DEPUTADOS E ASSOCIAÇÕES DE JORNALISTAS CRITICAM MUDANÇAS DO COMITÊ DE IMPRENSA DA CÂMARA

Parlamentares e associações de jornalistas criticaram a decisão da direção da Câmara de mudar de lugar o Comitê de Imprensa da casa. A nova sala fica longe do plenário e dificulta o acesso dos repórteres aos deputados.

Não é a primeira vez que um presidente da Câmara tenta ocupar o espaço do Comitê de Imprensa, onde os jornalistas trabalham.

Em 2007, o então presidente Arlindo Chinaglia, do PT, por exemplo, tentou. Eduardo Cunha, do MDB, também, em 2015. Na gestão passada da mesa diretora da Câmara, a deputada Soraya Santos, do PL, então primeira-secretária, assumiu o projeto da mudança. O presidente da Câmara, Arthur Lira, do Progressistas, decidiu dar prosseguimento.

Como o Congresso Nacional é patrimônio cultural do Brasil, tombado em 2007 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a mudança teve que ser autorizada. O Iphan deu aval em 2018.

Considerou que “a intervenção não apresenta riscos de descaracterização do edifício e se restringe à reorganização e redistribuição interna de diversos ambientes de trabalho, não havendo nenhuma alteração, seja na volumetria do edifício, suas fachadas ou obras de arte integradas”.

O comitê deve ir para um novo espaço, longe do plenário e bem menor que o atual, sem as cabines que são usadas pelas emissoras de rádio e TVs para gravações e entrevistas. O comitê tem 46 mesas para os repórteres e o novo espaço teria 41.

Para sair da presidência da Câmara e chegar ao plenário, o presidente precisa passar por uma área de circulação, o chamado Salão Verde, onde pode ser abordado pelos jornalistas. Com a mudança da presidência para onde fica o Comitê de Imprensa, ele terá acesso direto ao plenário, sem passar pelos repórteres.

Já os repórteres vão perder esse acesso direto ao plenário - serão transferidos para outro andar. A mudança já tem data marcada. Os jornalistas deverão deixar o comitê na quinta-feira (11).

Na segunda-feira (8), em nota, Arthur Lira disse que “a alteração em nada vai interferir na circulação da imprensa, que continuará tendo acesso livre a todas as dependências da Câmara como plenário, corredores, salões e à própria presidência”, e que “o objetivo da mudança é aproximar o presidente dos deputados”.

A líder do Psol na Câmara, Talíria Petrone, não vê assim.

“Tirar os profissionais da imprensa, os jornalistas ali de perto do plenário é dificultar esse trabalho tão fundamental para a democracia de ampliar para além das paredes da Câmara Federal as discussões travadas naquela casa legislativa”, disse

Na sessão desta terça-feira (9), deputados fizeram apelos para que Lira desista da mudança.

Em nota, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) disse que “o presidente da Câmara desmerece e prejudica jornalistas que trabalham na casa; que Oscar Niemeyer projetou o comitê ao lado do plenário para que os jornalistas tivessem acesso ao principal local de debates e deliberações; que, ao propor a mudança do comitê, fere a memória da casa que, desde sua instalação, abriu espaço e facilitou a atuação dos jornalistas. A Fenaj pede ao presidente Arthur Lira que reveja a decisão”.

A Associação Nacional de Jornais também divulgou nota lamentando a decisão que “não contribuiu para aproximar a imprensa do Legislativo” e disse que “toda medida que dificulta o trabalho da imprensa atenta contra a transparência do parlamento e a necessária cobertura e acompanhamento dos trabalhos legislativos”.


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ANTONIO NOBREGA E O DIA DO FREVO

 

Nesta terça-feira, dia 9 de fevereiro, comemora-se o dia do frevo. O frevo foi elevado à condição de patrimônio imaterial da humanidade. Como se vê, o frevo está em alta. Mas frevo para quê? Por que frevo?

Foi o escritor Ariano Suassuna quem, indiretamente, apresentou-me a ele. Com seu convite para integrar o Quinteto Armorial, dei início a uma viagem de aprendizado dos cantos, danças e modos de representar presentes em manifestações populares como o reisado, o maracatu, o caboclinho e sobretudo o frevo.

