A VIDA SECRETA DAS ÁRVORES. AS DESCOBERTAS DE UM MUNDO OCULTO

Madrugada insone, topo com Pedro Bial entrevistando um simpático senhor falando, pasmem, sobre a vida secreta das árvores. Seu nome, Peter Wohlleben, cientista, estuda “as descobertas de um mundo oculto” em livro que, publicado há pouco mais de três anos, vendeu mais de um milhão de exemplares e leva o leitor a entender o que sentem esses vegetais, lutando para sobreviver, ao lado dos humanos, e muitas vezes em competição com outras espécies.  

Todos conhecemos o que, dos elementos da natureza disseram os poetas, tentando descrever suas mensagens ocultas, sua presença silenciosa, sua beleza. “Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes”, dizia David em um de seus Salmos.

 Goethe conversava com a pequena rosa à beira do caminho, humilde e calada como a flor da estrada que Juan Ramón Gimenez mostrava ao burrinho Platero: suave e esguia, “sem se contaminar das impurezas do mundo” vivendo pouco tempo, sua vida como um dia de primavera, mas podendo ser “a todo instante, o singelo e perene exemplo de nossa existência”. 

Augusto dos Anjos chorava pela árvore da serra, caída aos golpes do  “machado bronco” paterno. Olegário Mariano imagina o exemplo da árvores felizes “dentro da solidão da noite morta” e mesmo sentindo o drama que há no fundo das raízes, continuam dando sombra às taperas no abandono. Ursula Garcia chora a morte da cajazeira secular que conheceu menina.

O livro do cientista alemão vai além do que sentem os poetas. Afirma que as árvores se comunicam, se relacionam, formam famílias, cuidam dos filhos, possuem memória, defendem-se das pessoas. Algumas são solitárias, outras são seres sociais, só conseguem se desenvolver plenamente em comunidade. Como seres humanos, conseguem se adaptar a determinados ambientes. E,  como as estrelas de Bilac, conversam entre elas.

Pedro Bial perguntou a Wohlleben: “Você pode ouvir as árvores conversando?” A resposta: um sorriso e mais. “Para entender a conversa das árvores entre elas e conosco, devemos aprender sua linguagem”. E aconselha aos prefeitos, responsáveis pelo bem estar das árvores e das pessoas nas  cidades: “Plantem pequenas florestas nas praças e não apenas árvores solitárias”. Para a felicidade da vida vegetal e dos seres humanos. A vida secreta das árvores, traduzido em várias línguas, foi publicado no Brasil e pode ser encomendado via internet. A não se perder.

Luzilá Gonçalves Ferreira-Membro da Academia Pernambucana de Letras

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PANDEMIA AGRAVA SITUAÇÃO DE PESCADORES EM JUAZEIRO E VALE DO SÃO FRANCISCO

A reportagem do BLOG NEY VITAL obteve relatos sobre o agravamento da pandemia nas comunidades de famílias pesqueiras e o aumento da insegurança alimentar entre os pescadores e pescadoras. Geralmente esquecidos pelas políticas públicas os pescadores estão vivendo uma situação bastante crítica.

O encarecimento dos preços da cesta básica e as restrições causadas pela pandemia do Coronavírus tem dificultado o acesso aos alimentos.  “A gente vê que a nossa região tem sido afetada pela pandemia e as famílias que foram afetadas por essa situação estão passando fome”, diz o pescador Geraldo Assis.

As dificuldades de acesso ao auxílio-emergencial e ao seguro-defeso intensificaram ainda mais o empobrecimento das comunidades pesqueiras. 

Nesta quinta-feira (25), dezenas de trabalhadores estavam na sede da Colônia de Pescadores Zona 60, localizado no Bairro Angary, Juazeiro Bahia. São cerca de 1500 pescadores associados. O atual presidente interino, Domingos Rodrigues, explica que não são todos os pescadores que recebem o Seguro Defeso. 

"Isto preocupa, pois entre novembro e o último mês de fevereiro houve pagamento, um salário mínimo, mas e daqui para frente", questiona Domingos ressaltando que existe também a burocracia presente do Governo Federal.

