CONGRESSO APROVA AUXÍLIO EMERGENCIAL À AGRICULTURA FAMILIAR. PROJETO DEPENDE DE SANÇÃO PRESIDENCIAL

O Projeto de Lei (PL) 823/2021, instrumento de apoio à agricultura familiar, conhecido como Lei Assis Carvalho II, foi aprovado pelo plenário do Senado Federal ontem quarta-feira (25), e segue para sanção presidencial. 
 
Camponeses, pescadores, empreendedores familiares, extrativistas, silvicultores e aquicultores podem ser beneficiados pelo PL, que prevê medidas a serem adotadas até 31 de dezembro de 2022. 
 
O texto do PL 823, de autoria do deputado federal Pedro Uczai (PT/SC), relatado pelo senador Paulo Rocha (PT/PA), prevê ações para diminuir os impactos socioeconômicos causados pela pandemia, que afetam diretamente agricultores familiares que se encontram em situação de pobreza e de extrema pobreza. 
 
Entre as iniciativas está o Fomento Emergencial de Inclusão Produtiva Rural, um auxílio emergencial criado para incentivar a produção de  trabalhadores rurais durante a crise sanitária. O fomento emergencial aprovado para as famílias beneficiadas é de R$ 2,5 mil, sendo de R$ 3 mil, no caso de núcleos liderados por mulheres. Estima-se o custo do programa em R$ 550 milhões.
 
Responsáveis por cerca de 70% da alimentação consumida nas casas brasileiras, famílias agricultoras de todo o país enfrentam dificuldades para produzir e vender alimentos, tendo ameaçada a continuidade de sua atividade e, por consequência, agravando a insegurança alimentar da população brasileira. 
 
“A falta de amparo e incentivo por parte do governo federal, associada a fatores climáticos, também está gerando inflação dos preços dos alimentos, dificultando a alimentação das famílias em situação de vulnerabilidade”, comenta Sarah Luiza Moreira, membro do Núcleo Executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).

Entre as medidas emergenciais, o PL prevê apoio do Serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) para elaboração de projetos simplificados que visem a estruturação da produção rural. Para projetos que incluam captação de água voltada à produção de alimentos ou ao consumo humano, o valor pode chegar a R$ 3,5 mil. 
 
Além do auxílio, o PL 823/2021 também prevê a criação de linhas de crédito para famílias com renda familiar total de até três salários mínimos, com taxa de 0% ao ano, prazo de 10 anos para quitação de dívidas e carência de cinco anos para início do pagamento. 
 
É a segunda vez que um projeto de lei desse caráter chega a ser votado no Senado. Ano passado, uma proposta similar foi vetada, quase integralmente, pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), incluindo aportes de recursos de fomento apresentados para subsidiar a produção de alimentos da agricultura familiar e trabalhadores do campo, das águas e das florestas, durante a pandemia.
 
Caso Bolsonaro vete novamente a proposta da Lei Assis de Carvalho, em sua segunda versão, os vetos poderão ser derrubados por parlamentares, até 30 dias corridos após o veto. Se não houver veto à  proposta do texto em até 15 dias úteis, o PL é automaticamente sancionado.
 
Entre as organizações que atuaram pela aprovação das medidas estão o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), a Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura (Contag) e a Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra), além de outras entidades civis.
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CANTOR E POETA LUIZ DO HUMAYTÁ LANÇA MÚSICA AMOR DE DOER NAS PLATAFORMAS DIGITAIS

"Olá pessoal, finalmente uma música minha vai ser lançada oficialmente em todas as plataformas digitais. Quinta-feira, 26, a partir de zero hora o Amor vai Doer no spotfy, e vocês poderão ouvir e fazer download à vontade,  uhuuuu"! 

Com este texto acima, o cantor e compositor, poeta Luiz do Humaytá convidou os fãs e amigos para prestigiar as músicas do CD BOEMIA CULT, através da plataforma que no Brasil cresce a cada dia: spotfy. Para iniciar a música escolhida foi Amor de Doer.

O mais recente trabalho é uma homenagem a cultura da música brega romântica. O CD foi lançado no início deste mês em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. No cd uma música autoral, Amor de Doer, integra a lista das músicas presentes no repertório.

Luiz do Humaytá já tem uma agenda de lançamento marcado para lançar o CD no Nordeste e está na expectativa das novas regras de flexibilização devido a pandemia. O poeta que mora em Curaçá, Bahia, na Fazenda Humaytá, decidiu lançar o CD Boemia Cult para declarar também o seu amor pela terra onde nasceu. Luiz Carlos Forbrig é o nome de batismo. O apelido Humaytá, ele herdou, da característica do nordestino que precisa de um adjetivo para os nomes, daí, Luiz do Humaytá. 