Com o passar dos anos, esses aprendizados foram se conectando a estudos e reflexões sobre a cultura brasileira em geral e a popular em particular. Esse casamento entre conhecimento empírico e teórico foi conduzindo-me à constatação de que vivemos num país que reluta em aceitar-se integralmente.

Que outra razão para tal desperdício de insumos culturais tão vastos e de tão imensa riqueza simbólica como o nosso reservatório de ritmos presente em batuques, cortejos e folguedos; de formas e gêneros poéticos –quadrões, décimas, galope à beira-mar; de passos e sincopados armazenados no nosso imaginário corporal popular?

E o que temos feito com tudo isso? Empurrado para o gueto da chamada cultura folclórica, regional ou popular, falsamente antagonizante daquela que se convencionou denominar de cultura erudita. Há mais de cem anos que a "entidade" frevo vem despejando no país, especialmente em Recife, volumoso material simbólico.

Esse "material" foi se formando dentro daquilo que venho denominando de uma linha de tempo cultural popular brasileira. Essa "entidade" frevo materializou-se por meio de um gênero de música instrumental, o frevo-de-rua, orgânica forma musical onde palhetas e metais dialogam continuamente, ancorados pela regular marcação do surdo e a sacudida movimentação da caixa; uma dança, o passo do frevo, imenso oceano de impulsos gestuais e procedimentos coreográficos; e dois gêneros de música cantada: o frevo-canção e o frevo-de-bloco, cada um com características particulares tanto de natureza poético-literária quanto musical. Um valioso armazém de representações simbólicas.

Mais do que preservar o frevo, nossa tarefa está em amplificar, dinamizar, trazer para a órbita de nossa cultura contemporânea os valores, procedimentos e conteúdos presentes nessa "instituição" cultural.

Essa ação amplificadora poderia abranger escolarização musical – por que não se estuda frevos em nossas escolas de música?–; a prática da dança – a riqueza lúdica e criadora proporcionada pelo seu multifacetário estoque de movimentos–; a valorização de modelos de construção e integração social advindos do mundo-frevo etc. Tudo isso ajudaria ao Brasil entender-se melhor consigo mesmo e com o mundo em que vivemos.

O frevo é uma das representações simbólicas mais bem-acabadas e representativas que o povo brasileiro construiu. Assim como o samba, o choro, o baião, uma entidade transregional cuja imaterialidade poderemos transmudar em matéria viva operante se tivermos a suficiente compreensão do seu significado e alcance sociocultural.

Antonio Nobrega-músico, brincante da música brasileira, da dança, do teatro e do 'universo do circo, da criança e da cultura popular

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09 DE FEVEREIRO. DIA DO FREVO: RUAS VAZIAS E RITMO NO TOM DA SAUDADE

O frevo, “só aqui que tem só aqui que há”. No Carnaval, é compasso que “entra na cabeça, toma o corpo e acaba no pé”. Embriaguez. Desde o final do século XIX mais precisamente, o ritmo de Pernambuco faz a terra tremer, encanta o Brasil e é um dos orgulhos em linha reta mais cortejados por quem é da terra dos altos coqueiros e festeja o ritmo em um Dia do Frevo para chamar de seu: 9 de fevereiro pelas bandas de cá, é data para celebrar.

Mas neste 2021 ele não vai tomar as ruas e alucinar multidões, ainda não é tempo de impor a pulsação dos clarins momescos ao fervor da massa - mesmo que “a gente ‘brinque’ escondendo a dor”, seguimos servis à intensidade de uma pandemia (ainda) sem trégua.

No entanto, intangível que é, oficial e solenemente declarado pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade (2012) sob a referência “Frevo: Arte do Espetáculo do Carnaval do Recife”, o ritmo de Pernambuco é para ser aclamado mesmo em sua quietude.

Na memória dos seus dobrados, marchas e maxixes; no fervor que causa, seja de rua, de canção ou de bloco, é cadência que não finda, porque “somos madeira que cupim não rói” como bem declamou o maior compositor do frevo no Estado, Capiba (1904-1997).

Sem as agremiações, que não vão ostentar seus estandartes, sem Alceu, Antônio Nóbrega e Getúlio Cavalcanti nos palcos da Cidade e sem as sombrinhas coloridas, cujo simbolismo identifica o ritmo, mas que este ano não vão pairar sob o céu do Recife. 

