ELBA RAMALHO COMENTA "A SAUDADE" DO RADIALISTA ELIAS LOURENÇO

O radialista Elias Lourenço, 81, faleceu ontem sexta-feira (24), vítima de uma infecção generalizada.  Ele estava internado há cerca de 11 meses, em uma das unidades da saúde da Unimed e lutava contra um câncer de próstata.

Durante a vida, Elias colecionou passagens por várias emissoras do Estado. Veio para o Recife, na década de 1970, para atuar na Rádio Globo, mas findou seu último trabalho na Rádio Folha 96,7 FM, veículo no qual apresentava o programa “Alô Nordeste”, e atuava há quase 14 anos. 

O cominicador sempre foi muito querido pela comunidade forrozeira. Figuras conhecidas na cultura pernambucana como Elba Ramalho e Alcymar monteiro expressaram o sentimento pela perda do comunicador. "A cultura do Nordeste está de luto com a partida de Elias Lourenço. Um autêntico porta voz da nossa cultura, dos ritmos populares e da nossa música. Que o seu legado sirva de inspiração para novas gerações", lamentou Elba Ramalho. 

“Elias Lourenço foi um grande comunicador que deu dignidade à música nordestina. Sempre deu espaço para os artistas locais falarem sobre seus trabalhos e lançamentos.  Ele vai deixar um vazio muito grande, pois era aparente o seu amor pela nossa música. O povo pernambucano , nordestino e a cultura brasileira perdem muito com a sua partida. Elias Lourenço, para mim, é um dos grandes professores da comunicação radiofônica nordestina brasileira. Fará muita falta. Meus pêsames e tristeza a sua família.”, contou Alcymar Monteiro. 

Confira, abaixo, os depoimentos de forrozeiros e amigos sobre a morte de Elias Monteiro: 

“Elias Lourenço foi um amigo querido de mais de 40 anos. Trabalhamos juntos em outra emissora e tive a alegria de reforçar nossa equipe com a vinda dele e seu Alô Nordeste para a Folha FM.  Acompanhei de perto a luta de Elias e vi o sofrimento dele nos últimos meses,  cuidado pelos zelosos filhos Kleber e Eliezer, em quase um ano de internação. Só lamento que devido à pandemia ele não teve a homenagem merecida pelos ouvintes, artistas e amigos. Elias foi um dos homens mais dignos que conheci.” - Marise Rodrigues, gerente da Rádio Folha FM 96,7

“Estou muito sentido. Elias Lourenço faz parte da minha história. Quando comecei na música, ele sempre esteve de portas abertas, não apenas para mim, mas para vários outros artistas. Sempre tivemos vez e voz. Não teremos  outro comunicador como Elias nem tão cedo. Tenho muito orgulho de ter sido seu amigo. Com toda certeza, a sua partida é uma grande perda para todos nós” – Ed Carlos

“A morte de Elias Lourenço muito me dói pelo carinho que tenho por ele.  Elias era mais do que um comunicador era também amigo e irmão. Sua partida é uma perda irreparável”  – Israel Filho 

“Estou muito triste pela  perda do nosso querido Elias Lourenço. Toda a categoria de forrozeiros sempre pôde contar com Elia. Ele foi uma pessoa espetacular, uma figura extraordinária, extremamente importante para nossa cultura pois sempre valorizou nossa arte, e o que era produzido no nosso Estado. Com certeza fará uma falta gigantesca. A cultura perde muito com a ausência de Elias Lourenço. Meus pêsames a família” - Tereza Acioly, presidente da Sociedade dos Forrozeiros Pe-de Serra e Ai 
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LUTO: MORRE O RADIALISTA ELIAS LOURENÇO

O radialista Elias Lourenço, 81, faleceu na manhã desta sexta-feira (24), vítima de uma infecção generalizada.  Ele estava internado há cerca de 11 meses, em uma das unidades da saúde da Unimed e lutava contra um câncer de próstata. Durante a vida, Elias colecionou passagens por várias emissoras do Estado. Veio para o Recife, na década de 1970, para atuar na Rádio Globo, mas findou seu último trabalho na Rádio Folha 96,7 FM, veículo no qual apresentava o programa “Alô Nordeste”, e atuava há quase 14 anos. 

