PAULO FREIRE É HOMENAGEADO EM ESPETÁCULO NO MÊS EM QUE CELEBRARIA 99 ANOS

“Aos 40 anos de carreira, quis homenagear este homem emblemático, este educador e filósofo de grande envergadura.  O resultado é um espetáculo encharcado de afetividade, que contribui com a democracia, com o diálogo e com o  exercício de convivência com a diferença”.

A  afirmação é do ator Richard Riguetti, que veste a pele de um dos mais notáveis pensadores da história da educação mundial e que, se vivo fosse, completaria no sábado, dia 19, 99 anos de vida. Trata-se  de Paulo Freire, também escritor, agraciado com cerca de 48 títulos, entre doutorados honoris causa e outras honrarias de universidades  e organizações brasileiras e do exterior.

Riguetti atua no espetáculo Paulo Freire, o Andarilho da Utopia, que ganha temporada on-line até o próximo dia 27, sempre aos sábados, às  21h, e domingos, às 16h. A montagem, que  já foi vista por mais de 40 mil espectadores,  foi Indicada ao Prêmio Shell do Rio de Janeiro de 2019, na categoria Inovação. A direção é de Luiz Antônio Rocha (Frida Kahlo, a Deusa Tehuana, Brumas e Zilda Arns, a Dona dos Lírios). A dramaturgia é de Junio Santos, que divide as composições com Ray Lima.

A venda de ingressos está disponível pelo Sympla (www.sympla.com.br/paulo-freire-o-andarilho-da-utopia) e a transmissão do espetáculo será feita pela plataforma Zoom. Todas às quintas-feiras, às 20h, acontecerá um bate-papo com a presença de um convidado especial para uma conversa sobre o legado e a práxis do educador. Para esta iniciativa, os ingressos  podem ser retirados gratuitamente pelo Sympla.

O espetáculo, tomando como base Paulo Freire como andarilho, se conecta com a realidade do mundo atual. Em certos trechos do solo, ecoam estas palavras da boca do mestre: “Marcha dos que não têm escolas, marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem, marcha dos que se recusam a uma obediência servil, marcha dos que se rebelam, marcha dos que querem ser e são proibidos de ser. As marchas são andarilhagens históricas pelo mundo”.

O diretor Luiz Antônio Rocha conta que a ideia do espetáculo começou há mais de 10 anos, quando assistiu a um documentário sobre Paulo Freire. “A partir daí convidei Riguetti, um grande ator que já tinha feito parceria comigo  antes em outros trabalhos. Aconteceu que o projeto terminou não indo para frente e quando Richard Riguetti  fez 40 anos de carreira, ele me procurou com a ideia de montarmos o solo”, relata.

O encenador conta que a montagem acompanha a trajetória  e os causos do educador, misturando “elementos das linguagens do teatro, do palhaço e do teatro de rua”, acrescentando que “optou pela simplicidade, depois de muitas reflexões. É que no início ele pensava numa encenação mais impactante. Para ter ideia, eu ia  colocar em cena 25 ventiladores", afirma. 

Em cena, poucos elementos, os quais ganham novas conotações no decorrer do solo. “Um bambolê, por exemplo, se transforma no espaço de uma cela”, conta Luiz Antônio Rocha, que enumera outros adereços que sinalizam para outras simbologias, como um escorredor de macarrão, uma vassoura ou uma flâmula. Ele garante que, mesmo sendo on-line, o espetáculo é interativo.

DIÁLOGO: O espetáculo tem outras vozes além da de  Paulo Freire. “É uma colcha de retalhos. Textos do educador e filósofo são mesclados com escritos de  Bob Marley: ‘Se todos derem as mãos, quem sacará as armas?’”, e também Bertolt Brecht, Eduardo Galeano, Paulo Leminski e outros, inclusive do diretor e do intérprete.

O ator  Richard Riguetti, que  realiza o espetáculo na sala de sua  residência, acredita que "o teatro em casa é um grande desafio, mas muito importante para que haja encontros com qualidade de presença e escuta, mesmo no distanciamento físico”.

