ORAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO EM TEMPOS DE POUCOS RIOS

 

Aderaldo Luciano, nascido em Areia, na Paraíba, é poeta pautado pela estética da poesia do povo. Estudioso da poesia e da música do Brasil profundo, é mestre e doutor em Ciência da Literatura, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Vive o projeto Roda de Cordel – leituras e estudos, intervenções de leitura de cordéis em escolas e comunidades rurais brasileiras. Autor dos livros O auto de Zé Limeira (Confraria do Vento, 2008), Apontamentos para uma história crítica do Cordel Brasileiro (Luzeiro/Adaga, 2012), Romance do Touro Contracordel (Adaga, 2017). Até junho de 2017 manteve uma coluna semanal no programa Sabadabadoo – A Gente Gosta de Sábado na Rádio Globo (Rio e São Paulo): o Cordel de Notícias. Agraciado com o Falcão de Ouro por sua contribuição à cultura no estado de Sergipe.

Escritor e contador de histórias foi assim que escutei e assim reproduzo: oração do rio São Francisco em tempos de poucos rios. Confira:

Os olhos dessas crianças nuas me espetam e essa população de rua dormindo pelas calçadas me joga contra o muro. 

Só uma coisa me alenta hoje: a saudade do meu santo rio. O Rio São Francisco, o Velho Chico, Chiquinho. Escuto o murmurar de suas verdes águas: — Deixai vir a mim as criaturas... E assim foi feito. Falar de desrespeito e depredação tornou-se obsoleto. Denunciar matanças e desmatamentos resultou nulo. Orar e orar. Pedir ao santo do seu nome a sua oração.

Lá do Cristo Redentor da cidade de Pão de Açúcar, nas Alagoas, um moleque triste escutou a confissão das águas. Segundo ele, o Velho Chico dizia:

“Ó, Senhor, criador das águas, benfeitor dos peixes, escultor de barrancas e protetor de homens fazei de mim bem mais que um instrumento de tua paz. Se paz não mais tenho faz-me levar um pouquinho aos que em mim confiam. Paz para as lavadeiras que, em Própria, choram a sua fome de pão. Que, em Brejo Grande, soltam lágrimas pelos filhos mortos no sul do país. Que, em Penedo, já perderam a fé de serem tratadas como gente sã.

Onde houver o ódio dos poderosos que eu leve o amor dos pequeninos. O amor dos que cavam a terra a plantam o aipim. Dos que cavam a terra e usam-na como cama e lençol para sempre. Dos que querem terra para suas mãos, para os seus grãos, para a sua sede. O amor que não é submisso, mas escravizado. O amor que tem coragem de um dia dizer não. Coragem diante das balas e das emboscadas, das más companhias e da solidão.

Onde houver a ofensa dos governos que eu leve o perdão dos aposentados e servidores públicos. O perdão, nunca a omissão. A luta, porque perdoar não requer calar. Perdoar não quer dizer parar. Como minhas águas, tantas e tantas vezes represadas, mas nunca paradas e que, quando em minha fúria, carregam muralhas, absorvem barreiras e escandalizam Três Marias, Xingó e Paulo Afonso.

Onde houver a discórdia dos que mandam que eu leve a união dos comandados. A suprema união dos que sonham com as mudanças, dos que querem quebrar hegemonias e oligarquias. A discórdia dos reis contra a união dos plebeus. Um povo unido é força de Deus, dizia o velho bendito e sejais bendito, Senhor. A união das águas, a união das lágrimas, a união do sangue e a união dos mesmos ideais.

Onde houver a dúvida dos que fraquejam, que eu leve a fé dos que constroem seu tempo. Na adversidade, meio ao deserto e ao clima árido, a fé dos que colhem uvas e mangas em minhas margens. Dos que colhem arroz em minhas várzeas, dos que criam peixes com minhas águas em açudes feitos. A fé dos xocós lá em Poço Redondo. A fé que cria cabras nos Escuriais. Dos que colhem cajus e criam gado em Barreiras e outros cafundós.

