ESTUDO MOSTRA COMO DEGRADAÇÃO DA NATUREZA TEM AFETADO RIOS AFLUENTES DO VELHO CHICO

Minas Gerais enfrenta uma das piores estiagens da história, mas a crise hídrica, que afeta o país como um todo, está longe de ser apenas um fenômeno pontual. O estado que já foi chamado de Caixa-d’água do Brasil está ficando cada vez mais seco, consequência da degradação ambiental e das mudanças climáticas.

De acordo com o MapBiomas Águas, a Bacia do Rio São Francisco, que nasce na Serra da Canastra, em Minas, e percorre cinco estados até encontrar o Oceano Atlântico, entre Alagoas e Sergipe, também sofreu diminuição global de 15% na área ocupada por suas águas.

A pesquisa aponta que o complexo teve perda de 125.369 hectares (ha) de superfície hídrica, saindo dos 832.115ha de 1990 para 706.746ha em 2020. Análise de dados de satélites mostra que, entre 1985 e 2020, as maiores bacias hidrográficas mineiras sofreram quedas acentuadas de superfícies de água.

Entre os principais rios, o único que aumentou em área no período avaliado foi o Jequitinhonha. Mas não por recuperação ambiental, e sim devido à ação humana, com a construção da hidrelétrica de Irapé, inaugurada em 2006.

Dados que mostram uma perda de 118 mil hectares de superfície de água em três décadas e meia em Minas – o equivalente a 605 vezes o espelho da Lagoa da Pampulha – fazem parte de estudos dos pesquisadores do MapBiomas, iniciativa que envolve organizações não governamentais, universidades e empresas de tecnologia.

O levantamento nacional aponta a perda de superfície de água em oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras, com redução em 23 das 27 unidades da Federação e em todos os biomas.

Porém, em Minas, as perdas de superfície dos principais rios que nascem no estado são bem superiores à média de redução em nível nacional, de 15,7%. Segundo o estudo, a bacia hidrográfica mineiras com maior redução superficial no período analisado foi a do Rio Urucuia, com queda de 45%.

Retratado nas obras do escritor Guimarães Rosa, o curso deságua no Rio São Francisco, assim como o Rio Verde Grande, outro importante manancial do estado, que teve perda de superfície de água de 40%, ou o  Paracatu,  que encolheu em 25%.

O mesmo percentual de perda de água superficial ocorreu no Rio Doce, que nasce em Minas Gerais e segue em direção ao Espírito Santo, onde deságua no Oceano Atlântico, no município de Linhares. 

Como agravante, esse manancial foi totalmente comprometido, até sua foz, pelo desastre do rompimento da barragem da Samarco em Mariana, em 2015.

MAIOR IMPACTO: Um dos pesquisadores do MapBiomas Água, o professor Luis Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, lembra que, das 23 unidades da Federação que sofreram redução hídrica, Minas Gerais está entre as 10 que mais tiveram perdas nas últimas três décadas.

Ele salienta que o quadro gera maior apreensão pelo fato de o estado concentrar nascentes de bacias hidrográficas importantes, como as do São Francisco e do Doce.

O especialista aponta o desmatamento como um dos principais responsáveis pela queda na disponibilidade hídrica. “O fato de Minas Gerais ter mais nascentes significa que os efeitos (da perda de águas superficiais) são mais impactantes no estado.

Com a continuidade dos desmatamentos, a tendência é ter cada vez menos água, uma preocupação para o futuro. Isso acende uma luz amarela.”

Reportagens do Estado de Minas mostraram que no Norte do estado, dezenas de rios que fazem parte da Bacia do São Francisco, que há 30 anos eram perenes, tornaram-se intermitentes e estão completamente secos, assemelhando-se a estradas. É o caso do Rio das Pedras, no município de Glaucilândia.

Guedes Pinto ressalta que o cenário desolador exposto pelo EM vai ao encontro dos resultados do estudo, divulgado na semana passada.

“O MapBiomas relata exatamente isto: rios que existiam não existem mais ou têm cada vez menos água. Isso tem duas causas principais: o desmatamento e as mudanças climáticas, que vêm provocando secas cada vez mais extremas, mais longas e mais intensas, que diminuem a produção e a oferta de água”, descreve o pesquisador, acrescentando que a situação afeta regiões como a que abriga as nascentes do São Francisco.

O professor acrescenta que a devastação dos principais biomas do estado afeta diretamente a produção de água. “Minas Gerais já desmatou muito a mata atlântica e o cerrado. Isso tem uma consequência enorme sobre as nascentes e os rios. Quanto mais florestas, mais estável a oferta de água. Quanto mais desmatamento, maior prejuízo para a produção de águas”, explica.

Para conter o “esvaziamento” da caixa d’água do Brasil e recuperar o volume das bacias hidrográficas mineiras, o professor Luis Fernando Guedes Pinto destaca a necessidade de reflorestamento, sobretudo com o replantio em torno de nascentes de rios e córregos.

Ele destaca que é preciso também controle sobre usos múltiplos da água, incluindo a irrigação e a geração de energia elétrica, além de investimentos em saneamento básico.

ESCASSEZ: Segundo o estudo do MapBiomas que avaliou dados de satélite de 1985 a 2020, a superfície coberta por água do Brasil em 1991 era de 19,7 milhões de hectares. No ano passado, ela já havia sido reduzida para 16,6 milhões de hectares, área equivalente ao território do Acre ou quase quatro vezes o estado do Rio de Janeiro. A perda de 3,1 milhões de hectares em 30 anos (15,7%) equivale a mais de uma vez e meia a superfície de água de toda a Região Nordeste em 2020. No período avaliado, 70% dos municípios brasileiros tiveram perda de águas superficiais.