"O INSS agora só faz atendimento virtual e isto tem provocado o agravamento da situação das famílias dos agricultores que ficam sem saber a quem recorrer", diz Domingos. Uma forma de ajudar as famílias foi a doação de cestas básicas.

Pescadores que recebem o seguro-defeso também tem direito ao auxílio emergencial relativo a pandemia do Coronavírus, pago pelo Governo Federal, desde que o direito aos dois benefícios não ocorra no mesmo mês.

A Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), esclarece que, segundo consulta realizada ao Ministério da Cidadania, todos os cidadãos que se enquadram nos critérios estabelecidos pela Lei nº 13.982, de 2 de abril de 2020 e pelo Decreto nº10.316, de 7 de abril de 2020, que recebem o seguro-defeso em datas anteriores ou posteriores ao período de pagamento do auxílio emergencial poderão ser contemplados com a ajuda emergencial durante os três meses previstos ou parcelas, mas não podem acumular os dois recebimentos.

O seguro-defeso, que, na prática, é o Seguro-Desemprego do Pescador Artesanal (SDPA), é pago durante o período de reprodução das espécies, o qual o pescador não pode trabalhar. Ele recebe o valor de um salário mínimo por mês de defeso, que pode variar de três a cinco meses por ano, dependendo da área de pesca e da espécie.

O pagamento é feito pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e tem direito os pescadores que tenham a atividade de pesca comercial artesanal como única fonte de renda familiar.
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SEGURANÇAS DO SETOR PRIVADO FAZEM AMEAÇAS A FAMÍLIAS DE AGRICULTORES NO ASSENTAMENTO PALMARES, JUAZEIRO-BAHIA

Cerca de 80 famílias moradoras do acampamento Palmares, localizado no norte da Bahia, estão sendo expulsas das terras em que vivem há mais de 11 anos, onde cultivam uva, macaxeira, feijão e diversos gêneros agrícolas, além da criação de caprino, ovino, avicultura, bovino, entre outros animais.

Seguranças privados cercaram a área nesta quarta-feira (24), impedindo as pessoas de ingressarem ao acampamento. As famílias estão há mais de 17 dias sem água e energia, e agora, proibidas de sair e entrar no acampamento. Quem está fora não entra, e quem está dentro não sai

.Os seguranças privados levaram retroescavadeira para destruírem as casas e as roças dos acampados. Na área do acampamento há crianças, idosos, mulheres. Pessoas expostas a atos de barbaridade e violência. Todos estão atentos e temem que uma situação de ataque e/ou massacre possa acontecer.

As terras que hoje são cultivadas pelas famílias eram utilizadas antes para facilitar o tráfico de entorpecentes para o exterior. A fazenda faz parte do grupo Mariad Importação e Exportação de Gêneros Alimentícios, a qual seu ex-proprietário, o colombiano Gustavo Duran Bautista, a utilizava para traficar cocaína dentro das caixas de uvas que eram transportadas para diversos países, não cumprindo de tal forma, a função social da propriedade.

No ano de 2007 o então proprietário foi preso, deixando a fazenda abandonada. Em 2009, as famílias organizadas pelo Movimento Sem Terra ocuparam a área e desde então moram e retiram seu sustento diretamente da produção cultivada noacampamento.

A fazenda foi a leilão em 2014, ignorando a presença das famílias que ali fixaram moradia. A partir de então iniciou-se uma queda de braço na justiça do trabalho, que vem se arrastando até hoje.

Ano passado, o então arrematante da propriedade se mostrou interessado em vendê-la, inclusive às famílias, através do Crédito Fundiário organizado pelo Governo do Estado através da CDA – Coordenação de Desenvolvimento Agrário. No dia 23 de setembro de 2020 ocorreu uma reunião na SERIN com representantes do MST, do CDA e o proprietário arrematante, onde o mesmo apresentou seu interesse em vender a área.

Ficou então encaminhado que o governo do estado estaria enviando uma equipe ao local para ajustar e orientar as famílias com relação a documentação e demais procedimentos cerca de até 25 dias após a reunião, o que não veio a ocorrer. Foi acordado ainda naquela ocasião o prazo de seis meses para que o estado pudesse vir a dirimir toda a situação perante a contratação do credito para a aquisição da área por parte das famílias.

