CAMINHONEIRO CONFIRMA QUE "EXISTE INSATISFAÇÃO DA CLASSE E PARALISAÇÃO DEVE ACONTECER NO PRÓXIMO DIA 1º DE FEVEREIRO"

O caminhoneiro Gildemar José da Silva é desses motoristas responsáveis pela maior parte do transporte de cargas e mercadorias nas rodovias do Brasil. Nascido em Juazeiro, Bahia, criado em Queimada Nova (Piauí), e residente em Petrolina (PE), desde os 10 anos de idade, ele  tem o destino para viver na estrada. 

Gildemar caminha para completar 25 anos de profissão de motorista percorrendo o país de norte a sul. Literalmente Gildemar "mora viajando pelos estados brasileiros".

Com exclusividade para o BLOG NEY VITAL, de São Paulo, onde se prepara para retornar ao Vale do São Francisco, com mais uma carga,  o profissional da estrada confirmou "que existe sim a insatisfação de boa classe dos caminhoneiros e que já aconteceu três aumentos de diesel e vai acontecer mais outro. O frete não aumenta. Combustível está muito caro e por isto existe sim o indicativo da paralisação. Muitos caminhoneiros querendo a paralisação. Não temos políticos que defenda a classe. Por mim já era para ter parado sim", disse Gildemar.

A reportagem da REDEgn obteve o documento do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) reiterando em nota a intenção de manter a greve geral de caminhoneiros no dia 1º de fevereiro “por prazo indeterminado”, apesar da isenção de impostos sobre pneus prometida pelo governo e do aumento do frete mínimo.

Mesmo com a paralisação prevista para o próximo mês, há o compromisso do setor de manter a movimentação de caminhões e cargas dos serviços essenciais em 30%, em decorrência da pandemia do Coronavírus, além de cargas vivas, alimentos perecíveis e afins. A CNTRC afirmou que representa cerca de 40.000 caminhoneiros no Brasil.

Por outro lado, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), que representa legalmente a categoria, entende que “este não é o momento ideal para uma paralisação”.

Ainda em nota, a Confederação destacou o cenário positivo do transporte de cargas no Brasil e o relacionamento com o governo. “A CNTA acredita que a deflagração de uma greve, especialmente de caminhoneiros, deve ocorrer somente quando esgotadas todas as alternavas plausíveis de discussão e negociação”.

A movimentação dos caminhoneiros para a greve ocorre em meio a uma nova tabela de preços mínimos de frete rodoviário no Brasil, publicada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) no Diário Oficial da União (DOU) (Resolução nº 5.923), com aumentoentre 2,34% a 2,51%.

Além disso, o governo federal anunciou que deve zerar a tarifa de importação de pneus, contra os 16% anteriores, um dos pedidos do setor. O pneu é o segundo item mais caro na manutenção dos caminhões.

Outra queixa dos caminhoneiros era quanto a vacinação prioritária contra a Covid-19. Os transportadores rodoviários de carga não estavam na primeira versão do Plano de Nacional Operacionalização. Agora, em uma nova atualização do documento, chamada de "informe técnico", de 18 de janeiro, o ministério citou especificamente “caminhoneiros”, prevendo que “nessa estratégia será solicitado documento que comprove o exercício efetivo da função de motorista profissional do transporte rodoviário de cargas (caminhoneiro)”.

O documento ainda especificou que, no caso de trabalhadores de transporte coletivo rodoviários de passageiro, que abrange os motoristas e cobradores, estão incluídos os profissionais de “longo curso”.

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BRUMADINHO: TRAGÉDIA COMPLETA 2 ANOS E INSEGURANÇA AINDA AMEAÇA A BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO

No dia 25 de janeiro de 2019, a vida na cidade de Brumadinho, a cerca de 35 quilômetros de Belo Horizonte, mudou completamente. A barragem de rejeitos de minério de ferro da mina Córrego do Feijão se rompeu, causando 259 mortes, deixando 11 desaparecidos e um rastro de degradação ambiental e social.