Para o ambientalista Apolo Heringer Lisboa, fundador do Manuelzão, projeto de recuperação da Bacia do Rio das Velhas, o período do estudo do MapBiomas que aponta redução nas águas superficiais no Brasil coincide com o “boom” de atividades de mineração e agronegócio. Ele aponta relação direta entre o aumento da exploração econômica e a redução da disponibilidade hídrica.

“O período avaliado pelo MapBiomas abrange o boom da nova economia brasileira, baseada na exportação de commodities, hoje sobretudo para atender ao mercado chinês, a nova grande potência mundial. O quadrilátero aquífero (e ferrífero-aurífero), onde se situam as cabeceiras dos rios das Velhas, Paraopeba e Doce, está sendo rápida e intensamente perfurado a grandes profundidades para extração de minério de ferro de elevada qualidade, em prejuízo da boa gestão dessas águas, que se tornou subsidiária”, afirma.

O especialista salienta, que entre outros impactos, a atividade minerária detona rochas e drena a água dos lençóis freáticos profundos, permitindo a mineração a seco e em algumas regiões o seu transporte por água em minerodutos.

“Esse vasto rebaixamento de lençóis que atinge toda a região das bacias do Velhas, Paraopeba e Doce impacta toda a Grande BH, que passou a ter graves problemas de abastecimento humano, e já compromete a sobrevivência dos rios enquanto ecossistemas de uso comum”, considera.

Apolo Heringer Lisboa afirma também que a explosão da exportação brasileira de matéria-prima gerou alterações no conceito de seca.

“As secas de há meio século eram dependentes da chuva. Hoje, pode haver seca em períodos próximos de muita chuva, pois se trata de seca subterrânea. A demanda colossal de exportação dessas commodities primárias e a licenciosidade do controle da gestão ambiental, que só tem olho para a arrecadação e os negócios político-empresariais, permitem o abuso da retirada de água dos rios e das águas subterrâneas em poços profundos. Ultrapassaram os níveis recomendados para cada ano pela ciência hidrológica”, opina.

No caso da Bacia do São Francisco, afirma, o Rio Urucuia, seu principal aquífero, perdeu a abundância existente até a metade do século 20, coincidindo com a destruição do cerrado para exploração, de onde provêm suas águas. Apolo enfatiza a necessidade de conciliar a atividade econômica com a preservação ambiental.

“Hoje, o desenvolvimento precisa ser regenerativo, na linha da renaturalização. O Brasil convive há 521 anos com atividades econômicas predatórias. Sem ecologizar a economia, aprendendo com a economia natural ou ecologia, caminhamos para o colapso ambiental que levará de roldão o futuro nacional”, alerta.

RIO DAS VELHAS: O Rio das Velhas, uma das principais fontes de abastecimento humano da Região Metropolitana de Belo Horizonte, é dos mananciais mais castigados em três décadas, aponta estudo do MapBiomas. A redução de 40% da superfície de águas do leito é considerada “alarmante” pelo professor e pesquisador Luis Fernando Guedes Pinto, participante da pesquisa.

A queda na vazão é verificada ao longo de toda a extensão da bacia, de 806 quilômetros, da nascente, no município de Ouro Preto, até a foz, no Rio São Francisco, em Várzea da Palma, Norte de Minas, passando pelos territórios de 51 municípios.

“A Bacia do Rio das Velhas fica em uma região que sofre intenso desmatamento e isso está relacionado com a oferta de água”, considera o pesquisador. Ele lembra ainda que o fato de o rio atravessar áreas urbanas e ser usado para o abastecimento da Grande BH também contribui para a retirada de água da bacia e redução do volume que chega até a foz.

A presidente do Comitê da Bacia do Rio das Velhas, Poliana Valgas, afirma que, embora ainda não tenha avaliado o documento do MapBiomas, já tinha alertado sobre a diminuição das águas superficiais na bacia.

“São vários fatores combinados que, principalmente nos períodos de estiagem, ocasionam vazões extremamente baixas. Tudo isso demonstra desequilíbrio e perda de resiliência”, observa.

Segundo ela, entre as causas do quadro estão os baixos índices de chuva, mau uso e ocupação do solo, com destaque para atividades extrativas e expansão imobiliária em áreas de produção de água e recarga do sistema, a crescente demanda pelo uso da água, assim como perdas nos sistemas de abastecimento públicos.

A situação mais crítica está no Alto Rio das Velhas, região da cabeceira e da produção de água, “por sinal, onde ocorre a captação para abastecimento de metade da Região Metropolitana de BH”.

Entre as intervenções para salvar o rio, Poliana Valgas cobra a adoção de “medidas de médio e curto prazos, como a efetivação de um programa estruturante de revitalização da bacia, a definição de políticas públicas de preservação de áreas de produção de água e de uso e ocupação do solo nos municípios”.

Ela cita a recuperação de áreas degradadas e proteção de nascentes, a ampliação e melhoria no tratamento de esgotos das cidades, o uso mais racional da água e investimentos em tecnologia como o reúso e a captação de águas de chuva.

A degradação e a diminuição ano a ano do volume do Rio das Velhas são testemunhadas pelos moradores de suas margens. O pedreiro Edmilson Alves da Silva Pereira, de 42 anos, da localidade de Buriti da Porta, na zona rural de Várzea da Palma, cresceu enquanto o leito só baixava.

“Desde quando era garoto até hoje, o volume do rio diminuiu demais. Tinha um braço onde a gente atravessava com água pela cintura. Hoje, o nível não passa dos pés da gente”, conta.

