DOMINGUINHOS COMPLETARIA 80 ANOS DE NASCIMENTO NESTA SEXTA-FEIRA (12)

Se estivesse vivo, Dominguinhos completaria 80 anos nesta sexta-feira 12.

Ícone do forró e da cultura brasileira, o cantor, compositor e sanfoneiro Dominguinhos foi nomeado herdeiro artístico de Luiz Gonzaga pelo próprio rei do baião. E, apesar de ter feito jus ao legado, Dominguinhos foi além, transitando por vertentes como bossa-nova, choro, bolero e jazz.

“José Domingos de Morais, o Dominguinhos, filho de Francisco Domingos e Dona Maria de Farias, nasceu no dia 12 de fevereiro de 1941,  lá pras bandas das terras de Garanhuns, cidade serrana, no estado de Pernambuco. Seu pai, conhecido também como mestre Chicão, foi um famoso tocador e afinador de fole de oito baixos, nascendo daí uma infância ligada a um mundo musical, com certeza, um mundo de simplicidade, reflexo da região rústica e da ingenuidade das pessoas que compunham aquela realidade social.” 

O radialista e escritor José Lira, 80 anos aponta que Dominguinhos "foi em vida e continua encantando as mais variadas plateias, indo dos exigentes e aficcionados dos festivais de jazz aos dançadores de forrós pé-de-serra e que foi uma criança nordestina que trabalhou o solo agreste, ‘puxando cobra pros pés’, num dizer bem nosso, e cedo, junto com os irmãos, tocou nas portas dos hoteis, nas praças ou em festinhas populares, ao som da sanfona, do pandeiro e do melê” 

José Domingos de Moraes, filho de Francisco Domingos(Chicão dos 8 baixos) e Maria de Farias, o Dominguinhos, nasceu no dia 12 de fevereiro de 1941, lá prás bandas das terras de Garanhuns, cidade serrana, Estado de Pernambuco, portanto, foram mais de sete décadas vividas. Dominguinhos faleceu no inicio da noite de 23 de julho de 2013.

Seu pai também conhecido como Mestre Chicão, foi um famoso tocador e afinador de sanfona de 8 Baixos, nascendo daí uma infância ligada ao mundo musical com certeza, um mundo de simplicidade, reflexo da região rústica e da simplicidade que compunha aquela realidade social.

A vida de Dominguinhos veio sofrer mudanças de rumo quando aos 9 anos conhece Luiz Gonzaga. Aos 13 vai para a cidade do Rio de Janeiro (na época Capital Política do País) e recebe do Rei do Baião uma sanfona de presente. A partir daí as coisas foram acontecendo num ritmo surpreendente, quer na vida particular, quer na vida musical, pois o próprio artista confessou que não tinha grandes projetos para o futuro, tocante ao saber artístico.

Luiz Gonzaga sempre lembrou a Dominguinhos certo compromisso com nossas raízes. Seu Luiz conhecia de perto a potencialidade do afilhado e por isso temia que o filho do mestre Chicão enveredasse por outro caminho diferente da semente plantada lá pelos anos quarenta.

Explica-se: o grande centro urbano dera condições ao menino Dominguinhos de vivenciar uma situação musical onde despontavam nomes famosos que participaram da Época Ouro do Rádio Brasileiro. E ainda jovem, 18 anos, já estava o nosso sanfoneiro aos microfones celebres das Rádio Nacional, Mayrink Veiga e Tupi do Rio de Janeiro.

A virtuosidade ostentada por Dominguinhos é certo que ocorreu por duas vertentes: primeiro pelo talento que latejava dentro de si e veio explodir no momento certo; segundo, pela experiência de viver ao lado de grandes instrumentistas como Orlando Silveira, Chiquinho do Acordeon e outros nomes da música popular brasileira.

Então Pedro Sertanejo, pai de Osvaldinho, prestigiou esse talento, abrindo as portas de sua gravadora para o primeiro disco, em 1964.

Quem teve a felicidade de conhecer de perto o trabalho de Dominguinhos, como também a grande figura humana que ele é (foi), descobrirá logo de início seu traço característico: A humildade. Humildade que o leva a passar um bom espaço de tempo sentado num desprestigiado tamborete, em cima de um caminhão, dedilhando a sanfona para si, à espera de que o som seja consertado para uma apresentação numa periferia ou humildemente na postura do gesto, envergando um "Smoking"para receber mais um Prêmio Sharp, considerado o Oscar, no palco do Teatro Copacabana, no Rio.