Os rejeitos foram para o rio Paraopeba, importante afluente do São Francisco, e destruíram plantações, casas e vidas. A lama seguiu o curso do Paraopeba, inviabilizando quem dependia desse rio para irrigação das plantações e, também, impedindo o abastecimento de populações que captavam a água deste curso d’água.

O tempo que passou desde então não foi o suficiente para amenizar os problemas causados pela tragédia. É o caso da contaminação do Rio Paraopeba, ainda prejudicado pela lama, repleta de rejeitos de mineração e espalhada em sua água desde a ruptura da represa.

A captação de água no Paraopeba continua suspensa de forma preventiva e não há restrição para captação de água subterrânea, por meio de poços artesianos, para quem está a mais de 100m da margem do rio, conforme nota do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM).

O nível de cobre nas águas do rio Paraopeba chegou a até 600 vezes acima do permitido a rios usados para abastecimento humano, irrigação em produção de alimento, pesca e atividades de lazer. O limite aceitável de cobre é 0,009mg/l (miligramas por litro), mas variou de 2,5 a 5,4mg/l nas 22 amostras recolhidas em uma expedição ao longo de 305 quilômetros do Paraopeba para relatório da Fundação SOS Mata Atlântica, divulgado em 2019.

A Vale informou por meio de nota que segue trabalhando na busca por soluções que levem à reabilitação do Rio Paraopeba e sua biodiversidade. “A recuperação do Rio Paraopeba é uma das premissas do trabalhado realizado pela Vale. Para isso, medidas de curto, médio e longo prazos estão sendo realizadas. A empresa implementou um conjunto de ações que, ainda em 2019, impediram novos carreamentos de sedimentos para o rio e contiveram os rejeitos.”

RIO SÃO FRANCISCO: A mineração em Minas Gerais está gerando muitos perigos para o rio São Francisco. Praticamente metade das barragens do Brasil estão em Minas Gerais. São cerca de 360. E só há quatro fiscais da Agência Nacional de Mineração (ANM) para monitorar todas as estruturas do estado.

A bacia do Rio das Velhas, outro importante afluente do São Francisco, conta com uma lista de sete barragens sem garantia de segurança que inclui B3 e B4; Forquilha I, II e III; Maravilhas II; Vargem Grande. Além disso, a bacia do Rio das Velhas ainda tem três barragens em nível 3 de risco de rompimento. Todas as três são da mineradora Vale: a B3/B4, da mina Mar Azul, em Macacos e Forquilha I e Forquilha III, em Ouro Preto. Em caso de novos rompimentos, muitos municípios mineiros sofreriam a destruição e o rio São Francisco receberia um alto volume de rejeitos tóxicos.

Dois anos depois trata-se de um problema ainda a se resolver. Duas leis – uma federal e outra estadual – foram sancionadas para evitar novas tragédias. Primeiro, em âmbito estadual, a Lei 23.291, de 2019, conhecida como ‘Mar de Lama Nunca Mais’, que proibiu a construção, instalação, ampliação ou alteamento de barragem onde existe comunidade na área de autossalvamento, áreas que ficam abaixo de barragens, sem tempo suficiente para receber socorro em caso de rompimento.

A lei vetou também a possibilidade de licença para construção, operação ou ampliação de barragens com alteamento a montante, mesmo modelo das de Brumadinho e Mariana. Mas permite essas barragens se não houver método alternativo, o que deve ser comprovado pelo estudo de impacto ambiental.

Já em âmbito federal, a Lei número 14.066 só foi sancionada em 1º de outubro de 2020, aumentando as exigências de segurança e estipulando multas administrativas às empresas que descumprirem as normas com valores que podem chegar a R$ 1 bilhão.