Nem com o Galo da Madrugada para ostentar sua imensidão de maior bloco do mundo e espaço de manifestação do ritmo que tem em "Vassourinhas" o seu hino mor, o frevo retorna ao seu habitat natural - no Carnaval das ruas, ladeiras, esquinas e avenidas pernambucanas - em uma duradoura e interminável contagem regressiva de 365 dias.

Como poetizou o cantor e compositor André Rio, em single que chega nos próximos dias às plataformas digitais, “ (...) esse povo de intensa alegria traz em seu sangue paixão e folia, se essa gente é quem faz a festa, atrás das troças, dos blocos e orquestras (...) é preciso frevar, virar o mundo de pernas pro ar, esse amor é o que nos resta”.

E se em 2021 seguiremos saudosos e melancólicos ao frevo, o brado do 'Evoé!' ao melhor Carnaval do Brasil há de chegar novamente para causar rebuliço e botar para ferver o ritmo, tal qual começou nos idos anos de 1908 quando pela primeira vez ficou conhecido e se desdobrou em locomotivas, dobradiças, molas, ferrolhos e capoeiras, dentre outras dezenas de passos que fazem o frevo de compositores como Nelson Ferreira, Edgar Moraes, J. Michiles, Clóvis Pereira e João Santiago e de centenas de milhares de foliões, ser a maior identidade cultural do povo deste 'país' chamado de Pernambuco. (Fonte: Folha Pernambuco. Texto Germana Macambira)


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MACIEL MELO, O CABOCLO SONHADOR DA MÚSICA BRASILEIRA DESTACA ZÉ DANTAS E A POESIA DOS CANTADORES DE VIOLA

Maciel Melo ainda era o "Neguinho de Heleno" quando vendia picolé e engraxava sapato para ajudar o pai Heleno Louro, agricultor e mestre sanfoneiro que animava festas de Iguaraci, no Sertão pernambucano, a 363 km do Recife. Trocou o Rio Pajeú pelo Rio São Francisco, em Petrolina, trabalhando em escritórios. 

Aos 20, decidiu abraçar a carreira de músico, considerada "vagabundice" no interior, e rumou para a capital. Esse é o marco inicial da carreira deste caboclo sonhador, que está completando 38 anos de profissão. 

Em 2013 nas comemorações dos 30 anos de cantor Maciel Melo fez lançamento biografia, disco, DVD. Teve a música "Rainha" na trilha da novela global "Flor do Caribe" também é um presente. A canção é uma homenagem à mãe dele, Maria de Lourdes, escrita há anos, gravada apenas no disco "Sem ouro sem mágoa" (2009).  

"Oh Maria Lourdes da Labuta/ Em Sumé foste doce, amarga e bela/ Paraíba foi tua passarela/ Pernambuco te trouxe a sedução/ O destino entregou tua missão/ Onze itens [filhos] a ti foi destinado/ E a lei que constitui o teu reinado/ Foi escrita com a tinta do perdão", diz a letra. Já o livro "A poeira e a estrada" é o nome da biografia, escrita pelo próprio Maciel Melo. 

Maciel gosta de escrever e acha que ninguém melhor que ele pode contar o que viu, ouviu e viveu. "Eu sempre escrevia e guardava textos sobre assuntos que giravam em torno da geografia cultural e política do Pajeú, então resolvi reunir num livro. É a história do Neguinho de Heleno que saiu para o mundo para vencer, e fui floreando aqui e ali, romanceando passagens. Não tem uma ordem linear", explicou em entrevista.

Os músicos do Quinteto Violado foi quem batizou Maciel Melo como compositor, ao gravar a música "Erva doce", em 1985. A banda fazia enorme sucesso naquela época, e a canção estourou. O artista já morava no Sudeste do País. É que depois do Recife, ele mudou-se para São Paulo, onde compôs "Caboclo sonhador", em 1982. "Ela é uma espécie de carta musicada para minha família. Estava no centro financeiro do País para tentar ser artista, ninguém ia mudar minha cabeça", contou.