Vilma Martins Veloso, de 57, presidente da colônia de pescadores do distrito de Barra do Guaicuí, perto do ponto onde o Velhas encontra o Rio São Francisco, se entristece com o que vê olhando para o leito. “Há 30 anos, o rio era uma fartura de água. Hoje, a gente fica triste de ver que está cada vez mais vazio, assoreado e poluído. Quando chove, o rio enche, mas rapidamente a água diminui”, lamenta.

A colônia tem 125 associados, que buscam sustento no São Francisco (a pesca foi proibida no Rio das Velhas, considerado “berçário” dos peixes). Com a degradação, eles também sofrem com diminuição dos cardumes. (Fonte: Jornal Estado de Minas/Luiz Ribeiro) Foto Revista Chico

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EDUCADOR PAULO FREIRE COMPLETARIA 100 ANOS NO DIA 19 DE SETEMBRO

Paulo Freire, o patrono da educação brasileira, completaria 100 anos no dia 19 de setembro. Tendo desencarnado em 1997, poucas semanas antes de receber o título de Doutor Honoris Causa de Fidel Castro, então líder máximo de Cuba, suas ideias, ainda hoje, permanecem vivas e vicejantes.

Estudado e respeitado ao redor do mundo – seus livros instigam educadores desde o gelo finlandês até o pós-colonialismo dos países africanos – no Brasil o interesse por sua obra cresce acompanhando o ódio obscurantista que lhe é dirigido pelos setores reacionários e golpistas que se escondem atrás de lemas pseudo-patrióticos.

Para homenagear o centenário do educador, a Faculdade de Educação da USP organizou o seminário internacional “Ano 100 com Paulo Freire: tempos, espaços, memórias, discursos e práticas”, que acontece entre os dias 7 e 10 de setembro. 

Nascido em Recife, no estado de Pernambuco, em 1921, Paulo Freire foi o caçula de um pai capitão da Polícia Militar e de uma mãe dona de casa. Formou-se na Faculdade de Direito do Recife, mas se dedicou mesmo à educação. Atuou como professor e diretor do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria (Sesi) de Pernambuco. Essas experiências antecederam o famoso projeto de Angicos, realizado em 1963 no Rio Grande do Norte, com financiamento estadunidense, no qual Freire coordenou uma equipe que alfabetizou cerca de 300 pessoas em um curso de 40 horas. A iniciativa formou leitores, criou eleitores e ensinou aos trabalhadores seus direitos.

O sucesso de Angicos faria com que o presidente João Goulart adotasse o método de Paulo Freire na criação do Programa Nacional de Alfabetização, que previa a instalação de 20 mil círculos de cultura pelo país. O projeto não veria sua materialidade, entretanto, pois o golpe civil-militar de primeiro de abril de 1964 marcaria sua extinção. Ao mesmo tempo, os militares invasores do Planalto Central representariam para Freire a prisão e o exílio.

Com os coturnos pisoteando o Brasil, o educador se exila respectivamente no Chile, nos Estados Unidos e na Suíça. No país sul-americano, trabalha na educação de camponeses e escreve, em 1967, seu primeiro livro, Educação como prática da liberdade. No ano seguinte, redige então sua obra mais famosa, Pedagogia do oprimido. Em 1969 desembarca nos EUA, onde é convidado para lecionar em Harvard. Um ano depois, Pedagogia do oprimido é publicado em inglês e espanhol. Sina dos tempos de então, a versão em português só chegaria aqui em 1974.

Ainda em 1970, Paulo Freire se muda para Genebra, atuando como consultor educacional do Conselho Mundial de Igrejas. No ano seguinte funda o Instituto de Ação Cultural (Idac), por meio do qual realizaria ações em diversos países, incluindo programas de alfabetização e descolonização nas recém-libertas colônias portuguesas na África, como Guiné-Bissau, Cabo Verde e Angola.

É com a agridoce anistia ampla, geral e irrestrita que o educador volta em 1980 para o Brasil, passando a lecionar na Unicamp e na PUC de São Paulo. Participa da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e é na gestão de Luiza Erundina como prefeita de São Paulo que se torna secretário de Educação do município, em 1989. Ficaria encantado, nas palavras de Guimarães Rosa, em 2 de maio de 1997, aos 75 anos. Em 2012, por iniciativa da própria Erundina, então deputada federal, seria declarado patrono da educação brasileira.

Na visão de Paulo Freire, a educação é um processo que não se esgota. Seu pressuposto é que homens e mulheres são seres inconclusos, ansiosos por saber cada vez mais à medida que tomam consciência. Esse processo é chamado por Freire de ser mais, uma dinâmica na qual são exigidas curiosidade, pesquisa e investigação.

Para que homens e mulheres caminhem na direção de ser mais, o primeiro movimento é a leitura do mundo. Só depois disso é que se passa à leitura das palavras. O que isso significa na prática? “Significa que Paulo Freire está nos avisando que a leitura do mundo não é tão simples. Saber, hoje, o que é o Brasil e o que é ser um brasileiro implica um processo de conscientização para se enxergar o que é real”, comenta Lisete Arelaro, professora emérita da Faculdade de Educação (FE) da USP e uma das participantes do seminário internacional “Ano 100 com Paulo Freire: tempos, espaços, memórias, discursos e práticas”, que acontece entre os dias 7 e 10 de setembro (leia mais no final da matéria).

Lisete exemplifica comentando a questão da desigualdade social. “O conhecimento de sermos um país dos mais desiguais, com consequências no cotidiano de todos nós, na distribuição de renda, de conhecimento, da arte e da cultura, muitas vezes é alheio a pessoas que passaram pela escola. Por isso, Freire fala que o processo de educação é um processo de conscientização. E esse processo pode levar homens e mulheres a querer participar da possível modificação do mundo”, explica a professora.