O cantor é natural de Jabuticaba Velha, interior do Rio Grande do Sul. Filho de Guilhermina e Anoly (já falecido). Com os pais desenvolveu a veia poética musical. A mãe puxadeira dos cantos religiosos da Igreja Católica. O pai tocador de gaita de boca. Luiz aprendeu a tocar violão nas terras gaúchas.

"Dona Guilhermina costuma visitar o sertão da Bahia, mas desta vez vai receber o nordestino sulino e vamos cantar ao som do violão e ouvir o CD BOEMIA CULT juntos com toda a família", disse Luiz ressaltando que fizeram um rotulo errado sobre a música romântica, algumas até perseguidas no tempo da ditadura militar e adjetivaram de brega.

 "Coisas da indústria cultural. Mas brega sempre foi cult e na verdade é música que Caetano Veloso canta, Reginaldo Rossi ainda hoje lembrado pelos grandes sucessos. Música Brega é romantismo puro cantado pela alma. É boemia cult", finaliza Luiz do Humaytá.

Discografia CDs: 

2012 - CD ACÚSTICO. 2014 – CD PÉ DE CHÃO

2015 – LUIZ DO HUMAYTÁ CANTA MÚSICAS GAÚCHAS

2015 –FORRÓ AVULSO e LUIZ DO HUMAYTÁ - 5 ANOS DE ESTRADA

2017 – LUIZ DO HUMAYTÁ AVULSO

2019 – DECANTO O SERTÃO

2020 -CD GRAVADO AO VIVO NO TEATRO EM CURAÇÁ.

2021 - CD BOEMIA CULT 

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RETORNO DAS ATIVIDADES PRESENCIAIS DO TRIBUNAL DO JÚRI É REALIZADA EM JUAZEIRO, BAHIA

O presidente do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), desembargador Lourival Trindade, determinou o retorno das atividades presenciais do Tribunal do Júri. 

Ontem, o advogado criminalista Rafael Lino fez uma das primeiras defesas presenciais no Tribunal do Juri. "O retorno dos trabalhos presenciais me fez um momento marcante na minha vida profissional após quase dois anos sem fazer júri finalmente os advogados podem estar novamente fazendo o que mais gostam".

De acordo com TJ-BA, as sessões do Tribunal do Júri deverão ser realizadas somente nos processos que envolvam réus presos, ou com possibilidade de prescrição próxima, observando-se as regras de distanciamento.

O presidente do TJ-BA também recomendou a reconvocação dos jurados que já tenham sido sorteados, dispensando a intimação de jurados que não foram anteriormente encontrados, por terem mudado de endereço, dos que já foram dispensados e dos que são profissionais da saúde ou que integrem o grupo de risco para a Covid-19. Nesses casos, será realizado novo sorteio para a complementação da lista.

Até dois dias antes da primeira sessão designada, o jurado que for sorteado deverá informar a existência de impedimento e o fato de integrar o grupo de risco da Covid-19, de ter apresentado os sintomas da doença nos últimos 14 dias, ou que teve contato nos últimos 20 dias com alguém comprovadamente infectado.

Durante toda a sessão de julgamento, será obrigatória o uso da máscara de proteção respiratória, ficando recomendada a constante higienização das mãos de todos os presentes e a manutenção de janelas e portas abertas para a circulação do ar, quando possível.

Terão acesso às salas de audiências e aos Plenários do Júri:

Os magistrados, membros do Ministério Público, jurados, partes, defensores públicos, advogados, auxiliares da Justiça e testemunhas dos processos incluídos na pauta do dia;

Os servidores e agentes de segurança necessários à realização do ato;

O público em geral, limitado à capacidade de 30% dos salões do júri, com prioridade de permanência de familiares do acusado e da vítima, bem como jurados não sorteados e estudantes de direito, cabendo à Secretaria do Juízo o controle e a fiscalização dos presentes.

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RODA DE CONVERSA ANTINUCLEAR TEM DEBATE COM PARTICIPAÇÃO DE SENADOR, DEPUTADOS FEDERAIS E ESTADUAIS

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Foi realizada nesta terça-feira (24), mais uma Roda de Diálogo debatendo sobre a luta Antinuclear e o posicionamento com parlamentares de Pernambuco, em nível estadual e federal, frente à possibilidade de instalação de uma Usina Nuclear em Itacuruba, com uso das águas do Rio São Francisco, no sertão de Pernambuco

O evento foi mediado pelo professor Libânio Francisco, diretor A TV Raízes da Cultura e contou com a participação do Senador Humberto Costa, deputado federal, Carlos Veras, Renildo Calheiros, deputada estadual Dulci Amorim e Simone Santana.