Mantenho viva a ‘sertanidade’ na minha obra, as tradições e costumes do povo como temas, a aridez nas canções (...) Tem gente que é alienada, se for falar de política some, mas escuta se for música. Então essa é uma maneira de chegar aos ouvidos dos desatentos"

Os primeiros versos da letra mandam exatamente esse recado: "Sou um caboclo sonhador/ Meu senhor, viu?/ Não queira mudar meu verso/ Se é assim não tem conversa/ Meu regresso para o brejo/ Diminui a minha reza". Mas a saudade de casa estava no matulão do sertanejo: "Mergulhado nos becos do meu passado/ Perdido na imensidão desse lugar/ ao lembrar-me das bravuras de Neném [irmã mais velha de Maciel]/ perguntar-me a todo instante por Baía [irmã]/ Mega e Quinha [irmãos], como vão? tá tudo bem?/ Meu canto é tanto quanto canta o sabiá".

A composição só foi descoberta dez anos depois por Flávio José, que estava no auge da carreira e a gravou. Fagner também, popularizando-a ainda mais em todo o Brasil. O cantor cearense afirmou que a canção era um divisor de águas, ao recriar o forró nordestino na década de 1990. 

O diferencial de Maciel Melo é as melodias habilidosas e as temáticas novas. "Eu sempre tive preocupação grande com a poética, a qualidade dos arranjos. Em 'Caboclo sonhador', por exemplo, uso palavras que não são rotineiras no forró. A minha intenção era fazer algo que não fosse banal, que botasse as pessoas para pensar e questionar", falou.

Esse talento foi reconhecido desde cedo, quando gravou o primeiro disco, "Desafio das léguas", em 1989, já com participações luxuosas de Vital Farias, Xangai, Décio Marques e Dominguinhos e composições de Virginio Siqueira.

Na época, Maciel Melo morava em Salvador e estava envolvido com a musicalidade local. "Foi num show lá que conheci Dominguinhos e perguntei se dava para colocar a sanfona dele no meu disco, e marquei para o outro dia. Achava que ele nem ia lembrar, mas quando cheguei no estúdio ele estava lá embaixo, me esperando. Foi quando vi a grandeza dele, a genialidade, simplicidade. Dominguinhos deixou um legado enorme para nós", lembrou.

Maciel Melo faz letra e melodia. Tem centenas músicas no papel e quase 200 gravadas. Paulinho da Viola e Djavan são intérpretes ainda desejados. Na música universal, urbana, elegeu Chico Buarque como compositor favorito. Já o poeta da música regional, para ele, é Zé Dantas, um dos grandes parceiros de Luiz Gonzaga, nascido também no Sertão do Pajeú, em Carnaíba. 

"A música que eu faço é a que Luiz Gonzaga gostava de cantar. Até pelo fato de eu ser discípulo dele e ter saído do Sertão com a minha personalidade formada, mantenho viva a ‘sertanidade’ na minha obra, as tradições e costumes do povo como temas, a aridez nas canções. Acho que 20% das minhas letras ele gravaria", palpita.

Iguaraci foi o berço de tudo, onde o Neguinho de Heleno ouviu os primeiros sons da sanfona do pai, das violas dos repentistas, a poesia dos cantadores. Quem chega lá vê na entrada da cidade a placa que diz "Terra de Maciel Melo". 

Sabendo que sua música vai longe, Maciel não deixa de usá-las como protesto, como fez em "Pingo d'água" e "Meninos do Sertão", esta última gravada em 2000 por Zé Ramalho. 

"Acho que a função da gente não é só entreter, mas denunciar, questionar. Tem gente que é alienada, se for falar de política some, mas escuta se for música. Então essa é uma maneira de chegar aos ouvidos dos desatentos", comentou. As letras do sertanejo podem ser duras, mas amolecem os quadris, são feitas para dançar. Ele muda arranjos e até usa guitarra elétrica, mas nunca fere a essência do que acredita ser o verdadeiro forró. 

"Pode me chamar de cafona/ Eu gosto é de sanfona/ Eu gosto é de forró", canta seus versos de "O Velho arvoredo". 

Reportagem é de Luna Markman, G1 Pernambuco.

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POUCAS CHUVAS E AUMENTO DE DESMATAMENTO RIO SÃO FRANCISCO PERDE CADA VEZ MAIS A FORÇA E MAR AVANÇA

 

A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) reduz, a partir desta segunda-feira (8), a vazão da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, Bahia de 900 para 800 m³/s, conforme solicitação apresentada pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).

Atualmente o volume útil da barragem de Sobradinho é de 52% da capacidade.