Natural de Arcoverde, no Sertão de Pernambuco, o radialista deixa esposa, dois filhos e um legado de respeito que será lembrado por todos os que cruzaram o seu caminho. 


Elias Lourenço é um dos maiores icones da radiofonia do Nordeste.


Lá na Paraíba, nas palavras do amigo e  professor Aderaldo Luciano, "durante todo o tempo em que me entendo por gente vi surgir e consolidar-se dentro de mim o amor, profissionalismo e o respeito pelo Rádio. Ainda criança, botei os olhos num rádio Semp à válvula e certa vez meu pai, Francisco Assis Guedes, me levou a Campina Grande, para conhecer os estúdios da Rádio Borborema. Ali vi os mistérios que envolvem o Rádio".


Nos anos 80 e 90 não havia a facilidade da tecnologia e os acessos digitais e por isto, "tornei-me notívago, navegando nas sintonias dos radios analógicos, buscando emissoras de longe, locutores que me falavam de outros territórios, cidades e acontecimentos que eu planejava vivenciar. Durante o dia me via rodeado pelas rádios locais, pelas ondas que vinham de Campina Grande e suas três rádios AM: Caturité, Cariri e Borborema. Nomes fortes, direto de nossas raízes".


Foi na programação das rádios que aprendi a viver a brasilidade. Retalhos do Sertão, Bom dia Nordeste (com Zé Bezerra) cuja abertura era um jingle sensacional de João Gonçalves. José Lira na Campina Grande FM. Ivan Ferraz, Wilson Maux. Todos mestres...


Mas, o meu encanto maior e aprendizado aconteceu quando um dia sintonizei a Rádio Clube de Pernambuco, Recife. A voz de ELIAS LOURENÇO. No clima da notícia. Alô Nordeste! Elias chamando prá cantar Jorge de Altinho, Flávio José, Petrúcio Amorim, Marinês, Elba Ramalho, Raimundo Fagner, Três do Nordeste, Assisão Trio Nordestino, cantadores de Viola, aboiadores e Luiz Gonzaga.


Uma madrugada, muito frio em Areia-Paraíba, através do Rádio ouvi Elias Lourenço anunciando numa quarta-feira, 02 de agosto de 1989: "Morreu Luiz Gonzaga". Chorei em silêncio! Não imaginava o traçado do destino. O silêncio foi "quebrado" pela som do Rádio,  a sanfona de Luiz Gonzaga, a voz de Elias Lourenço: "são quatro da manhã e trinta minutos no Nordeste"...


Através do amigo, radialista e criador do Site Relembrando O Gonzagão, Edilson Gonzaga, lá de Gravatá-Pernambuco, revivi toda esta trajetória desde quando por décadas acompanho Elias Lourenço através do Rádio. Não o conheci pessoalmente. De Elias Lourenço, trago nele um sentimento de gratidão. Gratidão pela minha formação profissional...Sou grato porque com Elias Lourenço aprendi amar ainda mais meu Nordeste, a cultura brasileira e os estudos, afinal, só a Educação Liberta.


Antes de adoecer o Elias Lourenço apresentava o programa Alô Nordeste na Rádio Folha em Recife de segunda a sexta - 2h às 5h e no Sábado - 2h às 6h. No último dia 12 de janeiro ele completou 81 anos. Um dos melhores profissionais do rádio, Elias Lourenço percorreu uma longa carreira para chegar hoje a ser considerado um dos radialistas mais queridos e respeitados perante os ouvintes.


Seu trabalho sempre foi voltado para a divulgação da cultura brasileira e em seus programas ressaltavam o talento do artista regional, particularmente aqueles que se dedicam aos ritmos universais do forró.


Elias Lorenço é pernambucano de Arcoverde. Já trabalhou na comunicação das Rádios Atual, de São Paulo; Poty, de Paulo Afonso: e em Pernambuco percorreu quase todos os prefixos radiofônicos – Olinda, Globo, Relógio, Capibaribe, Continental, Jornal, Clube e agora na Folha FM.