Na encenação que propõe  uma estrutura narrativa que leva a um lugar de ideias e reflexão, Riguetti afirma que,   para construir o personagem,  observou três aspectos na dramaturgia: “A voz de Paulo, a escrita dele e os outros textos de autores que dialogam com Freire, como (Eugène) Ionesco, por exemplo, que o educador gostava muito".

O ator, que tem uma ligação forte com Salvador – ele participou do grupo La Nave Va, com os intérpretes Caco Monteiro e Hilton Cobra – afirma que foi na capital baiana a última apresentação do espetáculo Paulo Freire, o Andarilho da Utopia, este ano.

A trupe recebeu um convite para se apresentar na Escola de Teatro da UFBA e, faltando pouco para estrear, veio a determinação da proibição por conta da pandemia. O monólogo foi apresentado no jardim da instituição e de acordo com o diretor e ator, “com muita, muita  emoção”.

FOME PALAVRAS: O solo Paulo Freire, Andarilho da Utopia começa com o protagonista no interior de Pernambuco, à sombra de uma mangueira. Um menino com um graveto na mão inicia o seu processo de leitura do mundo. Tem fome, como  grande parte da população brasileira.

Com o transcorrer da peça, outra fome lhe ocupa o tempo: as palavras. Através delas, e com elas, percorre territórios, tecendo uma pedagogia emancipadora e revoluciona a educação mundial. Na encenação Freire é afastado da Terra, enviado ao espaço e amanhece na lua (uma alusão ao exílio, pois foi acusado de subversão e preso em 1964, durante 72 dias,  partindo para o exílio no Chile). Na lua, ele analisa o pais  e reafirma seu amor por sua terra, pela sua gente. (Fonte: A Tarde)

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AGROVALE DOA 1500 LITROS DE ÁLCOOL 70%, PARA ESCOLA E ONGS DE PETROLINA

Com a expectativa de retorno às aulas presencias na rede de ensino, as autoridades em saúde vêm intensificando as medidas preventivas de combate ao novo coronavírus. Para ajudar nessa luta e evitar o surgimento de novas vítimas da pandemia na região, a Agrovale doou esta semana 1.500 litros de álcool 70% para instituições de Petrolina.

O álcool 70%, utilizado na higienização e assepsia, foi doado à Escola Estadual de Aplicação Professora Vande de Souza Ferreira, na Vila Eduardo, que atende 16 turmas do 6°ano do Ensino Fundamental até o 3°ano do Ensino Médio.

De acordo com o diretor do estabelecimento de ensino, João Tavares, a doação chega em momento bem oportuno e será um reforço nas regras de segurança de alunos, professores e funcionários. "Uma contribuição importantíssima para organizarmos a escola de acordo com as exigências de limpeza e higiene adequada", ressaltou.

O álcool 70%, também vai beneficiar as ONGs que estão cadastradas no programa Transforma Petrolina, a exemplo do projeto Anjos do Sertão, que atende mulheres e crianças em situação vulnerável, e de outros programas voluntários que atuam em igrejas, abrigos e região de sequeiro, beneficiando catadores e moradores de rua.

Para a idealizadora do projeto Anjos do Sertão, Reuva de Sá, a ajuda, além de chegar em boa hora, também traz novo entusiasmo. Em parceria com o Centro Social do Loteamento Recife, o programa vem capacitando homens e mulheres, com a fabricação, venda de materiais de limpeza artesanais, produção e comercialização de alimentos. "O álcool doado pela Agrovale vai fortalecer o trabalho social e de conscientização na luta contra a Covid -19, que desenvolvemos com mulheres e crianças em situação de vulnerabilidade social" pontuou.