O escritor Braulio Tavares diz que Dominguinhos tinha "o poder multiplicador do gênio". "Um grande artista não cria consumidores, cria discípulos e futuros mestres. Dominguinhos foi discípulo de Luiz Gonzaga e inovou a arte do mestre. Essa é a diferença entre o artista que cria e o que se apropria".

Eis o perfil desse artista nordestino, de falava cadenciada como uma toada romântica e de olhar triste; de mansidão que conquista no primeiro aperto de mão e de voz quente quando canta e toca um forró bem balançado.

Em 2002, o músico foi o vencedor do Grammy Latino, com o CD Chegando de Mansinho. Cinco anos depois, voltou a gravar e recebeu o Prêmio TIM (2007) como melhor Cantor Regional, com o disco Conterrâneos 2006. No ano seguinte, concorreu ao 8º Grammy Latino, com o mesmo álbum, na categoria Melhor Disco Regional. Lançou também um álbum, em dueto com o virtuose do violão Yamandu Costa. Em 2008, foi o grande homenageado do Prêmio Tim de Música Brasileira. Em 2010, venceu o Prêmio Shell de Música e, em 2012, um ano antes de sua morte, conquistou o Grammy Latino de Melhor Álbum Brasileiro de Raiz, com o CD e DVD Iluminado.

Em 2012 Dominguinhos foi homenageado em Petrolina, recebeu o Troféu Asa Branca. Dominguinhos lembrou episódios de sua carreira e definiu: " agora é que fico mais emocionado quando escuto os baiões. Tudo é mais bonito"...

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LIVE GONZAGUEAR, 100 ANOS DE ZÉ DANTAS, TEVE PARTICIPAÇÃO DE DOUTOR DANTAS NETO E JOSÉ TOBIAS

Neste ano de 2021, o Brasil comemora os 100 anos de nascimento, do compositor e médico, um dos mais talentosos nomes da cultura brasileira e internacional, José de Souza Dantas Filho, o poeta Zé Dantas. 

Nesta quarta-feira (10), o filho de Zé Dantas, José de Souza Dantas Neto, atualmente respeitado profissional da medicina, o doutor Dantas Neto, coronel médico aposentado do Exército Brasileiro, mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, ex-chefe de clínica e da residência médica do Hospital do Exército por mais de 10 anos, participou da live Gonzaguear, apresentada pelo pesquisador Rafael Lima, através do canal Instagram.

Com uma simplicidade e conhecimento da vida e obra do pai, Zé Dantas e da amizade por Luiz Gonzaga, o doutor Dantas Neto apresentou várias histórias. Emocionou a todos que assistiam a Live.

Doutor Neto Dantas "deu um presente que surpreendeu". Ele apresentou o cantor José Tobias, o primeiro a gravar (antes de Luiz Gonzaga), a música Acauã. José Tobias iniciou a carreira artística no Recife onde nasceu, em 6 de março de 1928. Na live José Tobias declarou o amor e carinho que tinha por Zé Dantas. "Era um mais que irmão".

José Tobias trabalhou na Rádio Jornal do Comércio na capital pernambucana, Recife. Pouco depois transferiu-se para o Rio de Janeiro, sendo levado para a Rádio Tupi por João Calmon. Da Tupi do Rio de Janeiro foi para a Rádio Record de São Paulo e passou a realizar dois programas semanais nas duas emissoras. Ao produzir um dos melhores álbuns de sua carreira, “Rapsódia Brasileira”, acompanhado por Radamés Gnattali, Camerata Carioca e Octeto Brasilis, Hermínio Bello de Carvalho escalou José Tobias e o definiu como “um cantor de mil cantorias”.

José Tobias teve a voz elogiada pela cantora Elis Regina. 

José Tobias é um nome quase esquecido no cenário musical brasileiro. Pouco se ouve falar deste magnífico cantor, dono de uma voz única, grave. Pelas suas evidentes qualidades vocais encantou milhares de ouvintes, não demorando muito para ser apresentado também no Rio de Janeiro e São Paulo, onde seguiu carreira em diversas rádios. Gravou também alguns Lps nos anos 50. Muitas dessas músicas, gravadas em discos de 78rpm, foram novamente regravadas. 