A nova legislação proíbe a construção de reservatórios pelo método de alteamento a montante, o mesmo usado em Brumadinho, em que a barragem vai crescendo em degraus, utilizando o próprio rejeito da mineração. No entanto, segundo especialistas, a legislação ainda é frágil e o segmento é marcado pela autorregulação, o que não descarta as chances de um novo rompimento.

Um dos pontos frágeis diz respeito ao Plano de Ações de Emergência, o PAE, que na proposta original, deveria ter sido debatido com toda a comunidade, mas teve o grau de participação alterado pela Câmara.

Outro exemplo é a mudança de conceitos em relação às zonas de autossalvamento. A nova legislação proíbe que sejam construídas barragens que coloquem comunidades em zonas de autossalvamento, que são regiões onde não dá tempo da defesa civil ou grupos de emergência chegarem. Só que a lei flexibilizou a definição de zonas de autossalvamento e confundiu com zonas de salvamento secundário.

A legislação também não trouxe avanços em relação ao tipo de encerramento das barragens à montante. A lei prevê a descaracterização – drenagem da água – e o fechamento da estrutura, mantendo o rejeito. Mas, a expectativa era que a lei determinasse o descomissionamento, ou seja, a retirada de todo o rejeito.

A lei ainda submete a descaracterização a uma “viabilidade técnica”, o que seria uma brecha, na visão de especialistas. E foi mantido também o modelo em que as mineradoras contratam empresas de auditoria que emitem laudos sobre a segurança das barragens.

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"SEGUIREI MINHA LUTA POR JUSTIÇA E TRABALHANDO PARA QUE ESTA GESTÃO TEMPORÁRIA DURE O MÍNIMO POSSÍVEL, DIZ PROFESSOR TELIO NOBRE

Nota do Reitor Eleito da Univasf sobre alterações na equipe da Reitoria Pro Tempore. Professor Telio Nobre Leite, Reitor Eleito se posiciona em virtude da vive-reitora Lúcia Marisi, eleita na chapa de Telio Nobre, ter aceito o convite para ser Pró-Reitora na Gestão interventora da Univasf.

Confira:

Gostaria de deixar muito clara minha posição com relação às recentes mudanças na equipe administrativa da Reitoria da Univasf.

Nem em abril de 2020, quando foram feitas mudanças abruptas e equivocadas no primeiro escalão da Reitoria, nem muito menos agora, o Reitor Pro Tempore me fez qualquer consulta ou me pediu alguma sugestão. Portanto, qualquer conclusão que insinue algum tipo de aliança conflita com a realidade. A única pessoa que pode explicar o porquê das escolhas feitas no passado não atenderem às expectativas, e os motivos de, neste momento, buscar novos assessores para sua gestão, é o próprio Reitor Pro Tempore. É fato o desconforto, também de minha parte, com a participação da vice-reitora eleita nesta gestão temporária. 

As suas motivações foram apresentadas ao Conselho Universitário. Mas para além do como eu me sinto, ressalto que a Univasf é muito maior que todos nós. Continuo confiante que o nosso Conselho Universitário se manterá vigilante e combativo a qualquer proposta que não atenda aos anseios da comunidade. Seguirei minha luta por justiça e trabalhando para que esta gestão temporária dure o mínimo possível. 

A normalidade institucional só será retomada com a posse do reitor eleito e execução do projeto vencedor nas eleições. Entendo que o bom funcionamento da Univasf só será restabelecido quando a democracia prevalecer. Qualquer outra atitude, mesmo que eventualmente corrija parte das falhas cometidas em 2020, não fará com que a Univasf cumpra plenamente sua missão institucional.

Ações administrativas isoladas e pretensamente isentas de posicionamento político não podem suprir os rumos institucionais expressos no projeto aprovado pela comunidade nas urnas. 

Quem não faz a defesa da nomeação do reitor eleito não demonstra apreço pela democracia, nem pela autonomia universitária. Agradeço a todos que estão nesta luta permanente em defesa da democracia e da autonomia universitária. Somos muitos.