A medida de reduzir a vazão tem por base a previsão de baixa incidência de chuvas na região para o período, e a necessidade de maximização do armazenamento dos reservatórios de Sobradinho e Itaparica. 

O reservatório de Sobradinho atravessou uma das piores secas dos últimos 80 anos. No ano de 2017 o volume útil atingiu 1% e a previsão era que o reservatório chegasse ao “volume morto”. O nível da água foi o pior da história.

A estiagem prolongada fez o Rio São Francisco perder força na divisa de Alagoas e Sergipe. Na foz onde fica localizado o Farol do Cabeço, com pouca água e quase sem forças o rio perdeu a luta e o mar avançou sobre a água doce do Velho Chico. 

O fenômeno é conhecido como Cunha Salina, segundo pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), provoca transformação do ecossistema da região e prejudica a população ribeirinha.

O avanço da "cunha salina" ocorre a partir da redução da vazão do rio, normalmente em épocas de estiagem ou demais fenômenos meteorológicos. Com isso, o equilíbrio de forças entre o rio e o oceano é afetado, permitindo o avanço da maré e a presença de água salgada ao longo do rio São Francisco.

As consequências da degradação do rio São Francisco são sentidas com mais intensidade no Baixo São Francisco, que fica na divisa dos estados de Sergipe e Alagoas, onde o Velho Chico encontra as águas salgadas do Oceano Atlântico. E é justamente nesse encontro que cada vez mais o São Francisco vem levando desvantagem, pois, com a diminuição da vazão, o rio não tem mais tanta força para conter a entrada da água do mar, o que acarreta mudanças no ecossistema.

Em 2017, com menos água no leito, o rio acabou sendo "empurrado" pela mar. E até peixe do habitat do mar foi encontrado nas águas doce do rio São Francisco. O Rio São Francisco de tantas lendas e histórias, fonte de sobrevivência de milhares de famílias ribeirinhas, literalmente chegou a 'agonizar". Muitos apostaram em sua morte, pois o “Velho Chico” estava desidratado, maltratado, precisando de investimentos urgentes para sua recuperação. 

Ainda hoje os ribeirinhos contabilizam os prejuízos, porque a pesca na região diminuiu e lavouras tiveram que ser abandonadas por conta do sal. A "salvação", quase milagre, veio dos céus: muita chuva no início do ano 2020, prinicipalmente em Minas Gerais. 

A interpretação de Luiz Gonzaga na poesia de Zé Dantas, na música Riacho do Navio com a baixa vazão do rio São Francisco, ganha neste ano de 2021 uma nova reflexão. Ao contrário do que cantou o Rei do Baião e poetizou Zé Dantas "Rio São Francisco não mais “vai bater no meio do mar”. 

O espetáculo das águas já não existe faz muito tempo. O homem matou o Velho Chico de tanto explorar, acusam os pescadores e moradores que resistem nas margens do Opará, na linguagem indígena, Rio que é mar.

"Riacho do Navio corre pro Pajeú, o rio Pajeú vai despejar no São Francisco, o rio São Francisco vai bater no 'mei' do mar, o rio São Francisco vai bater no 'mei' do mar". O baião agora só ecoa na alma, coração e memória dos mais antigos, ficou na memória e faz lágrimas quando é ouvida em algum rádio ou no sacolejado de uma sanfona, nas pelejas e aboios dos vaqueiros.

Graduado em Gestão Ambiental com especialização em Recursos Hídricos, Saneamento e Residência Agrária em Tecnologias Sociais e Sustentáveis no Semiarido, membro do Comitê Hidrográfico da Bacia do São Francisco, Almacks Luiz Silva diz que o rio São Francisco "batia (desaguava) no meio do mar quando tinha a sua vazão média de 4 mil metros cúbicos por segundo, antes da chegada das barragens."

Graduada em Ciências Biológicas, Maria Regina Oliveira Silva, mestre em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental, avalia que o Rio São Francisco é muito agredido da nascente até a foz onde desagua no oceano Atlântico. "São diversos usos e muitos inadequados, o assoreamento é constante, o impacto ambiental é enorme. É preciso um trabalho ambiental constante", diz Regina Oliveira. 