De acordo com Freire, portanto, é evidente que a educação não é neutra, apesar dessa constatação nem sempre ser óbvia. Os conteúdos, mesmo em áreas como as ciências exatas, não são conhecimentos em si mesmos e não são independentes de concepções políticas e condições sociais. Quando alguém decide pesquisar uma coisa ou outra, prioriza determinada forma de ver o mundo, seleciona suas prioridades e os destinatários da pesquisa.“O ato pedagógico é sempre um ato político, porque exprime sua concepção de vida, de sociedade e das relações interpessoais”, aponta Lisete.

EDUCAÇÃO BANCÁRIA: Essa, entretanto, não é a concepção de educação preponderante no Brasil. Ainda hoje, passados mais de 50 anos da publicação da Pedagogia do oprimido, é a chamada, na expressão do autor, de concepção bancária da educação que predomina nas políticas oficiais. Seu principal exemplo aparece no documento conhecido como Base Nacional Comum Curricular (BNCC), baseado na pedagogia das competências e que, para Lisete, é sinônimo de currículo único.

A ideia de educação bancária parte da metáfora do depósito. Nela, o conteúdo deve ser ensinado independentemente das circunstâncias. Como o próprio Paulo Freire escreve, “O educador aparece como seu indiscutível agente, como seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é ‘encher’ os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação”. O educador se torna, portanto, mero depositante. Os educandos, depositários.

Lisete exemplifica como se manifesta a educação bancária.“Estamos em uma pandemia com quase 600 mil mortos, temos 18 milhões de desempregados e metade da população em estado de insegurança alimentar. Tudo isso é deixado de lado porque o que interessa é fazer a transmissão do conteúdo preparado, supostamente dentro dos ‘guias curriculares’ ou propostas curriculares oficiais. Não interessa nem as circunstâncias e muito menos se o aluno propriamente aprendeu. Aprender é um problema dele: ele que faça um esforço e aprenda. Eu desempenho minha função, que é transmitir o conteúdo”.

Na educação bancária, o educando é um objeto passivo. A autoridade do conhecimento é o professor, que sabe mais e portanto não precisa prestar atenção no estudante. Cabe ao professor definir a disciplina, o conteúdo, a avaliação e até mesmo o jeito do estudante se comportar. Para este, a função é prestar atenção no professor, a “autoridade” que sabe mais.

A essa concepção, Paulo Freire contrapõe a convicção epistemológica de que é o diálogo que garante a aprendizagem. Para ele, ninguém ensina ninguém e ninguém aprende sozinho: as pessoas aprendem em comunhão. Tanto na escola quanto em qualquer outro espaço de atuação – sindicatos, igrejas, grupos de amigos, times de futebol – o ato educativo surge na prática concreta com o coletivo. Para que isso se efetive, por sua vez, alguns pressupostos são necessários.

O primeiro é a aceitação de que todos somos iguais. Já o segundo, que todos temos direitos iguais. Lisete destaca, contudo, que a aparente simplicidade da aplicação desses pressupostos é ilusória. “Quem seria contra o direito à educação? Entretanto, mesmo para você falar isso com certeza, Paulo Freire diz, todo dia é uma opção política admitir que todos têm o direito à educação e todos têm o direito de aprender”. É só nessa horizontalidade que o diálogo freiriano pode se dar e, dessa forma, instalar processos de conscientização e curiosidade fundamentais para o ser mais.

Dessa opção pelo diálogo surgem posturas como a oposição de Freire aos materiais pré-fabricados, como apostilas produzidas por empresas privadas, que uniformizam os currículos, limitam a autonomia escolar e cerceiam o diálogo. Para o educador, cada grupo social tem suas características e particularidades e, no processo de aprendizado, não se pode definir tudo previamente. Aí entram práticas como os estudos do meio, uma abordagem anterior a Paulo Freire, mas resgatada por ele, no qual os currículos escolares são montados a partir da ida às comunidades.

 “É o conhecimento da comunidade que dá condições para que eu saiba quem são meus alunos”, frisa Lisete.

Isso não significa, Lisete faz questão de lembrar, que Freire acreditava em um ensino sem conteúdos. Conforme conta a professora, que conheceu de perto suas ideias e seu trabalho quando fez parte da equipe de Freire na Secretaria Municipal de Educação, o educador defendia que os professores tenham sólida formação teórica, científica, artística e literária, para poder lidar com a diversidade de interesses dos estudantes. E, além disso, o diálogo proposto por Freire não deixava de lado o planejamento das aulas. Justamente o contrário: é a robusta bagagem dos professores, somada ao planejamento cuidadoso das atividades, que permite ao professor as bases do diálogo no processo educativo.

No cerne da defesa da autonomia escolar está também a constatação de que não é o professor isolado que garante a qualidade da escola: é preciso um grupo de profissionais empenhados em uma proposta de sociedade, com uma concepção sobre o tipo de jovem que desejam formar. “Isso significa o direito, mas também o dever, de cada escola pública elaborar o que Freire chamava de projeto político-pedagógico”, explica Lisete, frisando que o político da expressão é central aqui. “O projeto de escola não é um projeto simplesmente de conteúdo – e quem fala isso sabe que está mentindo. Um projeto pedagógico será sempre político-pedagógico, porque significa o investimento que acreditamos dever ser feito sobre as crianças, jovens e adultos: um homem e uma mulher que se interessem ou não pela situação concreta do mundo. É isso que tornará uma escola libertadora”.

Para o empenho dos professores nessa tarefa, Freire sabia da importância de condições de vida e trabalho adequadas. Por isso defendia uma jornada de trabalho em que professores tivessem horas disponíveis para reuniões e planejamentos coletivos. Também propunha a educação por projetos, com a organização interdisciplinar da escola, nos quais professores de diversas áreas participassem da elaboração das atividades.