A roda de diálogo é uma realização da Pastoral da Comunicação da Diocese de Floresta, Associação Provida que alerta sobre a possibilidade de instalação de uma Usina Nuclear em Itacuruba, Sertão de Pernambuco, fazendo uso das águas do Rio São Francisco.

Os debates tem o objetivo de ouvir o posicionamento de parlamentares estaduais e federais, técnicos sobre as leis existentes e as discussões que vem ocorrendo nas casas legislativas, a ameaça que isso representa aos Territórios Tradicionais e os riscos e as falsas promessas de geração de empregos na região.

O senador Humberto Costa informou que o debate será levado para a Comissão dos Direitos Humanos e será realizado uma audiência pública para chamar a atenção do Brasil inteiro. A data da audiência pública será divulgada em breve. O senador acusou que é inaceitável a ídeia de mudar a constituição com o objetivo de usar o rio São Francisco para instalar uma Usina Nuclear. "Isto necessita de uma ampla discussão".

"O rio São Francisco sob nova ameaça. Essa é a constatação dos Movimentos Sociais, povos tradicionais. Devemos estar em alerta.  A Instalação do empreendimento vai exigir uma vazão que o rio São Francisco não suporta, além de impactos na segurança hídrica e alimentar, e na qualidade de vida das comunidades ribeirinhas", diz Padre Luciano Aguiar.

A Igreja Católica é contra. Em contato com a REDEGN, padre Luciano Aguiar, atual oordenador das pastorais sociais da Diocese de Floresta, que contempla 12 municípios do sertão pernambucano, afirma que falta diálogo sobre “obras faraônicas no sertão”.

"Todas vêm de cima para baixo. Nem a Chesf, nem a Eletronuclear consultaram a população de Itacuruba. Eles trabalham no silêncio".

Atualmente o interesse em fazer uso das águas do rio São Francisco e instalar a Usina Nuclear tem que passar pela de revisão dos licenciamentos de uso das águas do Rio São Francisco já em vigor, é importante considerar as condições ambientais do rio para a concessão de licenciamentos futuros. 

Nesta direção, tramita na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe), a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 09/2019, de autoria do deputado estadual Alberto Feitosa (PSC), que prevê a alteração do artigo 216 da Constituição Estadual, garantindo as condições para a implantação de uma Usina Nuclear em Itacuruba, município localizado na região do Submédio São Francisco pernambucano.

Uma série de argumentos contrários ao empreendimento, dentre os quais estão o descumprimento à Constituição Estadual e riscos à saúde física e psicológica da população local.

O autor da PEC 09/2019, o deputado Alberto Feitosa (PSC), defende a instalação da Usina Nuclear, entre os argumentos usados,segundo o deputado, "as vantagens econômicas trazidas pelo empreendimento, que deverá mobilizar um investimento de U$ 30 bilhões na região".

ITACURUBA:  A escolha de Itacuruba, Pernambuco para a implantação da usina se deu através do Plano Nacional de Energia 2030. Construído pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e lançado em 2007, prevê um investimento de R$ 30 bilhões para a construção de seis reatores com capacidade de produção de 6.600 megawatts. A área de instalação está localizada no Sítio Belém de São Francisco, distante 8 km de Itacuruba, e pertence à Companhia Hidroelétrica do Rio São Francisco (Chesf).
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CANTOR LUIZ DO HUMAYTÁ LANÇA MÚSICA AMOR DE DOER NAS PLATAFORMAS DIGITAIS

 

"Olá pessoal, finalmente uma música minha vai ser lançada oficialmente em todas as plataformas digitais. Quinta-feira, 26, a partir de zero hora o Amor vai Doer no spotfy, e vocês poderão ouvir e fazer download à vontade,  uhuuuu"! 

Com este texto acima, o cantor e compositor, poeta Luiz do Humaytá convidou os fãs e amigos para prestigiar as músicas do CD BOEMIA CULT, através da plataforma que no Brasil cresce a cada dia: spotfy. Para iniciar a música escolhida foi Amor de Doer.

O mais recente trabalho é uma homenagem a cultura da música brega romântica. O CD foi lançado no início deste mês em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. No cd uma música autoral, Amor de Doer, integra a lista das músicas presentes no repertório.