A Agrovale já doou até o momento 151 mil litros de álcool 70%. A campanha começou em março desse ano, logo após o início da pandemia do novo coronavírus. A princípio foram doados 100 mil litros de álcool para hospitais e postos de atendimento do SUS em todo estado da Bahia, incluindo Juazeiro. Mais adiante, foram doados 10 mil litros de álcool 70% para Juazeiro, 10 mil litros para Petrolina, além de mais 30 mil litros distribuídos entre os municípios de Cabrobó, Dormentes, Salgueiro, Santa Maria da Boa Vista e Lagoa Grande. (Fonte: Class Comunicação e Marketing)

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LUIZ CARLOS SANTOS: PARA CONHECER E GOSTAR

Apresento para vocês o Songbook do meu grande amigo, irmão, Luís Carlos Santos. (Luis Carlos Santos Songbook).

Este álbum, lançado em 2012 no Brasil e Estados Unidos pela Global Choro Music (www.ChoroMusic.com.br) dentro de um projeto arrojado, dedicado a promover compositores considerados revelações da música instrumental brasileira das últimas duas décadas, traz 10 peças para violão solo, todas composições deste virtuosíssimo violonista, cantor, compositor e arranjador, dono de uma técnica e didática invejáveis.

Luís Carlos Santos é de Franca – SP, estudou violão clássico com Abel Calervaro e com o Professor Henrique Pinto, de quem foi amigo pessoal e Música Popular Brasileira com Paulinho Nogueira com quem participou da obra Projeto Tons e Semitons, lançado em São Paulo e Estados Unidos simultaneamente.

Ao longo de sua carreira, Luís Carlos tem sido convidado, com frequência, para recitais em diversas cidades brasileiras e da América Latina. Centenas de suas canções e peças musicais  são ainda inéditas, contudo, muitas estão editadas pela Editora Ricordi, de fácil acesso.   

Em recitais e shows pelo Brasil e exterior apresenta com brilhantismo seu repertório autoral e obras de Beethoven, Bach, Liszt, Scarlatti, Térrega, Villa-Lobos, Garoto, Dilermando Reis, Ton Jobim, Paulinho Nogueira, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, dentre outros compositores brasileiros de música instrumental e popular, declarando que "a música é uma construção tão elaborada que atravessa todas as barreiras, tempo, espaço. Minha música é uma construção de vários ritmos e sons, e é uma combinação dos estilos: raiz, bossa nova, clássico e o moderno." 

Produziu trabalhos para Geraldo Azevedo, Paulinho Nogueira, o Cantador Aldy Carvalho, Dulce Auriemo e Angela Muner (Projeto Pixinguinha – Rio de Janeiro).

Para Luís Carlos o violão é "amigo e companheiro de todas as horas, instrumento que nos encanta e nos aproxima de Deus", sendo assim, direcionou este Álbum para violonistas habituados a ler partituras, onde foram desenvolvidas a técnica e a didática de executar vários ritmos. 

Então, bom divertimento e boa viagem por estas dez peças curtas para violão, com o encantamento que a boa música propicia

*Por Aldy Carvalho, poeta  cantador, compositor, escritor

 

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UNEB EM SENHOR DO BONFIM ESTÁ COM INSCRIÇÕES ABERTAS PARA O ENCONTRO ACADÊMICO DE BIODIVERSIDADE VEGETAL

O Departamento de Educação (DEDC) do Campus VII da UNEB, através do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Vegetal (PPGBVeg/ UNEB), realiza a segunda edição do Encontro Acadêmico de Biodiversidade Vegetal (ENABVeg) entre os dias 10 e 13 de novembro. As inscrições estão abertas e seguem até o dia 3 de novembro. 

O II ENABVeg, edição comemorativa aos 10 anos do PPGBVeg, tem como objetivo integrar docentes, discentes, egressos, convidados e participantes interessados na Botânica, através da socialização e divulgação do conhecimento científico gerado pelas pesquisas desenvolvidas na região semiárida da Bahia e outros estados nordestinos. 

O Encontro conta com palestras, mesas redondas e apresentação de trabalhos que serão transmitidos pelo canal do ENABVeg no YouTube; além de oficinas e minicursos que acontecerão através do Google Meet. A programação inclui temáticas da área da Botânica ligadas a Taxonomia Vegetal, Palinologia, Interação planta-animal, Citogenética, Micologia, entre outras. 

