce anistia ampla, geral e irrestrita que o educador volta em 1980 para o Brasil, passando a lecionar na Unicamp e na PUC de São Paulo. Participa da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e é na gestão de Luiza Erundina como prefeita de São Paulo que se torna secretário de Educação do município, em 1989. Ficaria encantado, nas palavras de Guimarães Rosa, em 2 de maio de 1997, aos 75 anos. Em 2012, por iniciativa da própria Erundina, então deputada federal, seria declarado patrono da educação brasileira.

Na visão de Paulo Freire, a educação é um processo que não se esgota. Seu pressuposto é que homens e mulheres são seres inconclusos, ansiosos por saber cada vez mais à medida que tomam consciência. Esse processo é chamado por Freire de ser mais, uma dinâmica na qual são exigidas curiosidade, pesquisa e investigação.

Para que homens e mulheres caminhem na direção de ser mais, o primeiro movimento é a leitura do mundo. Só depois disso é que se passa à leitura das palavras. O que isso significa na prática? “Significa que Paulo Freire está nos avisando que a leitura do mundo não é tão simples. Saber, hoje, o que é o Brasil e o que é ser um brasileiro implica um processo de conscientização para se enxergar o que é real”, comenta Lisete Arelaro, professora emérita da Faculdade de Educação (FE) da USP e uma das participantes do seminário internacional “Ano 100 com Paulo Freire: tempos, espaços, memórias, discursos e práticas”, que acontece entre os dias 7 e 10 de setembro (leia mais no final da matéria).

Lisete exemplifica comentando a questão da desigualdade social. “O conhecimento de sermos um país dos mais desiguais, com consequências no cotidiano de todos nós, na distribuição de renda, de conhecimento, da arte e da cultura, muitas vezes é alheio a pessoas que passaram pela escola. Por isso, Freire fala que o processo de educação é um processo de conscientização. E esse processo pode levar homens e mulheres a querer participar da possível modificação do mundo”, explica a professora.

De acordo com Freire, portanto, é evidente que a educação não é neutra, apesar dessa constatação nem sempre ser óbvia. Os conteúdos, mesmo em áreas como as ciências exatas, não são conhecimentos em si mesmos e não são independentes de concepções políticas e condições sociais. Quando alguém decide pesquisar uma coisa ou outra, prioriza determinada forma de ver o mundo, seleciona suas prioridades e os destinatários da pesquisa.“O ato pedagógico é sempre um ato político, porque exprime sua concepção de vida, de sociedade e das relações interpessoais”, aponta Lisete.

EDUCAÇÃO BANCÁRIA: Essa, entretanto, não é a concepção de educação preponderante no Brasil. Ainda hoje, passados mais de 50 anos da publicação da Pedagogia do oprimido, é a chamada, na expressão do autor, de concepção bancária da educação que predomina nas políticas oficiais. Seu principal exemplo aparece no documento conhecido como Base Nacional Comum Curricular (BNCC), baseado na pedagogia das competências e que, para Lisete, é sinônimo de currículo único.

A ideia de educação bancária parte da metáfora do depósito. Nela, o conteúdo deve ser ensinado independentemente das circunstâncias. Como o próprio Paulo Freire escreve, “O educador aparece como seu indiscutível agente, como seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é ‘encher’ os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação”. O educador se torna, portanto, mero depositante. Os educandos, depositários.

Lisete exemplifica como se manifesta a educação bancária.“Estamos em uma pandemia com quase 600 mil mortos, temos 18 milhões de desempregados e metade da população em estado de insegurança alimentar. Tudo isso é deixado de lado porque o que interessa é fazer a transmissão do conteúdo preparado, supostamente dentro dos ‘guias curriculares’ ou propostas curriculares oficiais. Não interessa nem as circunstâncias e muito menos se o aluno propriamente aprendeu. Aprender é um problema dele: ele que faça um esforço e aprenda. Eu desempenho minha função, que é transmitir o conteúdo”.