Luiz do Humaytá já tem uma agenda de lançamento marcado para lançar o CD no Nordeste e está na expectativa das novas regras de flexibilização devido a pandemia. O poeta que mora em Curaçá, Bahia, na Fazenda Humaytá, decidiu lançar o CD Boemia Cult para declarar também o seu amor pela terra onde nasceu. Luiz Carlos Forbrig é o nome de batismo. O apelido Humaytá, ele herdou, da característica do nordestino que precisa de um adjetivo para os nomes, daí, Luiz do Humaytá. 

O cantor é natural de Jabuticaba Velha, interior do Rio Grande do Sul. Filho de Guilhermina e Anoly (já falecido). Com os pais desenvolveu a veia poética musical. A mãe puxadeira dos cantos religiosos da Igreja Católica. O pai tocador de gaita de boca. Luiz aprendeu a tocar violão nas terras gaúchas.

"Dona Guilhermina costuma visitar o sertão da Bahia, mas desta vez vai receber o nordestino sulino e vamos cantar ao som do violão e ouvir o CD BOEMIA CULT juntos com toda a família", disse Luiz ressaltando que fizeram um rotulo errado sobre a música romântica, algumas até perseguidas no tempo da ditadura militar e adjetivaram de brega.

 "Coisas da indústria cultural. Mas brega sempre foi cult e na verdade é música que Caetano Veloso canta, Reginaldo Rossi ainda hoje lembrado pelos grandes sucessos. Música Brega é romantismo puro cantado pela alma. É boemia cult", finaliza Luiz do Humaytá.

Discografia CDs: 

2012 - CD ACÚSTICO. 2014 – CD PÉ DE CHÃO

2015 – LUIZ DO HUMAYTÁ CANTA MÚSICAS GAÚCHAS

2015 –FORRÓ AVULSO e LUIZ DO HUMAYTÁ - 5 ANOS DE ESTRADA

2017 – LUIZ DO HUMAYTÁ AVULSO

2019 – DECANTO O SERTÃO

2020 -CD GRAVADO AO VIVO NO TEATRO EM CURAÇÁ.

2021 - CD BOEMIA CULT

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BRAULIO TAVARES E O CALDEIRÃO DE MITOS

O escritor, poeta, compositor, pesquisador e dramaturgo paraibano Bráulio Tavares publicou em seu blog, no ano de 2029, Blog Mundo Fantasmo, algumas cenas que provocaram composições de músicas.

Confira:

Tenho visto alguns livros muito interessantes em que compositores explicam como foram criadas algumas de suas canções mais conhecidas, o processo de composição, as circunstâncias, como foi gravada a música...

Tenho alguns volumes da série de Ruy Godinho Então, foi assim? e o livro de Paulo César Pinheiro Histórias das Minhas Canções (LeYa).

Pensei comigo: está aí um bom assunto para escrever de vez em quando, porque mesmo quando as músicas não sejam grande coisa (tem as que são, e as que não são), às vezes a história lança alguma luz sobre processos criativos em si, sobre o meio musical, sobre um momento da História, e tudo isso interessa.

Minha primeira música gravada foi “Caldeirão dos Mitos”, que Elba Ramalho incluiu no seu segundo disco, Capim do Vale (1980). Foi composta, como a maioria das músicas que faço sozinho, em duas fases: primeiro a melodia, depois a letra.

A melodia era muito antiga, era dos anos 1970, quando voltei de Belo Horizonte para Campina Grande e passava o dia inteiro pegado com o violão, redescobrindo o forró e a cantoria de viola. Se bem que essa melodia, especificamente, era anotada em meus caderninhos com o título provisório de “I wanna sing this all together”, verso que misteriosamente se transformou, anos depois, em “Eu vi o céu à meia-noite”.

Esse título não era pra valer, aliás era meio chupado de uma canção dos Rolling Stones, acho que em Their Satanic Majesties Request, mas na época em que fiz essa música eu ouvia muito umas bandas menores, que tocavam no rádio. Uma delas era o Mungo Jerry, com uma canção brincalhona e simpática chamada “In the Summertime”:

https://www.youtube.com/watch?v=fZWsGf0KgQw

Uma pessoa com o mais rudimentar conhecimento musical vai dizer que as duas músicas não têm nada a ver uma com a outra, e este é um dos mistérios da criação artística. Ela se dá por uma cadeia de associações de idéias com saltos tão grandes que na quarta ou quinta parada já não se tem a menor noção de como aquilo começou.