Um dia, me vi do lado de dentro na Rádio Serrana de Araruna-Paraíba com os amigos Aderaldo Luciano e Pedro Freire que me fizeram o convite em 1999, para participar da produção e apresentação de um programa de Rádio. E então até hoje, jornalista, empresto minha homenagem e gratidão, valorização pela cultura a Aderaldo e a você Elias Lourenço, meu Mestre, até hoje minha referência de apresentador de Rádio.


Para minha alegria e compromisso profissional, hoje estou na Rádio www.radiocidadeam870.com.br, apresento o programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos,  todos os domingos ás 9hs da manhã.


'O rádio está vivo, a faixa AM está viva, querem matá-la no Brasil, mas ela ainda representa uma enorme atividade pelo interior dos Brasis. Amo o Rádio, Sinto-me parte dele, Sou um guardião, embora tanta coisa ruim aconteça aos seus microfones. Mas uma coisa é o Rádio, a outra, seus donos e vozes".


Elias Lourenço viverá...
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ALEMBERG QUINDINS: A IMPORTÂNCIA DA CULTURA DA CHAPADA DO ARARIPE PARA O MUNDO

Domingo 02 de agosto no Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos, às 9hs www.radiocidadeam870.com.br, o Café Prosa com Alemberg Quindins. 

Você vai saber o motivo do Estado de Espírito do vento/cariri que sopra com saudade do Mar. Patativa do Assaré. Luiz Gonzaga e Padre Cícero, arqueologia e gestão cultural são temas da conversa.

Alemberg diz que a Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado tem Luiz Gonzaga, a Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura. O Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura. Você vai entender a importância do contexto da Chapada do Araripe para o mundo.

O Memorial do Homem Kariri teve sua origem a partir das pesquisas de mitologia e etnomusicologia dos pesquisadores, músicos e produtores culturais: Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde. 

Atualmente, a Casa Grande se consolida como ponto de memória da ancestralidade, da mitologia e da arqueologia do cariri cearense, utilizando-se da arte como ferramenta capaz de proporcionar uma imersão mais consciente destes assuntos.

Francisco Alemberg de Souza Lima, o Alemberg Quindins, é um dos criadores da Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri em 1992 com o intuito de valorizar a história do povo da região, o Vale do Cariri, e ser um centro de memória.

Em conversa com o BLOG NEY VITAL e que no dia 02 de agosto, ser´´a transmitido no programa NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA E SEUS AMIGOS, na Rádio Cidade Am, Alemberg explica que a Chapada do Araripe é uma confluência de quatro Estados: Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba.

"Um resumo do Nordeste. A Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado você tem Luiz Gonzaga, a Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, por exemplo; de outro, do lado de cá, temos Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura".

Ainda de acordo com Alemberg a Chapada do Araripe é um platô central. "Aqui, era o único lugar onde Lampião se ajoelhava e deixava as armas na porta. Território sagrado. Portanto, o Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural do Ceará por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura. É onde você entende a importância do contexto da Chapada do Araripe para o mundo. Nosso manancial é esse: a cultura. A maioria dos mestres da cultura popular estão aqui. E, da forma como acontece em solo caririense, essa reunião de tanta coisa, não vamos encontrar em nenhum outro lugar do Estado".

A Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, é uma instituição sem fins lucrativos, de utilidade pública federal. O local se tornou espaço de vivência em gestão cultural para crianças e jovens do sertão e tem como objetivos constantes no seu estatuto, pesquisar, preservar, coletar, juntar em acervo, comunicar, exibir, para fins científicos, de estudo e recreação, a cultura material e imaterial do Homem Kariri e de seu ambiente".

"Nós resgatamos a cultura local nas áreas de arqueologia, mitologia, artes e comunicação", conta Alemberg. Os alunos mantêm um canal de TV, de rádio, uma editora de gibis e um museu que conta com um rico acervo de 2.600 HQs e 1.600 títulos de clássicos do cinema. A ideia é desenvolver a capacidade de liderança das crianças a partir dos laboratórios de produção.