O prazo se encerrou no último dia 23/03, após seis meses de espera e expectativa, o Estado não cumpriu com sua parte e as famílias estão sendo expulsas das terras que sobrevivem há mais de 11 anos, uma vez que o proprietário requereu novamente o cumprimento da liminar despachada pelo juiz do trabalho da 5ª região em Juazeiro, determinando a imissão na posse em favor do arrematante.

A situação é caótica, no momento em que a pandemia da covid-19 está em seu maior pico, 80 famílias terão as suas casas e fontes de rendas destruídas. Exigimos urgentemente resposta por parte do Estado.

Despejo na pandemia é crime! Comunicação CPT

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FLÁVIO LEANDRO; TANTO SONHO PERDIDO. NÃO CONSIGO ENTENDER A NATURALIZAÇÃO DA MORTE

(Trezentas mil)  300.000. Um absurdo! Eu não consigo entender o exercício diário da naturalização da morte que nosso país adotou. A que nível de bestialidade chegamos? Fazendo um triste comparativo, meu município tem pouco mais de 30 mil pessoas, então são 10 municípios de gente, riscados do mapa. Minha região tem 10 municípios, então é uma região inteirinha de gente, que sumiu. Tanto sonho perdido, meu pai! Tanta história linda seria pintada, meu Deus! Tanto abraço de braços e laços seriam dados, meu povo!

O que é isso? An? CHEGA! Mesmo depois de terem feito a merda que fizeram nas aglomerações das eleições municipais, governadores e prefeitos, bons ou ruins, prestando ou não, resolveram fazer o lockdown, mais uma vez, a única medida possível antes da vacina, e sai uma tuia de gente na rua para bradar contra?!

Avalizadas pelo chefe do executivo nacional, o aglomerador mor deste país. Estimuladas por matadores em massa travestidos de falsos religiosos, de falsos médicos, de falsos jornalistas... Isso mesmo, estamos vivendo a era suprema do endeusamento do falso, da mentira! Eu não sei quem é mais perigoso, se o virus ou essa gente! Canalhas, assassinos! Todos vocês passarão, seus canalhas! Trabalhar é importante, é lindo, é sagrado, e digo isso com a propriedade de quem deixou de fazer uma centena de shows, mas o verbo é SO-BRE-VI-VER, sobreviver!

E não venha me pedir calma, não venha me falar de paz, de amor, se você defende arminha, cloroquina e afins! Viva a vida!

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PADIM CIÇO DO JUAZEIRO COMPLETA 177 ANOS. FÉ. ROMARIAS E ECOLOGIA

Pela primeira vez, as celebrações da semana que comemora os 177 anos do nascimento de Padre Cícero é realizada de forma totalmente virtual. Medidas mais rígidas de isolamento social contra a Covid-19 no estado impedem a realização das festividades de forma presencial, para evitar aglomerações. 

“O nome do padre Cícero / ninguém jamais manchará, / porque a fé dos romeiros / viva permanecerá, / pois nos corações dos seus / foi ele um santo de Deus / é e pra sempre será.” Es te é um dos temas de incontáveis folhetos de cordel espalhados pelas feiras sertóes afora.


Quem já ouviu falar dos preceitos ecológicos do Padre Cicero, muitos o seguem como exemplo de fé e religiosidade, mas poucos sabem que ele foi um dos primeiros defensores do meio ambiente, do bioma caatinga. Padre Cícero soube unir a mitologia e o poder do conhecimento dos indios Kariris.

Cícero Romão Batista nasceu em Crato, Ceará no dia 24 de março de 1844. Foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870. Celebrou a sua primeira missa em Juazeiro em 1871. No dia 11 de abril de 1872 fixou residência em Juazeiro. Padre Cícero faleceu no dia 20 de julho de 1934, na cidade de Juazeiro.

A jornalista Camila Holanda escreveu que nas entranhas do Cariri do Ceará foi emergido uma versatilidade de ícones que, entrelaçados povoam o imaginário cultural que habita a região.