A coordenadora do PPGBVeg, Marileide Saba, ressalta que a ideia do Encontro é "promover a integração, fortalecer os vínculos e ampliar a visibilidade do programa, expondo a contribuição do PPGBVeg nos seus 10 anos de existência para o conhecimento da biodiversidade vegetal no Semiárido nordestino".
O evento é gratuito e conta com certificação de 20 horas para participação no evento, 4 horas por minicurso e 2 horas por oficina.  

As inscrições podem ser feitas através do link: http://sge.uneb.br/inicio/detalhe/2638. 
Se inscreva no canal do ENABVEG UNEB no YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCAQ0xe_VPDzmPKALtFxC1qQ. 

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SANFONA 8 BAIXOS DE LUTO: MORRE SANFONEIRO GERALDO CORREIA EM CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

Na manhã deste domingo (13) morreu em Campina Grande, um dos dos mais talentosos sanfoneiros de 8 Baixos de todos os tempos, o músico Geraldo Bispo Antero, conhecido como Geraldo Correia, 90 anos. Ele e Zé Calixto foram dois virtuosos no instrumento e contemporâneo do paraibano Jackson do Pandeiro.

Geraldo começou a tocar  sanfona de oito baixos aos 12 anos de idade pegando o instrumento do irmão Severino. Ganhou o nome artístico em 1954, quando ao se apresentar na Rádio Clube de Pernambuco, esqueceu a correia do instrumento em casa e passou a ser chamado em forma de brincadeira de Geraldo da Correia.

Começou a tocar na feira de sua cidade natal ainda criança, e logo enturmou-se com os músicos locais como  trompetistta Porfírio Costa que integrou a Orquestra Tabajara, e com quem aprendeu a tocar choro. Em Campina Grande foi companheiro de boemia de artistas como Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda e Rosil Cavalcanti, entre outros. Chegou a acompanhar a cantora Marinês, em começo de carreira, em apresentações na Rádio Cariri.

Em 1954, passou a tocar acordeom na Rádio Clube de Pernambuco. Depois de passar algum tempo entre Recife e Campina Grande, recebeu uma carta do compositor Antonio Barros e foi para o Rio de Janeiro. Em 1964, contando com a ajuda entre outros, de Genival Lacerda, gravou pelo selo Polydor, da gravadora Philips, seu primeiro LP, intitulado “Um baixinho e seus oito baixos”, com produção de João Melo e um repertório instrumental com composições de sua autoria, como “Forrobodó”, “Castigando o fole”, “Saudades do meu baião”, “Lembrança do meu sertão” e “Adeus Campina Grande”. 

No Rio de Janeiro conviveu com grandes nomes da música instrumental: fez serenatas com Abel Ferreira, tocou na casa do trombonista Raul de Barros e conheceu o maestro Moacyr Santos.

Em 1965, também pela Polydor lançou o LP “A volta do baixinho”, que contou com as participações dos instrumentistas Meira e Dino Sete Cordas, que apresentou choros, arrasta-pés e rojões, além de duas valsas “Saudade de Nena” e “Zé Pretinho no forró”, parcerias com o paraibano Manoel Serafim. Em 1973, lançou pelo selo Tropicana/CBS o LP “Forró em Cajazeira”

Em 2014, o mestre dos 8 Baixos, Geraldo Correia foi homenageado no Encontro de Sanfoneiros do Recife no Teatro de Santa Isabel. 

Em 2018, Geraldo Correia foi homenageado no 2º Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Fole de Oito Baixos, em Campina Grande. Entre as homenagens esteve Zé Calixto e toda a família dos Calixto, além dos sanfoneiros Manoel Tambor e Cabral.

O Encontro almejou, ainda, difundir e aliar a música da sanfona e do fole de oito baixos aos eventos culturais em toda região da Paraíba, destacando-as como das mais importantes atividades culturais do Brasil.