Entre 2008 e 2012 uma equipe de pesquisadores liderada pelo professor José Alves Siqueira, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina, Pernambuco, promoveu 212 expedições ao longo e no entorno do São Francisco. O estudo foi reunido no livro “Flora das caatingas do Rio São Francisco: história natural e conservação” (Andrea Jakobsson Estúdio).  O trabalho é considerado o mais profundo estudo sobre a Caatinga, único bioma exclusivo do Brasil. O título do primeiro capítulo é emblemático: ” A extinção inexorável do rio São Francisco.

Segundo o autor do livro, os problemas são inúmeros mas, talvez, os mais graves sejam as grandes barragens para a produção de energia, há cinco delas (em Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso e Xingó) que geram 15% da energia produzida no país.

Além destes, pode-se destacar como importantes outros problemas, entre eles a quantidade imensa de esgotos não tratados jogados no leito do Velho Chico ao longo de seus quase três mil quilômetros da nascente até a foz. As barragens impedem a piracema. Como os peixes não podem mais subir o rio para se reproduzirem, o declínio das espécies e cardumes é evidente.

O livro mostra que restou apenas 4% da vegetação original das margens do São Francisco. Sem mata ciliar a erosão toma conta das margens contribuindo para o assoreamento do leito.

O coordenador de geografia do IBGE, Claudio Stenner, explica que, ao longo de milhões de anos, o rio carrega sedimentos do continente e os deposita junto à foz, avançando em relação ao mar. Porém, com a construção de barragens, boa parte dos sedimentos não chega mais a esse ponto. Dessa forma, reduz-se a capacidade do rio de depositar sedimentos, o que acarreta a erosão da costa. O controle de cheias e vazões das hidrelétricas também interfere no depósito de sedimentos, pois muda a sazonalidade natural dos rios.

Stenner também explica que o processo estrutural de ocupação da bacia do São Francisco, tanto urbana quanto agropecuária, vem causando degradação e perda de vegetação natural em muitas áreas: “isso leva a uma redução na capacidade de recarga de todo o sistema: sem a vegetação, quando chove, a água escoa e não tem armazenamento, o que também causa um maior assoreamento do rio”.

Outro fator é a disputa pelo uso da água: o volume de água do rio é limitado, e a água do Velho Chico é fundamental para o abastecimento, para a irrigação, para a produção de energia.

“Esse gerenciamento nem sempre é isento de conflito porque, se eu aumento a produção de energia elétrica, reduzo a água para irrigação. Se eu seguro a água na barragem, reduzo a vazão na foz. Se reduzir a vazão da foz, o mar vai entrar mais”, exemplifica Stenner.

A secretaria de Meio Ambiente de Piaçabuçu, Alagoas foi procurada pela reportagem do BLOG NEY VITAL, mas até o momento não respondeu aos questionamentos referentes a defesa do Rio São Francisco na região.

O rio São Francisco nasce na Serra da Canastra (MG), e chega à sua foz, no Oceano Atlântico, entre Alagoas e Sergipe, percorrendo cerca de 2.800km, passando por Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.

 O Velho Chico é o rio 100% nacional com maior extensão. A bacia possui 503 municípios e engloba parte do Semiárido, que corresponde a aproximadamente 58% desta região hidrográfica, que está dividida em quatro unidades: Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco.

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CENTRO CULTURAL CAIS DO SERTÃO DEDICA PROGRAMAÇÃO DE FEVEREIRO PARA HOMENAGEAR OS 100 ANOS DE ZÉ DANTAS

 

Durante todo o mês de fevereiro, o Centro Cultural Cais do Sertão se debruça na vida e obra do compositor e poeta pernambucano Zé Dantas. O artista, que completaria cem 100 anos neste 2021, tem legado exaltado em playlists temáticas agregadas ao Spotify, além de inspirar debates, bate-papos e vídeos interativos no perfil do Instagram do museu. Os internautas e admiradores do espaço cultural podem acessar todo o acervo gratuitamente nas redes sociais do Cais.

"Zé Dantas foi um parceiro decisivo na trajetória musical de Luiz Gonzaga. É um compositor que fala muito à alma do nordestino, do sertanejo, e autor de vários sucessos. Nada mais justo que o Cais marcar o seu centenário dedicando um mês de atividades. É uma ótima forma de fazer chegar todo este rico legado também às novas gerações, que não acompanharam a trajetória do artista em vida", destaca o secretário de Turismo e Lazer, Rodrigo Novaes.