Nas terras do Ceará ouvi uma das mais belas histórias. Resumo: o teatrólogo, pesquisador cultural Oswaldo Barroso, ressalta um dos mais valiosos símbolos, a vigorosa força mítica e religiosa. Oswaldo Barroso, cidadão honorário de Juazeiro do Norte, diz que a primeira vez que esteve no Cariri foi nos anos 70 e a experiência fez com que suas crenças e certezas de ateu fossem desconstruídas e reconstruídas com bases nos sentimentos das novas experiências e epifanias vividas.

"Desde o início, não acreditava em nada de Deus. Mas quando fiz a primeira viagem ao Horto do Juazeiro do Norte, foi que eu compreendi o que era Deus. Isso mudou minha vida completamente", revelou Oswaldo.

Um outra narrativa importante encontrei na mitologia dos Indios Kariris. Nela a região é tratada como sagrada, centro do mundo, onde no final dos tempos, vai abrir um portal que ligará o Cariri  para a dimensão do divino.

A estátua do Padre Cícero encontra-se no topo da Colina. Muitos romeiros percorrem a Trilha do Santo Sepulcro. A pé eles percorrem às 14 estações trajeto marcado por frases e conselhos ambientais do Padre Cícero, que já alertava naquela época para os muitos desequilíbrios ambientais e impactos da agressão humana na natureza.

No ano de 2015 o Vaticano (Italia) reconciliou o padre Cícero Romão Batista com a igreja católica. Com a reconciliação, não há mais fatores impeditivos para que o "santo popular" do interior do interior do Ceará seja reabilitado, beatificado ou canonizado, segundo o chanceler da diocese do Crato, Armando Lopes Rafael. Leia o resumo da carta do Vaticano à diocese do Crato.

Padre Cícero morreu sem conciliação com a igreja católica. 

Padre Cicero descreveu os preceitos ecológicos:

1) Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau; 

2) Não toque fogo no roçado nem na caatinga;

3) Não cace mais e deixe os bichos viverem; 4) Não crie o Boi e nem o bode solto; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer; 

5) Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água de chuva;

6) Não plante em serra a cima, nem faça roçado em ladeira que seja muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca sua riqueza;

7) Represe os riachos de 100 em 100 metros, ainda que seja com pedra solta;

8) Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, ate que o sertão todo seja uma mata só;

9) Aprenda tirar proveito das plantas da caatinga a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca;

10) Se o sertanejo obedecer a estes preceitos a seca vai aos poucos se acabando o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer, mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.

Rezemos com Fé! . Os sorrisos são a alegria da alma.

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OCASO E ESCURIDÃO: IMPACTOS DE ARIETE NA EPIDERME DO DIA

A música popular regional nordestina, essa que facilmente se chama forró, em todas as suas dimensões, assenta-se sobre dois pilares: Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. O primeiro revela aos olhos da nação as agruras do espaço físico, geográfico, das secas e cheias, de rios efêmeros e fomes perenes, bem como o ambiente político com seus coronéis e padres, o poder paralelo dos cangaceiros e as mortes por vingança, o enxoval do vaqueiro e as festas populares. 

O outro nos apresenta os cabarés e as umbigadas, a ginga da peixeira e as aventuras dos forrozeiros, o amor putânico e o rala-coxa, mais alegre e urbano, enquanto o primeiro é predominantemente rural. Resumem, portanto, ou melhor, sintetizam a mitologia nordestina. 

Temos falado até agora no par semiológico ver/não ver, luz/trevas. Antes, porém, do avanço, relato uma conversa partilhada com o professor Eduardo Portella quando afirmava ele que o povo dos cafundós (sim, lá também existem os cafundós!) da Europa do Leste, dos interiores tchecos, sérvios, húngaros, bósnios e além, sofrem de uma predisposição para a angústia. Tentei inserir uma certa angústia do homem nordestino, mas a conversa não evoluiu. Fiquei inseminado pelo tema e saí perseguindo meus murmúrios. 