Reitor eleito é reitor empossado.

25 de Janeiro de 2021. Telio Nobre Leite-Reitor Eleito

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EXPOSIÇÃO EM JUAZEIRO HOMENAGEIA BOSSA NOVA

A Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes (Seculte) de Juazeiro abriu uma exposição de fotos em comemoração ao Dia Nacional da Bossa Nova, celebrado nesta segunda-feira (25).

A exibição "João Gilberto, sua casa, sua gente" é permanente e fica no Memorial Casa Bossa Nova, na Praça da Bandeira, nº 20, Centro. 

Agora, além de conhecer a vida de João Gilberto, pai da Bossa Nova através do seu acervo, também é possível conhecer outras histórias de artistas locais que carregam no sangue o ritmo que surgiu na década de 50.

A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h, atendendo todos os protocolos sanitários, permitindo a entrada de duas pessoas por vez.

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ESTUDANTES DE SENTO SÉ ACUSAM QUE FACULDADE PARTICULAR DEU "GOLPE" E ELES ESTÃO SEM DIPLOMA

"Não se deve brincar com o sonho e a esperança de um ser humano." A frase foi recitada por um poeta cantador de viola relacionando que a educação é a única forma de liberdade de um povo. A reportagem do BLOG NEY VITAL  recebeu denúncias que dezenas de alunos de Sento Sé, Bahia, tiveram o seu sonho de concluir um curso superior devido a "má fé, crime da diretoria de uma faculdade particular".

Milca Salua, foi um das estudantes que sonhou em ingressar em uma instituição de ensino superior, ser aprovado em todas as disciplinas e concluir o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para conseguir ter acesso ao seu diploma. O sonho e determinação de Milka e outros 29 alunos foi interropido no ano de 2018, quando a  situação virou um pesadelo de universitário.

"Estavamos tão confiantes que no ano de 2019 realizamos até a festa de formatura, de coclusão", revela Milka, que enviou fotos para compravar as denúncias.

Do pesadelo a atual realidade vivida agora em 2021: os 30 concluintes da Unidade de Ensino Superior do Sertão da Bahia (UESSBA) não receberam o diploma e certificado profissional de conclusão do curso escolhido, pedagogia e que desde o ano de 2018 os diretores financeiros e geral da Faculdade "sumiram, não atendem telefone e não respondem mensagens."

Milka conta que toda a turma acumula desculpas "Pagamos as mensalidades em dia. Estudamos muito e havia aulas a distância e presencial mas nunca tivemos o sonhado diploma em mãos devidamente reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura", revela Milca.

Apesar das tentativas de contato com o setor financeiro e diretoria da UESSBA-Faculdade do Sertão, localizada em Irecê, a reportagem da REDEGN não recebeu respostas.

Os estudantes cobram o documento de certificação profissional. "Isto é um crime. Eles, A UESSBA, comete um ato criminoso que abala as estruturas de quem não só sonhou, mas sabe a importância de um curso superior", diz Milca.

De acordo com as pessoas ouvidas no grupos de WhatsApp articulado para buscar a resolução do problema, cresce a cada dia os número dos "sem diplomas", em várias cidades da Bahia. "São mais de 300 pessoas com a mesma pendência, até agora enganadas pela direção da faculdade que não dá uma explicação".

Em Irecê, Maik de Jesus, 27 anos, que cursou Administração na UESSBA e chegou a colar grau na instituição, acusa que a diretoria da faculdade vem enganando os alunos e adiando a entrega do documento desde 2018.

 "Nos disseram que todos iam receber o diploma. Mas, depois de fazer a solicitação de diploma em junho de 2019, foram várias as desculpas que a diretoria da instituição nos deu para adiar essa entrega. Depois de tanta enrolação, fizemos boletim de ocorrência na delegacia e alguns entraram com processo judicial, mas, até hoje, nada foi resolvido", diz, mencionando o boletim de ocorrência contra a instituição. 