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JACKSON DO PANDEIRO, 101 ANOS E O QUE CANTARIA HOJE O MESTRE DO RITMO

A história vitoriosa de Jackson do Pandeiro é a confirmação da força da arte, em meio às intempéries enfrentadas pelo povo brasileiro. Nascido numa família pobre, em 1919, em Alagoa Grande (PB), o menino José Gomes Filho, descendente de indígenas e negros, aprendeu a cantar com sua mãe, que sustentava os três filhos lavando roupa para fora e entoando coco. Ao passar fome após a perda do pai, ele e a família migraram a pé para João Pessoa. O próximo destino seria o Recife, onde o já talentoso rapaz despontou. Na capital pernambucana, ao gravar Micróbio do frevo, modificou a forma de interpretar o gênero.

 Em 1949, quando definitivamente ganhou o nome artístico, era apontado como “o maior cantor de sambas do norte do país”. Promoveu uma revolução na forma de cantar a música brasileira, criando uma espécie de escola imaterial, sendo um caso raro de artista nordestino que venceu no Sudeste antes mesmo de chegar lá.

No dia 31 de agosto, serão marcados os 100 anos de nascimento desse artista genial. Para celebrar a data, publicamos, nesta edição da Continente, uma HQ inédita, com roteiro da jornalista Débora Nascimento e desenhos do ilustrador Celso Hartkopf – que também assina um brinde especial aos leitores, um pôster de Jackson cercado por alguns dos incontáveis artistas brasileiros que influenciou.

Um dos sucessos do repertório jacksoniano, Chiclete com banana falava da resistência da música brasileira em meio aos americanismos que aportavam no país, nos anos 1950. Hoje, diante de um cenário hostil à cultura no Brasil, o que cantaria Jackson? Podemos imaginar, mas não veremos o presidente da República, que mal falou da morte de João Gilberto, celebrar o centenário do artista paraibano, falecido em 1982.

Não é difícil chegar a essa conclusão: nas eleições de 2018, Bolsonaro não tinha sequer um programa de governo para a cultura e, desde a posse, assistimos ao início de seu desmonte: da extinção do MinC ao destino incerto da Ancine, Desmonte a dimensão da palavra desmonte, cujo significado passa por derrubada, desmantelo, desnorteamento. No ano (2019) em que o cinema ganha prêmios em Cannes, como pode uma paralisia ser imposta ao setor? “É o país da contradição”, como cantou Lenine, em Jack Soul Brasileiro. (Revista Continente)

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MACIEL MELO ANTENADO COM O FORRÓ

Apontado como um dos mais expressivos herdeiros do legado poético-musical de Gonzagão, Maciel Melo, cuja carreira artística começou em 1982, sempre acreditou na vocação universalista e atemporal do forró (que não é apenas um ritmo, mas uma espécie de balaio musical que abriga o baião, o xote, o coco e outros ritmos). Por isso tem vibrado como as cordas do seu violão com a crescente receptividade internacional desse tipo de música, comprovada não apenas no recente e bem-sucedido show de Nova York, mas através de vários fatos ocorridos nos últimos anos.

Antenada com as novidades no campo da música, na esfera regional, nacional e internacional, a obra de Maciel tem, no entanto, como marca principal o “cheiro de bode”, como observou o jornalista e crítico musical José Teles, parodiando uma frase de Gonzagão a respeito das composições de Zé Dantas. Num estilo um pouco mais lírico, o poeta Jessier Quirino compartilha da opinião do jornalista sobre o trabalho de seu parceiro de várias criações: “Sua música, com especial encanto, é um verdadeiro repositório das tradições matutas, sertanejas e nordestinas”.

Essa ligação artístico-umbilical está bem presente em Caboclo sonhador, por muitos considerada um clássico da música nordestina. Composto em 1982, quando Maciel residia em São Paulo, o xote – que nos anos 1990 se tornaria grande sucesso nas vozes de Flávio José e de Fagner – expressa em seus versos uma mistura de plataforma artística e profissão de fé baseada nos valores culturais, sociais e históricos do mundo de origem do autor: “Sou um caboclo sonhador,/ Meu senhor, viu?/ Não queira mudar meu verso./ Se é assim não tem conversa/ E meu regresso para o brejo/ Diminui a minha reza./ Um coração tão sertanejo/ Vejam como anda plangente o meu olhar/ Mergulhado nos becos do meu passado/ Perdido na imensidão desse lugar”.