Arte, cultura, música e TV. Essas são apenas algumas das atividades oferecidas pela Fundação Casa Grande, em Nova Olinda, Cariri do Ceará Francisco Alemberg Quindins, músico e educador social da ONG que forma cidadãos e os transformam em protagonistas da própria história neste período de isolamento social tem participado de lives, transmissões ao vivo que tem contribuindo ainda mais para a divulgação do trabalho desenvolvido com as crianças.

No próximo mês de dezembro a Fundação vai completar 27 anos, o espaço guarda algumas artes indígenas dos primeiros habitantes da região; possui uma rádio; dispõe de uma editora de gibis, com um acervo com mais de 3 mil títulos; tem ainda um teatro; e uma banda de lata, que encanta quem visita a fundação.

Para registrar tanta coisa boa, a fundação conta com um canal virtual, a TV Casa Grande, cujo objetivo é dar voz, mostrar a arte dos moradores da região e documentar a cultura local.

O sucesso da fundação rendeu a ela o título de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e muita visibilidade para cidade de Nova Olinda, que recebe, por ano, mais de 50 mil visitantes.

Alemberg Quindins é investigador do CEAACP, Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Patrimônio da Universidade de Coimbra e, por inerência, Membro do Conselho Científico desta unidade de investigação. que é avaliada e financiada pela Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT) do Ministério da Ciência e Ensino Superior de Portugal.

Há vários anos a Fundação Casa Grande é parceira do CEAACP e Alemberg Quindins era colaborador. Agora, transitou em estatuto, o que acontece por reconhecido mérito e por categoria universitária dado o seu Doutoramento Honoris Causa, passando a integrar o grupo de pesquisa em Arqueologia Cidadã e Inclusiva do Centro.

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MOCINHA DE PASSIRA, PATRIMÔNIO VIVO DA CULTURA, A PRESENÇA DA MULHER NA CANTORIA DE VIOLA

Em uma tarde incerta de 1953, depois de muito estranhar a chiadeira insistente no velho rádio do irmão, Maria Alexandrina da Silva, com apenas cinco anos de idade, previu: “um dia vai aparecer um rádio em que o cara vai poder ver as pessoas dentro”. Desde muito cedo, Maria era tomada por premonições e não anteviu apenas a popularização dos aparelhos televisivos, mas também sua própria sina: “cantar, ser a primeira mulher da viola do mundo”. Uma visão que começou a tomar forma aos 12 anos, no sítio em Várzea de Passira, quando ganhou do pai o primeiro instrumento e desembestou a soltar os versos que já não cabiam mais em seus pensamentos de menina, uma moça, Mocinha de Passira.

“Eu memorizava as estrofes, não fazia pra ninguém ouvir, mas um dia disse ao meu pai que eu sabia fazer rima, ele pediu pra eu mostrar, então falei assim não, só mostro quando vier sentar um cabra aqui comigo mais a viola”, lembra a repentista. Seu João Marques da Silva, que não perdia uma cantoria pela região, confiou na obstinação da filha e não tardou a aparecer com uma viola e o cantador Zé Monteiro, com quem Mocinha fez sua primeira apresentação ali mesmo, na sala do sítio que até hoje resiste e onde a repentista Patrimônio Vivo de Pernambuco recebeu a equipe do Portal Cultura.PE.

“Foi nesse chão em que eu me senti, pela primeira vez, uma partícula no universo”, poetiza Mocinha, fazendo questão de mostrar os mandacarus que teimam em crescer sobre o telhado da casa, enfeitando seu “lugar sagrado, onde estão as raízes de tudo”.

À luz das estrofes metrificadas de Raul Ferreira, Zé Ananias, Severino Moreira e Severino Camocim, que costumava ouvir na companhia do pai, Mocinha foi ganhando confiança para também encontrar sua voz própria, traçar seu caminho no universo do repente. Desde a apresentação improvisada – e aplaudida por Zé Monteiro e seu pai – na sala de casa, não parou mais de exercer a função de transformar em verso raro o pensamento ligeiro.