A reportagem do BLOG NEY VITAL não conseguiu ouvir o Sindicato das Entidades Mantenedoras do Ensino Superior da Bahia (Semesb).

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ORAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO EM TEMPOS DE POUCOS RIOS

O Rio São Francisco não nasce na Serra da Canastra. Digo isso porque a correria estressante das ruas do Rio de Janeiro me oprime. Os olhos dessas crianças nuas me espetam e essa população de rua dormindo pelas calçadas me joga contra o muro. Esse Cristo economiza abraços e atende a poucos.

Só uma coisa me alenta hoje: a saudade do meu santo rio. O Rio São Francisco, o Velho Chico, Chiquinho. Escuto o murmurar de suas verdes águas: — Deixai vir a mim as criaturas... E assim foi feito. Falar de desrespeito e depredação tornou-se obsoleto. Denunciar matanças e desmatamentos resultou nulo. Orar e orar. Pedir ao santo do seu nome a sua oração.

Lá do Cristo Redentor da cidade de Pão de Açúcar, nas Alagoas, um moleque triste escutou a confissão das águas. Segundo ele, o Velho Chico dizia:

“Ó, Senhor, criador das águas, benfeitor dos peixes, escultor de barrancas e protetor de homens fazei de mim bem mais que um instrumento de tua paz. Se paz não mais tenho faz-me levar um pouquinho aos que em mim confiam. Paz para as lavadeiras que, em Própria, choram a sua fome de pão. Que, em Brejo Grande, soltam lágrimas pelos filhos mortos no sul do país. Que, em Penedo, já perderam a fé de serem tratadas como gente sã.

Onde houver o ódio dos poderosos que eu leve o amor dos pequeninos. O amor dos que cavam a terra a plantam o aipim. Dos que cavam a terra e usam-na como cama e lençol para sempre. Dos que querem terra para suas mãos, para os seus grãos, para a sua sede. O amor que não é submisso, mas escravizado. O amor que tem coragem de um dia dizer não. Coragem diante das balas e das emboscadas, das más companhias e da solidão.

Onde houver a ofensa dos governos que eu leve o perdão dos aposentados e servidores públicos. O perdão, nunca a omissão. A luta, porque perdoar não requer calar. Perdoar não quer dizer parar. Como minhas águas, tantas e tantas vezes represadas, mas nunca paradas e que, quando em minha fúria, carregam muralhas, absorvem barreiras e escandalizam Três Marias, Xingó e Paulo Afonso.

Onde houver a discórdia dos que mandam que eu leve a união dos comandados. A suprema união dos que sonham com as mudanças, dos que querem quebrar hegemonias e oligarquias. A discórdia dos reis contra a união dos plebeus. Um povo unido é força de Deus, dizia o velho bendito e sejais bendito, Senhor. A união das águas, a união das lágrimas, a união do sangue e a união dos mesmos ideais.

Onde houver a dúvida dos que fraquejam, que eu leve a fé dos que constroem seu tempo. Na adversidade, meio ao deserto e ao clima árido, a fé dos que colhem uvas e mangas em minhas margens. Dos que colhem arroz em minhas várzeas, dos que criam peixes com minhas águas em açudes feitos. A fé dos xocós lá em Poço Redondo. A fé que cria cabras nos Escuriais. Dos que colhem cajus e criam gado em Barreiras e outros cafundós.

Onde houver o erro dos governantes que eu leve a verdade de Canudos. O bom senso dos conselheiros de encontro à insanidade dos totalitários. Os canhões abrindo fendas na cidade sitiada e a verdade expondo cada vez mais a ferida da loucura na caricatura da História. O confisco da poupança e o rombo na previdência. O fim da inflação e o pão escasso, o emprego rarefeito, a dignidade estuprada em cada lar de nordestinos.