Onde houver o erro dos governantes que eu leve a verdade de Canudos. O bom senso dos conselheiros de encontro à insanidade dos totalitários. Os canhões abrindo fendas na cidade sitiada e a verdade expondo cada vez mais a ferida da loucura na caricatura da História. O confisco da poupança e o rombo na previdência. O fim da inflação e o pão escasso, o emprego rarefeito, a dignidade estuprada em cada lar de nordestinos.

Onde houver o desespero das crianças da Candelária que eu leve a esperança das mães de Acari. E aqui, Senhor, te peço com mais fé. A dor dos deserdados, dos que perderam seus pais, filhos ou irmãos, seja de fome, doença ou assassínio, inundai-os com as águas esmeraldas da justiça. A justiça da terra e dos céus. Pintai de verde o horizonte das famílias daqueles que foram jogados mortos em minhas águas. Eles não foram poucos.

Onde houver a tristeza dos solitários que eu leve a alegria das festas de São João. Solitário eu banho muitas terras e em todas, das Gerais, do Pernambuco, das Alagoas e do Sergipe, não há tristeza ao pé da fogueira, nas núpcias entre a concertina e o repente, entre a catira e o baião.. Das festas do Divino ao Maior São João do Mundo, deixai-me levar, Senhor, o sabor de minhas águas juninas e seus fogos de artifícios.

Onde houver as trevas da ignorância que eu leve a luz do conhecimento e da sabedoria. A escuridão dos homens dementes que teimam em querer ferir-me de morte seja massacrada pela luz de um futuro negro, sem água potável, sem terra e sem ar.. Dai-me esse poder, de entrar nas mentes e nos corações, de espraiar-me pelos mil recantos dos que querem mal à nossa casinha, nossa pequena Terra. O homem sábio seja sempre sábio e contamine os povos com ensinamentos de preservação.

Ó, Senhor, dai-me vocação para consolar os que se lamentam de má sorte. Fazei-me compreender porque tanto mal há nos corações. Sobretudo, Senhor, não autorizeis que eu deixe de ser o Rio São Francisco, que há tantos anos não foge do seu leito, espalha e espelha vida em abundância. Que, embora tenha dado, quase nada recebo, que perdoando sempre, continuo sendo morto enquanto todos pensam que serei eterno.”

Foi assim que escutei e assim reproduzo. (Foto: João Zinclar)

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DIA DO RIO SÃO FRANCISCO É COMEMORADO COM MOBILIZAÇÕES CONTRA INSTALAÇÕES DE USINAS NUCLEARES E HIDRELÉTRICAS NO RIO

Populações tradicionais, ambientalistas e ativistas da região da bacia do rio São Francisco comemoram neste domingo, 4 de outubro, dia do rio São Francisco, com muitas mobilizações e ações que têm o objetivo de celebrar a data, mas também de alertar para os perigos que ameaçam a permanência de um dos rios mais queridos e mais importantes do Brasil.

As mobilizações são iniciativas de dois coletivos de ativistas que têm o rio São Francisco como pauta, o Velho Chico Vive e a Articulação Popular São Francisco Vivo, e estão sendo realizadas durante toda a semana com ações nas redes sociais, mas também com atividades presenciais em mais de dez cidades espalhadas pelos estados de Minas Gerais, Bahia, Alagoas e Sergipe.

As atividades presenciais acontecerão de maneira cautelosa, para evitar aglomerações que coloquem a vida dos participantes em risco. Mas o espírito de alerta e visibilidade para os perigos que o rio São Francisco e as suas populações tradicionais correm, será mantido.

As mobilizações estão sendo motivadas pelas recentes ameaças de implantação da Usina Hidrelétrica (UHE) do Formoso em Pirapora (MG) e as movimentações para a instalação de uma Usina Nuclear em Itacuruba (PE), ambas na bacia do rio São Francisco. 