Lisete lembra da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP como um exemplo das ideias de Freire colocadas em prática. A professora conta que, antes da Emenda Constitucional nº 95, a emenda do teto dos gastos públicos, a Escola de Aplicação tinha condições de manter um quadro de professores com salários iniciais capazes de garantir a permanência dos educadores em um único emprego. Além disso, os contratos de 40 horas previam metade do tempo em sala de aula e as outras 20 horas reservadas para planejamento. “Não por acaso, a Escola de Aplicação sempre foi uma referência, como uma das melhores escolas. Não é mágica: é condição de trabalho”.

O PERIGO DE PAULO FREIRE: Quando falamos da recepção atual da obra de Freire, Lisete tem uma anedota. Conta que Daniel Cara, também professor da FE e coordenador da Campanha Nacional em Defesa da Educação esteve com a ministra da Educação da Finlândia e perguntou a ela quem eram os gurus de uma das educações mais bem avaliadas do mundo. A ministra teria rido e achado estranho um brasileiro lhe perguntar isso, porque na Finlândia justamente dois educadores brasileiros sempre os orientaram: Anísio Teixeira e Paulo Freire.

A história ilustra a importância de Freire mundo afora, a despeito do ódio e da difamação espumante que ele tem sofrido atualmente por um parcela pequena, mas barulhenta, da sociedade, principalmente em hostes federais. Lisete aponta que sua obra participa regularmente da formação de professores na Dinamarca, Noruega, Itália, Espanha, Portugal e uma série de países africanos. Mesmo no Brasil, os próprios discursos contra Freire acabaram renovando o interesse por seus livros. Nita, esposa de Freire, teria ouvido dos editores que nunca se vendeu tantos livros do educador como hoje.

“Paulo Freire continua sendo um perigo”, comenta Lisete. “Ele é considerado um comunista porque tende a mostrar que a simples privatização das coisas, como tem sido feito, mercantiliza também as pessoas. Esse é processo que ele chama de desumanização. Não interessa o que você pensa, sente ou é, o que interessa é o que você tem. E se você não tem, a culpa é sua”.

É justamente para interromper essa hemorragia mercantilizadora que a educação precisa conscientizar. Uma conscientização, para Freire, “que prepara os homens, no plano da ação, para a luta contra os obstáculos à sua humanização”, como escreve em Pedagogia do oprimido. Um ponto importante, pois, nas reflexões do educador, o processo de conscientização não é apenas intelectual, mas se realiza na prática cotidiana, na práxis.

Esse portanto, é o risco de Paulo Freire, segundo Lisete: tornar a educação capaz de fazer as pessoas desejarem se juntar àqueles que pensam em transformar o mundo. Não para simplesmente inverter posições e transformar dominados em dominadores. Nada mais longe da concepção de Freire, como sua célebre frase revela: “Se a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”.

A educação libertadora de Feire é humanista e dialogista. “Esses são critérios da democracia, da cidadania, critérios permanentes”, sublinha Lisete. Assim, o perigo que Paulo Freire inspira é o da própria democracia e da possibilidade dos oprimidos serem mais. É o perigo do fim da opressão.

ATUALIDADE E LEGADO: Dentro do marco do centenário de nascimento de Paulo Freire, a FE organiza de 7 a 10 de setembro o seminário internacional “Ano 100 com Paulo Freire: tempos, espaços, memórias, discursos e práticas”.

Com discussões sobre o legado de Freire no Brasil e no mundo, o evento acontecerá de forma virtual. Além das comunicações de estudantes universitários, professores, educadores populares e ativistas de movimentos sociais, o seminário contará com 4 mesas nas quais diversas facetas do educador serão tematizadas.

A transmissão de seminário acontecerá pelo canal no YouTube da FE e a programação, assim como outras informações, pode ser conferida no site da instituição. (Fonte: Jornal da USP)

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RIO SÃO FRANCISCO: BARONESAS SE ESPALHAM PELAS CIDADES RIBEIRINHAS E MUNICÍPIOS BUSCAM SOLUÇÕES PARA O PROBLEMA

As cidades ribeirinhas da Bacia do São Francisco enfrentam diversos desafios quanto à boa convivência, cuidado e preservação do rio. Com apenas um dos 505 municípios tratando 100% do seu esgoto (Lagoa da Prata, em Minas Gerais), os problemas se avolumam e mostram a cara através de uma das mais comuns imagens nas águas do Velho Chico: a presença das eichorniacrassipes, nomenclatura científica das popularmente conhecidas baronesas, planta que cresce em grande quantidade em ambientes poluídos com excesso de fósforo ou nitrogênio.

Em Paulo Afonso, cidade baiana localizada no baixo São Francisco, a presença das plantas já custou alguns milhões em prejuízos já que a região tem forte representação na piscicultura. O município vem se esforçando rotineiramente para minimizar os impactos e também está contando com o apoio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco na revitalização de lagoas marginais.

Outra região que amarga dificuldades e consequências ainda piores é a comunidade do distrito Volta do Moxotó, pertencente à cidade de Jatobá (PE), no Submédio São Francisco.

Nesta localidade, banhada pelo Rio Moxotó, afluente intermitente do São Francisco, problemas comuns à maioria das cidades brasileiras que não possuem plano de saneamento, como despejo do esgoto sem tratamento, diminuição da vazão dos barramentos e perímetros de irrigação nas margens do rio contribuem para a formação de um longo tapete de baronesas.