Em 1952, portanto há 69 anos, José Tobias fez sua estreia em disco no selo Star com os baiões “Acauã”, de Zé Dantas e Luiz Gonzaga e “Chora baixinho”, de Zé Dantas. Em 1953 gravou o samba canção “De tanto acreditar”, de Hervê Cordovil e Renê Cordovil e o baião “Baião do pescador”, de Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil. No ano seguinte gravou do pernambucano Capiba os sambas “Igarassu, cidade do passado” e “Recife, cidade lendária”, de Luiz Gonzaga e Ghiaroni o samba “Criança má” e de Elpídeo dos Santos a rancheira “Você vai gostar”. Em 1955 gravou de Dorival Caymmi a canção “Saudade de Itapoã”.

Em 1959 gravou o maracatu “Eh! Ua! Calunga”, de Capiba e o coco “Lua…lua…”, de Teófilo de Barros e Sebastião Lopes. No ano seguinte gravou  as toadas “Se eu soubesse”, do ex cangaceiro Volta Seca e “Vai jangada”, de Geraldo Serafim e Newton Castro. 

Em 1961 gravou do maestro Guerra Peixe o samba “Se você voltasse”. Gravou ainda pelo pequeno selo Athena. Por essa época lançou o LP “Poema triste” no qual interpretou de sua autoria, a “Balada da solidão” e “Só voltou de madrugada”; de Ronaldo Bóscoli e Roberto Menescal a música “Negro”, de Peterpan, “Hoje é Domingo outra vez” de Hervê Cordovil e Vicente Leporace, “Jangada”, de Zé Dantas, “Acauã” e de Luiz Vieira, o “Prelúdio para ninar gente grande”.

Em 1984 lançou o LP “Rapsódia brasileira”, com a participação do maestro Radamés Gnatalli, Camerata Carioca e Octeto Brasilis, no qual interpretou, entre outras músicas, “Meu caboclo”, de Laurindo de Almeida e J. Lourival, “Minha terra” de Waldemar Henrique, “Luar do sertão”, de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco, “Isso é o Brasil” de José Maria de Abreu e Luiz Peixoto e “Azulão” e “Modinha”, de Jayme Ovalle e Manuel Bandeira.

José Tobias de Santana começou sua carreira musical de um modo muito particular: após uma vitória de seu time de futebol (chegou a receber propostas para se profissionalizar pelo Náutico) contra o time da Rádio Jornal do Comércio de Recife, foi comemorar no chuveiro ao som de “Marina”, de Caymmi. 

Ao ouvi-lo cantar, Ubirajara Mendes – programador da rádio, que tinha ido ao vestiário com a intenção de contratá-lo para o futebol da emissora – não teve dúvidas: levou-o para a rádio, uma das mais importantes do país na época, que contava no seu elenco com músicos e arranjadores de peso como Guerra-Peixe e Sivuca.

Um dos sonhos de José Tobias, que no próximo mês completa 94 anos, é realizar um show em Recife, Pernambuco.

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LIVE GONZAGUEAR FAZ HOMENAGEM AOS 100 ANOS DE NASCIMENTO DO COMPOSITOR ZÉ DANTAS

 

Luiz Gonzaga foi e continua sendo pedra angular, referência-mor do forró, baião, xote, mas o Rei do Baião, não trilhava sozinho. Havia por trás de si, uma constelação de compositores, poetas, músicos, além de profícuos conhecedores do seu trabalho, amigos talhados de sol, nascidos do barro vermelho, com almas tatuadas por xique-xiques e mandacarus.

Neste ano de 2021, o Brasil e a música brasileira comemora os 100 anos de nascimento, do compositor e médico, um dos mais talentosos nomes da cultura brasileira e internacional, José de Souza Dantas Filho, o poeta Zé Dantas.

As músicas de Zé Dantas continuam vivas e atual. Zé Dantas vive no sertão, no pampa, na cidade grande, na boca do povo, no gemer da sanfona, no coração e na alma da gente brasileira, pois, como disse Fernando Pessoa, "quem, morrendo, deixa escrito um belo verso, deixou mais ricos os céus e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente".

Zé Dantas nasceu em 27 de fevereiro de 1921, em Carnaíba, Pernambuco, Sertão do Pajeú. Para quem estuda a música e cultura à luz das ciências da comunicação,  sabe da importância de Zé Dantas para a compreensão sócio política, cultural, sociológica e antropológica para o conhecimento do Nordeste e do Brasil.

Basta citar as interpretações de Luiz Gonzaga e o puxado da sanfona ao cantar músicas como Vozes da Seca, Sabiá, Paulo Afonso, Cintura Fina, Algodão, Riacho do Navio, Farinhada, Pisa no Pilão,  Vem Morena, Forró do Mané Vito, Imbalança, Acauã, Casamento de Rosa, Abc do Sertão, Minha Fulô, Siri Jogando Bola, São João Antigo, São João do Arraiá,  A Profecia e Samarica Parteira, além de causos e outras dezenas de músicas para ressaltar a sabedoria musical presente no trabalho de Zé Dantas.