A única coisa clara para mim era que não haveria a tal “segunda parte”, que é uma coisa da MPB e da música fonográfica em geral. Eu queria o modelo da canção folk: estrofe musical única, com sucessivas letras nas mesmas notas. É o modelo “Asa Branca”, é o modelo que o folk-rock norte-americano, Bob Dylan à frente, empregava, bebendo nas canções irlandesas e escocesas trazidas pelos colonizadores.

No São João de 1978 eu morava em Salvador, e não tinha grana para ir passar a festa junina em Campina Grande. Me veio a idéia de fazer uma música falando em São João, mas a primeira frase que me veio à mente foi “o Apocalipse de São João”. (Olha aí como funcionam as associações de idéias!).

Essa imagem me trouxe à mente o céu pegando fogo, a qual de imediato me lembrou uma espécie de trocadilho que eu já tinha usado antes, em mais de um contexto: o fato de que “corisco” quer dizer relâmpago, e “lampião” quer dizer candeeiro, ou seja, duas coisas que produzem clarão dentro da noite. Estava pronta a primeira estrofe:

Eu vi o céu à meia-noite

se avermelhando num clarão

como o incêndio anunciado

no Apocalipse de São João

porém não era nada disso

era um corisco, era um lampião.

O que faz o compositor preguiçoso? Exatamente o que eu fiz: pega a estrutura da primeira estrofe e a repete, com outros elementos, sem introduzir nenhum conceito novo. O conceito da canção (que eu poderia, se quisesse, ter expandido para 200 estrofes) era: “Eu vi uma coisa assim-assim; não era tal-e-tal-coisa da Bíblia; era tal-e-tal-coisa do Sertão”.

Claro que o conceito não é seguido de forma totalmente rígida, me permiti introduzir aqui e ali uns elementos destoantes (Inglaterra, Paris, Japão), mas é isso mesmo. O dono do poema é o poeta. Ele não precisa obedecer a regra nenhuma, nem mesmo a que ele acabou de criar. Georges Perec, um obsessivo criador de regras, pregava o conceito de “clinâmen”, e dizia: “Crie uma regra super rigorosa, e a obedeça da maneira mais fanática; depois, num ponto escolhido com cuidado, desobedeça essa regra. Produza voluntariamente uma exceção, num ponto onde seria facílimo ter continuado a fazer como antes.”

O primeiro título que dei à música depois de pronta, pegando como deixa a estrutura “eu vi isso, eu vi aquilo”, foi “Visão do Mundo”. Tá vendo como é bom continuar procurando uma segunda idéia?

Toquei essa música em público pela primeira vez em 1979, numa coletiva de compositores baianos no Teatro Castro Alves repleto, na qual entrei por obra e graça de Zelito Miranda, com quem eu estava compondo bastante na época. Eu não tinha coragem de subir no palco, mas ele praticamente me arrastou até o microfone e disse: “Vai, Galo, agora canta essa porra.”

Na primeira versão a música não tinha o “riff” entre as estrofes, que depois ficou característico, o “tãrãrã -- tãrãrã”. Este foi criado algum tempo depois, quando eu estava no Recife ensaiando para um show que fiz com outro parceiro, Zé Rocha. Ele gostava da música mas achava que era meio repetitiva (e é), era preciso dar uma encorpada nela com alguma coisa instrumental e diferente, já que a gente ia tocar com banda. E na hora mesmo do ensaio eu fiz o rasqueado veloz, 3+3 notas, que foi logo incorporado.

Cantei muito essa música em palco de bar e em mesa de bar. Em 1979, Elba Ramalho levou para a Bahia seu show Ave de Prata, no lançamento desse seu álbum de estréia, e se apresentou no Teatro Vila Velha, acompanhada pela Banda Rojão (Zé Américo, Guil Guimarães, Joca, Marcos Amma, Élber Bedaque).

Falou que queria gravar alguma coisa minha. Eu mostrei o “Caldeirão”, ela disse: “Me mande numa fita! É genial, vou gravar com certeza”. (Eu levaria alguns anos para perceber que ela diz isso com toda música minha, mas só grava de vez em quando.)

A música foi gravada para o segundo disco dela pela CBS, Capim do Vale (1980), e acabou sendo a música de abertura do Lado A, uma honra impensável para um compositor desconhecido que estava tendo uma canção gravada pela primeira vez. Ainda mais num disco que trazia Sivuca, Alceu Valença, Zé Ramalho, Pedro Osmar, Elomar...