Populações tradicionais que vivem nas barrancas do Velho Chico e ambientalistas e ativistas estão apreensivos e reivindicam a não instalação dos empreendimentos. Uma terceira ameaça que entra na pauta de reivindicações e que afeta diretamente os povos e comunidades tradicionais da região é a Instrução Normativa 67, emitida pelo Ministério da Economia, e que muda o processo de regularização das Terras Públicas da União. 

“O nosso objetivo é chamar a atenção da opinião pública, mobilizar as vontades populares organizadas, para acionar as autoridades competentes, MPF, os órgãos estaduais, o judiciário, para que esses novos empreendimentos não sejam efetivados e não agridam mais a vida que já vai por um fio em toda a bacia do São Francisco”, explica um dos coordenadores da Articulação São Francisco Vivo, o sociólogo e coordenador da Comissão Pastoral da Terra Nacional, Ruben Siqueira.

A outra ameaça ao Velho Chico é a Usina Nuclear de Itacuruba, cidade localizada no sertão de Pernambuco, às margens da barragem de Itaparica. Apesar de não haver um anúncio oficial, declarações de integrantes do governo apontam que a usina deve ser construída em breve. “Se a construção de uma Usina Nuclear for concretizada, vai usar água do rio, da barragem, para resfriar as caldeiras daquelas chaleiras atômicas. A água contaminada por radiação e altíssimas temperaturas, praticamente inviabilizará toda a vida na região abaixo”, aponta Ruben.

Programação:

Dia 04 – Ação de postagem de vídeos nas páginas do @Velhochicovive

Dia 4 – 9h Barqueata em Pirapora com saída da Cachoeira do Formoso, local onde se pretende construir a barragem.

Dia 4 – 9h Live Abração no Rio São Francisco, organizada pelo Movimento Fé e Vida

Dia 5 – 10h Cortejo saindo do bairro Aparecida em Pirapora.

Dia 5 – o dia todo Mobilizações em toda a bacia

Dia 5 – 15h Tuitaço #BastadeUsinasNoVelhoChico

Dia 5 – 17h Grande Live com participação de todas as regiões

(Fonte: Velho Chico Vive e a Articulação Popular São Francisco Vivo-Foto: João Zinclar)

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PROGRAMA GLOBO REPÓRTER DESTACA RIQUEZAS CULTURAIS E TURÍSTICA DOS SERTÕES

A música de Sá e Guarabira mais uma vez é trilha para mostrar o sertão e seus contrastes. A seca e a fartura. "O Rio São Francisco lá pra cima da Bahia diz que dia menos dia vai subir bem devagar e passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar..."

Você sabia que existe um mar doce em pleno Sertão da Bahia? O Globo Repórter fez uma viagem cheia de surpresas pela região e revelou encantos de uma terra pouco conhecida pelos brasileiros. O Programa Globo Repórter foi exibido ontem sexta (2) e destacou "os segredos" de um lugar ainda pouco conhecido. Entre mar de água doce, onças e araras.

Um mar de água morna, transparente, que se espalha por mais de 300 quilômetros e até invade a Caatinga. Visto como uma espécie de “Caribe do sertão”, o mar doce fica no município de Casa Nova, norte da Bahia. Quando a barragem de Sobradinho foi construída, há 50 anos, as águas represadas do rio submergiram cidades e vilas, obrigando milhares de sertanejos a deixarem suas terras para viver onde o lago não alcança. Hoje, os poucos que conhecem o recanto escondido lembram à velha profecia: o sertão virou um belíssimo mar.

Localizada no município de Sento Sé, o parque nacional foi criado em abril de 2018 e é um dos últimos refúgios da onça da Caatinga. Essas onças, tanto a parda, como a pintada, são adaptadas fisicamente ao bioma. Nas patas, embaixo, existem mais pelos do que nas patas das onças dos outros lugares, tudo para proteger mais da temperatura do chão quente durante a seca. Não há números exatos, mas a estimativa é de 230 onças vivendo no Boqueirão. A área tem 9 mil quilômetros quadrados e reúne, além das onças, uma rica biodiversidade, espécies do único bioma totalmente brasileiro.