Na educação bancária, o educando é um objeto passivo. A autoridade do conhecimento é o professor, que sabe mais e portanto não precisa prestar atenção no estudante. Cabe ao professor definir a disciplina, o conteúdo, a avaliação e até mesmo o jeito do estudante se comportar. Para este, a função é prestar atenção no professor, a “autoridade” que sabe mais.

A essa concepção, Paulo Freire contrapõe a convicção epistemológica de que é o diálogo que garante a aprendizagem. Para ele, ninguém ensina ninguém e ninguém aprende sozinho: as pessoas aprendem em comunhão. Tanto na escola quanto em qualquer outro espaço de atuação – sindicatos, igrejas, grupos de amigos, times de futebol – o ato educativo surge na prática concreta com o coletivo. Para que isso se efetive, por sua vez, alguns pressupostos são necessários.

O primeiro é a aceitação de que todos somos iguais. Já o segundo, que todos temos direitos iguais. Lisete destaca, contudo, que a aparente simplicidade da aplicação desses pressupostos é ilusória. “Quem seria contra o direito à educação? Entretanto, mesmo para você falar isso com certeza, Paulo Freire diz, todo dia é uma opção política admitir que todos têm o direito à educação e todos têm o direito de aprender”. É só nessa horizontalidade que o diálogo freiriano pode se dar e, dessa forma, instalar processos de conscientização e curiosidade fundamentais para o ser mais.

Dessa opção pelo diálogo surgem posturas como a oposição de Freire aos materiais pré-fabricados, como apostilas produzidas por empresas privadas, que uniformizam os currículos, limitam a autonomia escolar e cerceiam o diálogo. Para o educador, cada grupo social tem suas características e particularidades e, no processo de aprendizado, não se pode definir tudo previamente. Aí entram práticas como os estudos do meio, uma abordagem anterior a Paulo Freire, mas resgatada por ele, no qual os currículos escolares são montados a partir da ida às comunidades.

 “É o conhecimento da comunidade que dá condições para que eu saiba quem são meus alunos”, frisa Lisete.

Isso não significa, Lisete faz questão de lembrar, que Freire acreditava em um ensino sem conteúdos. Conforme conta a professora, que conheceu de perto suas ideias e seu trabalho quando fez parte da equipe de Freire na Secretaria Municipal de Educação, o educador defendia que os professores tenham sólida formação teórica, científica, artística e literária, para poder lidar com a diversidade de interesses dos estudantes. E, além disso, o diálogo proposto por Freire não deixava de lado o planejamento das aulas. Justamente o contrário: é a robusta bagagem dos professores, somada ao planejamento cuidadoso das atividades, que permite ao professor as bases do diálogo no processo educativo.

No cerne da defesa da autonomia escolar está também a constatação de que não é o professor isolado que garante a qualidade da escola: é preciso um grupo de profissionais empenhados em uma proposta de sociedade, com uma concepção sobre o tipo de jovem que desejam formar. “Isso significa o direito, mas também o dever, de cada escola pública elaborar o que Freire chamava de projeto político-pedagógico”, explica Lisete, frisando que o político da expressão é central aqui. “O projeto de escola não é um projeto simplesmente de conteúdo – e quem fala isso sabe que está mentindo. Um projeto pedagógico será sempre político-pedagógico, porque significa o investimento que acreditamos dever ser feito sobre as crianças, jovens e adultos: um homem e uma mulher que se interessem ou não pela situação concreta do mundo. É isso que tornará uma escola libertadora”.

Para o empenho dos professores nessa tarefa, Freire sabia da importância de condições de vida e trabalho adequadas. Por isso defendia uma jornada de trabalho em que professores tivessem horas disponíveis para reuniões e planejamentos coletivos. Também propunha a educação por projetos, com a organização interdisciplinar da escola, nos quais professores de diversas áreas participassem da elaboração das atividades.