“O rio Moxotó nasce no município de Sertânia em Pernambuco, e desde sua nascente até o encontro com o Lago do Moxotó, formado pelo barramento do rio São Francisco, exatamente no distrito da Volta do Moxotó, em Jatobá, estão as cidades de Sertânia, Ibimirim e Inajá, que não possuem sistemas de esgotamento sanitário, jogando assim todos os esgotos na calha do rio. Além disso, existe a Barragem de Poço da Cruz que represa toda água nos períodos da chuva, diminuindo a vazão drasticamente. Além disso, os perímetros de irrigação a jusante da barragem realizam a pulverização de agrotóxicos, sendo os mesmos lixiviados para o Rio Moxotó. Há também a perfuração de poços, sem controle, na Bacia do Jatobá, que tem águas subterrâneas e alimentam o Rio Moxotó. Devido a todas essas problemáticas, o surgimento e a proliferação das baronesas são constantes”, explicou o Coordenador Regional da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, Kleyton Lima. As cidades de Jatobá e Ibimirim estão em fase de elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico, financiado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

Morador de Volta do Moxotó, o produtor cultural Ricardo Araújo de Menezes relata que a comunidade, um dos maiores distritos de Jatobá, não tem saneamento. “Há muito tempo foi feito uma espécie de saneamento apenas para água de pia, tendo como destino final o rio Moxotó, mas depois as pessoas passaram a despejar esgoto de fossa e foi aí que começaram a aparecer as baronesas”, conta o produtor que, em uma agenda de trabalho, acabou se deparando com o acúmulo de grande quantidade da planta e fotografou o evento.

Em pequenas quantidades, a planta pode ser benéfica ao meio ambiente porque pode cumprir o papel de proteção dos peixes que se abrigam entre elas, conforme explica o professor Emerson Soares. 

“Em ambiente controlado, a baronesa se torna abrigo e evita a predação de peixes, diminui a temperatura da colônia, faz sombreamento possibilitando a reprodução de espécies e serve até de alimento para peixes herbívoros. O problema é quando há grande quantidade, e isso ocorre em ambiente com excesso de fósforo e nitrogênio que são derivados de matéria orgânica, esgoto, fertilizantes e agroquímicos e se o rio tem menos corredeira, o acúmulo em excesso da planta acontece também por ter pouca renovação de água. Além disso, outros fatores também pesam para a proliferação da baronesa, como a diminuição da vazão com maior retenção de água pelas hidrelétricas e assoreamento”, explicou.

PROBLEMA GERA PROBLEMAS: Se a baronesa nasce de um sério problema, ela também, por si, representa e provoca muitos outros. Para a navegação, as plantas se enrolam nas hélices travando os motores; para o abastecimento, pode provocar a queima de bombas que auxiliam no abastecimento das cidades. Foi o que aconteceu no ano passado com a Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), que perdeu uma das duas bombas responsáveis pelo abastecimento da Bacia Leiteira, em Pão de Açúcar, comprometendo 50% do fornecimento, atingindo 200 mil pessoas no sertão alagoano.

Do lado pernambucano, a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) afirma que esse tipo de vegetação causa entupimentos nos equipamentos de captação, provocando desde redução da vazão captada até paralisação do sistema. “Neste caso, é necessário realizar a remoção da vegetação em intervalos de tempo que dependem da quantidade e densidade da vegetação. Também é comum a utilização de equipamentos, boias, grades, telas entre equipamentos que impedem que a planta se aproxime dos equipamentos de captação”, afirmou o gerente regional da Compesa, João Raphael Silva de Queiroz, lembrando que os custos devido à presença de baronesas no rio vão desde a mão de obra para manter os equipamentos de proteção, limpeza dos equipamentos de captação, até custos com perdas de faturamento devido à redução ou interrupção da água captada.

PENSANDO SOLUÇÕES: Em Petrolina, sertão Pernambucano, o projeto Orla Nossa tem executado ações de revitalização das margens do Rio São Francisco, no trecho compreendido entre as orlas I e II do município, de acordo com a Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA). Iniciado em fevereiro de 2017, a proposta é recuperar todo o ecossistema degradado compreendendo a qualidade da água, mata ciliar e fauna. 

“ Aliando inovação tecnológica de baixo custo e impacto ambiental no manejo das macrófitas (conhecidas como baronesas), são feitas ações de saneamento e educação ambiental. A proposta é desenvolver uma prática de atuação no processo de revitalização do Rio São Francisco alinhada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU)”, explicou o diretor de projetos ambientais, Victor Flores.

Segundo a AMMA, uma média de 19 hectares de baronesas já foram retirados deste trecho do rio São Francisco nos últimos anos, o que possibilitou manter a oxigenação da água.

 “Após estudos iniciais que evidenciaram a gravidade do trecho eutrofizado, o manejo de macrófitas é feito sempre que as mesmas começam a se decompor no fundo do rio. Foram retiradas do trecho seis pontos de esgoto e reduzido no restante, com a fiscalização e ações corretivas, o que equivale a 72% do esgoto que caía antes do programa e ações de educação ambiental. Já atingimos mais de quatro mil estudantes da rede pública e particular, e pescadores, além de termos liberado mais de 300 mil alevinos no trecho”, acrescentou Flores, lembrando que em junho deste ano, sete mil árvores nativas georreferenciadas com acompanhamento de pesquisa realizada pelo Instituto Federal do Sertão (IF Sertão) foram plantadas nas margens do rio, no mesmo trecho de execução do projeto.