Uma jazida de ametistas se escondia no Nordeste. O garimpo fica bem no pé da Serra do Boqueirão, em Sento Sé. Foi descoberta por acaso: um caçador, procurando tatu em um buraco, acabou encontrando uma pedra de ametista. A notícia logo se espalhou e garimpeiros viajaram de todo canto do Brasil. Hoje, são dezenas de buracos, que vão a 80, 100 metros de profundidade, para conseguir ter acesso às pedras.

Manga, coco, goiaba, uva. tudo em grande quantidade, o ano todo. Há 40 anos, quando os primeiros cachos de uva foram colhidos, a expectativa era vender a produção no Nordeste mesmo. Aos poucos, o mercado se ampliou pelo Brasil inteiro e chegou ao exterior. Hoje, as frutas do vale do São Francisco são consumidas por mais de 90 países. O Sertão irrigado produz cinco milhões de toneladas de frutas por ano e sustenta mais de 200 famílias nordestinas.

Outras preciosidades da Caatinga são joias raras, como a árvore sagrada para o sertanejo: o umbuzeiro. Mesmo nas longas estiagens, ele não perde o verde. E, no verão, chova ou faça sol, sempre tem umbu para comer. 

A professora e empresária Andréa Passos Araújo, moradora de Casa Nova,  sempre foi apaixonada pelo rio São Francisco e as dunas. Andréa revela que o local não era ainda visitado, e tampouco muito conhecido e ela já vislumbrava o potencial turístico do local.

"Temos o privilégio de ter a melhor praia de água doce da região do norte da Bahia e do Vale do São Francisco", afirma Andréa ressaltando a beleza traduzida na mistura de águas cristalinas com a quase misteriosa presença da areia branca das dunas.

Andréa revela que é gratificante observar que quando os turistas chegam para conhecer as dunas, logo, todos ficam admirados com o contraste da vegetação da caatinga junto com um "mar de água doce". "É o nosso oásis do sertão. Sem falar na culinária regional da região comercializada nas barracas. Os passeios de quadriciclo e lanchas, as caminhadas, sol exuberante", diz Andréa.

De acordo com a professora, nas dunas de Casa Nova tudo é atração. Ela destaca a Ilha da Pedra, conhecida como o antigo Serrote da Cidade Velha, que foi inundada pela barragem de Sobradinho e também um ilha deserta de areia conhecida como Paraíso do Sertão.

Andréa faz planos objetivando ações que conservem o meio ambiente e provoquem uma conscientização das riquezas presentes nas dunas de Casa Nova.

"Poucos tem o privilégio de contemplar o rio São Francisco, Velho Chico que sempre merece toda gratidão, respeito e paixão. Este período de pandemia provoca mais ainda o sentimento que é preciso um trabalho de conscientização na preservação do Velho Chico, tanto com os turistas evitando jogar lixo nas margens do rio, quanto de agricultores ribeirinhos para evitar o uso de agrotóxicos no leito. Assim todos evitam a poluição", finalizou Andréa.

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FAZENDA HUMAYTÁ E A LUA CHEIA ILUMINANDO OS SERTÕES

É comum ver imagens do Sertão nas quais a luz solar incide com força sobre a cena. Nesta foto o cantor, compositor, o poeta Luiz Humaytá, mostra outra maneira de ver este lugar e as pessoas que nele habitam. Uma foto mostra o céu entre o cair da tarde e a chegada da noite, com a luz da lua e das estrelas delineando a vegetação, as construções, os caminhos; revelando a imagem dos sertões de Curaçá, Bahia, a terra da Ararinha Azul.