Nascido em 26 de maio de 1962, na sertaneja Iguaraci, a 363 quilômetros do Recife, Maciel, como ele mesmo diz, cresceu “ouvindo os cantadores de folhetos nas feiras”. A região pernambucana onde fica sua cidade natal, o Vale do Pajeú, é um famoso reduto de poetas populares e repentistas, como Rogaciano Leite, Sebastião Dias, Antônio Marinho e os irmãos Otacílio, Dimas e Lourival Batista (Louro do Pajeú), além de ser vizinha de uma área da Paraíba de onde também vieram à luz célebres improvisadores de versos, a exemplo de Pinto do Monteiro.

Se o ambiente externo era propício ao desenvolvimento de um letrista, a casa do futuro compositor constituía um permanente estímulo à vocação musical. O seu pai, Heleno Louro, conhecido como Mestre Louro, era barbeiro e pedreiro, mas ganhou fama como consertador de foles de oito baixos e, principalmente, como sanfoneiro. Ainda criança, Maciel costumava acompanhá-lo nas festas para as quais era contratado para animar. 

“Às vezes, eu tocava triângulo, mas depois de certas horas o que eu fazia mesmo era dormir perto de onde ele estava tocando”, relembra o artista, que, ainda em Iguaraci, onde morou até os 16 anos, participou de uma banda marcial. Embora exercesse apenas a atividade de costureira, Dona Lourdes, a mãe, também tem sua parcela de influência na musicalidade de Maciel, como ele mesmo reconhece: “Vez por outra me pego assoviando melodias que não sei de onde vieram, mas tenho a impressão de que são antigas cantorias feitas para ninar menino chorão”.

O permanente contato com a música, acordado e dormindo, concorreu para deixar bem desperto o talento de Maciel Melo, um fecundo compositor que passeia com naturalidade pelas várias vertentes do forró e, com um espírito de repentista, consegue transformar em mote quase todos os assuntos e imagens. Como o poeta cearense Patativa do Assaré, talvez ele seja um dos que podem dizer: “Pra todo canto que olho,/ vejo um verso se bulindo”. Somada à quantidade, a qualidade das canções que começou a produzir, sistematicamente, a partir da década de 1980, logo chamaria a atenção de muitos cantores e do público.

O seu primeiro grande sucesso como compositor foi Que nem vem-vem (“Quebrei no dente/ Um taco da literatura/ Tô na história, tô e sei/ Que sou motivo pra falar”). Ainda hoje presença obrigatória em qualquer festa regada a forró que se preze, a música foi gravada em 1991 por Flávio José e, em seguida, por Elba Ramalho. Outros artistas que gravaram composições de Maciel foram: Sivuca, Marinês, Petrúcio Amorim, Amelinha, Renato Teixeira e Xangai.

Velho companheiro de shows e gravações, Xangai foi um dos participantes do primeiro disco de Maciel Melo, Desafio das léguas, de 1987, composto em parceria com o poeta pernambucano Virgílio Siqueira. Outros que participaram foram Vital Farias, Dércio Marques, Dominguinhos e o violonista francês Frederic Victor, inaugurando uma característica comum a quase todas as produções fonográficas de Maciel: a participação de renomados artistas, aos quais devem ser acrescentados os nomes de Naná Vasconcelos e Mestre Salustiano.

Colecionador de prêmios, presente em trilhas sonoras de filmes e telenovelas, Maciel tem, entre os maiores reconhecimentos e homenagens que já recebeu, uma placa afixada na entrada de Iguaraci, com os seguintes dizeres: “Esta é terra de Maciel Melo”. Será que é emocionante para uma pessoa sentir-se no coração de um lugar que, mesmo distante, nunca saiu de seu próprio coração e arte? 

GILSON OLIVEIRA, jornalista.

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