A programação especial foi formatada a partir de pesquisas e roteirização de todos os educadores do Cais do Sertão. O legado de Zé Dantas é lembrado em vídeos curtos, interativos e de linguagem acessível, sobre a história, a relação do artista com a família, o encontro com Luiz Gonzaga e a morte. 

Os vídeos são apresentados pelos educadores Diogo do Monte, Viviane Sampaio, Thalita Mesquita e Laís Vilar. Os conteúdos audiovisuais serão publicados sempre às sextas-feiras, no perfil do Instagram do museu.

A gestora do Cais, Maria Rosa Maia, salienta a homenagem prestada a Zé Dantas como uma maneira de reafirmar o compromisso do centro cultural de ser um espaço que acolhe a multiplicidade artística do Estado. "O Cais é a casa de todos os pernambucanos. O nosso acervo contempla a odisseia sertaneja e o legado de Luiz Gonzaga, mas também de todo o artista que eleva a arte em nosso Estado", pontua.

Um dos momentos mais esperados do mês será o bate-papo com o compositor e doutor em música pela Unirio Climério de Oliveira. Ele comentará, na faixa semanal Conexão Cais, um pouco das histórias relacionadas às canções compostas por Zé Dantas. Será transmitido, ao vivo, na próxima quarta-feira (17), às 17h, sob mediação do educador Sandro Santos.

O Cais do Sertão O Cais do Sertão é um museu localizado no coração do Recife e está sob a gestão da Secretaria de Turismo e Lazer de Pernambuco e Empetur e opera nos seguintes horários: quintas e sextas-feiras, das 10h às 16h; e sábados e domingos, 11h às 17h. Os ingressos custam R $10 (inteira) e R $5 (meia).

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BACIA DO PARNAÍBA ABRIGA MAIS DE 5 MILHÕES DE PESSOAS, E ABRIGA OS BIOMAS CERRADO, CAATINGA E O COSTEIRO

São mais de 1.400 km que atravessam diferentes biomas – como o Cerrado, a Caatinga e o Costeiro: esse é o rio Parnaíba, principal artéria de uma das mais importantes regiões hidrográficas do Nordeste do Brasil, ocupada pelos estados do Piauí, Maranhão e Ceará.

O Rio Parnaíba tem suas origens na Serra da Tabatinga, que limita o Piauí com a Bahia, Maranhão e Tocantins. As nascentes se formam a partir de ressurgências na Chapada das Mangabeiras, as quais originam os cursos dos rios Lontras, Curriola e Água Quente - que, unidos, formam o rio Parnaíba. Seus principais afluentes são alimentados por águas superficiais e subterrâneas, destacando-se os rios Balsas, Gurgueia, Piauí, Canindé, Poti e Longá.

O Vale do Parnaíba possui uma superfície de 325.834,80 km², abrangendo 279 municípios e uma população de 4.800.934 pessoas (IBGE, 2011). Dos municípios, 240 possuem a totalidade de sua área territorial inserida no Vale, e os demais 39 encontram-se parcialmente inseridos - ou seja, seus territórios extrapolam os limites ou divisores da bacia hidrográfica estabelecidos.

Uma das características da bacia é o grande contingente populacional vivendo na área litorânea, em especial no centro sub-regional representado pela cidade de Parnaíba. A região possui a única capital fora da área litorânea do Nordeste, a cidade de Teresina, situada às margens do rio Parnaíba.

A região hidrográfica do Parnaíba foi dividida em três grandes sub-bacias – Alto Parnaíba, Médio Parnaíba e Baixo Parnaíba -, e em quatro macrorregiões: do Cerrado, do Semiárido, do Meio Norte e do Litoral.

No Alto Parnaíba correm os rios das Balsas (cuja nascente está no encontro da Chapada das Mangabeiras com a Serra do Penitente, no estado do Maranhão), Uruçuí Vermelho (nasce ao sopé da Chapada das Mangabeiras, próximo às nascentes do Gurgueia), Uruçuí Preto (nasce a uma altitude de 550 metros entre as Serras Grande e Vermelha/Uruçuí), Gurgueia (a nascente é no Sopé da Chapada das Mangabeiras, em Barreiras do Piauí), Itaueira (nasce em Caracol, sudeste do Piauí) e o rio Parnaíba.