Na voz de Jackson do Pandeiro a música Forró em Caruaru é outro exemplo do conhecimento de Zé Dantas ao compor, escrever. Também por isto Luiz Gonzaga dizia que Zé Dantas era tão autêntico, puro de coração e alma que sentia nele o cheiro de bode, representando a expressão, do enorme talento e sentimento, valorização da identidade cultural sobre o Nordeste.

Zé Dantas foi casado com dona Iolanda. A música A Letra I, foi feita como forma de presente. Zé Dantas e dona Iolanda tiveram três filhos: Sandra, Mônica e Jose de Souza Dantas Neto. A cantora Marina Elali é neta de Zé Dantas.


Sobre Zé Dantas Neto, dizia o pai: "este menino tem a cara larga do Pajeú das Flores". José de Souza Dantas Neto nasceu no ano de 1959. O filho era um bebê quando Zé Dantas, tornou-se encantado, desencarnou e "partiu para o Sertão de Eternidade", no dia 11 de março de 1962.

José de Souza Dantas Neto, atualmente respeitado profissional da medicina, o doutor Dantas Neto é coronel médico do Exército Brasileiro. É mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi chefe de clínica e da residência médica do Hospital do Exército por mais de 10 anos.

Estas e outras histórias serão contadas nesta quarta-feira, dia 10, na live apresentada pelo pesquisador e escritor Rafael Lima, autor do livro, “O Rei do Baião e a Princesa do Cariri”, onde relata sobre os momentos mais marcantes vividos por Luiz Gonzaga na cidade do Crato, Ceará.

Rafael Lima terá com convidado o doutor Dantas Neto que vai falar sobre o Centenário do pai o compositor Zé Dantas a partir das 20hs no Instagram @rafaellima45100.

VIDA E OBRA: O gosto musical sempre foi o grande aliado do pernambucano José de Souza Dantas Filho (1921-1962), também chamado de Zé Dantas. Nascido em Carnaíba de Flores, no Sertão do Pajeú, desde menino se revelava compositor. Apaixonado por ritmo, melodia e harmonia, Zé Dantas, criava com facilidade xotes, baiões e toadas. No Recife estudou medicina conforme desejavam os pais, mas nunca abandonou a vocação artística.

Aquele que viria a ser um dos principais parceiros musicais do Mestre Lua é  tema do livro Na batida do baião, no balanço do forró: Zedantas e Luiz Gonzaga, da antropóloga Mundicarmo Ferretti. A publicação do livro é fruto da dissertação de mestrado da pesquisadora, que na década de 1970 fez o primeiro estudo acadêmico sobre a parceria entre os dois pernambucanos.

“Conheci o trabalho de Zedantas e de Luiz Gonzaga ainda na infância, no Piauí, e, posteriormente, vi que a música dos dois permanecia muito viva. Além disso, passou a atrair a atenção de um público classe média e universitário, da mesma maneira que em outros tempos interessou a imigrantes nordestinos”, conta. Em Pernambuco, Ferretti entrevistou amigos e familiares do compositor; e no Rio de Janeiro colheu depoimentos de pessoas ligadas a gravadoras, lojas de discos, casas de forró.

Segundo a pesquisadora, Zedantas conheceu o Rei do Baião em 1947, antes mesmo de terminar o curso de medicina na UFPE, em 1949, e de partir para o Rio de Janeiro no ano seguinte. Embora fosse “doutor”, era notado sobretudo pelo humor e talento com os quais contava histórias e criava versos. De 1950 a 1958, Luiz Gonzaga gravou 50 composições do conterrâneo, que as escrevia com a intenção de divulgar os costumes e as artes populares tipicamente nordestinas.

Com olhar voltado para as próprias raízes, Zedantas compunha canções sobre festividades sertanejas, práticas medicinais e agrícolas, poesia, artesanato. Chegou a ser diretor do programa O Rei do Baião, da Rádio Nacional, e do Departamento Folclórico da Rádio Mayrink Veiga. Quando morreu, aos 41 anos, um busto foi levantado na cidade natal, em sua memória.

Mas foi do cantor e compositor Antonio Barros, o paraibano que recebeu o maior tributo, a música Homenagem a Zedantas, interpretada por Luiz Gonzaga que empunhava versos como: “Chora meu olho d' água,/ chora meu pé de algodão./ As folhas já estão se orvalhando,/ saudade do nosso irmão,/ Zedantas”. 