Deságua aqui nesta Baía, no coração do Leblon, a minha inquietação. Situações circunstanciais de opressão pelo meio ao que parece podem fomentar uma certa ponta de angústia. Pensei, assim, na aridez da vida dos miseráveis de Canudos que não sabiam, ou não conheciam, ou não viam motivo para tanta guerra. Alastrei meu olhar para os desdentados dos vales profundos, viventes-plantas cujas unhas dos pés nunca arranharam um pedaço de pão quente saído do forno ainda há pouco. Vi alguns migrantes caídos na Cinelândia. Abismando-me com essas paisagens distantes e essas outras presentes, calei. Ver dói, não ver, idem. Isso que senti aportou em Gonzaga e Jackson.

A música mais conhecida de Gonzaga é Asa Branca. Qualquer funkeiro ou rapper, rockeiro ou erudito conhece seus acordes simples, sua letra grave e sua estrutura quadrada. Mas olhemos para a letra com mais demora. Deixemo-la irrigar-nos.

Quando olhei a terra ardendo

Qual fogueira de São João

Eu perguntei a Deus do céu, ai

Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornalha

Nem um pé de plantação

Por falta d'água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão

Até mesmo o asa branca

Bateu asas do sertão

Então eu disse adeus Rosinha

Guarda contigo meu coração

Quando o verde dos teus olhos

Se espalhar na plantação

Eu te asseguro não chores não, viu

Que eu voltarei, viu meu coração.

 Agora vejamos essa outra canção: *Assum preto

Tudo em vorta é só beleza

Sol de Abril e a mata em frô

Mas Assum Preto, cego dos óio

Num vendo a luz, ai, canta de dor .

Tarvez por ignorança

Ou mardade das pió

Furaro os óio do Assum Preto

Pra ele assim, ai, cantá de mió

Assum Preto veve sorto

Mas num pode avuá

Mil vezes a sina de uma gaiola

Desde que o céu, ai, pudesse oiá

Assum Preto, o meu cantá

É tão triste como o teu

Também roubaro o meu amor

Que era a luz, ai, dos óios meu

 Muito bem, as duas são de Gonzaga e Humberto Teixeira. Pensemos em nossos dilemas epigráficos: sofrer por ver e sofrer por não ver, em suas leituras livres. E, agora, volvamos um olhar sobre o título atribuído a esse roteiro: ocaso e escuridão. Se em Asa Branca o ato de ver causa o desespero, porque não dizer a angústia, por poder observar que tudo está sendo devorado e que o dilema se instaura (partir ou morrer), em Assum Preto dá-se o contrário: não ver proporcionará o cantar mais lindo. 

A reflexão vai bem mais além quando se prefere trocar a luz dos olhos pelas grades da prisão. Agora intelectualizemos o par opositivo: diante da luz, a angústia, longe da luz, o belo. Parece-me o paradoxo ditado e vivido por Homero, em si próprio, fundando toda a literatura universal, inclusive a metamorfose coleóptera de Gregor Samsa. Agora pairemos sobre esta outra canção cantada por Jackson:

 *Lamento cego

Irmão, que está me escutando

Preste bem atenção.

Já vi um cego contando

Sua história num rojão.

Quem vê a luz deste mundo

Não sabe o que é sofrer.

Que sofrimento profundo

Querer ver e não poder.

Irmão, mais triste eu fico

Com tanta ingratidão

Dois gravetos de angico

Me tiraram a visão.

Por isso nós tamo aqui

Eu e minha viola.

Por Jesus vamos pedir

Meu irmão, me dê uma esmola

Que Deus recompense então

A sua caridade

E lhe dê sempre a visão

Saúde e felicidade.

É uma composição de Jackson e Nivaldo Lima. Se em Asa Branca ver é tomar consciência das próprias catástrofes e ser obrigado a optar sobre um dilema, em Assum Preto, não ver é proporcionar a manifestação do Belo. Aqui neste lamento há o maldizer por não poder enxergar ou como diz a letra “que sofrimento profundo querer ver e não poder.” Mas, afinal, que sofrimento é esse? Qual o seu nome? Onde se instala? Nossa sociedade globalizada é de alma visual. A visão sobrepõe-se ao tato e ao metafísico. O fim do pensar. 