“A primeira cantoria foi numa quarta-feira, no sábado eu já tava me apresentando pelas fazendas e daí não parei mais, meu pai sempre comigo, me acompanhando”, lembra Mocinha.  “Nenhuma outra repentista conseguiu viver da viola como eu. Desde cedo, decidi que se eu quisesse comprar um sapato tinha que ser com o meu repente, nunca trabalhei com outra coisa.” A exceção foi um breve momento, quando aos 10 anos de idade, montou uma escolinha de reforço escolar para os filhos dos fazendeiros da região, “os meninos ricos e burros”, sorri ao lembrar.

Herdou da mãe, Alexandrina Maria da Silva, a busca por independência financeira. Em tempos ainda mais marcados pelo machismo, “a mãe já tinha sua independência, criava uns bezerros ali atrás e se um boiadeiro passasse por aqui querendo comprar, pai falava logo tem que ver com a mulher, é dela, ela que decide”.

Ao contrário de Seu João, Dona Alexandrina não queria que Mocinha aceitasse o convite de ir morar em Caruaru com um dos maiores poetas populares e improvisadores brasileiros, o paraibano Pinto do Monteiro. Não teve outro jeito, aos 15 anos, juntou o que pôde em sua frasqueira amarela – “a coqueluche da época, toda menina tinha uma” -, e fugiu.

PINTO DE MONTEIRO: Dizem que foi desses encontros que mudam para sempre a vida de alguém. Era noite alta quando Mocinha e seu pai adentraram pelo Sítio Tamanduá, em Passira, para conhecer Pinto do Monteiro, que estava de passagem pela região. “Finalmente estou lhe conhecendo, você que é a famosa Mocinha da Passira”, lembra a repentista, com apenas 14 anos à época. Já admirado em todo o Nordeste e presença constante em emissoras como a Rádio Difusora de Caruaru, Pinto reconheceu de imediato o talento de Mocinha, colocando-se à disposição para ajudá-la a seguir carreira. “Eu tinha que ir pra Limoeiro pegar as cartas que ele mandava pra mim; caixa postal 114”, nunca vai esquecer.

Após deixar Passira e ir viver com a família de Pinto em Caruaru, Mocinha pôde mergulhar no circuito da cantoria popular, mas ainda sob os cuidados do pai. “Andei muito tempo com ele, pra tudo que era lugar, só fiquei ‘de maior’ aos 21 anos de idade”, conta.

CULTURA: Uma verdadeira peleja contra o machismo é o que Mocinha tem travado ao longo de sua trajetória no repente. São muitas as situações guardadas na memória em que teve que “sair quebrando todos os preconceitos, passando por cima de cantadas de homem safado”, diz.

Em muitas ocasiões, o drible para situações em que se via desafiada por ser mulher vinha em forma de versos mesmo. Um dos casos mais difundidos foi a resposta que deu ao mote Se você casar comigo/vai ficar de gravidez/vai acabar parindo/três meninos de uma vez, apresentado pelo repentista Jorge Amador. De pronto, Mocinha soltou o que gosta de chamar de “tapa sem mão”: Eu posso ter todos os três / são filhos tudo meu / o primeiro é do padeiro /o segundo do Ricardão / o terceiro de Oliveira / nenhum dos três é teu.

Em 1976, só após quase 20 anos de estrada, Mocinha teve a oportunidade de registrar seus versos em um disco. Foi a única mulher repentista a participar das gravações de um marco importante para a discografia do gênero, o LP Viola, Verso, Viola, do Estúdio Rozenblit. O disco reuniu grandes nomes da tradição oral, como Diniz Vitorino, os irmãos Otacílio, Dimas e Lourival Batista, além de Zé Vicente da Paraíba. Das oito faixas, Mocinha participa de duas, duelando com Diniz Vitorino em Martelo Alagoano e na histórica Desafio em Martelo Agalopado, em que por meio de versos como acabou-se o tempinho em que a mulher / só vivia nas margens dos barreiros / lavando blusinhas e cueiros / dos filhos dos homens sem respeito vai desconstruindo o imaginário da mulher ideal, sempre recatada e do lar, ao passo em que reivindica seu próprio lugar na história do repente.