Lisete lembra da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP como um exemplo das ideias de Freire colocadas em prática. A professora conta que, antes da Emenda Constitucional nº 95, a emenda do teto dos gastos públicos, a Escola de Aplicação tinha condições de manter um quadro de professores com salários iniciais capazes de garantir a permanência dos educadores em um único emprego. Além disso, os contratos de 40 horas previam metade do tempo em sala de aula e as outras 20 horas reservadas para planejamento. “Não por acaso, a Escola de Aplicação sempre foi uma referência, como uma das melhores escolas. Não é mágica: é condição de trabalho”.

O PERIGO DE PAULO FREIRE: Quando falamos da recepção atual da obra de Freire, Lisete tem uma anedota. Conta que Daniel Cara, também professor da FE e coordenador da Campanha Nacional em Defesa da Educação esteve com a ministra da Educação da Finlândia e perguntou a ela quem eram os gurus de uma das educações mais bem avaliadas do mundo. A ministra teria rido e achado estranho um brasileiro lhe perguntar isso, porque na Finlândia justamente dois educadores brasileiros sempre os orientaram: Anísio Teixeira e Paulo Freire.

A história ilustra a importância de Freire mundo afora, a despeito do ódio e da difamação espumante que ele tem sofrido atualmente por um parcela pequena, mas barulhenta, da sociedade, principalmente em hostes federais. Lisete aponta que sua obra participa regularmente da formação de professores na Dinamarca, Noruega, Itália, Espanha, Portugal e uma série de países africanos. Mesmo no Brasil, os próprios discursos contra Freire acabaram renovando o interesse por seus livros. Nita, esposa de Freire, teria ouvido dos editores que nunca se vendeu tantos livros do educador como hoje.

“Paulo Freire continua sendo um perigo”, comenta Lisete. “Ele é considerado um comunista porque tende a mostrar que a simples privatização das coisas, como tem sido feito, mercantiliza também as pessoas. Esse é processo que ele chama de desumanização. Não interessa o que você pensa, sente ou é, o que interessa é o que você tem. E se você não tem, a culpa é sua”.

É justamente para interromper essa hemorragia mercantilizadora que a educação precisa conscientizar. Uma conscientização, para Freire, “que prepara os homens, no plano da ação, para a luta contra os obstáculos à sua humanização”, como escreve em Pedagogia do oprimido. Um ponto importante, pois, nas reflexões do educador, o processo de conscientização não é apenas intelectual, mas se realiza na prática cotidiana, na práxis.

Esse portanto, é o risco de Paulo Freire, segundo Lisete: tornar a educação capaz de fazer as pessoas desejarem se juntar àqueles que pensam em transformar o mundo. Não para simplesmente inverter posições e transformar dominados em dominadores. Nada mais longe da concepção de Freire, como sua célebre frase revela: “Se a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”.

A educação libertadora de Feire é humanista e dialogista. “Esses são critérios da democracia, da cidadania, critérios permanentes”, sublinha Lisete. Assim, o perigo que Paulo Freire inspira é o da própria democracia e da possibilidade dos oprimidos serem mais. É o perigo do fim da opressão.

ATUALIDADE E LEGADO: Dentro do marco do centenário de nascimento de Paulo Freire, a FE organiza de 7 a 10 de setembro o seminário internacional “Ano 100 com Paulo Freire: tempos, espaços, memórias, discursos e práticas”.

Com discussões sobre o legado de Freire no Brasil e no mundo, o evento acontecerá de forma virtual. Além das comunicações de estudantes universitários, professores, educadores populares e ativistas de movimentos sociais, o seminário contará com 4 mesas nas quais diversas facetas do educador serão tematizadas.

A transmissão de seminário acontecerá pelo canal no YouTube da FE e a programação, assim como outras informações, pode ser conferida no site da instituição. (Fonte: Jornal da USP)

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