Quando o disco saiu, toda vez que chegava gente querendo ouvir “o disco novo de Elba”, eu tirava o vinil de dentro da capa e checava toda vez o selo pra ver se meu nome continuava lá.

A gravação de Elba produziu um arranjo perfeito, com levada de arrasta-pé (que eu chamo de “marcha-quadrilha”), e a ótima idéia de começar com a música “solta”, sem ritmo, somente voz e sanfona se erguendo lentamente em meio às percussões, e só depois a banda atacando completa no “tãrãrã -- tãrãrã”.  E no meio da canção, quando fala “Era um fole de 8 baixos a tocar numa noite de forró”, a intervenção agilíssima de Abdias.

Fonte: Mundo Fantasmo: Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.

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PROCISSÃO: A POÉTICA DE GILBERTO GIL E A RELIGIOSIDADE

A poética tropicalista gilbertiana teve seu início a partir da linha evolutiva propagada pela Bossa Nova que incorporou, para sua formação, outras manifestações musicais como jazz, be bop (concepção jazzística surgida por volta de 1945) e o cool jazz, que, ao contrário do hot jazz, trazia intérpretes-músicos de apurado conhecimento técnico que enriqueceram o jazz com recursos eruditos. (Campos, 1993).

A internacionalização da Bossa Nova foi devida à absorção de uma diversidade de estilos musicais que passa pelo jazz americano, por suas variações, chegando ao samba brasileiro e estabelecendo, assim, um profícuo diálogo entre eles. 

Embora, desde seus primórdios, a música popular no Brasil tenha se formado pela incorporação de recursos estrangeiros, oriundos principalmente da Europa e da África, pode-se afirmar que a grande aceitação internacional de um produto cultural tupiniquim, como o da BN, se deu pelo pioneirismo inovador de sua estética e pelo seu caráter globalizante.

Uma nova tendência musical foi introduzida pela Bossa Nova, na qual houve a inclusão de acordes com notas estranhas à harmonia, conhecidos, popularmente, como dissonantes (Campos, 1993), além de uma preocupação com o uso de letras que possuíam um caráter mais literário e poético. Observa-se uma ruptura com os padrões tradicionais vigentes e também a busca de uma nova concepção estética.

Implantada pela BN, a nova estética sofisticada e harmônica afluía para duas direções: uma voltada para o aperfeiçoamento rítmico e harmônico e outra que propunha um enfoque mais crítico dos problemas brasileiros que eram resgatados pelas letras.

A segunda vertente caminhava na direção das mesmas propostas propagadas pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, que, entre outros objetivos, buscava a popularização da cultura, sua aproximação ao povo e a renovação dos tradicionais padrões culturais brasileiros, que permeavam as ideias difundidas pelo CPC e por seus membros.

Uma das músicas de maior sucesso do período anterior à Tropicália de Gilberto Gil, “Procissão”-19643, trazia uma determinada carga ideológica alinhada a uma interpretação marxista da religião, que estava direcionada ao abandono do homem do campo que residia no sertão nordestino e ao descaso do governo para com as causas sociais, e, por conseguinte, para com uma das camadas mais simples e esquecidas, residentes em uma área das mais carentes do País.

“As ideias da classe dominante são em cada época as ideias dominantes, isto é, a classe que constitui a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força intelectual dominante. A classe que dispõe dos meios da produção material detém ao mesmo tempo o controle sobre os meios de produção espiritual, de tal modo que, em geral, as ideias daqueles que carecem dos meios da produção espiritual ficam sujeitas a esta classe.” (Eagleton, 1999, p. 16-17).

Através da música “Procissão” – marco da produção musical anterior ao período tropicalista – inicia-se a consolidação da criação artística a ser desenvolvida por Gil, que, a partir de então, apresenta em suas composições uma elevada consistência poética. A seguir, transcreve-se a letra dessa música que marcou esse importante período e que acabou por contribuir para o aperfeiçoamento da produção cultural gilbertiana:

Olha lá vai passando a procissão

Se arrastando que nem cobra pelo chão

As pessoas que nela vão passando

Acreditam nas coisas lá do céu

As mulheres cantando tiram versos

Os homens escutando tiram chapéu

Eles vivem penando aqui na Terra

Esperando o que Jesus prometeu

E Jesus prometeu vida melhor

Pra quem vive nesse mundo sem amor

Só depois de entregar o corpo ao chão

Só depois de morrer neste sertão

Eu também tô do lado de Jesus

Só que eu acho que ele se esqueceu

De dizer que na Terra a gente tem

De arranjar um jeitinho pra viver

Muita gente se arvora a ser Deus

E promete tanta coisa pro sertão

Que vai dar um vestido pra Maria

E promete um roçado pro João

Entra ano, sai ano, e nada vem

Meu sertão continua ao deus-dará

Mas existe Jesus no firmamento

Cá na Terra isto tem que se acabar

Essa obra poética de Gilberto Gil não somente se tornou um marco no conjunto de sua obra, mas, também, nos permite mostrar a relação estreita existente entre a literatura e a religiosidade.