A lua está na fase cheia. O poeta Luiz Humaytá registrou o esplendor da Lua Cheia, mês de outubro, nos sertões de Curaçá, Bahia, terra da Ararinha Azul. A foto é da Fazenda Humaytá.  Importante lembrar, a fotografia à noite requer muito cuidado, muita pesquisa e equipamentos que garantam os melhores resultados e estas fotos Luiz fez do seu celular, sem maiores recursos técnicos.

O jornalista e fotógrafo profissional Adriano Kirihara e seu site explica que "registrar o acúmulo do tempo numa única imagem. Explorar o movimento, as mudanças atmosféricas, o inesperado e até o inexplicável. É disso que se trata a fotografia noturna de estrelas e de longa exposição. Esses são apenas alguns dos atrativos que seduzem fotógrafos a pegar a câmera e passar horas em meio à natureza durante a escuridão da noite".

Luar do Sertão é uma toada brasileira de grande popularidade. Seus versos elogiam a vida no sertão, especialmente o luar. Luar do Sertão originalmente um coco sob o título "Engenho de Humaitá". Catulo da Paixão Cearense e João Pernambucano são autores destes versos, uma das músicas brasileiras mais gravadas de todos os tempos.

"Não há, óh gente Luar como esse do sertão...Que saudade do luar da minha terra lá na serra branquejando folhas secas pelo chão este luar cá da cidade tão escuro não tem aquela saudade do luar lá do sertão...Se a lua nasce por detrás da verde mata mais parece um sol de prata prateando a solidão...e a gente pega na viola que ponteia....Coisa mais bela nesse mundo não existe do que ouvir um galo triste no sertão que faz luar...parece até que a alma da lua que descansa escondida na garganta desse galo a soluçar"...

Uma das versões mais conhecidas é interpretada por  Luiz Gonzaga e Milton Nascimento e é capaz de provocar o sentimento e identidade cultural.

O saudoso músico do Quinteto Violado, Toinho Alves, apontava que Luiz Gonzaga ao interpretar Luar do Sertão, possuía a sensibilidade observadora dos poetas maiores que habitam os sertões, onde, dos fenômenos mais simples e por isto geniais, encantadores apresentados pela natureza, captavam a sabedoria do mundo".

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FOGO DESTRUIU QUASE 4 MILHÕES DE HECTARES DO PANTANAL

O fogo que há meses destrói parte do Pantanal, na região Centro-Oeste, já incinerou a 3,461 milhões de hectares. Segundo balanço que o governo do Mato Grosso do Sul divulgou na tarde de hoje (1), só no estado o bioma já perdeu 1,408 milhão de hectares. Além disso, no Mato Grosso, as chamas consumiram outros 2,053 milhões de hectares.

Cada hectare corresponde, aproximadamente, às medidas de um campo de futebol oficial. Convertida, a área incinerada equivale a 34,6 mil quilômetros quadrados. Um território maior que Alagoas, com seus 27,8 mil km².

Os dados foram apresentados pelo chefe do Centro de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros do Mato Grosso do Sul, tenente-coronel Waldemir Moreira Júnior.Segundo ele, o tamanho da área do Pantanal queimada até o último dia 27 confirma que este tem sido um ano atípico não só para o bioma, como para toda região. Em 2019, no mesmo período, as chamas consumiram 1,559 milhão de hectares em todo o Pantanal, nos dois estados. Ou seja, menos da metade do último período.

“Desde março, extrapolamos a máxima histórica mensal de focos de calor no Pantanal”, comentou Moreira, comparando os 18.259 focos de calor registrados no bioma entre 1 de janeiro e ontem, 30 de setembro, com os 12.536 focos registrados no mesmo período de 2005, pior resultado até então. “Este ano já superamos o recorde histórico. E tudo indica que em outubro não será diferente”, acrescentou Moreira.

Durante a apresentação dos números, o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar do Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, reforçou o prenúncio feito pelo tenente-coronel. “[Nos próximos dias] Teremos um incremento enorme do número de focos de incêndios no Mato Grosso do Sul”, afirmou o secretário, que disse considerar “assustador” o atual número de focos de incêndio registrados no estado.