Além de Luiz Gonzaga, as composições do pernambucano foram gravadas por artistas como Carmélia Alves (O calango), Quinteto Violado (Chegada de inverno), Ivon Curi, (Dei no pai e trouxe a filha), e Jackson do Pandeiro (Forró em Caruaru).

A vida e a obra de Zedantas também são o enfoque de Psiu!, filme documentário produzido e co-dirigido por Juliana Lima, com direção de Antônio Carrilho. “Partimos de conversa com dona Iolanda para colher depoimentos de outros familiares e amigos. Falamos com o filho de Zedantas, o cunhado, colegas de profissão no Rio de Janeiro, sertanejos que trabalharam na fazenda dos pais do compositor, além de artistas como Geraldo Azevedo e Fagner, que até hoje cantam as músicas dele”, ressalta a co-diretora.

No documentário, Zedantas é descrito como uma pessoa carismática, alegre e talentosa. Psiu! traz também imagens inéditas e gravações com a voz do compositor, que registrou em áudio entrevistas. A direção de fotografia é assinada por Léo Sete, Pedro Urano e Zé Cauê.

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DEPUTADOS E ASSOCIAÇÕES DE JORNALISTAS CRITICAM MUDANÇAS DO COMITÊ DE IMPRENSA DA CÂMARA

Parlamentares e associações de jornalistas criticaram a decisão da direção da Câmara de mudar de lugar o Comitê de Imprensa da casa. A nova sala fica longe do plenário e dificulta o acesso dos repórteres aos deputados.

Não é a primeira vez que um presidente da Câmara tenta ocupar o espaço do Comitê de Imprensa, onde os jornalistas trabalham.

Em 2007, o então presidente Arlindo Chinaglia, do PT, por exemplo, tentou. Eduardo Cunha, do MDB, também, em 2015. Na gestão passada da mesa diretora da Câmara, a deputada Soraya Santos, do PL, então primeira-secretária, assumiu o projeto da mudança. O presidente da Câmara, Arthur Lira, do Progressistas, decidiu dar prosseguimento.

Como o Congresso Nacional é patrimônio cultural do Brasil, tombado em 2007 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a mudança teve que ser autorizada. O Iphan deu aval em 2018.

Considerou que “a intervenção não apresenta riscos de descaracterização do edifício e se restringe à reorganização e redistribuição interna de diversos ambientes de trabalho, não havendo nenhuma alteração, seja na volumetria do edifício, suas fachadas ou obras de arte integradas”.

O comitê deve ir para um novo espaço, longe do plenário e bem menor que o atual, sem as cabines que são usadas pelas emissoras de rádio e TVs para gravações e entrevistas. O comitê tem 46 mesas para os repórteres e o novo espaço teria 41.

Para sair da presidência da Câmara e chegar ao plenário, o presidente precisa passar por uma área de circulação, o chamado Salão Verde, onde pode ser abordado pelos jornalistas. Com a mudança da presidência para onde fica o Comitê de Imprensa, ele terá acesso direto ao plenário, sem passar pelos repórteres.

Já os repórteres vão perder esse acesso direto ao plenário - serão transferidos para outro andar. A mudança já tem data marcada. Os jornalistas deverão deixar o comitê na quinta-feira (11).

Na segunda-feira (8), em nota, Arthur Lira disse que “a alteração em nada vai interferir na circulação da imprensa, que continuará tendo acesso livre a todas as dependências da Câmara como plenário, corredores, salões e à própria presidência”, e que “o objetivo da mudança é aproximar o presidente dos deputados”.

A líder do Psol na Câmara, Talíria Petrone, não vê assim.

“Tirar os profissionais da imprensa, os jornalistas ali de perto do plenário é dificultar esse trabalho tão fundamental para a democracia de ampliar para além das paredes da Câmara Federal as discussões travadas naquela casa legislativa”, disse

Na sessão desta terça-feira (9), deputados fizeram apelos para que Lira desista da mudança.

Em nota, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) disse que “o presidente da Câmara desmerece e prejudica jornalistas que trabalham na casa; que Oscar Niemeyer projetou o comitê ao lado do plenário para que os jornalistas tivessem acesso ao principal local de debates e deliberações; que, ao propor a mudança do comitê, fere a memória da casa que, desde sua instalação, abriu espaço e facilitou a atuação dos jornalistas. A Fenaj pede ao presidente Arthur Lira que reveja a decisão”.