A ligação entre essas duas grandes áreas do saber – literatura e religião – se faz perceber logo no título da obra: “Procissão”. Ao dar esse título a sua composição, Gilberto Gil deixa explícito que sua poesia tem como base um aspecto específico da religião católica romana: uma procissão. É exatamente nesse cortejo religioso que o artista encontra ocasião para desenhar e criticar a vida sertaneja. É nesse momento solene de devoção a um santo, ou à Santíssima Trindade, em que o coração dos religiosos está cheio de fé e a boca cheia de cânticos, que Gilberto Gil sentiu que os devotos, na realidade – caminhando pelas ruas estreitas e tortuosas do sertão – estavam “penando, esperando o que Jesus prometeu”. Gilberto Gil mostra, de alguma forma, que esse momento – propício à espiritualidade, quando os olhos estão focados em uma imagem, seja ela de um santo, seja do próprio criador – diminui o poder de questionamento do penitente e o interesse deste pela transformação da realidade material; ele – o penitente – esquecido das coisas desta vida, fica como se embriagado estivesse com as coisas lá do céu.

Olha lá vai passando a procissão

(...)

As pessoas que nela vão passando

Acreditam nas coisas lá do céu

Gilberto Gil é nessa canção um sacerdote às avessas: ele se vale da religião para criticar uma sociedade imersa na religiosidade. Ele não é um sacerdote que tem a finalidade de elevar os olhos dos devotos aos céus, pelo contrário, ele quer que os mesmos baixem os olhos para a terra, para a realidade em que vivem. Ele não é um tipo messiânico que diz:

Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? (Evangelho de Mateus 6:25).

Ele está mais inclinado à inversão:

“Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?” (Evangelho de Mateus 6. 26). No entanto, vocês, que trabalham de sol a sol, continuam penando aqui na terra à mercê das autoridades cegas, mudas e surdas ao clamor das necessidades.

A ligação entre a crença, a religiosidade e a situação de abandono da população do sertão nordestino e seus problemas é marcada de forma direta. Há uma relação entre as carências de uma parcela discriminada e esquecida da população e a sua necessidade de encontrar um estímulo para continuar a percorrer seu caminho, a fim de conseguir transformar sua condição miserável numa situação melhor. Nesse afã, os promesseiros colocam suas esperanças no além, no pós-morte, na vida desencarnada, na pátria celestial, no reino das luzes, no paraíso eterno.

Eles vivem penando aqui na Terra

Esperando o que Jesus prometeu

E Jesus prometeu vida melhor

Pra quem vive nesse mundo sem amor

Só depois de entregar o corpo ao chão

Só depois de morrer neste sertão

Ainda na segunda estrofe, podemos perceber que a presença da fé persiste por ser de certa forma a única fonte de esperança para a solução do grande carma do povo nordestino: a seca.

E Jesus prometeu vida melhor

Pra quem vive nesse mundo sem amor

Apesar do aparente cansaço pela demora em conseguir a melhora da situação, nota-se um contínuo sentimento religioso e a entrega total à fé e à Terra, na esperança da conquista das melhorias desejadas, ainda que para isso houvesse um alto custo – a morte.

Só depois de entregar o corpo ao chão

Só depois de morrer neste sertão

Desde seu início, a canção “Procissão” sugere forte relação entre a crença popular dos nordestinos do sertão e a esperada solução de seus problemas, como o da falta de chuva, que acarreta o sério problema da seca, que se procura amenizar através da religião. O sacerdote do mundo de cá, – Gilberto Gil –, sem a pretensão de descaracterizar a religião, por meio de sua canção, mostra que a religiosidade tem feito com que o povo vivesse anestesiado, em profunda dormência, esperando em Deus justamente aquilo que se deveria esperar das autoridades.