Segundo o Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS), a forte onda de calor e a baixa umidade deve persistir por pelo menos mais dez dias, em todo o estado. Os meteorologistas prevêem que, ao menos pelas próximas duas semanas, os dias ficarão ainda mais quentes, podendo inclusive superar marcas históricas. Ontem (30), em regiões como Coxim e Água Clara, os termômetros chegaram a marcar 44,1 °C, com sensação térmica de 52° C, a mais alta registrado no estado desde 1973. Para agravar a situação, em algumas partes do Mato Grosso do Sul, a umidade relativa do ar chegou a 8%. (Fonte: Agencia Brasil Foto Secretaria Comunicação Mato Grosso)

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FAZENDA HUMAYTÁ, CURAÇÁ BAHIA. OUTUBRO LUA CHEIA NA TERRA DA ARARINHA AZUL

 

Luar do Sertão é uma toada brasileira de grande popularidade. Seus versos elogiam a vida no sertão, especialmente o luar. Luar do Sertão originalmente um coco sob o título "Engenho de Humaitá". Catulo da Paixão Cearense e João Pernambucano são autores destes versos, uma das músicas brasileiras mais gravadas de todos os tempos.

"Não há, óh gente Luar como esse do sertão...Que saudade do luar da minha terra lá na serra branquejando folhas secas pelo chão este luar cá da cidade tão escuro não tem aquela saudade do luar lá do sertão...Se a lua nasce por detrás da verde mata mais parece um sol de prata prateando a solidão...e a gente pega na viola que ponteia....Coisa mais bela nesse mundo não existe do que ouvir um galo triste no sertão que faz luar...parece até que a alma da lua que descansa escondida na garganta desse galo a soluçar"...

Uma das versões mais conhecidas é interpretada por  Luiz Gonzaga e Milton Nascimento e é capaz de provocar o sentimento de pertercimento e identidade.

A lua está na fase cheia. O cantor e compositor, poeta Luiz do Humaytá, registrou o esplendor da Lua Cheia, mês de outubro, nos sertões de Curaçá, Bahia, terra da Ararinha Azul. A foto é da Fazenda Humaytá.

O saudoso músico do Quinteto Violado, Toinho Alves, apontava que Luiz Gonzaga ao interpretar Luar do Sertão, possuía a sensibilidade observadora dos poetas maiores que habitam os sertões, onde, dos fenômenos mais simples e por isto geniais, encantadores apresentados pela natureza, captavam a sabedoria do mundo".

O escritor João Guimarães Rosa diz que o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia. Como explicar a caminhada de um gaúcho apaixonado pelos sertões. Luiz Carlos Forbrig é o nome de Batismo. O apelido Humaytá, ele herdou, da característica do nordestino que precisa de um adjetivo para os nomes: logo Luiz...ficou Luiz do Humaytá. 

Geólogo, aposentado da Petrobras desde 2016, o então funcionário público ganha o nome artístico da Fazenda Humaytá. Na Fazenda ele usa um sistema ecologicamente sustentável. 

Luiz do Humaytá avalia que é um erro ainda comum acreditar que a sustentabilidade representa somente a não degradação do meio ambiente. "A abrangência do termo sustentabilidade vai além, incorporando questões relacionadas à qualidade de vida, competitividade empresarial, tecnologias limpas, utilização racional dos recursos, responsabilidade social, questão cultural, entre outros.

Ainda segundo Luiz hoje a regra é muito clara; para ser sustentável, qualquer atividade precisa ser: “Economicamente viável, socialmente justa, culturalmente aceita e ecologicamente correta”. Discutindo essa “regra da sustentabilidade” observamos que ela se baseia na adoção de boas práticas socioambientais na agricultura, na pecuária e em todas as atividades rurais, visando garantir o bem-estar de toda a sociedade, além do equilíbrio entre produção, conservação dos bens naturais, questão econômica, turística e cultural.