A Associação Nacional de Jornais também divulgou nota lamentando a decisão que “não contribuiu para aproximar a imprensa do Legislativo” e disse que “toda medida que dificulta o trabalho da imprensa atenta contra a transparência do parlamento e a necessária cobertura e acompanhamento dos trabalhos legislativos”.


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ANTONIO NOBREGA E O DIA DO FREVO

 

Nesta terça-feira, dia 9 de fevereiro, comemora-se o dia do frevo. O frevo foi elevado à condição de patrimônio imaterial da humanidade. Como se vê, o frevo está em alta. Mas frevo para quê? Por que frevo?

Foi o escritor Ariano Suassuna quem, indiretamente, apresentou-me a ele. Com seu convite para integrar o Quinteto Armorial, dei início a uma viagem de aprendizado dos cantos, danças e modos de representar presentes em manifestações populares como o reisado, o maracatu, o caboclinho e sobretudo o frevo.

Com o passar dos anos, esses aprendizados foram se conectando a estudos e reflexões sobre a cultura brasileira em geral e a popular em particular. Esse casamento entre conhecimento empírico e teórico foi conduzindo-me à constatação de que vivemos num país que reluta em aceitar-se integralmente.

Que outra razão para tal desperdício de insumos culturais tão vastos e de tão imensa riqueza simbólica como o nosso reservatório de ritmos presente em batuques, cortejos e folguedos; de formas e gêneros poéticos –quadrões, décimas, galope à beira-mar; de passos e sincopados armazenados no nosso imaginário corporal popular?

E o que temos feito com tudo isso? Empurrado para o gueto da chamada cultura folclórica, regional ou popular, falsamente antagonizante daquela que se convencionou denominar de cultura erudita. Há mais de cem anos que a "entidade" frevo vem despejando no país, especialmente em Recife, volumoso material simbólico.

Esse "material" foi se formando dentro daquilo que venho denominando de uma linha de tempo cultural popular brasileira. Essa "entidade" frevo materializou-se por meio de um gênero de música instrumental, o frevo-de-rua, orgânica forma musical onde palhetas e metais dialogam continuamente, ancorados pela regular marcação do surdo e a sacudida movimentação da caixa; uma dança, o passo do frevo, imenso oceano de impulsos gestuais e procedimentos coreográficos; e dois gêneros de música cantada: o frevo-canção e o frevo-de-bloco, cada um com características particulares tanto de natureza poético-literária quanto musical. Um valioso armazém de representações simbólicas.

Mais do que preservar o frevo, nossa tarefa está em amplificar, dinamizar, trazer para a órbita de nossa cultura contemporânea os valores, procedimentos e conteúdos presentes nessa "instituição" cultural.

Essa ação amplificadora poderia abranger escolarização musical – por que não se estuda frevos em nossas escolas de música?–; a prática da dança – a riqueza lúdica e criadora proporcionada pelo seu multifacetário estoque de movimentos–; a valorização de modelos de construção e integração social advindos do mundo-frevo etc. Tudo isso ajudaria ao Brasil entender-se melhor consigo mesmo e com o mundo em que vivemos.

O frevo é uma das representações simbólicas mais bem-acabadas e representativas que o povo brasileiro construiu. Assim como o samba, o choro, o baião, uma entidade transregional cuja imaterialidade poderemos transmudar em matéria viva operante se tivermos a suficiente compreensão do seu significado e alcance sociocultural.

Antonio Nobrega-músico, brincante da música brasileira, da dança, do teatro e do 'universo do circo, da criança e da cultura popular

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09 DE FEVEREIRO. DIA DO FREVO: RUAS VAZIAS E RITMO NO TOM DA SAUDADE

O frevo, “só aqui que tem só aqui que há”. No Carnaval, é compasso que “entra na cabeça, toma o corpo e acaba no pé”. Embriaguez. Desde o final do século XIX mais precisamente, o ritmo de Pernambuco faz a terra tremer, encanta o Brasil e é um dos orgulhos em linha reta mais cortejados por quem é da terra dos altos coqueiros e festeja o ritmo em um Dia do Frevo para chamar de seu: 9 de fevereiro pelas bandas de cá, é data para celebrar.

Mas neste 2021 ele não vai tomar as ruas e alucinar multidões, ainda não é tempo de impor a pulsação dos clarins momescos ao fervor da massa - mesmo que “a gente ‘brinque’ escondendo a dor”, seguimos servis à intensidade de uma pandemia (ainda) sem trégua.