ARIANO SUASSUNA: Se o Brasil oficial é dos brancos, do presidente e de seus ministros, o Brasil real é o de Antônio Conselheiro e Mocinha de Passira. A sentença, parte integrante do discurso de posse de Ariano Suassuna na Academia Brasileira de Letras (ABL), revela a admiração que o imortal escritor e dramaturgo brasileiro tinha pela repentista.

O primeiro encontro foi em uma das muitas cantorias na Praça do Diário, centro do Recife, organizadas pelo embolador Oliveira. “Eu tava cantando só na época, Ariano me conheceu ali, me deu um mote pra eu cantar e parti, sem montagem nenhuma, esperando que desse certo… Na terceira estrofe, lá vem ele, me deu um abraço, chorou e tudo, se identificou mesmo”, conta Mocinha.

Em 1990, quando foi eleito para a ABL, Ariano fez questão de convidar a repentista para uma cerimônia realizada no Palácio Campo das Princesas, no Recife. Na ocasião, coube à Mocinha entregar-lhe o colar oficial de membro da Academia. “Ele mandou o carro ir me buscar onde eu estivesse, tinha que ser eu a botar esse colar nele, então, fui! Botei o colar e ainda cantei pra ele”, lembra com carinho.

Com hábitos simples, cuidando dos gatos de rua que acolhe ou torcendo por seu Santa Cruz, Mocinha vive hoje com seu filho Marcos em Feira Nova. Quando não está se apresentando pelo Brasil, divide-se entre o cuidar da casa na cidade e o sítio em Várzea de Passira, a 30 minutos dali e onde, vez ou outra, ainda organiza noites de boemia com dominó e duelos de viola.

O pai, seu grande incentivador, morrera no sítio mesmo, em 5 de abril de 1978. Chegou a ver seu sucesso e a ouvir o primeiro disco. “Eu tava em São Paulo, comecei a ter uns sonhos atribulados, sentia que tinha alguma coisa acontecendo, que precisava voltar. Quando cheguei, vi ele doente e o povo jogando dominó na sala, tive tanta raiva que ainda deve ter peça voando por aí. Falei com ele, respondeu bem baixinho, entendendo o que eu tava dizendo porque o último que morre é a árvore da vida, o cérebro”, narra Mocinha, lembrando que foi mesmo Seu João quem lhe abriu os caminhos. “Se ele tivesse ido pelas ideias da minha mãe e do meu irmão, eu teria fugido de casa sem viola, mas pra onde… não sei”.

O título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, Mocinha “comemorou sozinha, porque a batalha sempre foi minha mesmo, só depois fui falando para três ou quatro pessoas que considero”.

Dedilhando sua viola, gosta de deixar aberta a parte superior da porta principal do sítio, apreciar o vento que entra e a paisagem à frente. “Nunca quis uma casa que não fosse pro nascente”. 

Além do Diploma de Patrimônio Vivo – exposto em lugar de destaque na parede da sala -, a repentista também guarda em Passira fotografias, recortes de jornais, troféus e outros registros de uma vida inteira dedicada a uma das mais ricas expressões da cultura popular nordestina. A vida que previu ainda menina e construiu na certeza de que “quando a gente tem vocação, não tem fronteira”, como faz questão de ensinar. (Fonte: Seculte - Tiago Montenegro)
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WEBINAR DEBATE OS AVANÇOS E OS DESAFIOS DA AGRICULTURA FAMILIAR NO SEMIÁRIDO

Os avanços e as perspectivas da agricultura familiar no Semiárido brasileiro serão tema de um webinar no canal da Embrapa no YouTube, na próxima sexta-feira (24/7, a partir das 15 horas.

Especialistas da Embrapa e da sociedade civil, gestores públicos e uma agricultora refletirão sobre as conquistas dos últimos 45 anos para o desenvolvimento socioeconômico da região e sobre as lições aprendidas com a seca dos últimos dez anos, que trouxe muitos desafios a serem superados.