"Com relação à preservação ambiental, vale ressaltar que 93% da área é constituída de mata nativa, sendo composta por árvores chamadas de “nobres”, tais como umbuzeiros, umburanas, baraúnas, aroeiras, angicos e mandacarus, além das catingueiras e várias outras espécies arbustivas", revela Luiz. 

Os outros 7% da fazenda são de áreas trabalhadas para o suporte animal, mas mesmo nessas áreas as árvores nobres são preservadas. Portanto, a fazenda trabalha o tempo todo com o conceito de desenvolvimento sustentável, ou seja produzindo carne, gerando empregos, sendo economicamente viável e preservando a natureza para as gerações futuras.

A Fazenda Humaytá está sendo preparada para visitação turística. A proposta é que o visitante fique um dia inteiro na Fazenda que possui 1500 hectares para desfrutar das atividades rurais além de passeios e rotas pela caatinga. 

Neste dia de visitação, onde será mostrado todo o manejo dos animais, será também possível fazer trilhas pela caatinga, andar de paquete no açude da propriedade (em épocas de chuva), conhecer o manejo de horta orgânica, produção de queijo e no futuro o projeto da Ararinha Azul que fica a 6km de distância da Fazenda Humaytá. 

Luiz nasceu em Jabuticaba Velha, interior do Rio Grande do Sul. Filho de Guilhermina e Anoly. Com os pais desenvolveu a veia poética musical. A mãe puxava os cantos religiosos da Igreja Católica. O pai tocador de gaita de boca. Luiz aprendeu a tocar violão nas terras gaúchas.

O Nordeste Luiz conheceu devido o trabalho no sertão e a realidade foi tatuada do sol abrasador, da luz das caatingas, do calor contrastante do frio das terras do sul. E assim passou a cantar e fazer versos para o sertão, os sertões.

"O Sertão é dessas coisas que não tem meio termo ou você ama ou odeia. Eu me apaixonei pelo sertão. Primeiro pelo rio São Francisco e depois pela caatinga. Cheguei na região de Juazeiro, Petrolina e Curaça em 1979", explica.

Luiz decidiu morar definitivamente no sertão do Vale do São Francisco. Deixa a vida na capital Salvador, 'abandona a cidade grande",  onde fez vários shows e decide no 'meio da caatinga", viver o trabalho junto a agricultura e ao inseparável violão.

A história conta que em novembro de 2010, Luiz formou a Banda Forró Avulso, com o desafio de fazer o forró nordestino com uma pitada de modernidade: a gaita de boca no lugar da sanfona e o cajon no lugar da zabumba. Com este grupo fez carreira em Salvador tocando na noite baiana por seis anos.

A discografia consta seis CDs: 

2012 - CD ACÚSTICO. 2014 – CD PÉ DE CHÃO

2015 – LUIZ DO HUMAYTÁ CANTA MÚSICAS GAÚCHAS

2015 –FORRÓ AVULSO e LUIZ DO HUMAYTÁ - 5 ANOS DE ESTRADA

2017 – LUIZ DO HUMAYTÁ AVULSO

2019 – DECANTO O SERTÃO

2020 CD GRAVADO AO VIVO NO TEATRO EM CURAÇÁ.

Luiz do Humaytá continua unindo em 2020 o empreendedorismo pela agricultura, a música e a poesia. É a travessia que une a paixão pelos ritmos, referência a Luiz Gonzaga, aos sertões, a caatinga. 


Apaixonado pelo sertão Luiz do Humaytá comenta que este ano Curaça ganha o retorno da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), extinta na natureza desde 2000. "As ararinhas azuis estão se adaptando para voltar a voar nos céus brasileiros em especial ao sertão de Curaçá. A ave, natural da Caatinga nordestina vai voltar a voar e isto é poesia, música de liberdade. Vamos preservar", diz Luiz.