Onde houver o desespero das crianças da Candelária que eu leve a esperança das mães de Acari. E aqui, Senhor, te peço com mais fé. A dor dos deserdados, dos que perderam seus pais, filhos ou irmãos, seja de fome, doença ou assassínio, inundai-os com as águas esmeraldas da justiça. A justiça da terra e dos céus. Pintai de verde o horizonte das famílias daqueles que foram jogados mortos em minhas águas. Eles não foram poucos.

Onde houver a tristeza dos solitários que eu leve a alegria das festas de São João. Solitário eu banho muitas terras e em todas, das Gerais, do Pernambuco, das Alagoas e do Sergipe, não há tristeza ao pé da fogueira, nas núpcias entre a concertina e o repente, entre a catira e o baião.. Das festas do Divino ao Maior São João do Mundo, deixai-me levar, Senhor, o sabor de minhas águas juninas e seus fogos de artifícios.

Onde houver as trevas da ignorância que eu leve a luz do conhecimento e da sabedoria. A escuridão dos homens dementes que teimam em querer ferir-me de morte seja massacrada pela luz de um futuro negro, sem água potável, sem terra e sem ar.. Dai-me esse poder, de entrar nas mentes e nos corações, de espraiar-me pelos mil recantos dos que querem mal à nossa casinha, nossa pequena Terra. O homem sábio seja sempre sábio e contamine os povos com ensinamentos de preservação.

Ó, Senhor, dai-me vocação para consolar os que se lamentam de má sorte. Fazei-me compreender porque tanto mal há nos corações. Sobretudo, Senhor, não autorizeis que eu deixe de ser o Rio São Francisco, que há tantos anos não foge do seu leito, espalha e espelha vida em abundância. Que, embora tenha dado, quase nada recebo, que perdoando sempre, continuo sendo morto enquanto todos pensam que serei eterno.”

Foi assim que escutei e assim reproduzo.

Texto do professor doutor em Ciência da Literatura, Aderaldo Luciano. Foto do engenheiro de minas, Emerson Henrique.

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LUIZ GONZAGA, A HERANÇA DEIXADA PARA A CULTURA BRASILEIRA

Saiba que lá pelos anos 60 do século passado a Música Popular Brasileira, dita MPB, vivia à mercê da guerra da turma do tamborim contra a patota da guitarra elétrica. Então, o pernambucano Luiz Gonzaga (homônimo do santo) do Nascimento (sobrenome inventado para comemorar a proximidade do aniversário dele com o Natal) foi despejado para o ostracismo total. 

Aí, emergiu das sombras a ruidosa figura do roqueiro capixaba Carlos Imperial e propagou a boa nova: “Os Beatles gravaram Asa Branca”. Era mentira. Mas o gordo da Corte havia proferido uma sacada genial: o mulato da Chapada do Araripe não era um compositor e cantor à altura de John Lennon e Paul McCartney. Mas, como os quatro fabulosos garotos de Liverpool, ele tinha fundado uma estética, inaugurado uma cultura. Os quatro cavaleiros do Império Britânico foram muito além do universo dos rouxinóis e viraram o Ocidente todo de pernas para o ar. E o sanfoneiro do Exu inventou a cultura regional nordestina.

Para esta constatação chama a atenção um livro que reúne ensaios em prosa, fotos e xilogravuras encomendados, reunidos e coletados pelo artista plástico, poeta, compositor e curador de exposições paraense Bené Fonteles: O Rei e o Baião. No luxuoso e belíssimo volume editado pela Fundação Athos Bulcão, de Brasília, e financiado pelo Ministério da Cultura não faltam excelentes textos de autores do naipe do compositor e cantor baiano Gilberto Gil, da professora cearense Elba Braga Ramalho, do poeta baiano Antônio Risério, do antropólogo paraibano Hermano Vianna, do radialista e escritor cearense Gilmar de Carvalho, da pesquisadora cearense Sulamita Vieira e do próprio organizador.