O seminário virtual, alusivo ao Dia Internacional da Agricultura Familiar, comemorado em 25 de julho, faz parte do calendário do aniversário de 45 anos da Embrapa Solos e da Embrapa Semiárido.

Estão escalados para o webinar Petula Nascimento, chefe-geral da Embrapa Solos (RJ); Pedro Gama, chefe-geral da Embrapa Semiárido (PE); Maria Sonia Lopes, pesquisadora da Embrapa Solos que atua na Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvimento de Recife; Paola Cortez Bianchini, pesquisadora da Embrapa Semiárido; Antonio Barbosa, coordenador do Programa Sementes do Semiárido e do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA); e Antônia Maria de Jesus Alves, agricultora da Comunidade Cipó, no Município de Pedro ll (PI). A moderação do bate-papo será de Alexandre de Oliveira Lima, secretário de Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar do Rio Grande do Norte.

Os especialistas farão uma contextualização sobre o Semiárido e abordarão os avanços alcançados nos últimos 45 anos, mostrando como a pesquisa agropecuária e a sociedade civil contribuíram para o desenvolvimento econômico e social da agricultura familiar da região. Também será dado enfoque nas lições aprendidas com a seca do período de 2009 a 2019, que trouxe inúmeros desafios para pesquisadores, agentes de desenvolvimento rural, gestores públicos e, sobretudo, para quem vive no Semiárido. 

“Faremos uma reflexão sobre as perspectivas de pesquisa e inovação que poderão ser proporcionadas aos agricultores de base familiar, para uma convivência com mais dignidade e resiliência às mudanças do clima semiárido”, revela a pesquisadora Maria Sonia Lopes.

Outro ponto relevante do webinar será a participação da agricultora Antônia Maria de Jesus Alves, do município de Pedro II (PI). Ela trará o seu olhar sobre os impactos na vida das famílias da região causados pelas pesquisas conduzidas pela Embrapa e pelas tecnologias implementadas pela ASA, como as barragens subterrâneas, as cisternas de consumo, o manejo de caatinga e as ações de agrobiodiversidade.

“Falar em agricultura familiar no Semiárido é falar da convivência, do bem viver com esta região, que tem como princípio a cultura da estocagem (estocagem de água, de sementes e de forragens), que associada à diversidade dos sistemas produtivos, permitiu a muitas famílias um patamar elevado na produção de alimentos. Isso possibilita a existência de uma identidade alimentar e nutricional do Semiárido”, reflete Antonio Barbosa, coordenador da ASA.

O papel da biodiversidade e da agrobiodiversidade na resiliência e sustentabilidade da agricultura familiar e dos territórios no Semiárido e os planos para a implantação de tecnologias sociais hídricas na região também serão abordados pelos especialistas, que responderão a perguntas feitas pelos internautas durante a transmissão.

Programe-se:
Webinar Avanços e desafios da agricultura familiar no Semiárido brasileiro
Sexta-feira (24/07/2020)
15h
Canal da Embrapa no YouTube – acesse aqui 



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ANTOLOGIA: VERSOS EM PANDEMIA RETALHOS DE UM TEMPO

Em momentos de crise, há uma extraordinária oportunidade de nos ressignificarmos. 

A partir disso, como resultado de uma experiência de um tempo ímpar em nossas vidas, foi lançado um livro de poemas que tem se tornado um marco literário para a região do Vale do São Francisco. Trata-se da antologia de poemas intitulada VERSOS EM PANDEMIA: Retalhos de um Tempo, idealizada e organizada pelos professores de Literatura Roberto Remígio (do IF Sertão) e Vlader Nobre (da Universidade de Pernambuco).

No dia 16 de julho, o livro foi lançado oficialmente em uma Live no canal PROFVLADERNOBRE, disponível no Youtube.

A ideia inicial era reunir um grupo de pessoas que falassem, poeticamente, sobre seus sentimentos e suas percepções como recorte de um momento de conflito: a maior pandemia da história contemporânea. 