O processo de reintrodução da Ararinha teve início em março deste ano, quando chegaram ao Brasil 52 ararinhas que foram trazidas da Alemanha, por meio de uma parceria com criadores europeus.

O refúgio de vida silvestre em Curaçá é numa área de proteção ambiental fica próximo a Fazenda Humaytá.

O processo de reintrodução da ave envolve a readaptação dos indivíduos à natureza, o que leva algum tempo. De acordo com Pedro Develey, diretor executivo da Save Brasil, que colaborou com o projeto de criação da unidade de conservação de Curaçá, as aves deverão ser soltas entre 2021 e 2023.

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EXPECTATIVA É QUE NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2021 ARARINHAS AZUIS SEJAM SOLTAS NA NATUREZA

No próximo dia 03 de outubro completa 7 meses do retorno da Ararinha Azul para os sertões de Curaçá. Bahia. É na cidade de Curaçá que estão as mais de 50 ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) vindas da ACTP, da Alemanha para o Brasil, em março deste ano. Elas estão no Centro de Reprodução e Reintrodução mantido pela ACTP. As aves, as Ararinhas Azuis são endêmicas da região de Curaçá do semiárido, estão se ambientando ao clima seco e quente.

A expectativa é que no primeiro semestre de 2021 algumas ararinhas-azuis sejam soltas na natureza, acompanhadas por maracanãs (outra espécie de psitacídeo que possui hábitos semelhantes às ararinhas-azuis). 

a veterinária, coordenadora do Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha-azul e analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Camile Lugarini, a maracanã foi identificada como a melhor espécie-modelo para refinar as metodologias de soltura da ararinha-azul. “Isso acontece pela similaridade de tamanho, de forrageamento, especificidade de habitat, por se agruparem em bandos, dentre outras características”, argumenta.

Camile explica que a estratégia é preparar as aves para serem soltas o mais jovem possível, a fim de aproveitar sua curiosidade inata para explorar e experimentar uma grande variedade de alimentos disponíveis e, assim, evitar instintivamente os predadores. 

Outro aspecto importante do projeto é testar as tecnologias de rastreamento. Mas isso ainda está sendo decidido pelos pesquisadores. A possibilidade é o rastreamento por rádio tradicional para localização das aves ou uso de transmissores mais modernos com captação de sinais a partir de sinais de celular, quando elas forem soltas na natureza.

HISTÓRIA: A ararinha-azul é considerada uma das espécies de aves mais ameaçadas do mundo. Endêmica da região no semiárido, o último indivíduo selvagem desapareceu da Caatinga baiana em outubro de 2000, o que levou a espécie a ser classificada como Criticamente em Perigo (CR), possivelmente Extinta na Natureza (EW). Desde 2000, os poucos exemplares que restaram em coleções particulares vêm sendo usados para reproduzir a espécie em cativeiro. A espécie foi descoberta no início do século 19 pelo naturalista alemão Johann Baptist von Spix.

A reintrodução das ararinhas-azuis no seu bioma de origem é um processo previsto pelo Plano de Ação Nacional (PAN) da Ararinha-Azul em conjunto com organizações internacionais que detinham grande parte das aves em cativeiro. No primeiro ciclo do PAN, dentre outros resultados, o principal foi a multiplicação de animais em cativeiro para aumentar a variabilidade genéticas das aves. Agora, no segundo ciclo, o objetivo esperado é realizar a soltura de algumas ararinhas-azuis com as maracanãs.

As ações de conservação, previstas no PAN, culminaram na criação de duas Unidades de Conservação (UCs) em 2018: Refúgio de Vida Silvestre e a Área de Proteção Ambiental – APA da Ararinha Azul. O objetivo de criação das unidades de conservação é uma estratégia de proteção das amostras do bioma Caatinga, especialmente os fragmentos florestais de mata ciliar e de savana estépica relevantes para o ciclo de vida da ararinha-azul.

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