No entanto, intangível que é, oficial e solenemente declarado pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade (2012) sob a referência “Frevo: Arte do Espetáculo do Carnaval do Recife”, o ritmo de Pernambuco é para ser aclamado mesmo em sua quietude.

Na memória dos seus dobrados, marchas e maxixes; no fervor que causa, seja de rua, de canção ou de bloco, é cadência que não finda, porque “somos madeira que cupim não rói” como bem declamou o maior compositor do frevo no Estado, Capiba (1904-1997).

Sem as agremiações, que não vão ostentar seus estandartes, sem Alceu, Antônio Nóbrega e Getúlio Cavalcanti nos palcos da Cidade e sem as sombrinhas coloridas, cujo simbolismo identifica o ritmo, mas que este ano não vão pairar sob o céu do Recife. 

Nem com o Galo da Madrugada para ostentar sua imensidão de maior bloco do mundo e espaço de manifestação do ritmo que tem em "Vassourinhas" o seu hino mor, o frevo retorna ao seu habitat natural - no Carnaval das ruas, ladeiras, esquinas e avenidas pernambucanas - em uma duradoura e interminável contagem regressiva de 365 dias.

Como poetizou o cantor e compositor André Rio, em single que chega nos próximos dias às plataformas digitais, “ (...) esse povo de intensa alegria traz em seu sangue paixão e folia, se essa gente é quem faz a festa, atrás das troças, dos blocos e orquestras (...) é preciso frevar, virar o mundo de pernas pro ar, esse amor é o que nos resta”.

E se em 2021 seguiremos saudosos e melancólicos ao frevo, o brado do 'Evoé!' ao melhor Carnaval do Brasil há de chegar novamente para causar rebuliço e botar para ferver o ritmo, tal qual começou nos idos anos de 1908 quando pela primeira vez ficou conhecido e se desdobrou em locomotivas, dobradiças, molas, ferrolhos e capoeiras, dentre outras dezenas de passos que fazem o frevo de compositores como Nelson Ferreira, Edgar Moraes, J. Michiles, Clóvis Pereira e João Santiago e de centenas de milhares de foliões, ser a maior identidade cultural do povo deste 'país' chamado de Pernambuco. (Fonte: Folha Pernambuco. Texto Germana Macambira)


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MACIEL MELO, O CABOCLO SONHADOR DA MÚSICA BRASILEIRA DESTACA ZÉ DANTAS E A POESIA DOS CANTADORES DE VIOLA

Maciel Melo ainda era o "Neguinho de Heleno" quando vendia picolé e engraxava sapato para ajudar o pai Heleno Louro, agricultor e mestre sanfoneiro que animava festas de Iguaraci, no Sertão pernambucano, a 363 km do Recife. Trocou o Rio Pajeú pelo Rio São Francisco, em Petrolina, trabalhando em escritórios. 

Aos 20, decidiu abraçar a carreira de músico, considerada "vagabundice" no interior, e rumou para a capital. Esse é o marco inicial da carreira deste caboclo sonhador, que está completando 38 anos de profissão. 

Em 2013 nas comemorações dos 30 anos de cantor Maciel Melo fez lançamento biografia, disco, DVD. Teve a música "Rainha" na trilha da novela global "Flor do Caribe" também é um presente. A canção é uma homenagem à mãe dele, Maria de Lourdes, escrita há anos, gravada apenas no disco "Sem ouro sem mágoa" (2009).  

"Oh Maria Lourdes da Labuta/ Em Sumé foste doce, amarga e bela/ Paraíba foi tua passarela/ Pernambuco te trouxe a sedução/ O destino entregou tua missão/ Onze itens [filhos] a ti foi destinado/ E a lei que constitui o teu reinado/ Foi escrita com a tinta do perdão", diz a letra. Já o livro "A poeira e a estrada" é o nome da biografia, escrita pelo próprio Maciel Melo. 

Maciel gosta de escrever e acha que ninguém melhor que ele pode contar o que viu, ouviu e viveu. "Eu sempre escrevia e guardava textos sobre assuntos que giravam em torno da geografia cultural e política do Pajeú, então resolvi reunir num livro. É a história do Neguinho de Heleno que saiu para o mundo para vencer, e fui floreando aqui e ali, romanceando passagens. Não tem uma ordem linear", explicou em entrevista.