Como a planta se alimenta de poluentes, é preciso impedir que fertilizantes e agrotóxicos sejam despejados no rio, além do esgoto das cidades que chegam às águas sem nenhum tratamento. Por isso, visando a qualidade da bacia, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco auxilia municípios na elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico e vem confirmando em seus diagnósticos a presença do despejo desses poluentes em todas as cidades onde o PMSB já foi executado e nos municípios onde o estudo está em andamento. Em menor escala ou sem nenhum tratamento, as cidades têm destinado seu esgoto ao Velho Chico. Atualmente, seguem em andamento 48 novos planos de saneamento nas quatro regiões fisiográficas da bacia. (Fonte: Assessoria de Comunicação CBHSF: TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social. *Texto: Juciana Cavalcante. *Fotos: Ricardo Menezes e Jean César Barros)

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O 5 ENCONTRO DE SABERES DA CAATINGA ACONTECE ENTRE OS DIAS 23 A 26 DE SETEMBRO

A valorização e a troca de saberes populares relacionados às práticas de cura ligadas à natureza, contribuindo para o fortalecimento do papel cultural da sabedoria tradicional, são s objetivos do V Encontro de Saberes da Caatinga e Práticas de Cura da Chapada do Araripe realizado no município de Exu, no sertão de Pernambuco. O evento, que acontece de 23 a 26 de setembro, reune raizeiros, rezadores e parteiras do Araripe.

Este ano o evento será realizado totalmente virtual com transmissão via youTube troca de saberes e acesso também  pelas redes @saberesdacaatinga

Encontro serve para incentivar e manter vivas práticas de cura (algumas milenares) que não dependem do sistema biomédico.

HISTÓRICO: Nas últimas edições aproximadamente 80 raizeiros, rezadores e parteiras da região da chapada do Araripe, dos estados de Pernambuco e Ceará, participaram do evento.  Cerca de 200 pessoas entre médicos, profissionais de saúde, representantes de instituições públicas, organizações não governamentais e aprendizes de várias partes do Brasil estivereram em Exu, Pernambuco, trocando saberes e experiências.

Segundo a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Islândia Sousa, o encontro reforça a política de práticas integrativas e complementares instituída pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2006. Essas práticas são caracterizadas pela Organização Mundial de Saúde como Medicina Tradicional ou Medicina Complementar.

Esse termo significa um conjunto diversificado de ações terapêuticas que difere da biomedicina ocidental, incluindo práticas manuais e espirituais, com ervas, partes animais e minerais, sem uso de medicamentos quimicamente purificados, além de atividades corporais, como tai chi chuan, yoga, lian gong. Outros exemplos de PICs são: acupuntura, reiki, florais e quiropraxia.

"As práticas trabalhadas e saberes compartilhados durante o encontro, no âmbito da conservação da sociobiodiversidade, relacionam-se diretamente com objetivos de criação da APA Chapada do Araripe, como incentivar as manifestações culturais e contribuir para o resgate da diversidade cultural regional e assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais, com ênfase na melhoria da qualidade de vida das populações residentes na APA e no seu entorno”, ressalta Flávia Domingos da APA Chapada do Araripe.

O analista ambiental do ICMBio Antônio Alencar, da Flona Negreiros, que trabalha na concepção, organização e articulação nacional para realização do evento, tem experiência e grande dedicação ao estudo de plantas medicinais do cerrado e caatinga, inclusive já publicou um livro denominado Cordel de Plantas Medicinais do Cerrado.

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RIO SÃO FRANCISCO E A EXPLORAÇÃO DOS MEGAS PROJETOS É TEMA DE RODA DE CONVERSA NESTA QUINTA-FEIRA (02)

Rio São Francisco e a exploração dos megas projetos. Este é o tema da Roda de Diálogo que acontece nesta quinta-feira (02), no canal youTube da Pastoral da Comunicação da Diocese de Floresta e TV Raízes da Cultura.

A live tem início às 18h30. O Bispo de Juazeiro dom Beto Breis participa do evento. A live também contará com a presença do bispo de Palmeira dos Indios, Alagoas, Dom Manoel Filho, Dom Gabriel Marchesi, bispo diocesano de Floresta e dom Vitor Agnaldo, Bispo de Propriá-Sergipe.

Populações tradicionais, ambientalistas e ativistas da região da bacia do rio São Francisco continuam promovendo mobilizações e ações que têm o objetivo de alertar para os perigos que ameaçam a permanência de um dos rios mais importantes do Brasil: o Rio São Francisco. 

A TV Raízes da Cultura e a Pastoral da Comunicação da Diocese de Floresta estão promovendo "Roda de Diálogo" para discutir e alertar sobre a possibilidade de instalação de uma Usina Nuclear em Itacuruba, Sertão de Pernambuco, fazendo uso das águas do Rio São Francisco.

Em 2018, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, lanou uma Cartilha Ecológica do Rio São Francisco, que descreve o Rio e seus afluentes, além de mostrar o que ocasiona sua morte. O livro propõe que ações concretas sejam assumidas com o objetivo de reverter esse processo. 

O texto que foi escrito por muitas mãos, teve a finalização de Dom Frei Luiz Flávio Cappio, OFM, bispo da Diocese de Barra, que em um momento de sua vida, chegou a fazer greve de fome em defesa do Rio São Francisco, na cidade de Cabrobó/PE. Na época, seu protesto era a favor da revitalização do rio.

O livro é considerado como um material didático, acessível ao povo e que pode ser usado também nas escolas e direcionada ao povo beiradeiro, aos professores, aos lideres de comunidade. A intenção é que o povo a conheça para que tomem uma consciência cada vez mais profunda dos problemas que afetam o Velho Chico. 

ITACURUBA:  A escolha de Itacuruba, Pernambuco para a implantação de uma Usina Nuclear se deu através do Plano Nacional de Energia 2030. Construído pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e lançado em 2007, prevê um investimento de R$ 30 bilhões para a construção de seis reatores com capacidade de produção de 6.600 megawatts. A área de instalação está localizada no Sítio Belém de São Francisco, distante 8 km de Itacuruba, e pertence à Companhia Hidroelétrica do Rio São Francisco (Chesf).
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ECOLOGIA HUMANA: AQUEDUTO DO HORTO FLORESTAL DE JUAZEIRO É TEMA DE MESTRADO NO CAMPUS III DA UNEB

A estudante e advogada Maíra Cavalcanti Coelho defendeu pesquisa para obter o título de mestre no Curso de Ecologia Humana e Gestão Socioambiental da Universidade do Estado da Bahia. Maíra fez uma imersão na Ecologia Humana mostrando a dimensão plural para compreender o conhecimento de muitas áreas, e, entre elas, a sustentabilidade ecológica, principalmente em seus aspectos culturais e os conceitos de história, memória e patrimônio. 