Eu também tô do lado de Jesus

Só que eu acho que ele se esqueceu

De dizer que na Terra a gente tem

De arranjar um jeitinho pra viver

Em sua terceira estrofe, o poema tece uma crítica às pessoas3 que se aproveitavam da difícil situação vivida pela população do sertão, por sua simplicidade4 e fragilidade sentimental, que mais afloravam quando era vislumbrada qualquer possibilidade de salvação, ou seja, de melhoria da situação estabelecida. A crítica se dirige àqueles que, a todo custo, tiram proveito das circunstâncias adversas.

Muita gente se arvora a ser Deus

E promete tanta coisa pro sertão

Que vai dar um vestido pra Maria

E promete um roçado pro João

Entra ano, sai ano, e nada vem

Meu sertão continua ao deus-dará

Mas existe Jesus no firmamento

Cá na Terra isto tem que se acabar

Nesse caso, ainda que os tempos sejam outros, não podemos deixar de lembrar a passagem bíblica em que Jesus expulsa os vendilhões do Templo (Evangelho de Marcos, capítulo 11), os quais, também, não mediam esforços para tirar proveito das circunstâncias. Há de se recordar, também, do profeta Habacuque, que, vivendo em uma época em que a decadência moral era extrema, acreditava não haver coerência entre a existência de um Deus que vê, mas não se importa e um Deus que é justo, mas que não intervém, colocando um basta nas injustiças que dominavam sobre a justiça. Habacuque, também, entendia que “Cá na terra isso tinha que se acabar”.

1.Oráculo que o profeta Habacuque viu. 2. Até quando Senhor, clamarei eu, e tu não escutarás? Ou gritarei a ti: Violência! e não salvarás? 3. Por que razão me fazes ver a iniquidade, e a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há também contendas, e o litígio é suscitado. 4. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, de sorte que a justiça é pervertida. (Habacuque. 1. 1-4)

“Procissão”, mesclada com a religiosidade, apresenta-se como uma produção de característica inspirada pela estética bossa-novista e pela convergência das ideias difundidas pelo CPC. A necessidade da modernização da MPB fez com que surgisse certa proximidade de ideias entre ambas, que posteriormente desembocariam no realismo socialista do Centro Popular de Cultura e, por conseqüência, na expressão da politização da estética.

De acordo com esse programa, o artista deveria assumir o papel de um militante político, capaz de interferir na História através de suas armas espirituais, em prol da libertação material e cultural do nosso povo. E, paralelamente, preconizava a autonomia da obra de arte como algo equivalente a um discurso que anunciava, com antecedência, transformações sociais a serem implantadas, futuramente, pela revolução social. Em contrapartida, o artista despolitizado, defensor da arte pela arte, transformava-se numa presa fácil ou numa vítima dócil, ou ainda, num instrumento da classe dominante, em função da produção de obras sintonizadas com o status quo, ou antipopulares. Além disso, os ideólogos do CPC admitiam a possibilidade de um artista reacionário ou alienado modificar seu comportamento, graças à sua conscientização política sobre o ideal de arte revolucionária (...). (Contier, 1998, p. 22-23).

Gilberto Gil e outros representantes da nova MPB abriram ampla discussão sobre a necessidade da modernização da Música Popular. Muitos se uniram às ideias revolucionárias, entre eles Caetano Veloso, Torquato Neto, Tom Zé, Capinan5. Embora tivesse parcerias com músicos da BN, o poeta Capinan encontrava-se bem alinhado à estética inspirada pelo realismo socialista do CPC de Salvador.

Observamos não só a presença do realismo socialismo mas também a convergência dessas características com as do socialismo religioso que aparece como consequência quase natural de ordem prática da teologia da cultura e seu ideal de promover a síntese entre religião e cultura. O movimento era pautado como colaborador e não adversário do marxismo; Assim, pretendia-se conferir à análise e à prática marxistas aquilo que para os marxistas era considerado quase irrelevante, passageiro e circunstancial: o fundamento religioso. 

Posto que a cultura, digo, a produção cultural apresenta-se substancialmente religiosa e intencionalmente cultural, enquanto a religião apresenta-se substancialmente religiosa e formalmente cultural, o marxismo é considerado religioso em sua essência, mas, antirreligioso em sua intenção. (Calvani, 1998, p. 62). Dessa maneira, observamos que a produção cultural de Gilberto Gil, em particular a presente na canção “Procissão”, incorpora características do socialismo religioso que aparecem como tentativa de síntese a apontar para a possibilidade de uma teoria e uma prática marxistas que sejam, ao mesmo tempo, substancialmente religiosas e intencionalmente culturais.

(Revista Brasileira-Danilo Sérgio Sorroce)

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