Os músicos do Quinteto Violado foi quem batizou Maciel Melo como compositor, ao gravar a música "Erva doce", em 1985. A banda fazia enorme sucesso naquela época, e a canção estourou. O artista já morava no Sudeste do País. É que depois do Recife, ele mudou-se para São Paulo, onde compôs "Caboclo sonhador", em 1982. "Ela é uma espécie de carta musicada para minha família. Estava no centro financeiro do País para tentar ser artista, ninguém ia mudar minha cabeça", contou.

Mantenho viva a ‘sertanidade’ na minha obra, as tradições e costumes do povo como temas, a aridez nas canções (...) Tem gente que é alienada, se for falar de política some, mas escuta se for música. Então essa é uma maneira de chegar aos ouvidos dos desatentos"

Os primeiros versos da letra mandam exatamente esse recado: "Sou um caboclo sonhador/ Meu senhor, viu?/ Não queira mudar meu verso/ Se é assim não tem conversa/ Meu regresso para o brejo/ Diminui a minha reza". Mas a saudade de casa estava no matulão do sertanejo: "Mergulhado nos becos do meu passado/ Perdido na imensidão desse lugar/ ao lembrar-me das bravuras de Neném [irmã mais velha de Maciel]/ perguntar-me a todo instante por Baía [irmã]/ Mega e Quinha [irmãos], como vão? tá tudo bem?/ Meu canto é tanto quanto canta o sabiá".

A composição só foi descoberta dez anos depois por Flávio José, que estava no auge da carreira e a gravou. Fagner também, popularizando-a ainda mais em todo o Brasil. O cantor cearense afirmou que a canção era um divisor de águas, ao recriar o forró nordestino na década de 1990. 

O diferencial de Maciel Melo é as melodias habilidosas e as temáticas novas. "Eu sempre tive preocupação grande com a poética, a qualidade dos arranjos. Em 'Caboclo sonhador', por exemplo, uso palavras que não são rotineiras no forró. A minha intenção era fazer algo que não fosse banal, que botasse as pessoas para pensar e questionar", falou.

Esse talento foi reconhecido desde cedo, quando gravou o primeiro disco, "Desafio das léguas", em 1989, já com participações luxuosas de Vital Farias, Xangai, Décio Marques e Dominguinhos e composições de Virginio Siqueira.

Na época, Maciel Melo morava em Salvador e estava envolvido com a musicalidade local. "Foi num show lá que conheci Dominguinhos e perguntei se dava para colocar a sanfona dele no meu disco, e marquei para o outro dia. Achava que ele nem ia lembrar, mas quando cheguei no estúdio ele estava lá embaixo, me esperando. Foi quando vi a grandeza dele, a genialidade, simplicidade. Dominguinhos deixou um legado enorme para nós", lembrou.

Maciel Melo faz letra e melodia. Tem centenas músicas no papel e quase 200 gravadas. Paulinho da Viola e Djavan são intérpretes ainda desejados. Na música universal, urbana, elegeu Chico Buarque como compositor favorito. Já o poeta da música regional, para ele, é Zé Dantas, um dos grandes parceiros de Luiz Gonzaga, nascido também no Sertão do Pajeú, em Carnaíba. 

"A música que eu faço é a que Luiz Gonzaga gostava de cantar. Até pelo fato de eu ser discípulo dele e ter saído do Sertão com a minha personalidade formada, mantenho viva a ‘sertanidade’ na minha obra, as tradições e costumes do povo como temas, a aridez nas canções. Acho que 20% das minhas letras ele gravaria", palpita.

Iguaraci foi o berço de tudo, onde o Neguinho de Heleno ouviu os primeiros sons da sanfona do pai, das violas dos repentistas, a poesia dos cantadores. Quem chega lá vê na entrada da cidade a placa que diz "Terra de Maciel Melo". 

Sabendo que sua música vai longe, Maciel não deixa de usá-las como protesto, como fez em "Pingo d'água" e "Meninos do Sertão", esta última gravada em 2000 por Zé Ramalho. 

"Acho que a função da gente não é só entreter, mas denunciar, questionar. Tem gente que é alienada, se for falar de política some, mas escuta se for música. Então essa é uma maneira de chegar aos ouvidos dos desatentos", comentou. As letras do sertanejo podem ser duras, mas amolecem os quadris, são feitas para dançar. Ele muda arranjos e até usa guitarra elétrica, mas nunca fere a essência do que acredita ser o verdadeiro forró. 

"Pode me chamar de cafona/ Eu gosto é de sanfona/ Eu gosto é de forró", canta seus versos de "O Velho arvoredo". 

Reportagem é de Luna Markman, G1 Pernambuco.

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