O objetivo do projeto era registrar um olhar sobre um tempo, os convites foram realizados pelas redes sociais, e, imediatamente, centenas de textos foram enviados, advindos de diversas cidades de muitas cidades que compõem o Vale do São Francisco. Em tais escritos, os autores expressaram sua visão a respeito do momento presente, um tempo de incertezas, marcado pela pandemia, pela avalanche de informações, notícias e boatos e, principalmente, pelo isolamento social que desencadeou diversas novas percepções sobre o modo de vida em sociedade.

A obra é uma síntese de vozes e estilos bastante heterogêneos: Poetas já obras publicadas, Professores, Estudantes, Profissionais Liberais, Comerciários, Engenheiros, Jornalistas, Agricultores, Donas de Casa, Enfim, Poetas e Poetisas cidadãos do dia a dia, que, na experiência do isolamento, buscaram o alumbramento poético como refúgio para não no tempo perecer, para não enlouquecer, para continuar sendo e seguindo em frente.

Não é fácil enfrentar o absurdo desses terríveis dias de pandemia: muitas mortes por dia, incertezas políticas, caos socioeconômico, além dos efeitos psicológicos e existenciais (medo, angústia, tensão, ansiedade, depressão, solidão, distúrbio do sono, estresse, isolamento social).

A versão digital do livro (e-book) está disponível gratuitamente para acervos de bibliotecas públicas, escolas, universidades, entidades socioculturais, clubes de leitura e demais interessados. 

Quanto à obra física, o livro está sendo comercializado pelos autores ao preço de R$ 25,00 reais, através de entrega no estilo drive-thu, e os endereços para contato são as redes sociais de Roberto Remígio e Vlader Nobre, pelo Facebook, Instagram, blog etnolinguagens.webnode.com, ou ainda pelo telefone e whatsapp (87) 98853-7110.

Texto: Professores doutores Roberto Remígio e Vlader Nobre
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DEUS ERA UM TOCADOR DE PIFE E FOI NELE, NUM PIFE FEITO DE TABOCA, QUE DEU VIDA AO HOMEM COM SEU SOPRO FIEL

Aderaldo Luciano numa carta endereçada ao cantador cantor Beto Brito, relatou a certeza, "e vai colocar isso em um livro, que Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca, que deu vida ao Homem com seu sopro fiel".

Visitei no Crato, Ceará, o mestre da cultura de tocar pife, Raimundo Aniceto, 83 anos, nascido em 14 de fevereiro de 1934. Fui na casa do líder da Banda Cabaçal de Pife dos Irmãos Aniceto.  A Banda de Pífe é Patrimônio Cultural Imaterial.

Formado no século 19 pelo “Véi Anicete”, ou José Lourenço da Silva, que mais tarde se tornaria José Aniceto, um descendente de índios do Kariri, o grupo se encontra na quarta geração — e não deixa de lado a música do sertão. A Banda de Pífe já tem mais de dois séculos de fundação.

Seu Raimundo começou a tocar com 6 anos, ele acompanhou de perto a renovação da banda. A formação atual é composta por  Adriano, Antonio (seu irmão), Jeová e Ciço. Eles têm um sexto integrante, Ugui, escalado em situações especiais.

Durante a visita o mestre Raimundo Aniceto mostrou as fotos e os ollhos marejam com retratos da disposição de outrora. Responsável pela coreografia, ele dançava, pulava e arriscava até um salto mortal na apresentação.

Raimundo Aniceto está se recuperando de um AVC-Acidente Vascular Cerebral. Já não toca! Todavia a mente, alma e corpo falam do Guerreiro Cultural que bem sabe e pede socorro: o pife não pode acabar!

No final da visita fiquei a pensar: o Brasil trata realmente com o maior desprezo a sua verdadeira riqueza cultural. A situação atual de Raimundo Aniceto carece de maior respeito e dedicação por parte do poder público...

Mestre Raimundo Aniceto tem seis filhos e de acordo com Dona Raimunda a esposa pediu para que não deixassem acabar o grupo e manter vivas essa tradição. Preocupada Dona Raimunda sentenciou: "É muito difícil, pois a juventude não está muito ligada na tradição. Mas vamos conseguir".
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