A vegetação desta sub-bacia é tipicamente constituída por elementos de Savana (Cerrado), especialmente no topo das chapadas da margem esquerda do rio Gurgueia. Também há ocorrências de Caatinga, particularmente ao longo do rio Itaueira.

De acordo com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semar) a ocupação e o consequente uso produtivo dos cerrados piauienses é algo irreversível, face à grande quantidade de terras potencialmente produtivas, a mão de obra abundante e recursos hídricos que garantem a viabilidade econômica da região. Os cerrados detêm potencial econômico vocacionado para a agricultura de grãos, pastagens e fruticultura tropical, além de baixa densidade demográfica.

Esta sub-bacia compPOTIreende os rios Canindé/Piauí, próximo à cidade de Regeneração, e o rio Poti, em Teresina; ambos desembocam no Parnaíba. São importantes nesta sub-bacia o rio Fidalgo, afluente do Piauí, e os rios Itaim e Guaribas, afluentes do Canindé. Esse conjunto de rios tem como afluentes uma bem tecida rede de cursos d’água menores e drena intensamente a parte mais genuína do semiárido. Toda a água é conduzida para o rio Parnaíba por meio do coletor final, que é o rio Canindé. Uma característica comum a todos os rios desta sub-bacia é a intermitência, pois todos têm suas nascentes situadas no semiárido e sobre o cristalino.

Na região do Médio Parnaíba predomina a Caatinga, com presença das espécies favela, xique-xique, catingueira, rama de bezerro e marmeleiro. Na parte oeste, há também ocorrência de Cerrado, sendo possível encontrar faveira de bolota, pau terra e gramíneas, entre outras espécies. O babaçu é encontrado entre Pedro II e Domingos Mourão, e também em São João da Serra, Alto Longá e nos vales intermotanos, locais onde o Cerrado predomina.

No Baixo Parnaíba correm os rios Longá, o próprio rio Parnaíba e uma série de pequenos riachos que desembocam no Parnaíba, além do delta do rio Parnaíba. Nesta sub-bacia predomina a vegetação de Cerrado, mas também há ocorrência de Caatinga. No trecho mais baixo do rio Parnaíba, há presença acentuada de babaçu. Na faixa litorânea do Parnaíba, as dunas e mangues se destacam numa paisagem marcada pela inundação das águas do mar misturadas à água doce dos rios e riachos, que formam o estuário do Parnaíba.

A agricultura praticada no Baixo Parnaíba acompanha as margens dos rios Jenipapo, Piracuruca e o próprio Longá, em Buriti do Lopes. Ocorrem nesta região muitas lagoas rasas e de substrato argiloso que favorecem a prática da rizicultura nas vazantes, com excelentes resultados de produtividade. No mangue, centenas de pessoas fazem a captura de caranguejos durante toda a semana. A produção é transportada em barcos ou canoas para o Porto dos Tatus, em Ilha Grande, e embarca em caminhões para Fortaleza (CE).

Nas faixas marginais aos manguezais, em locais atingidos pelas marés altas, desenvolve-se desde a década de 80 a cultura comercial de camarão (carcinicultura) – atividade que atraiu empresários e valorizou as áreas de salgado. A espécie mais utilizada é o Penaeus vannamei, cuja produtividade chega a 2 mil kg por hectare ao ano. A criação exige um eficiente manejo em todas as fases de produção, com controle constante dos índices físico-químicos da água e uso de ração balanceada, servida várias vezes ao dia.

A grande variedade de atrativos naturais dá à região potencial para o ecoturismo, desde o Delta do Parnaíba até os Lençóis Maranhenses. A histórica cidade de Parnaíba constitui o principal portal para o Delta e os Lençóis, por deter a mais completa rede de serviços da região, inclusive agências de turismo com vínculos com operadoras nacionais.

A Lagoa do Portinho, situada entre os municípios de Parnaíba e Luís Correia, com 8 km de extensão, constitui um cenário que mistura ambientes aquáticos e eólicos, com dunas e carnaúbas. Mais para o interior, as praias do rio Longá são atrativos naturais, capazes de atender às necessidades de lazer da população local e das regiões próximas. Entretanto, o maior potencial turístico reside no patrimônio arqueológico, principalmente em Buriti dos Lopes, Caxingó e Bom Princípio.

Fonte: Caderno da Região Hidrográfica do Rio Parnaíba (Ministério do Meio Ambiente – Secretaria de Recursos Hídricos)

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