Na pesquisa Maíra, destaca o valor arquitetônico e paisagístico do Aqueduto do Horto Florestal e o estudo sobre sua história e preservação, “tomando como pressuposto a memória desenhada desde o século XIX, quando a obra foi implantada no município de Juazeiro, Bahia inspirada nas construções romanas, inclusive em relação à sua funcionalidade.”

“O aqueduto encontra-se no Campus III da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, localizado no bairro São Geraldo, no município de Juazeiro-BA, extremo norte do estado, lugar conhecido antigamente como Horto Florestal, na época sede da Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco – FAMESF.”

O tema o Aqueduto do Horto Florestal provoca novas discussões nos espaços  acadêmicos, atentando para a relevância desse monumento no sentido de buscar o significado da obra para a população de Juazeiro, visando compreender qual a excepcionalidade, funcionalidade e valor desse patrimônio cultural que se encontra inventariado e tombado provisoriamente pelo Estado (IPAC) – processo para tombamento iniciado em 16 de julho de 2008.” 

Apesar de tão significativo, poucas pessoas sabem da existência do Aqueduto, razão pela qual a pesquisadora almeja transformar o estudo em ferramenta que sirva de suporte pedagógico à população baiana, pois, até então, não havia registro histórico específico sobre o referido bem e a imprenscindível manutenção e conservação, considerando que de longa data encontra-se com estrutura bastante comprometida..

"Além disso, este trabalho objetiva servir de base para fundamentar a conversão do tombamento provisório do Aqueduto em tombamento definitivo. Outros estudos complementares estão em andamento e serão importantes para somar esforços no reconhecimento do valor do Aqueduto nas dimensões social, histórica, econômica e cultural", finalizou Maíra, que realizou o trabalho sob orientação do Professsor doutor Leonardo Diego Lins, e coorientação da Professora Doutora Geida Maria Cavalcanti de Sousa.

Participaram da banca avaliadora o Professor Doutor Juracy Marques dos Santos e o Professor Doutor  Adelson Dias de Oliveira, que agregaram contribuições à produção científica.  

MEMÓRIA, CULTURA E IDENTIDADE: Em 2017 o Aqueduto de Juazeiro foi destaque na imprensa regional, através de um texto de Juliano Ferreira. O Aqueduto é um marco para a Agricultura e mais especificamente para a Irrigação no Vale do São Francisco. Apesar da importância histórica, econômica e cultural deste patrimônio juazeirense, são escassas as informações sobre ele, além do abandono em que o patrimônio se encontra.

Não se sabe ao certo quando foi construído, mas, relatos de moradores do Bairro São Geraldo, onde ele está localizado, dão conta de que ele tem mais de 100 anos. De tão antigo, sequer foi utilizado cimento em sua estrutura.

Todos os dias ele é ligado e leva as águas do Velho Chico para o Campus III da Universidade do Estado da Bahia, passando por mangueiras, cajueiros, experimentos, prédios, salas de aula e laboratórios. Jomar Benvindo, Gestor de Negócios em Turismo, guarda os registros memorialísticos repassados por seu pai, João Benvindo dos Santos. “Meu pai falava comigo sobre o material utilizado, tijolo, cal batido, areia e a água do Rio São Francisco. Não há cimento na obra”, relembra.

João Benvindo fez parte da primeira turma da Famesf em 1964, tornando-se depois professor e diretor da instituição, passos seguidos por muitos outros estudantes que o precederam. “Este é hoje o único aqueduto do país construído com este material e que ainda está em funcionamento”, revela o turismólogo, alertando para a necessidade de uma atenção e maiores cuidados com o patrimônio.

O Aqueduto é tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), órgão vinculado a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e tem como objetivo trabalhar na salvaguarda de bens culturais materiais e imateriais, na política pública estadual do patrimônio cultural e no fomento de ações para o fortalecimento das identidades culturais da Bahia.

Márcio Ferreira, egresso do curso de Agronomia e mestre em Horticultura Irrigada pela UNEB diz que o aqueduto é um “local de grandes histórias, aventuras, coleta de fauna e flora, palco para fotografias de muitas turmas formadas lá. É o nosso cartão postal maior, um cenário enigmático cortando a mata ciliar, trazendo em si, histórias longínquas”.

“O aqueduto é um projeto pioneiro, o ponta pé para as práticas de irrigação do Submédio do São Francisco. Um patrimônio histórico dentro da universidade”, relatou na época Vanuza Souza, estudante de Agronomia no Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais.

 

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SEMANA DA ANISTIA DEBATE DITADURA MILITAR, DEMOCRACIA E IMPACTOS DO AUTORITARISMO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Ditadura militar, anistia, democracia e os impactos do autoritarismo na Educação Brasileira. Este é o tema da Semana da Anistia Contra a Censura e pela Cultura que acontece nesta quarta  (01), no canal do instagram do DCE @dceunivasf, às 19hs.

A live faz parte da 10º Semana da Anistia. Participam o professor doutor Télio Nobre que foi eleitor Reitor da Univasf e não assumiu cargo devido a intervenção no campus. Emanuel Andrade, professor doutor da Uneb e professor doutor José Eduardo.

A mediação é de Bruno de Melo.

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