A velocidade. A banalização da sexo, da violência e da literatura são ferramentas poderosas no processo de massificação e homogeneização cultural. As nossas empresas de telefonia celular sabem disso. Suas máquinas não mais só falam, elas fotografam, elas transmitem ao vivo. O cego de Jackson sofre por miseravelmente não poder ver, não sentir-se inserido nas cores. Roga a esmola e em contrapartida oferece como paga a recompensa de Deus com a visão eterna, com a saúde e com a felicidade. 

Contraditoriamente, já que estamos dialogando sobre dilemas, o fim das promessas do progresso e do bem-estar oferecido pela tecnologia e pela técnica, as benesses do paraíso, o leite e o mel, esses dons assinados pelo mesmo Deus, não nos presenteiam mais com saúde e felicidade. Veja-se o colapso da saúde nos países periféricos e a escassez do emprego em todo o mundo. 

O dilema de Hamlet passaria de ser ou não ser a ver ou não ver. A angústia da Europa Oriental não é maior lá ou cá. Não há predisposição deste ou daquele povo. Se há algum tempo a Ilustração nos ofereceu a Luz, a pós-modernidade nos apresenta a conta e a Light, extensão do Mundo-Capital-Consumo, foi privatizada.

Ainda nos resta o diálogo dos dois cegos citados por Leonardo Mota em seu Cantadores. Diz o primeiro:

 Tenham pena deste cego,

Filhos da Virge Maria;

Eu sou cego de nascença,

Nunca vi a luz do dia!

 Ao que o outro respondeu:

 Quem nasceu cego da vista

E dela não se lucrou,

Não sente tanto ser cego

Como quem viu e cegou!

Um embate sobre a maior miséria. Agora ouçamos: perguntei a um desses policiais que participaram do massacre do Carandiru qual jacaré seqüestrara minha lâmpada de Aladim. Veio-me a resposta como uma bala: surda, certeira e devastadora extraída do poema de Drummond:

Nesse país é proibido sonhar.

 Findo, senhores, com uma canção do Cego Aderaldo, um parvo cuja angústia foi ver demais:

*As três lágrimas

Eu ainda era pequeno

mas me lembro bem

de ver minha pobre Mãe

em negra viuvez.

Meu pai jazia morto

Estendido em um caixão

 E eu chorei então

Pela primeira vez!

 E a pobre minha Mãe

Daquilo estremeceu:

De uma moléstia forte

A minha mãe morreu.

Fiquei coberto em luto

E tudo se desfez

E eu chorei então

Pela segunda vez.

 Então, o Deus da Glória,

O mais sublime artista,

Decretou lá do Céu,

Perdi a minha vista.

Fiquei na escuridão,

Ceguei com rapidez

E eu chorei então

Pela terceira vez.

Meus prantos se enxugaram.

Das lágrimas que corriam

Chegou-me a poesia

E eu me consolei.

Sem pai, sem mãe, sem vista,

Meus olhos se apagaram;

Tristonhos se fecharam

 E eu nunca mais chorei.

 (Fonte: Aderaldo Luciano, professor mestre e doutor em Ciência da Literatura, músico, poeta)

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CAMPANHA EU VIRO CARRANCA PARA DEFENDER O RIO SÃO FRANCISCO É VENCEDORA DO PRÊMIO DA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS

Realizada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) por meio da Agência Peixe Vivo, a Campanha em Defesa do Rio São Francisco ganhou o Troféu Prêmio ANA na categoria Entes do SINGREH (Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos).

O resultado foi anunciado hoje, 22/03, Dia Mundial da Água, em uma cerimônia realizada na sede da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), em Brasília, e transmitida pelo youtube, da qual participaram a Diretora-presidente da ANA, Cristiane Dias e os diretores Ricardo Andrade, Oscar Cordeiro Neto, Marcelo Cruz e Vítor Sabach. A campanha estava entre os 24 finalistas de todo o Brasil que mais se destacaram com ações em prol das águas do Brasil.

Os trabalhos foram classificados em oito categorias: Comunicação, Educação, Empresas de Médio e de Grande Porte, Empresas de Micro ou de Pequeno Porte, Entes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), Governo, Organizações Civis, além de Pesquisa e Inovação Tecnológica.