 Mas o que há de mais notável na coletânea é a parte visual, a cargo do fotógrafo paraibano Gustavo Moura e dos xilogravadores cearenses João Pedro do Juazeiro, José Lourenço e Francorli e Carmem, além da “Iconografia Gonzagueana” com imagens cedidas pelos arquivos do Museu Cearense de Comunicação de Nirez, em Fortaleza (CE), Museu do Gonzagão, em Exu (PE), Museu Fonográfico Luiz Gonzaga, em Campina Grande (PB), Memorial Luiz Gonzaga, em Recife (PE), Paulo Vanderley Tomaz e Iolanda Dantas.

Todos eles contribuíram para uma visão multidisciplinar completa do Rei do Baião, que, falecido há 32 anos, ainda é venerado como o símbolo vivo da diáspora nordestina espalhada pelo Brasil por conta do êxodo forçado pelas secas. Seu cetro se explica de certa forma pela frase-síntese do maior folclorista brasileiro, o potiguar Luís da Câmara Cascudo: “O sertão é ele”. Mas isto é só o ponto de partida.

A entronização de Lua se deve ao fato de ele ter incorporado a cultura rural sertaneja à indústria cultural urbana. Por isso, dele só se aproxima em importância na história de nosso cancioneiro a geração de sambistas cariocas dos anos 30, aos quais se juntou o mineiro Ary Barroso. Como os precursores do maior espetáculo do mundo – o desfile das escolas de samba do Rio -, Gonzagão inspirou as festas de São João introduzidas no calendário nacional: ao criar o primeiro trio com sanfona, zabumba e triângulo, ele instaurou a música regional nordestina, introduziu ao mercado de trabalho a atividade de instrumentista e intérprete oriundo do sertão e interferiu na indústria cultural com uma nova modalidade.

Quem folheia o livro da Athos Bulcão compreenderá, pela visão do conjunto da obra, que Gonzaga não virou Rei pelas canções que compôs. Aliás, o uso deste verbo é controverso, pois, na verdade, mais do que compor ele adaptou temas ouvidos nas brenhas de origem ou atravessou em parcerias com autores interessados em obter seu aval de sucesso garantido. Mas, sim, por mercê da sintonia mágica com seus dois talentosos parceiros iniciais, o advogado cearense Humberto Teixeira e o médico pernambucano Zé Dantas, e da indumentária típica que inventou para se apresentar: gibão de vaqueiro e chapéu de cangaceiro. E mais ainda pela intuição genial que demonstrou ao transformar a fortuna melódica do cancioneiro dos cafundós sertanejos em gêneros musicais e ritmos de dança que, só por causa dele, encantam e mobilizam o público, além de produzir sucesso e fortuna para compositores e intérpretes no rádio, depois na televisão e nos salões de festa. 

Jackson do Pandeiro, Marinês, Antônio Barros e Cecéu, Genival Lacerda, Flávio José, Santanna Cantador e outros grandes autores e cantores de origem nordestina não teriam exercido seu talento nem viveriam dos frutos dele se o filho de Januário não houvesse tirado dos baixos de sua sanfona o baião, o forró, o arrasta-pé e outros ritmos do Semiárido.

O livro organizado por Fonteles deixa isso claro. Pena é que nele tenham sido omitidas informações sobre os autores de textos, xilogravuras e fotografias exibidos ao público com beleza e bom gosto. O leitor merecia saber quem constatou que Luiz Gonzaga foi muito mais do que o Rei do Baião e o autor e intérprete de canções clássicas (como o hino do sertão, Asa Branca): foi o semideus que criou o Nordeste Musical Brasileiro.

*Fonte: Jornalista José Neumane Pinto-Nascido em Uiraúna, Paraíba, Brasil, em 18 de maio de 1951. Colunista do Jornal Estadão e Rádio Eldorado.

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