Conheça os oito vencedores por categoria: Comunicação: VIDAS SECAS NO PAÍS DAS ÁGUAS – SÉRIE DE REPORTAGENS (Luiz Claudio Ferreira, da Empresa Brasil de Comunicação – EBC)

Educação: ÁGUA LIMPA PARA OS CURUMINS DO TRACAJÁ (Valter Pereira de Menezes, da Escola Municipal Luiz Gonzaga, no Amazonas)

Empresas de Médio e de Grande Porte:GESTÃO DE ÁGUA 360º DA WHIRLPOOL LATIN AMERICA (Whirlpool, representada por Cristiano Felix)

Empresas de Micro ou de Pequeno Porte: RECICLAGEM A SECO DE EMBALAGENS PLÁSTICAS CONTAMINADA (Eco Panplas, representada por Felipe Cardoso)

Entes do SINGREH: CAMPANHA EM DEFESA DO RIO SÃO FRANCISCO (Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco através de sua Entidade Delegatária Agência Peixe Vivo, representado por Anivaldo Miranda Pinto)

Governo: IMPLEMENTAÇÃO DE TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM COMUNIDADES DO ALTO PANTANAL MATO-GROSSENSE (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, representado por Samir Curi)

Organizações Civis: IDENTIFICAÇÃO, PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO DE NASCENTES NA REGIÃO OESTE DA BAHIA (Associação Baiana dos Produtores do Algodão – ABAPA, representada por Lidervan Mota Morais)

Pesquisa e Inovação Tecnológica: GESTÃO DE ALTO NÍVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS (Felipe de Azevedo Marques, da Fundação Universidade Federal do Tocantins)

O Troféu Prêmio ANA será enviado por correio, devido ao agravamento da pandemia do coronavírus. Os ganhadores poderão utilizar o Selo Prêmio ANA: Vencedor, que atesta a qualidade do trabalho premiado, enquanto os outros dois finalistas de cada categoria (16 projetos) terão o direito de usar o Selo Prêmio ANA: Finalista, para demonstrarem o reconhecimento da premiação às boas práticas que chegaram à fase final.

Finalistas: Entre 22 e 25 de fevereiro, aconteceu a Semana de Apresentações dos Finalistas do Prêmio ANA 2020. 

O Prêmio ANA 2020 já fez história com o recorde de 695 inscrições de todos os estados do Brasil e do Distrito Federal, mesmo num contexto de pandemia. O total supera a marca anterior registrada no Prêmio ANA 2017, quando 607 boas práticas participaram. Nesta edição histórica da premiação, que encerra a celebração dos 20 anos da Agência, a categoria com maior número de iniciativas inscritas foi Pesquisa e Inovação Tecnológica: 157 no total.

Para as demais categorias as inscrições ficaram divididas assim: Comunicação (129), Governo (102), Empresas de Médio e de Grande Porte (86), Educação (59), Organizações Civis (66), Empresas de Micro ou de Pequeno Porte (59) e Entes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (37).

Coube à Comissão Julgadora, presidida pelo diretor da ANA Oscar Cordeiro Netto, definir os três finalistas de cada categoria, com base nos seguintes critérios: efetividade, inovação, impactos social e ambiental, potencial de difusão, sustentabilidade e adesão social. Para a categoria Comunicação, o critério de sustentabilidade não será aplicável.

Criado há 14 anos pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico para reconhecer as melhores práticas e iniciativas voltadas ao cuidado das águas do Brasil, o Prêmio ANA é a mais tradicional premiação do setor de águas do Brasil e já contabilizou 2.952 trabalhos inscritos, tendo premiado 40 projetos de todas as regiões do Brasil, que se destacaram pela sua contribuição ao desenvolvimento do País.

Campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”. Criada em 2014 pelo CBHSF, a campanha tem o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância da preservação da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e marca o Dia Nacional em Defesa do Velho Chico, celebrado em 03 de junho. Anualmente, são realizadas inúmeras ações presenciais e nas mais diversas mídias, abrangendo toda a bacia. 

Nas últimas campanhas, as redes sociais têm se mostrado um meio muito eficiente de divulgação, ganhando a cada ano mais espaço, principalmente por promover um maior entrosamento com o público. (Assessoria de Comunicação CBHSF: TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social *Texto: Mariana Martins com informações da ASCOM/ANA)

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